lundi 30 avril 2012

A violência da globalização


Quando o fascismo e a intolerância ressurgem, como resposta à crise cultural, econômica e social do Ocidente, este texto do filósofo francês Jean Baudrillard apresenta algumas questões que devem ser analisadas. Eis um bom desafio para essas dias de chuva. 
Jorge Pinheiro, véspera do 1º. de maio de 2012.

O que pode impedir o êxito desse sistema de violência mundial não são alternativas, mas singularidades que não obedecem a um juízo de valor ou a um princípio político. Impedem o sucesso do pensamento único e dominante, mas não são um contrapensamento único. Jean Baudrillard, 1º.  de novembro de 2002.

Jean Baudrillard

Seria a globalização uma fatalidade? De alguma forma, todas as outras culturas que não a nossa escapavam à fatalidade da troca indiferente. Onde se situará o limiar crítico da passagem ao universal e, depois, ao mundial? Que vertigem será esta que impulsiona o mundo para a abstração da Idéia, e esta outra vertigem que incita à realização incondicional da Idéia?

Porque o universal era uma Idéia. Quando se realiza no mundial, ela se suicida enquanto Idéia, enquanto fim ideal. Como o humano se tornou a única instância de referência e a humanidade imanente a si mesma passou a ocupar o vazio deixado por Deus morto, o humano agora reina sozinho, mas já não tem motivação final. Não tendo mais inimigo, engendra-o do interior e secreta todos os tipos de metástases inumanas.

Conquistas da modernidade e do progresso

Donde a violência do mundial - violência de um sistema que persegue qualquer forma de negatividade, de singularidade, inclusive a forma última de singularidade que é a própria morte - violência de uma sociedade em que estamos virtualmente proibidos de conflito, proibidos de morte - violência que, de certa maneira, põe fim à própria violência  e que trabalha para instalar um mundo livre de qualquer ordem natural, seja a do corpo, a do sexo, a do nascimento ou a da morte.

Mais do que de violência, seria necessário falar de virulência. Trata-se de uma violência que é viral - que atua por contágio, por reação em cadeia, e destrói, pouco a pouco, todas as nossas imunidades e nossa capacidade de resistência.

Entretanto, nada está decidido, e a globalização não ganhou por antecipação. Diante desse poder homogeneizante e dissolvente, se vê, em toda parte, levantarem-se forças heterogêneas - não só diferentes, mas também antagônicas. Por trás das resistências cada vez mais intensas à globalização, sociais e políticas, é preciso ver mais do que uma rejeição arcaica: uma espécie de revisionismo dilacerante quanto às conquistas da modernidade e do “progresso”, de recusa não apenas da tecno-estrutura mundial, como também da estrutura mental de equivalência de todas as culturas.

Este ressurgimento assume aspectos violentos, anômalos, irracionais em relação a nosso pensamento esclarecido - formas coletivas étnicas, religiosas, lingüísticas - mas, igualmente, formas individuais de perturbação do caráter ou neuróticas. Seria um erro condenar esses sobressaltos como populistas, arcaicos ou mesmo terroristas. Tudo o que faz um acontecimento hoje o faz contra essa universalidade abstrata - inclusive o antagonismo do islamismo com os valores ocidentais (pelo fato de ser a mais veemente contestação desses valores, é que, hoje, o Islã é seu inimigo número um).

Vingança de culturas singulares

Quem poderia impedir o sucesso do sistema mundial? Certamente não o movimento antiglobalização, que só tem por objetivo frear a desregulamentação. Seu impacto político pode ser considerável, mas o impacto simbólico é nulo. Essa violência é também uma espécie de peripécia interna que o sistema pode superar sem perder o controle da situação.

O que pode impedir o êxito do sistema não são alternativas positivas, são singularidades. Ora, estas não são positivas nem negativas. Não são uma alternativa; são de outra ordem. Não obedecem mais a um juízo de valor nem a um princípio de realidade política. Podem, pois, ser o melhor ou o pior.

Não é possível, portanto, confederá-las numa ação histórica conjunta. Impedem o sucesso de todo pensamento único e dominante, mas não são um contra-pensamento único - elas inventam seu jogo e suas próprias regras do jogo.

As singularidades não são necessariamente violentas, e algumas são sutis, como as da língua, da arte, do corpo ou da cultura. Mas há algumas violentas - como a do terrorismo. É a que vinga todas as culturas singulares que pagaram com seu desaparecimento a instauração desse único poder mundial.

Despeito feroz entre culturas

Não se trata, portanto, de um “choque de civilizações”, mas de um confronto - quase antropológico - entre uma cultura universal indiferenciada e tudo o que, em qualquer área, conserva algo de uma alteridade irredutível.

Para o poder mundial, tão radical quanto a ortodoxia religiosa, todas as formas diferentes e singulares constituem heresias. Por esta razão, estão condenadas a entrar, querendo ou não, na ordem mundial ou a desaparecer. A missão do Ocidente (ou melhor, do ex-Ocidente, visto que há muito deixou de ter valores próprios) é submeter, por todos os meios, as múltiplas culturas à lei da equivalência.

Uma cultura que perdeu seus valores só pode se vingar nos valores das outras. Inclusive as guerras - como a do Afeganistão - visam primeiro, para além das estratégias políticas ou econômicas, a normalizar a barbárie, a obrigar todos os territórios a se alinharem. O objetivo é dominar toda e qualquer região refratária, colonizar e domesticar todos os espaços selvagens, tanto no espaço geográfico quanto no universo mental.

A instalação do sistema mundial resulta de um despeito feroz: o de uma cultura indiferente e de baixa definição em relação a culturas de alta definição; o dos sistemas desencantados, que perderam a intensidade, em relação a culturas de alta intensidade; o das sociedades dessacralizadas em relação a culturas ou formas sacrificiais.

Humilhação contra humilhação

Para tal sistema, qualquer forma refratária é virtualmente terrorista. É o caso ainda do Afeganistão. Que, num território, todas as permissões e liberdades “democráticas” - a música, a televisão, inclusive o rosto das mulheres - possam ser proibidas, e que um país possa tomar o contrapé total do que chamamos de civilização - qualquer que seja o princípio religioso invocado -, tudo isso é insuportável para o resto do mundo “livre”.

Não se considera que a modernidade possa ser renegada em sua pretensão universal. Que ela não seja vista como a evidência do bem e o ideal natural da espécie, que se conteste a universalidade de nossos costumes e de nossos valores - ainda que por algumas mentes imediatamente caracterizadas como fanáticas -, tudo isso é um crime em relação à visão do pensamento único e do horizonte consensual do Ocidente.

Esse confronto só pode ser compreendido à luz da obrigação simbólica. Para compreender o ódio do resto do mundo em relação ao Ocidente, é preciso inverter todas as perspectivas. Não se trata do ódio daqueles de quem se tirou tudo e aos quais nada se retribuiu mas, sim, do ódio daqueles a quem tudo se deu sem que eles pudessem retribuir. Não é, portanto, o ódio da espoliação e da exploração, é o ódio da humilhação.

E é a este que responde o terrorismo do 11 de setembro: humilhação contra humilhação. O pior para a potência mundial não é ser agredida ou destruída, é ser humilhada. E a potência foi humilhada pelo 11 de setembro, porque os terroristas lhe infligiram, então, alguma coisa que ela não pode retribuir. Todas as represálias são apenas um aparelho de coação física, ao passo que ela foi desfeita simbolicamente.

A guerra responde à agressão, mas não ao desafio. O desafio só pode ser aceito humilhando o outro em resposta (mas, de modo algum, esmagando-o sob bombas, nem trancando-o como cães em Guantânamo).

Saturação da existência

A base de qualquer dominação é a ausência de contrapartida - sempre segundo a regra fundamental. O dom unilateral é um ato de poder. E o “império do bem”, a violência do bem, consiste exatamente em dar - sem contrapartida possível. Consiste em ocupar a posição de Deus. Ou do Senhor, que deixa a vida ao escravo em troca de seu trabalho (mas o trabalho não é uma contrapartida simbólica; portanto, as únicas respostas, afinal, são a revolta e a morte). Deus, pelo menos, dava espaço para o sacrifício.

Na ordem tradicional, sempre existe a possibilidade de retribuir - a Deus, à natureza ou a qualquer outra instância, sob a forma do sacrifício. É o que garante o equilíbrio simbólico dos seres e das coisas. Não temos, hoje, mais ninguém a quem retribuir, a quem restituir a dívida simbólica - e é essa a maldição de nossa cultura.

Não que nela seja impossível o dom e, sim, que nela o contra-dom é impossível, visto que todas as vias sacrificiais foram neutralizadas e desmontadas (resta apenas uma paródia de sacrifício, visível em todas as formas atuais da condição de vítima).

Estamos, desse modo, na situação implacável de receber, receber sempre, não mais de Deus ou da natureza, mas através de um dispositivo técnico de troca generalizada e de gratificação geral. Tudo nos é virtualmente dado e, queiramos ou não, temos direito a tudo. Estamos na situação de escravos aos quais se deixou a vida e que estão ligados por uma dívida insolúvel.

Tudo isso pode funcionar durante muito tempo graças à inserção na troca e na ordem econômica mas, num dado momento, a regra fundamental a vence, e a essa transferência positiva corresponde, inevitavelmente, uma contratransferência negativa, uma ab-reação violenta a essa vida cativa, a essa existência protegida, a essa saturação da existência. Tal reversão assume a forma de uma violência aberta (o terrorismo faz parte dela), ou da negação impotente, característica de nossa modernidade, do ódio de si e do remorso - todas paixões negativas que são a forma degradada do contra-dom impossível.

Veredicto e condenação da sociedade

Aquilo que detestamos em nós, o obscuro objeto de nosso ressentimento, é esse excesso de realidade, esse excesso de poder e de conforto, essa disponibilidade universal, essa realização definitiva - o destino que, no fundo, o “grande inquisidor” reserva às massas domesticadas em Dostoievski. Ora, é exatamente isso que os terroristas criticam em nossa cultura - donde a repercussão que o terrorismo encontra e o fascínio que exerce.

Tanto quanto no desespero dos humilhados e dos ofendidos, o terrorismo se baseia, por exemplo, no desespero invisível dos privilegiados da globalização, em nossa própria submissão a uma tecnologia integral, a uma realidade virtual esmagadora, a um domínio das redes e dos programas que traça, talvez, o perfil involutivo da espécie inteira, da espécie humana tornada “mundial” (a supremacia da espécie humana sobre o resto do planeta não seria à imagem da supremacia do Ocidente sobre o resto do mundo?). E esse desespero invisível - o nosso - é irremediável, pois decorre da realização de todos os desejos.

Se o terrorismo decorre, pois, desse excesso de realidade e de seu prazo impossível, dessa profusão sem contrapartida e dessa resolução forçada dos conflitos, então a ilusão de extirpá-lo como um mal objetivo é total, dado que, sendo como é, em seu absurdo e em seu contra-senso, ele é o veredicto e a condenação que esta sociedade emite em relação a si mesma.


Tradução: Iraci D. Poleti
Jean Baudrillard é filósofo, autor, dentre outros livros, de “La Guerre du Golfe n’a pas eu Lieu” (1991), “Le Crime Parfait” (1994) e “L’Esprit du Terrorisme” (2002), todos editados pela Galilée. Este texto foi extraído de seu novo ensaio, “Power Inferno” (ed. Galilée, Paris, 94 páginas).

samedi 28 avril 2012

La situation religieuse actuelle en Allemagne

"Le socialisme à recourir aux forces proches de l'origine. Actuellement, il ne peut vaincre sans elles. De cette alliance dépendent l'avenir du socialisme et par là même le destin de l'Allemagne et de l'humanité européenne. Aura-t-elle lieu? La prolétarisation de presque toutes les couches sociales la rendra-t-elle superflue? De cela décidera l'évolution interne de la société capitaliste; de cela décideront les lois économiques, en union indissoluble avec les hommes qui s'y réalisent. Puisque les lois sont un facteur déterminant, l'avenir de l'Occident ne reste pas entièrement opaque; mais puisqu'elles ne sont déterminantes qu'à travers l'agir humain, toute prévision sûre est exclue. Puisque l'agir humain est un facteur de détermination, l'avenir réservé à l'Occident peut être aussibien le socialisme que la barbarie. Parce que l'agir humain n'est libre que dans le cadre de lois économiques et sociales, il n'y a pas de troisième voie possible, il n'y a fondamentalement que cette alternative".
1930, café à Francfort
"Actuellement, de nombreux groupes liés au mythe originel connaissent une révolution par suite de la crise économique; ils se lancent à l'assaut du capitalisme et ont déjà dissous le centre bourgeois: c'est là un signe des plus clairs en faveur de la victoire du socialisme. Mais ils agissent envoûtés par un nationalisme sans rupture et soutenus spirituellement et matériellement par certains groupes de la bourgeoisie qui prennent part à la lutte des classes: c'est là la plus grande menace pour le socialisme. Non seulement parce qu'il se trouve acculé de l'extérieur à une position défensive, livrant ainsi des forces révolutionnaires au romantisme politique, mais aussi parce que sa défiance du romantisme politique l'amène à se replier sur ses composantes bourgeoises. Or il ne peut vaincre que s'il rejette ces composantes, puisqu'elles l'entraînent dans un conflit interne qui menace de le broyer. Il ne peut vaincre que par son principe, où s'unissent forces originelles et attente prophétique".

"Dans ce principe, l'attente doit prédominer. Par elle, l'être humain s'élève à l'humanité. C'est seulement guidés par l'attente que l'être humain, que la société humaine parviennent à l'accomplissement. La domination du mythe originel est domination de la violence et de la mort".
1930, dimanche des jeunes
"Seule l'attente peut surmonter la mort dont le mythe originel nouvellement apparu menace l'Occident. Or l'attente est le symbole du socialisme".

Paul Tillich, La situation religieuse actuelle en Allemagne, texte de la version américaine originale, panie dans la revue Religion in Life, vol. m, n°2 (1934), pp. 163-173.

lundi 16 avril 2012

O punhal de Abraão e o sentido da vida

Gênesis 22 é um dos textos mais desnorteadores do Antigo Testamento. Abraão, em obediência a Deus, se prepara para sacrificar seu filho. Mas o texto apresenta lições preciosas sobre o sentido da vida.


A teologia relaciona conhecimento e experiência e estabelece entre elas correlações. É através das correlações que percebemos as dimensões da vida: estética, ética e a dimensão da fé.

A dimensão da alegria, emoção e prazer

"Abrão respondeu: - Ó SENHOR, meu Deus! De que vale a tua recompensa se eu continuo sem filhos? Eliézer, de Damasco, é quem vai herdar tudo o que tenho" (15.2). 

A dimensão da alegria, afetiva, emocional e do prazer é básica na realidade humana. Essa experiência é diversificada, mas tem uma característica comum: o desejo. O sentido estético da existência traduz-se na busca da realização profissional, do consumo e posse de bens. Abraão fez essa experiência estética, mas ela não bastou. Por isso disse a Deus:

"Ó SENHOR, meu Deus! De que vale a tua recompensa se eu continuo sem filhos? Eliézer, de Damasco, é quem vai herdar tudo o que tenho".

O desejo produz satisfação afetiva, emocional e material, e a principal experiência estética é o desejo erótico.

A dimensão do compromisso, do direito e da lei 

A dimensão estética não nos realiza plenamente. Muitas vezes, os objetivos não são claros e se perdem por não haver plena satisfação. Há uma outra dimensão humana que, ao contrário da experiência estética, é de mais fácil definição: a dimensão ética, que traduz compromissos, deveres e as leis que governam a vida. E o herói dessa dimensão ética é o cônjuge fiel.

O casamento cristão, indissolúvel, pleno de companheirismo, é um discurso de exaltação ao amor. O casamento é o meio através do qual homem e mulher fazem uma opção, tendo Deus como testemunha. É aqui que se evidencia a experiência ética: os dois terão que resistir aos dias maus para manter a vida conjugal.

O homem deixará o pai e a mãe para se unir a sua mulher e os dois serão uma só pessoa, de modo que não são dois mais um só”. Marcos 10.7-8.

O casamento é a mais profunda experiência para se atingir tal sentido ético de vida. O casal deve entender que o heroísmo moral da vida cotidiana é a única forma de desviá-los dos caminhos que comprometem a relação conjugal. Só o heroísmo ético, aliado à ajuda de Deus, pode salvar a vida conjugal e a vida moral. Mas o casamento não é a única e derradeira experiência ética humana. A experiência da escolha e do posicionamento diante de Deus é uma fonte de inspiração e um espaço de reflexão e vida.

A dimensão da fé

O sentido ético na vida de Abraão não foi dado por sua relação com Sara, pois não foi um marido exemplar...

"Diga, então, que você é minha irmã. Assim, por sua causa, eles me deixarão viver e me tratarão bem". (12.13).

"Abraão dizia que Sara era sua irmã. Então Abimeleque, rei de Gerar, mandou que trouxessem Sara para o seu palácio". (20.2).

... foi dado pelo nascimento de Isaque. O filho prometido possibilitou a Abraão essa experiência ética mas, ainda assim, faltava ao patriarca o desafio da fé, a entrega a Deus daquilo que lhe era mais caro.

Pensemos: Caso o sacrifício se tivesse consumado, Abraão não teria como justificá-lo à luz da ética humana. Seria o assassino de seu filho. Permaneceria toda a vida indagando acerca das razões do sacrifício e não obteria resposta. Do ponto de vista humano, a dúvida seria permanente.

Abraão sofreu, mas posicionou-se. Ou como diria Habacuque (2.4), séculos depois, o homem de más intenções não sobrevive, mas o justo tem fé, está posicionado em Deus e vive. A fé fez com que ele saltasse das dimensões da alegria, afetividade e prazer, e da própria razão ética para o plano do absoluto, âmbito em que o entendimento é cego. Abraão ilustra na sua radicalidade o desafio da fé. A fé representa um salto, a ausência de mediação humana, porque não pode haver transição racional entre o finito e o infinito. A fé é inseparável da angústia, o temor de Deus é inseparável do tremor. Por isso, o escritor de Hebreus (11.1.) dirá que a fé é a certeza de que vamos receber o que Deus prometeu e a prova de que existem coisas que nossos olhos e razão não conseguem ver.

Quando chegaram ao local que Deus havia indicado, Abraão fez um altar e arrumou a lenha em cima dele. Depois amarrou Isaque e o colocou no altar, em cima da lenha. Em seguida pegou o punhal para matá-lo”. 22.9-10.

O punhal de Abraão é o símbolo do salto. É  angústia desespero. Mas o movimento da lâmina que aparentemente antecede a morte, conduz ao grito de Deus: Abraão! O movimento da lâmina leva a um novo sentido da vida, ao encontro com o filho amado. 

Abraão não hesitou em sacrificar Isaque e esta entrega lhe deu o filho de volta. A dimensão da fé é entrega ao Deus que não vemos e comunica-se através do silêncio. As duas primeiras dimensões, estética e ética, perdem sentido sem a dimensão da fé. A fé deve estar presente tanto na dimensão estética quanto na ética. A fé é uma dimensão que desestrutura experiências e possibilita o encontro com o sentido real da vida.

Fé implica em fazer escolha e permanecer nela, é posicionamento, já que é solitude e colocar-se sob o olhar de Deus. Esse estar só no sofrimento nos leva a certeza de que Deus cumpre suas promessas e, assim, dá sentido a subjetividade e à vida.

Os movimentos do infinito

Quando nos colocamos diante da miserabilidade humana e de nosso destino, nos situamos diante de uma realidade que nenhuma lógica pode explicar: a fé. Esta não é substituição afetiva provisória que dura enquanto não se fortalecem as luzes da razão. É um modo de existir. E esse modo nos situa em relação ao absurdo e ao paradoxo. O  absurdo de Deus feito ser humano e o paradoxo das circunstâncias do advento de Cristo.

Deus tornado ser humano, Cristo é o mediador. É por meio de Cristo que o ser humano se situa existencialmente perante Deus. Cristo é o fato primordial para a compreensão que o ser humano tem de si. Não há mediação conceitual, prova racional, que nos transporte à compreensão da divindade. A mediação é o Cristo, é o fato do sacrifício do cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Aqui se situam as circunstâncias que fazem da encarnação de Cristo um absurdo: a verdade não nos foi revelada com as pompas da lógica e da razão. Ela chegou a nós através de uma virgem que dá a luz, de uma criança que é Filho de Deus, mas nasce entre animais e, mais tarde, morre numa cruz como criminoso.

Sem riscos não há fé. Por isso, a fé caminha ao lado do amor. É por amor que Deus decide agir, mas como seu amor é a causa, seu amor também é o fim. Deus quer estabelecer relações com o ser humano. O amor de Deus ensina, mas também leva à dimensão da fé, quando passamos do “não somos” àquilo que “devemos ser”.

"Abraão olhou em volta e viu um carneiro preso pelos chifres, no meio de uma moita. Abraão foi, pegou o carneiro e o ofereceu como sacrifício em lugar do seu filho" (13).

"Abraão pôs naquele lugar o nome de "O SENHOR Deus dará o que for preciso”. É por isso que até hoje o povo diz: "Na sua montanha o SENHOR Deus dá o que é preciso” (14).

Caso permanecesse a distância infinita que separa Deus e o ser humano, jamais teríamos acesso à verdade. É a mediação do absurdo e do paradoxo que nos coloca em comunicação com Deus. Por isso devemos dizer: creio porque é absurdo. Este é o caminho do encontro com Deus. 

Assim, estamos diante de um movimento absurdo e paradoxal do infinito, que nos leva a romper com o imediato da vida, mas possibilita, por meio da fé, recuperá-lo. É possível tornar a vida compatível com o amor de Deus. A renúncia nos conduz a uma aparente e radical ruptura com o mundo, mas a fé nos traz para uma nova relação com o mundo, positiva, que reafirma numa nova dimensão a alegria e a lei, agora plenas de sentido! Por isso, posicionados, caminhemos com o Mestre, sabedores de que neste espaço de fé ele dará o que for preciso e nos fará sobrevoar alturas que as afetividades e a razão desconhecem (Hebreus 12.2).

Texto recomendado
Soren Kierkegaard, Temor e tremor, Editora Hemus, 2008.

samedi 14 avril 2012

Kaddish


Kadish é a terceira sinfonia de Leonard Bernstein. A sinfonia escrita em 1963 para grande orquestra é uma obra dramática, com um coro completo, um coro de crianças, uma solista soprano e um narrador. O nome da peça, Kaddish, refere-se à oração judaica cantada em cerimônias fúnebres. É uma oração de adoração ao Criador, onde não se menciona a palavra morte. A sinfonia foi dedicada à memória de John F. Kennedy, assassinado em 22 de novembro de 1963, semanas antes da primeira apresentação. Alguns críticos vêem Kaddish como um clamor pelo Holocausto. Samuel Pisar, em memória de Leonard Bernstein, criou uma oração que é rezada nesta apresentação.

vendredi 13 avril 2012

A sociedade do espetáculo

Guy Debord
A sociedade do espetáculo, 1a. edição francesa, Editions Gallimard, Paris, 1967
A separação acabada

Unidade e divisão na aparência
O proletariado como sujeito e como representação

I. A Separação Acabada

Mas com certeza, para a época presente, que prefere o signo à coisa significada, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência à essência... só a ilusão é sagrada, a verdade profana. Mais, a sacralidade é considerada reforçada na proporção em que a verdade diminui e a ilusão aumenta, de tal modo que o mais alto grau de ilusão passa a ser o mais alto grau de sacralidade.

Feuerbach, Prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo.

1 Nas sociedades em que prevalecem as modernas condições de produção, toda a vida apresenta-se como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido afastou-se em uma representação.

2 As imagens, desligadas de todos os aspectos da vida, fundem-se em uma corrente comum em que a unidade da vida não pode mais ser reestabelecida. A realidade considerada parcialmente desdobra-se, em sua própria unidade geral, como um pseudo-mundo à parte, objeto de mera contemplação. A especialização das imagens do mundo é completada no mundo da imagem autônoma, onde o mentiroso mente para si mesmo. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não vivente.

3 O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como toda a sociedade, parte da sociedade e instrumento de unificação. Como parte da sociedade, é especificamente o setor que concentra todos os olhares e toda a consciência. Devido ao próprio fato de ser separado, esse setor é o terreno comum do olhar enganado e da falsa consciência, e a unificação que ele realiza não passa da língua oficial da separação generalizada.

4 O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediada por imagens.

5 O espetáculo não deve ser entendido como um abuso do mundo da vsião, como produto das técnicas de difusão em massa de imagens. É, antes, uma Weltanschaaung que se tornou real, foi materialmente traduzida. É uma visão do mundo que se objetivou. 
6 Apreendido em sua totalidade, o espetáculo é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Não é um suplemento ao mundo real, uma decoração adicional. É o coração da irrealidade da sociedade real. Em todas as suas formas específicas, o espetáculo é o modelo presente da vida socialmente dominante. É a afirmação onipresente da escolha já feita na produção e em seu corolário no consumo. A forma e o conteúdo do espetáculo são identicamente a justificação total das condições e metas do sistema existente. O espetáculo é também a presença permanente dessa justificação, pois ocupa a parte principal do tempo vivido fora da produção moderna. 

7 A própria separação faz parte da unidade do mundo, da praxis social global dividida em realidade e imagem. A prática social que se coloca diante do espetáculo autônomo é também a totalidade real que o contém. Mas a divisão no seio dessa totalidade mutila-a a ponto de fazer com que o espetáculo seja visto como sua própria meta. A linguagem do espetáculo é feita dos sinais da produção dominante, que são ao mesmo tempo a meta suprema dessa produção.

mardi 10 avril 2012

L'évangile de Jésus est un message subversif

Pr. Georges Siguier 
"Que ce monde passe et que ton règne vienne !""A tous les oiseaux de proie volant très haut dans les airs l'ange, debout dans le soleil, cria: venez, rassemblez-vous pour le grand festin de Dieu ! Venez manger la chair des rois, la chair des chefs, la chair des puissants, la chair des chevaux et des cavaliers, la chair de tous les hommes, esclaves et libres, grands et petits." (Apocalypse 19 17 et 18 ) cf (Ezéchiel 39 17 à 20 )

Plan :1° l'évangile de Jésus. - 2° Cet évangile est un message subversif!
3° Il crie le règne de Dieu est proche ! - 4° La double perversion du christianisme
5° L'amour de l'ennemi - 6° L' amour et l'unité entre frères en Christ
7° La double repentance à pratiquer - 8° Interrogations
1° L'évangile de Jésus.

Quand nous employons le mot " évangile" nous traduisons un mot grec qui signifie: " bonne nouvelle" , " joyeux message " ou "heureuse information".
Et quand nous parlons de l'évangile de Jésus, nous parlons du message qu'annonçait Jésus en son temps, c'est à dire au cours de ces brèves années qui vont de son baptême au Jourdain à sa mise à mort sur la croix.

Il est donc question ici de la bonne nouvelle que proclamait le prophète de Galilée, du joyeux message qu'annonçait aux foules d'Israël "l'homme venu de Nazareth ".

Ce message, cet évangile de Jésus est l'annonce que Jésus faisait au sujet de Dieu et de son règne; voici cette annonce:

"Le règne de Dieu est tout proche !"

Il faut distinguer ce que Jésus disait là de ce que, après sa résurrection, l'église naissante proclamait au sujet de Jésus. Cette proclamation par l'église primitive, et dont tout le nouveau testament témoigne, est également un évangile à publier, mais c'est l'évangile au sujet de Jésus: la grande nouvelle de sa résurrection, de son ascension " à la droite de Dieu" comme Seigneur et Sauveur, de son règne qui vient, et de son retour.

Ce message chrétien, prêché au monde, concerne donc Jésus mais il ne doit pas être confondu avec le message que ce Jésus lui-même communiquait à ses contemporains, en reprenant d'ailleurs le message de Jean-Baptiste venait tout juste de proclamer à Israël:

"Aprés que Jean eut été arrêté, Jésus vint en Galilée. Il proclamait l'évangile de Dieu en disant: " Le moment voulu par Dieu est arrivé: le Règne de Dieu est là ! revenez à Dieu et croyez à la bonne nouvelle. " ( Marc 1 14 et 15 )

Tel est, si je puis dire, le " credo primitif " de notre Maître, son message fondamental et primordial, son évangile originel et fondateur, sa parole proclamée à Israël.

Telle est l'Annonce messianique du Messie de Dieu, selon les témoignages unanimes des évangiles du nouveau testament. Voilà l'évangile de Jésus.

2° Un message subversif.

Ce que je voudrais exposer ici, brièvement, c'est le caractère subversif de cet évangile annoncé par Jésus.

En même temps, j'évoquerai la façon dont l'Eglise chrétienne, dés le second siècle, a peu à peu édulcoré, changé et perverti cet évangile, subversif de Jésus.

Comment ? Il lui a suffi d'abandonner l'attente enthousiaste du retour proche de Jésus et de l'avènement du Royaume de Dieu. Il lui a suffi " d'abandonner son amour du début " (Apocalypse 2 4) et de s'installer progressivement dans le " train de ce monde" en y devenant une Puissance.

Mais n'oublions pas de rappeler d'abord le sens du mot: " subversif ". Le dictionnaire ( petit Robert ) définit l'adjectif"subversif" en disant: " qui renverse ou qui détruit l'ordre établi; qui est susceptible de menacer les valeurs reçues". C'est ainsi, dit-il qu'on parle " d'idées subversives ou d'activités subversives", surtout dans le domaine politique.

A partir de là peut-on appliquer à l'Evangile de Jésus le qualificatif de " subversif" ?

Bien sur que oui, dés qu'on comprend que l'arrivée du Règne de Dieu va mettre le point final, sur la terre, au règne des pouvoirs humains qui s'y exercent. Certes l'évangile ne prêche pas une révolution violente ou l'établissement d'un "ordre établi" ! Jésus ne cherchait absolument pas à renverser et à détruire par la force les Pouvoirs établis qui dirigeaient son peuple, soit le pouvoir de la caste des prêtres du Temple soit le pouvoir de la puissance étrangère des Romains. Certes par sa parole, et par les signes qui l'accompagnent, il combat sans faiblesse le péché des chefs religieux et politiques. Mais cette parole est radicalement non -violente, tout comme Jésus lui-même est totalement non-violent. Il n'est pas un révolutionnaire au sens classique du terme et, lors de son arrestation, il désarme Simon-Pierre qui a commencé a utiliser son épée.

Mais il est même temps tout le contraire d'un mou, d'un passif, d'un religieux fuyant le monde et laissant se poursuivre sur la terre le règne de la force, de la puissance et de l'argent.

Non, Il est le combattant suprême contre le mal, mais Il laisse à Dieu son Père le soin de faire justice et de réprimer les méchants.Il se place au coeur de ce combat sans merci qui oppose d'un coté le Seigneur Dieu et ses prophètes et de l'autre,le monde des hommes, leurs pouvoirs et le pouvoir laissé au "prince de ce monde" , le diable ( Mathieu 4 8 ) Et les violents vont poursuivre jusqu'au crime leur tentative d'empêcher le Règne de Dieu d'advenir, jusqu'à assassiner Jésus.

Car ce qui déclenche la fureur des puissants, c'est précisément la présence et la parole de cet obscur Galiléen qui se met à crier partout, " l'arrivée du grand " jour de l'Eternel", l'arrivée du " Royaume" qui va mettre fin, sur la terre sainte, au règne des pouvoirs, des autorités et des dominations qui écrasent et asservissent les enfants de Dieu.

Nous comprenons donc pourquoi l'évangile de Jésus est si subversif. C'est parce que, ni plus ni moins, il annonce le jugement et la disparition des pouvoirs de ce monde, ceux qui règnent sur les non-juifs ( les " païens" ) et ceux qui règnent sur le peuple juif.

C'est la royauté et le royaume de Dieu qui sont subversifs ! !

Surtout quand ils sont annoncés pour l'immédiat, pour le très court terme ! !

3° " Le Règne de Dieu est là, il arrive ! "

Voilà la nouvelle que " l'homme de Nazareth " annonçait en parcourant tout le pays d'Israël: l'arrivée, l'imminence et la proximité du Royaume de Dieu, du Seigneur d'Israël.

Et c'est cette nouvelle-là qui bouleversait tout !

" Le Royaume de Dieu est proche ! " ou: " Le Royaume de Dieu arrive maintenant !" ou

" Le Règne de Dieu est là ! "

Ces trois mots français " royaume, règne, royauté " correspondent à l'unique mot grec que présentent ces phrases de l'évangile (" basileia "). Suivant les cas, il vaut mieux traduire par l'un ou l'autre de ces trois mots. Mais le sens fondamental est le même: le coeur du Message de Jésus, le centre de l'évangile annoncé par le prophète galiléen, c'est l'annonce que " le Royaume de Dieu est proche " .

Aujourd'hui encore, dans notre pays, une telle annonce, si elle se faisait trop publique et trop insistante exposerait l'annonceur à une mise en examen en justice ! L'annonce apocalyptique de la fin des temps toute proche et de l'intervention imminente de la royauté du Dieu des juifs dans l'histoire, cette annonce est considérée comme un "délit", une extravagance sectaire ou un dérangement mental. D'où le silence quasi général des autorités religieuses chrétiennes sur ce point lorsqu'elles parlent en public à la population de notre pays.

Or, lorsque Jésus prêche son évangile, il est non pas un théologien qui disserte avec d'autres théologiens, mais un prophète bouleversant qui informe tout Israël de l'Evènement: l'intervention finale et ultime de la royauté du Seigneur Dieu est annoncée pour l'immédiat. Son Royaume arrive, son Règne est là. D'où l'urgence de la conversion avant que ce jour-là ne surgisse, à l'improviste: " revenez à Dieu ! "

Et Jésus est parfaitement compris par ses auditeurs car tous, depuis le grand prêtre jusqu'au petit peuple des campagnes, sont au courant de la grande promesse du Dieu de leurs pères. Ils savent tous que, depuis des siècles, les prophètes envoyés par Dieu ont prédit ce "Jour " inouï où serait enfin instauré sur la terre ce royaume divin où régnera la justice de Dieu, où la terre sera changée en paradis de vie éternelle et de bonheur perpétuel. Le ciel descendu sur la terre !

Et tout le monde sait que le réalisateur de ce Royaume sera le Messie, le Christ, c'est à dire le serviteur choisi et désigné par l'onction divine, le Roi-Libérateur, le Sauveur. Tous l'attendaient.

Que ce monde nouveau soit le contraire du monde actuel, que ce royaume soit l'inverse des royaumes de ce monde, que ce règne s'accompagne de l'abolition de tous les pouvoirs établis jusqu'alors, c'est ce qu'attendaient les auditeurs de l'évangile originel, en particulier les pauvres, les malheureux, les victimes de l'injustice et de la violence.

Ils ne s'y trompaient pas, ces premiers disciples qui, d'aprés Luc 6 17 et suivants, entendaient la proclamation inaugurale du Royaume sur les livres du prophète de Nazareth:

" Vous êtes heureux, vous les pauvres, parce que le Royaume de Dieu est à vous ! " Vous êtes heureux, vous qui avez faim maintenant, parce que vous serez bien nourris ! "Vous êtes heureux, vous qui pleurez maintenant, parce que vous rirez ! Dieu vous prépare une récompense.Mais quel malheur pour vous les riches, parce que vous avez déjà votre bonheur ! Quel malheur pour vous qui avez maintenant tout ce qu'il vous faut, parce que vous aurez faim ! .."

Et Jésus annonçait cette Bonne nouvelle dans toutes les villes du pays d'Israël. Était-elle subversive, cette bonne nouvelle ? oui !

Était-elle politiquement subversive ? oui ! Était-elle radicale et renversante ? oui !

Était-elle vraie, cette annonce ? Et, oui ou non, Lui, était-il le Roi promis par Dieu ?

4° La double perversion du christianisme.

Si pendant deux minutes, j'essaye de parler en historien, j'oserai affirmer ceci:

Le christianisme a trahi le Christ.

Le christianisme a subverti l'évangile. Ce qui, dans le message proclamé par Jésus était radicalement subversif pour l'ordre établi sur la terre et pour tous les pouvoirs, juifs ou païens, tout cela a été peu à peu effacé ou édulcoré. Progressivement l'annonce du Royaume imminent a cédé la place à une religion chrétienne, un " christianisme", une grande " église" installée dans le siècle présent et jouant le jeu des puissances de ce monde, avec les violences et les logiques des politiques humaines..

Le tournant catastrophique a été pris dés le 4° siècle, quand l'Eglise est devenue religion d'Etat, religion officielle de l'Empire romain et a constitué partout ce système politico-religieux que l'on appelle la " chrétienté ", dirigée et dominée par des chefs religieux ( dont, par ailleurs, la foi et la piété ont été souvent grandes et les qualités humaines admirables ! )

Cette histoire de la chrétienté s'est caractérisée et se caractérise toujours par une double déviation, une double déformation, une double trahison du message de Jésus, une double " apostasie " c'est à dire deux éloignements , majeurs et permanents, par rapport à la volonté et à l'enseignement du Seigneur Jésus le Messie d'Israël.
a/ D'une part les chrétiens se sont mis à se faire la guerre entre eux: division du corps du Christ

b / D'autre part les chrétiens se sont mis à faire la guerre à leurs ennemis non-chrétiens: préparation et usage des armes contre les ennemis religieux ou politiques.

Double subversion de l'évangile fondateur, prêché par le Maître puis béni et glorifié par Dieu. Car le Père a ressuscité son fils unique puis l'a élevé à sa droite comme Seigneur et Roi, n'est-ce pas pour approuver son évangile et lui conférer une valeur divine et une autorité éternelle ? De telle sorte que désormais, " Évangile de Jésus " et " Évangile de Dieu " sont le même, message, la même et l'unique Parole de Vérité.

Depuis toujours les chrétiens ont tendance à minimiser la gravité de cette tragédie où, collectivement et constamment, les disciples du Christ ont doublement tourné le dos à l'enseignement du Christ. D'une part en créant et en légitimant la division de l'Eglise en fractions rivales et concurrentes, les "Églises " D'autre part en légitimant et en pratiquant l'emploi des armes et de la violence meurtrière contre leurs ennemis, au nom des diverses théologies de la guerre juste ! Pour expliquer qu'il s'agit là d'une double perversion de l'évangile prêché par Jésus, il me suffira de rappeler ce que l'on appelle traditionnellement le " sermon sur la montagne ".

J'y soulignerai d'abord le commandement de l'amour pour les ennemis; en faveur des ennemis, les disciples de Jésus entendent:

1° :" Aimez vos ennemis !" ( Mathieu et Luc )

Ensuite je mettrai en évidence le commandement de l'amour entre disciples de Jésus, l'ordre de l'unité et de la communion fraternelle entre chrétiens:

2°: "Aimez-vous les uns les autres !" ( Jean )

Ces deux domaines-là recouvrent toutes nos relations avec les hommes, c'est à dire les frères et soeurs dans l'église, et tous les autres hommes dans la société de ce monde. Dans ces domaines, l'Eglise issue de l'évangile perpétue une perversion du christianisme, une subversion de l'évangile subversif de Jésus; toutes dénominations chrétiennes confondues !

Mais voyons d'abord comment Jésus ordonnait à ses disciples l'amour pour leurs ennemis ( c'est le domaine politique et la sphère socio-économique de notre vie humaine sur la terre ).

5° : L'amour des ennemis.

"Vous avez appris qu'il a été dit aux anciens: " Tu ne commettras pas de meurtre, celui qui commettra un meurtre en répondra au tribunal". Et moi je vous dis: quiconque se met en colère contre son frère en répondra au tribunal..." (Matthieu 5 21 ss )" Vous avez appris qu'il a été dis : oeil pour oeil et dent pour dent,et moi je vous dis de ne pas résister ( riposter ) au méchant. Au contraire si quelqu'un te gifle sur la joue droite, tends-lui aussi l'autre joue.... " ( Matthieu 5 38 à 42 )

" Vous avez appris qu'il a été dit: tu aimeras ton prochain et tu haïras ton ennemi. Et moi je vous dis: aimez vos ennemis et priez pour ceux qui vous persécutent afin d'être vraiment les fils de votre Père qui est aux cieux. Car il fait lever son soleil sur les méchants et sur les bons, et tomber la pluie sur les justes et les injustes. Car si vous aimez ceux qui vous aiment, quelle récompense allez-vous en avoir ? Et si vous saluez seulement vos frères, que faites-vous d'extraordinaire ? Les païens n'en font-ils pas autant ? Vous donc vous serez parfaits comme votre Père céleste est parfait." ( Matthieu 5 43 à 48 )

Et la conclusion du sermon sur la montagne est radicale: " Il ne suffit pas de dire " Seigneur, Seigneur ! " pour entrer dans le Royaume des cieux; il faut faire la volonté de mon Père qui est aux cieux ."( Matthieu 7 21 )

"Ainsi l'évangile du Royaume proche n'est pas seulement une information à savoir dans la tête. C'est en même temps l'appel et le commandement à vivre dés maintenant selon la loi de ce Règne. Or pour Jésus la loi du Royaume c'est l'amour, un amour que Jésus interdit de contourner, de limiter, d'édulcorer, car c'est l'amour même du Père. Jésus recompose la loi autour du principe de l'amour mais il durcit et radicalise le commandement: " Moi je vous dis" ( Daniel Marguerat )

Chacun saisit aisément le caractère terriblement subversif de cet Évangile fondamental, fondateur du Royaume imminent qui vient.

En effet, si l'amour de mon ennemi est le trait caractéristique de l'enfant de Dieu alors je ne peux plus tuer mon ennemi ni l'ennemi de mon peuple; je ne peux plus m'exercer à porter atteinte à sa vie, même si le groupe social ou la nation dont je suis m'en fait un devoir, même si on me prouve que le service armé de la patrie ou la légitime défense.......

Qu'un tel message heurte de front les principes et les règles de toute société humaine et bouleverse toutes les données des relations humaines et des pouvoirs et des valeurs de ce monde, qui pourrait le nier ?

Que cet Évangile soit subversif au plus haut degré, comment ne pas le voir ? Comment dire " oui " à cela ? " Jésus n'aiguise-t-il pas la loi de Dieu jusqu'a l'insupportable ? Est-il possible de cesser de juger ? Est-il raisonnable de renoncer à son droit de défense ? L'homme de Nazareth n'engage pas à discuter la praticabilité du commandement,il demande qu'on en reconnaisse la vérité. Avec lui, la vie croyante devient le champ de tension entre l'infini désir de Dieu et les résistances du réel" (Daniel Marguerat p 73-74 )

Mais c'est la proximité du Règne de Dieu qui prime en Jésus, sur toute autre autorité ou valeur. Et c'est l'amour de Jésus pour ce Règne qui le conduit à cet enseignement subversif d'un amour radical et quasi- impossible enseigné à tous ses disciples.

On comprend que très vite l'Eglise troublée par le "retard" de la Parousie et éprouvée par la persécution, n'ait pas pu maintenir l'obéissance au commandement originel et soit entrée dans la voie de la collaboration avec tous les pouvoirs qui enseignent à ne pas aimer l'ennemi !Tout état, toute nation ( chrétienne ou non ) se doit de défendre par la force contre tout ennemi qui menace les intérêts vitaux de la collectivité nationale. Toute puissance publique, en ce monde, a pour logique la logique qu'exprimait si clairement le grand -prêtre des juifs au sujet de Jésus:

"Il vaut mieux," disait Caïphe", qu'un seul homme meure pour le peuple et que la nation ne périsse pas toute entière." ( Jean 11 )

Et ses collègues réunis en conseil délibéraient ainsi:

"Que faisons-nous ? Cet homme (Jésus) opère beaucoup de signes . Si nous le laissons continuer ainsi,tous croiront en lui, les Romains interviendront et détruiront et notre saint lieu et notre nation." ( Jean 11 47 à 51)

Et une note de la T.O.B. explique: " le fait est que Jésus provoque des troubles, il convient donc de l'éliminer pour assurer la tranquillité de l'ordre public".

Or ce sont ces ennemis-là ( les chefs des Juifs, les chefs et les soldats romains...) que Jésus commandait d'aimer, détruisant ainsi toutes les barrières et frontières qui opposent avec violence les humains entre eux, et prenant le contre-pied des logiques politiques et des principes de gouvernement ( démocratiques ou non !)

Non, le Royaume de Dieu ne peut pas coopérer avec " César " pour un partage des pouvoirs et des compétences. Car le Règne de Dieu, c'est le contraire du règne des hommes. Et la royauté du Seigneur d'Israël qui vient va renverser et supprimer les puissances et les dominations, y compris le " prince de ce monde " ( Jean 14 30 ), " ces chefs de ce monde qui ont crucifié le Seigneur de gloire " ( 1 Corinthiens 2 8 ) . Donc, dés à présent, la ligne de conduite que le Roi crucifié prescrit à ses disciples est ni plus ni moins l'amour des ennemis. Là est la force subversive qui renverse l'ordre établi et les valeurs fondamentales de la société, et .. nos idées sur la " citoyenneté " . Là se trouve donc la première ligne de réforme, de réveil et de renouveau de l'Eglise chrétienne qui se réclame de l'Evangile de Jésus, ( donc de chacun de nous aussi. )

" Et moi, je vous dis, aimez vos ennemis ! "

6° : L'unité entre frères en Christ

Le deuxième domaine où l'Evangile de Jésus est bafoué par les chrétiens est l'unité ecclésiale,la communion fraternelle dans le corps du Christ. Si le Maître appelle ses disciples à aimer leurs ennemis eux-mêmes, à plus forte raison les appelle-t-il à s'aimer entre eux , à s'aimer les uns les autres, entre catholiques et protestants par exemple. Cette unité fraternelle visible et concrète, dans l'amour, est pour Jésus la marque caractéristique du Royaume de Dieu, le Père, notre Père. Jésus n'a pas eu pour projet de créer l'Eglise telle que nous la concevons, mais il a voulu rassembler dans l'amour les enfants du Royaume, la fraternité des fils du Royaume.

Et s'il est mort pour nous tous, c'est pour " réunir en un seul corps les enfants de Dieu dispersés " ( Jean 11 52 ) Et c'est, là encore, l'amour qui doit être la force de rapprochement, d'unité, de paix et d'harmonie en chaque localité de la terre habitée, à commencer par Jérusalem et les fils d'Israël.

Tous les évangiles et tous les enseignements des apôtres sont là pour nous ordonner et nous enseigner cette communion fraternelle de tous ceux qui " invoquent le nom de Jésus ".

Pour eux, la création de dénominations chrétienne rivales et concurrentes et la constitution d'églises séparées les unes des autres et juxtaposées, partout et toujours, ne peuvent être que des " hérésies ", des " apostasies " , " des sectes ". Car cela revient à tourner le dos à la volonté expresse du Seigneur:

" Je vous donne un commandement nouveau: Aimez-vous les uns les autres: comme je vous ai aimés vous devez vous aussi vous aimer les uns les autres. Si vous avez de l'amour les uns pour les autres, tous reconnaîtront que vous êtes mes disciples ". ( Jean 13 34 et 35 -15 1 à 17 - 17 21 à 23 )

Cet Evangile-là est subversif pour les églises locales, établies et instituées dans la division jugée normale.
Et le plus grave c'est qu'on n'a même pas conscience de l'état de péché et de désobéissance que représente en permanence la fragmentation désastreuse de la fraternité chrétienne universelle en églises: églises-dénominations séparées les unes des autres et par conséquent, séparatrices des frères et soeurs qui sont, en chaque localité géographique, des membres du corps du Christ, l'unique Messie.

Pourtant ce qu'il pense et ce qu'il veut est clair. C'est sans doute le quatrième évangile qui l'exprime le plus clairement: lorsque le Seigneur y parle de l'unité de l'Eglise, il n'enploie pas le mot église , par exemple, l'allégorie du cep de vigne et des sarments:

" La vraie vigne c'est moi...Je suis la vigne, vous êtes les branches...une branche ne peut donner de fruits toute seule, elle doit rester sur la vigne....Si quelqu'un reste attaché à moi comme je suis attaché a lui, il donne beaucoup de fruits....Je vous ai aimé comme le Père m'a aimé. Restez dans mon amour.... Vous resterez dans mon amour si vous obéissez a mes commandements: aimez-vous les uns les autres comme je vous ai aimés. Si quelqu'un donne sa vie pour ses amis, c'est la plus grande preuve d'amour.... ce que je vous commande c'est de vous aimer les uns les autres."( Jean 15 1 à 17 )

" Les uns les autres " c'est à dire entre sarments, entre branches de la vigne, entre disciples du Maître, entre amis de Jésus. Non pas entre protestants ou entre catholiques ou entre anglicans, mais entre fidèles du Seigneur ressuscité, entre tous. Quel jugement contre chaque église ! ! !En chaque lieu de vie, cette communion dans l'amour fraternel, cette communion visible de rencontre, de prière commune, de partage, d'entraide et de vie, jour après jour. Ce n'est pas un idéal ni un rêve mais c'est le grand commandement du Seigneur Jésus lui-même.

Se conformer à se commandement est au-dessus de nos forces et de nos bonnes volontés. Mais avec ce commandement Jésus fait une promesse: le don du Saint Esprit qui viendra sans cesse nous aider à aimer tous nos frères, par dessus toute barrière d'église, de confession, de tradition religieuse, ou de " dissuasion " par les dirigeants des églises établies.

Comment ne pas voir que l'évangile de Jésus est là encore, terriblement subversif ? Le refus des barrières ecclésiastiques et la résistance à la désunion instituée et établie depuis l'aube du christianisme, n'est-ce pas unecontestation radicale des valeurs et des pouvoirs ecclésiastiques établis ?

De même que l'évangile de l'amour des ennemis est subversif pour tous les pouvoirs politiques de toute société humaine, de même l'Evangile de l'amour fraternel en Église unie est subversif à l'encontre de toute église dénominationnelle ( quelle que soit par ailleurs le degré de son ouverture oecuménique ! ) Résistance !

Sur ces deux fronts où l'amour selon Dieu nous est ordonné ( le front de notre relation aux humains des sociétés qui mobilisent notre service et notre coopération et le front de notre relation aux chrétiens auprès desquels Dieu nous place ) sur ces deux fronts de combat où le Maître nous a précédés, il nous faut courageusement lutter. Non pas par insurrection, mais par non-coopération à tout ce qui divise le corps du Christ. Lutter pour pratiquer la non-violence sociale et politique de l'Evangile de Jésus, lutter pour pratiquer l'unité ecclésiale dans sa plénitude; c'est à dire, dans les deux cas, pour pratiquer cet amour qui reflète l'amour du Père pour son fils et l'amour du fils pour tous les hommes. Double résistance spirituelle à apprendre ! Non point rêver de changer le monde ( la Parousie va le faire ) ni de changer les églises ( la Parousie va le faire ). Pas d'idéalisme !

Mais personnellement, individuellement, localement, par petits groupes de " résistants " conformes à Jésus, cesser chaque jour de pécher contre l'amour mais pratiquer l'Evangile de l'amour.

Tel est le "fruit " porté par chaque sarment de la vigne. Tel est le fruit qui glorifiera Jésus et qui sanctifiera le Nom de notre Père qui est dans les cieux.

7° La double repentance à pratiquer

La proclamation de la bonne nouvelle du Royaume de Dieu qui arrive vite s'accompagne toujours de l'appel à la repentance, c'est à dire d'un changement radical de mentalité et d'un comportement nouveau conforme à l'Evangile.

C'est ainsi que Jean-baptiste, annonçant l'arrivée imminente du Royaume et du Messie, ajoutait: " Retournez à Dieu et changez de conduite car le Royaume de Dieu est proche !" (Matthieu 3 2 )

De la même façon l'Evangile de Jésus comporte toujours et se conclue toujours par l'appel à la repentance:

" Le Royaume de Dieu est là proclame Jésus ! Repentez-vous ( changez votre façon d'être ) et croyez à la bonne nouvelle " (Marc 1 15 )

Repentance et foi qui sont une mise en pratique effective de la parole du Maître, un engagement précis pour suivre Jésus ( et nullement une réconciliation avec l'église ! )

Que sera donc la repentance des chrétiens que nous sommes à partir de cet Évangile de Jésus mieux compris et mieux cru ? En quoi notre "religion chrétienne", avec ses croyances et ses lignes de conduite, devront-ils être changés ou bouleversés ?

Pour nous mettre en conformité avec cet Évangile d'amour radical et absolu incarné par Jésus, notre repentance constante devra être double:

Double repentance à pratiquer:

D'une part dans la sphère ecclésiale, je veux dire dans notre façon de vivre " en église " vivre en membres du corps du Christ dans notre localité d'abord au quotidien. D'autre part dans le domaine politique, social, professionnel, culturel, familial, et c. ( toutes nos relations avec nos semblables quels qu'ils soient ). En ce qui concerne la vie entre chrétiens qui aiment et servent Jésus, notre repentance consistera à pratiquer, avec un nouveau style de vie et un nouvel état d'esprit, l'unité et la communion d'amour fraternel avec tous les frères et toutes les soeurs en Christ des diverses dénominations, grandes ou petites, dans notre ville ou notre village ou notre quartier.

Non pas " faire de l'oecuménisme " mais pratiquer l'unité telle que Jésus nous la commande et telle qu'il la demande pour nous tous à son Père . ( Jean 17 ).

En somme, cesser de contribuer et de coopérer à tout ce qui divise et fragmente injustement l'Eglise,une et indivise du Seigneur Jésus. Et mettre nos frères séparés dans notre coeur et dans notre emploi du temps, pour les aimer en vérité. Et si pour tout cela, il nous faut contrarier les chefs et dirigeants de nos églises diverses et séparatrices, eh bien ! apprenons à déplaire aux hommes pour plaire à Dieu !

" Il vaut mieux obéir à Dieu qu'aux hommes! " répétaient les apôtres.

Quant au domaine politique et social de notre repentance nécessaire, là aussi c'est l'ordre d'aimer nos ennemis privés ou publics qui va nous transformer et nous mobiliser. Et là encore ce ne sera pas une petite affaire car le prix à payer sera très élevé, nous le savons. Participer au témoignage subversif de Jésus coûte très cher. Car si notre adhésion à la ligne politique d'amour de l'ennemi nous conduit à refuser notre participation à tout ce qui prépare l'éventuelle destruction de l'ennemi, à tout ce qui vise à lui nuire et à l'éliminer, donc à résister à l'Etat et à dire " non " aux autorités civiles et... religieuses, à coup sur cela mène loin.

Les idées subversives qui nous empêchent de hurler avec les loups pour rester des " brebis au milieu des loups " et aimer très concrètement les ennemis, ces idées là ne peuvent que nous marginaliser radicalement et nous faire détester par tout le monde.

Mais le solide fondement demeure: " Aimez vos ennemis ! " parole du Seigneur !

Que dire de plus ? Mieux vaut maintenant laisser s'exprimer en toute liberté et unité fraternelle, nos réactions, nos protestations, nos refus, nos perplexités, nos peurs et interrogations, dans l'amour de Dieu manifesté en Jésus, notre Seigneur, notre Sauveur...et notre modèle.

"Il y a deux pouvoirs dans le monde: le pouvoir de celui qui prend une tuniqueet le pouvoir de celui qui se laisse dépouiller le pouvoir de celui qui a tout et le pouvoir de celui qui n'a rien le pouvoir de celui qui porte des armes et le pouvoir de celui qui garde les bras ouverts. Il y a deux pouvoirs dans le monde: le pouvoir de la force et la force d'aimer."
(Pasteur Henri Lindegaard)

Signe:
Georges Siguier : 14 rue St Jacques 81 200 Mazamet , pasteur église réformée. (à la retraite)

lundi 9 avril 2012

Brasil e Portugal assinam acordo de cooperação acadêmica

Meta é desenvolver novas ideias 
relacionadas com a docência e a pesquisa

O Grupo de Tordesilhas, formado por 48 universidades do Brasil, Espanha e Portugal, fomentarão projetos de colaboração comuns e estáveis em matéria docente, pesquisa e desenvolvimento social, segundo o convênio assinado por representantes desses centros acadêmicos.

O reitor da Universidade de Salamanca, Daniel Hernández, e o da Universidade Federal do Paraná, Zaki Akel Sobrinho, como presidente e vice-presidente do Grupo Tordesilhas, respectivamente, participaram da assinatura do acordo de colaboração com o subdiretor-general do Banco Santander, Jesús Rodríguez Almarza.

O acordo tem como objetivo reforçar o apoio por parte do banco espanhol ao 13º Encontro de Reitores do Grupo Tordesilhas de Universidades, cuja meta é desenvolver novas ideias relacionadas com a docência, a pesquisa e o desenvolvimento social entre as instituições de Educação Superior.

O Grupo Tordesilhas foi criado no ano 2000 durante o primeiro Encontro de Reitores de instituições acadêmicas da Espanha, Brasil e Portugal, que foi realizado no mesmo local em que foi assinado o histórico Tratado de Tordesilhas, em 1494. Com o convênio assinado, o Banco Santander põe à disposição dessas universidades verbas para a realização de diversos projetos e, principalmente, para o desenvolvimento do 13º Encontro de Reitores.

A entidade bancária patrocinou esta associação universitária desde sua criação, sendo que o último encontro ocorreu no mês de novembro de 2011, em Portugal

A Universidade de Valladolid, como organizadora do primeiro Encontro, foi escolhida como sede permanente do Grupo. Na atualidade, existem três sedes, uma em cada país: a do Brasil, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO); a da Espanha, na Universidade de Valladolid, e a de Portugal, na Universidade de Coimbra.

Fonte
R7 Notícias
http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/universidades-do-brasil-espanha-e-portugal-assinam-acordo-de-cooperacao-20120221.html

Copyright 
Agência Efe.

dimanche 8 avril 2012

Pede-se ser levantado

Você está falando de bens materiais, de coisa frágil. Se você tem certeza de que esses bens ficarão sempre com você, fique com eles sem partilhar com ninguém. Mas se você não é o senhor absoluto deles, se tudo que você tem depende mais da sorte do que de você mesmo, por que este apego a eles?”.[1]

Fuks conta que Freud, um dia depois do sepultamento do pai, sonhou com um cartaz onde estava escrito: “Pede-se fechar os olhos”. Mais tarde, em carta a Fliess, o pai da psicanálise falou dos sentidos subjetivos da frase: “era parte da minha auto-análise, minha reação diante da morte de meu pai, vale dizer, diante da perda mais terrível na vida de um homem”.[2]

Não vou entrar nos detalhes das leituras que o próprio Freud fez da frase que apareceu em seu sonho. Diria ao leitor que vale a pena ler Freud e a Judeidade. Pretendo aqui levantar uma proposta de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”. 

Texto sobre a anástase, segundo Sophronius, patriarca de Jerusalem (560-638), Anacreontica, 20, 1-54, in Patrologia Graeca 87, 3817-3824 (Ed. J.-P. Migne, Paris 1865)

É a partir dessa hermenêutica de Fuks, que vamos ler trechos do final da primeira carta de Paulo aos Coríntios.

... Foi sepultado e foi despertado do sono no terceiro dia, de acordo com o escrito”.

A frase acima, e a continuação do texto, é uma das mais importantes sobre a egeiro e anástasis, duas expressões gregas não substancialmente diferentes, que sintetizam a teologia da anástase dos cristãos do primeiro século. As traduções posteriores, e creio que dificilmente poderiam ser diferentes, criaram um padrão de imagem que dificultam a experiência do ir além. Por isso, fomos obrigados antes da tradução transversa fazer a desconstrução histórico-filosófica da anástase. 

As leituras da anástasis e egeiró remontam a Homero e ao grego antigo e com seus sentidos correlatos axanástasis, anhistémi e anazaó, que podem ser traduzidas por “ficar de pé”, “ser levantado” e “voltar à vida”, foram fundamentais para a construção do conceito anástase, amplamente utilizado pelas ciências do espírito. Mas é com Platão, na literatura filosófica, que vamos encontrar um debate fundamental para a teologia da anástase, quando apresenta a alma enquanto semelhança do divino e o corpo enquanto semelhança do que é físico e temporário. 

Platão, em Fédon[3], num diálogo entre Sócrates e seus amigos defendeu a idéia da imortalidade da alma. Sócrates foi condenado à morte por envenenamento, mas não teve medo, por crer ser a alma imortal. Para Platão, as almas possuem semelhanças com as formas, que são realidades eternas por trás do mundo físico, natural. Nesse sentido, para Platão, o corpo morre, mas a alma não. Ele parte do padrão cíclico da natureza, frio/ quente/ frio, noite/ dia/ noite. Assim, os mortos despertam numa nova vida depois da morte: caso contrário, a vida desapareceria. 

E dirá através de Sócrates em Fédon: “(...) perguntemos a nós mesmos se acreditamos que a morte seja alguma coisa? (...) Que não será senão a separação entre a alma e o corpo? Morrer, então, consistirá em apartar-se da alma o corpo, ficando este reduzido a si mesmo e, por outro lado, em libertar-se do corpo a alma e isolar-se em si mesma? Ou será a morte outra coisa? (...) Considera agora, meu caro, se pensas como eu. Estou certo de que desse modo ficaremos conhecendo melhor o que nos propomos investigar. És de opinião que seja próprio do filósofo esforçar-se para a aquisição dos pretensos prazeres, tal como comer e beber?” 

Paulo conhecia a discussão filosófica grega acerca da anástase, já que isso se evidencia em seus escritos, principalmente no trecho que estamos analisando, mas é certo que construiu seu conceito também levando em conta a tradição judaica, acrescentando novidades ao debate teológico. Existem referências ao ser trazido de volta à vida nas escrituras hebraico-judaicas. Mas a preocupação judaica era existencial, como vimos em Qohélet. Mais do que remeter a um futuro distante, embora tais leituras estejam presentes na teologia de alguns profetas, as histórias de anástase relacionadas aos profetas Elias e Eliseu falam do aqui e agora. Aliás, este último, mesmo de depois de morto, trouxe à vida um defunto que foi jogado sobre sua ossada. Ao tocar os ossos de Eliseu, o morto ficou vivo de novo e se levantou. Esse caminho será a novidade da compreensão cristã/ helênica da anástase. 

Somos arautos de que o ungido foi levantado do meio dos mortos: como alguns podem dizer que não há o ser erguido dos mortos? E, se não há o despertar do sono da morte, também o ungido não foi levantado. E se o ungido não foi levantado, é inútil o que falamos e também inútil a nossa crença. Somos então testemunhas falsas, porque anunciamos que Deus ergueu o ungido. Mas se ele não foi levantado, os mortos também não são erguidos. E se os mortos não são erguidos, o ungido também não o foi. E, se o ungido não foi erguido, a nossa crença é inútil e vocês continuam a vagar sem destino. E os que foram colocados para dormir no ungido estão destruídos”. 

Outras fontes de Paulo foram o profeta Daniel e outras literaturas intertestamentárias, que trabalharam com a idéia de “despertar subitamente do sono”. Chifflot e De Vaux[4] situam o livro de Daniel no período helênico por entender que é uma edição de antigos fragmentos do período babilônico, compilados, organizados e contextualizados ao momento histórico descrito no capítulo onze. Nesse capítulo, as guerras entre lágidas e selêucidas, assim como as investidas de Antíoco IV Epífanes contra Jerusalém e o templo são narradas com riquezas de detalhes. Ao contrário do que acontece nos livros proféticos anteriores, aqui o autor cita fatos aparentemente insignificantes, querendo demonstrar que é uma testemunha ocular da história. Dessa maneira, a edição que conhecemos do livro de Daniel deve ser situada no período da grande perseguição de Antíoco IV Epífanes, possivelmente entre os anos de 167 e 164 a.C., segundo Chifflot e De Vaux, já citados. A partir desse enquadramento, os capítulos 7 a 12 de Daniel, enquanto edição são chamados de “vaticinia ex eventu”, dado que o texto é contemporâneo aos acontecimentos descritos. Esses capítulos expressam a reação contra a helenização da Judéia e das perseguições em curso, mas, paradoxalmente, uma forma de pensamento afetado pela civilização helênica. 

A partir da segunda metade do livro, o autor trabalha sobre dois temas registrados na primeira metade: que o judeu deve ser fiel a Deus em meio à tentação e à provação; e que Deus defende o servo leal que prefere morrer a violar os mandamentos. Nos seis capítulos finais, o sábio (ou grupo de sábios, cujos escritos foram compilados por um redator) retoma o conteúdo das visões que teve em relação à profanação do templo, em 167 a.C., e o erguimento da “abominação desoladora”. 

Durante o período helênico idéias novas afloraram em meio à vida judaica, entre elas a esperança da recompensa escatolõgica apresentada pelas profecias apocalípticas, como em 2Macabeus 7, Daniel 12:2-3 e o Escrito de Damasco 4:4, que se traduzem concretamente na anástase. 

Assim, os elementos novos da compreensão paulina da anástase já aparecem delineados no profeta Daniel: “Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente”. Paulo, porém, somará um componente existencial à compreensão de Daniel, dirá que a morte, o maior de todos os odiados pela espécie humana, será privada de força. 

Caso o ungido só sirva para esta vida, somos as pessoas mais dignas de lástima. Mas o ungido foi levantado dentre os mortos e foi o primeiro fruto dos que foram colocados para dormir. Porque se a morte chegou pela humanidade, também o ungido dará à luz nova vida. Como morre a espécie, no ungido ela recebe vida. E isso acontece numa ordem: o ungido é o primeiro fruto, depois os que pertencem ao ungido, quando ele aparecer. E veremos o limite, quando o ungido entregar o reino a Deus e Pai, e tornar inoperante o império, os poderes e os exércitos. Convém que seja rei até derrubar os odiados por terra. O último odiado a ser privado de força é a morte, porque o resto já foi colocado debaixo de seus pés”. 

É interessante que Paulo em seu texto sobre a anástase cita o dramaturgo, filósofo e poeta grego Menandro (342-291 a.C.), que num verso disse: “as más companhias corrompem os bons costumes”. E voltando ao Misantropo: “insisto que, enquanto você é dono deles, você deve usá-los como um homem de bem, ajudando os outros, fazendo felizes tantas pessoas quantas você puder! Isto é que não morre, e se um dia você for golpeado pela má sorte você receberá de volta o mesmo que tiver dado. Um amigo certo é muito melhor que riquezas incertas, que você mantém enterradas”. Tudo indica que Paulo gostava de teatro e de comédias. 

Que Paulo recorreu à tradição profética fica claro quando cita o profeta Oséias literalmente: “eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte? Onde estão ó morte as tuas pragas? Onde está ó morte a tua destruição?”. Mas há uma correlação entre Platão e a tradição hebraico-judaica, que pode ser lida nesta carta de Paulo. Isto porque, como afirma Fuks, o leitor desconstrói, pois ler não é repetir o texto: é um modo de criação e de transformação. Por isso, digo que ler é um ato de anástase. E Paulo trabalhou de forma brilhante o termo, tanto nas suas leituras e estudos, como na reconstrução do próprio conceito. 

Que farão os que se batizam pelos mortos, se os mortos não são chamados de volta à vida? Por que se batizam então pelos mortos? Por que estamos a cada hora em perigo? Protesto contra a morte de cada dia. Eu me glorio por vocês, no ungido Iesous a quem pertencemos. Combati em Éfeso contra animais ferozes, mas o que significa isso, se os mortos não podem ressurgir? Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos. Mas não vamos nos enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”. 

Na sequência da tradição hebraico-judaica, ou como diz Fuks, “os antigos hebreus não estavam trabalhados, como nós, pela necessidade de abstração, de síntese e de precisão na análise conceitual do real, herança dos gregos”, Paulo está preocupado com o corpo, com a vida. 

Mas alguém pode perguntar: como os mortos são trazidos à vida? E com que corpo? Estúpido! O que se semeia não tem vida, está morto. E, quando se semeia, não é semeado o corpo que há de nascer, mas o grão, como de trigo ou qualquer outra semente. Deus dá o corpo como quiser, e a cada semente o corpo que deve ter. Nem toda a carne é uma mesma carne, há carne humana, de animais terrestres, de peixes, de aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, uma é a dignidade dos celestes e outra a dos terrestres. Diferente é o esplendor do sol do esplendor da lua e das estrelas. Porque uma estrela difere em brilho de outra estrela. Assim também o ser levantado dentre os mortos. Semeia-se o corpo perecível; levantará sem corrupção. Semeia-se na desgraça, será levantado em excelência. Semeia-se em debilidade, será erguido vigoroso. Semeia-se corpo controlado pela psiquê, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo controlado pela psiquê , também há corpo espiritual”. 

Para Paulo, anástase leva à uma teologia da vida que nasce do corpo. Mas, não é simplesmente ter de volta a vida do corpo material, tanto que em certo momento Paulus diz que “deveremos ser a imagem do homem do céu”. 

Assim também está escrito: o primeiro ser humano, terrestre, foi feito ser-que-deseja, o futuro humano será um espírito-cheio-de-vida. Mas o que não é espiritual vem primeiro, é o natural, depois vem o espiritual. O primeiro ser humano, da terra, é terreno; o segundo humano, a quem pertencemos, é celestial. Como é o da terra, assim são os terrestres. E como é o celeste, assim são os celestiais. E, como somos a imagem do terreno, assim seremos também a imagem do celestial”. 

Ícone da anástase
O pensamento grego, platônico, está presente na anástase paulina, já que a eternidade não é construída em cima da carne e do sangue. Vemos aqui a dualidade entre a realidade física e o mundo das formas. O dualismo metafísico de Paulo admite aqui duas substâncias que regem o ser humano, no mundo natural, a psiquê, e no mundo pós-anástase, o pneuma. E dois princípios, nesse sentido bem próximo a Platão, o bem e o mal. 

E agora digo que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a eternidade. Digo um mistério: nem todos vamos adormecer, mas seremos transformados. Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta, porque a trombeta soará, os mortos serão levantados incorruptíveis, e seremos transformados. Convém que o corrompido seja tornado eterno, e o que é mortal seja tornado imortal. E, quando o que é corruptível se vestir de eternidade, e o que é mortal for transformado em imortal, então será cumprida a palavra que está escrita: a morte foi conquistada definitivamente. Onde está, ó morte, a tua picada? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, a picada da morte é o desviar-se do caminho da honra e da justiça, e a força do erro é a lei. Mas a alegria que Deus dá é a vitória por Iesous, o ungido, a quem pertencemos. Sejam firmes e persistentes, abundantes no serviço daquele a quem pertencemos, conscientes de que o trabalho árduo e duro não é desprezado por aquele a quem pertencemos”. 

Caso voltemos à análise do conceito anástase no capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, tomando como ponto de partida o desafio de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”, vemos que Paulo traduziu para as novas gerações o desejo judaico-helênico, humano, da anástase: “Pede-se ser levantado”. 

Referências
[1] Menandro, O Misantropo. Site: Oficina de teatro. WEB: www.oficinadeteatro.com 
[2] Betty Fuks, Freud e a Judeidade, a vocação do exílio, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000, pp. 127-133. 
[3] Platão, Fédon, Coleção Os Pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1987. 
[4] Th.-G Chifflot e R. De Vaux, La Sainte Bible, Les Editions Du Cerf, Paris, 1973. Tradução: A Bíblia de Jerusalém, Ed. Paulinas, São Paulo, 1985, p. 1347.

Fonte
Jorge Pinheiro, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012.