dimanche 20 août 2023

Uma carta do apóstolo aos gentios

1a. Coríntios, uma carta do apóstolo aos gentios
Pr. Jorge Pinheiro


À guisa de introdução


1. Esta é uma carta pastoral, que hoje nós estudamos como um dos fundamentos de nossa teologia pastoral. Mais do que apresentar “porquês”, mais do que responder questões teóricas da teologia cristã, Paulo nos mostra “como” agir pastoralmente. Mas aborda questões teológicas, como quando discorre sobre a unidade cristã, os dons e a ressurreição.

2. Esta é uma carta que nos ensina como fazer missão. O grande desafio da missão em todos os tempos é como relacionar a cultura onde estamos plantando uma igreja, a cultura da cidade, de um povo, de um país, com a contra-cultura cristã. Sempre vão existir pontos de aproximação, mas também distanciamentos que devem ser conhecidos e entendidos como inadimissíveis para nós cristãos e para nossas igrejas.

3. O cristianismo é uma contra-cultura. Desde Paulo, atravessando os séculos sempre foi assim. O que nós chamamos de “o mundo” é, em outras palavras a cultura daquele lugar onde estamos. E o cristianismo é uma contra-cultura porque tem por base o “viver segundo o Espírito”, que é diferente do viver segundo o mundo e segundo a carne.

4. Na época de Paulo, Corinto era a capital da província de Acaia. Era muito importante em termos comerciais, principalmente por seu porto. Tinha cerca de 300 mil habitantes, o que era muito para a época, dos quais 3/4 eram escravos. Sua cultura grega repousava sobre o pensamentos dos filósofos clássicos, em especial sobre o epicurismo, uma forma de existencialismo, que favorecia a libertadade sexual, a homossexualidade e a pedofilia, aceitos culturalmente e presentes socialmente. O templo de Afrodite tinha cerca de mil prostitutas cultuais, que serviam sexualmente os homens que se dirigiam ao templo e profetizavam sobre o futuro deles. Entre aspas, “curas, milagres e línguas” estavam presentes nas religiões de mistério, sincretismo das religiões de origem oriental, cultos persas, frígios, babilônicos, egípcios, e nos cultos mediterrâneos, etruscos e gregos. Os mais conhecidos foram os cultos de Elêusis, o orfismo, o pitagorismo, o culto a Ísis, o culto a Mitra e os movimentos gnósticos. 

Algumas questões de teologia 
pastoral tratadas por Paulo nesta carta

1. A primeira questão de teologia pastoral colocado por Paulo é que a unidade cristã (ver Anexo 1) está fundada em Cristo. Essa questão ele apresenta nos capítulos de 1 a 4. Paulo exorta a não se dividir sobre mestres espirituais, sejam eles Apolo, Pedro ou Paulo, porque a igreja tem um só Senhor, Cristo (cf. cap. 1.10-16). E não é a filosofia grega, nem a inteligência que deve unir os cristãos de Corinto, mas a fé no Cristo crucificado (cf. cap. 1.17-31).

Assim, Paulo lembra que não fez um discurso filosófico para anunciar o evangelho a eles, mas que foi inspirado pelo Espírito Santo (cf. 2.1-5). E esta sabedoria de Deus, ensinada pelo Espírito, só pode ser compreendida pelo cristão espiritual (cf. 2.6-16).

Paulo os desafia novamente em suas divisões (cf. 3.1-4). Sendo Cristo o único alicerce, não importa quem nele edifica o templo de Deus a que são chamados (cf. 3.5-17). Ele então os adverte contra a sabedoria deste mundo (cf. 3.18-23).

Os mestres espirituais dos cristãos de Corinto são apenas servos de Cristo (cf. 4.1-5), por isso não devem se orgulhar de pertencer a um ou a outro, principalmente porque, embora apóstolos, devem ser considerados os últimos dos homens (cf. 4.6-13).

2. A cultura sexual de Corinto tinha entrado na igreja (cf. 5-6). Um exemplo da presença da cultura grega na igreja de Corinto, foi o fato de um homem ter se casado com sua madrasta. O texto não fala se o primeiro marido já tinha morrido ou não, mas a partir da lei dada a Moisés, conforme Levítico 18, Deus disse: “6 Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne para descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor. 7 Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe; não descobrirás a sua nudez. 8 Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai.” Assim, Paulo considera que aquele cristão cometeu uma abominação, e sobre isso Deus tinha dito: “29 Porém qualquer que fizer alguma dessas abominações, as almas que as fizerem serão extirpadas do seu povo.” E Paulo pede que exclusão daquele homem (cf. capítulo 5).

Outro problema na igreja de Corinto, era que irmãos estavam levando irmãos aos tribunais da cidade. Paulo exorta à fraternidade, ao perdão, e pede que, se o conflito permanecer, tenham sua disputa arbitrada pelos santos na congregação (cf. 6.1-11).

3. Os cristãos e a sexualidade. A questão anterior, da abominação cometida por um irmão, leva Paulo a falar sobre a vida conjugal dos cristãos. Realça os benefícios do casamento e, de forma prática, pastoral e não teológica, relaciona casamento e sexualidade (cf. 7.1-16). Mas chama os cristãos a assumirem o seu estado de vida (cf. 7.17-28), sem perder de vista que a vida eterna tornará o estado atual secundário (cf. 7.29-33). E destaca a virgindade como estado que agrada a Deus (cf. 7.34-40).

4. Cuidado para não cair, ou seja, a não se submeterem aos aspectos negativos da cultura de Corinto. Assim, convida os cristãos a não capitularem às pressões culturais e sociais daquela sociedade (cf. 10.1-10). E devem ter em conta que Deus não permite que as tentações estejam além de nossas forças (cf. 10.11-14).

5. A comunhão que existe entre os cristãos (cf 10.15-18) implica em reconhecer que a liberdade dos cristãos está ao serviço da edificação do nosso próximo, para a glória de Deus (cf. 10.23-33).

6. Devemos participar dos cultos de forma digna. O véu para as mulheres era uma forma de se diferenciar as prostitutas cultuais, que não cobriam a cabeça e raspavam os cabelos. E também para cobrir os cabelos, que traduziam naquela cultura a sensualidade (cf. 11.1-16). E recorda a necessária dignidade dos cristãos que participam na Ceia do Senhor (cf. 11.17-34).

7. Para ilustrar a diversidade de dons espirituais, recebidos para o bem comum (cf. 12.1-7), Paulo toma o exemplo do corpo humano, que é composto por diferentes membros, mas conduzido por uma vontade (cf. 12.8-31).

O Espírito Santo e seus dons, 
uma leitura neotestamentária

8. As virtudes teologais. Os dons mais brilhantes não têm valor sem o amor (cf. 13.1-3) que Paulo então destaca citando um louvor da época (13.4-7). E afirma é eterno (cf. 13.8-13). 

9. Na continuação (cf. cap. 14), discute o dom de profecia e o falar em línguas. Ele recomenda particularmente, depois das palavras em línguas, que as palavras ditas sejam interpretadas. E no versículo 34 pede às mulheres que não falem nos cultos, em oposição à presença marcante das profetisas, prostitutas cultuais, que ocupavam lugar de destaque no templo de Afrodite.

10. Os cristãos de Corinto, seguindo a tradição helênica, tinham dificuldade em compreender a ressurreição de Cristo. Paulo mostra que esta verdade constitui o fundamento da fé cristã (cf. 15.1-19). A ressurreição de Cristo nos diz respeito e nossa vida terrena deve ser colocada em perspectiva da vida eterna (cf. 15.20-34). Paulo então explica a natureza do corpo espiritual que será ressuscitado (cf. 15.35-50) e as modalidades da ressurreição (cf. 15.51-58).

Montpellier, 20 de agosto de 2023.