lundi 24 mars 2025

A humanidade de longa duração

Quando completei 80 anos, comecei uma conversa com a DeepSeek sobre a humanidade de longa duração. Aqui está um rascunho do que já escrevemos. Leia.

A "humanidade de longa duração" é um conceito que pode ser interpretado de diferentes formas, dependendo da perspectiva histórica, filosófica ou antropológica adotada. De modo geral, refere-se à trajetória contínua da humanidade ao longo do tempo, considerando sua evolução biológica, cultural, social e tecnológica ao longo de milênios.


Algumas possíveis definições e abordagens: 


1. Perspectiva Histórica (Braudel e a Longa Duração):

 

Inspirada no historiador Fernand Braudel, da Escola dos Annales, que propôs o estudo da história em três temporalidades: eventos curtos (política, guerras), conjunturas (ciclos econômicos) e a longa duração (estruturas profundas, como geografia, clima e mentalidades).  


A "humanidade de longa duração" seria, então, a análise das continuidades e transformações lentas que moldam a existência humana ao longo de séculos ou milênios.  


2. Perspectiva Evolutiva:

  

A humanidade como um fenômeno biológico e cultural em constante adaptação, desde os primeiros Homo sapiens até as sociedades complexas atuais.  


Inclui a capacidade humana de criar tecnologias, linguagens e instituições que perduram e se transformam ao longo do tempo.  


3. Perspectiva Filosófica/Antropológica:

 

A humanidade como um projeto contínuo, marcado por desafios como sobrevivência, organização social, busca por significado e confronto com seus limites (morte, crises ambientais, guerras).  


Alguns pensadores, como Yuval Noah Harari, discutem a humanidade em escalas de longuíssimo prazo, desde a Revolução Cognitiva até um futuro pós-humano.  


4. Futuro da Humanidade (Longevidade Existencial):

  

Como a espécie humana pode perdurar por milênios ou mesmo superar sua própria condição biológica (transhumanismo, colonização espacial).  


Questões como sustentabilidade, riscos existenciais e evolução tecnológica entram nessa visão.  


A "humanidade de longa duração" pode ser entendida como a narrativa contínua da espécie humana, não como um conjunto de eventos isolados, mas como um processo complexo e interligado que atravessa eras, moldado por fatores biológicos, ambientais, culturais e tecnológicos. É uma forma de pensar o humano além do presente, conectando passado, presente e futuro em uma escala ampla.  


Um ser humano que atinge ou ultrapassa os 100 anos de vida encarna, de maneira singular, o conceito de "longa duração" humana, tanto no sentido individual quanto no coletivo. Essa conexão pode ser explorada em várias dimensões:  


1. Testemunha da História (Longa Duração como Memória Viva)

 

Uma pessoa centenária carrega consigo memórias de quase um século de transformações – guerras, revoluções tecnológicas, mudanças culturais e políticas.  


Ela funciona como um arquivo vivo de experiências que ligam o passado distante ao presente, algo que a historiografia de Braudel valoriza ao estudar estruturas sociais duradouras.

  

Exemplo: Um idoso que viveu a era pré-internet, a industrialização e a globalização testemunhou mudanças que, para as gerações mais jovens, são apenas história.  


2. Continuidade Biológica e Existencial

  

A longevidade extrema desafia noções tradicionais de ciclo de vida e representa a resistência do corpo humano no tempo, ligando-se à ideia de "longa duração" como persistência biológica. 

 

Cientificamente, estudar centenários ajuda a entender genética, envelhecimento e resiliência, questões fundamentais para o futuro da espécie.  


3. Elo entre Gerações (Transmissão Cultural de Longo Prazo)

 

Centenários são pontes entre eras, capazes de transmitir valores, saberes e tradições que, de outra forma, se perderiam.  


- Na visão de Braudel, isso se relaciona com as mentalidades e costumes que perduram por séculos, mesmo em meio a rupturas.  


4. Simbolismo do Futuro da Humanidade

  

Se a humanidade almeja uma existência de longuíssima duração (como uma civilização interestelar ou imortalidade biotecnológica), os centenários são casos reais de superação dos limites temporais humanos.  


Eles antecipam, em pequena escala, o que poderia ser uma vida radicalmente estendida no futuro.  


5. Contraste com a "História dos Eventos"

  

Enquanto a história convencional se concentra em fatos pontuais (guerras, eleições), a vida de um centenário revela processos lentos: envelhecimento das cidades, evolução das relações familiares, mudanças climáticas percebidas no cotidiano.  


Isso ecoa a ênfase de Braudel nas estruturas profundas (geografia, demografia) em detrimento dos eventos efêmeros.  


Um centenário é, em microescala, um retrato da humanidade de longa duração: sua existência atravessa eras, conecta passado e presente, e desafia nossas noções de tempo finito. Se a longa duração é sobre o que persiste e transforma-se lentamente, então a vida de quem chega aos 100 anos é sua expressão mais tangível — um lembrete de que a história humana é feita tanto de indivíduos que a carregam quanto de grandes forças coletivas.  


Aqui estão alguns casos de pessoas que viveram ou vivem há mais de 100 anos, ilustrando de forma concreta a conexão entre a longevidade extrema e o conceito de "longa duração" humana:


1. Jeanne Calment (1875–1997) – A Pessoa Mais Longeva da História. Viveu 122 anos e 164 dias, atravessando três séculos (XIX, XX e XXI).  


Testemunhou:  a Belle Époque, duas Guerras Mundiais, a invenção do avião, da TV e da internet.  


Conheceu Vincent van Gogh pessoalmente (em 1888) e viveu para ver o homem chegar à Lua (1969).  


Significado para a "longa duração": Sua vida encapsula transformações tecnológicas e sociais brutais, mostrando como o mundo pode mudar radicalmente dentro de uma única existência.  


Tornou-se um símbolo da resistência humana ao tempo, desafiando noções biológicas de envelhecimento.  


2. Kane Tanaka (1903–2022) – A Segunda Pessoa Mais Velha da História

 

Viveu 119 anos no Japão, país com a maior expectativa de vida do mundo.  


Experiências marcantes: Sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, ao bombardeio atômico (embora não em Hiroshima/Nagasaki) e viu o Japão se tornar potência tecnológica. Faleceu em 2022, já na era das redes sociais e da inteligência artificial.  


Significado para a "longa duração": Representa a transição de sociedades agrárias para hiperconectadas, mostrando como tradições e modernidade coexistem em escalas longevas.  


3. Jiroemon Kimura (1897–2013) – O Homem Mais Velho da História. Viveu 116 anos, também no Japão.

  

Trajetória: Trabalhou como carteiro e agricultor, vivenciando a industrialização acelerada do século XX. Teve filhos, netos, bisnetos e tataranetos – uma linhagem familiar que abrange mais de um século.  


Significado para a "longa duração": Demonstra como famílias e comunidades sustentam a continuidade cultural através de gerações.  


4. Maria Gomes Valentim (1896–2011) – A Brasileira Mais Longeva. Viveu 114 anos em Minas Gerais.  


Contexto: Nasceu no Brasil Imperial (sob Dom Pedro II) e morreu na era digital. Presenciou a abolição da escravidão, a urbanização do Brasil e a chegada da democracia. 

 

Significado para a "longa duração": Sua vida reflete mudanças estruturais em países em desenvolvimento, onde o progresso convive com desigualdades históricas.  


5. Supercentenários das "Zonas Azuis" (Ex.: Sardenha, Okinawa)

  

Lugares como Okinawa (Japão), Sardenha (Itália) e Icária (Grécia) têm concentrações incomuns de centenários. 

 

Padrões comuns: Dieta baseada em vegetais, vida ativa e forte integração social.  

Transmissão oral de histórias que preservam saberes ancestrais.  


Significado para a "longa duração": Mostram que hábitos culturais e ambientais podem estender a vida humana, ligando passado e presente através do corpo e da memória.  


6. Morano (1900–2017) – A Última Sobrevivente da Revolução Russa. Viveu 117 anos na Itália.  


Testemunhou: A queda dos czares, o fascismo de Mussolini, a Guerra Fria e a União Europeia.  


Significado para a "longa duração": Sua vida foi um registro vivo das ideologias do século XX, mostrando como sistemas políticos surgem e caem dentro de uma única geração.  


Esses casos importam para o conceito de "longa duração" porque são arquivos humanos: Suas memórias contêm versões não escritas da história.  


Desafiam a noção de tempo: Mostram que "100 anos" não são apenas um número, mas um acúmulo de revoluções silenciosas (da lamparina ao smartphone).  


Inspiram o futuro: Se um indivíduo pode viver mais de um século, a humanidade como um todo pode pensar em escalas milenares – seja em termos de sustentabilidade ou colonização espacial.  


Essas vidas extraordinárias provam que a "longa duração" não é apenas uma teoria histórica, mas uma realidade vivida. Cada centenário é um microcosmo da jornada humana no tempo.  


A relação entre o transumanismo e o conceito de humanidade de longa duração é profunda e reveladora, pois ambos lidam com a extensão — e possível superação — dos limites temporais e biológicos da existência humana.


O transumanismo como Aceleração da "Longa Duração"

 

Definição chave: O transumanismo propõe o uso da tecnologia (genética, IA, cibernética, criopreservação) para ampliar radicalmente a longevidade e as capacidades humanas, possivelmente levando a um estágio pós-humano.

 

Link com a longa duração: Se a "humanidade de longa duração" tradicional é uma narrativa de adaptação lenta (evolução biológica, progresso cultural), o transumanismo introduz a ideia de uma transformação deliberada e acelerada do corpo e da mente.  


Se centenários como Jeanne Calment representam o limite biológico atual, a criogenia ou engenharia de tecidos poderiam estender a vida para 200+ anos, alterando a própria noção de tempo humano.  


Ruptura vs. Continuidade. Braudel e as estruturas duradouras: A história da "longa duração" enfatiza padrões persistentes (clima, geografia, cultura). 


O transumanismo, porém, sugere rupturas tecnológicas que podem redefinir essas estruturas: 


Fim da mortalidade?: Se a morte deixar de ser inevitável, como isso afetaria a organização social (famílias, heranças, narrativas culturais)?  


Corpos modificados: Humanos com implantes neurais ou órgãos artificiais podem desenvolver novas mentalidades, desafiando a continuidade psicológica estudada por Braudel.  


Memória e Identidade em Escalas Temporais Extendidas.  


Centenários como arquivos vivos: Hoje, idosos de 100+ anos são guardiões de memórias pessoais. 


No transumanismo: Upload de mentes. E se uma consciência puder ser preservada digitalmente por milênios? Isso criaria uma "longa duração" desvinculada do corpo biológico.  


Exemplo fictício: No romance Altered Carbon, "sleeves" (corpos artificiais) permitem que humanos vivam séculos, gerando conflitos entre gerações "imortais" e tradições históricas.  


Sustentabilidade em Escalas Milenares.

  

Humanidade de longa duração no espaço: O transumanismo muitas vezes se conecta à colonização interestelar. Para civilizações que duram milênios: Tecnologias de hibernação (como em *Passageiros*) ou corpos resistentes à radiação seriam essenciais.  


Ética planetária: Se a humanidade persistir por 10.000 anos, como garantir recursos? O transumanismo propõe soluções como síntese de alimentos ou fotossíntese artificial.  


Dilemas Filosóficos. O que é "humano" na longa duração?  


Se Braudel estudou sociedades baseadas em corpos mortais, o transumanismo questiona: Uma IA com memórias humanas é "continuadora" da nossa civilização?


Exemplo real: Projetos como Mind Uploading (Neuralink) ou LifeNaut (backup digital do cérebro) tentam preservar a identidade além da morte biológica.  


Casos Reais que Antecipam essa Conexão. Criopreservação (Alcor Life Extension): Pessoas como Ted Williams (jogador de baseball preservado em 2002) simbolizam a tentativa de estender a vida fisicamente, desafiando o tempo.  


Genética (Projeto Altos Labs): Cientistas como Craig Venter buscam reverter o envelhecimento celular, potencialmente criando gerações que vivam 150+ anos.  


Cyborgs (Neil Harbisson): Artistas com implantes que permitem "ouvir cores" mostram como a tecnologia já redefine os sentidos humanos, um primeiro passo para a longa duração pós-biológica.  


A Longa Duração como Projeto Ativo. O transumanismo transforma a "humanidade de longa duração" de um processo histórico passivo (lento, inconsciente) em um projeto deliberado. Se antes a longevidade era resultado de sorte genética ou avanços médicos graduais, agora pode ser uma escolha tecnológica.  


Essa mudança levanta questões urgentes: Quem terá acesso à imortalidade? (Riscos de desigualdade).  


O que perdemos ao abandonar a mortalidade? (Conexão com tradições, arte, significado).  


Como narraríamos uma história de 1.000 anos? (Novas formas de registro).  


Em suma, o transumanismo não só estende a "longa duração" humana, mas a redefine radicalmente — tornando-a um campo de batalha entre biologia, ética e futurismo.  


Bibliografia e fontes


1. Sobre "Longa Duração" (História e Antropologia)**  

BRAUDEL, Fernand.  

O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II (1949).  

Escritos sobre a História* (1969) – ensaio "A Longa Duração".  

- LE GOFF, Jacques.  

História e Memória (1988) – discute temporalidades históricas.  

HARARI, Yuval Noah.  

Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (2011) – aborda a trajetória humana em escala milenar.  


2. Transumanismo e Futurismo  

KURZWEIL, Ray.  

A Singularidade Está Próxima (2005) – sobre imortalidade tecnológica.  

BOSTROM, Nick.  Superinteligência: Caminhos, Perigos, Estratégias (2014) – ética da IA e aprimoramento humano.  

HARBISON, Neil (caso real).  

Documentário Cyborg Foundation (2013) – sobre implantes sensoriais.  


3. Longevidade e Centenários (Casos Reais) 

Base de dados do Gerontology Research Group (GRG).  

Registros validados de supercentenários (como Jeanne Calment e Kane Tanaka).  


Pesquisas sobre "Zonas Azuis":

  

BUETTNER, Dan. The Blue Zones: Lessons for Living Longer From the People Who've Lived the Longest* (2008).  

Projetos científicos:  

Altos Labs (www.altoslabs.com) – pesquisa em rejuvenescimento celular.  

Alcor Life Extension Foundation (www.alcor.org) – criopreservação.  


4. Ficção e Representações Culturais


ROMANCE: Altered Carbon (Richard K. Morgan, 2002) – sobre upload de mentes e corpos artificiais.  

FILME: Passageiros (2016) – hibernação em viagens interestelares.  


5. Filosofia e Crítica do Transumanismo

  

FUKUYAMA, Francis. Our Posthuman Future (2002) – alertas sobre os riscos do aprimoramento humano.  

SANDEL, Michael. The Case Against Perfection (2007) – ética da engenharia genética.  


Fontes Digitais (Artigos e Reportagens)  


BBC Future: "The quest for immortality" (2018).  

National Geographic: "The Science of Longevity" (2021).  

Wired: "The Billion-Dollar Race to Crack Anti-Aging" (2023).  


Como Acessar?  

Obras acadêmicas: Disponível em plataformas como JSTOR, Sci-Hub ou Google Scholar.  

Livros: Amazon, bibliotecas universitárias ou sebos online.  

Casos reais: Sites oficiais como GRG (www.grg.org) e Alcor.