mercredi 29 mars 2023

Cotidiano & Sacanagens, Alex Pinetree


Cotidiano & Sacanagens
De autoria de Alex Pinetree



Prefácio



A LOUCURA FRAGMENTADA 

Por Silvio Fernando Rodrigues


Livros de memórias costumam ser chatos. Por mais empenho do pesquisador e tragédias que haja na vida do biografado, lá pelas tantas (em geral isso ocorre entre as páginas 180 e 200), o leitor é tentado a se perguntar por que o artista/cientista/político/serial killer de sua predileção não deu ouvidos à máxima de Pascal e passou mais tempo quietinho em seu quarto ao invés de explorar os requintes do próprio umbigo.

A cartilha comum às biografias História familiar – Nascimento – Juventude – Maturidade e Velhice, são, segundo alguns editores, os inimigos naturais na manutenção do interesse do público leitor deste segmento. Afinal, se o biografado não é um assassino em série, qual o interesse em se detalhar ano por ano, os ingredientes de seu bolo de aniversário ou suas notas escolares? (Em Cotidiano & Sacanagens, há militares e pessoas com talento para tal, mas aí, já estamos forçando a barra...)

Talvez por serem cineastas, Renoir, Eisenstein e Buñuel escaparam dessa armadilha embaralhando a ordem dos fatos em seus relatos. O autor de Cotidiano & sacanagens não é cineasta, mas além da escrita cinematográfica, possui em comum com o trio o gosto pelas lembranças fragmentadas. Pois a memória da gente é assim mesmo: trai, atrai, distrai. Seduz. É afetiva & olfativa. De maneira fragmentária e acronológica é assim que os personagens (?) de Alex nos contaminam com a sua graça sofrida. Como na vida, eles vêm e vão, sem aviso ou despedida, para ressurgir páginas depois, lampeiros, pedindo uma grana emprestada ou socorrendo o autor em alguma fria. E quando se vão definitivamente - caso de Nê, esposa de Alex, e do gato Ozzy – continuam a povoar causos e lembranças. 

Jogadas de só uma vez no liquidificador, na velocidade que permitem os microcontos, elas revelam algo maior do que a figura humana que escreveu estas páginas, revelam um Brasil que foi crescendo e se formando, muitas vezes aos trancos e barrancos, juntamente com o autor. 

O Brasil da tortura frequente e velada (“Quando me envolvi com ela”), do autoritarismo (“Presos”, “Corporativismo”), da boêmia (“As bailarinas do Bolshoi”) das areias e mulheres escaldantes (“A louca do Leme”), da solidão (“Madrugada & Fantasmas”) para chegar até nossos dias com a Marcha com Deus, onde dois rappers decidem convidar O Próprio para seu evento, expondo ao ridículo nossas classes dirigentes.

Homem de muitas facetas, nem sempre convergentes, antes de esguichar suas memórias no papel, Alex Pinheiro foi jornalista, publicitário, soldado, office-boy, poeta, compositor, cantor de boate e fundador de uma empresa de dedetização ecológica(!!!). Talvez por isso seja de arrepiar o elenco (tirado da própria vida) que Alex “fechou” para seu livro de estreia: malandros, hippies, soldados, prostitutas, artistas, crentes, bailarinas russas e até um hermafrodita, protagonista de um dos contos mais tristes do livro.

Dizem que Céline não gostava de judeus. Henry Miller não gostava de música popular. Bukowski só gostava de bebida. Alex gosta de tudo isso e mais. Gosta de praia. De mulheres, cigarros e Jack Daniels. Sabe ouvir uma boa história. Sabe condensá-la num espaço de poucas linhas dando o ponto final em nossa cabeça. Fechamos o livro e perguntamos o que terá acontecido com Josephine. Continuamos com pena de Nina. Como esquecer tipos como o tenente Joransen, a festa louca e frustrada dos últimos dias de Pompéia ou a feijoada assassina que tornou Tia Aliz viúva? 

Imagine o que te espera nas próximas páginas. 

Silvio Fernando Rodrigues é psicólogo e roteirista. 



"Ivie - Meu primeiro par de chifres"

Eu conheci essa Ivie lá no Flamengo. Ela pertencia à uma família de fazendeiros de cacau lá de Ilhéus, na Bahia. Na realidade, ela era filha de "criação", deles. Eram pessoas de muito poder financeiro. Tinha um escritor muito famoso, que frequentava a casa dela. - A irmã dela era uma pianista muito famosa também, conhecida no mundo todo.- Eles moravam num triplex, na Praia do Flamengo. A mãe biológica dela, era uma pessoa humilde, da classe social, digamos, pobre. A mãe alugava uns quartos lá na Bento Lisboa, e foi lá que eu a conheci.- Eu aluguei um quarto lá. - Na verdade, eu só ia lá, "pra descansar o cadáver", por que naqueles anos loucos, eu pouco dormia. - Descansava um pouco, tomava um banho e vazava pra night de novo. Sempre que eu aparecia lá, ela estava por perto...(Acho que já havia me escalado como "vítima"). Bem, vamos resumir, começamos a sair. Eu gostava de fazer os meus "programas de duro", gostava de pegar a barca pra Niterói, ficar no convés sentindo o vento... Vendo as ondas... Sentindo aquela maravilha dos pingos d'água no rosto - (Eu era um romântico inveterado) - Mas, voltando a Ivie. Ela frequentava o high society do Rio. Começou a me levar nessas paradas. Eu acho que era um tipo pitoresco, pra eles. Eu tocava violão, eu cantava e declamava os meus poemas. Num final de ano, resolvemos passar o réveillon juntos. Foi muito bom, pena que aquela menina me travava. Eu só conseguia ficar nos beijinhos com ela. Com as outras meninas, eu me soltava, mas com ela eu "travava". - Uma noite, íamos sair, e ela disse: - Eu vou levar um amigo com a gente. (??????). - Nesse tempo eu já estava apaixonado por ela. - (Eu tenho uma merda, de mania de me apaixonar, "facim, facim, facim"). - Nos sentamos a beirar mar, nós três, e fumamos uma baganinha. Ela estava sentada no meio de nós... (Quando me toquei, ela estava de mãos dadas com o cara e comigo). Eu pirei, mas fingi que não vi nada. - Resolvi ir pra Sampa, no outro dia, e não voltar a vê-la nunca mais. - Foi o que eu fiz.- Passou quase um mês, eu nunca mais dei notícias. - Um dia toca o telefone no bar do seo Fernando, nós não tínhamos telefone. Era ela. Ela me disse que estava vindo pra Sampa com a irmã, que iria fazer um concerto aqui, e queria assistir uma peça de teatro comigo...Elas estariam hospedadas no Hotel Danúbio, na Brigadeiro Luiz Antonio. - Contei pra minha mãe, do encontro e ela resolveu me dar um "banho de loja".- Me levou na loja "Garbo", comprou-me um blazer de gabardine verde musgo, uma calça de gabardine creme, um par de sapatos tipo inglês, (cara!! eu estava bonito pra caralho). - Não feliz ainda, minha mãe, colocou uma grana no meu bolso. - Imagina!! O filho dela passar vergonha...- Cheguei no hotel, e ela me disse: Vamos assistir "Jesus Cristo Super Star". O teatro era no Bexiga. (mas com muito jeitinho ela disse - eu trouxe um amigo do Rio comigo). - Meu, eu desbundei e senti que a merda seria grande...Antes de entrar no teatro, eu tomei três "Fogo Paulista" e uma cerveja. Eu já estava decidido a fazer uma merda razoável. - Não deu outra, lá pelas tantas, eu vi a putinha de mãos dadas com o cara rs. - Meu, eu parei a peça, fiz um escândalo do caralho, vomitei neles... Peguei um táxi e "sartei de banda".- Moral da história... Ivie nunca mais... - Um mês depois a irmã dela me liga e diz: Cara, a Ivie tentou se matar (???) Tomou 50 comprimidos de "Optalidon", teve que ir pro hospital...Eu pensei comigo... "Eita putinha difícil de morrer"... A pianista acrescentou: Meu pai mandou dizer que se você se casar com ela, ele vai dar pra vocês uma fazenda em Ilhéus e um apartamento no Rio. - Eu pensei com os meus culhões... O "apê" até que seria legal, mas eu não entendo nada de cacau... - Disse as célebres palavras... "VÃO TOMAR NO CU, SEUS FILHOS DA PUTA!!!!! - E deixei de ser um grande corno fazendeiro de cacau. - Foi isso.

"Criaturas da noite"

Era sexta feira 13, tudo bem, não fazia "fá nem fú", eu tava cagando pra isso. Eu havia feito um show naquela boate, aquela lá da Lapa, havia descolado "100 dinheiros". Depois do show, e de receber, eu fumei um "beise" com o gerente, e fiquei esperando a stripper, que eu dava uns catos, na época. - Enquanto ela tirava aquela maquiagem pesada, a gente proseava, (eu gulosamente olhava pra bunda dela). - Certo momento ela disse: - Eu tenho uns "trecos" aqui, quer provar? - Que que cê tem aí? - Tenho "Romilar", tenho cristal de anfetamina (sal), e tenho coca...- Porra meu, você tem droga pra matar um batalhão... - Me dá um Romilar, pra começar. - (Romilar era um xarope pra tosse, a base de ópio, que se você tomasse um vidrinho, "trincava"). - Esse xarope tinha um problema grave, ou dava caganeira, ou deixava meio cego. - Eu tomei o Romilar, bebi um copo de cerveja com uma colherinha de café de sal de anfetamina, e dei dois tiros naquela "farinha". - Meu querido Charlie Brown, eu fiquei realmente "maluco". Nós havíamos combinado que eu iria levá-la pro meu quarto, lá na minha mansarda, mas o programa "rodou". - Eu precisava andar, eu precisava caminhar, - meu coração dava trancos e pulos, dentro do peito. - Eu realmente, achei que iria bater a cassuleta... - Resolvi andar da Lapa até Copacabana, ou o Leblon, sei lá. - Eu calçava uns mocassins tipo dock side, macios. - Eu ia caminhar. - Deixei a mulher falando sozinha e vazei. - O meu objetivo era encontrar um pessoal hippie, que dormia na praia, e passar a noite com eles. - Tinha umas meninas carinhosas lá, que gostavam de phudder comigo, e que ficavam me fazendo cafuné. - Eu gostava muito delas. - (Eu notei que sempre que piscava, via um monte de estrelinhas douradas), era o efeito cegueira do xarope. - Eu já estava no Flamengo, próximo do Hotel Glória, e ia na minha marcha acelerada. - Botafogo... - Cheguei na entrada do túnel, ali perto do Canecão, me sentei um pouquinho, suava frio, e tinha as roupas úmidas de suor...- Meu amigo Charlie Brown, eu estava pra lá de Marrakesh. - Como diria aquela música, "louco, alucinado". - Meu amigo Charlie: - Eu só vi o carro parado do meu lado, e a voz que dizia: - Entre... - Eu caí pra dentro. - Lá dentro cheirava a perfume, o aroma era bom, afirmei a visão, era uma mulher, e tinha o motorista, um negão, ops, um afro descendente, que pilotava aquela nave. - A figura me "tacou" um beijo na boca, um beijo meloso, gosmento. - Senti um pouco de nojo, mas enfiei as mãos no meio das pernas dela, apenas pra confirmar se era mulher de verdade. - Achei a rachadura, era mulher. - O carro andava, e eu não fazia ideia pra onde ia. - Chegamos na casa dela, eu imaginava ser o Leblon, ou o Jardim Botânico. - Na minha loucura, (meio cegueira), notei que era uma casa em estilo clássico, móveis ingleses, muita prataria & porcelanas finas. - Aquele ser da noite disse: - Vamos tomar banho de mar (???) - Pegou uma sunga e disse: - Veste. Eu tirei a minha roupa, coloquei a sunga, (eu não usava cueca, nunca gostei). - Fomos pra praia, o motorista sempre atrás de nós. - Eu fiquei com um pouco de cagaço, mas segui com eles. - Tomamos banho de mar, sempre com a vigília do motorista. - Na areia, ela se colocou de cócoras, e me fez um boquete. - E depois ordenou: - Enfia essa merda pra dentro. - Eu obedientemente enfiei o meu desbravador de xotas nela. - E phuddia automaticamente, pra frente, pra trás, pra frente, pra trás. - Queria acabar de vez com aquilo, tinha que ser obediente, minhas roupas estavam na casa dela...- Ela tremeu, estrebuchou e gozou... - Voltamos a casa, me vesti, (ela não apareceu mais), e saí dali rapidinho. - acordei com o sol batendo no meu rosto, eu estava em Copacabana, a praia já estava cheia de gente. - Fui tomar uma coca na barraca, enfiei a mão no bolso pra pagar, e tinha 500 dinheiros ali. - Paguei o refrigerante e fui pra casa dormir. - Eu precisava sair daquela vida - era muita loucura para um rapazote só. - Foi isso, meu encontro com os seres da noite, as entidades. - Fui.

"As bailarinas do Bolshoi"

Bom & amigo Jack Daniels, eu havia descolado U$ 1975 dólares americanos, era dinheiro de responsa... - Tudo aconteceu da seguinte forma: - Eu levava aqueles marinheiros americanos, pra conhecer a noite do Rio, levava nas boates, nos puteiros, enfim, pra que eles se divertissem. - Eu sempre cobrei U$ 50 dólares por pessoa, levava uns cinco, eram U$ 250 dólares por noite. - Era uma boa grana. - Eu tinha os locais certos pra levá-los, porque eu descolava uma comissão dos comerciantes, (coisa de cicerone). - Véio: - Quando a chapa tem que esquentar é phodda. - Eu levei os "meninos" num puteiro famoso, chamado "Bucetinha de Ouro" lá na rua Alice, coisa cara, fina.. - Eu tinha um conhecimento com as meninas de lá...- Véio & bom Jack Daniels, as minas dali eram só modelos, estudantes da Puc, os gringos enlouqueceram... - (Eu não sei quem foi o filho da puta que ofereceu "Artane" praquele povo, mas eles ficaram muito, mais muito loucos mesmo). - "Artane" era, (ou é), uma droga hipnótica, era chamado de "LSD dos pobres". Muito, mas muito forte mesmo. - Meu amigo Charlie Brown: - Os gringos trincaram, e começaram a distribuir dólares a rodo...A putaidada estava adorando. - Eu estava super preocupado... De repente um dos gringos pega um "plaquê" de notas e enfia no bolso da minha camisa...- Eu sabia que aquilo ia dar merda.. (Quê que eu fiz???), vazei na brachiária. - Não esperei a bomba estourar...- Já em casa, fui pegar um cigarro no bolso, e estava aquele "plaquê" de dinheiro...- Contei a bagaça: - Exatamente, U$ 1975 dólares...- Velho & bom Johnnie Walker, a primeira coisa que eu fiz no outro dia, foi ir naquela casa de câmbio da Avenida Rio Branco, e trocar U$ 1000 dólares. - Já de mochila nas mãos, peguei a ponte aérea pra Sampa. - Fui pra casa da minha mãe, no Belenzinho, almocei, descansei, marquei presença, depois tomei um banho & saí. - Peguei um táxi e disse pro cara: - Toca pra rua Augusta, me deixa lá no "Frevinho"...- Véio & bom Charlie, o "Frevinho" fervilhava de mulheres, jovens, coroas, todo tipo de xanocas... - Já no descer do táxi, eu visualizei aquelas duas donas.. - Maluco... Eram bonitas pra cacete, brancas, altas, cinturinha fininha, enfim, delicias gringas...- Eu estava caçador, nesse dia. - Tinha dinheiro pra cacete, juventude, tesão à rodo, e queria comer "gente". - Eu já cheguei chegando, rindo, querendo conquistar...- Decepção...As minas falavam uma língua enrolada, eu não entendia xongas...- Mas como diz aquele ditado, quem tem boca vai a Roma...Elas só riam, se divertiam. Eu passei pra mímica, (a língua universal dos filhos de Babilônia). - Chamei pra dentro, as minas pediram vodka, eu pedi também. Pedi uma pizza brotinho. - As fulanas chamavam a atenção, de mini saias, aquelas coxas bonitas, só dava a gente, no Frevinho... - Querido & bom Jack Daniels, quando eu fui cortar a pizza, (a filha da puta de massa fina), ela saiu voando do meu prato e caiu no colo de um pessoal, do outro lado... - Senti uma vergonha do caralho, as gringas se mijavam de tanto rir... Eu amuei...- Num rompante de valentia, eu apontei o dedo pras duas e disse: - Menàge a trois ? - As figuras riram, se olharam e fizeram um sinal afirmativo. - Compramos duas garrafas de vodka Stolychinaia & vazamos pro hotel Rocha, lá na rua Avanhandava. - Véio, o meu russo não é nada extenso... Só sei falar dã e tovarich. - Fiquei preocupado de não aguentar o "rojão", mas metemos feito três loucos, as minas se revezavam & me destroçavam. No meio tempo, tomavam vodka no gargalo. - Véio, eu já estava entregando os pontos...Elas tinham um puta preparo físico, (de bailarinas). Resolvi abrir a garrafa derradeira, pra dar um nocaute nelas. - Deu certo, as minas apagaram... - Eu paguei o hotel & fui pra casa descansar... Havia tomado o legitimo chá de pomba... - (Quem mandou se achar???). - As minas do Bolshoi russo eram muito malucas. Fui.

"Minha namorada Alcyon"

Alcyon trabalhava de babá no prédio ao lado da minha casa, na rua Paissandu. - Era a mulata mais bonita que eu já havia visto, em toda a minha vida. - Mas, além disso, era meiga, sonhadora & carinhosa. - Ela tinha os olhos mais verdes que eu já tinha visto, naquela minha vidinha de merda. - Não é preciso dizer que eu me apaixonei por ela. - Aquela menina vinha das classes sociais inferiores, mas tinha gana & sonhos a realizar. - Queria se formar em História, fazer pós, mestrado e doutorado. - Adorava sambar, (acho que hoje ela colocaria aquelas "Globelezas", todas no chinelo). - Nós ficávamos conversando até altas horas da madrugada, eu ouvindo os sonhos dela. - Eu não tinha sonho nenhum... - Eu ensinei à ela alguns segredos, tipo, como se livrar daqueles perfumes baratos, que ela usava. - Como parar de alisar os cabelos, (ela precisava assumir a negritude dela). - Comprei perfumes franceses, levei-a num amigo cabeleireiro, lá em Copacabana, pra acertar um corte black, pra ela. - Compramos roupas decentes, para que ela pudesse acentuar aquela beleza toda. - Os patrões dela, eram professores universitários, liberais no conviver. - Eram gringos. - Nós formamos uma dupla muito legal, até que eu sumi, (eu sempre sumia). Ela era muito alta, também. - Tempo presente: - Eu havia passado a noite naquela boate, a Balalayka, lá em Copacabana, tomei um monte de Cuba Libres, vi as putas, conversei com os amigos. - Ao participar da vaquinha, pra acertar nossa conta, fiquei sem nenhum, nem o da passagem eu tinha. - Saí caminhando, fraco fisicamente, e já na fase depressiva do álcool. - Fui parar numa feira, (não sei se na Siqueira Campos, ou na Santa Clara). - Eu estava bem vestido, trajava uma calça Wrangler creme, uns sapatos mocassins italianos e uma camisa xadrez azul. - Resolvi (assim de estalo, roubar umas frutas na feira, pra ganhar “sustança" e conseguir voltar a pé pra casa). - Eu nunca havia feito isso, (roubar), mas meu corpo pedia algum tipo de alimento. - Meu amigo Giba, tinha me explicado várias vezes, como fazer. - Disse: - Você tem que ir caminhando rapidamente, e visualizar o alvo, ver se o feirante está distraído, atendendo alguém, pegar a fruta e seguir vazando. - (Aparentemente, não tinha mistério). - Eu entrei na vibe, prontinho pra atacar, visualizei a banca de bananas, e fui. - O cara estava atendendo uma mulata bonita, eu cheguei ao lado dela, catei duas bananas. - Ela sentiu o meu drama, empinou o corpo pra frente, "dando uma roupa". - Eu continuei normalmente, ela disse: - Ei, você... poderia me ajudar com as compras? - Eu parei, (já estava fora do flagrante). - Ela disse: - Me ajude a levar essas coisas até em casa? - Peguei as sacolas e fui com ela...(Reparei que ela era muito bonita, alta, mulata & tinhas os olhos mais verdes que eu já havia visto). - Caracas, eu acho que conheço essa dona... - Entramos no prédio, pela portaria social, subimos, deixei as compras lá e fui saindo. - Ela disse: - Quer tomar o café da manhã comigo? - (Eu estava numa ressaca tão grande, e tão fraco, que aceitei). - Tomamos café, tipo americano, com ovos, bacon, suco de laranja, aquelas merdas todas. - Ela me olhou fixamente e disse: - Você está tão magrinho, e agora virou ladrãozinho de feira (???) - Que que a sua mãe pensaria disso, a dona Mariazinha (???) - (Eu reconheci a Alcyon naquele momento). - Ela me abraçou & choramos juntos. - Ela me apertava, querendo me proteger de todos os males. - Mandou eu tomar um banho, nos deitamos & transamos. - Eu adormeci profundamente. Quando acordei, minhas roupas estavam lavadas e passadas. - Me contou da vida dela. Havia se formado, e estava trabalhando numa casa de shows, pra juntar uma grana. - Agora ela era mulata do Sargentelli, ganhava um bom dinheiro, as coisas haviam dado certo pra ela. - Perguntou da minha vida...(Minha vida continuava a merda de sempre). Eu não tinha nenhum sonho, ou nenhuma perspectiva. - "Tudo como dantes, no quartel do Abrantes". - Ela falou: - Vem morar comigo, eu sustento você...(Senti o meu rosto enrubescer, senti muita vergonha), disse que não. - Saí dali rapidinho. - Sumi dela mais uma vez. - Tempos depois, (alguns meses), eu estava ciceroneando uns marinheiros americanos, que queriam conhecer a noite carioca, e os levei a uma casa de samba, dessas pra turistas. - Não deu outra, encontrei ela lá. - Ela me viu, se achegou e ficamos conversando. - Ela me disse: - Eu estou indo pra Itália, vem comigo, eu pago a sua passagem e cuido de você. - Eu mais uma vez declinei do convite. - Soube depois, que ela se casou com um nobre italiano, e virou condessa. Soube também, que sempre que ela vinha ao Rio, me procurava. - Ela vinha sempre pra fotografar, para aquela Revista "Manchete". - Ela alcançou todos seus objetivos... - Eu continuei na minha vidinha de merda. - Foi isso. Ciao.




"Nina"

Eu estava sentado no meu point, na minha pedra preferida, lá no Arpoador. - Eu gostava de ver o por do sol, eu gostava dali. - Ela veio e se sentou. (aquele meu point já estava perdendo toda a privacidade). - Oi, ela disse. - Oi, respondi. - (eu conhecia ela de vista). - Tinha cruzado com ela em alguns lugares. - 'Tá lembrado de mim?. Ela perguntou... Eu disse que sim, (eu queria ficar em paz, que merda). - (Tem hora, em que eu gosto de ficar sozinho, no meu cantinho, - sem encheção de saco). - E aquela figura começou a papear, papear, parecia uma matraca. - Acabou o sossego, pensei...Mais uma filhinha de papai... - Reparei nela, de canto de olho, era bonita e bem vestida. - Vestido branco, com alças, pernas bonitas, bem torneadas. Corpo bem tratado, de menina rica. - Até aqui eu não estava entendendo "xongas de pitibiriba", o que essa figura estava procurando.. - Ela disse: - Perguntei pra fulana, como poderia encontrá-lo (???) - Eu disse: Você já me encontrou, o que você quer comigo? - Eu queria conversar um pouco com você, posso (???). - Pode... - Vamos tomar um refrigerante em outro lugar? - Vamos. (Meu sossego já tinha ido pras picas). Eu tô de carro ela disse, vamos até Copacabana, podemos conversar em algum bar por lá. - Eu havia recebido o meu salário, eu fazia pesquisas, num instituto de opinião, era pesquisador. - Ela me levou num bar desses hotéis de luxo de Copacabana. - Pensei com os meus botões: - Se forem duas Cocas eu tenho dinheiro pra pagar, se for coisa mais cara, phuddeu. - Eu tinha dinheiro pro aluguel, pra pagar a condução, e pra comer na semana seguinte. - Após estarmos instalados, ela disse de supetão: - Vamos passar o final de semana em Búzios, na minha casa (???). - Meu, eu nem tinha intimidade com ela, essa Nina era pinel.- Eu queria me livrar daquele "foguete". - Disse, Nina, a gente nem se conhece legal. Convida um amigo seu...- Nina abaixou a cabeça, chorou baixinho... - (Que merda)...Eu falei pra ela, Nina, eu não tenho dinheiro pra viajar, e eu não gosto de sair sem nenhum. - Já me deixaram na estrada, na merda, sem dinheiro, e eu tive que voltar de carona. - Tô fora. - A filha da puta pegou a carteira Chanel dela, abriu e contou vinte notas de cem dólares...- Disse: Se isso der maior segurança à você, pegue o dinheiro e vem comigo, se der tudo errado, você tem dinheiro pra voltar. - Meu, minha cara ficou vermelha feito um camarão. _ Eu perguntei, (carinha de anjo), Nina você está me comprando? - Eu não faço programa, meu bem. Eu trabalho, tudo bem que eu ganho uma merda, mas eu trabalho... - (dois mil dólares, eu preciso trabalhar uns 2/3 meses, pensei). - Nina arregalou os olhos e disse: Não! Eu não estou comprando você. - (Meu amigo judeu, seo Anton, sempre dizia: - Se alguém lhe oferecer dinheiro, pegue, dinheiro não aceita desaforo). - Eu disse, tudo bem Nina, eu vou com você. Catei a grana e coloquei no bolso. - Fomos até minha casa, no Catete, peguei umas roupas e vazamos pra Búzios. - No carro, já mais descontraído, eu perguntei, tem algo pra se beber ? - Nina pegou uma garrafa de Old Parr e eu tomei uns golinhos. - A casa de praia dela, era muito bonita, mesmo a noite, dava pra se notar. - Eu me troquei, coloquei uma bermuda, ela colocou uma sainha branca, mini e camiseta de algodão. - Nós jantamos, (eu fiz um penne ao alio & ólio, bebemos um vinho do pai dela, um borgonha da hora. - Fiquei esparramado num sofá e ela na poltrona da frente. - Ninguém falava nada...Eu bebericava o vinho devagar...- Nina levantou-se de repente, foi na cozinha e trouxe um prato raso, pegou um vidrinho, e colocou um pouco daquilo no prato. Fez duas carreirinhas, do tamanho e largura de uma caneta bic. - Falou, você conhece isso ? - Eu imaginava o que era... - Ela cheirou aquela merda e me passou o prato... Disse: cheira de uma vez só. Não perca nada... - Eu cheirei aquela merda, me deu um gosto amargo na garganta, tomei um golinho de vinho. Minha cabeça deu um zunido, e eu fiquei super alegre e agitado, de repente. - Nina sentou-se de novo e colocou os pés na poltrona. Ao fazer isso, abriu um pouquinho as pernas... - Eu vi a chave do cofrinho ali. Ela riu e abriu mais. Eu vi o cofre em sua totalidade. - Ela levou as mãos ao cofre, e ficou se tocando e rindo pra mim...Era um cofre cabeludo, bonito. - Eu o imaginei cheiroso também... - Fiquei excitado, mas não queria dar o braço à torcer, eu tinha ido ali apenas para acompanhar...Pra distraí-la. - E Ela se tocava, e arreganhou as pernas. Parti pra guerra, fui tipo um soldado audaz. - Me lembro até hoje, que me engasguei com uns pentelhinhos dela. Mas eu lutei a guerra, e venci. - Ela gemia feito louca. - Hoje eu imagino que aquela louca deva ter apostado com alguma amiga dela,que me passaria na cara. - E passou... (Nina morreu de overdose, alguns anos depois). - Era very crazy.

"Como se colocar um menino bobo & ingênuo num reformatório"

Mamãe estava doente, ela teria que sair do emprego, e se internar. Mamãe teve um colapso nervoso. - Acho que a barra ficou muito pesada pra ela...Trabalhar, sustentar dois filhos...Foi dureza pra ela...- O quê fazer com esse menino? A família achou que era hora de me colocar num colégio interno. - Mamãe estava prostrada...Doente e sem ação. - Falaram pro general arrumar uma "boa escola pra mim". - E o general prontamente me colocou numa "boa escola". - A "boa escola", era numa colônia agrícola, na cidade de Vassouras, no estado do Rio. - Era tipo uma Febem, lá haviam meninos criminosos, e meninos que as famílias colocavam lá, (por que não tinham condições financeiras pra sustentá-los). - Eu nem me lembro quem me levou... - Eu devia ter uns dez anos, não mais. - A sensação de abandono que eu sentia, era enorme. - Logo no primeiro dia, eu conheci um garoto, ele era mais velho, devia ter uns quatorze anos. - Lembro-me, como se fosse hoje, ele me disse: - Esse lugar é muito perigoso, aqui você tem que ser esperto, e lutar pra sobreviver. Os maiores, vão tentar judiar de você. - Hoje vai ser sua primeira noite aqui, e eles vão tentar estuprar você...- Eu perguntei, o que é estuprar? Ele me explicou, eles vão tentar comer o seu cu (???). Eles fizeram isso comigo... - Eu vou tentar ajudá-lo. - Esse noite, você não pode dormir, de jeito nenhum. - Eu vou alojar você do lado da minha cama. Vou proteger você. - Eles tem medo de mim. Eu já passei a faca em alguns deles... - Eu fui dormir (me deitei), apavorado. Os caras vieram a noite, e ele disse: - Vazem daqui, por que eu vou passar vocês na faca. -O garoto é meu primo, e quem mexer com ele, tá mexendo comigo. - Ali era o inferno. Na hora da comida, os caras serviam numa bandeja, e os mais velhos vinham, e roubavam a carne, o que tinha de melhor. Os instrutores, faziam que não estavam vendo nada... - Nós, os menores, passávamos muito apuro naquele lugar. - As aulas de agronomia (noções), pela manhã. Horta, chiqueiro, capinar, plantar. A tarde era escola. - O meu amigo me ensinou a pegar a comida, (carne com osso), esconder num papel, pra comer depois. O osso, a gente roía, até sumir. - Me ensinou também a roubar batatas doce da horta, e comê-las cruas. Eu aprendi a comer as coisas cruas e com as cascas. Roubava, bananas, pimentões, repolhos, cenouras, milho verde. E comia tudo cru. Meu amigo me explicou também, que eu precisava ficar forte. Lá, eram facções que mandavam. - Meu amigo me fez uma faca, com a tampa de lata de goiabada. Um lado era enrolado, e o outro, afiado. Ficava uma lâmina tipo uma meia lua, e aquilo cortava muito. Dava pra cortar um pescoço, facim, facim, facim. - Ele disse: - Nunca deixe sua arma longe de você. Durma com ela, acorde com ela. Você nunca sabe quando vai precisar dela. - Nos dias de visita, eu ficava ali, esperando a minha mãe, mas ela nunca vinha... - Eu chorava de saudade. - Um dia, (de visita), ele me apresentou a mãe dele. - Era uma senhora muito boa. Ela era da Assembleia de Deus. - Eu passei a ficar com eles. Sempre que ela vinha, mandava me chamar. Eu comia aquelas guloseimas com ele. - Mas a saudade de minha mãe, era muito grande. - Ali eu me tornei o menino triste, o menino sem mimo. - Um dia meu amigo veio e me avisou: Fique esperto, por que fulano jurou você. Eu posso não estar perto, fique esperto... Ela havia me ensinado a brigar, a lutar. - Dizia que a gente precisava usar o fator, surpresa, e nunca deixar o inimigo ficar muito próximo. - (Eu usei essa técnica pelo resto da vida, e sempre me dei bem). - Ele dizia: - Mesmo que você sinta medo, tome sempre uma atitude, tome sempre a frente. - Um dia, eu estava passando mal, (dor de barriga), e pedi pra ir ao banheiro... - Fui, fiz as minhas necessidades, e quando olhei, estava o cara no banheiro... - Ele disse: - Eu vou comer você e depois vou matá-lo. - Eu tremia muito, ele trancou a porta do banheiro e se aproximou... Eu saquei a minha faca, mostrei pra ele, (ele ficou surpreso), deu um sorriso de deboche e partiu pra cima. - Eu me lancei com a faca pra cima dele, ele deu uma porrada no meu braço... - Eu havia perdido a faca, ela voou longe... - Meu terror era paralisante, eu só tinha as mãos agora. - Meu amigo havia me ensinado um golpe, com as duas mãos, debaixo pra cima, pegando no queixo. - Sei lá que porra era aquela, um jab, um cruzado... Eu sei que parti pra cima do cara, feito um demônio furioso, e acertei ele. - Ele desabou, (parecia um filme em câmara lenta). Merda é que ele bateu com a nuca, numa daquelas pias e ficou ali, desacordado. - De repente, eu vi o sangue, que saía da cabeça dele, formando uma poça, naquele ladrilho branquinho...- Eu tremia tanto, todo o meu corpo, eu não conseguia ficar em pé... - Primeiro pensamento: - FUGIR, fugir daquele lugar. - Me embrenhei no mato. - Precisava colocar os pensamentos em ordem. Eu acabava de matar um menino. - Eu sabia que não poderia ir pela estrada. Os caras me pegariam... - Eu optei pela linha do trem. - Fui seguindo pela linha do trem, não me lembro de quantos dias eu caminhei... - Quando dei por mim, já estava no Rio. - Com fome, frio, e doente. - Consegui chegar no Catumbi, onde mamãe havia alugado um quarto. - Ela me viu, arregalou os olhos. - Eu só consegui dizer: - Mãe, mamãe... E contei tudo pra ela...- Ela me abraçou, me apertou, e chorou comigo. - Dias depois apareceram uns caras lá em casa, perguntando se eu havia estado por lá. - Minha mãe disse que não. Os caras contaram tudo pra ela. - Ela perguntou: - E o menino? - Eles responderam que ele estava bem. Mas que havia sido transferido de lá, por que era um menino muito mau, (já havia matado algumas pessoas). Essa foi a história da "boa escola", que o general me arrumou. -Tempos tristes.










"A poetisa solitária"

Ela estava declamando poemas nas areias de Copacabana. Eu estava sentado ali, num daqueles bancos, vendo aquela mulher declamando textos. Ela elevava a voz, depois abaixava, sussurrando... (Eu achei bonito, aquela moça falando sozinha ali). Ela elevava os braços, como que tentando alcançar as alturas, querendo que o que dizia alcançasse os céus). Era bonito de se ver...(Qualquer pessoa normal, diria que ela era louca, mas eu não era, e não sou normal, daí, fiquei ali curtindo). A praia estava vazia, tempo nublado, mas não chovia. Eu estava louco de vontade de falar com ela. Mas a minha timidez, (essa maldita timidez, estava me prendendo). Num rompante de atrevimento, resolvi ir conversar com ela...Me acheguei, mas não tive coragem de pronunciar nenhuma palavra, tive medo de quebrar o encanto da cena. - Ela parou, abruptamente, e disse: - Você está me achando louca, não é? - Eu aqui, falando sozinha, sussurrando, berrando, abrindo os braços... - Eu fui pego de surpresa, apenas consegui balbuciar: - É a cena mais bonita que eu já vi, em toda minha vida... - Você está linda, parece aquelas Deusas mitológicas...Você deve ser uma poetisa, e das melhores, apesar de eu só ter conseguido ouvir sua entonação de voz, e ver sua expressão corporal...(Quem se surpreendeu agora, foi ela, me olhou, me mediu, e disse: - Eu escrevo, mas gosto depois, de ouvir o som das coisas que escrevo). - Eu caí, literalmente, de quatro, por aquela mulher. - Sem medir as palavras eu disse: - Gostaria de ser mais velho, para pedir você em namoro... Você é a pessoa mais linda que eu conheci...(Mano véio, vamos combinar, que aquela mulher era demais). Ela riu, e disse: - "Para o amor, não existe idade". (Eu estava ali, até meio arrependido do meu atrevimento, mas senti que ela gostou). Aquela moça me deixava a vontade, nunca havia sentido essa liberdade, no falar. - Ela perguntou: - Você está com fome ? Quer fazer um lanche comigo ? Aceitei sem pestanejar. Fomos lanchar no apartamento dela. Lanchamos, conversamos. Ela me disse que morava com uma pessoa, uma mulher... A certa altura da conversa, ela disse: - Você falou que se fosse mais velho, me pediria em namoro, o que lhe impede de pedir ??? - Senti aquela quentura no rosto, aquela vergonha... Abaixei minha cabeça, timidamente... Ela acariciou o meu rosto, os meus cabelos e disse: - Então vamos namorar um pouquinho. Me abraçou suavemente, beijou minha face, e procurou minha boca. Nós nos beijamos de uma forma muito especial, com suavidade, ( eu até me atreveria a dizer, com amor). Me levou ao quarto dela, e me amou. Me amou de uma forma que eu não conhecia. Depois, ficamos nos olhando, olhos nos olhos, namorando, foi muito especial. - Essa foi a história de um amor eventual, muito bonito. - (Minha poetisa solitária, hoje, é uma pessoa muito conhecida, muito famosa). - Guardo essa linda recordação dela. Baccios, fui!

"Show no teatro Paulo Eiró"

Assim que o avião fez o contorno no Cristo Redentor, eu pensei: - " Estou de volta ao Rio". Aquela cidade me atraía de uma forma muito louca. Eu peguei um táxi no aeroporto Santos Dumont, e fui pra Glória. Eu morava naquele bairro. Lá era bom pra cacete. Tinha a Taberna da Glória, que só fechava de manhã. - Tinha samba, boêmia, brigas, navalhadas, porradas, tiros, morte. e mulheres... - Era o meu habitat...- No outro dia me liga aquele mecenas, cazzo, esqueci o nome dele! Ele diz: - Alex, eu estou preparando um show no Paulo Eiró, e quero que você venha cantar. Me manda algumas músicas, para poder mandar pra censura. - Tem que passar pela censura? - Perguntei. - Ele disse, tem que passar pela porra da censura, senão os caras fecham o show... - Porra meu... - Tudo bem, eu mando quatro músicas, vê o que dá pra fazer aí. - Depois de uns dias, ele me liga: - Alex, foi tudo proibido. - E o porra do censor quer saber que merda é essa, de "lumpen proletariado" (???). - Caracas, os "merdas" me censuraram. - Que legal, é sinal que as músicas são boas. - Falei pra ele, estou mandando um baião, chamado "Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina". - Ele me disse depois, essa passou. - (Eu ia cantar a tal de "lumpen proletariado" de todo jeito). Foda-se a censura... - Forcei a barra... E a lumpen? Não vai ter jeito? - O puto respondeu que só se eu mudasse tudo. - Letra, todinha. - (Essa música era o meu xodó). - Bem, passamos à negociação... - Cara, como é que nós vamos fazer? Você manda as passagens de avião? O hotel, essas merdas todas? - O milionário respondeu de lá...Avião? Você quer vir de avião? - Cometa não serve? - Eu disse: - Eu quero avião, hotel e cachê... - Ele já havia colocado o meu nome nos cartazes rs. - (Na real, eu queria pegar um pouquinho da grana dele). O puto estava cobrando ingresso. ia um pessoal famoso lá. - (Se não me falta a memória, aquele cara dos "Bandolins" foi, e mais umas personalidades. - Ele chorou, chorou, eu chorei também rs. - Ele disse: - Boca de siri, ninguém pode saber desse lance de cachê... - (Demorou, pensei). - Ele mandou a grana, colocou no roteiro o meu baião. - Eu fui sem ensaiar, sem nada, cara & coragem. - Show começa, povo se apresentando, eu tomando conhaque, pra limpar a voz. - O cara me anuncia: "Alex Pinetree, cantando "Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina... _ Eu entro no palco e sapeco, Lumpen proletariado, o povo bate palmas pra caralho, eu olho pra ele, ele está bufando. - Aquele puto nunca mais me convidou rs. - Phoddasse a Censura!!! -Peguei o avião e voltei à cidade Maravilhosa. Era tão bom ser maluco naqueles tempos...

"Paz no front"

Depois do episódio da "boa escola", que o General/Governador havia me colocado, eu estava em paz. Mamãe estava com saúde, trabalhando, e eu estava feliz. Mamãe me matriculou numa nova escola, e eu voltei a ser um menino normal. - Estudava, soltava pipas (papagaios), vida de menino normal. Aquele episódio de ter que defender a minha vida, ter que lutar, pra não morrer, já estava quase superado. Aquele quarto no Catumbi era muito legal. - A senhora portuguesa que ficou cuidando de mim, era uma dádiva dos céus. - Ela era uma boa pessoa. Me iniciou na cultura portuguesa. O primeiro bacalhau à Gomes Sá, que eu comi na vida, foi na casa dela. Os primeiros grãos de bico também. - Os doces... Pastéis de Santa Clara, aletria, fios de ovos. Ela fazia aquelas comidas e tinha o maior prazer em me servir. Aquelas batatas que a gente dá umas porradas nela... Esqueci o nome... Os bolinhos de bacalhau... Ela dizia: - "Vem cá ó puto, (puto é criança em Portugal), vem cá...-Ó pá, tu estás triste ? - Eu dizia: - Não tia, eu estou bem. Quando eu ia pra escola, ela dizia: - Ó pá tu estás muito mal vestido, este fato está mal... - Arrumas as algibeiras moleque. - E as músicas, os fados... Amália Rodrigues cantando a "Rosinha dos Limões", " A mouraria", Fernando José - "Seus olhos castanhos, de encanto tamanhos são raios de luz"... - Eu me comovia, ela também... Nós ficávamos ali, em transe, tristes com os fados. (Ela, talvez, com suas lembranças de Portugal, eu com as minhas lembranças também). Eu amei muito, aquela "titia postiça". Me levava pra todos os lugares com ela. - Vamos a Casa de Portugal, ó pá? - Vamos titia. - Vamos comer comida portuguesa em tal lugar? - "Tu queres ir?" - Eu quero tia...- Eu precisava tanto de amor. - Eu precisava tanto voltar a ser criança...- Quando mamãe chegava do trabalho, eu sentia a tristeza da titia... - Ela dizia: deixe o menino aqui, ó Maria, deixe ele dormir aqui. Eu a abraçava bem forte, e dizia, "eu amo muito a senhora, minha tia querida", (ela disfarçava, para eu não vê-la chorando). - Tempos de muita paz no front. - Ciao, fui.

"Dizem que o diabo veste Prada"

O diabo veste Prada, Chanel, Lagerfeld, Gucci, Galliano, e tantos outros. Se ele vier como mulher, usa tudo isso, bolsas Louis Vuitton, & tantos outros acessórios. Ele me veio como mulher, uma linda & maravilhosa mulher. E eu caí. - Durante muitos anos, eu senti o horror de ter caído. Vou contar essa história pra vocês. - Minha primeira filha havia falecido, ela tinha apenas quinze dias de vida. Eu estava revoltado ao extremo, minha mulher de cama, com problemas nos pontos da cesárea. Eu me revoltei de fato, e chamei Deus para uma conversa comigo. Uma conversa franca, entre Pai & filho. Eu sempre tive muita intimidade com Ele, afinal Ele havia me salvado tantas vezes, que só podia ter uma amizade comigo, uma afinidade. - Eu disse pra Ele: - Puxa vida Deus... Por que o Senhor levou a Andrea??? - As coisas estavam indo tão bem... - O Senhor sabe que agora eu vou enlouquecer, não sabe? - Eu perdi todo o meu norte. - Me responda! - O Senhor sabe que eu agora vou fazer tudo de errado que eu puder... E eu fiz um monte de loucuras, drogas, bebidas, depressão. A pior coisa que eu fiz foi conhecer a Malu. (Eu não fui atrás dela, mas aquele cara que veste Prada, foi quem enfiou ela pela minha goela abaixo). Eu havia saído do jornal, havia arranjado emprego numa grande empreiteira. Meu trabalho era de contas à pagar. Eu trabalhava muito, mas muito mesmo. - Eu queria me enfornar no trabalho, para esquecer a minha tristeza. Eu trabalhava direto, sem almoço, das oito e trinta da manhã, até as dezoito e trinta. Meus colegas saíam pra almoçar, e eu ficava lá, ralando. O diretor da empresa, ficava só me olhando, pela sala dele, toda envidraçada. Um dia ele me chamou, pegou o meu currículo, olhou e perguntou: - Estou vendo aqui que você tem experiência em marketing, é verdade? - Eu disse que sim. Daí ele me transferiu para o departamento de marketing da empresa. Meu cargo era assistente de marketing. Comecei a viajar, ia visitar os clientes, participava das concorrências, essas coisas. Foi aí que aquele ser que usa Prada entrou na história. Quando eu não estava viajando, eu fazia o meu trabalho na empresa. Almoçava e descia, pra fumar um cigarro. (E ficava ali, fazendo hora, e curtindo o meu sossego. Um dia, aquele ser apareceu, na figura de Malu.. Me pediu um cigarro, e ficou se insinuando. Aquela mulher/pecado era muito bonita, uma linda italiana, de cintura fininha, seios fartos, cabelos longos. A pele era branquinha. Uma linda diaba. Vários dias me tentando, até que eu comecei a dar uns apertos nela, na escadaria do prédio. Eu sou capaz de jurar que eu não queria isso. Eu amava minha esposa. (Das escadarias, passamos a nos encontrar no escritório dela. Eu não me sentia nada bem, fazendo essas coisas. E a mulher começou a me ligar, no meu escritório. Os comentários já estavam correndo... Coisa horrorosa. Marcamos um hotel. Havia um hotel na rua Avanhandava, nós íamos lá. A primeira vez, eu não consegui comer a mulher, a segunda vez, também não. Minha consciência, me acusava. Eu chegava em casa e via minha esposa com aquele carinho todo... Eu queria morrer, de remorso. Mas a Malu me atraia de uma forma sobrenatural...- Quando eu me tocava, eu estava com ela. A terceira vez que fomos ao hotel, aquela louca me agarrou, arrancou as minhas roupas, e se jogou em cima de mim. Enfiou todo o seu cofre no meu pênis, por cima. Rebolou, gozou um montão, e descansou o facho. Eu não gozei, não achei bom, e fiquei muito arrependido & envergonhado. Durante muitos anos, eu quis contar tudo pra minha esposa, mas me faltava coragem. Há uns anos atrás, eu não me aguentei mais, e decidi contar tudo. - Eu disse pra ela, meu bem, eu preciso lhe contar uma coisa, é muito sério. - O que eu vou lhe contar, pode até acabar com o nosso casamento, mas eu preciso, eu estou prisioneiro dessa merda. E contei, contei chorando, por que eu sempre amei a minha mulher. - E disse mais: - Se você quiser me devolver, na mesma moeda, pode. - Se você quiser ir embora, tudo bem. - Eu só peço que você me perdoe. - Eu não aguento mais viver com isso. Ela me olhou, abaixou a cabeça, vi as lágrimas saindo dos olhos dela. Eu também chorava, suavemente... - E ela disse, eu perdoo você, eu ainda amo muito você. - (Em quarenta anos de um casamento feliz, foi a única vez que eu adulterei). Foi horrível, eu não recomendo pra ninguém. - Aquele dia, ele perdeu, mesmo usando Prada. - Eu estava liberto de novo.

"A menina que cantava gospel"

Tudo bem, vamos combinar, eu confesso. Eu era apaixonado pela menina que cantava gospel. Eu sei que ela não era pra mim, eu era um menino "do mundo". (Mas que a menina que cantava gospel me paquerava, isso era verdade). Eu só frequentava duas igrejas, a "igrejinha do Arpoador" & a igreja da menina. Era só flerte, por que a menina era filha do pastor, ou de um cara importante na igreja, e não era para o "meu bico". Deus que me perdoe, mas eu só ia lá por dois motivos: - Pela menina que cantava gospel, e pela comida, que era de primeira. Na real, eles não me levavam muito a sério, e nem eu a eles... Eram adventistas do sétimo dia. - Eu quando ouvia a menina cantando, eu fechava os olhos, e chorava. A danadinha cantava muito bem, e aqueles hinos, me deixavam emocionado. (Mas eu queria mesmo, era beijar aquela boquinha "abençoada", apertar aquela menina nos meus braços). - Mas era tudo platônico, eu sabia que a menina pertencia à outro mundo, o mundo deles. Eu participava de todo o ritual: - Estudo bíblico, culto de louvor, tudo, só para estar perto dela. Você sabe de uma coisa ? Acho que ela também tinha uma certa atração pela minha pessoa. - Ela me olhava, com aqueles cílios grandes, sorria sem palavras, tínhamos um código secreto, de olhares & sorrisos. Na hora do almoço, eu sempre arranjava um jeitinho de me sentar ao lado dela. (Eu sabia que aquele não era o meu mundo, depois do almoço, eu vazava pra minha galera, e era chopp & garotas). As vezes, meu primo Dan me convidava: - Vamos a igreja hoje ? Eu dizia que não, que eu iria na "igreja do Arpoador". Eu ficava triste & com raiva, por não ter a menina que cantava gospel comigo. Daí, eu "descontava", nas meninas "do mundo", minhas amigas. As meninas "do mundo", não me negavam beijos & afagos... Quando eu aparecia na igreja da menina, eu via o brilho nos olhos dela. Aquela danadinha sentia algo por mim, eu sabia. - Mas nunca consegui abrir meu coração a ela. (Eu era muito doido, pra eles ).- E eles eram o supra sumo da caretice, pra mim. Ali tudo era pecado, (na minha visão). E eu sempre fui uma alma libertária, nunca me prendi a certos dogmas, desde de menino. (A vida tinha que ser bem vivida, obrigatoriamente). Um dia, uma pessoa muito importante, (pra mim), me disse: - Viva sua vida, não se importe com preconceitos, não se assuste com nada, apenas viva & aprenda. Aprenda com as pessoas, com os animais, com as plantas. Assim você conseguirá enxergar beleza, mesmo onde ela não existe. Depois de certo tempo, eu abri mão dela, da menina que cantava gospel. O mundo dela era outro, o meu era aqui, no fundo, das ruas desse planeta sem mimo. - Beijos, menina, que você esteja feliz. (Eu estou). Fui.

"Absinto"

Absinto. - Você já bebeu isso, meu bem ? - O que é isso ? Que bebida verde é essa ? - É absinto (???). Eu trouxe da Europa. Mas esse veio na graduação antiga, 98,9 % de álcool. É uma reserva especial, feito sob encomenda...Artesanal... - Nunca bebi isso não, mas deve ser álcool puro, tô fora... Mas só por curiosidade, como é que se toma esse "trem" ? - O ideal, disse ela, é ter um alcaloide pra acompanhar... - Que alcaloide ? - Esse aqui, ( me mostrou um vidrinho, com um pozinho). (Eu não sei o por que do diabo fazer essas coisas comigo, mas eu disse: - Bebe aí, um cadim, preu ver)...Ela pegou um cálice, encheu & disse: - Prova um pouquinho... Eu só molhei o "biquinho", achei forte, mas tinha um gosto de anis...Não era de todo ruim... Ela "sapecou" o cálice, encheu de novo, e me entregou...Bebi & minha garganta pegou fogo...Continuamos a beber o tal do absinto. Após eu ter mamado uns quatro cálices, senti que minha testa começou a gelar... Ela disse: - Precisamos rebater com o alcaloide. A louca bateu seis carreiras e disse, mata três. Eu matei as três, meu corpo viajou, senti uma leveza, e uma alegria muito grande... Aquela dona estava me levando pro mau caminho, eu senti isso na hora...Mas tudo bem, eu era apenas um garoto, que amava os Beatles & os Rolling Stones...Quando veio a primeira onda de calor, eu arranquei a camiseta...Quando a segunda onda de calor chegou, eu já estava vendo umas coisinhas coloridas, muito bonitas... Olhei pra ela, ela também já estava arrancando os panos...Tomamos mais uns cálices daquele veneno...Eu já estava suando feito um filho da puta, (me perdoem o palavreado), arranquei as calças, e os mocassins. Atiramos mais três vezes, de novo...Eu suava, pensava & viajava. Já nem estava preocupado, de que o marido dela pudesse chegar, a qualquer momento. Nós estávamos nuzinhos da Silva. Eu acho que sonhei, que estava numa praia bonita, mergulhando, nadando...( Mas não). Era apenas ela passando uma toalha molhada pelo meu corpo, tentando findar com a minha suadeira. Naqueles pequeninos momentos de lucidez, eu ainda consegui raciocinar. - "Tomara que ela não queira trepar, por que senão, eu vou ter que sair correndo daqui"... - Pra falar a verdade, eu nem sabia quem era aquela mulher... Não sabia o nome dela, não sabia que lugar era aquele...(Eu acho que estava pra lá de Marrakesh). - Como sofre um menino curioso... Eu só sei que estava escurecendo, e eu caminhava à passos largos, pela rua do Catete, indo encontrar a minha namorada no serviço. - Será que eu sonhei ? Será que eu viajei ??? ...Me lembro vagamente, de uma bebida verde, com um suave gosto de anis. Me lembro também de uma mulher pelada, falando um monte de borrachas. - Por falar nisso: - Você, é, você mesmo... Já tomou absinto ? - Muito cuidado com o absinto. - Fui.

"Eliete"

Eliete foi lá na Glória me pedir em namoro. Mulher é um bicho esperto demais. Eu gosto muito. (Eu estava sentado em frente ao prédio da tia Luli, conversando banalidades com um conhecido, e ela chegou. Chegou com uma amiga). Eu nunca havia visto aquela morena. Cabelos lisos, compridos, corpinho violão, cinturinha fininha & bundinha modelo coração. Era o máximo, aquela Eliete. A amiga dela rapidamente deu um jeito de se afastar com o cara, pra Eliete conversar comigo. - Véio, eu sempre gostei de mulher atrevida, arretada. Eliete já veio dizendo que havia saído lá da casa dela, no Flamengo, pra conversar. Na cara dura, perguntou se eu gostaria de namorar com ela... Maluco, eu nunca fui de recusar coisa boa, incluindo-se aí, mulher...(Fiz minha melhor cara de babaca, e disse: - Sim). Eliete me deu o endereço. Rua Dois de Dezembro, número tal, quase perto da praia. Marcamos o aponto. Oito & meia da noite, lá estava eu. - Banho tomado, cheiroso, barba feita, (barba não, um buço ralinho). - Eliete estava me esperando na portaria. Que garota bonita. Assim que ela me viu, me "tacou" um beijo na boca, me abraçou, me apertou. Eliete começou a me "pilotar" ali, no meio da rua. No segundo encontro, Eliete disse: - Vamos sair daqui, vamos namorar lá na praia, no Aterro. (Eliete foi a primeira menina a me arrastar para o Aterro do Flamengo). - Atravessamos as pistas, chegamos na praia, Eliete me agarrou e começou a me "pilotar". Aquela menina era o "Cão vestido de saia preta". Me agarrou, tirou minha camisa, tirou a blusa e começamos aquele ritual enlouquecido. Corpo contra corpo, boca contra boca, mamilos contra mamilos. Eu ficava quietinho ali, tentando imaginar até onde aquela louca chegaria. - Eliete era virgem. Tudo poderia acontecer ali, menos penetração. Quando eu chegava em casa, minha mãe dizia : - O que houve, menino, você está todo descabelado, branco, de olhos fundos... - Eu apenas dizia; - Eu estava com a Eliete... - Quem é Eliete? Acho que é minha namorada, mãe. - Acha? Não tem certeza? - Não mãezinha, não sei de nada .Vou dormir... Após uns meses, comecei a frequentar o apartamento delas. Ali moravam, Eliete, a irmã mais velha & a mãe delas. A mãe era uma costureira muito famosa, no meio artístico, costurava para cantores, atores & atrizes. A irmã mais velha escrevia telenovelas. (Ela se tornou uma novelista de muito sucesso, é, é aquela famosa mesmo). Mas naquela época, ela estava começando a ficar famosa. Eliete só estudava & arrebentava com minha saúde. Elas moravam num apartamento de dois quartos, muito bom & espaçoso. Aquele matriarcado me adotou. Eu comecei a dormir lá, a almoçar. Tinha até umas mudas de roupas lá. Para a Eliete, era muito cômodo, porque ela acordava a noite, e vinha de baby doll me infernizar no sofá da sala. Velho & bom Charlie, aquela mina tinha um "fogo consumidor". Ela conseguia fazer de mim, gato & sapato, e o pior é que eu adorava. Eu estava totalmente viciado em Eliete. Eu ia trabalhar, de meio expediente, ia pra escola e depois Eliete. Será que Eliete era uma ninfomaníaca ? Eu me pergunto hoje, porque na época, eu nem sabia o que era isso. - Vem, ela dizia, vamos lá pra garagem... Aqui tá ruim hoje... Essa época, ela já queria que eu tirasse toda a roupa, que eu ficasse pelado, fosse na praia, na garagem do prédio. Eu me cagava de medo, mas ficava nuzinho da silva, só pra ver a atitude dela. E Eliete me "usava". Ela já havia perdido toda vergonha, todo pudor...Quando a mãe & a irmã saíam, nós tínhamos o apê todo pra nós...Aí era que o bicho pegava... Ela se despia, mandava que eu fizesse o mesmo, e "ripa na chulipa". Aquela merda foi me amuando, amuando... Eu queria penetração... E penetração ali, nem na zaga do Flamengo. -É doce morrer no mar"...Pra dar um final nessa história, elas já estavam falando em noivado, essas merdas todas... - Eu resolvi picar a mula. - Já imaginou eu casado com ela ? Eu não iria aguentar aquela garota de jeito nenhum... Meu sexto sentido mandou eu vazar na bracchiária, e foi o que eu fiz... Expliquei com sinceridade a ela: - Eliete, minha Deusa, eu não tenho pau suficiente pra você. Você precisa de muitos paus... Então, pt saudações. Fui. Vazei. Nunca mais vi Eliete, minha primeira ninfomaníaca.

"Dulce, dulcíssima"

Aquele bonde descia célere, pela Almirante Alexandrino, rumo ao Largo da Carioca. Superlotado, (como sempre). Eu havia descolado um lugarzinho sentado, e quando me toquei, eu estava ao lado dela. Ela era uma menina africana, que aguçava a curiosidade da garotada, por que se vestia com aquelas roupas típicas. Eu ia aproveitar o momento, pensei, pra dar uma olhadinha mais de perto. (Era linda, aquela moça negra). Pele azeitonada, nariz perfeito, cílios que viravam, de tão grandes. Eventualmente, eu sentia a perna dela roçar na minha. (Era uma perna macia & quente). Ela usava uma bata colorida e um turbante vermelho, muito bonito. Resolvi fotografar mentalmente aquele perfil. Estava ali me deliciando, quando de repente ela me olhou...Fiquei um pouco envergonhado, pego em flagrante, olhando pra ela...Apenas murmurei baixinho : - Dulce, dulcíssima... Ela perguntou; - o quê? - Eu disse; - Dulce, dulcíssima. Ela sorriu e me disse que não era Dulce, me disse olá. Nós ficamos nos encarando, (eu roubando um pouco daquela beleza de além mar, africana)...Ela me disse o nome dela, o nome africano, eu disse o meu. Eu me esqueci de dizer, que ela tinha os olhos azuis, tipo duas águas marinhas, bem intensas, na cor. Eu esperava que aquele bonde nunca chegasse no Largo da Carioca. Mas ele chegou... (Eu queria "grudar", naquela mulher). Eu queria Dulce pra mim... Eu fui com ela até a Puc, onde ela estudava. Marcamos um encontro para mais tarde. Quando reencontrei Dulce, à noite, ficamos conversando, ela me disse que os pais moravam em Londres, e que ela fazia um curso aqui no Brasil. Ela morava com mais quatro meninas, numa casa lá perto da Equitativa. Eu gostava de sair com ela, nós íamos naqueles shows de rock, que os caras faziam no Aterro do Flamengo, nós passeávamos de mãos dadas, pelo Rio de Janeiro. Até ali, eu não havia beijado Dulce, (eu morria de vontade, ela também, mas a coisa ficava meio que só na vontade). Uma noite, eu fui levá-la em casa e ela disse: - Você não gostaria de dormir aqui hoje ? Meu querido & bom Charlie Brown, era tudo que eu mais queria. Fomos para o quarto dela. Ficamos nos olhando... Um misto de tensão no ar & timidez. Dulce se aproximou e me beijou, (eu senti que meu coração explodia, de amor, de desejo & de carinho por ela). Dulce tirou minha camiseta, tirou a bata dela, me abraçou e eu senti aqueles mamilos duros & quentes, no meu tórax. Nos despimos totalmente... Dulce pediu que eu me sentasse. Ela veio e sentou-se abraçada comigo. Senti o corpo de Dulce invadindo o meu... Nós dois encaixados ali, degustando aquele momento. Nós não falávamos, não nos mexíamos, apenas desfrutávamos o momento...Nossos corpos explodiram, numa miríade de cores e de prazer...(Ali eu conheci o amor, o amor da minha princesa africana). Namoramos por muito tempo, até ela ter que voltar pra Londres. - Beijos, Dulce, dulcíssima. Onde você estiver.

"Hímen Complacente"

"Era sábado, um calor de rachar. Eu estava na cama (ainda), lençóis molhados de suor, um calorão. Eu era jovem, feliz e tinha uns trocados no bolso. - Pensei... Hoje a praia deve estar superlotada, mas eu vou curtir um solzinho. - Eu havia alugado um quartinho na Lapa, lugar de boêmia (eu gostava muito de lá). Eu conheci "Madame Satã" lá na Lapa. Conheci a boêmia, o jogo de "ronda" e vi tiros e navalhadas e gente morta. Eu gostava de cantar nas boates e comer umas meninas de lá.. Mas voltando ao sábado...-Fui a praia. chegando lá abri uma toalha na areia e fiquei ali, pensando na vida, pensando no que fazer no fim de semana... Bem, eu ia comer uns rangos árabes depois, uns kaftas, kibes e aquelas delícias todas. Tinha um restaurante árabe na av. Augusto Severo, a comida era farta e barata. Lugar de boêmios. Mas vamos deixar de divagar e voltar ao real. A loura veio e sentou-se meio pertinho de mim. Era gostosa e bonita a guria. Eu dei uma olhada de soslaio...(eu era tímido, e ainda sou). Fiquei meio na minha, pensamentos libidinosos me visitaram... Ela era muito linda, era muito pro meu caminhãozinho, pensei... Olhei, na minha timidez, e a guria estava sorrindo...Meu rosto imediatamente começou a pegar fogo, um calor, uma vergonha... - E ela disse, você pode passar um bronzeador nas minhas costas? - Meu, eu fiquei meio pasmo, e acreditei que de fato, a sorte existe...- Eu, o cara mais desengonçado da praia, mais...mais... Uma deusa germânica, uma princesa dando mole assim...(naquele tempo era bronzeador mesmo, Coppertone, ou Rayto de Sol). Comecei a passar o bronzeador, aquela pele branquinha, macia, eu tive uma ereção ali, (que vergonha). Ela ria, falava coisas que não me faziam sentido algum. Eu estava com tesão e vergonha... A certa altura ela me olhou nos olhos e disse: - Você é o Alex ? Meu, eu fiquei totalmente desbundado, ela me conhecia? Tudo bem que eu era famoso nas noitadas & nas festas do Rio...Mas eu não conhecia aquela deusa. - Ela disse: - Eu sou a Beth, você não se lembra de mim? Meu, eu sou um cara educado, você acha que eu ia dizer que não ? Mas ela não me deu tempo de responder e disse : - Nós namoramos, você foi o cara que me deu o primeiro beijo (?) Marcamos um encontro pra noite, fomos passear no Outeiro da Glória, (naquele tempo ali era tranquilo). O céu era uma miríade de estrelas, e meu tesão era imenso. Ela me olhou profundamente e disse: - Eu tenho o hímen complacente, (caraca, que porra é essa, eu pensei). Caralhos, essa mulher é doente! Será que essa merda pega ? Mas eu queria a Beth, e só me restou dizer, (o idiota!!!). - Não se preocupe, eu já tive muitas namoradas com o hímen complacente. Ela riu, gargalhou e me abraçou. Beth me iniciou nas coisas do amor, foi bom, foi meu primeiro amor. Depois de um certo tempo eu fugi dela. Ela era bissexual e isso me assustou muito, (era muito pra minha cabeça, na época). Hoje eu iria propor a ela vários ménages a trois com as amigas dela. - Esses anos eram loucos.

"O ano era 1969 - Acampar"

Tive baixa no Exército nesse ano, saí na terceira baixa. O pessoal que tinha saído na primeira, tinha combinado de ir para o México a pé, pra assistir a Copa de 70. O mais interessante é que os loucos foram de verdade, e chegaram lá...Umas quarenta pessoas... Programa pra índio nenhum botar defeito. Eu e uns amigos do quartel resolvemos acampar em Itaipuaçu (Rj). Fomos em quatro ex soldados. Eu só lembro do nome de um, o Wanclo. Aquela época, chegar a Itaipuaçu era uma dificuldade, você tinha que descer do ônibus na estrada e subir e descer um morrão. Saímos do Rio de noite já, fomos até Niterói e de lá picamos a mula. Eu já estava bem "zureta", na realidade, naquela época, eu só andava "zureta". Descemos na estrada, no local de subida e resolvemos fazer um "balanço" do que estávamos levando. (Quem cuidava desses detalhes era um outro brô), o nosso "aprovisionador “. - Bem, disse ele, vamos as coisas mais necessárias, bebidas, o que temos? - Uma garrafa de cachaça, uma de Martini, uma de vinho, uma de uisque nacional. - Drogas, o que temos? "Marijuana”, dois litros de chá de cogumelo (alucinógeno).Temos também cem comprimidos de "Artane" (hipnótico" e é só. – Comida? Temos arroz, feijão em lata, óleo, sal, essas coisas desnecessárias...Não tinha mulher (ainda)... Tinha também, um "despacho de macumba", bem ali perto...com três garrafas de vinho "Moscatel".- Eu pensei: "eu não pego nesse negócio nem phuddenddo...(O Wanclo era mais corajoso que eu e surrupiou as garrafas. Naquele dilema todo, para um ônibus e descem três meninas. Papo vai, papo vem...elas também iam pra Itaipuaçu... Mulheres...- Pensamentos hiper libidinosos na cabeça..- Meu, tinha uma guria ajeitadinha ali. Eu gostei dela no ato, (acho que ela também gostou de mim). Começamos a subida e ela se encostava, se roçava em mim...(Velho, dezenove anos, a gente só pensa em sacanagem)... Chegamos no alto do morro e paramos pra descansar um pouco. O Wanclo sugeriu que a gente bebesse alguma coisinha, fumasse outra coisinha e tomasse um golinho de chá.- (Esqueci de dizer que a noite estava muito bonita, com um céu totalmente estrelado). E o barulho das ondas lá embaixo, batendo...- Meu, fizemos a pausa e tomamos um pouco de cada porcaria daquelas...Eu alucinei... Tinha ondas de alucinações & ondas de lucidez... A mina, que eu achei tão linda, estava se deformando toda...e a cara dela se transformando, escorregando... (Devo acrescentar que ela não tomou nada)... -E aquele "monstro da lagoa negra" me agarrando, me abraçando. Eu querendo me safar, me desvencilhar dela. Me deu até vontade de cagar, de tanta "paura"...Nós começamos a descer o morro e eu comecei a ver coisas...Monstros, homens com olhos de fogo, (a lucidez voltava e ia embora)...Enfim chegamos na praia, linda, com poucas casas e pés de casuarina, lugar bonito aquele. Nossa barraca era um paraquedas militar, de nylon camuflado, depois de armado cabiam ali umas 20 pessoas. Armamos aquele "trem" e ficamos por ali, curtindo a noite. (Quando eu ficava lúcido, eu dava uns "catos" na gatinha), quando eu pirava eu me afastava dela...MEU! Aí que aconteceu a merda toda... Comecei a ouvir um "tléc, tléc, tléc, tléc... E veio aquele clarão no alto da barraca...E aquela merda foi descendo, descendo, e um mundo de cores, muitas cores. - E o tléc, tléc,, tléc bem alto pairou acima da barraca... Foi o que precisou preu vazar daquele lugar feito um louco. E correr, correr e correr, alucinadamente...Caí num lugar e dormi. Acordei já era dia claro, morrendo de frio e voltei pra barraca. (O phodda é que todo mundo viu alguma coisa, só que ninguém sabia explicar). É o que eu me lembro dessa história de Itaipuaçu. Resumo da ópera. Ficamos por lá uns dez dias e foi muito bom. (E papei a guria). Em tempo: Pessoas avistaram ovnis naquele lugar, naquela época. (Vai saber)...

"Toc, toc, toc"

Toc, toc, toc. - Cenário. Escritório de luxo, numa torre, numa daquelas avenidas de São Paulo. Local acarpetado, grandes vãos envidraçados, ar condicionado. vigésimo terceiro andar. Móveis de estilo, grandes mesas, frigobar, essas coisas todas. Horário aproximado; entre às dezesseis, dezessete horas. - Ação. Batem à porta, toc, toc, toc...- Ele diz: - Entre. Ela entra, meio intimidada pelo luxo. Ele a encara e diz: - Tire a roupa. Obedientemente, ela vai se despindo, fica só de calcinha. - Ele diz, tira tudo. - Ela se despe, ele manda ela se virar, estuda o corpo dela. Ele pega aquela velha máquina fotográfica, a Nikon, coloca o filme e diz: - Faça poses, deite-se naquela chaise, fique de bruços. E vai fotografando. As vezes ela pára, fica namorando a velha máquina. Fica lembrando de como ganhou aquela velha Nikon. Foi o primeiro serviço remunerado dele. O cliente não tinha dinheiro para pagar, e ele levou a Nikon. Volta a fotografar. A modelo faz caras e bocas, e ele ali envolvido pelas fotos. Depois de certo tempo diz pra ela: - Está bom, pode se vestir. Ela se veste, e ele diz; - Pode pegar aquele envelope, seu dinheiro está ali. Ela pega o envelope e se vai. Ele toma mais uma dose de conhaque, acende mais um cigarro. O ambiente recende a nicotina, fumaça & bebida. Batem á porta, ele diz: - Entre. Como um robô, ele repete a frase. - Tire a roupa. Essa tem um olhar atrevido, indagador e pergunta; - qual é o "serviço" ? Ele apenas repete. - Tira a roupa. (Diz isso, como se estivesse falando, "tire essa merda dessa roupa logo". Ela fica de calcinha e sutien. Ele suspira e manda tirar tudo. Faz o mesmo ritual. fotografa, em todas as posições imagináveis. Carrega a Nikon. Repete a "operação" mais umas três vezes. Com mais três mulheres. Bebe mais conhaque, fuma mais um cigarro. Ele é metódico nesse ritual. Liga para o laboratório, pede urgência na revelação. O rapaz do laboratório chega, ele reitera urgência urgentíssima na revelação. Entrega os filmes e dá cinquenta reais de gorjeta. Explica que vai ficar ali esperando. Está escurecendo, ele vê a noite se aproximando, os carros correndo, pela avenida. Ele se lembra, de como era a vida, que naquele horário, ele também estaria voltando pra casa. Mas agora, era tudo final. Não havia mais caminhos pra ele, estradas, vielas, entroncamentos trilhas. Ele havia chegado no final. Ele havia chegado "no cu do mundo". E a partir do "cu do mundo", não havia mais nada, só o "sorvedouro". Tomou mais uma dose de conhaque, acendeu mais um cigarro. Sentou-se, pegou a velha Nikon, ficou acariciando a máquina, como se ela pudesse consolá-lo, como se ela pudesse conversar com ele...Mentalmente, ele conversava com a Nikon. - Você se lembra daquela viagem ? - Eu. você e ela? Tiramos tantas fotos, tantos locais bonitos, está lembrada ? Só nós três...Bateram à porta. Era o moço do laboratório. Ele pagou & voltou a conversar com a máquina...Pegou as fotos...Analisou uma à uma. Parece que gostou do que viu. Bebeu mais um conhaque, acendeu mais um cigarro. Estava chegando a hora, pensou. Acendeu todas as luzes. Foi espalhando as fotos, metodicamente, em todos os lugares do escritório. Gostou do que viu...Viu beleza ali...Ele voltou a mesa dele, sentou-se. Abriu uma gaveta e tirou uma caixa metálica. Abriu a caixa, dentro havia uma arma. Um revolver calibre .38 cano reforçado, novinho & uma caixa de munições. Carregou a arma, ficou um tempo com ela ali, nas mãos. Colocou a arma na boca, sentiu o gosto de metal & óleo lubrificante. Deu mais uma olhada nas fotos, aprovou o que viu. Firmou bem o cano na boca, puxou o "cão" para trás, e atirou. A última coisa que sentiu foi o clarão. Pronto. Ele agora estava no sorvedouro. Estava no cu do mundo. foi isso que aconteceu.

"Histórias de um cara velho"

Eu caminhava por aquela estrada secundária. Era uma estrada de terra, e a poeira me sufocava. Eu estava cansado, com sede & com calor. Eu havia saído do Rio de Janeiro, peguei um ônibus, e quando ele chegou no ponto final, eu desci e saí caminhando. A primeira noite, eu dormi no mato. Fiz a festa dos pernilongos & fiquei cheio de picadas. Não tinha" um puto" no bolso. Avistei aquele casebre de pau a pique. Bati palmas... - Ô de casa...Veio um senhor bem idoso e disse: - ' Tarde... - Tarde, eu respondi. Perguntei se ele teria um copo d’água, porque eu estava morrendo de sede. - O velhinho disse, se achegue, vem sentar aqui no alpendre, eu vou pegar... - Ele retornou, com uma "moranga" na mão & um copo. - Eu bebi aquela água, tentando saciar a sede, e enganar o estômago, já que eu não me lembrava da última vez que havia comido. Sede & fome, essa era a minha situação. A esposa dele também se achegou, e ficamos ali papeando. Eu perguntei se poderia descansar naquele alpendre, dormir um pouquinho, pois estava muito cansado. Ela pegou uma rede, ajeitou, e disse que eu poderia dormir ali. - Velho & bom Mahatma Gandhi, pai dos pacifistas, eu me aboletei naquela rede & apaguei. Dormi muitas horas. Noite chegando, e aquela senhora me despertou. Tinha nas mãos uma cuia com comida. - Disse: - Coma meu filho, você vai ter que comer com as mãos, pois nós não temos talheres, aqui em casa... Ali naquela cuia tinha, feijão com farinha, e uns pedaços de mandioca, (aipim, como se diz no Rio). Eu comecei a comer com as mãos, fazendo "capitão", como se diz no interior. Fazendo bolinhos, com o feijão & a farinha, e enfiando goela abaixo. - Confesso que aquela comida me pareceu a mais deliciosa, que eu já havia comido. Ali, naquela miséria, um casal de brasileirinhos, estava dividindo a mesa comigo. - Eu sabia que Deus, havia me enviado ali, para que eu aprendesse uma lição de solidariedade. Uma lição de amor. (Eu que já havia comido com talheres Kristofle de prata, com porcelana de Limoges. Taças de vinho, taça de água, lavanda, pra lavar as mãos). Estava ali "fazendo capitão". (Eu, quando me lembro desse episódio, fico com os olhos marejados). - Eu comi e passei a noite ali, com eles. Pela manhã a senhora se achegou, e me trouxe uma porção de mandioca cozida, e um copo de café preto. Ficamos ali conversando, e eu perguntei se passava alguma condução naquela estrada. Eu gostaria de pegar uma carona de volta. O senhor me explicou que ali não passavam carros. Mas que na sexta feira, um caminhão passaria por lá, uma vez que eles tinham uma encomenda de abóboras, para entregar. Eu fiquei ali com eles, ajudei a colher as abóboras, que eram imensas & pesadas. No dia que o caminhão chegou, eu ajudei a colocar toda a carga no veículo. Na saída, o velhinho quis me pagar, mas eu não aceitei o dinheiro dele. Para retribuir a estadia, eu o presenteei com uma camiseta. Hoje eu olho para trás e me lembro dessa "passagem", e me comovo, com a generosidade do povo brasileiro. Deus me ensinou muita coisa, nesse mundão Dele. Aprendi que todos nós somos iguais. Até aqueles que cagam num banheiro com mármore de Carrara. É tudo a mesma coisa. O importante é viver com dignidade & solidariedade. - Fui.

"Pietro"

Pietro, amigo italiano, tipo estranho, mas bom de coração, gente fina. Pietro tinha um olho azul & o outro verde. Era alto, cabeludo, e tinha o maior nariz que eu já havia visto, em toda a minha vida. O nariz era comprido e ia afinando. Ele me lembrava um pouco Cyrano de Bergeràc. A conversa começou da seguinte forma: - Como é que você está convivendo com essa merda toda? Eu respondi, (tentando enrolar): - Bem, eu vou levando... - Ele perguntou: - Levando como? - Eu disse, eu estou vivendo, seguindo com minha vida, minhas coisas..- Vai se phudder, isso é lá resposta que se dê? Perguntou de novo: - Você está com depressão ? - Tem phoddiddo alguém ? Tem saído, tem viajado? - Vamos por etapas. Pietro me olhou bem nos olhos e disse: - Sua vida está uma merda. Não tem ninguém afim de você? - Eu disse pra ele: - Pietro, eu não estou andando atrás. eu estou meio que perdido nas minhas coisas íntimas...- Ele perguntou: - Você está broxa ? Desistiu das mulheres? perdeu o tesão? (As perguntas dele vinham assim, tipo três por vez). - Pietro, até que tem algumas mulheres...Mas a última que me interessou é casada, e tem dois filhos adolescentes. Tem trinta e seis anos. - Eu não tive coragem de iniciar um relacionamento com ela, estou velho para esses encontros furtivos. - Tem também algumas ninfetas, na faixa de vinte um anos, mas dessas eu tenho certo receio...- Tem receio de quê? De trepar ? Você nunca foi assim... - Picasso tinha oitenta anos e uma mulher novinha, Chaplin também... Que merda de homem é você? - Sabe de uma coisa? Parece que sua vida parou, é como se você estivesse parado num engarrafamento de trânsito. Mesmo parado, no engarrafamento, as pessoas inventam algo pra fazer... - Uns escutam música, outros pensam nas coisas do dia a dia, outros falam ao telefone... - Você fica aí "merdando"...( Enquanto ele falava, eu me lembrei de um conto, do Julio Cortázar, em que o cara fica parado num engarrafamento, acho que li no livro dele, o "Bestiário). - Pietro não me dava folga, me cobrava atitude, aquelas coisas que os amigos acham que devem falar. Eu disse pra ele: - Eu estou escrevendo um livro, (Eu me casei, tive filhos, plantei uma porrada de árvores, só ficou me faltando escrever um livro). - E quem vai ler essa merda? - Eu estou escrevendo pra me aliviar, eu disse, pra liberar essa imensa pressão que estou carregando no peito. Eu tenho centenas de histórias pra contar. Umas tristes, outras alegres, outras de putaria, outras de bandidagem, outras de violência... - Gostaria de vomitar tudo isso, para poder me sentir mais leve...- E sabe mais: - Vai se danar, eu não tenho satisfação nenhuma a lhe dar, vai tomar no seu cu! - Eu vou dormir. - Pietro se amuou... Foi sumindo...Voltando para dentro da minha cabeça, da minha imaginação. - Fui.

"Histórias da Zona Leste"

Era sábado pela manhã, tipo umas oito horas. Estavam batendo na nossa porta, eu estava numa ressaca brava. (Havíamos passado a noite no bar do Diamantino, comendo bife à Parmigiana & tomando cervejas). O bife do Diamantino, (salvo as devidas proporções), não ficava nada a dever, ao do Bar do Alemão, em Itu. Éramos, eu, a Nê, e acho que a Su & o Rubão). Eu saí de lá tão "trêbado", que torci o pé, e nem sei onde. Mas voltando a ópera do malandro, eu não conseguiria abrir a porta. Apenas imaginei: - Os "testemunhas" agora estão vindo aos sábados? Estão antecipando o expediente? Nê foi abrir a porta. Véio, era um cara que morava no bairro, e trabalhava numa firma em que eu havia feito uma entrevista. Eu nem me lembrava, mais dessa entrevista, havia estado lá no mês anterior. O cara disse pra Nê que o diretor de RH gostaria de falar comigo na segunda feira próxima. Havia agendado para às dez horas da manhã. - Charlie, eu estava desempregado, queimando o meu fundo de garantia, com uma celeridade impressionante. Precisava urgentemente repor o meu caixa... - A empresa ficava no jardim Iguatemi, era grande pra dedéu. Os caras deviam ter uns dois mil funcionários lá. - O diretor me recebeu, conversamos e ele disse: - Você tem um currículo impressionante, acho que vamos poder empregá-lo. - Me explicou que era uma empresa familiar, que o dono se fez do nada, catando latas na rua, com um carrinho de mão...O véio era esperto, ele comprava aquelas latas de dezoito litros, de óleo, colocava numa solução com ácido, e extraia a solda, que era de estanho. Depois ele colocava a folha de flandre numa prensa, deixava novinha e revendia. Ficou rico. Disse também, ( o diretor), que eu iria trabalhar em outra unidade, na Vila Diva. Eu seria o encarregado do RH lá. Na Vila Diva, eu cuidaria de quatrocentos funcionários. Me disse também, (em off), que eu tomasse cuidado com o filho do cara, que era um playboyzinho, e que vivia enchendo o saco por lá. - Véio & bom Charlie, o que eu vi ali foi phodda, (com ph de pharmacia & dois "d", de toddy). O que os caras judiavam dos operários, não estava em nenhum gibi Ali era a divisão de plásticos da empresa, eles fabricavam sacos de lixo, e todos esses aparatos de cozinha, lixeiras, vasilhas etc. Mano, nessa época, eu era socialista até o meu último pentelho, e vi coisas ali, que me deixaram pra lá de revoltado. Só pra você ter uma ideia, as meninas quando precisavam ir ao banheiro, tinham que pedir permissão no RH. Daí, um filho da puta, anotava quantas vezes a garota ia ao banheiro. Quando elas estavam menstruadas, iam lá pegar um absorvente, o cara anotava quantas vezes ela ia ao banheiro, e quantos absorventes usava... Ali eu senti que não faria carreira, nessa empresa de filhos da puta. Meu salário era super maravilhoso, ganhava bem pra caralho, mas odiei aquele lugar. Achava que aqueles caras afrontavam a classe trabalhadora. Era a velha briga entre capital & trabalho. (O filho do cara andou me sondando, assim meio que assim...Mas eu mandei ele se phudder, educadamente)...Na realidade, a gente se acostuma até com o inferno... Os dias passavam rápidos... Certo dia um cara enfia a mão numa prensa, e perde uns dedos...(Eu era o responsável por aquela alma). Mandei pegar os dedos, colocar numa embalagem com gelo, e corremos para o hospital. Infelizmente, não deu pra reimplantar, porque os dedos estavam esmagados, mas os médicos fizeram um bom trabalho. No dia seguinte, seria o dia do pagamento. A matriz mandava os holerites e nós colocávamos o dinheiro dentro, e fazíamos o pagamento. O velho havia me dito que só pagasse os funcionários, no término do expediente, nada de pagamento fora de hora. Foi aí que a merda se fez presente: - Ela veio num turbilhão de ódio, de sentimentos retidos, encubados... - No dia seguinte, cedinho, o mutilado apareceu na fábrica, (o demônio, eu diria). Pediu-me que liberasse o pagamento dele, por que ele precisava pagar contas, comprar remédios, essas merdas todas...(Eu vou dizer pra vocês que meu coração socialista, se condoeu dele)... Eu paguei o filho da puta. Só que ele ao invés de pegar o holerite & vazar, foi pra seção dele, na área de extrusão de plástico, e disse que havia recebido. Disse que era o phuddiddão, e que eu era um "loque". Véio, aquela merda correu como um rastilho de pólvora, de repente a fábrica toda sabia que eu havia pago o cara...Não deu outra, os caras ficaram sabendo lá na matriz. Era hora do almoço, quando o velho chegou. - A primeira coisa que ele disse, aos gritos, foi o seguinte: - Eu não lhe disse que não era pra fazer pagamento antecipado, seu merda!!! - Eu senti aquele ódio crescendo pelo meu corpo, e pensei: - Eu vou matar os dois... De repente me vi gritando, descontrolado: - Vai tomar no cu, seu filho da puta!!! - Se você é macho, chega mais aqui, que eu vou meter a porrada em você, no seu filho, e nesse filho da puta!!! ( O velho medrou, o filho se cagou, e o operário achou melhor vazar). Nego me segurou, eu queria matar o velho de todo jeito, aquele ladrão de mão de obra, aquele explorador do caralho. Peguei um táxi e fui pra casa, cheguei tremendo. Minha mulher me viu naquele estado, eu disse: - Perdi o emprego... - Ela perguntou: - O que houve? - Eu respondi: - Foi a velha luta de classes, a guerra entre capital & trabalho. - Foi esta bosta toda que aconteceu. Fui.

"As hippies"

(Esse conto é à la Bukowski, recomendo aos puritanos de plantão, que não leiam). Mas se você curtir uma boa história, que fale de amor, de ternura & sentimentos, pode ler, você vai gostar. - Eu peguei umas roupas, uns maços de cigarros, oitenta dinheiros, e fui dar um "perdido". Me deu um estalo! Niterói! Peguei a barca na Praça XV, tipo umas seis horas da tarde. O programa seria dormir na praia de Icaraí, passear sem destino & sem hora pra voltar. Como de hábito, me acomodei no convés, para ir vendo o mar, as ondas, e curtir os meus pensamentos. Estava ali distraído, fumando um "Minister e as três chegaram. Uma delas falou: - Tem um cigarro aí, menino ? (Eu simplesmente odiava, ser chamado de menino). Dei o cigarro e não puxei conversa. - Ela perguntou:- Você está indo pra onde ? - Eu disse que não sabia...- Você não tem rumo ? Não sabe onde vai? - Não, eu não sei onde vou...(As outras duas se achegaram, e começaram a conversar comigo). Uma delas disse. - Vem com a gente...Nós vamos dormir em Piratininga, vamos passear lá e passar a noite. (A que parecia ser a líder perguntou: - Você tem dinheiro ? Eu disse que tinha oitenta dinheiros. - Você tem droga? Eu disse que não). - Não tem maconha, marijuana, pot? - Eu disse que não tinha essas merdas... Ela balançou a cabeça, como dizendo: - Mais um bosta. - Mas elas me aceitaram e eu fui bater pernas com elas. Duas eram brasileiras, a terceira era gringa, não sei australiana, canadense, ou americana. Chegamos na praia, já estava anoitecendo, escolhemos um lugar pra ficar. - Apareceu um baseado, nós fumamos, descontraímos, ficamos amigos. Eram garotas bonitas, via-se que aquelas hippies tinham trato, gente de família endinheirada. Eu acho até, que elas estavam mais pra groupies, do que hippies... Nós lanchamos, (elas tinham bolachas, pão & refrigerante). Apareceu mais um beise, nós detonamos com ele... As duas foram passear, e eu fiquei conversando com a gringa. Pintou uma garrafinha de rum Baccardi, que foi devidamente consumida...Na hora de dormir, elas me colocaram no meio, e eu fiquei ali bem quietinho, na minha...Cochilei um cadinho, e senti a mão boba me bolinando...( Alguém disse: - Abre o zíper e desce a calça um pouquinho...(Senti o meu membro sendo acarinhado, apertado, ela me beijou na boca, e disse fica bem quietinho)...Eu no meio daquelas duas garotas...Meio que intimidado, fiquei quietinho. Ela veio e montou em mim...A outra pegou a minha mão e levou na intimidade dela... Eu ali, sendo "comido" por elas... A primeira gozou, e saiu de cima de mim... A segunda, veio & me montou também... Depois que ela gozou, ela disse: - Agora você pode gozar, goza bastante, vai...Eu agarrei aquela princesa e me acabei ali...- (Eu estava preocupado com o outra, a gringa. Será que eu conseguiria com ela também?) Mas a gringa ficou na dela... Na manhã seguinte, nós já éramos íntimos, ríamos brincávamos, fomos tomar banho de mar juntos... Quatro crianças se divertindo. Nós ficamos vários dias juntos. Passeamos, pegamos carona, namoramos, (menos a gringa). Elas gostavam de trepar por cima, eu nunca tive nada contra. Nunca tive esse machismo de querer ir por cima, por baixo, ou coisa que o valha. - Aliás, eu sabia a história de Adão, que era um puta machista, e não deixava Lilith ir por cima... Até que um dia a Lilith se emputeceu, e virou um demônio, que aparecia à noite, pra cortar o pau dos caras & roubar as criancinhas... Eu não iria entrar num "enrosco" desses... A líder, a que comandava o trio, era filha de um industrial & tinha um apartamento na Barata Ribeiro. Ela pouco ia lá, (mas todas as vezes que nós fomos ali, tinha comida & dinheiro na mesa da cozinha). Acho que o velho mandava abastecer a casa. Numas dessas vezes, que eu estive lá, a gringa disse: - Vem tomar um banho comigo, vem... Eu olhei pras duas, e elas fizeram sinal que eu fosse...- No que eu entrei, a gringa me agarrou, me beijou, e mandou que eu ficasse pelado...Nós ficamos nus, e ela começou a me fazer carinhos... Sentou-se no vaso e me chamou...Me fez um pouco de sexo oral e disse: - Eu quero que você se masturbe para eu ver...Véio e bom Charlie... Eu fiquei com vergonha, eu disse pra ela que tinha vergonha... - Ela disse, não tenha vergonha, isso me dá tesão... eu comecei a me masturbar, pra ela ver. - Daí eu perguntei, chega??? - Ela não quis que eu parasse, eu estava meio constrangido, então eu disse pra ela: - Quero que você se masturbe também, eu quero ver...Eu peguei a figura de surpresa, mas ela concordou. - Véio, vou confessar, vendo aquela dona se masturbar, me deu o maior tesão... Nós nos atracamos ali, de tal maneira, que se podia ouvir os berros dela lá fora. Depois fomos pro point delas, lá no Leme. Eu fiquei com aquelas hippies, bem uns dois meses... Depois eu vazei. - Elas eram muito pra minha cabeça... - Fui.

"A importância do asilo diplomático"

"Tempos feios de ditadura militar. Eu estava em Santa Teresa curtindo discos de rock com os amigos, e bebendo as coisas que eles tinham lá. De repente o buchicho... Os militares estão fechando o bairro. Vão fazer uma varredura...Eu morava na Bento Lisboa, no Catete, (era um "estirão" até lá). Saí e fui descendo o bairro, e era milico pra todos os lados. Naquela noite eu senti medo... (O menino valente se cagou de medo). Não que eu fosse um "suberva". Mas não era nada agradável ser pego pelos milicos. Não havia condução, não havia viva alma nas ruas...(Existia um tipo de toque de recolher naqueles tempos). Um estado de sítio meio camuflado... Naquela noite o menino valente teve medo. Sentei-me e chorei...Chorei todas as lágrimas, das saudades de casa, das minhas infelicidades mais escondidas. Da minha coragem mentirosa. Fiquei ali, quietinho, escondido nas sombras da noite. Lembrei-me das palavras da minha mãe: - "Seja sempre sincero, coloque a verdade acima de tudo, e as coisas darão certo". Eu tinha um número de telefone, e resolvi ligar. Naquela época, era difícil de se encontrar um telefone público. Telefone era coisa rara... Eu saí procurando e achei um na rua, (não me lembro o nome da rua), mas era lá em cima, nos Dois Irmãos. Liguei a cobrar...Telefone tocou, tocou e nada, eu já estava quase desligando, e ela atendeu, sonolenta...- Eu disse, sou eu... Ela com aquele sotaque francês...- Quem é?- Eu o Alex. Ela deu um suspiro suave, e perguntou de novo, é você mon petit? - Sim.- Contei dos meus apuros, dos meus medos e comecei a chorar...Soluçar...(Ali o menino valente se revelou)....Um menino medroso, triste, assustado. Contei tudo, todos os meus terrores...Ela disse: - Pega um táxi e vem pra cá...Não havia táxis aquela hora, não havia dinheiro também... E aquele anjo me disse assim: - Eu vou buscar você aí, me espere. Eu ainda perguntei, e os seus pais? E ela me respondeu que eles estavam viajando a trabalho. Em tempo: Ela era filha do cônsul, dum país de língua francesa. Eu expliquei onde estava, e fiquei aguardando. Passado uns trinta minutos apareceu um Citroen Cara de Sapo, do corpo diplomático, e eu entrei rapidinho nele. Na frente iam, uma matrona gorda e um jovem motorista branquelo. Atrás estava ela, de olhos arregalados, assustada. Ela me abraçou, me apertou com carinho, querendo me proteger de todas as maldades do mundo. E nos beijamos, (na realidade, eu não estava muito nesse clima de beijos). Ela era mais velha que eu, acho que tinha uns 25 anos, Eu era um meninote ainda. Chegamos no consulado e o carro parou num anexo, e ela me empurrou rapidamente pra dentro e disse preu ficar quietinho. Voltou com um lanche, me lembro ainda hoje. Tinha croissants requentados, tinha aquele pão doce que matou Maria Antonieta, brioche, tinha sucos e geleias. Depois me colocou na banheira, me deu banho, (sempre me chamando de mon petit, mon amour). Nos deitamos e fizemos amor. No dia seguinte, me deu dinheiro e me mandou pra São Paulo. (Eu senti ali, que nunca mais veria aquela garota). Soube depois que ela havia se casado com um "figurão" do governo do seu país... (Eu fiquei em casa, em Sampa, até a coragem voltar). - Voltei ao Rio um mês depois...

"Hungry/Homeless"

Aquele dia eu estava triste, (e com fome). Saí caminhando desde o Flamengo, e fui ali pelo Aterro, chorando as minhas "pitangas". Havia decidido ir até o Calabouço andando, me sentar e ficar curtindo os meus pensamentos. Eu gostava de andar, naquela época. A fome me deixava triste, pensativo & deprimido. Caminhava pelas pedras, parava um pouquinho, me sentava e conversava com o meu pai. Meu pai havia morrido quando eu tinha três anos, isso me gerou uma raiva dele. (Como é que um pai pode morrer, e deixar um filhinho de três anos no mundo?). Aquele cara me fazia muita falta, (mesmo sem eu ter conhecido ele). Eu precisei fazer muita análise, pra perder a bronca que eu tive dele. Fiz análise de grupo, demorei muitos meses pra conseguir colocar aquela raiva toda pra fora. Mas voltando a caminhada, comecei a ouvir muitas risadas & gargalhadas a frente. (Que merda será essa?). Era um grupo de pessoas, tinha umas crianças, umas mulheres e uns caras. Pensei com os meus culhões, ops, botões. "Vou me sentar próximo deles, quem sabe até roubar um pouquinho daquela alegria"? Sentei-me um pouquinho longe deles, pra ficar ali ouvindo os risos...Eles riam, brincavam... E eu ali, me sentindo um desses cachorros de rua, que ficam próximos de nós, quando estamos comendo alguma coisa, mas não tem coragem de pedir. Eu devo ter chamado a atenção das crianças, por que elas vieram até onde eu estava. Brincaram comigo, eu brinquei com elas, meu coração foi se alegrando um pouco. Aquela simplicidade das crianças, aquela facilidade de fazer amigos...Num dado momento, se fez o silêncio, as risadas pararam... Estavam todos os adultos olhando pra nós. Eu os cumprimentei com a cabeça, dei um sorriso meio sem graça. Voltei minha atenção pras crianças, mas a alegria ali havia murchado. Uma mulher se achegou , me olhou e disse: - Oi menino... eu respondi com um oi também. Conversamos e ela perguntou se eu estava com fome. Eu ri, meio sem graça, e disse que sim. - Então ela disse, vem comer alguma coisa com a gente..(eu reparei que havia um fogo e duas latas daquelas grandes, de óleo, no fogo). As latas estavam tampadas com pedaços de madeira. O cheiro que saía dali era um cheiro muito bom. - Ela me perguntou, você já comeu mariscos? Eu disse que não, (mas com a fome que eu estava eu seria capaz de comer pedras, pensei). Ela destampou uma daquelas latas, e pegou muitos mariscos para eu comer. Aquelas coisas pareciam bucetinhas, tinham grelinhos & pentelhos, mas o cheiro era ótimo. Daí um cara me ensinou a comer aquilo. Ele disse: - Separe as cascas e coma o de dentro. (ele comia com tudo, com os grelos e os pentelhos. Eu comecei a comer também, só que eu arrancava os pentelhos. A turma toda se achegou, e conversamos, ficamos amigos. Eles eram pescadores, moravam longe, daí passavam os dias & noites ali. Pescavam, vendiam os peixes e ganhavam a vida assim. Eu contei coisas minhas pra eles. Eu expliquei que morava com a minha mãe lá na rua Paissandu. Disse que as vezes a coisa ficava difícil pra nós, por que mamãe ganhava pouco, e eu estava sem emprego. Eles me ensinaram a pescar, (eu voltei lá muitas vezes), me ensinaram o nome dos peixes. Os que eu poderia comer, os que eram venenosos. Me ensinaram a pescar siri. Mas o mais importante, me ensinaram o que é "solidariedade". E me disseram: - "Não passe mais fome, menino, por que o mar nos dá de comer". Depois desse episódio, eu saía a noite pra pescar siri, e colocava os "bichos" dentro de uma bacia grande, e punha a bacia debaixo da minha cama. Quando tinha fome, eu colocava uma água no fogo pra ferver e jogava um monte deles na água. Antes de matá-los, eu conversava com eles, e explicava o que era a "cadeia alimentar". As vezes eu chorava...com dó deles...

"Uma história Paulistana"

Eram umas duas horas da manhã, aproximadamente. Noite gelada, inverno paulistano dos bons. Ele andava para lá & pra cá, perdido naquele apartamento. Solidão batendo implacável, depressão, sentimento suicida, batendo, eventualmente... Ele resolveu sair, bater pernas pela cidade. Se agasalhou bem e saiu. Lá fora havia um "fog", uma névoa daquelas que se vê em Londres, macabra & depressiva. Andou por um tempo, absorto em pensamentos e lembranças, (lembranças que faziam questão de perturbá-lo, de incomodá-lo). Fazia um bom tempo, que ele já estava arquitetando o suicídio, quem sabe hoje tomaria coragem, e daria o passo derradeiro ? Cumprira com todas as obrigações, de pai, esposo, de patrão... Mas nessa noite, precisamente nessa noite, ele se sentia no ocaso da vida. Havia saído sem destino certo, (nunca tivera coragem de fazer isso), andar a esmo pela cidade, na madrugada. Ele acordara se sentindo velho...(Tem certos dias que as pessoas se sentem velhas, cansadas)...Durante o correr do dia, ele disfarçou, se distraiu no trabalho, com os amigos. Fez happy hour e tudo mais. Mas essa madrugada, as coisas pesaram, os sentimentos ruíram com toda esperança que poderia haver, naquele velho/jovem coração. (Ele já andara bastante, nem se dera conta da garoa, que caía, bem fininha). Avistou a mulher, encostada no poste, bem agasalhada, fumando um cigarro... Seria uma prostituta? Ela era elegante, (não usava aquelas roupas chamativas, de puta). Tomou coragem & aproximou-se, (nunca, em toda sua vida, havia conversado com uma puta). Ele queria apenas alguém para conversar, mesmo que tivesse que pagar. Perguntou o preço e ela disse: - Mil reais, mais o local... Ele retrucou: - E para transar & conversar? Ela rapidamente respondeu: - Mil e quinhentos, mais o local...- Ela então perguntou: - Você sempre contrata as putas para conversar? Ele disse: - É a primeira vez na vida, eu nunca me relacionei com prostitutas... Eles pegaram um táxi e foram para o Hilton, lá no final da Ipiranga. Chegando no hotel ele preencheu a ficha, pediu que mandassem uma garrafa de "Old Parr", e porção dupla de algum tipo de queijo. Já no apartamento, despiram-se e deitaram-se. Ela era uma moça muito bonita, as roupas eram de bom corte, tinha mãos bem cuidadas, cabelos também. O perfume que ela usava era de muito bom gosto. Ele pensou: - Essa mulher é uma puta diferenciada... Começaram a conversar, ele contou as coisas da vida dele, havia tido três filhos, duas moças e um rapaz. Tinha uma empresa, não era rico, mas vivia bem. Disse que era viúvo, foi fazendo a "catarse" dele. Ela, como boa analista, ouvia tudo, tranquilamente. Entre rodadas & rodadas de "Old Parr", a conversa foi ficando mais descontraída, (não fizeram sexo, até ali, só conversaram). A certa altura da conversa, ele perguntou? - Você não é prostituta de verdade, não é? - Ela respondeu que não era, fazia aquilo apenas por vingança. (?). Então ela explicou: - Eu sou casada com um homem que não me respeita, para ele eu sou apenas sua propriedade. - Me maltrata...- Eu tenho duas filhas lindas, ela disse. - Eu moro no Jardim América, tenho propriedades no Guarujá, em Campos do Jordão - Sou da sociedade paulistana.. - Mas como vingança? - Ele perguntou...- Quando eu não aguento mais, eu saio para dar para o primeiro que aparece, é a minha forma de vingança. Depois, quando chego em casa, ele me possui, mas não imagina que eu já fui de outro... ...Eles se abraçaram, (por fim), e adormeceram... Ao acordar, eles fizeram amor, riram, (já havia uma cumplicidade entre os dois). Tomaram banho juntos, amaram-se de novo... Finalmente, pediram o café no quarto... Na hora da despedida ela devolveu o dinheiro para ele. - Ele perguntou o porque daquilo, e ela respondeu: - Hoje, com você, eu não fui puta, fui apenas uma mulher, pegue o seu dinheiro... Abraçaram-se, se beijaram & sumiram nessa Paulicéia louca. - Foi isso.

"Monalisa"

Ela tinha aquele sorriso, o sorriso da Monalisa. Não era um sorriso de submissão, ou de desdém, era apenas o sorriso da Monalisa...Misterioso, prometedor, amoroso...(O olhar era doce, os olhos carregavam emoções, promessas)... Eles estavam face to face, juntinhos, não se falavam, (palavras quebrariam aquele encanto)... Ele acariciou o rosto dela, sem pronunciar uma palavra sequer... Ele apenas pensou: - " Eu gostaria de visitar o seu corpo", (era como se ela houvesse entendido o pensamento). Os lábios se tocaram, numa leve carícia...As línguas se cruzaram, num beijo apaixonado...(Aqueles corpos se aproximaram, se entrelaçaram)... Eles apenas curtiam as sensações, os tremores, os arrepios...A energia que fluía deles era muito forte, ao mesmo tempo suave... Despiram-se rapidamente, como se os segundos pudessem destruir, esvanecer tantas sensações. A primeira carícia partiu dele, beijando aqueles seios, acariciando aqueles mamilos suavemente.... Se abraçaram de novo, corpo querendo entrar em corpo...Ele beijou o colo dela. Ela guiou a cabeça dele em direção a sua intimidade, ele beijou suavemente ali. Ela tremia, se arrepiava, ele curtia, intimamente, o prazer dela... Ela atingiu o clímax, aos sussurros... Beijaram-se de novo, trocando sabores, odores, Língua com língua. Corpos que se procuravam, no desespero do sexo, da paixão. Ela começou a retribuição, beijando os mamilos dele, acariciando & beijando o tórax dele... Até chegar lá, (na fonte de prazer dele)... Ele por sua vez, também murmurava sons desconexos, chegando ao prazer de forma avassaladora, sentindo aquela fraqueza nas pernas... Beijaram-se de novo, trocando sabores, odores... Ficaram abraçados por longos minutos, tentando restabelecer a força dos corpos. Ele introduziu o sexo na fonte de prazer dela...Sem palavras...Sem se mexer, praticando o sexo tântrico. Chegaram ao clímax juntos, como dois animais... Beijaram-se, vestiram-se, & se perderam no mundo... - Monalisa... Esse era o seu nome.

"Os últimos dias de Pompéia"

Tomatino & Yoffe resolveram organizar uma festa com esse título. Isso foi lá pelos idos dos anos 80's. Fui convidado pelo Yoffe para aparecer por lá. Nessa época eu morava na zona leste de Sampa. Resolvi convidar o meu cunhado, o Emanuel,mais conhecido por Mané. Ficamos de nos encontrar com o Yoffe, na casa dele, e de lá irmos pra festa. A festa seria num salão na Pompéia. Chegamos na casa do brô, tomamos uns uisques, e ele nos levou para o salão. Nessa época, eu bebia moderadamente, socialmente. Eu conseguia matar uma garrafa de uisque, desses de segunda linha (Grants, Black & White, Balantines, etc.), em exatamente 17 minutos. (Hoje eu não bebo mais nada, eventualmente, uma taça de vinho). Mas o grande campeão, "o cara"), era o Mané. Mané bebia de tudo, e não fazia cara feia. Essa festa tinha tudo pra "arrebentar a boca do balão". O conjunto era muito bom. o nome dele era "Sossega Leão". Os caras tocavam uma salsa maneira, estavam no começo da carreira, (depois vieram a fazer muito sucesso). Bem, voltando a vaca fria. Yoffe nos levou para o salão, era cedo ainda, só tinha uns gatos pingados lá. Meu, bebida tinha a rodo. - Yoffe teve um estalo e disse: - Você e o Mané vão cuidar do bar pra gente. Vocês são da minha confiança e eu preciso fazer caixa, por que eu investi uma grana "preta" nessa merda. Eu fiquei meio assim...Pela grana não, por que a gente não ia prejudicar um amigo, mas pelo perigo. O perigo de colocar as raposas dentro do galinheiro . Só de vodka tinha umas vinte caixas, (apesar de que essa vodka Smirnoff não era a minha predileta). Eu gostava de Wiborova e Stolichynaia. Olhei pro Mané...Ele estava todo animado, feliz com aquela fartura de "mé". Meu, eu senti um pressentimento ruim. Alguma campainha tocava na minha cabeça, "isso vai dar merda". Yoffe arrumou tudo, explicou e perguntou pro Mané, -'Ta tudo bem? E o Mané respondeu, "tá tudo pela ordem, tá tudo pela ordem unida do exército nacional". Meu, um parêntesis: Os caras divulgaram mal a festa. Na hora do pico, devia ter umas sessenta pessoas só, no salão. O bar funcionando normalmente, ou seja: Uma vodka pro cliente, duas pro Mané, duas pro cliente, três pro Mané. As vezes, uma ida ao banheiro, pra fazer a cabeça. Lá pelas tantas, o Yoffe voltou, viu o movimento e ficou meio cabreiro, (sentiu que ia perder uma grana razoável). Deu umas carburadas com a gente, no banheiro, e disse, "eu vou matar o Tomatino, aquele filho da puta". Bem, resumindo, a festa acabou, eu e o Mané estávamos de cabeça feita. (Mané tomou bem umas 3/4 garrafas daquela vodka.). Pegamos o que sobrou de bebidas, colocamos no carro do Yoffe, e fomos prá casa dele. Yoffe bufava de ódio. Tinha perdido din din. Já eram umas quatro da matina, fomos dar uns "tiros" e beber a saideira. Meu, aí começou a merda. Yoffe pegou uma garrafa de vodka e arremesou na direção do Mané, passou pertinho da cabeça dele..Aquela merda quebrou e espalhou cacos pra todo lado, a roupa, os cabelos, Mané era puro susto e cacos de vidro. Mané pegou o gargalo da garrafa e disse suavemente, "eu vou ter que matar esse cara"...Sururu feito, eu no meio apaziguando... Gente, deixa pra lá, acabou... Yoffe envergonhado pediu desculpas...Mané aceitou e vazamos dali. - Era uma noite úmida, gostosa. Nós saímos dali e fomos caminhando pela noite. Se ouvia os nossos passos... Tóc, tóc, tóc...Paramos de repente e caímos numa gargalhada incontrolável . Andamos pra cacete, aquela noite. Desde o Alto de Pinheiros até o centro, pra pegar o busão. Os operários andando apressados...Cheguei em casa de fininho, tirei a roupa e me enfiei na cama, de "conchinha" com meu amor.- "A vida era bela". Piú bella.

"Celina"

Tudo bem Bonnie, tudo bem...Você quer que eu conte a história da Celina. (Bonnie é uma amiga imaginária, eu tenho muitos amigos imaginários). Bonnie é esposa do Clyde Barrow. Eles aprontaram muito na década de 30, no meio oeste americano. Roubaram bancos de montão, fizeram coisas ensandecidas. Eu converso com os meus amigos sempre. - Mas Bonnie, amiga querida, você só quer saber de histórias de sacanagens, putaria...Esse povo das redes sociais vão pensar que eu sou um velho devasso...- Áh, eu sou um velho devasso, 'tá bom. eu conto a história da Celina. Lá vai. - Anos setenta, zona leste de São Paulo. Daquelas casas que mamãe administrava, a da frente era uma clínica dentária. Eu nunca havia reparado naquele povo, eu ficava na minha, no nosso quintal. Eu, como bom carioca, só andava de sunga, no meu quintal. Véio, isso provocava um puta rebuliço no bairro. Tinha gente, garotas, que entravam lá, só por curiosidade, pode um trem desses? Eu estava nessa época, fazendo um curso intensivo de vagabundagem, em Sampa. Eu subia no telhado pra empinar pipa, isso mesmo, pipa!!! - Bonnie, era bom pra caralho, eu passava o dia inteirinho empinando pipas. - Pipa é aeromodelismo de pobre. - Eu ficava ali, só cortando as pipas da molecada, cortava "na mão", só pra dar tristeza neles. Bonnie: - Um dia eu olho de soslaio e tem alguém me urubuzando no vitrô da clínica, o vitrô dos fundos, o do banheiro.. Áh Bonnie, eu fiquei com vergonha...Mas dei uma sacudidinha com o pau pra lá, só pra ofender um cadinho. - Você sabe, Bonnie, ninguém gosta de ser espionado.- Tinha uma pessoa lá que gostava de me corujar, eu já estava ficando sem jeito. Eu também comecei a prestar mais atenção aquele lugar. - Meu amigo Clyde Barrow, um dia apareceu uma louraça lá de parar o trânsito na Paulista, às dez da manhã.. - Áh véio, aí nós fizemos amizade...Era a Celina, a xoxota mais gostosa da Vila Santa Isabel. Eu não sei que porra de trampo era aquele da Cê, ela passava mais tempo nos fundos da clínica, do que atendendo os clientes. A Cê era gostosa e sabia. - Ela era casada com um cara que estava puxando uma cadeia comprida, lá no Carandiru. - Eu tentei segurar a minha petralha, por que mulher de bandido eu tinha medo. Mas já era tarde, a Celina já havia me escolhido como presa fácil... Meu, era só minha mãe sair e a Celina arranjava um jeito de ir lá pra casa.. - Meu "merdrômetro", dava picos, avisando, cuidado, isso pode dar merda. Mas quando a gente é jovem, a gente pensa mais com a "cabecinha". Uma tarde, eu estou em casa, passando cerol numa linha e chega a Cê, gostosa como sempre, e diz: - Alê, eu posso tomar um banho aqui, na sua casa? - Demorô. Pode Cê, tem toalha ali, sabonete, se vira aí. Meu, passou um tempão e nada da Cê aparecer! Eu fiquei preocupado, entrei em casa e lá estava a Cê, deitada de bruços, peladinha na minha cama, com todos os atributos de gostosura, que ela havia recebido dos céus. - Bonnie, sua filha de uma puta, eu comecei a beijar aquela delícia desde o cangote, fui descendo, beijei as costas, a bunda, as pernas os pés... - Depois só me restou entrar com tudo, (foi o que eu fiz). Resumindo a ópera, comi mais umas cinco, seis vezes, e saí de fininho. O marido era cadeeiro e eu tinha que cuidar da minha saúde. Depois disso, eu soube que ela teve um bebê, e colocou o nome de "Alecsandro". - Será que esse bacurizinho era meu? - Foi isso Bonnie, contei, agora pare de me encher o saco. - Vazei!!!

"Amor impossível"

Puxa vida Alê ! - Você está desempregado de novo? - Eu estou Verinha... Estou sem emprego, sem dinheiro e a mãe está lá em São Paulo. (Vera era a maioral numa agência de empregos, era amiga da minha mãe, de muitos anos). Ela me conheceu menino, lá em Niterói. Ela que era tão educada disse: - Merda, merda e, merda!!! Ficou pensando uns minutos... Disse: - Eu tenho uma vaga aqui, mas tenho até medo, de mandar você lá...Você pode me colocar em má situação, o trabalho é de muita responsabilidade, e você carece desse predicado. (Fiz minha cara de triste, de infeliz). Vera que era tão fina disse, é pra trabalhar com uma diretora de empresa, direto com ela. Se você fizer cagada lá, eu juro que enfio umas porradas na sua cara...Eu vou recomendar você... - Eu disse: - Verinha minha princesa... - Ela disse baixinho, princesa é o caralho, eu estou fazendo pela Mariazinha, sua mãe. Dia seguinte: Avenida Rio Branco. Coloquei uma roupa legal e fui. A empresa era Companhia Expresso Federal, (Federal Express). Tomei aquele chá de banco, de praxe... - A secretária diz: - A senhora Gina vai recebê-lo agora, venha comigo. Entro, (fazendo o meu gênero mais tímido e babaca possível). A senhora Gina era uma mulher de uns trinta anos, corpão, bonita, e usava um tailleur super elegante e óculos tipo professora. Gostei dela assim que vi. - Ela falou: - Eu preciso de alguém que possa agilizar o meu trabalho, vai ficar aqui, direto comigo, vai receber as ordens diretas de mim. - E eu não aceito erros, errou será despedido, você entendeu? - Sim senhora... - Se estamos entendidos, você começa amanhã, às nove horas, e não aceito atrasos. - Tão bonita e tão "Caxias", pensei... - Charlie Brown, meu brô, eu trabalhava pra cacete, aquela dona não era brinquedo não...Até absorvente eu comprava pra ela. - Véio, eu estava gamadão nela, eu fazia qualquer merda, só pra agradá-la. - Tinha dias, que ela era super tirana, e tinha dias que era pura ternura... Eu "xonei". Aos 17 anos, eu "xonei". - Ô Charlie, eu vou confessar procê, eu bati algumas bronhas pensando nela. - Eu me imaginava comendo aquela mulher de 30 anos, aquela "balzaquiana", como se dizia na época. - Eu já estava, (como todo office boy de luxo), papando uma grana para o meu uso pessoal; - Ela dizia: - Toma esse dinheiro, pega um táxi e entregue os documentos rapidinho lá. - Charlie, eu pegava o "busão" e malocava a grana. - Eu ganhava bem, lá. Acho que o salário de menor, na época, era uns 150 dinheiros, mas eu ganhava bem mais, uns 420 dinheiros por mês. (Ela sempre colocava umas horas extras de presente). Também! Eu queria era ficar com ela, e nós sempre saíamos mais tarde do trabalho. - Véio, aquele ano passou rapidinho, quando eu me toquei já era o fim do ano. A Vera da agencia de empregos estava super feliz, me ligava, dizendo que eu havia tomado juízo, aquelas merdas todas... Uma semana antes do Natal, a Gina disse: - Nós vamos fazer uma festa de final de ano para os funcionários, todos os anos nós fazemos. - Eu exijo muita cautela e moderação dos meus funcionários... - Eu disse: - Dona Gina, pode ficar tranquila, eu sei me portar. (Eu me lembrei da minha amiga cafetina francesa, daquele puteiro na Bento Lisboa, 41 sobrado). Depois que madame Antoanelle tomava uns vinhos a mais, ela gostava de me ensinar etiqueta. - Ela dizia: - Alexandrééé, quando você estiver numa festa, ou numa reunião, onde haja bebidas, nunca encha a cara. - Fique só enganando, com um copo na mão, por que coisas muito doidas vão acontecer, e você tem que estar lúcido. As mulheres bebem, os homens mais ainda, e você terá grandes chances de se dar bem... - E lembre-se bem disso: - O álcool tem duas fases, a fase da euforia & a fase da depressão. (Eu nunca mais me esqueci dessas lições). - Meu amigo Charlie, festa de americano é tudo misturado, gente do alto escalão, com gente do baixo. Bebida é a rodo, comida, nem se fala. - Meu, eu estou na festa, só enganando, com um cuba libre fraquinho, nêgo tá enchendo o pote, minha diretora só no champanhe, a diretoria toda reunida, tomando mé pelo ladrão, o "baixo clero", pagando mico, dando vexame, (como sempre). E eu só enganando, já só de coca cola com gelo... - Véio Charlie, minha diretora no meio daqueles babacas todos, entornando champanhe feito uma louca, já com o rosto vermelho, falando alto...- (Meu merdrômetro começando a oscilar, avisando que a bosta se aproxima)... Eu resolvi sair dali, estava morrendo de ciúmes. Fui pra varanda e fiquei ali, quietinho, afins de vazar dali. - Minha diretora financeira se aproxima e diz: - Acho que bebi demais... Preciso sair daqui discretamente, a francesa... - A senhora quer que eu chame um táxi? - Ela diz que sim. - Eu subo até a nossa sala, pego as coisas dela, e vamos para a portaria. - Minha diretora tá muito bêbada... Penei pra conseguir um táxi, abri a porta de trás, ela entrou, eu ia me despedir e ela fala: - Vem comigo. - Dá o endereço no Bairro Peixoto, em Copacabana, e lá vamos nós. Ela estava bem "borracha". Chegamos no prédio dela, porteiro cumprimenta, subimos... Ela não consegue achar as chaves, eu pego a bolsa, encontro as chaves. - Cara, o apê dela era muito chic, um por andar. - Gina corre pro banheiro, pra "chamar o Hugo", corro atrás, ela está vomitando, branca pra caralho, ajoelhada diante do vaso sanitário...Eu sinto dó... A mulher que eu amo, minha deusa, pagando um micão desses...Ajudo ela se recompor, lavo o rosto dela, ela lava a boca, põe um tiquinho de creme dental, se recompõe. Queda de pressão, diagnostico, pergunto se quer que eu faça um café forte. Ela está suando pra caralho, vamos até o quarto dela. Ela tira o paletózinho do tailleur, e manda eu soltar o sutien dela. Eu solto, ela se joga na cama e arranca a blusa...(peitos lindos, como eu imaginava). Arranca a saia, e surpresa... Ela usa aquelas ligas...Eu tiro os sapatos dela, ela usa aquelas meias de nylon, com costura atrás. Ali está a minha diretora, de calcinha, meias de nylon e de liga... Meu pau já está daquele jeito, de duro. Eu arranco aqueles acessórios todos, a deixo só de calcinha, ligo o ventilador. Faço menção de ir embora e ela diz: - Fica aí...- Eu me sento ao lado dela, fico cuidando, vendo, amando aquela mulher madura & bonita. Tiro toda minha roupa e me deito também... Nós estamos face to face, eu namorando, me deliciando, ela de olhos fechados...Ela se vira e fica de costas... Eu beijo aquelas costas, admiro aquele corpo, e me aconchego nele...Abaixo a calcinha dela um pouquinho, levo minha mão lá...- Saco o meu pau e vou colocando lentamente, entra tudinho, eu gozo um mar de prazer. Arrumo a calcinha dela e durmo...Acordo com ela perguntando: - Que merda você está fazendo aqui? - (Eu, idiota, deveria ter vazado logo depois, mas um cara apaixonado, comete erros). - Ela leva a mão na calcinha, sente que está úmida. Me olha com raiva & me manda pra casa. - Quando nos encontramos no trabalho, ela não comenta nada. Mas passa a me tratar com desprezo, indiferença, como se nada tivesse acontecido. Um dia ela entra na sala, e eu estou chorando, ela pergunta: - Que merda é essa, está chorando porque? - Eu digo: - Eu estou chorando por lhe amar tanto... - Me perdoe... Ela me abraça, me dá um beijo na boca & diz... - "Menino sem juízo". - Foi isso, meu amor impossível. 

"Feminismo"

Alê, você viu? - As mulheres estão rasgando & queimando os sutiens... - Eu respondi: - Caralhos, não era sem tempo... Mas pra ficar phoddão mesmo, as minas tinham que abolir as calcinhas também... Ele me olhou cheio de suspeitas, me achando meio maluco. - Eu disse: - Meu chapinha, eu não uso cueca... - As minas também poderiam abolir a calcinha. (Isso gerou todo um compêndio sobre calcinhas & sutiens). A marijuana era bem forte, e a cabeça viajava na loucura. A certa altura ele ponderou: - Sem as "carçolas", como é que elas poderiam prender os absorventes ? (Ainda não havia o advento dos O.Bs, aqueles que elas enfiam na xana). Eu, prevendo o futuro disse: - Elas podem enfiar algum treco na xereca, quando estiverem de "chico"... O filho da puta respondeu...E as minas que tem "chico" pra caralho? Não iria dar certo... Estava eu ali, pensando na grandeza desse ato feminista, e o louco dissertava sobre "paquete"...(Menstruação). - Eu disse pra ele : - Você ainda não se deu conta da liberdade que elas vão gozar agora, com os peitos de fora. Elas vão ficar com os biquinhos durinhos...Vai ser uma coisa muito bonita, e pra chupar, vai ser o maior "boi com abóbora". O maluco pensou, pensou, deu mais uns pegas no beise e disse: - As minas são do cacete... - Eu respondi: - São do cacete, da piroca, do caralho... (Eu estava ali pensando na mina que eu namorava, ela tinha uns peitões, nem dava pra chupar direito, eu sufocava). - Fumamos o beise, e fomos guerrear com uns sandubas lá no Bob's. - Enquanto eu me matava numa salada de atum com milk shake de morango, ele pensava... Aquele papo de feminismo havia mexido com a cabeça dele...- De repente ele perguntou: - Alê, você já chupou xoxota??? - Que gosto tem?? - Eu disse: - Agora você quer entrar nas intimidades sexuais??? -Fala porra!! - Você já chupou uma xoxota??? - Eu confessei...Já chupei algumas ... - Que gosto tem? - Eu disse em tom professoral...Depende, tem xana de todos os sabores. - É bom? - Qual foi a mais estranha que você chupou? - Eu disse: - Cara, eu chupei uma mina & tinha gosto de ovo cozido.. . – E algumas tem o inconveniente de ter os pentelhos grandes, e a gente se engasga com eles. - "Tu" já se engasgou? - Já... - E aí? Faz o quê ? - Meu, aí você tem que fazer um "rááá´" na garganta e tirar aquela merda, depois você continua... - Eu pensei com os meus botões... Esse cara é maluco de pedra, não fumo mais com ele. O quê as feministas vão pensar? Senti que ele ficou impressionado, acho que terminei com uma carreira de chupador, que poderia estar se iniciando... - Eu disse pra ele...Sabe Fulano, existe mais coisas entre o céu e a terra, do que supõe a sua vã curiosidade... - Agora eu tô vazando, por que tenho um encontro com aquela mina, é... Aquela que trabalha ali nas lojas Brasileiras. – Fui.

"Ora direis, ouvir malucos"

Nós estávamos no cais do porto, (lá na Praça Mauá - no Rio). Dentinho me olhou, fixamente e disse: - Alex meu amigo, vamos embora desse pais? - Nós podemos embarcar, tipo clandestino e vazar...Eu pensei, pensei e respondi. -Você sabe o que eles fazem com os clandestinos descobertos? - Ele me olhou com aqueles olhos esbugalhados e disse:- Não... O que eles fazem? - Eu respondi: - Eles jogam os clandestino no mar, Dentinho. Se for navio de bandeira africana então, é morte certa...- E ele ali me fissurando, fissurando com aquela ideia. Eu me vi na Ilha de Capri, lugar que eu achava lindo (nos meus sonhos mais desvairados). Aquelas mulheres de seios grandes, bundas empinadas, falando um italiano macio...- Ele me tirou do desvario... - Pinheiro, Pinheiro, vamos pra Nova York, nós podemos ficar ricos lá. Nós vamos vender café nas ruas e lavar pratos. (Eu achei aquilo uma merda ).- Na Ilha de Capri seria melhor.. Nós poderíamos viver de business, vender aquelas canetas, sabe, aquelas canetas, (ele franziu os olhos e disse, que caneta ? Eu, grande homem de negócios, expliquei pra ele: - Dentinho sua anta, tem umas canetas, que tem uma mulherzinha de maiô, você vira a caneta e ela fica peladinha, nuazinha. Aquilo pra se masturbar é o must. Nós vamos ficar ricos com os punheteiros italianos. - É prática, fácil de esconder. E nas horas vagas, passear por lá. Venderemos tudo, nos cafés, a noite. Depois do trabalho o dolce far niente merecido. Mas não tinha jeito, ele queria Nova York, não ouve acordo...Me deu um estalo! Dentinho, vamos pra Minas, vamos pra Perdões. Ele como sempre fazia, franziu os olhos...Minas??? - É, Minas. - Ele topou. Eu tinha um dinheirinho guardado. - E perguntei, você tem algum dinheiro? Ele me olhou sério e disse: Pinheiro, eu tenho muito dinheiro escondido. (???).- Eu estou com alguns milhões de marcos alemães (???).- Sério? Você 'ta rico? - Ele me explicou que o avô dele, um alemão velho, havia morrido, e ele deu uma geral nas coisas do velho e encontrou aquela "fortuna". Surrupiou tudo. Era um homem muito rico agora. - Bem, resumindo...- Eu disse pra ele, vamos passar lá em casa, eu vou pegar o meu dinheiro e vamos jantar na "Churrascaria Gaúcha". (Eu não poderia oferecer um jantar de merda, ao meu amigo milionário). - Só para vocês se situarem no tempo, a Gaúcha seria tipo o "Porcão" hoje. O jantar levou a metade das minhas economias. Mas eu sabia que a miséria havia acabado. Combinamos de nos encontrar em frente a casa de câmbio, no dia seguinte. Trocaríamos alguns milhares de marcos e iriamos de avião. - Meu, na hora que o "Dente" abriu a mala, eu quase caí pra trás. Era dinheiro pra cacete. Um dinheiro bonito, tinha umas notas grandes, de 1 milhão de marcos, tinha notas de 10 milhões de marcos. (Eu cresci os olhos). Entramos na casa de câmbio, fazendo pose. Dentinho falou pro cara: - Eu gostaria de trocar alguns marcos alemães... O cara perguntou: - Quantos marcos seriam, e ele fazendo beicinho disse - 1 milhão de marcos. O cara arregalou os olhos, chamou um cara lá dentro. (Eu já estava começando a sentir o velho e terrível cagaço). - O cara pegou a nota e disse: ESSE DINHEIRO NÃO VALE NADA!!!- Esse dinheiro é da época da guerra, não vale porcaria nenhuma.- Meu primeiro instinto foi matar o Dentinho ali mesmo...Depois fiquei sabendo que aquela fortuna toda, não comprava um litro de leite, na Alemanha, na época da guerra. - Dentinho me phuddeu - "Ora direis, ouvir malucos"...

"A filha do comandante de mar & guerra"

A filha do comandante foi um grande terror & um aprendizado na minha juventude. Em 68, ditadura comendo solta, eu conheci a dita cuja, a devassa, fui perseguido por ela uns bons meses, mas consegui vazar. Eu era conhecido do irmão dela, um babaca, lutador de caratê, e metido a valentão. Eu não era amigo dele, na realidade, eu tinha medo do cara. Ele era grandão, e cruel, (playboy). Ela estudava naquele colégio de ricos, (Sagrado Coração de Jesus). Era bonita, tinha umas coxas roliças e uns peitinhos bem durinhos. Sorriso pra lá, sorriso pra cá, e eu consegui sair com a danadinha. Na hora de trepar ela disse: - Eu sou cabaço e estou noiva do militar fulano. Mas eu posso dar o "lóló" pra você, você gosta? Véio, eu tinha dezoito anos, é lógico que iria encarar a empreitada. Eu nunca havia ouvido falar em pompoarismo, mas aquela mina fazia coisas com o "lóló", que eu nunca, nos meus maiores delírios, imaginei ser possível. Ele, o "lóló" dela, conversava com o meu pau. Apertava dali, soltava daqui...(Nós trepamos umas cinco vezes, e depois a coisa foi caindo na rotina, e eu empapucei). Aí começou o terror. A mina começou a me perseguir, e a me chantagear. Dizia que ia me dedurar pro irmão, dizendo que eu comi ela na forçada, e o brô ia me meter a porrada. Eu senti medo, quem tem cu, realmente tem medo. Uma tarde, eu estou com os irmãos, tomando um chopp, ali perto do cine Paissandu, e a mina para o carro e acena, me chamando...(Meu amigo Charlie, senti um cagaço real). Eu tinha medo dela, o tesão tinha ido pras picas. A filha do comandante de mar & guerra diz: - Entra nessa merda logo, seu bosta! - Eu entro e ela diz: - Vamos phudder, hoje eu tenho novidades pra você. - Me levou pra um apartamento vazio, lá na rua das Laranjeiras, só tinha um colchão e umas garrafas de cervejas vazias. - Disse: - Eu li numa revista de sacanagem francesa, umas coisas sobre sexo anal, e quero praticar com você (???) - Hoje eu quero que você chupe o meu cu (???) - Cuma??? - É, chupar, enfiar a língua todinha lá dentro... - Eu disse, vou não, tô foríssimo. - Não enfio a língua aí nem phuddenddo. - Pode mandar o seu brô me quebrar... - A devassa disse: - Pode ficar tranquilo, eu fiz um "clister", "ele" tá limpinho, sem merda. E "tu" vai chupar ele... - Sacou uma garrucha calibre 22 e disse, se "tu" não fizer o que eu estou mandando, vou dar um tiro no seu pau...- Amigo Charlie Brown, eu confesso... - Ela arreganhou o "toba" pra mim, e eu fui enfiando a minha querida língua lá dentro. No começo foi difícil, (devo confessar), mas depois eu fiz o serviço direitinho. - Enrabei ela e ela ainda perguntou: - Viu? Foi tão ruim assim? - Eu estava envergonhado, lavando a língua com um toco de sabonete que tinha lá. - (No meu íntimo, pensei em estrangular a filha da puta , mas passou batido). - Meses depois, fiquei sabendo que ela estava prenha, o tal militar havia feito o serviço. - Nunca mais soube da filha do comandante de mar & guerra. Ainda bem...( O cu dela era doce), Fui.

"Freddo & Marcia"

(Uma história Nelson Rodriguiana). - Essa história do Freddo, começou a me perseguir há exatamente dois dias. Fazem trinta anos, aproximadamente, que eu fiquei sabendo dos acontecimentos que vou contar agora. O fantasma do Freddo veio me visitar, e pedir que eu contasse tudo. Freddo era meu companheiro de caminhadas, & de água de coco, nas manhãs ensolaradas do Parque do Taquaral, em Campinas. Depois de algum tempo, nos tornamos amigos. Ele era viúvo, tipo velho solitário. Um dia ele disse: - Quero contar uma história para você, eu prometi pra minha falecida esposa, que nunca comentaria esse assunto com ninguém, mas ela se foi, e eu preciso desabafar. Eu ponderei: - Freddo, não precisa me contar nada...São coisas da sua vida...(Mas confesso que fiquei super curioso). Ele disse: - É sobre a minha filha Marcia. (Eu nem sabia que ele tinha uma filha). Freddo só me pediu uma coisa, que eu só escrevesse à respeito, depois que ele tivesse morrido. (É uma história comum, mas carrega muitos sentimentos, fortes). Freddo veio da Itália menino, junto com os pais, assim que chegaram ao Brasil, foram morar na Moóca, em São Paulo, onde os pais abriram um pastifício. Os negócios da família prosperaram, ele estudou, e se formou engenheiro industrial e veio trabalhar numa multinacional em Campinas. Casou-se com uma campineira, e viveram alguns anos de felicidade. Tiveram uma filha, cujo nome é (ou era), Marcia. Freddo cresceu na empresa, chegando a cargo de chefia, (até ali, me disse, a vida corria as mil maravilhas). O grande problema começou, me explicou ele, quando a empresa mandou que ele viajasse pelo país, acompanhando o lançamento das novas plantas industriais da firma. Nessa época, Marcia devia ter uns dezessete anos, menina bonita, (e que namorava um rapaz italiano, de boa família). Freddo me contou que fazia gosto, desse relacionamento. O menino era trabalhador, tinha um cargo de gerência, numa multinacional de auto peças italiana. Ele era apaixonado por Marcia, tinha até comprado uma moto scooter pra ela, que ela queria tanto. Freddo viajava a trabalho e voltava nos finais de semana. A vida corria boa & próspera, me contou ele. Família tranquila, casamento a vista, tudo ia nos conformes. Mas o inusitado sempre se apresenta, as coisas nunca são perfeitas. Um dia o menino diz pra ele: - Seu Freddo, eu gostaria de falar com o senhor, em particular... Eles se trancam na biblioteca, e o menino diz: - Seu Freddo, a Marcia está andando com más companhias, com meninas de programa... - (Acho até que ela está fazendo coisas erradas)...Freddo me contou, que a primeira reação dele, foi meter a porrada no moleque. Mas ponderou e disse: - Você pode provar o que está me dizendo? Isso é muito sério... O menino disse: - Eu coloquei um investigador particular, na cola dela, e as notícias não são nada boas, me perdoe, seu Freddo. Combinaram de ir num lugar, na segunda feira seguinte, era lá na rua José Paulino, no centro da cidade. Freddo me contou, que assim que chegaram no local, o coração dele sentiu um aperto, uma tristeza, mas eles foram em frente. Era um prédio de apartamentos, eles se identificaram como clientes e subiram. (Freddo me contava isso, e as lágrimas corriam pela face dele). Quando os dois entraram no prostíbulo, lá estava a filha dele, a Marcia, cercada por umas dez meninas, aguardando os clientes. Freddo me contou que por pouco não infartou, arrumou um "pampeiro" daqueles lá, disse que ia chamar a polícia e coisa e tal, que a menina era "de menor". - Disse pra ela: - Vem comigo pra casa. - Ela se negou a ir com ele... Freddo me disse que estava tão enlouquecido, que deixou ela lá mesmo. Ele se lembra que assim que saiu do prédio, sentou-se no meio fio e começou a chorar...Me contou que foi, sem dúvida, o pior dia da vida dele, descobrir que a filha estava se prostituindo. Me disse que andou pela cidade, sem destino, chorando...- O pior, ele me disse, o que dizer para a esposa, como explicar uma coisa dessas? Mas ele tomou coragem & contou. Dois dias depois, Marcia apareceu, pegou as coisas dela, e disse que ia embora. O casal implorou que ela não fosse, mas ela irredutível, tomou o rumo do "mundão de Deus". Freddo me contou, que todas as noites, ele e a esposa, iam ao quarto de Marcia, e choravam a perda da filha. Depois de alguns meses, Marcia deu notícias, havia alugado um quarto em Moema, e precisava de dinheiro, estava passando por necessidades. Freddo disse que mandou dinheiro pra ela, (todas as vezes que ela pediu, eles mandaram). Ela nunca mais retornou a casa dos pais. A saúde da esposa, foi se deteriorando a olhos vistos. - Freddo fazia de tudo, para alegrar a esposa, mas ela fenecia no dia a dia. Ele contou que depois dessas coisas todas, Marcia se casou com um cara europeu. Que Marcia ligava, umas duas vezes por ano, para a mãe. Ela, a esposa, ficou sabendo que era avó, mas o relacionamento entre as duas foi morrendo. Eu perguntei: - E você, como reagiu à essas coisas todas? Freddo me disse: - Eu perdoei tudo, mas o problema, é que a Marcia nunca se perdoou.. - Vai viver eternamente infeliz... - Taí Freddo, eu escrevi a sua história, agora me dê sossego.







"História sem nome"

O sol estava brigando comigo, aquela manhã. Mas eu não dava a mínima. Ele queimava o meu rosto, o meu corpo. Mas não adiantava, eu fingia que não sentia nada... Ele queria chamar a minha atenção, o sol queria me dizer que havia vida, mesmo eu me sentindo triste daquele jeito. Eu havia dito à ela que não queria, que não podia aceitar. Ela me disse, literalmente assim: - Vem comigo, lá você vai ser feliz, eu vou estar com você. Aqui você não tem ninguém, é uma pedra rolando na estrada, só isso... Eu amava aquela mulher, mas não poderia aceitar o convite dela. Enquanto o sol fazia o trabalho dele, judiando do meu corpo jovem & moreno, eu me lembrava dela. - Vem, meu bem, vem ser feliz comigo. Eu consigo o "green card" pra você...Nós nos casamos lá... Você vai administrar a nossa fazenda, vamos plantar milho, vamos tomar cerveja & fazer amor... - Aos domingos nós vamos à igreja, cantaremos gospel & spirituais, teremos lindos filhinhos... (Eu não conseguia me ver, naquela cidadezinha do meio oeste, tomando cerveja, ficando barrigudo & querendo saber da vida alheia). Eu gostava dela, gostava de andar de mãos dadas com ela, gostava de fazer amor...(O sol continuava me dizendo coisas sem sentido). Eu pensei em xingar o sol. Mas que culpa ele tinha ? - Eu preciso voltar pra lá, ela me disse. Os meus velhos não aguentam mais, tocar a fazenda sozinhos, eu vou ter que abandonar você, eles precisam de mim. (Pela segunda vez em minha vida, eu estava passando por isso), me decidir, dar rumo a minha vida. - Eu estou pedindo demissão na companhia aérea, estou entregando o meu posto de comissária de bordo, ela me disse. Eu me lembro, como se fosse hoje...( - Eu disse para o sol, não adianta, eu sou muito jovem & medroso, tenho medo)... Eu acho que ela me amava, ela voltou várias vezes ao Brasil, tentando me convencer. Mas aquele dia, eu simplesmente falei para o sol: - Você fica aí cuidando da minha vida, tentando me convencer, queimando meu corpo & minha alma, mas eu não vou... Eu me lembro que numa de nossas conversas, ela disse: - Nós vamos nos divertir muito, por lá. Lá tem carnaval, você gosta de carnaval... Nós vamos a Nova Orleans, ver o Mardi Gras, o carnaval, nos vamos passear no Grand Canyon, podemos passear em Miami, no verão... Tem tantas coisas bonitas lá. - Alguns meses depois, encontrei nossas amigas, que me disseram que ela estava noiva, que havia aceitado o pedido de um cara de lá. Depois de me lembrar de todas essas coisas, eu resolvi comer uma torta de chocolate, pra aliviar meu coração. Uma não, duas tortas. (Quem sabe o chocolate me daria um novo alento?). História sem nome/sem fim & nem começo. 

"Comissária de voo"

Eu havia saído de casa às 18 horas da sexta feira. A programação era ir para o aeroporto pegar uma ponte aérea para o Rio de Janeiro, a droga é que encontrei o Giba no centro, & as coisas mudaram. Giba me arrastou lá pro bar do Amorim, na rua Augusta, e ficamos tomando uísque nacional e batendo papo. Lá pela meia noite, eu já estava falando meio "rascante" & meio zureta. O Giba me arrasta lá praquele palquinho do bar e diz: - Vamos dar uma "canja" e a gente se livra da despesa. Cantamos umas vinte músicas lá, e a bebida correu solta, (de graça, "no boi"). - Véio, quando eu me toquei, já eram quase seis horas da manhã. Sartei de banda pro aeroporto de Congonhas, tirei uma "palha", acordei tipo, umas dez da manhã. Fui ao balcão da ponte aérea e comprei o bilhete. Embarquei às dez e trinta pro Rio, Acho que era pela Cruzeiro do Sul, era sim. O avião era um Viscount. Sentei e apaguei...(Nem vi o avião fazer o contorno no Cristo, que eu gostava tanto de ver). Acordei com a mulher mais bonita do mundo me chamando. - Ei, já chegamos...Eu havia dormido durante o voo todo, estava com aquele gosto de "guarda chuva de espanhol" na boca...(Não tinha mais ninguém no avião)...Comecei a brigar com o cinto de segurança, mas não conseguia desatar aquela josta). - Ela aproximou-se, se abaixou, e começou a lidar com o cinto, pra me liberar...- Véio, aquela dona era gostosa, cheirosa & deliciosa...(Eu só consegui dizer, próximo do ouvido dela...- Você tem um cheiro delicioso)... - Ela riu, me soltou, (e eu taradamente agarrei-a). - A mina ficou quietinha, surpresa...- Taquei beijo na boca, mesmo com aquele bafo de onça... Ela correspondeu... Trocamos telefone & endereço, ela morava em Sampa. Mas nos encontramos na semana seguinte, aquela comissária gostava de sexo. Nos encontramos várias vezes, acho que até viramos namorados. - Ela sempre arrumava um jeitinho de nós ficarmos juntos. Depois ela me contou que era noiva de um professor, que estava de casamento marcado, essas coisas. Nossa derradeira trepada foi naquele hotel 5 estrelas, que tem perto do Santos Dumont. Ela foi a minha primeira comissária de bordo. Paulistana arretada, gostava de sexo requintado, com cascata de champanhe & geleia pelo corpo. Se eu não sou "puta véia", eu gamo naquela gata. - Foi isso. - Minha vida sempre foi cheia de surpresas, o inusitado sempre me perseguiu. - Fui.




"A louca do Leme"

- Ô véio, você está triste? - Eu estou apaixonado... - Ele disse: - Porra meu, toda semana você se apaixona... - Mas por quê tá triste ? - Ela é totalmente pirada, chapada ao extremo. - Quem é essa mina? - É a Andressa... - O mano respondeu: - Essa é louca de pedra mesmo. "Tu" sabe que ela já foi internada? Tomou choque e o cacete? - Não sei, e não quero saber, respondi, querendo mandar ele se phudder. - Eu estava na praia, lá no Leme, e ela chegou, pediu pra sentar do meu lado. Nós conversamos, eu em momento algum estava pensando em sacanagem. Ela nem é bonita, tem um corpo legal, mas não é essas coisas todas. Tem umas mãozonas, grandes pra caralho, tem a bunda pequena. Mas as pernas, essas são as mais compridas & bonitas que eu já vi. - Mano, ela me levou pra casa dela, os velhos estavam trampando... Tomei suco, lanchei, e quando me toquei, a gente já estava se atracando. - Véio, nós partimos pros finalmentes, quando eu estava quase gozando ela disse, "gostaria que seu pau fosse uma lança, pra apunhalar meu coração". - Eu não consegui gozar, mas me abracei com ela, e comecei a chorar... - Ela começou a dizer frases estranhas...Me chamando de seu menino e nos separamos... - A segunda vez, foi quase a mesma coisa, quando eu estava quase gozando ela começou: - "Ó cu do mundo, ó cu do mundo, por que você permite tanta merda na existência"? - Meu chapa, eu broxei de novo & comecei a chorar. (acho que essa vez eu chorei de raiva). - A terceira vez que ela me convidou, eu comprei aquelas merdas que a gente põe nos ouvidos, que protege contra os ruídos, tá ligado? - (Essa vez eu iria gozar, com toda certeza). Começamos a trepar, (ela é muito gostosa, e eu queria gozar com ela). Quando eu estava quase gozando, ela começou com aquelas merdas... - Ó bucetas do mundo, ó bucetas do mundo, aceitem todos os caralhos sem refugar" - Ela gritava aquelas merdas no meu ouvido. - Mas se puddeu... Eu a apertei mais, & mais, e a louca gritando aquelas merdas no meu ouvido... Gozei como um animal...- A Andressa me olhou com ódio e disse: - Quando você me ver na rua, desvie de mim, seu nojento do caralho... Eu odeio você, seu bosta! - Eu saí dali meio que assim, sem entender porra nenhuma... Mas saí pensando naquelas merdas todas: - Inconscientemente, eu saí dali pensando..."Ó bucetas, ó bucetas do mundo" e perdi a mulher... - Ele disse: - E você está triste por isso ? - Eu respondi o seguinte: - Eu não entendi nada, é isso. - (Uma filósofa daquela categoria e eu perdi)... - O que eu posso dizer? - Ó cu do mundo, ó cu do mundo, por que você permite tanta merda & tanta crueldade?

"Flashback"

Aquele Jaguar corria, célere, naquela estrada. Dentro, um homem & um menino, (menino pequeno ainda, de calças curtas). O homem pilotava aquela máquina com maestria. A velocidade era muito alta, o menino via as casas, as coisas passando com muita rapidez. O nome do piloto era Walter, eles estavam indo para a mansão dele, em Teresópolis. O menino se sentia inseguro, não pela estrada, mas pela estadia dele com a família do Walter...Ele gostaria de estar com a mãe dele, no Rio de Janeiro. Ele sabia que teria que dormir no escuro, e tinha medo, teria que comer coisas que detestava. Instintivamente, ele esperava que aquilo fosse um sonho, um pesadelo, e que ele acordasse logo. Chegaram em Teresópolis, uma mansão bonita, branca, num terreno elevado. A mulher do Walter foi recebê-los, (o nome dela era Lola), era uma pessoa muito boa, e gostava de crianças. Lola sentiu a inquietude do menino e disse: - Vem comigo conhecer a casa, venha ver que quintal legal, bom para você brincar... Aquele menino agarrou a mão da Lola, como se ela fosse uma tábua de salvação, e foram conhecer o quintal. O menino sentiu que poderia desabar em lágrimas, a qualquer momento, mas tentou ser forte... Lola foi acalmando aquela criança, brincando com ela, sorrindo, mostrando que estava tudo bem. Logo o menino estava brincando, correndo por aquele quintal, fazendo traquinagens, estripulias. O medo dele agora, era a hora de dormir, tinha um quarto grande, só para ele, e ele sabia que teria que dormir no escuro, ele detestava dormir no escuro, tinha medo. O leite, ele até bebeu, (ele simplesmente odiava leite). Noite chegou, e colocaram o menino para dormir, naquele quarto de cima, sozinho & no escuro... O menino cobriu a cabeça com a coberta, tremendo de medo, e tentou dormir...(Não conseguia). Ele sabia que logo logo, aquele menino apareceria para conversar com ele. Ele tinha medo do menino, (não que o menino imaginário fosse ruim, mas ele não se sentia a vontade com ele). O menino dizia que era irmão dele, e se chamava José... José dizia que morava na cabeça dele, (do menino), e que sempre cuidaria dele...(Aquela coberta era sufocante, a respiração ficava pesada, ele queria respirar direito, mas tinha medo da escuridão, estava sufocando). Abaixou a coberta, só um pouquinho, para respirar, e viu o menino. José estava sentadinho na beira da cama dele, perdido em seus próprios pensamentos, cuidando do irmãozinho dele. José se sentiu observado, olhou para ele e disse: - Olá, pequeno, eu senti que você estava com medo, e vim cuidar de você. - O menino disse: - Sabe José, eu queria a minha mãe. Cadê minha mãezinha? - José respondeu, amorosamente, nossa mãe está cuidando da vida, por isso nós viemos para a casa dos "tios", Walter & Lola. - Tente dormir um pouquinho, eu vou estar aqui, cuidando de você, disse José...- Você promete que fica aqui, cuidando de mim? - José respondeu: - Eu sempre vou estar cuidando de você, agora durma...(O menino respirou tranquilo & adormeceu), ele sabia que o irmão imaginário sempre estaria com ele. Foi isso que aconteceu naquela noite em Teresópolis.

"As latas"

Manhã tranquila, acordei tarde, tomei o meu banho & café da manhã. Me arrumei pra ir trabalhar. Batem na porta, eram dois amigos, Chilli & Leci. - Porra meu: - Vocês aqui cedo, quem morreu? - Que houve? - Leci responde. - São as latas... - Que latas? - Leci perguntou? - Meu, você não 'tá ligado nas latas? - Meu primeiro impulso, foi mandar aqueles caras à merda. - Meu, eu estou indo trabalhar, e vocês ficam aí falando em latas ? - Vão se phudder. - Leci disse, as latas cheias de marijuana (???) - Cara, eu estou indo trampar, não tô sabendo de lata nenhuma. (Leci era o mais velho de nós, já tinha uns cabelos grisalhos). - Alex, um navio de bandeira sul americana dispensou umas trinta mil latas de maconha no litoral, entre Rio & São Paulo. Já tem nego que pegou umas, a erva 'tá" chegando as praias, as correntes estão despejando essas latas pra todos os lados (???) - Eu disse: - Beleza. - Leci disse: - Beleza é o cazzo, você vai com a gente pegar umas latas (???). - Véio, eu estou indo trabalhar, eu preciso comprar as coisas aqui pra minha casa, como é que eu vou correr atrás de latas? Leci era corretor de imóveis, ganhava um bom dinheiro, mas era um sovina de marca maior... Aquela semana, ele havia vendido dois imóveis, estava bonito na fita, pegou umas comissões boas. Chilli que estava calado até aquele momento disse: - Se você não for, eu também não vou. (E o Leci ali, viajando, por causa das malditas latas). Minha mulher, na cozinha, só ouvindo aquela loucura toda. - Eu falei, meus amigos, eu estou fora!!! - Mas por via das dúvidas, fui até o bar do seo Fernando, e liguei pro Cabelo. - Escuta meu, tem uns loucos aqui em casa, falando numas latas de marijuana, você 'tá” sabendo alguma coisa? - Cabelo respondeu: - Já saiu uma "expedição daqui da Moóca, pra pegar umas latas" (???). – O pessoal já deve estar no litoral... - Eu fumei um da "lata", é muito bom... Voltei, me sentei... Minha mulher só nos olhando de "esguelha", (pensei comigo, ela vai expulsar esses caras daqui, já, já). Leci estava embriagado de cobiça, fazia planos...- Eu só preciso de umas trinta latas (???). - Vou comprar um carro zero. (O cara tinha dinheiro, pra que se meter nessa merda toda?) Ele sacou um maço de dinheiro e disse: - Quanto você ganha por mês? - Eu disse, e ele colocou o equivalente à duas semanas do meu trabalho. - Está aí. Minha mulher já estava cabreira... Eu já estava no clima das latas. (Todos os maconheiros do Rio & Sampa já sabiam das malditas latas). Mas eu tinha que trabalhar, minha filha era uma usina consumidora de leite em pó. Minha mulher disse: - Vocês estão chamando ele pra essa merda. - Se ele perder o emprego, eu vou ficar brava de verdade!!! - Eu consigo um atestado médico pra ele, e coloco mais duas semanas!!! - E eu só vou precisar dele por três dias. Estava feita a merda... Eu peguei a grana, entreguei pra ela, e perguntei? - Vocês estão pensando em ir quando? - Leci estonteado pela cobiça disse: - Já, agora, demorô. - Peguei minhas coisas, meu violão e tocamos pra Ubatuba. Leci fazia planos. - De cada dez latas, eu vou dar uma pra vocês... - Nós vamos ficar ricos, ricos... Ele estava empreitando o nosso serviço, só pra gente catar as latas pra ele. - Ele disse: - Vocês são dois cagões, pode deixar que eu subo a serra sozinho, com as latas. - Vocês podem voltar de "busão".- Chegando em Ubatuba, eu disse, Leci, nós temos que escolher um lugar deserto, uma praia tranquila... Descemos para a Praia Dura. (Naqueles tempos, aquele lugar era deserto, só tinham umas poucas casas por lá). Armamos nossa barraca, passamos a tarde tomando banho de mar, tocando violão. Leci andava alucinado, pra lá e pra cá... As latas, ele só pensava nas latas. Nós estávamos num cantinho da praia, numa prainha, escondidos por várias pedras grandes. Veio a noite, madrugada, e começou um movimentos de barcos, muitos barcos... Leci surtou, disse: - Aqueles putos estão pegando as "minhas latas". Eu ri, Chilli riu... E Leci queria por que queria se jogar no mar, pra pegar as latas "dele". - Eu disse: - Leci meu amigo, não temos o que fazer. - Amanhã cedo, nós damos uma "geral", pra ver se sobrou alguma lata... Na manhã seguinte, o mar estava cheio delas, milhares delas...(águas marinhas enormes, cor de saco plástico, transparente). Leci sentou e chorou, - Eu disse: - Vamos atrás de uma lata, vamos comprar uma lata pra você...( O pescador vendeu uma lata para o Leci, cobrou uma nota preta). O velho Leci reapareceu, o sovina, o mão de vaca...Chilli pediu um pouquinho pra ele, e ele "desconsiderou" o Chilli, disse que não. Dias depois, o Jornal Nacional deu a notícia das latas... E o litoral ferveu de "lateiros", (mas as latas estavam todas, a maioria, nas mãos dos pescadores, que fizeram a festa). - Essas tais latas, viraram uma lenda urbana - Todo mundo só queria saber do fumo da "lata". - Foi isso.







"A tchurma da Moóca"

Cabelo, Fernando, Bica, Zezé, & (esqueci a porra do nome). Cabelo gostava de drogas, boa comida, roupas de grife, e bebidas finas. Bica era maluco, quando a gente estava muito doido, ele fazia um chá de grama, e dava pra gente tomar, dizia que fazia bem. Zezé era mulher do Cabelo, vivia infernizando a vida dele. Depois que ela fumava um beise, enchia o saco do cara. Fernando era um drogado, em última fase, vivia viajando, mesmo de careta, e só dizia," é, sim, não". O cara que eu esqueci o nome, era uma figura muito louca, mas era um flautista fenomenal. Depois que ele fazia a cabeça, pegava a flauta e dizia: - Alex, solta um tema legal. - Eu pegava o violão e desenvolvia um tema pra ele, e era só rock pesado e bom. A gente passava horas viajando na música. Esse pessoal chegava lá em casa, aos sábados, tipo dez horas da manhã e só iam embora na noite. Cabelo uma vez levou um chá de cogumelos lá em casa, feito por um xamã very very crazy, e disse: - O cara fez esse chá com cinquenta cogumelos colhidos lá na Serra do Mar. - Esse chá ficou umas vinte e quatro horas curtindo no fogão de lenha. - Depois ele coou. - Isso deve estar muito louco, eu trouxe meio litro pra nós. Eu olhei aquela merda, tinha uma cor de terra diluída em água. Fiquei meio enojado, daí ele disse: - Tem que completar com uns dois copos de groselha, pra gente conseguir engolir. - Meu amigo John Doe, eu tomei um copo daquela mistureba...Perguntei: - E você, não vai beber essa merda? - Ele disse: - Eu vou monitorar a sua viagem, essa merda é mais forte que yuaska, mais forte que ácido. Velho e bom John Doe, Eu comecei uma viagem que durou vinte e quatro horas. Eu tinha picos de loucura & picos de lucidez. Aquela mistureba deixaria qualquer Carlos Castañeda pirado. Era mais forte que o peyote, que eu já havia provado, da mescalina. Véio, teve uma hora que eu voltei, e estava lá na Vila Formosa, era noite, eu chorava, e o Cabelo me acompanhava. Eu acho que chovia, não tenho certeza. Eu vi um gato na rua, e conversamos. Eu vi cores, que se abriam, tipo um clarão. Vi mortos, vi enterros. Quando voltei de novo, estávamos na frente do cemitério de Vila Formosa. Cabelo sempre me seguindo, cuidando da minha viagem. Conversei com Aldous Huxley, conversei com Timothy O'leary, vi estradas imaginárias, ruas de sangue. Cabelo cuidou de mim, como um pai cuidaria de um filho. Foi a melhor viagem que eu fiz. Depois disso, nunca mais tomei chá de cogumelos. - Nunca mais me atrevi. - Esses meus amigos da Moóca, eram do cazzo. - Fui.

"A menina da pensão"

É complicado ficar velho, a gente esquece o nome das pessoas. Mas a menina da pensão sempre estará nos meus pensamentos. Eu frequentava aquele lugar, na hora do almoço, a comida era farta & barata. Eu tinha uma compulsão por comida, naqueles tempos. Eu comia tipo um camelo, guardando calorias para os dias ruins. Ela era bonita, meiga & educada. Depois de certo tempo, parou de me cobrar o almoço. Eu ia pagar e ela não aceitava o meu dinheiro. Aquela pensão ficava no centro velho do Rio, acho que na rua do Lavradio. (Aquilo foi tudo demolido, eu imagino). Naqueles tempos meu dinheiro era curto, e eu só podia fazer uma refeição por dia. Eu passei um "tico" de fome, naqueles tempos. Jovem tem muita fome...Quando me sobrava um dinheiro, eu ia no Bob's, lá da Avenida Rio Branco, e caía matando nos sanduíches de salada de atum. As vezes, eu ficava um tempo, sem ir comer na pensão, eu ficava com vergonha, de não pagar. Quando a menina da pensão me via chegar, ela se abria num sorriso, ficava feliz. A gente não conversava com palavras, só com sorrisos e sinais. Ela gostava de mim, a menina da pensão. (Eu era tão jovem, tão perdido nas minhas coisas, meus pensamentos, nas minhas inseguranças). Nós tínhamos um ritual, eu chegava no caixa, pra pagar a conta, ela pegava na minha mão, apertava, mas não recebia o dinheiro. Certo dia ela disse: - Vem a noite, pra gente conversar... - Eu queria muito conhecer você, saber da sua vida... - Logo que anoiteceu eu cheguei lá. - A menina da pensão estava bem arrumada, cheirosa, linda. Nós saímos de mãos dadas, passeamos, nos beijamos, namoramos...- A menina da pensão me transmitia uma ternura muito grande. Dava para sentir, que ela era uma garota vivida, já conhecia a dureza da vida. Mas tinha um coração muito bonito, muito lindo. Ajudava os pais naquele serviço, (devia acordar de madrugada, para ajudar na cozinha), tinha as mãos ásperas, de quem não tem medo do trabalho. Eu deixava a menina em casa, lá pelas vinte e duas horas da noite, e vinha me cagando de medo, (aquelas ruas eram escuras)...Naquele centro velho, se dizia que apareciam muitas "assombrações", eu me cagava de medo de assombração. (Eu vi algumas, nesse mundão de Deus). Vi em Minas, vi em Santa Teresa. Vi escravos, vi mulheres com roupas do século dezoito. Eu tinha medo, hoje não tenho mais, hoje eu converso com os meus fantasmas... Fico me perguntando o que terá acontecido, com a menina da pensão: - Será que se casou? - Constituiu família? Penso nela sempre, com muita ternura... Eu era tão jovem...Tão sem experiência da vida, tão precisado de amor... Eu não sei por que essas lembranças me visitam, talvez seja a minha solidão, nesses tempos atuais...Talvez seja um desejo inconsciente de voltar no tempo, de realizar coisas que eu não pude realizar. Talvez seja a vontade de me sentir jovem de novo, de ter aquele vigor da juventude, onde a gente se atirava, sem temer as consequências, sei lá...- Menina da pensão, aqui fica a minha homenagem a você, que tantos momentos bonitos me proporcionou... - Beijos.

"Ella"

Você vem amanhã? - Não sei...acho que não. - Vem meu amor, por favor, vem amanhã... (Eu dizia que não, mas sempre voltava). Ela me beijava com tanto carinho, que eu sempre voltava. Na tarde seguinte, lá estava eu. - O porteiro era meu amigo, eu o subornava com umas garrafas de conhaque, desses vagabundos. - E aí, o pessoal já saiu? - Pode ir que 'tá limpeza. - Eu subia, tocava a campainha, e Ella abria a porta. Ficávamos os dois aninhadinhos no sofá. - Era um jogo erótico, Ella me abraçava, me beijava, e ficava juntinha de mim. Depois que eu voltei, depois de várias visitas, Ella foi se soltando mais., Ella gostava de perguntar, de pedir. Depois que eu entendi isso, tudo se tornou mais fácil. Um certo dia Ella disse: - Tira a roupa, fica só de cueca. Eu disse: - Ella, eu não uso cueca, se eu tirar a roupa, eu vou ficar pelado. - Ella disse, tira amor, eu tiro a minha também. De repente, estou eu peladinho no apê d'Ella,, Ella tinha um corpo muito bonito... - Os dois aninhados no sofá, (e eu, quietinho, na minha). Ella perguntou: - Posso tocar em você? - Pode. Ella me tocou, apertou com força meu pênis, cheirou a mão, e disse: - O cheirinho é tão bom...- Ele está tão duro... - Você quer me tocar também? - Ella guiou minha mão até a intimidade d"Ella. Estava molhada, - Cheira sua mão, vê se você gosta do meu cheiro.. Cheirei. - O cheiro é bom, suave e gostoso. disse. (Aquele ambiente sensual, aquele cheiro de feromônio, eu estava louco de desejo). - Ella disse: - Posso beijar "ele"? - Pode Ella. (Ella tinha que perguntar tudo). Ella beijou "ele". - Disse de repente: - Eu nunca fiz isso na vida, - Posso chupar "ele" ? - Pode meu bem... - Meu pênis já estava começando a doer, de tanto tesão.. Ella perguntou: - Como é que se faz? Expliquei como se faz, com carinho, com delicadeza. Ella se divertiu ali, mas eu não gozei, me segurei... Ella voltou a posição anterior, me olhou, me deu um beijo na boca. E disse: - Você quer me beijar "aqui"? - E apontou, aquele lugar, que me fazia gemer;...- Eu disse que queria. - Ella guiou minha cabeça até aquele lugar. Eu beijei,a intimidade d'Ella, estava úmida, molhada,. O cheiro era bom e acolhedor. - Ella começou a tremer, balbuciar coisas sem sentido... Depois de certo tempo, acalmou.. - Eu já estava em fase desesperadora. Ella viu minha situação e perguntou: - Você quer que eu masturbe você? - Eu disse: - Por favor Ella, por favor..Ella me aliviou. Ficamos agarradinhos no sofá. Eu disse: - Eu já vou.. Ella me perguntou: - Você volta amanhã? - Não sei Ella, acho que não... - Ella mordeu a minha orelha e disse: - Volta meu amor, eu amo muito você. - Eu bati o pé e disse. - Eu não volto não. - (Mas era tudo mentira, - Eu voltava sempre, pra Ella).

"Dúvidas"

Aquela vista da Avenida Atlântica era o máximo. Você via o "marzão" até onde a vista se perdia, numa explosão de cores & beleza. - Ela perguntou : - Você quer ir a praia ? - Quero não, respondi. - Estou com vontade de comer sardinhas fritas & tomar cervejas. - Mas agora ? Acabamos de acordar, de tomar café... - Meu eu estou afins de comer sardinhas.. - "Tu" vai para a praia, e eu vou para o centro, comer sardinhas & tomar cervejas, nos encontramos depois, mais tarde. (Eu sabia que aquela discussão terminaria num "sururu na casa do Nóca). Resolvi ficar na minha. Eu havia sonhado com sardinhas fritas, quentinhas, estalando de deliciosas. E aquela "dona" não era de comer sardinhas, ela era fina, chic. Eu estava tendo uma recaída de pobre, povão. Estava até no barato de comer pão com ovo, "zóião". (Quem nunca comeu pão com ovo não sabe o que é bom)... Se aquela dona soubesse que eu gostava de ir lá no Calabouço, comer mariscos, com os sem tetos, ela teria um piripaque. Marisco é um fruto do mar delicioso, parece pequenas bucetinhas, que se abrem, depois de cozidos, muito bom mesmo. Tem uns que tem até uns pequeninos grelinhos & pentelhinhos. É bom & sexy. Mas eu jamais, diria para aquela dona que comia aqueles frutos do mar. Eu na realidade, já estava ficando com os "pacová" cheio dela, daquelas comidas, daquelas lesmas, que ela gostava, "scargots", aquelas merdas todas. Eu quase convidei aquela figura pra comer um sarapatel, na feira de São Cristovão, tomar uma cachaça & coisas & tais... Será que ela comeria uma buchada de bode ? - (Mas mano, vou confessar, ela fazia coisas do "arco da velha", na cama). Ela tinha borogodó, ziriguidum & telecoteco, Nosso caso de amor, (pelo menos o meu), era só no "berço" ). Hoje eu queria comer sardinhas, é, sardinhas, carapaus, como se diz em Portugal... A dona me olhou, em dúvida, se me mandava à merda e ia cuidar da vida dela, pensou, pensou mais e disse: - Está bem, eu vou comer sardinhas com você. - Velho & bom São Raimundo Nonato, acho que ela nunca viu uns carapaus na vida... Chegamos no centro velho do Rio, nos sentamos numa mesinha na calçada. O bar estava lotado, tinha gente saindo pelo ladrão. Eu pedi logo duas porções de sardinhas fritas, uma caipirinha de cachaça, e uma cerveja estupidamente gelada. - Velho & bom Charlie, quando aquele rango chegou, eu caí "assassinando", com fé e vitória. A dona me olhava, como se eu estivesse me revelando, mostrando quem realmente eu era...- Eu disse. - Vai ficar só olhando ? Não vai comer ? Não vai provar ? - Ela me olhou languidamente e perguntou... - Não tem prato ? Não tem talher ? - Não, meu bem, você pega o peixe, coloca limão e come...(Aquela dondoca comeu o primeiro, comeu o segundo & perdeu a vergonha). A dona desandou a comer sardinhas, tomar caipirinha & cerveja, e se revelou uma glutona. Eu ria. Nada como se levantar a máscara, pensei...Aquela garota educada, comeu muito, deu até uns arrotos...Ficou bem "borracha"...Voltamos para o apê dela, na Avenida Atlântica, tiramos uma palha, e depois partimos para o sexo. Ela era muito boa no sexo. Depois desse episódio, eu até comecei a curtir mais, aquela figurinha carimbada. Semana que vem, eu pensei, vou levá-la para comer uns mariscos no Calabouço, com os meus amigos sem teto. - A vida era boa, & os dias passavam rápidos... Foi isso.

"Presos - Mãos na cabeça!"

- Mãos na cabeça, seus vagabundos ! - Eu sabia, eu tinha certeza, de que alguma coisa iria acontecer naquela noite. - Mas presos por que , soldado ? - Preso por estar cagando. ( O pior é que era verdade). Romildo estava cagando na rua, em plena via pública, sem nenhum pudor. Quando a caganeira bate, não tem jeito, você precisa cagar. E fica igual aqueles cachorrinhos, andando pra lá & pra cá, até se decidir. Ou caga nas calças, ou despeja a merda ali mesmo. Eu bem que avisei a ele(s), não comam muito, nós não conhecemos esse buffet, cuidado com a maionese, essas coisas. O lance do lugar era o seguinte : - Você pagava um valor e comia tudo o que aguentasse, aí incluído bebidas & sobremesa. O Romildo deu uma de guloso, comeu pra cacete, bebeu todas. Eu sabia que aquilo ia dar "merda". - Saímos de lá ( do buffet) e fomos ver umas mulheres. Fomos dançar & curtir. Esse lance aconteceu na volta, o lance da voz de prisão. Romildo coitado, estava todo cagado. Ele se assustou e levantou, no meio da cagada, e a merda escorria pelas pernas dele. Os soldados morriam de rir, gargalhavam, de ver aquele cara grandão, todo cagado. (Eu aproveitei a descontração, e disse: - Libera a gente, soldados, são três horas da manhã, não tem ninguém na rua, ninguém viu nada). O amigo deu uma de guloso, comeu demais & passou mal, foi apenas isso. ( Aquele cheiro de diarreia estava insuportável, eu já estava sentindo vontade de vomitar). Romildo coitado, de pé, com as calças arriadas, tremia, de humilhação e vergonha. A lua brilhava, lá no céu, cercada por estrelas, indiferente ao que acontecia ali... O rádio tocou na viatura, os policiais receberam uma chamada urgente, o nos liberaram. Antes de irem embora, ainda tiraram uma "onda" conosco, dizendo que só não nos prendiam, por que nós sujaríamos a viatura de merda... Nós voltamos a pé, até a zona leste, aquela noite. Romildo, o glutão, estava "jururu", fedendo pra caralho. Depois que deixamos o cagão em casa, resolvemos fumar o último cigarro da noite, antes da despedida. E demos boas risadas... (Preso por estar cagando... Era o final dos tempos).

"Chantal & Papillon"

Dizem que água & azeite não se misturam. É verdade. Mas dizem também que os opostos se atraem, o que continua sendo verdade. Elas se conheceram no salão de beleza, onde todos os segredos são revelados. Onde os profissionais da beleza são os psicólogos, os ouvintes, os terapeutas. Chantal era uma mulher elegante, bonita, segura dos seus atributos. Era diretora comercial de uma empresa francesa, de produtos químicos. Casada, (não tão bem casada). O esposo era um jogador. Gostava de perder dinheiro nos cavalos & na roleta. (Imagino que Chantal bancava as despesas da casa, e de jogo, do esposo). Eles não tinham filhos. Já Papillon, possuia um beleza mais rude, se vestia de forma mais chamativa. De forma mais vulgar. Mas era muito linda, a Papillon. Papillon tinha uma história de vida mais triste. Havia saído de casa aos quinze anos, depois de dar umas pauladas na cabeça do pai . O velho tinha o péssimo hábito de bater/agredir a mãe dela. Ela, Papillon, sabia que seria questão de tempo, até ter que matar o velho, por que ela não suportava ver a mãe ser espancada. Ali, onde eles moravam, no interior do Espírito Santo, ela sabia que não teria futuro. Veio para o Rio de Janeiro com a cara e a coragem. Pouco dinheiro, roupas simples, e sem endereço certo. Alugou um quarto na Lapa, (ali perto do beco das Carmelitas), e como não sabia fazer nada, resolveu vender o corpo, a beleza). Papillon fazia o "trotoir" ali no Passeio Público, perto daquela grande loja de departamentos. Ela me contou, que perdeu a virgindade com um cliente, (coisa triste & chocante). Mas a vida tem essas coisas cruéis. Uma noite, Papillon conheceu um novo cliente, um moço bonito e falante, chamado Alvaro. Fizeram amor, conversaram, e Alvaro contou a real para ela. Ele era cafetão e tinha um puteiro perto dali. Explicou que era muito perigoso, o trabalho dela nas ruas, e que poderia "oferecer um trabalho, com maior segurança". Alvaro cobraria dela apenas uma taxa de 50% sobre os ganhos, e ela atenderia os clientes no local. Eles fecharam o acordo, e Papillon começou a trabalhar ali. Mas entre eles havia mais que negócios, Papillon caiu de amores por ele. Alvaro por sua vez, também sentia algo por ela...Moral da história, amor, dinheiro & negócios. Alvaro ficou surpreso pela forma que ela ajudava a administrar o "negócio". Papillon dava sugestões, palpites, e virou gerente dele. Aquele puteiro prosperava a olhos vistos. Alvaro estava tão feliz, que propôs sociedade a ela. A vida estava boa, Papillon agora tinha dinheiro, trouxe a mãe para o Rio, enfim, progresso. Ela agora já se dava ao luxo de ir ao salão de beleza, uma vez por semana. Foi nesse salão que ela conheceu Chantal. Ficaram amigas, confidentes, (essas coisas de mulher). Contou toda a vida dela para Chantal, que por sua vez, também lhe confidenciou alguns segredos. Chantal contou que algumas vezes "pulava a cerca", saía com rapazes, para se satisfazer sexualmente. (O marido só queria saber de jogar, se esquecia dela), e ela era jovem e tinha desejos. Elas, após os tratamentos de beleza, iam tomar o chá da tarde na Confeitaria Colombo, no centro da cidade. Isso virou um ritual. Uma bela tarde, elas estão na Colombo, e entra o Alvaro, acompanhado de uma linda mulher. Ele não as viu, mas elas sim. Papillon explicou para Chantal, que aquele homem, era o companheiro dela, e começou a chorar. Não adiantou Chantal tentar consolá-la. Ela se sentia uma esposa traída. Queria fazer um escândalo & coisas tais... Mas Chantal não deixou, acalmou a amiga... Aquela noite, Papillon assassinou Alvaro, com trinta facadas...Eu fiquei sabendo que Chantal visitou Papillon todas as semanas, na cadeia... Até o dia em que ela saiu... Depois disso, as duas se amigaram, e vivem felizes até hoje. Duas senhoras distintas. Foi isso que aconteceu. - Chantal & Papillon, duas amigas...

"Perdões / Minas Gerais"

Cinco & meia da manhã. O caminhoneiro me deixou na entrada da cidade. Ali perto do hotel Maia, e do posto de gasolina, na Fernão Dias. A cidade estava acordando, (aquele cheiro de Minas, entrando pelas minhas narinas). (Minas Gerais tem um cheirinho todo especial, só dela). Sempre que eu chegava em Perdões, eu sentia uma emoção forte. Me sentia seguro ali, terra dos meus antepassados. A emoção que eu sentia, vinha das minhas lembranças de criança, quando eu chegava com o tio Ari, vindo de trem, desde o Rio de Janeiro. Agora, chegando de carona, cruzando a Fernão Dias, desde de Sampa, todas essas lembranças me visitavam. Enquanto pensava nessas coisas, eu ia à passos largos, subindo aquela ladeira, até a praça Dr. Zoroastro Alvarenga, onde meus tios moravam. Logo logo, eu estaria tomando o café da manhã com meus tios queridos. Contando as novidades do Rio, dizendo que mamãe e as tias estavam bem, essas coisas todas. No final da tarde, eu estaria com minha namorada, matando as saudades & ficando juntinho com ela. Depois do namoro, eu me sentava com o tio Ari na praça, e fumávamos uns cigarros e proseávamos. Era bom, estar ali, na segurança, com os meus parentes. Naquele lugar não havia ditadura, não havia medo & nem perseguição. A comida era deliciosa, feita no fogão de lenha, a prosa era boa e sincera. Em Perdões eu estudei, eu namorei & fui feliz. Quando chegava a hora de voltar, me dava um "banzo", uma tristeza escrava. (Um certo medo, de voltar à cidade grande). Ali eu pescava, eu empinava pipas, com o meu primo, eu pegava passarinhos, no alçapão, (mas depois nós soltávamos os bichinhos). "Óh, que saudades eu tenho da minha vida, da minha infância querida, dos tempos que não voltam mais"...Me lembro daquela passagem, quando fomos roubar moedas no cemitério, moedas antigas, de prata, do século dezoito. Eu, Julinho, Waltinho. Tia Lola ficou maluca, mandou que nós devolvêssemos as moedas, por que aquilo trazia azar, trazer coisas dos mortos para dentro de casa. É lógico que nós ficamos com o nosso "tesouro", guardamos tudo dentro de uma caixinha de charutos... Perdões, Minas Gerais, está na hora de eu fazer uma visita à você. 

"Histórias da zona leste" *

Era um sábado lindo de viver. O sol brilhava na zona leste. Eu era feliz, era jovem, e tinha uma linda mulher que me amava. Deixei minha princesa deitada, dormindo lá em casa. Eu estava no bar do seu Fernando, comendo sanduíche de linguiça & tomando " samba in Berlim". "Samba in Berlim", não é nada mais, nada menos do que cachaça, colocada em um copo alto, gelo e coca cola. Meu lugar preferido ali, era ficar sentado na calçada, vendo a vida passar. Logo logo, a sociedade daquele bairro acordaria, & o bar ficaria lotado. Os frequentadores do bar, eram pessoas da mais alta qualificação. Tínhamos ali, desde trabalhadores, (operários), estudantes, assassinos, traficantes, ladrões, espiantos, 171, jogadores de truco, jogadores de dominó. Eu estava em dúvida, do meu programa para aquele dia. Eu poderia ligar para o Cabelo e convidar a turma da Moóca. O nosso pessoal da Moóca, gostava de música. Eu, Cabelo, Fernando, nós fazíamos um som muito bom. Tinha a Zezé, mulher do Cabelo que ficava conversando com a Nê. Nos poderíamos também, ir passear no Ibirapuera...( Enquanto pensava nessas coisas, eles começaram a chegar, todos estavam vestidos de terno, carregavam malas de executivos). Foram chegando, cumprimentando todo mundo. Aqueles caras eram de uma educação fora de série. Calculo que eram uns sete. Seriam os "sete homens de ouro" ? Um deles se aproximou, me cumprimentou e disse: - E aí Alê, só fazendo "mula" nesse sabadão ? - Eu expliquei que a "mula" se fazia necessária, após uma semana de trampo... - E vocês manos, onde vão assim ? Todo mundo de terno, nessa elegância toda ? Ele disse: - É trabalho amigo, vamos fazer uma "fita" em Curitiba. - Em Curitiba, perguntei ? - É, Curitiba, estamos levando as "ferramentas" nessas malas.(Aqueles caras eram profissionais, roubavam, mas não matavam ninguém, conheciam o ofício de ladrões)...(Os ladrões, antigamente, tinham qualificação, tinham um código de honra). Hoje, os manos roubam qualquer um, roubam trabalhador, se sujam por qualquer merreca, e ainda atiram nas pessoas, pra se fazer de valentes). Um bando de cusões, esses bandidos da atualidade. (Um cara que eu conheci naquele bar, me explicou que o ofício de ladrão, demanda muita sabedoria & humanismo (???). - Tem que se respeitar a vítima, ele me disse) - Todos nós temos familiares, temos que respeitar os "loques" também. Para fechar essa história, eu me despedi deles, desejei "sucesso" na empreitada, e fui pra casa. Minha linda princesa estava deitada ainda, de bruços e só de calcinha. Eu me atirei na nossa cama, beijei, abracei, disse coisas bonitas & fizemos amor. Revelei todo o meu amor por ela, todo o meu tesão, e ficamos abraçadinhos ali, curtindo a nossa felicidade. - Ser jovem & apaixonado era bom pra caralho. (Não liguei pra ninguém, não agendei nenhum passeio, fiquei apenas curtindo minha mulher, aquele final de semana). Era bom ser jovem, naqueles tempos...

"Josephine"

Ela me olhou bem fixamente, e disse: - Você sabe o quanto eu o amo, o quanto é importante em minha vida, mas eu decidi me casar com "ele". Nós estávamos em Ipanema, eram umas cinco horas da tarde. tomando chopp e comendo batatinhas fritas, o bar era o Barril 1800. Eu simplesmente abaixei o rosto e deixei as lágrimas correrem soltas...Eu era perdidamente gamado naquela garota. Eu não me mexia, apenas deixava os sentimentos aflorarem. (Estava imaginando o que dizer, o que retrucar). Eu disse: - Tudo bem Jose, você sabe o que é o melhor para você. ( As lágrimas teimavam em sair). Eu havia conhecido Josephine lá na "minha pedra", entre o Arpoador e a Praia do Diabo. Aquela tarde, quando eu a conheci, estava terminando de compor aquele baião de protesto, " Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina". Eu estava com o meu violão, curtindo o "meu" pôr do sol e dando os últimos retoques na composição. Jose se aproximou, ficou ouvindo a música e depois perguntou: - Que música legal. é sua? - Eu disse que sim. Ali entrosamos uma conversa boa, ficamos até tarde conversando. Josephine era bem branquinha e tinha os olhos azuis, bem azuis. Ela morava na Vieira Souto, numa cobertura, ela a mãe, o pai e um irmão. Esse nosso primeiro encontro, aconteceu exatamente há um ano atrás. Nós começamos a sair, a namorar, e eu naturalmente, como era de praxe, caí "xonado" por ela. Jose, apesar de rica, era uma menina simples, carinhosa, gostosa, boa de cama & ótima companhia. Nós passeávamos pela orla, comíamos pipocas juntos, dividíamos o sorvete, coisas que casais apaixonados fazem... Uma tarde ela me contou uma particularidade da vida dela. Ela disse: - Nós perdemos tudo, meu pai perdeu toda fortuna que meu avô nos deixou...Minha casa está hipotecada, perdemos os carros... Só sobrou o meu fusquinha, que minha vó me comprou... - Agora eles estão querendo que eu me case com um coroa, que está igual um urubu, rondando a nossa desgraça...Meu pai disse que faz gosto, por que o coroa é muito rico, e nos ajudaria a sair da miséria (???) (Aquela merda toda não entrava em meu entendimento, como é que pode uma família "vender" a própria filha)? Por que não trabalhar, viver dentro da realidade? Mas não, aquela família era tradicional, falida mas tradicional...Jose já havia perdido a alegria, a espontaneidade. E, merda das merdas, ela capitulou, aceitou se casar com o "velho". Nosso último encontro, teve sabor de tango dramático. Trepamos feito loucos, nos mordemos, nos machucamos, choramos, e nos despedimos.Depois fiquei sabendo quem era o "velho": Tinha fazendas de gado no Uruguai, tinha frigorífico, construtora, aplicava dinheiro na bolsa, enfim, um partidão. Eu acompanhei o casamento pela imprensa. - Casamento na igreja da Glória, recepção no Copacabana Palace, colunas sociais, aquelas merdas todas. E o pior, mudança do casal para os Estados Unidos... Eu fiquei no Rio, curtindo uma tristeza imensa, potencializando minha dor de cotovelo. Passei meses de merda, tomando uísque e chorando... A primeira carta que recebi dela, me deixou pior ainda. Ela dizia que me amava, que queria estar comigo, (aquelas baboseiras que as mulheres falam). Eu pegava aquela carta e ia reler lá na "nossa pedra". O carteiro coitado, jé devia estar de saco cheio. Era só ele passar e eu perguntava: - Chegou alguma carta pra mim? - Ele dizia...ainda não, (com cara de comiseração). Mas quando se é jovem, as dores vem forte e vão embora rapidinho... Depois de sete meses, eu já estava curado, prontinho pra entrar nas noitadas & putarias de novo. Engano... Recebo um telegrama dela, avisando que chegaria na próxima semana, e gostaria que eu a recebesse no Galeão, estava vindo de surpresa, só a família sabia. Velho e bom Johnnie Walker... Aquela merda voltou, aquela tensão... Quando vi Josephine, meu coração disparou, nos abraçamos, nos beijamos, foi bom pra cacete. Mas a Jose, a minha Jose, não existia mais. Agora era uma mulher elegante, cheia de si. Me contou que o velho havia batido a cassuleta. Depois de uma noitada de putaria com os amigos, capotou o carro e foi pros quintos dos infernos. Jose agora era uma garota muito rica, mandava na casa & na família, que tinha fudido com a vida dela. Dava mesada pros pais, cuidava do dinheiro, mas não dava mole pra eles. Eu agora frequentava aquele apartamento, entrava e saía a hora que queria, trepava com ela na cara dura. A família fazia olhos de moucos. As empregadas me chamavam de doutor Alex.. E eu passava a mão na bunda delas... A água ferveu o dia que ela disse: - Eu vou contratar um produtor, pra fazer o seu disco. Eu declinei...expliquei pra ela que eu gostaria de ter o meu disco pelo, apenas pelo meu merecimento. Dias depois ela perguntou: - Posso comprar um apartamento pra você? - Você continua morando naquela merda de quarto? Eu declinei de novo. Josephine havia mudado... Eu também mudei... Já estava achando uma porrada de defeitos nela. Era hora de bater em retirada, eu não amava mais a Jose... Deixei ela falando e vim pra Sampa... Quando voltei ao Rio, o meu amigo Chamaco perguntou: - O que você andou aprontando? Uma dondoca passou quase o mês todo vindo aqui, atrás de você... - Eu respondi: - Eu sarei, eu sarei...

"Charles Bukowski, Charlie Brown, Charles Muller & todos os Charles do mundo"

Aquela praia era muito bonita, a noite era estrelada, a areia afundava nos meus pés. A lua refletia seu prateado nas ondas... Era bonito de se ver... No final da praia, havia uma pedra grande. A fogueira lançava clarões, naquela noite jovem. Nós estávamos naquele luau, festejando a vida, festejando a nossa juventude, a nossa alegria de viver. Eles dançavam a volta da fogueira, tal qual índios. Duas garrafas de bourbon Jack Daniels, passeavam de mãos em mãos... Os que não estavam dançando, estavam assando salsichas, ou marshmallows, em pequeninas varinhas de bambu. Um violão, tocava Satisfaction, dos Rolling Stones. (Eu sei que você deve estar pensando: - Um bando de alienados, numa época de guerra, de guerrilhas). Mas não. Apenas um bando de garotos, que sabiam que logo, logo, a vida viria com suas cobranças. A vida sempre nos cobra, (não existe almoço grátis). Eu olhava para aquele bando de meninos/meninas, e me perguntava: - Deus, o que vai ser de nossas vidas ? O quê o Senhor nos reserva ? Eu gostaria de ser jovem eternamente. Gostaria de ser um Dorian Gray, (mas sem ter que fazer acordo com o Cão). Ela me chamou: - Alê, vem amor, vem ficar comigo. Mas minha cabeça, minha mente, viajava... - Alê, vem amor...- Já vou princesa, já estou indo...(Eu fui estar com ela, mas meu coração "andava" estranhamente triste, aquela noite). - Bem. porque essa tristeza toda? Ela me perguntou...Eu expliquei que estava chorando as dores do mundo, naquela noite tão bonita. Eu estava sentindo o peso de ser jovem, & ter que carregar todas as merdas, que o mundo, a sociedade, queria que eu carregasse (???). Eu queria ser cantor, compositor. Eu queria ser guerrilheiro, e lutar o bom combate, em prol da liberdade. Mas na realidade, eu era apenas um Dom Quixote, combatendo castelos de areia...- Véio & bom Charlie Bukowski, por que será que jovem pensa tanto ? Tantas dúvidas, tantas vontades, tantas (des)ilusões ? Aquela noite eu não estava nada bem... Peguei minha mina e fui curtir o luau... (Phodda-sse o mundo, eu não me chamo Raimundo). Vamos beber, vamos amar, vamos viver...

"Curiosidade" 

- Alê, o que é uma ditadura militar ? (Nós estávamos namorando lá na rua Carlos de Campos, uma paralela da rua Paissandu, próximo do Palácio das Laranjeiras). - Ela me pegou de surpresa, aquela danadinha. - Ditadura ? - É, ditadura. Papai estava dizendo pra mamãe que o país está entrando numa ditadura, disse ela... Velho & bom Mahatma Gandhi, eu não sabia que merda era essa...Eu era apenas um guri, querendo dar uns beijos na boca daquela menina. Tentei dar uma de inteligente... Enrolar... Mais eu não fazia ideia do que era uma ditadura... Respondi na bucha ! Eu não sei que merda é isso não. Alguns poucos anos depois, eu já saberia explicar à ela, o que era uma ditadura militar...Eu já saberia dizer, o que era um estado de sítio, um toque de recolher...Uma perseguição aos jovens cabeludos, que teimavam em curtir as noites do Rio de Janeiro. Eu já saberia dizer que era proibido estar em grupinhos, depois de certas horas. Tomar umas porradas da polícia & ir pra delegacia, ser escrachado lá...Eu já poderia explicar para aquela curiosa, que se você não trabalhasse, ou estudasse, os caras lhe jogavam um "artigo", chamado "vadiagem", e você passaria uns dias em cana...(Eu aprendi tão rapidamente o que era essa merda)...Até cunhei um nome pra nós, "os filhos da ditadura". Nós crescemos & nos fizemos homens, dentro desse regime. Quando eu ouvia falar em democracia, parecia uma coisa longínqua, um sonho impossível. As vezes, eu me perguntava: - Como seria viver numa democracia... Será que um dia eu conheceria a tal de democracia ? Hoje, depois de tantos anos, eu já saberia responder tudo, mas aquela curiosa sumiu...Nunca mais a vi...Hoje, eu conheço a tal democracia, & gosto dela. Adotei, como se adota uma criança, cheio de amor, & de expectativas. Talvez, não seja o regime perfeito, tenha os seus erros, as suas falhas... Mas pra quem viveu tantos anos sem liberdade, sem poder se expressar, a democracia é perfeita. A contracultura brasileira, sofreu, nas mãos da ditadura. Agora podemos berrar, urrar, & dizer nossos sentimentos. Contar nossas histórias, nossas verdades & nossas mentiras. É bom pra caralho, poder colocar pra fora, todo esse mar de sentimentos, que a nossa geração foi obrigada à calar. - Voltando no tempo : - Alê, o que é uma ditadura ? - É uma merda, meu bem, é uma merda... 

"1968"

Esse ano foi phodda. Na França o pau estava quebrando, nos Estados Unidos, guerra do Vietan. Inclunido o massacre de Mi Lai, onde tropas norte americanas invadiram o povoado, e dizimaram velhos & crianças. Aqui o famigerado AI-5. Ou seja, merda de todo lado. Mas pra nós, simples mortais, havia Ipanema, Rita Lee, Caetano Veloso, Gilberto Gil & Gal Costa. - Havia também, mulheres saindo pelo ladrão. Todas querendo viver o dia a dia, como se não houvesse o amanhã. Era época do amor livre, da pílula, das drogas & do Rock roll. Nós, os hippies, andávamos pra lá e pra cá, sempre com a mochila nas costas & os pés nas estradas. - Vamos pra tal lugar? - Vamusimbora... Não se precisava de dinheiro, por incrível que possa parecer. Sempre tinha um lugar pra se dormir, uma boa marijuana para se fumar. Comida e música boa... No meio daquela repressão toda, nós, os jovens, tentávamos viver uma vida legal. Havia também, uma certa ingenuidade nas pessoas, não existia essa violência do caralho, que hoje nos transforma em prisioneiros em nossa própria casa. Tinha o LSD, o famigerado (Louvado Seja Deus), que nos levava a mares nunca d'antes navegados. Onde viajávamos, abrindo as portas da nossa percepção. Nós fazíamos o nosso easy rider tupiniquim. Eu me lembro bem, daquela manhã em Copacabana, sentado na areia, vendo aquela menina bonita se banhando, pele morena & corpo perfeito. Entro n'água, me aproximo, conversamos um pouco e nos beijamos, aquilo aconteceu tão natural. Depois nos apresentamos, ela havia saído de casa, não tinha onde dormir.. - Fomos passar a noite lá no MAM, (Museu de Arte Moderna). Lá nos fizemos a famosa fogueirinha de papel, da versão de No Woman no Cry. Fizemos amor, falamos de sonhos, sonhos da juventude...Nos agasalhamos, um no outro, corpo no corpo... Havia muito romantismo naquele tempo, época do "faça amor, não faça a guerra". Ficamos juntos uma semana, depois nos separamos, fomos buscar as nossas ilusões, nossas utopias, cada um para o seu lado. Todos nós, sabíamos o que acontecia no Brasil... Alguns dirão que éramos alienados, mas não, éramos apenas jovens, meninos & meninas, que queriam mudar o mundo. Hoje, olhando pra trás, sinto que conseguimos mudar, sinto que plantamos uma nova esperança. (Como diria aquela música, do Milton Nascimento, "um novo tempo, apesar dos perigos"). Me lembro também, daquela passagem por Rio das Ostras...Nós em quatro pessoas, chegamos lá, estávamos durinhos, sem nenhum. Peguei meu velho violão e comecei a tocar & cantar, na praia. Chegaram quatro meninas classe média, papo vai, papo vem, fomos comer na casa delas. A mãe simpatizou conosco, e passamos a semana toda lá, com elas. Peguei carona em todas as estradas desse sudeste de Deus. Conheci pessoas simples, que dividiam o pão com a gente, brasileirinhos maravilhosos. Amei mulheres ricas & mulheres pobres. Mulheres jovens & trintonas. Apesar de todas as merdas, 68, teve suas vantagens, - Eu amadureci um pouquinho. Ciao.

"Marcha com Deus... - Histórias da zona leste"

Cenário: - Próximo ao Parque do Carmo. Diálogo entre dois rappers. Nome deles. "Jão & Tôligado". - Então Jão, tu é o maior vacilão que eu conheço...- Que conversa é essa, pergunta Tôligado. - Maluco, eu não mandei você convidar todo mundo para o nosso show de funk & hip hop ? - Eu convidei uma porrada de gente, meu. - Responde aí, que merda é essa que "tu" tá falando ? - "Tu" não convidou Deus, seu vacilão...- Como é que eu ia convidar Deus ? Onde eu ia encontrar Deus, maluco ??? - Tu ia encontrar Deus, onde esses mesmos caras encontraram. Tanto encontraram, que convidaram Deus pra essa tal "de marcha do não sei o quê lá". - Jão coçou a cabeça, e concordou...É meu, eu paguei de loque, nessa fita...Deixei o mano mais importante de fora dessa bagaça...- Deixou de fora nada, meu. - Tu vai ter que convidar o "cara". - Mas mano, o cara já está convidado pra tal marcha...E é na mesma hora do nosso show... - Maluco, não me interessa, disse Tôligado, vai lá e convida Deus, eu não quero nem saber... - Mas como é que eu falo com esse "mano" ? - Onde eu vou trombar com Ele ? - Mano, vai lá no pastor e diz: - Pastor, eu estou precisando ter um particular com Deus, como é que se faz isso ? Lá se foram eles, pra saber como conversar com Deus... O pastor explicou, que a forma mais fácil de se falar com Deus, era por intermédio da oração. Era simples & não tinha mistério. Era só se colocar de joelhos, fechar os olhos & conversar com Deus. - Meu amigo Charlie, era a maior "baba", falar com o Cara. Os dois manos se colocaram de joelhos, e começaram a falar com Deus. - "Então mano, se liga, a gente estava afins de convidar "tu" pra uma parada com "nóis". - Nós vamos fazer um show aí, e queremos "tu" na fita. É papo dez. (Nada de Deus responder). - "Aí vacilão, não falei que o Cara não gosta de aparecer" ? - Tôligado, disse para o Jão. - Vamos tentar de novo. - "Aí Deus, será que tu só fala com burguês" ? - Tu não atende a periferia, o gueto ? -(Ouviu-se uma voz). - Aí maluco, eu atendo todo mundo, que que tá pegando ? Jão assustado respondeu: - Aí, Senhor, a gente estava afins de convidar o Senhor pra um evento. Um show de funk & hip hop, que nós vamos fazer aqui no Parque do Carmo. - Mas eu tô sabendo que "tu" já foi convidado pela burguesia, pra sair numa passeata...Mas é o seguinte, mano Deus, aqui com "nóis", a festa vai ser massa, vai ser da hora...(Deus estava meio nervoso, aquele dia, por que ele disse: - Aí maluco, quem disse pra vocês que eu vou naquela passeata ?). Ficaram os dois ali, "trocando" idéias com Deus. A certa altura, Deus disse: - Aí manos, eu não prometo nada, mas se der, eu pinto no evento de vocês. Chegou o dia do evento, Parque do Carmo lotado, manos & minas de montão... De repente chega Deus, vestido à caráter, de bermudão, tênis da hora e camiseta largona...Atrás de Deus, vem uma renca de anjos, todos vestidos de rappers, na maior. Jão & Tôligado, se achegam de Deus, e dizem: - Valeu mano Deus, "tu" veio pro gueto. É "nóis", Deus. Maluco, começa a "sonzeira", é rima pra lá, é rima pra cá. Tinha rappers do Brasil inteiro. E Deus só ali, tirando onda, no meio do povo. A certa altura, os manos convidam Deus, pra bater uma xepa com eles... - Aí mano Deus, tem um angu à baiana da hora...(Deus olha para aquele caldeirão de angu à baiana, super temperado, faz uma cara tipo,"será que eu aguento comer isso" ?) - Jão fala no ouvido de Tôligado: - Eu não disse que ele não gostava disso? Ele gosta de papo de anjo, de pastéis de Santa Clara, essas coisas... Mas Jão diz: - Sabe Deus, as minas fizeram com o maior amor, para o Senhor...(Os olhos de Deus se emocionam, quando ele escuta isso). Deus cai matando no angu à baiana. Pergunta o que tem pra se beber. -Os manos apresentam uma caipirinha de pinga, que Deus bebe com gosto... - Pra finalizar, foi muito bonito, ter Deus ali, junto com o povo da periferia. - Agora, se Deus não foi na "marcha", acho que o Diabo é que estava lá. Fui. - PS. Deus me confidenciou, que ele não foi na marcha, por que na ultima que foi, deu o maior "perrengue".

"Morrer de amor"

Meu primo Dan, tinha um amigo que morreu de amor. Eu era jovem, e nunca entendi essa coisa de morrer de amor, era muito medieval, pra minha cabeça. O nome dele era Lourenço. Lourenço trabalhava como propagandista, de um laboratório, e visitava os médicos, apresentando as novidades. Ele havia se casado com uma dona muito gostosa, (até eu, tinha fantasias sexuais com ela, fantasias juvenis). Não sei que merda aconteceu, entre eles, mas ela deu um belo chute na bunda dele. Lourenço era alcoólatra & masoquista. Ele se sentava na Taberna da Glória, a tarde, e ficava esperando ela passar. Ela passava e não estava nem aí com ele. Nesse meio tempo, ele ia matando uma garrafa de conhaque Georges Albert. Era uma por dia. Ficava até a madrugada bebendo aquela merda. As vezes, eu chegava com o Dan, na mesa dele. Ele recebia o primo na boa, e ficava me maltratando, num mau humor do cacete. Eu por várias vezes, pensei em meter a porrada nele... Mas meu primo dizia que eu precisava ter paciência, aquilo era coisa do amor, eu era muito jovem pra entender. Eu, na época, achava que ele era um cuzão. (Num mundo cheio de mulheres, como é que um cara poderia se prestar a um papel daqueles ?). Na realidade, eu não conhecia nada da vida. Nada de amores perdidos, encubados, essas merdas todas. Tudo bem, eu também tive as minhas dores de cotovelo, quem nunca teve ? Mas daí a morrer, a se phudder por uma mulher...Não entrava na minha cachola. Ele piorava dia a dia. Além de tudo, voltou a morar com os pais. Véio & bom Charlie. O cara ganhava uma nota redonda. Não comia ninguém. Porra meu, vai na zona, vai comer gente, eu pensava... Mas ele já havia feito o plano derradeiro, que era morrer de solidão & dor. Acho que na cabeça dele, ele imaginava que poderia chamar a atenção dela, se phuddenddo daquela forma. Pra terminar essa história tragédia, Lourenço morreu de cirrose. A mulher deve ter ficado com remorso, (talvez só um pouquinho). Ela era gostosa & gostava de trepar. Hoje, eu entendo o Lourenço, a vida me ensinou essas coisas do amor. Mas eu não faria a mesma coisa não, jamais. Descanse em paz Lourenço.

"Balalayka & Perestroyka"

A boate Balalayka, em Copacabana, era um antro totalmente bas fond, mas era muito legal. Nós chegávamos lá, assim como quem não quer nada, desbaratinando, e íamos fazendo presença. Não se podia olhar para as mulheres acompanhadas, sob risco de se levar uma navalhada, ou um cacete magistral. - Agora, depois que a galera já conhecia você, era só alegria & romance. Aquele lugar fervia, nas últimas horas da madrugada. (Nós éramos um bando de moleques, mas éramos "bem chegados"). Eu descolei muitas meninas lá. Meninas da noite, anjos noturnos. Depois que a gente se enturmava, juntávamos as mesas & aquilo virava uma festa tipo italiana. Era bom, muito bom mesmo. O dia clareava, lá fora, e nós, ali, naquela alegria febril, vivendo, vivendo...Nos finalmentes, a mulherada perdia todo o pudor, (se é que existia isso ali), e viravam bacantes...Eu transei muito, ali dentro, no escurinho. Eu até me atrevi, a cantar uns bolerões lá. Tipo "La Barca" & outros. Eu descolei uma stripper argentina lá, (era a coisa mais linda), me chamava de cariño. Eu caía matando nos "Cuba Libre". (Quem fim levou os "Cuba Libres" ?Eu só gostava com Rum Baccardi, ouro. Tinha um tal de "Rum Montilla", que assassinava a cabeça da gente, dava uma dor de cabeça daquelas. - Oh, mon Dieu de la France, (como dizia a minha mãe), era bom pra caralho. No final da noitada, a mulherada com a maquiagem toda borrada, cabelos despenteados, coisa mais linda...Era como acordar, ao lado de uma linda mulher, sem maquiagem, apenas com sua beleza natural.(Depois que nós estamos borrachos, não existem mais mulheres feias, todas são lindas). - Eu até diria, que a falta de bebida, (em nós), é que enfeiam as mulheres. Não ! Tudo bem que Vinicius disse que beleza é fundamental... Mas depois do quarto, quinto uisque, todas são miss Brasil...Agora, tinha que ter muito cuidado, porque você podia ir deitar com uma mulher, e acordar com um travesti. Aí era phodda, ( com ph de pharmácia & dois d, de Toddy). - Quando eu chegava trèbado na minha mansarda, minha senhoria dizia: - Ê Alex, na putaria até agora, em plena terça feira??? - Eu dizia: - Viver é bom, dona Fulana, "amanhã eu posso acordar morto". Meu, depois dessas peripécias me dava uma fome, uma larica daquelas...Daí eu ia comer kaftas, esfihas, tabule & homos, no restaurante libanês, da Av. Augusto Severo...Quando eu menos esperava, anoitecia de novo...E era tudo como d'antes no quartel de Abrantes...A boêmia era boa, eu sempre gostei...Salve a boate Balalyka, covil de cobras & lagartos.

"Bofetada no rosto"

Eu estava em São Paulo, lambendo as minhas feridas. tal qual aqueles cães velhos, de rua. Isso aconteceu depois que eu tomei aquele par de chifres, daquela devassa, a Ivie. Eu estava sentindo muita pena de mim. Parece que não adiantou muito, o escândalo que eu aprontei, parando aquela peça famosa, naquele teatro no Bexiga. Eu fiz o maior auê lá & vomitei, literalmente, nela & naquele cara, que estava conosco. Foi um lance escatológico legal. Eu vomitei neles, eu golfei cerveja & Fogo Paulista neles... Mas a dor de corno continuava batendo forte...Eu até sonhava com aquela "quenga". Daí, eu conheci aquela menina, a Nê. Eu expliquei tudinho pra ela. Eu disse: - Eu estou curando uma dor de corno muito violenta, acho que não consigo namorar ninguém. Você não deve perder o seu tempo comigo, eu sou caso perdido...Aquela menina era fera ferida, tinha sangue nos olhos & me disse assim: - Cara, você está nessa solidão, chorando suas mágoas, deixe eu vir conversar com você. Vai lhe fazer bem, ter alguém com quem desabafar... Véio, mulher bonita é fogo...E aquela menina era linda, ela parecia com aquela atriz francesa, a Catherine Denevue, (é assim que se escreve?), aquela do filme La Belle le Jour. (Eu não queria empatar a vida de ninguém, muito menos a dela, que era uma pessoa legal). - Eu disse, literalmente: - Meu, eu não amo você, não perca seu tempo comigo não. Aquela atrevida me disse assim: - Você não me ama agora, mas daqui há uns meses, você estará perdidamente apaixonado (???). - Irmão, vamos combinar o seguinte; eu era jovem, tinha tesão, e aquela garota me beijava na boca, jogava o corpo dela contra o meu, (ela estava me consolando). Eu me envolvi, eu me apaixonei, (ela tinha razão, eu precisava de alguém, que me desse um pouco de carinho). A Ivie já era apenas uma tênue lembrança, uma coisa chamada passado. Eu comecei a sentir falta da Nê, eu queria estar com ela direto, todas as horas do dia. Naquele tempo, ela tinha que voltar pra casa, lá pelas dez horas da noite, quando atrasava um pouquinho, meu cunhado mandava chamar. No melhor do namoro, vinha uma irmã chamar, (era a Beth). (Eu pedia que ela ficasse mais um pouquinho, ela ficava, e saía uma brigaiada daquelas, quando ela chegava lá). Uma noite, meu cunhado Nil, pegou a dentadura dele, e jogou no chão, pegou uma faca, e disse que viria me matar...O cara era forte... Eu teria que dar um belo chute no saco dele, e depois meter a porrada...Mas a Nê estava triste...Ela estava naquele fogo cruzado, irmão versus namorado...Os olhos estavam tristes...O sorriso já não era o mesmo...(Essa noite, eu cometi a loucura da minha vida), eu disse, de supetão : - Vamos nos casar ? - Você aceita se casar comigo ? - Ela me olhou surpresa, os olhos voltaram a ter aquele brilho lindo. Eu, por minha vez, pensei assim : - Cara, você não tem "eira, nem beira", como pode querer se casar ?). - Aquela sagitariana disse : - Eu aceito me casar com você, me abraçou bem forte e disse : - Agora eu vou cuidar de você, sempre, durante toda a minha vida, eu prometo. - Véio & bom Charlie, eu estava phuddiddo, como iria sustentar a gente ? Eu não tinha dinheiro & nem emprego...Mas nós ficamos noivos, (não tinha anel & nem porra nenhuma), mas ficamos noivos...(Eu precisava avisar a minha mãe, mas não tinha coragem). Dias depois, eu resolvi falar com minha mãe. Fiz um almoço pra nós, no meio do almoço eu contei. Minha mãe se levantou, e me deu uma bofetada na cara, (foi a primeira vez que eu apanhei dela). ) Disse: - Você vai se casar & eu vou sustentar você & a sua mulher ? É isso ? Meu rosto estava quente, da bofetada e da vergonha... - Eu respondi : - Mãe, não precisa se preocupar, eu estou indo embora daqui. - Mamãe ficou do mesmo jeito, parada, como se aquilo não fosse com ela... Eu juntei as minhas roupas, coloquei na mochila, peguei uns trocados que tinha & saí. - Cheguei no portão de casa, me sentei e comecei a chorar...E agora ? Vou pra onde ? Resolvi me despedir da Nê, dizer que não tinha onde ficar, que daria um jeito & depois voltaria... (Eu sentia uma mescla de vergonha & tristeza). Cheguei na casa da Nê, bati na porta, ela veio, viu a mochila...Eu contei tudo & nós choramos ali, juntinhos...Acho que ela sentiu que eu sumiria no mundo, porquê pediu que eu entrasse com ela. Nós contamos tudo para minha sogra, (a Nê implorava, com os olhos, uma ajuda da mãe dela). Por fim a Nê disse : - Mãe, deixa ele ficar aqui com a gente? Minha sogra, minha querida segunda mãe disse: - Você ama a minha filha ? Você quer se casar com ela, de verdade ? Eu disse que sim, que eu amava a Nê. Minha sogra falou; - então você pode ficar... A minha primeira noite com a Nê, foi estranha, eu estava dividido, entre a felicidade & a tristeza. Mas nos amamos assim mesmo. Fomos até o meu sogro, que estava separado da Dona Leonor, e eu pedi a mão da Nê. Nos casamos em Araraquara, no dia 22 de setembro, de 1973, (entrada da primavera), naquele cartório do centro, da avenida Pedro II. Foi feito um almoço maravilhoso, na casa do tio dela, o Cinha, já falecido, foi muito bonito. Só faltou a minha mãe. Na volta para São Paulo, Deus operou, e eu conheci um cara que tinha uma fábrica de bolsas de sintético, que queria fabricar bolsas de couro, e eu virei sócio dele. Meus amigos hippies do Rio, haviam me ensinado a fazer bolsas de couro, daí foi só alegria. Eu desenvolvi duas linhas de bolsas, uma premium & uma popular. A premium, eu vendia até na Oscar Freire, a popular, eu vendia nas feiras, nas festas do povão. Eu comecei à ganhar muito dinheiro, (aquele cara que não tinha "eira nem beira"). Um dia, minha sogra disse: - " Chegou a hora de você fazer as pazes com sua mãe, um filho, não pode ficar longe da mãe". Eu peguei um pacote de dinheiro & fui falar com minha mãe. Quando ela me viu, ela me abraçou e disse: - Que saudade de você, (eu apertei minha velhinha nos braços, e ficamos ali). - Ela disse; vem morar comigo, eu deixei aquela casa do meio para vocês. Eu aceitei. Deixei o dinheiro com ela e fui buscar a Nê. - Fomos felizes, eu e a Nê, naquela casinha. 

"Eu gostaria de falar de flores"

Eu estava no bar, tomando um café, para ir trabalhar O cara chegou e me disse: - Meu patrão mandou lhe dar um recado( ???). - Eu estava naquele bar, lá na zona leste, e lá não se falava de flores...(Lá se falava de violência, de trabalho, de condução super lotada, de sofrimento). - Quem é o seu patrão ? - Meu patrão é Fulano, ele mandou lhe avisar, pra não aparecer nesse lugar amanhã. Nem você, nem sua esposa & nem sua filhinha...A morte vai passar por aqui, amanhã... - Eu por mim, não lhe avisaria, mas ele diz que você é uma pessoa boa, e não merece estar aqui, quando a merda acontecer...Você é o cara que trabalha num jornal, não é ? O jornalista ? - Meu patrão disse que você é um cara educado, respeitador, sempre o cumprimenta, e coisas tais. - Não apareça por aqui amanhã (???). (Eu imaginei o que poderia acontecer lá, possivelmente um acerto de contas, de quadrilhas rivais). Voltei em casa e disse pra minha esposa: - Eu gostaria de lhe pedir que não fosse ao bar amanhã, em nenhuma hipótese, ok? Ela me olhou, inquirindo e disse. - Porquê ?- Eu respondi que estava tendo um pressentimento ruim, essas coisas. (Mulheres... ela queria saber a verdade). Me disse assim: - Cara, você está me achando idiota? - Não, amor, mas não vá lá. Compre o pão na padaria do ponto final, cigarros, essas coisas... Mas por favor, me obedeça. (Nós fazíamos algumas compras ali, ( um leite, pães, cigarros). Eu gostava de tomar uma coca cola ali, quando voltava do trabalho. Pedia o refrigerante e ficava conversando com a galera. Ali tinha de tudo, trabalhador, estudante, ladrão, assassino, traficante, "espianto". Mas era o bar na frente da minha casa. E eu conhecia aquele povo todo. E todo mundo se respeitava, Éramos vizinhos, reunidos no final de um dia de trabalho. Áh, e o cara me disse assim: - Se essa nossa conversa vazar, eu venho lhe fazer uma visitinha... Eu, correndo risco de vida, avisei alguns "chegados". - Véio, no dia seguinte eu nem fui trabalhar. Estava com medo de minha mulher me desobedecer. Nem a menina, eu deixei que fosse pra creche. - Véio & bom Charlie, no anoitecer, lá pelas sete, oito horas, nós ouvimos um matraquear de armas automáticas, um tiroteio do caralho. (Aquilo parecia uma eternidade). Minha esposa me olhou e disse: - Você sabia dessa merda, não é ? Deve ter morrido gente ali...- Eu apenas respondi: - É guerra de bandidos, pode ter certeza de que ali não morreu trabalhador, só bandido. E eu não poderia falar nada, por que o cara me "jurou de morte", se eu comentasse com alguém. - O "patrão dele, o Fulano, mandou ele aqui, pra me avisar & nos preservar. - Véio, a hora que eu saí, pra dar uma "pescoçada", tinha "presunto" pra todo lado. Televisão, polícia, jornalistas...(Nenhum cliente "do bem", foi incomodado, o dono do bar & família também não). - Era um "acerto de contas", entre aquela bandidagem. - Eu gostaria de falar de flores...(Mas ali na zona leste, era difícil, se falar de assunto tão prosaico).

"Ser um homem, (ainda criança)"

- Menino, leve a Lili para passear na praça. - Sim, titia Aliz, eu levo. (Tia Aliz foi minha segunda mãe, me deu todo carinho, que uma tia pode dar a um sobrinho, matou a minha fome, a minha carência de amor, me entendeu). - Peguei a Lili, e fui para a Praça Paris com ela, eu gostava muito daquele lugar. Na praça, existiam umas esculturas greco romanas muito bonitas. Eu gostava de conversar com Deus & com elas. (Mamãe estava internada, doente). Eu era um menino super solitário, tinha os meus amigos imaginários, (essas coisas que crianças usam, para afastar o medo da realidade crua & cruel). O governador havia prometido pra minha mãe, que arrumaria uma boa escola, onde eu seria educado. (Eu nem, imaginava o inferno que se aproximava, a tempestade que estava se formando). - Voltando ao momento na praça: - Eu disse pra Lili, eu vou soltar você, comporte-se, viu Lili? Fiquei sentadinho ali, pensando na minha vida, chorando quietinho, querendo minha mãe. Comecei a conversar com Deus: - Eu disse: - Deus, me faça virar adulto logo, me faça ter forças para poder cuidar de mim. (Eu gostaria tanto, (disse pra Ele). Via aquelas crianças com as mães, brincando alegres, e eu ali, só, me atrevendo a conversar com Deus.- Eu perguntei: - Deus, será que um dia eu vou me casar, ter uma esposa, filhos ? - Sabe, Deus, eu prometo para o Senhor, que eu serei o melhor pai do mundo. Eu vou amar muito, a minha família. Eu me sinto tão só, Deus, sem a minha mãezinha. Me trás ela de volta logo, abençoa a mamãe, Papai do Céu. ( A praça Paris era muito boa pra se chorar, ninguém reparava num menino só, chorando suavemente, sem chamar à atenção). - Eventualmente, eu dava uma olhada na Lili, lá estava ela, brincando e correndo com as crianças. Titia Aliz, estava com o namorado no apartamento, o Alphonse, o grande amor da vida dela. Eu precisava demorar bastante, para não atrapalhar o namoro deles. (Ia demorar tanto, até eu crescer, ser uma pessoa independente. ganhar o meu dinheiro)... Eu era um menino pequeno, mas já ia nas matinês sozinho, ia no Cine Politheama, ia no cine São Luiz. Tomava guaraná & comia mistos quentes no Lamas, aos sábados. Eu sempre me virei sozinho. Eu já sabia fazer arroz, fritar ovos, fritar peixes, essas coisas básicas de cozinha. - Mamãe trabalhava muito, quando ela chegava a noite, eu dizia: - Mãe, eu já fiz o nosso jantar, vamos comer juntos...Minha mãe olhava, arregalava os olhos, como que dizendo, "como é que pode um menino tão novinho já saber cozinhar"? Essa era a minha vida, com minha mãe.. (Agora ela estava doente, e eu na casa da minha tia). (Eu nem sei o porque de estar escrevendo essas coisas agora, talvez seja uma ode à minha mãezinha). Depois que eu cresci, alguns anos depois, eu consegui ser o "ovelha negra" da família... Não deixou de ser um progresso. Eu me lembro de tudo isso agora, e sinto que consegui passar por toda tempestade, que a vida me apresentou. A hora agora é de bonança & de se preparar para a "grande travessia". - Mais dia, menos dia, o timoneiro vai aparecer, e traçar o rumo da grande viagem. 

"Quando eu vi os anjos"

A primeira vez que eu vi os anjos, foi em 1965. Era dia de Nossa Senhora da Glória. Eu tinha 15 anos. Uns amigos pegaram o carro dos pais, e me chamaram para ir passear com eles. Eu fui, o carro era um "DKW -VEMAG", zerinho...Eu me sentei no banco de trás, na janela e fomos Chegando próximo do Aterro do Flamengo, o menino do lado pediu que eu deixasse ele ir na janela. Nós trocamos de lugar e o carro capotou logo adiante. Nós estávamos a mais de 120 quilômetros, e o carro capotou sete vezes. Aquele barulhão de ferragens no asfalto, depois, silêncio total...Eu chamava por eles, e ninguém respondia...Só eu consciente...E eles chegaram, dois caras de terno preto.- Comentaram, (eu ouvia tudo), ele está bem, mas os outros estão muito machucados... (Eu só sofri um corte no braço e luxação na bacia).- Eles sumiram depois. Uns dez minutos depois, começou a chegar socorro. A segunda vez que eu vi os anjos, foi lá pelos anos setenta. - Eu havia me programado para morrer, eu havia me decidido suicidar. Eu consegui uma droga, era uma ampola de 10 ml (ou cc), ela era grande. O cara que me deu disse o seguinte: - Esse medicamento é pra ser tomado cronometrado. Se você tomar essa ampola rápido, você vai morrer. Eu fui lá pro Aterro do Flamengo, perto do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra. Era noite bonita, cheia de estrelas. Me ajoelhei, fiz uma oração, pedi perdão a Deus e a minha mãe, chorei, e preparei a seringa. Injetei aquilo de uma vez só... E fui apagando, apagando...- Não sei quanto tempo se passou, mas eu fui voltando, meio tropego, sentindo tudo longe, longe. De repente vi os dois, os caras de roupa preta, os mesmos, a mesma voz. Eles estavam do meu lado, e diziam, - "ele ainda está vivo", ele não vai morrer. Temos que levar ele pra casa. (Quem conhece o Rio, sabe da dificuldade de se atravessar as pistas do Aterro...Mas eles me levaram em casa e eu sobrevivi.- A terceira vez que eu vi os anjos, foi em 1991. - Eles me apareceram como anjos, com asas, bem altos e de cabelos louros, bem compridos. E essa vez eles falaram comigo. De novo, eu estava muito triste, e Deus deve ter pensado:- " Eu agora vou explicar tudo direitinho pra ele, de uma vez por todas". - Eu estava deitado, lendo, e de repente, o tempo parou, não se ouvia nada, nem carros na rua, nada. Eu fui transportado pra outro lugar. - Era uma congregação muito grande, tinha um púlpito, e nós estávamos nele, haviam três colunas muito grandes, a frente, eram muitas pessoas lá. Eles (os anjos) batiam as asas, e pequenas pepitas de ouro caiam ao chão. E um deles disse: - Você é nosso filho querido, meu Pai manda dizer que a partir de agora, tudo vai mudar. E ele manda lhe entregar um novo nome, ZAYN. - E manda dizer também, que daqui a um ano, vai chegar um varão na sua casa. - É para colocar o nome dele de ISRAEL.- Lembre-se o Nosso Pai é e será sempre com você, filho querido. E foi isso que aconteceu. O Israel chegou, nasceu no mesmo dia e hora em que eu nasci.- Em tempo: ZAYN quer dizer, aquele que não compactua com coisas erradas. - E eu aceitei o meu Pai, desde então. - Foram essas as visões que eu tive dos anjos. Elhoim, El Shaday, Adonai.

"Abismo (drugs & overdose)"

A Ivie chegou e disse: - Você sabe quem morreu ? Ela mesmo respondeu, Fulana morreu de overdose, lá nas pedras do Aterro, ali perto do morro da Viúva... - Eu pensei, caralhos, nós estivemos juntos na semana passada... - A Ivie disse: - Encontraram ela com a seringa ainda na veia, de olhos esbugalhados, olhando para o céu... Eu perguntei pra Ivie que merda de droga ela estava usando, (a menina). Ivie me explicou que a menina estava usando aquela ampola que um cara estava vendendo, e que fazia o maior sucesso. - Meu, era uma ampola de dez ml, que era diluída no soro, (no hospital), e que se tomasse aquilo, era pra tomar em grupo, cada um um pouquinho, senão matava. E tinha o detalhe que tinha um prazo pra injetar, se "jogasse" muito rápido, dava parada cardíaca. (Acho que a Fulana sozinha, nas pedras, fissurou e tomou inteiro)... Foi pro saco... Era moda, naqueles tempos loucos, injetar...Eu & a Ivie, tomávamos "Pervitin", era um estimulante, a base de anfetamina, que deixava realmente alucinado...(Eu tinha uns amigos médicos, que me traziam dos plantões). - Quando um cara morria, eles davam baixa em algumas ampolas, e pegavam o "produto" no dispensário. Nos finais de semana, eu tinha sempre trinta, quarenta ampolas... A Ivie gostava de marijuana, de "Artane" & afins. O "Pervitin" de rótulo azul, o hospitalar, era fortíssimo. Tinha também o de rótulo preto, que era médio, e o de rótulo marrom, que era uma merda. A gente injetava aquela merda com as seringas de insulina, (aquelas pequenininhas), que tinham as agulhas de 7x7. - Véio & querido Charlie Brown, droga injetável é o pesadelo, é o último passo na caminhada da morte...Eu tomava a primeira dose de manhã, (depois do banho). e saía desembestado pelas ruas, alucinado. Tomava a segunda dose no meio do dia, e a terceira a noite. - Meu peso chegou aos quarenta quilos, eu não comia mais, perdi totalmente o tesão por me alimentar. Notei também, que estava perdendo a vontade de viver, que não sentia mais alegria por merda nenhuma. Abandonei os meus poucos amigos. Só os drogaditos é que tinham importância... Depois de uns meses, eu estava numa depressão horrível, e decidi me suicidar. (Eu conto essa história em "Quando vi os Anjos", está aí no Cotidiano & Sacanagens). Eu pedi a Ivie que me apresentasse ao cara que vendia aquelas "ampolas assassinas". Ela ficou muito puta comigo, disse que não faria, não me apresentaria ao cara. Que eu estava louco de tomar aquela merda, e coisa e tal. Ivie nem imaginava, mas eu havia arquitetado o meu plano de fuga, - suicídio. Mas eu descobri o Fulano, ele fazia ponto ali perto do Cine Paissandu. Comprei a ampola, ele veio com aquela ladainha louca, de explicar como tomar aquilo & coisas tais...Eu decidi morrer na noite seguinte, na ciclovia, em frente ao Monumentos aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo. No último dia da minha vida, eu estava estranhamente tranquilo, passei o dia no meu quarto, rememorando minha vida. Me lembrei das coisas boas & das merdas também. Fiz algumas orações, perdi perdão a Deus & a minha mãe, (ela iria se sentir muito triste, eu sabia). Tudo que eu havia planejado, havia dado errado. Pelo menos se eu morresse, não faria falta a ninguém...A noite chegou e eu fui para o meu local derradeiro... Eu me lembro hoje, de todos os detalhes, o céu estava super estrelado, era hora do rush, carros voando em todas as pistas do aterro & da Avenida Augusto Severo. Eu me sentei ali na ciclovia, enchi a seringa com todo o líquido, fiquei um tempão com ela nas mãos...(Uma voz me dizia: - "Não faça isso", & outra voz dizia: - Faz: - "injeta tudo & acabe com esse sofrimento". Eu nem fiz "garrote", injetei aquela merda toda, de uma só vez. Fui apagando, vendo aquele céu bonito, apagando e morri...(Quer saber o final dessa história ?) - Leia o conto "Quando eu vi os Anjos...

"Recuerdos"

Nós estávamos naquele bilhar famoso, lá na Praça Tiradentes, no Rio. Eu e mais dois amigos. (Eu não me lembro o nome do bilhar, e nem o nome dos amigos). Mas me lembro bem, do que aconteceu naquela noite. Nós havíamos decidido jogar bilhar & tomar umas bebidas. Eu nunca fui essas coisas no bilhar, mas estava jogando, e perdendo dinheiro. Na realidade, achei que poderia ganhar umas partidas, dos meus amigos, mas os caras jogavam muito e eu quebrei a cara. Eu estava ali, tentando aplicar algumas sinucas de bico, e aquele senhor se achegou... - Ele disse: - Olá boa noite, (estava tentando entabular uma conversa)...- Eu respondi o boa noite dele, e continuei jogando, tentando ignorá-lo. - Ele perguntou: - Você me conhece ? Sabe quem eu sou ? - Eu respondi que não sabia quem ele era... - Atrevidamente eu disse: - E o senhor, sabe quem eu sou ? (É lógico que eu sabia quem era ele)... Ele me disse, eu sou o Braguinha, compositor.( O grande compositor de marchinhas carnavalescas, Alá laô, Pirata da perna de pau, Cabeleira do Zezé & tantas outras). - Mas eu estava de saco cheio e disse: - O senhor sabe quem eu sou ? Repeti...- Eu disse: - Eu sou o Alex, grande compositor de músicas de protesto, poeta e escritor. - Ele arqueou as sobrancelhas, como quem diz, é maluco...E foi saindo de fininho... Eu perdi mais umas partidas, minha consciência me disse que eu havia sido grosseiro com ele, parei de jogar e fui conversar. - Eu me aproximei e disse: - Eu sei quem o senhor é...É o grande Braguinha, o maior compositor de músicas carnavalescas do Brasil... Braguinha se abriu num sorriso franco, e ficamos conversando por algumas horas, ali naquele bilhar. Ele era uma pessoa muito franca & simples, queria apenas prosear. Eu falei das minhas dificuldades, em colocar minhas músicas. Disse que já estava ficando conhecido no meio, mas era muito difícil. Disse que já participava de alguns programas na Rádio Nacional, contei que já havia dado algumas entrevistas na Rádio Jornal do Brasil, mas mesmo assim, as coisas não eram fáceis. Seu Braguinha me ouviu com paciência, me explicou que as coisas eram assim mesmo, mas que eu lutasse pelos meus sonhos...( Essa conversa, nós tivemos há uns quarenta e cinco anos atrás ). Anos depois, eu abri mão do sonho de ser cantor/compositor, por que minha mãe havia ficado viúva, e eu achei que ela estava precisando de mim, e vim para São Paulo. Daí me casei e a vida mudou de rumo. Foi muito difícil, abrir mão do meu sonho, foi muito sofrido. Os caminhos que a vida nos traça, são caminhos de escolhas, e eu achei que naquele momento era o que eu precisava fazer. Mas eu nunca esqueci da minha conversa com o Braguinha, daquela figura humana e cordial. Em São Paulo, me dediquei à escrever poemas, ganhei alguns concursos literários, mas a música ficou apenas no meu coração. Voltei a compor, quando entrei na igreja, compus louvores, músicas gospel, spirituais. Compus um louvor que dizia assim: - " Muitos reis, existem na Terra, muitos reis, existem aqui. Há um Rei que virá, entre Glórias & Louvor, e o nome desse Rei é Jesus, Aleluia, Aleluia, Aleluia". Esse era o refrão da música. - Boas lembranças...

"Vamos conversar? Apenas conversar?"

- Você consegue chorar? Você consegue sentir, quando as lágrimas estão chegando, seus olhos começam a arder, e elas fluem, escorrendo pelo seu rosto, descendo pelo seu corpo ? - Eu ainda consigo chorar. Eu não brigo com elas, não. Eu reaprendi a chorar, há uns trinta/trinta e cinco anos atrás. Eu não chorava. Eu fazia parte daquela geração de homens que não choram, e morrem de infarte... Ontem eu chorei, assistindo um filme, chamado "Doze anos de Escravidão"... Hoje eu também acordei chorando. O meu choro, não é um choro de tristeza não. É um choro de sentimentos represados, é uma coisa boa... Depois do choro, eu me sinto renovado, como se um novo sol estivesse nascendo, como se uma nova vida estivesse chegando. (Os machistas de plantão, vão dizer que esse papo, é um papo aviadado, aboiolado ), mas chorar é bom, faz bem a alma & ao coração. - Não sei quem disse que chorar, nos remete à infância, as lembranças mais íntimas, da tenra idade. Esses dias, eu estava no trânsito, dentro do meu carro, ar condicionado ligado, na minha "zona de conforto", e vi um cara super magro, com uma sonda pendurada no corpo. Tinha uma placa que dizia: - "Soropositivo", me ajudem por favor. Eu não tinha nenhum dinheiro trocado, e fiquei com medo de pegar minha carteira. Daí eu disse que não tinha dinheiro trocado, ele agradeceu, me mandou um sorriso e se foi. Eu confesso que dei uma choradinha ali, naquele momento. - O rapaz numa situação daquelas, e ainda conseguia sorrir...Eu chorei, (não sei se de remorso, ou de dó dele). Talvez eu tenha chorado, por ter aprendido mais uma lição, nessa minha vida. Uma pequena lição de amor. Eu me lembrei de uma outra passagem, na minha vida, onde eu desabei num choro desenfreado. Foi quando eu encontrei o Silvio. Silvio foi meu funcionário durante uns dez anos. Depois ele se viciou em crack, não conseguia trabalhar mais, virou um farrapo humano. Eu não demiti o Silvio, ele apenas sumiu da firma. Eu fui na casa dele, paguei todos os direitos, tudo direitinho. Um domingo, eu subi com o meu filho até a padaria, e lá estava o Silvio. Eu havia acabado de tomar banho, estava limpo, perfumado, com roupas elegantes e tal. - Meu filho disse: - Pai, olha o Silvio, como ele está sujo, deve estar até fedendo... - No que eu entrei na padaria, Silvio me viu, os olhos dele brilharam...Ele estava com uma bermuda imunda, sandálias de dedo, todo sujo & fedido. (Aquela padaria estava cheia de clientes), ele veio e me abraçou, e disse no meu ouvido: - Eu amo muito você, você é o melhor amigo que eu tenho. Nunca vou esquecer o que você & a Nê fizeram por mim. (Nêgo véio, eu desabei num choro, ali, naquele lugar cheio de gente, abraçado com ele). Ninguém estava entendendo nada, parecia que o tempo havia parado. Depois de um certo momento eu perguntei: - Você está precisando de alguma coisa? Ele disse que não. Eu tirei uma nota do bolso, entreguei a ele, e nunca mais o vi. - Meu filho disse: - Pai, você está fedendo... - Eu respondi,: -Não filho, eu não estou fedendo, meu coração está limpo, minha alma também...(Silvio voltou à igreja, conseguiu se livrar do crack, e morreu de acidente do trabalho). - Deve estar no Céu. - Chorar é muito bom, & faz bem a saúde. 

"O dia que eu saí de casa"

O dia que eu saí de casa.- (Parece até música do Zezé di Camargo & Luciano). Mamãe havia se casado com um senhor português, professor, e viemos morar com ele em São Paulo. Ele era uma alma muito boa, que Deus o tenha. Mas tinha filhos infernais, maus, truculentos & traiçoeiros. Nós fomos morar no bairro do Belenzinho, na rua Julio de Castilhos, bem do ladinho daquele grupo escolar. O professor tinha seis filhos, morando com ele, e mais um casado, todos adultos. Eu estranhei muito, aquele ambiente. Estava acostumado com minha vidinha de garoto no Rio. Tinha toda a liberdade, ia à praia, soltava pipas, essas coisas que moleques gostam de fazer. Mamãe fazia tudo para agradá-los, cozinhava, dava aulas, cuidava da secretaria, varria a escola... Tadinha, (ela não sabia, mas eles faziam pouco dela, debochavam dela). Mamãe era surda, ainda não havia conseguido comprar o primeiro aparelho auditivo dela. Mas eu não era surdo, e ouvia aqueles deboches todos. Eu gostaria que você imaginasse, por apenas um momento, se descobrisse que as pessoas estavam "zuando" a sua mãe...Sentiria raiva, ódio, não é? Pois era exatamente isso que eu sentia. A gota d'água, foi quando eu vi a filha dele cuspindo, escarrando, numa salada que minha mãe havia feito. E todos eles rindo, debochando... Eu resolvi ir embora, fugir daquele lugar...(Eu acho que tinha quinze, pra dezesseis anos, molecote de tudo). Resolvi "cair no mundo", eu que não conhecia nada do mundão de Deus, nada da vida. - Eu disse: - Mamãe, amanhã cedinho eu vou embora... Vou voltar para o Rio. Minha mãe arregalou os olhos e disse: - Como ? Eu não vou deixar você ir, você é menor de idade. - Eu disse: - Mãezinha, se a senhora não me deixar ir, eu vou fugir, eu estou decidido. Ela disse: - Então eu vou com você... - Não mãe, fica aqui, acho que a senhora vai conseguir ser feliz aqui, a senhora e o seu Francisco. (Depois que a filharada casou, o casal viveu, por muitos anos juntos, felizes). Cedinho, no outro dia, eu peguei uma malinha, daquelas de papelão, coloquei minhas roupas dentro e fui saindo. Mamãe e seo Francisco estavam me esperando. Tentaram me convencer a ficar, mas eu bati o pé, e disse que ia embora. Minha mãezinha tirou umas notas do bolso e me entregou. (Eu estava dando uma de "durão" ali, mas na verdade, eu queria agarrar minha mãe, e ficar juntinho com ela). Peguei o dinheiro e saí vazado dali. Depois de andar quase um quarteirão, olhei para trás e estavam os dois de mãos dadas, mamãe estava chorando. Já embarcado, dentro do Cometa, comecei a sentir medo & saudade da minha mãezinha. Eu gostaria que aquele ônibus nunca chegasse no Rio, que acontecesse alguma coisa e eu pudesse voltar pra minha "casa". Mas eu não tinha mais casa, eu agora, era apenas um menino, sem mimo, jogado no mundo...Quando eu desembarquei na rodoviária Novo Rio, eu tomei consciência: - Eu não tinha para onde ir...E agora? Peguei um ônibus e fui lá pra Lapa. Essa noite, eu me lembro bem, fui dormir lá no monumento aos mortos da Segunda Guerra Mundial. Cedinho eu acordei, tomei uma média com pão & manteiga, e fiquei sentado na praça Paris. Na noite seguinte, eu dormi numa hospedaria, lá na praça Tiradentes. Aluguei um quartinho na Lapa, e fui trabalhar de servente de pedreiro...Os caras me mandaram embora, por que eu era muito fraquinho, e não conseguia carregar aquelas latas pesadas...(Eu me lembrava da minha mãe, e chorava de saudades, mas havia feito o propósito de me virar, me transformar num homem de verdade). - Foi muito difícil, os primeiros meses, eu "camelei" muito. Hoje eu olho pra trás, me lembro dessas coisas todas, e acho que fiz o certo. Aos sessenta e três anos, eu posso dizer o seguinte: - Eu ganhei o mundo, ele não me ganhou. - Beijos, minha mãe, onde a senhora estiver, eu sempre irei amá-la, enquanto viver. Ciao bambinos.

"Bamburrar"

Acabei de jantar. Comi seis alcachofras em conserva, seis azeitonas Zappa, tomei meia garrafa de chianti Ruffino, safra 2006. (Comidinha de frade franciscano). - Moral da história: - Me lembrei do garimpo, na divisa de São Paulo com o Paraná. - Essa história foi o seguinte, eu estava em casa, lá na zona leste, e o Chili chegou. - A primeira coisa que ele disse foi o seguinte: - Vamos "bamburrar" ? (Bamburrar é gíria de garimpeiro, e significa ficar rico). Eu me lembro de ter dito: - Você quer ir pra Serra Pelada ? É isso? (Nem phoddendo, eu iria pra Serra Pelada). - Daí ele disse: - É na divisa de São Paulo com o Paraná, meu pai andou pesquisando por lá, e existe muito ouro na área...(Meu amigo Charlie, você sabe que eu tenho um espírito aventureiro), fiquei com a pulga atrás da orelha, quis saber mais. - Ele disse, meu pai andou com o aparelho lá, aquele que detecta metais, e tirou amostras de ouro. Eu estou indo amanhã...- Eu fui, né Zé... - Pegamos o ônibus "Transpen", até um povoado chamado Itapirapuã, dormimos lá, e no outro dia subimos a serra, (mais duas horas de busão, & mais uma de caminhada). - Cara, o lugar era muito, mais muito bonito mesmo. - Armamos nossa barraca, (antes nós cortamos o capim gordura, que passava de nossa altura), tínhamos muitas provisões. Eu havia levado o meu violão & meu revolver Smith & Wesson, calibre 32. (Na realidade, aquele revolver não resolveria nada, caso a gente trombasse com alguma onça). E lá tinha onças & cascavéis de montão...- Véio, no cair da tarde, fomos vitimados por um ataque de muriçocas (pernilongos), mas tinha muitos, muitos mesmo. Senti que o meu estoque de repelente não duraria muitos dias. Nossa primeira noite foi de música, baseado & estrelas... Dia seguinte, café da manhã e barranco. Descolamos um lugar pra trabalhar, na margem esquerda do rio, e começamos... O trabalho era pesado pra cacete, tínhamos que bater o enxadão naquela terra, cheia de pedras, colocar na batéia, e ir lavando aquela merda na margem do rio. (Não é preciso ser um gênio da lâmpada, pra imaginar que aquele dia não achamos nada, só bolhas nas mãos). Além das bolhas, os pés inchavam, porque a gente trabalhava por horas, dentro do rio, e tirar aquelas botas de borracha dos pés era phodda. - No terceiro dia, o ouro deu as caras...Era pouquinho, no fundo da batéia, misturado com aquela limalha de ferro. Lá pelo quarto dia, já começaram a aparecer aquelas pedrinhas minúsculas, de ouro. - Véio, eu já estava tão exaurido, fisicamente, que nem aguentava pescar para o nosso almoço...Mas nós sabíamos que havia um veio grande de ouro, por ali. A noite, as onças berravam, na outra margem do rio. As cascavéis também passavam perto de nós...Quando íamos pegar água, encher os galões, nós ouvíamos o cascalhar das cobras. Meu cagaço era ser picado por uma delas... Ali não havia socorro, seria morte certa... Mas também tinham os lances legais. Na margem do rio, tinham umas borboletas amarelas, nós ficávamos bem quietinhos, e elas vinham e pousavam na gente, milhares delas...Nossos corpos ficavam tomados por elas, era muito legal. - Um dia nós recebemos a visita de um cara, morador da área. Conversamos, eu dei uma lata de óleo de soja pra ele, e ficamos amigos. No outro dia ele voltou, trouxe umas linguiças pra nós, de um cateto que ele havia caçado. Falamos das cascavéis, do nosso medo, e ele foi pegar água conosco. Chegando no ninho das cobras, ele disse: - Fiquem bem quietinhos aí, por que eu vou pegar uma cobra para o nosso almoço (???) - Véio, você pode não acreditar, mas aquele mano voltou com uma cobra nas mãos... Pegou o facão, cortou um palmo após a cabeça, e um palmo antes do final do rabo, do chocalho...Puxou o couro da cascavel, e o couro saiu inteirinho... Cortou vários pedaços, temperou e assou... Véio, aquela merda era gostosa demais, comemos tudo... - Voltando a garimpagem: - Nós já tínhamos uns três tubinhos daqueles de embalagem de filme, cheios de ouro, resolvemos partir no dia seguinte. Acho que já tínhamos uns 150 gramas de ouro, era um bom dinheiro. - Mas foi aí que cometemos a cagada... Deixamos o nosso ouro no barranco... (Choveu pra caralho nessa noite). O rio subiu e o nosso rico ourinho foi pras picas...Essa foi minha experiência como garimpeiro. Não "bamburrei", mas curti pra cacete, naquele lugar. Quando voltei pra Sampa, minha mulher perguntou: - Cadê o ouro??? - Eu respondi...- Ele resolveu ficar por lá mesmo... 

"Mergulhar"

Aquela manhã me deu vontade de mergulhar, peguei meu snorkel, nadadeiras, arpão, enfim, meu equipamento e parti para a Praia Vermelha. Eu passava o dia mergulhando lá. Eu ia pelas pedras, (a direita, de quem entra na praia), andando até o final das pedras.. Quem já andou por lá, sabe da beleza daquele lugar. Levava lanche, pão, queijo, água mineral, essas coisas. Naquela época, tinha muitos peixes ali: - Caçonetes, raias, polvos, cavalas... Eu me enfiava no mar & esquecia da vida, (o fundo do mar me transmitia paz, aquela beleza toda). Quantas vezes, quando eu me tocava, estava sendo puxado para "fora", as ondas me levavam. Nesses mergulhos, eu sentia a grandeza de Deus, da Criação. Eu era um garoto feliz. Aquele dia, a morte veio me visitar. Eu esqueci da hora de retornar & caiu uma chuva torrencial. Não dava para voltar pelas pedras, havia o perigo de escorregar, bater com a cabeça e desmaiar. Dormir ali também não era uma boa opção, por que a maré subiria, e eu teria problemas. Só me restou a opção de voltar nadando, com toda aquela "tralha" que eu havia levado. (Eram umas seis horas da tarde, quando eu entrei na água, pra voçtar). A água era um gelo só, fiz uma oração e pedi a Deus que me lavasse até a areia. (Eu nunca havia sentido medo do mar, mas confesso que estava apavorado). O mar "batia" muito, e eu precisei ir nadando pra longe das pedras, pra tentar chegar, me salvar. Havia uma correnteza que me puxava para o fundo, tentando me afogar. Eu nadava, nadava, e quando estava chegando próximo da areia, eu era puxado de volta. Eu não conhecia aquele tipo de correnteza, por que geralmente elas nos puxam de lado, e nos colocam na praia de novo. Depois de muitas tentativas, já exausto, já entregando os pontos, eu disse pra Deus: - Tudo bem, já está escurecendo, e eu vou morrer aqui...- Faça o "serviço" rápido, não vou lutar mais... Pode me levar... - O frio era grande, meus membros já não reagiam, (eu resolvi parar de lutar)... - Você pode não acreditar em milagres...Mas de repente eu senti alguém me puxando, alguém que foi me pegar lá no fundo... Era um pescador, que havia visto o meu "apuro", que estava cuidando das "tralhas" dele na praia. - Ele havia amarrado uma corda no barco, e em volta do corpo , e mergulhou pra me pegar. Depois de mais uns quinze minutos de sofrimento, conseguimos chegar na areia. Esse dia eu aprendi duas lições: - O mar é uma amante traiçoeira. - A segunda, Deus havia ouvido o meu pedido de socorro, e mandou um anjo me salvar. Durante todos esses anos, eu tenho me recordado desse dia...Da sensação de estar morrendo afogado. - A lição que eu tirei de tudo isso, foi a seguinte: - Quando você estiver em apuros, Deus vai mandar um socorro pra você, é só não desesperar.

"O maior case de marketing do mundo"

O meu amigo Toninho, fica dizendo que eu sou um ótimo vendedor. Daí eu me lembrei de uma palestra, que eu dei para uma grande empresa de consórcio, sobre vendas & afins. Os caras me chamaram, me pagaram uma nota linda e razoável, e eu fui. Os caras gostavam de polir o meu ego, e diziam que eu era (sou), o maior vendedor do mundo. É mentira!!! - Eu sou o " maior vendedor do sistema solar". Mas começamos a palestra, tudo correndo nos conformes. Depois entramos na fase de perguntas & coisas & tais... Na hora do coffee break, um jovem se aproximou e perguntou: - Seo Alex, o senhor conhece o case da "Podela" ? - Véio, eu conheço uma porrada de cases, mas o da "Podela", eu nunca havia ouvido falar... - Daí, ele me contou, que uma empresa estava lançando um produto, chamado "Podela". Produto natural, ecologicamente correto, biodegradável, totalmente natural. Só que os caras, (a empresa), não tinham grana para fazer uma grande campanha. Tipo televisão, rádio, outdoor, mídia impressa, essas coisas... Daí optaram por uma "guerrilha de marketing", onde você traça o público alvo, e parte pra cima, comendo o mingau pelas beiradas. - Os caras contrataram cem pessoas, demarcaram uma área de atuação, um perímetro, e partiram pras cabeças. A ideia principal, seria o seguinte: - "Atacar" cem cidades de pequeno & médio porte, no interior do país. (Acho que escolheram o Estado de São Paulo), pela renda per capta alta). O trabalho da equipe consistia apenas em chegar nos comércios e perguntar: - O senhor tem "Podela" ? -Aqueles caras, que eu chamaria de "desbravadores", faziam apenas isso. - Teriam que visitar o comércio das cem cidades, num período pré determinado. - Véio, aquilo deu um "rebuceteio" nos comerciantes, todos queriam a tal da "Podela"... - Depois de uns dias, passavam os "tiradores de pedidos", arrebentando de vender... - Não preciso dizer que a campanha foi um sucesso... A fábrica de "Podela", já nem estava dando conta de tantos pedidos...- Quem comprou o produto, adorou, era um fertilizante de primeirissima linha. - Na realidade, o "Podela", poderia ser usado pra mil & uma utilidades. Era só o cliente inventar um uso, e o "Podela" resolvia. - Os caras começaram a embalar em quantidade de atacado, barateando o preço, e vendendo mais. - Um dia, o vendedor estava atendendo um cliente, e ele pediu mil quilos. O vendedor explicou que para pronta entrega, deveria ter só uns trezentos quilos, no carro. - O comerciante não titubeou, fez o cheque, pagou, e mandou o vendedor trazer o produto... Na curiosidade, ele abriu um saco & cheirou... - Daí exclamou!!! - Mas isso é merda!!! - O vendedor languidamente respondeu: - Não é... - O comerciante gritou: - Isso é merda!!! - O vendedor olhou bem para o cliente, e disse: - É só o "PODELA". - Moral da história: - O bom marketing, vende até merda.

"Dor & Perda"

Eu tive três filhos, só me sobrou um. As duas filhas morreram. A minha primeira filha, a Andrea, morreu com quinze dias de vida, lá naquele hospital de granfinos em Moema, onde o falecido presidente Jânio quadros se tratava. O mais terrível dessa história, é que ela morreu de infecção hospitalar. Eu era um moleque de vinte e poucos anos, e nem sabia o que era isso. - O drama maior, é que eu fui visitar a menina, eu e o meu compadre Japão, e ficamos sabendo. - Minha mulher estava em casa, com problema nos pontos da cesárea, e eu teria que dar a notícia para ela. - Foi muito doloroso. - Foi a primeira vez que eu me deparei com a morte. - Eu e minha cunhada Cida, sepultamos a menina. - Eu ainda hoje me lembro do rostinho dela, da Andrea... - Quando cheguei no jornal, disse para os caras dos recursos humanos que iria processar o hospital, e eles me demitiram. Aquele ano foi phodda. - Mas a mão de Deus pesou sobre eles : - O chefe do Rh perdeu o filhinho dele também, de infecção hospitalar. E a chefe da contabilidade também perdeu o filho dela lá. - Daí me chamaram na diretoria, perguntando se eu gostaria de abrir um processo, juntamente com eles, mas eu recusei. - Me convidaram pra voltar a trabalhar lá, mas eu disse que não queria, por que eles eram um bando de traíras. Minha mãezinha faleceu em 2003. Eu achei que iria morrer também. A perda de minha mãe mexeu muito comigo, eu me senti perdido no mundo. Também fiz tudo sozinho, minto, eu e minha esposa cuidamos de tudo. - O interessante, é que eu sempre estou só, nessas situações de morte. - Em 2012, eu perdi minha esposa, novamente eu me senti perdido, achei que também era hora de eu morrer. Até hoje eu me sinto caminhando numa estrada solitária. Aprendi que a dor assusta as pessoas, que elas não gostam de se ligar na dor alheia... Durante esse ano e quatro meses de viuvez, aprendi a curtir a minha dor de forma solitária, tentando encher o saco das pessoas o mínimo possível. Até hoje eu converso com ela, falando sozinho aqui em casa, como se ela estivesse aqui comigo. - Minha segunda filha, eu aproveitei pra sepultar uns dois meses depois que minha esposa se foi. - Sepultei no meu coração, pois ela ainda está viva, mas é como se estivesse morta. - Ela não foi nada solidária no meu sofrimento. - O meu gato Ozzy, morreu dois meses depois que minha esposa morreu, (a veterinária disse que ele morreu de desgosto, pela perda da dona). Escrevo essas coisas agora, por que meu coração já está sarando, a dor se transformou em belas lembranças, dos nossos momentos especiais. - Nós imaginamos que a morte nunca baterá nas nossas portas, que ela vai na casa do vizinho, que ela está nos noticiários, essas coisas... Mas ela, mais dia, menos dia, vem até nós, até nossos entes queridos. Agora, aqui em casa, somos só eu, meu filho & meu novo gato, o Johnny Doe. - Estou aprendendo que a solidão pode ser tolerável, desde que você consiga engolir todos os sapos & micos. Desde que você consiga mentir, pra você e pras pessoas, dizer que está tudo bem, mesmo que o seu coração esteja uma merda total. - Essas palavras eu dedico para uma pessoa muito especial, que perdeu uma filha na semana passada. - "Tenha fé, tudo vale a pena, se a alma não é pequena".

"Qual a verdadeira função da arte?"

Eu estava aqui pensando a respeito de todas as formas de arte - Escrita, artes plásticas, artes cênicas, cinematográfica, etc. Na minha humilde opinião, a função primordial da arte é instigar, provocar amor, ou ódio. É mexer com a cabeça do leitor/espectador. É dizer tudo o que ele queria dizer, mas não tinha/tem coragem de expressar. A criação, não demanda nenhum tipo de ódio, mas apenas o momento que o artista vive, aquele turbilhão de emoções, que ele precisa colocar para fora, vomitar...- Quantas vezes eu vi, li, assisti, alguma coisa que odiei, e anos depois, relendo, vendo, assistindo, eu entendi o que o artista queria expressar. Se a arte é boa ou não, não interessa, o que interessa, é mexer com os brios do espectador/leitor, essa é a função real da criação, (eu acho). - Algumas pessoas comentam que o que eu escrevo é picante, e coisas tais. - Vamos dar uma olhada em Nelson Rodrigues, numa coleção chamada " A vida como ela é", vamos dar uma olhada em Plínio Marcos, em "Navalha na carne". - Está tudo lá. - Eu sempre coletei histórias, durante toda a minha vida, eu fui um "cronista das portas do inferno". - As coisas que retrato aqui, são um mosaico do que eu vi, vivi. - Sei que a nossa formação, judaico cristã, nos faz temer algumas coisas, como sexo, violência, e tais. Mas a vida real é isso, não estamos inventando nada. - O pecado, não mora na minha cabeça, e sim nos nossos preconceitos. O que eu acho violência, de fato, é ver uma criança vendendo bugingangas no sinal de trânsito, ou ver um velho na rua, sem nenhum tipo de assistência, isso é violência. - Sexo, não fomos nós que inventamos, maldade, é inerente à raça humana, e por aí vai. - Vou continuar escrevendo, aquilo que estiver em minha mente/coração... - E o mais, como diria o Ibrain Sued, os cães vão ladrar, mas a caravana vai passar. - Beijos fraternais.

"Cometa, Rio/São Paulo"

- Bom dia, me dê uma passagem lá nos fundos, janela por favor, pode ser do lado do "catingoso", (banheiro). - O "irmão" me passou a passagem & eu fui embarcar. - Pedi do lado do catingoso pra poder ir sozinho, sem encheção de saco. - Busão foi lotando mas os últimos lugares estavam vazios. beleza, pensei. - Eu estava de rebordosa, com o humor péssimo, com pouco dinheiro & uma bagana no bolso, pra fumar na parada... - A mina chegou, viu os quatro lugares vazios & escolheu logo o assento ao meu lado. - Puta merda, acabou o sossego, pensei. Fingi que estava dormindo, pra dar uma desbaratinada...(Fiquei ligado nela, pra ver o movimento, de zóios meio fechadinhos) A figura colocou a bolsa no maleiro e se sentou...- Véio, eu estava indo a Sampa, pra descolar uma grana com a minha coroa, por que a água estava chegando na bunda, (como diria a minha futura sogra Leonor). - Eu odiava ter que pedir dinheiro pra alguém, mesmo sendo a minha mãe... De tanto fingir que estava dormindo, acabei tirando uma palha, um cochilo... Quando acordei, mantive os olhos fechados, só pra manter o silêncio, a paz. - Senti o calor da perna da mina, encostando na minha...- Pensei com os meus culhões: - Que merda será essa? - Velho & bom Charlie Brown, o Cometa comia estrada e a mina "batendo coxa " comigo. "Tu" sabe que eu não sou de refugar xana, mas em certo momento ela já estava recostada no meu ombro... - Mano, sinceramente, eu não estava no "clima" de putaria, mas a mina era bonita. Eu estava num "rebuceteio total", deprimido, de saco cheio, essas merdas. - De repente o "cara" lá de baixo começa a endurecer um cadinho, ( o filho da puta). Quase na parada, eu abri os olhos, a mina estava me "fotografando", me estudando..- Oi: - Ela disse. - Oi, tudo bem? - (Aquele papo de "cerca Lourenço"). - Busão parou, eu desci correndo pra mijar & fumar minha bagana. Fumei aquela merda, tomei um café & comi uma coxinha. Estava de cabeça feita, acendi um Minister & fiquei ali fazendo hora, pra embarcar... - Ela se achegou, batemos papo, eu disse que era artista, que estava indo a Sampa pra tentar uns trabalhos. - Embarcamos, a mina morava em Higienópolis, me disse. - Eu pensei: - "Burguesinha". - Mas aquela figura queria sacanagem, eu sentia isso. (Me perdoe, Carlos Zéfiro, mas eu me decidi fazer o jogo dela). Fechei as cortinas e fingi que dormia, "de grupo". - Ela começou de novo a me roçar... - Dessa vez, ela se phuddeu, eu havia levantado o braço da poltrona, e caí pro lado dela, assim como quem não quer nada...- Deixei a mão boba cair sobre as coxas dela...quando me toquei, já estava alisando aquelas carnes...(Era tudo que ela queria, por que ficou apertando o meu pênis delicadamente)...- Meu amigo Charlie, eu tirei o "bruto" pra fora e entreguei pra ela. Ela brincava com ele, delicadamente... - De repente, ela abocanhou o bruto, boqueteou ele...- Maluco... - Nós entramos no "catingoso" e eu comi ali mesmo. - Coloquei ela de bruços, arqueada na pia & "sentei a pua". - Acho que ficamos uns bons trinta minutos ali, naquela putaria gostosa. - Saímos do "catingoso" & ficamos trocando beijos na boca, amassando & sarrando na boa. - Chegando em Sampa, trocamos telefones, (eu dei um número fake). - E nunca mais a vi. - Eita viagem doida. – Fui



"Lembranças/Fantasmas/Saudades"

Estava revirando coisas aqui em casa, e fui mexer na coleção de dvds da minha mulher. Achei um dvd da Paula Fernandes, (ela adorava essa cantora). - A Paula, com aquela voz de contralto, maravilhosa, cristalina, estava cantando "Quando a chuva Passar". - Tem um violino nesse arranjo, que nos leva a viajar, na mente, no espírito, é muito lindo. Eu me vi numa estrada, com ela, (minha mulher), ouvindo música & nos amando em olhares, (como nós sempre fazíamos). Me bateu uma saudade imensa, eu que achava que já estava curado... - Me lembrei de como eu a convidava: - Acordávamos, no sábado cedinho, e eu dizia: - Vamos viajar? - Ela sonolenta perguntava: - Pra onde? Agora? - Eu dizia, vamos pra qualquer lugar, vamos sem destino... - E o Rá? - Eu dizia, o Rá se vira , eu deixo dinheiro pra ele se alimentar... - Nós saíamos, abastecíamos o nosso carro & sumíamos no "mundão de Deus". - Éramos duas crianças, descobrindo coisas, lugares, trocando olhares... Hoje me deu vontade de viajar: Encher o carro com os meus fantasmas, minhas lembranças, & sair sozinho, revisitando aqueles lugares, onde fomos felizes. Deixando um pouco das minhas tristezas lá, & recolhendo um pouco do amor, que nós deixamos nesses lugares. A saudade é uma dama traiçoeira, que nos visita, sempre de surpresa, nos deixando de coração pesado...(Esses dias eu me peguei conversando com Deus, e perguntando a Ele: - O que me resta ainda, aqui, para eu fazer de importante?) - Só as minhas lembranças ? É só isso que me resta? - Será que ainda tem algo para eu viver? Será que já não vivi tudo? Converso & carrego os meus fantasmas, até já peguei certa intimidade com eles... - Sinto muitas saudades, acho que vou viajar, me perder nesse mundão. - Quem sabe se ainda acho graça em alguma coisa. - (Saudades).

"Georges, meu amigo libanês"

Ele folheou o meu curriculum, abriu, estudou e disse: - Eu não tenho dinheiro pra bancar você, sua capacidade profissional está muito acima das minhas posses... - (Eu, por outro lado, estava desesperado para trabalhar, era um casa típico de juntar a fome com a vontade de comer). Qualquer cara normal se despediria e iria embora. Mas eu não era um cara normal, nunca fui, Graças a Deus... ( Georges era proprietário de um jornal de bairro, na área mais promissora de São Paulo, - o Brás). Aquilo ali bem trabalhado viraria uma mina de ouro... - Ele falava, e minha mente viajava, eu senti que poderia fazer um grande trabalho ali, e ganhar um bom dinheiro. As palavras escaparam da minha boca sem eu sentir, eu disse: - Eu proponho a você um contrato de risco, vamos fazer uma experiência de três meses, se nesse período eu não conseguir fazer isso prosperar, não precisa me pagar nada. - Mas se der certo, eu quero vinte e cinco por cento de tudo que entrar...- Georges tentou negociar... Eu disse, não aceito contra propostas ! - Tem mais, eu vou formar o meu time, vou treiná-los, e eles só se reportarão a minha pessoa. - Velho, eu selecionei trinta contatos publicitários, dei treinamento de oito horas, diariamente, depois eu passei o "pente fino" e fiquei com dez. - Com o passar do tempo, eu descobri por que aquela merda não vingava. - Georges era um péssimo administrador, gastava muito & gostava de Lolitas. - Ele havia me pedido que eu deixasse três moças que trabalhavam com ele, (elas na realidade, produziam muito pouco), mas eram muito gostosas, acho que ele comia aquelas garotas. - Eu virei diretor comercial daquela josta. - Os contatos vendiam os pequenos anúncios, e eu corria atrás dos grandes anunciantes, governo, etc. - O negócio começou a prosperar. Nós pagávamos os contatos todas as sexta feiras. - Eu entregava os cheques na quinta, para que fossem contabilizados. - Nas primeiras semanas, meu pessoal recebeu direitinho, depois o meu amigo começou a falhar, dizia que não tinha o dinheiro...- Eu, nesse tempo, saía de Campinas na segunda, e voltava às sextas. - Eu disse pra ele, Georges, se você não pagar o meu pessoal, eu estou fora. Estou indo embora...Ele me passou a conta da empresa, para eu administrar...Começamos a ganhar dinheiro. - Eu separava o meu, e o do meu time, o resto eu não estava nem aí. - Georges gastava tudo com mulheres & putaria...- Eu levava uns baseados, pra fumar lá, tinha um lugarzinho nos fundos, era tranquilo ir relaxar naquele cantinho. - Eu sentia muita solidão, saudades de casa, mas eu havia feito o propósito de ganhar dinheiro... - Eu aluguei um quarto, lá em Perdizes, perto da Puc. - As vezes, eu saía a noite, e ia comer lazanha lá no centro, na boca do lixo. - Ficava vendo as putas, passeava, e voltava na madrugada. - Essa era a minha vidinha. - No horário comercial, eu era uma máquina de ganhar dinheiro. - Quando eu chegava em casa, às sextas, eu tomava banho e me atracava com minha mulher, era sexo do bom. - Trepava praticamente o final de semana inteiro. Na segunda, era aquela tristeza, ter que voltar pra Sampa, mas eu encarava. - Um dia, eu estava fumando o meu beise tranquilo, lá nos fundos, e chegou aquela morenaça, (a contato dele), ela pediu pra dar um peguinha, eu deixei. - Ela, nessa época, ela já estava me perseguindo, querendo trepar comigo. - Mas até ali, eu seguia aquele ditado, "onde se ganha o pão, não se come a carne". - A morena perguntou se eu queria dar um "tirinho", ela tinha uma farinha. - Eu dei o tiro, a farinha dela era péssima, parou aquela merda na garganta, mas eu deixei batido. Aquela mina estava de vestido preto, de alças, pernas grossas & morenas. Eu tinha tesão nela, mas não queria nada, não queria me comprometer, e nem ficar ouvindo comentários. - Maluco, agora começa a merda toda. - Eu estou no escritório, escrevendo um relatório, escrevendo com a canhota e a outra mão pousada na mesa. - - A filha da puta senta bem em cima da minha mão... Eu sinto o calor da xoxota dela, no dorso da mão, mantenho a mão lá...Ela fica me olhando, com cara de sem vergonha, como quem diz: - " E agora?" - Eu mexo a mão um pouquinho, posso sentir os grandes lábios, na minha mão...- Fico nervoso e de pau duro... Sinto um pouco de raiva, pois sei que vou fraquejar...Tiro a minha mão de lá, dou uma cheiradinha... Viro a biscate de bruços e enterro tudo, com raiva & tesão... Como com raiva, a bisca goza feito louca...Tiro o pau molhado e enfio no anel de couro dela, com raiva, querendo machucar. - Ela geme, suspira, (acho que nenhum pinto havia ciscado naquele quintal). - Eu gozo muito, tiro o pau, limpo ele nuns lenços de papel... Olho pra ela com raiva e vou pro banheiro me lavar...- Volto pra Campinas chateado... Na segunda feira, está todo mundo me olhando, mas fazer o quê? A merda já estava feita. - Comentários mil. - Georges ri sem dizer nada... - Aguentei quase dois anos, nesse emprego. O dia que eu disse que iria embora, George me propôs sociedade, mas eu achei que já era hora de vazar... - Ele me deu uma nota boa, e eu vazei. - Foi isso - diretor comercial.

"Feromônio"

Eu trabalhava naquela revista argentina . Os caras estavam implantando a revista no Brasil, e me chamaram, pra atuar na área comercial. A minha chefe era uma garota muito gostosa, e eu cresci os olhos nela. Ela usava uns vestidinhos de seda, que mostravam os contornos do corpo dela. - Realmente um tesão de mulher. As vezes, sem intenção nenhuma, eu encostava nela, e ficava excitado. Ela não sabia, mas já estava escalada pra dar pra mim. - Nessa época, eu exercia as minhas funções de guru, de feiticeiro & mago. - Usava muito "pot" também. - Ela dava prum argentino, que era uns dos chefões da revista. - Eu devo confessar que ela me deixou de pau duro muitas vezes. Quando ela começou a usar dos meus predicados de mago, eu me segurei um pouco, só pra não misturar as coisas. - Nós saíamos, na hora do almoço, e íamos para algum lugar tranquilo, e eu fazias as minhas previsões pra ela. Na realidade, ela só queria saber da relação dela com o gringo, se ele ia ficar com ela, essas coisas de mulher. - Mas sempre arrumava um jeito de esfregar aquela bunda gostosa no meu corpo. - Uma semana, ela quebrou o pau com a figura e entrou numa carência do cacete. - Véio, aquela dona começou a me encher o saco, querendo saber das coisas, e roçando aquele bundão gostoso em mim. - Eu prudentemente, dei uma recuada nas minhas aspirações "pirocais" com ela, haja vista que aquela dona era louca de pedra. De mais a mais, tinha nego zumbizando no meu ouvido, que eu podia engravidar ela, essas merdas todas. - Que ela era meio pinel, e coisa e tal. Mas a filha da puta era gostosa e eu sentia o cheiro do feromônio dela, quando estávamos juntinhos. - Uma tarde, no final do expediente ela disse: - Vamos sair juntos? - Eu tentando me safar, disse que não podia, que estava duro, e coisa e tal. - Ela disse, (na maior cara dura): - Vamos prum motel, eu chamo uma tábua de queijos, umas garrafas de vinho, depois levo você em casa. - Negovon, eu tava com um tesão incrível, mas resolvi declinar da putaria. - E por mais absurdo que pareça, eu passei meses, imaginando que estava comendo aqule dona, pode ser uma merda dessas? - Eu disse, eu preciso ir, preciso pegar o metrô lá na estação Barra Funda...- Ela disse: - Eu levo você no meu carro... - Véio, eu estava arrasado, eu queria trepar com ela, e ao mesmo tempo algo estava me travando... - No que entramos no carro, ela sentou-se, e aquele vestidinho me deixou ver as coxas dela, aquelas pernas lindas, e aquele cheiro de tesão se espalhando no ar...- Aquela sacana pegou a minha mão e pousou no meio das pernas dela. - Abriu as pernas e prendeu minha mão lá. - Vai tomar no cu, eu pensei... - Ela me agarrou o pescoço e fez menção de me beijar...- Eu deixei que ela me beijasse... - Senti aquela boca que havia cobiçado por longos meses, mas por mais incrível que pareça, eu resolvi que não iria comê-la. Eu encanei, simplesmente encanei. - Pedi que me lavasse até a estação do metrô. Eu me sentia o filho da puta mais imbecil do mundo. - Me deu tipo uma depressão... - Chegando na estação ela disse: - Fica comigo, eu estou tão triste, tão infeliz, vamos ter uma noite legal... - Negovon, eu vazei na brachiária, e peguei o metrô pra casa. - O mais incrível, aconteceu a seguir: - Chegando na estação Belém, quem me chama? - A minha ex cunhada, a Mara. - Alex, Alex, vem pra cá, vem falar comigo...- Eu fiz que não, desbaratinei. - Moral da história: - deixei de comer duas xanas, na mesma noite, no espaço de uns quarenta e cinco minutos... - Eu estava me sentindo um bosta... - Eu acho que aquela noite eu estava liberando muitos feromônios... - Cheguei em casa, jantei e me meti na cama. - Nunca mais voltei aquela revista. - Coisa de louco, sem explicação. - Foi isso, passei vários dias deprimido. 

"Justiça Bandida"

Zona Leste de São Paulo, anos 80's. - Eu estava sentado na porta do bar do seo Fernando. - Eu gostava de me sentar ali, e tomar um refrigerante, era um sábado pela manhã. - Eu era feliz, tinha uma mulher que me amava, tinha um emprego razoável, e dinheiro não me faltava. Tinha também uma filha pequena, que me amava, (nessa época). Alguém me chama, timidamente, (era o Gini), eu conhecia de vista, era vizinho da rua de cima. - Gini era um crioulo (ops, afro descentente) baixinho, a negritude dele brilhava, quando estava suado. - Gini era ladrão, era muito conceituado na malandragem. - Eu pergunto o quê está "pegando"... Ele me pergunta se eu posso comprar dois ovos pra ele, por que eles estão passando fome... - Ele, a esposa e as crianças. - Eu mando ele esperar. Entro no bar e começo a fazer uma compra pra ele. - três quilos de linguiça, cinco dúzias de ovos, quatro pacotes de macarrão, arroz, óleo de cozinha, salsichas, massa de tomate, feijão, pães, margarina, - (essas coisas eram vendidas nos bares, nessa época). - As vezes, minha conta no bar, alcançava cifras astronômicas, mas o português nunca me cobrava. - (eu havia arranjado um emprego para o filho dele, de jornalista, (redator). Ele era muito grato por isso. Foi o primeiro emprego do menino. - Saí, entreguei a compra pro Gini. - O cara ficou com os olhos marejados e disse: - Assim que eu puder, eu pago. - Eu respondi que ele não precisava pagar. Se um dia eu precisasse, eu chegaria nele, (com certeza). Senti ali que havia ganho um novo amigo. - Os meses se passaram, e um dia o meu vizinho da frente, o enteado da minha mãe, começou a discutir comigo, (eu nem me lembro o motivo), e colocou o dedo em riste, na minha cara. O Gini estava do outro lado da rua, só "filmando a cena". - Assim que o fulano vazou, o Gini disse: - Pode ficar tranquilo, eu vou matar ele pra você (???) - Eu disse: - Gini meu amigo, não faça isso, eu não conseguiria viver com uma morte nas minhas costas, nem como mandante. - Esqueça isso, meu amigo, esses caras não são do bem, eles vão se phudder sozinhos. - Contei pra ele a cena da irmã do cara cuspindo na comida que minha mãe havia preparado, e que por esse motivo eu havia saído de casa, aos dezesseis anos. - Contei como eles invadiram a nossa casa, depois da morte do meu padrasto, e levaram tudo de valor que havia lá... - Ele disse: - Alguma coisa eu vou fazer, mas deixa pra lá... - Eu me mudei daquele bairro... - Uns tempos depois, voltando lá pra ver os amigos, fiquei sabendo que o Gini havia feito a "mudança" do cara. _ Ele parou um caminhão "bau" lá, e levou tudo que havia dentro da casa. - Eu não concordei muito com essa atitude dele não... - Mas confesso que dei umas boas risadas... - Nesse dia eu conheci a "justiça bandida", - foi isso que aconteceu. 

"Recepção no Consulado"

Era de tarde. Eu estava sentado naquela pedra do Arpoador, (não aquela pequena, que tem lá), aquela grande, mais à esquerda, já quase na praia do Diabo. - Eu estava muito feliz, havia concluído dois poemas. Era só alegria. Eu gostava de ficar ali, ouvindo o marulho das ondas, batendo nas pedras.- Gostava de pensar, como era bom ser jovem, ser livre...- Do meu lado tinha um maço de cigarros "Minister", uma caixa de fósforos e uma coca cola.- Eu era tão feliz, mas tão feliz que dava até vontade de chorar...- De repente ouvi aquela voz, com sotaque francês... - Alex, Alex... Olhei pra trás e vi minha "amiguinha", a filha do cônsul. Óh mon Dieu, eu procurei você pelo Rio de Janeiro inteiro...(eu havia conhecido aquela menina numa recepção no Morro da Viúva, quem me apresentou foi a Ivie.(Essa Ivie também tem muita coisa pra eu contar à respeito dela, mas fica pra depois).- Ela disse, eu estava com saudades de você, e vim convidá-lo pruma festa lá em casa hoje.- Meu bem, eu disse, eu não tenho roupa pra ir numa festa no consulado...Ela sorriu e fez um beicinho, (coisa mais linda). - Eu tenho a roupa lá no carro...??? - Como tem a roupa?- Eu peguei uma roupa lá em casa, é só mandar ajustar e fica tudo bem.-Ela me puxou até o carro, pegou um smoking, pegou linha e alfinetes.Mandou eu entrar no carro e vestir aquela parafernália. Eu me troquei, saí do carro, ela começou, alinhava ali, aperta aqui...-E sorria contente. Disse, eu vou mandar ajustar e você vai ficar lindo.- Eu argumentei: Eu não tenho convite, como é que eu vou entrar? (Ela já tinha tudo esquematizado). - Eu coloco você pra dentro, depois da festa você dorme lá, e sai escondidinho pela manhã.(As mulheres são muito decididas ).- Ela tinha um pessoal lá, que obedecia cegamente as ordens dela. Eu fui a recepção, me valeu muito os ensinamentos de minha mãe...Taça de vinho tinto, taça de vinho branco, taça de água, não beber a lavanda. Posição dos talheres, não colocar os cotovelos à mesa, essas coisas. Só tinha figurão lá, o champagne era "Don Pérignon", "Moet & Chandon", etc. - A comida também era de prima: Canard, au sei lá o quê, Patê de foie gras. Tudo o que o luxo pode comprar... Ela circulava por todos os lados, me lançava olhares gulosos, sorria e fazia a perfeita anfitriã. Lá pelas tantas, o motorista dela veio e disse, vem comigo...Levou-me para um quarto reservado e me deixou lá. Momentos depois ela chegou, era tão linda... Me abraçou, se livrou das roupas e disse, vem mon amour, vem me fazer feliz...(Acho que eu consegui fazê-la feliz), porque tomamos banho juntos, e ela cantarolava "La Vie en Rose"...- Minha princesa francesa...




"Eu era apenas um garoto que amava os Beatles & os Rolling Stones"

Peguei o meu papel da baixa do Exército. Senti uma alegria imensa, havia conseguido passar mais uma etapa da minha vida. Sensação de liberdade... Agora eu poderia voltar a viver. Sem hierarquia, sem o tal do regulamento interno do exército, sem cadeias, sem cortes de cabelo. Obrigado meu Deus...(Fui me despedir do coronel), agora eu não precisava de autorização, pra me dirigir a ele, eu era um civil...- Pedi permissão, entrei na sala dele. - Disse: Coronel, obrigado por ter me deixado servir, obrigado por não ter me expulsado. - (O meu comportamento era o chamado, "insuficiente para o serviço militar). Mas ele havia me dado a chance de sair na terceira baixa. Ele olhou pra mim e disse: - Sua família deve ser muito importante (???) - Porque coronel, porque o senhor está dizendo isso? - Ele me respondeu: - Porque eu apenas retribuí uma gentileza, ao general, amigo de sua família (???) - O general me pediu que eu ficasse de olho em você... - Eu retribui um favor que ele me fez. O meu filho é recém formado na Academia das Agulhas Negras, e eu pedi um posto par o meu menino e ele me concedeu (???) Ele já havia me dado a sua "ficha", e me pediu que ficasse de olho em você...- Sua tia, amiga dele, pediu-me que eu desse notícias, por que você tem o péssimo hábito de se envolver em confusões e ser amigo de gente que não presta...Mas quero que saiba que tudo o que você fez aqui, foi do meu conhecimento. Desde fumar maconha na sua seção, fumar maconha no alojamento etc. Sei também das suas peripécias com aquele tenente, seu chefe. - Sei da sua invasão de uma "boca de fumo", na Central do Brasil...Você foi monitorado durante todo esse ano..- O tenente, eu já cuidei dele, ele é um militar do corpo da reserva, e eu já estou colocando ele na rua (???). - Você não imagina o poder de um general "cinco estrelas". Sabe quantos generais de cinco estrelas tem no exército ? No máximo uns quatro, cinco. - (Meu, o tal do "Big Brother" existia mesmo). - Eu lhe dei essa chance, de sair limpo daqui...- Eu queria sair daquela sala correndo... - Ele ainda me jogou um balde de água gelada, na minha cara, dizendo: - Durante os próximos seis meses, você ainda é considerado militar...Todo cuidado é pouco...Eu posso mudar de ideia, se você cometer alguma cagada...Me deu um cartão dele e disse: - Qualquer eventualidade, se precisar, me ligue... - Eu saí correndo dali, joguei o cartão dele num bueiro e corri pra vida, pra liberdade... - Eu era apenas um garoto, que amava os Beatles & os Rolling Stones - (Não voltei ali nunca mais).

"Perdões & Marcos Alemães"

- Então, você trouxe os marcos alemães ? - Trouxe, estão na mochila. (Eu havia combinado com o Dentinho, que ele levasse os marcos (sem nenhum valor, nessa viagem). - Nosso dinheiro era contadinho, a gente poderia precisar dos marcos...(Afinal, tínhamos mais de 50 milhões de marcos, na mochila). - As cédulas eram lindas, obra de arte, aquilo bem que poderia servir aos colecionadores. - Descemos na rodovia Fernão Dias, em frente a cidade de Perdões. Eu disse pra ele: - "Dente", essa é a cidade da minha família, quero lhe pedir muito respeito aqui, muita moral. Tenho aqui os meus primos, meus tios, nada de fazer cagada aqui. - (Santa ilusão... O Dentinho era perseguido pelas loucuras & merdas). - Entramos na cidade, subimos a pé, aquele ladeirão imenso, até a praça Dr. Zoroastro Alvarenga. - A tia Adriana nos recebeu, com surpresa, (naquela época, eu tinha o péssimo hábito de chegar na casa das pessoas, sem avisar). - Eu disse pra tia que nós iríamos ficar no sobrado, tinha um monte de quartos lá. - Meu tio Ari estava trabalhando em Varginha, no IBC, chegaria só na sexta feira. A tia combinou que nós faríamos as refeições na casa dela. Acho que era Semana Santa, não me lembro bem... Nos alojamos, tomamos banho, e fomos jantar. Ficamos ali papeando com a tia...- Minha tia era uma mulher muito educada, teve uma educação esmerada, era professora e chegou ao cargo de diretora de uma escola. A noite começou um movimento na praça, muitas pessoas, jovens. - Dentinho ficou admirado, as moças andavam em volta da praça e os rapazes em sentido contrário...- Tinha muita menina bonita em Perdões...- Dentinho notou que haviam mais mulheres do que homens, naquela cidade...Eu expliquei pra ele que os caras iam trabalhar em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte, por que não tinha trabalho em Perdões. - Disse também, que muito daquelas garotas eram noivas, compromissadas. - Ele me olhou, pensou...E disse: - Alex, nós temos que fazer um trabalho social aqui (???). - Que porra de trabalho Dente? - Nós temos que comer o máximo de mulheres, nós temos que tirar essas meninas da fissura...- Eu senti o velho e bom cagaço...Senti que a merda poderia se formar... - Disse: - Dentinho, aqui é a terra da minha família..Não me faça merda, pelo amor de Deus. - (Mas a mulherada começou a dar mole pra gente)... - Eu arrumei uma namorada, uma morenaça linda, ela morava lá na parte baixa da cidade, na Vila Nova. A gente ficava se esfregando atrás da igreja, ela era boa de sarro. Só tinha um problema: - O hálito dela cheirava a massa de vidraceiro... Eu socava bala de hortelã nela, mas só aliviava o cheiro...Ela se insinuava entre as minhas pernas...era bom... Não liguei mais pro hálito... - O Dente me surpreendeu, ele sabia desenhar, e pintava rostos com uma perfeição incrível. - Começou a fazer sucesso com as meninas, ele sumia prum lado, e eu pro outro... Nós só nos encontrávamos na hora do rango, ou na hora de dormir. - Nossa grana já estava acabando,chegamos lá fumando Minister, depois passamos pra Continental sem filtro, depois pruns mata ratos, Samba & Olé. - Já estávamos uns bons trinta dias lá. Um domingo a noite o tio me disse: - Tem uns caras aí, da turma dos açougueiros, que estão prometendo meter a porrada no seu amigo... Ele andou se "engraçando" com umas meninas comprometidas, os caras são violentos...- Dentinho havia feito o prometido, o "trabalho social". - Eu disse pro tio: - Nós vamos embora amanhã, às cinco da matina. Estávamos duros, fomos pegar carona na estrada... - Ficamos bem umas duas horas, até pegar uma carona até uma cidade chamada Campanha. - Duros, com fome & sem cigarros...(Parados em frente uma churrascaria, aquele cheirão de carne assada). - Peguei umas notas de mil marcos e entrei. - Chamei o gerente, expliquei que a gente estava com fome, viajando, mas só tínhamos dinheiro alemão. - O cara trocou dois mil marcos, "crente" que estava phuddenddo a gente. - Comemos, compramos cigarros & vazamos de lá. - (Ainda sobrou uns bons trocados). - Pegamos uma carona pra Sampa, até o Parque Dom Pedro. - Era de madrugada, pegamos um busão até a vila Nova York, onde minha mãe morava...- Aquela viagem me cansou... Com o dinheiro que sobrou, dei uma grana pro Dente, pra ele vazar pro Rio, e fiquei uns dias na casa da minha mãe. - Era bom ser louco naqueles tempos.

"A Passagem"

- Pai, pai, PAI!!!! - Ele gritava lá do quarto dele...(Ele pensou, que droga, o velho não responde, fica dando uma de surdo). Foi até o quarto do "velho". O velho estava quietinho defronte o computador...- Pôxa velho, eu estou lhe chamando, venha ver o meu novo projeto. (o velho continuava quieto). - Ele se achegou, disse carinhosamente, pai? - O velho nada... PAI??? - PAI??? - (Eu via tudo do teto do quarto, não sei explicar, mais eu estava flutuando). - Ele abraçou o pai dele e começou a chorar...- Eu queria descer, queria abraçá-lo, mas não tinha controle daquela coisa. - Ele apertava o pai com força, soluçava e dizia: Ô meu pai, ô meu paizinho...Eu disse tantas vezes pra você ir ao médico, fazer um check up, tomar os remédios direitinho... - Ele estava passando uma descompostura amorosa no velho... - Eu queria descer, abraçá-lo, mas ainda não conseguia controlar aquela coisa. - A primeira a chegar foi a Nê: - Chegou com a minha filhinha Andrea, sentou-se ao lado dele, consolou, parece que ele sentiu... O rapaz se acalmou um pouco, mas continuava abraçado com o pai. - Mamãe chegou logo em seguida... Nos abraçou, dizia coisas carinhosas... - Os meus dois anjos estavam ali também, quietos. O anjo negro estava num canto, quieto também. - Papai Amynthas chegou em seguida, (puxa vida, como meu pai era bonito). - Eles olhavam para aquele corpo, (eu já estava conseguindo controlar meu espírito). - Consegui descer e ficar ao lado deles... - O rapaz agora chorava baixinho... Chegaram vovô Christovam & vovó Mariana, tia Aliz, tia Luli, tio Ari... (minha família toda estava vindo). O Dan veio também, com sua roupa branca de médico. - (Os meus anjos, as vezes batiam as asas). - Minha prima Rachel também veio. - Minha sogra Leonor & meu sogro Eli também vieram me ver. A Marlene estava ali, a Cida, a Jeanette, o Nilsinho, (todos os meus cunhados). Eles sorriam, me enviando amor. - Eles conseguiram acariciar o menino.. Eu tentava, mas as minhas mãos passavam por dentro dele...- O menino se levantou e foi dar um telefonema, nós estávamos todos reunidos ali, juntos, de mãos dadas. - O Paulo chega, com sua bíblia. Chora muito, o Paulo, me abraça e começa a orar, (acho que estava encomendando minha alma). - Chega o Marcos, chora muito também. Marcos dizia que eu era um cara muito chato, mas ele me aturava . - O anjo negro se levanta, joga um perfume de flores no quarto. Meus dois anjos também se levantam, batem suas asas, em minha defesa, proteção. - O Grande círculo prateado já começa a se formar, a luz é muito forte. Escuto o Paulo cantando: "Então minhalma canta a ti Senhor, Glorioso és tu, Glorioso és tu"...- Eu não quero ir, não sinto vontade de ir. - Nereide se levanta, pega na minha mão, eu, ela & Andrea...- Caminham comigo... Meu último pensamento é para o meu neto, o Felipe Gabriel. - Me despeço dele mentalmente...- A Luz é muito forte, eu me sinto meio enfraquecido... Caminho no túnel e me desfaço em energia... - Volto ao nada. - A morte. - A vida Eterna. - Foi assim que tudo aconteceu.

"Corporativismo"

- Encostem na parede e documentos na mão, seus viados ! - (Nós fomos detidos pela polícia civil e estávamos na delegacia). Três de nós estávamos à paisana, um com farda de passeio. - Eu sempre fui meio "folgado" e disse: - Nós somos militares...- Ele cagou...- Gritou para um cara: Fulano, trás uma laranja e um limão! - Nós com nossas identidades militares não mão...- (Ele pegou as identidades e rasgou todas). - (Esse cara era um delegado que estava "barbarizando" no Rio, ele odiava cabeludos e caras de calças apertadas). - As opções eram as seguintes: - A laranja tinha que ser colocada nas calças, se ela não descesse e caísse no chão, a judiação ia começar. - Quando ele estava de bom humor, ele dava uma segunda oportunidade. - Mandava passar o limão, se o limão caísse e rolasse no chão, ele liberava. - (eu fui o único sortudo, o limão desceu pelas minhas pernas). - O "couro" começou a rolar. - Era tapa na cara, canelada nas pernas, maldade pura. - (Ele falou, você está liberado, mas antes vai ver seus amigos se cagarem). - Meu, aquele cara sabia bater, sabia machucar... - No que ele deu uma saidinha, eu disse pro meu amigo fardado: - Rasga a farda, rasga a farda. O cara rasgou a farda. - (Nessas ocasiões, quando um militar do exército é detido, o padrão é chamar a PE, polícia do exercito, que vai encaminhá-lo ao quartel deles, e de lá o cara é recolhido a sua unidade). O delegado me liberou, e eu fiquei dando voltas, e me perguntando, e agora ? Resolvi ir até o quartel, e notificar o meu comando. Cheguei no quartel, já eram umas três horas da manhã, me cagando de medo, pois sabia que nós seríamos punidos em "boletim Interno".- Cheguei no quartel, o oficial de plantão era o tenente Maldade, o cara mais temido do batalhão...- Ele era magrinho, franzino, mas dono de uma crueldade atroz. - Expliquei pra ele, ele disse: Conta tudo, filho da puta. - Eu contei: - Tenente, eu e mais três soldados, estávamos naquele inferninho, em Copacabana, a boate Balalayka, "ajeitando" umas putas pra gente comer e chegou a polícia...É aquele delegado famoso, aquele das laranjas...Ele rasgou as nossas identidades, meteu a porrada na gente, também rasgou a farda do soldado Fulano. - (Daí, eu inventei umas coisinhas também). - Ele disse que se tiver macho aqui no quartel, ele está esperando lá, pra dar mais umas bolachas na cara, . - O tenentinho bufava de ódio..- Ele disse: - Você sabe que eu vou phudder você, não sabe? - Eu disse que sim. - Aí ele ele falou, vai lá no alojamento, pega três soldados phuddiddos, pega três quarenta e cinco, três cassetetes de madeira, duas metralhadoras INA. - Eu já estou requisitando um Jeep...- Fomos nós cinco. - Ele disse: - É pra entrar quebrando tudo, sapecando pauladas em todo mundo que estiver lá. - O delegado é meu...Se alguém puxar arma, atira no pé. - Meu, paramos o Jeep, descemos e cumprimos o combinado, metemos a porrada em todos eles. - O delegado só tomava paulada na cabeça, chorava, suplicava, e o tenente Maldade batia. - Batia e dizia, você é o valente, não é? Rasga farda e identidade de soldado? - E ainda manda avisar que é phuddido...- (Aquela noite eu gostei de ser militar). - Essa brincadeira me custou quatorze dias de cadeia, e saída só na última baixa. - Mas eu gostei do tenente Maldade...O cara era phuddiddo de verdade.

"O ateu"

Eu estava voltando do trabalho, era final de tarde, calor insuportável. Desci do metrô na estação, Belém, (ou Tatuapé), não me lembro ao certo. Ainda teria que pegar o ônibus integração, para chegar em casa. Eu só queria tomar um banho gelado e descansar. Quando vejo o tamanho da fila... Me dá até tristeza, a fila estava enorme. Eu gostava de viajar sentado, teria que ter paciência...- Atrás de mim, na fila, havia um cara que eu conhecia só de vista. - Eu sabia quem ele era, ele era um daqueles caras que mandavam no comitê político do bairro. Era comunista da velha escola, fazia um trabalho de conscientizar as pessoas pro partido dele. Começamos uma conversa fiada, só pra passar o tempo. - Mas o sujeito não perdia a oportunidade de enfiar a doutrina dele goela abaixo da gente. Começou a ladainha. - Marx, Engels, Trostysk, aquela coisa toda... Eu já era "puta velha" nesse tipo de conversa, (estava cansado, suado & louco pra chegar em casa). Não contente, ele começou a falar de religião, meter o pau nas religiões. _ Aquilo era o ópio do povo, e coisa e tal. - Por que na União Soviética não tinha mais essas merdas, e coisa e tal...- Meu, eu tinha lido o manifesto comunista, e um monte de livros doutrinários, (só não tive saco de ler o Capital, - ninguém merece ). - Li essas coisas na casa do meu irmão, (ele tinha toda essa literatura lá). - Meu, aquele cara era um "saco". Entramos no ônibus, ele se sentou ao meu lado e continuou a cacarejar aquelas merdas todas. - Eu só dizia que sim, com a cabeça, e não via a hora de descer daquele ônibus. - Quando ele dava uma pausa, eu suspirava de alegria... Nesse meio tempo, eu me "toquei" que o motorista estava correndo muito. - Fiquei um pouco apreensivo, resolvi prestar mais atenção na viagem... - O cara estava correndo muito, o ônibus sacolejava, tremia, cantava os pneus. - Me deu um pouco de paúra. - Quando chegamos perto do Cotonifício Guilherme Giorgi, eu já estava segurando no "puta que pariu", com os dois braços... - E o cara naquela lenga lenga.. -De repente estourou um dos pneus, o ônibus começou a ziguezaguear, ia pra lá ia pra cá...- A nossa frente tinha um poste, eu pensei: - Nós vamos bater no poste, ou vamos capotar.. - Só me lembro que pensei: - "Não Deus, hoje não". De repente o "ateu" grita: Ó meu Deus, ó meu Deus... - Aquele grito saiu de dentro dele, mas com uma intensidade muito forte, foi uma coisa gutural... - Milagrosamente o ônibus foi parando, parando, e por fim, ficou extático. - Eu respirei fundo, saí do ônibus, ele atrás de mim... - A primeira coisa que me veio a mente, foi perguntar a ele: - Você é ateu de que igreja? - Mas resolvi me calar, acho que ele era ateu só uns 50%... . - E compreendi que na hora da morte, até os "ateus" clamam, por Deus... - Foi isso que aconteceu.

"Meu amigo judeu"

Conheci meu amigo judeu, numa manhã ensolarado do Rio de Janeiro. - Eu fui pedir emprego pra ele. - Ele era amigo do meu irmão Yoffe. - Yoffe havia trabalhado pra ele... - Ele era judeu húngaro, era um senhor baixo, meio gordinho...- Eu contei a minha história pra ele, de como eu havia saído da casa, em São Paulo, e estava "batendo cabeça" no Rio. - Ele se comoveu, aquele cara tinha um coração do tamanho do Maracanã... - Ele disse: - Seu irmão é um rapaz de muito valor, está na faculdade, trabalha...- Um lutador, e você? - Eu disse pra ele: - Eu preciso trabalhar... - O senhor precisa de um office boy? - Ele não precisava de um office boy, mas mesmo assim me deu o emprego... - Me levou no bar, e disse pro cara: - você vai dar todos os dias, um café da manhã pra esse menino, vai dar uma sopa, na hora do almoço, um maço de cigarros Minister e um lanche, à tarde(???). - Pode colocar tudo na minha conta. - Cara, eu fiquei pasmo com aquela generosidade...- (Eu acho que ele fez isso, por causa do Yoffe, ele gostava muito do meu irmão).- Ele tinha uma firma de material de escritório, um atacado, morava lá na rua das Laranjeiras. - Tinha duas filhas, (que hoje são jornalistas famosas). - Bom, minha vida seguiu, eu fazia o meu trabalho, limpava o escritório, ia aos bancos e fazia as entregas. - Mas o mais interessante, é que eu comecei a conhecer os amigos dele. - Eram senhores de certa idade, que iam lá jogar baralho. - Todos eles tinham um número escrito no braço, em letra azul.- (Anos depois eu fiquei sabendo o que aqueles números representavam, mas isso é uma outra história). - Um dia eu falei pro seo Anton: - Eu gostaria de aprender a vender, me ensina a vender? - Os olhos dele brilharam. - Eu senti que ele se emocionou...(E vi também, que aquele homem me amava, como se eu fosse um filho dele). - (Eu já o havia "adotado", como meu pai, há muito tempo). - Ele disse: Eu vou lhe ensinar tudo que sei, de vendas. - Vou fazer de você um grande vendedor...- E começou a me ensinar os macetes, como vender, como ser honesto com os clientes, essas coisas todas. - Um dia ele disse, amanhã nos vamos fazer a praça... - Meu filho, imagine que o dinheiro seja uma "fruta", e que esse dinheiro esteja em cachos, nas árvores... - Hoje nós vamos colher dinheiro...- "Pensei comigo, esse cara é louco de pedra". - Pegamos o fusquinha beje dele, e fomos viajar. - Pegamos a via Dutra, fomos à Resende, Volta Redonda. - Eu começava ali, a conhecer a "judeuzada", a colônia. - Aquele dia, ele tirou um monte de pedidos, o cara era bom... - Na volta ele disse: - você está com fome? - Sim seo Anton, eu estou com fome...- Você já comeu goulash? - Não seo Anton, na faço idéia do que seja isso.. - Ele disse: - Goulash é uma comida da minha terra, um guisado, você sabe o que é um guisado? - Não seo Anton, eu não sei.- Tem um restaurante húngaro, em Resende, vamos comer goulash... - Meu, a mulher do restaurante era amiga dele, uma húngara... Trouxe uma sopeira quase do meu tamanho, cheia de goulash, eu me fartei, comi & suei... -Aquele tal de goulash era da hora. - Aquele homem era um pai que eu nunca tive...- me ensinou a ser um homem. - Essa história continua depois, eu preciso contar como tirei meu primeiro pedido. Mas fica pra depois. Fui.

"Meu amigo Judeu" - (Parte II)

Depois que o seu Anton já havia me ensinado muitas coisas de vendas, ele resolveu me soltar. - Resolveu cortar o cordão umbilical. - Daí aconteceu o inevitável, (eu não conseguia vender, tinha vergonha, insegurança). - Ele nunca me cobrou nada, eu ia até a empresa, tomava o meu café da manhã, (pago por ele) e saía pra vender...- Não tinha coragem de chegar nos clientes. Voltava na hora do almoço, ia comer aquela sopa, e subia para o escritório. - Seu Anton perguntava: - Como foi sua manhã, meu filho, conseguiu fechar alguma coisa? - Eu dava uma desculpa, envergonhado, (ele sabia que eu estava tentando enganar ele). - Mas quem enganava um judeu esperto daquele? - Um certo dia, eu já cansado daquela situação, me decidi.: - Hoje eu vou vender qualquer coisa! Nem que seja um simples grampeador...- Me sentia deprimido com aquela situação, estava enganando o meu amigo. - O nosso escritório era próximo da Praça Tiradentes, dali saíam muitos ônibus, eu entrei no primeiro que vi. - Eu não me lembro que bairro era aquele, (acho que era Bonsucesso). - Rodei por lá, sem rumo, até chegar num lugar que tinha uma placa. - Estava escrito: - Atendemos vendedores às segundas, quartas e sexta feiras, no horário comercial. - Era uma empresa grande, da área de oxigênio, White das quantas. - me dirigi à recepção, falei com a moça, ela mandou que eu me sentasse e aguardasse ser chamado. - A minha volta só tinha aqueles caras engravatados, (vendedores profissionais). - Sentei minha bunda numa cadeira e fiquei aguardando. - Eram mais ou menos, umas nove horas da manhã. - Eu suava frio, minha mão estava gelada, eu queria que ninguém me chamasse. - Eu queria que o tempo parasse, (mas o tempo não pára - parafraseando Cazuza). - Na verdade, eu queria sair correndo daquele lugar, mas parecia que eu estava grudado naquela cadeira, minha bunda havia se fundido naquele móvel. - De repente notei que não havia mais ninguém, eu estava só, naquela sala...- Já passava das treze horas...- A moça falou: - Pode entrar, ele está lhe esperando...- Senti vontade de cagar, de tanto medo. - A sala do cara era um luxo só. Eu fiquei deveras intimidado. - Ele disse: - Entra menino. - Eu entrei, cumprimentei, e fiquei ali travado. - Acho que ele sentiu pena de mim. - Disse: - Qual é a sua empresa? - Eu disse o nome. - Ele disse, eu atendo empresas dispostas a participar de nossas concorrências & tomadas de preço. - Você sabe o que é isso? - Eu respondi que não. - Ele disse as palavras mágicas: - Você está com fome? Está com sede? - Naquela época, eu sempre estava com fome & sede...- Respondi que sim. - Ele chamou a moça e disse: - Trás uns sanduíches e uma jarra de suco. - Mandou eu comer e falou: - Conta a sua história. - E eu contei a minha história, como saí de casa, como eu havia visto a enteada da minha mãe cuspir na comida. Contei da minha tristeza de ter abandonado a minha mãe e vindo pro Rio. - Disse das minhas dificuldades, a minha luta pra sobreviver, aquelas coisas todas. - Vi uma lágrima furtiva escorregar dos olhos daquele homenzarrão. - Daí ele me falou da vida dele, que havia vindo do interior de Minas, que a família dele era muito pobre. -Disse que lutou muito, trabalhou, estudou, sofreu muitas humilhações. - Hoje ele era o diretor nacional de compras, daquela empresa. - Enquanto ele falava, eu devorava os sanduíches e enchia a boca de suco, - De repente ele disse: - Me dê o seu talão de pedidos... - Começou a escrever, escrever, enchia uma folha, mais uma, mais uma. - Aquele cara encheu umas dez folhas, carimbou, assinou e disse: - Manda o seu patrão me ligar. - Apertou a minha mão. Algumas lágrimas caiam do rosto dele, ele não disfarçava mais... - Eu saí dali, minha vontade era gritar de alegria. - Havia tirado o meu primeiro pedido. - Nunca mais me esqueci desse cara. - Chegando na empresa eu entreguei o pedido pro seu Anton, ele arregalou os olhos, disse, eu não falei? - Ele estava sentindo orgulho de mim. - Naquela quinzena eu fui o cara que mais vendeu. - A comissão era graúda. Seu Anton me deu um adiantamento. Foi muito bonito. Nas reuniões de venda ele dizia: - Vocês precisam aprender com esse menino...- Eu memorizei todas as emoções daquela venda. - Daí em diante, em todas as empresas em que eu trabalhei, eu fui campeão de vendas. - Esse foi o meu primeiro pedido.

"Exílio"

Meu primo Dan me procurou, e disse: - Seu irmão mandou nos chamar, ele quer falar conosco,(???). - Fomos pra casa do Yoffe, como sempre, as forças da ditadura estavam fazendo uma varredura em Santa Teresa. - Aquele bairro era um reduto de intelectuais & revolucionários. - Dan e eu pegamos um táxi e fomos pra lá.- Chegamos lá, a casa estava uma bagunça, algumas malas feitas... - Yoffe falou: - Eu e a Zeza estamos fugindo hoje de madrugada, a repressão está atrás de nós. - Vamos tentar pegar o "trem da morte", vamos descer a Cordilheira dos Andes, tentando chegar até o Chile. - Eu senti os meus pés falsearem. - (Agora eu não tenho mais ninguém, pensei), bem ou mal, o Yoffe, me transmitia segurança. - Eu sabia que poderia fazer as minhas cagadas, por que o meu irmão sempre me salvaria. Ele não ia me abandonar nunca. Agora essa notícia... (Eu hoje sei que o Yoffe era o meu pai), eu havia transferido a minha necessidade de ter um pai pra ele. Nós fomos criados separados, mas eu sabia que tinha esse irmão, e ele sempre viajava comigo, no meu coração. Yoffe as vezes me batia, mas eu nunca levantei as minhas mãos contra ele. Eu sempre o respeitei. Uma vez, ele me bateu tanto, mas tanto, que eu fiquei uns dias "bem maus". Eu estava com muita fome, e resolvi ir a casa dele. Fiquei esperando por eles, (ele & a Zeza). Parou um táxi: De repente eu vejo um monte de notas, (dinheiro), sendo jogado pra fora do táxi. Yoffe estava brigando com a Zeza e rasgando dinheiro, (é, ele rasgava dinheiro ). No que ele desceu do táxi, já começou a me dar porradas... Zeza gritava, de olhos arregalados: - Pára com essa merda!- Não bate nele não! E Yoffe me aplicava golpes & golpes no peito, no estômago.. Minha respiração faltava... Eu estava armado com a minha "Solingen", uma navalha afiadíssima, que eu havia ganhado do meu amigo da Lapa. Mas em nenhum momento, me passou pela cabeça navalhar ele. Eles entraram, e eu desci a rua cambaleando.. Esse era Josej, meu pai. Mas eu amava aquele cara. Eu já era escolado nas brigas de rua. Meu amigo da Lapa, que era um exímio capoeirista, havia me dado dicas, de como se dar um rabo de arraia, uma tesoura, vários golpes. Eu brigava bem. Mas Yoffe, meu pai... - Eu não poderia cortar ele. Mas voltando ao exílio: - Ele disse, eu estou me despedindo de vocês. - Alex, as coisas que eu não puder levar, você vende e descola uma grana. Yoffe se foi, partiu com a Zeza naquela noite... Eu só voltei a vê-lo, muitos anos depois. Eu já estava casado. Soube depois que ele e a nova mulher dele, a Wil, haviam estado na fila do fuzilamento, na Argentina, na época da "Operação Condor". Eles usavam um estádio, os militares, para classificar quem deveria ser fuzilado. Hoje sei que Deus tirou ele daquela fila. Quando soube que Josej estava voltando, Minha alegria foi muito grande. - Eu disse pra Nê, minha esposa: - Meu irmão está voltando, ele está vindo aqui pra nossa casa. - Minha alegria era tanta, que quando vi Yoffe, eu fiquei sem palavras. Abracei ele com força, abracei a Wil, e nossa família se completou de novo. - Eu amo esse porra, chamado Yoffe.

"Colunista Social"

- Então você quer tirar o meu emprego? - Eu respondi que não..Ela falou aquilo brincando, mas eu aprendi que é nas brincadeiras, que a verdade flui... - Ela era uma senhora muito distinta, paulistana da gema. - Você sentia que era uma pessoa com muita classe . A coluna dela era impressa em muitos jornais. - Eu disse: Sabe o que é.. Eu sinto que a senhora anda super atarefada, de forma que se estiver precisando de uma pessoa pra ajudar, eu me coloco à sua disposição. - Eu frequentava a noite do Rio, sei me portar, poderia passar os briefing para a senhora.. Dei ciao, virei as costas e vazei. A isca estava lançada...- Eu trabalhava na administração do jornal. - Fingia que trabalhava, e fingia que recebia...- Não deu outra, a madame me chamou... - Ela falou: Eu de fato ando super atarefada, meio estressada, acho que você vai poder me ajudar... (Eu achei bom, por que eu iria ganhar mais um dinheirinho por fora). - O dinheiro do jornal, mal dava pra eu e o Cabelo, meu amigo, que trabalhava comigo, pegar um rango legal. - No dia do pagamento, a gente corria pro Almanara, pro Famiglia Mancini, e lá se ia todo o nosso salário. A gente gostava de comer bem, ia comer feijoada no Bolinha, na Faria Lima. Eu conheci bons restaurantes em Sampa, com o meu amigo. Depois que você se acostuma como bon vivant, é phodda a tal da comida por quilo . Eu comecei a ir aos coquetéis, as vernissages, as badalações. Descobri também, que as bebidas não eram as melhores. Fiquei de porre muitas vezes, culpa da qualidade das bebidas. Coloquei o Cabelo como meu assessor, pra me levar pra casa, quando eu estivesse caindo pelas tabelas. Eu descolei uma carteira de jornalista com ela. Aí era só alegria, nós comíamos de graça em vários restaurantes, e depois eu plantava notinhas na coluna dela . - Consegui também, descolar um salário por fora, ela que me pagava. - Foi assim que eu virei "colunista social".

"Quando a morte avisou que vinha"

Quando eu era criança, eu tinha um sonho muito estranho. Eu sonhava com um menino que descia do espaço, em alta velocidade, com um cordão prateado, preso no umbigo. - Quando ele estava prestes a chegar na Terra, o sonho acabava. - Depois eu nunca mais sonhei esse sonho. - Depois que a tia Aliz morreu nos meus braços, passado uns anos, minha mãe morreu. - Antes dela morrer, ela sofreu muito, teve que colocar sonda no nariz, pra se alimentar. Um sofrimento só. O médico vinha todos os dias aqui em casa, pra cuidar dela. A Nê, minha falecida esposa, me disse um dia: - Você tem que liberar ela, você fica orando, pra Deus manter ela aqui, mas ela está sofrendo muito. Naquela noite, eu coloquei os meus joelhos no chão e orei, disse pra Deus: - " Pai, o Senhor sabe o quanto eu amo a minha mãe. Mas se eu estiver sendo apenas egoísta, querendo que ela fique aqui comigo, eu Lhe peço, leve ela pro céu". - Naquela noite, mamãe passou muito mal, nós a levamos para o hospital, e ela faleceu horas depois. Quando o nosso passarinho, o "Fabricio", (Fabricio havia morrido, já estava até com o corpinho duro, nós oramos, clamamos, choramos por ele e ele reviveu). Quando morreu pela segunda vez, a Nê disse: - Libera a alma dele, deixem ele partir...- No começo do ano passado, eu senti a morte aqui em casa. Mas quem iria morrer? Eu, a Nê, o Israel?. - Eu sentia a presença do anjo da morte aqui... - Mas eu tentei ignorá-lo. - Fingia que era loucura minha... - Ele nunca apareceu pra mim, mas eu sentia ele andando pela casa. - A Nê adoeceu de repente, e eu tive a certeza de que ela iria partir. - Eu fazia força, eu orava, (mas no íntimo eu já sabia). Não comentei isso com o Israel, pra quê deixar o menino preocupado, triste. Na noite de 11 para 12 de outubro, a Nê teve uma embolia pulmonar, (um edema). - Nós colocamos ela numa UTI móvel e corremos com ela pro hospital. - Ficamos lá, eu, Arlete e Israel. - Horas depois, a médica nos chamou e disse: - O caso dela é muito grave...Eu pedi pra vê-la. - A doutora me disse, converse com ela, ela vai estar ouvindo tudo. - Eu disse: Meu amor, fica com a gente, nós amamos muito você...Volta pra nós. - A doutora disse que tentou a reanimação dela por umas cinco vezes... - No sábado, eu acordei muito deprimido e disse pro meu filho: - Vai ver a mamãe. - Eu não vou hoje, (eu sabia, imaginava, que ela morreria naquele sábado). - Israel foi, pela manhã, e eu pedi ao Paulo que fosse a tarde. - Paulo é o meu amigo e o meu pastor. - É um cara que eu adotei como meu filho. A Nê também gostava muito dele. - Lá pelas 16 horas, eu me sentei no sofá da sala, de frente à porta, e fiquei orando por ela... De repente, deu um clarão prateado na sala. Ali eu soube que ela havia falecido, e tinha vindo se despedir. ( O Paulo me contou, que quando ele chegou no hospital, viu aquela movimentação a volta dela, e ela morreu ali). - Durante os seis primeiros meses, eu continuava falando com ela, como se ela ainda estivesse comigo. Uma noite, eu estava deitado e senti algo estranho, havia alguém sentado na cama, eu senti o colchão afundar. - Eu senti muito medo, e uma voz falou, (era a voz dela). - "Sou eu". Eu estava morrendo de medo, e disse: - Vai embora, vai embora, eu estou com medo. - E comecei a orar, numa língua estranha. - "Zayn, klie mahane, xuriandas"...E falava, falava coisas que não entendia. Aquele corpo prateado caiu ao chão, em posição fetal e disse: - Você não gosta de mim??? - Eu continuei orando, e aquele corpo foi encolhendo e sumiu. - Depois disso, meu coração ficou bem mais tranquilo, e eu entendi que ela havia estado ali pra me dizer: - Libera a minha alma, o meu espírito, deixe eu ir embora. - Eu comentei com o meu irmão, ele disse, se fez bem à você... Já minha cunhada disse: - Você sabe que não era ela, não é? - Eu não sei. Mas foi isso que aconteceu. - Beijos Nê, até a Eternidade.

"Pinheiros"

Meu avô, Christovam Pinheiro, foi um dos maiores comerciantes de café do sul de Minas Gerais - (Vide museu, em Poços de Caldas). - As tias me contaram, que vovô sofreu uma queda de cavalo, e dias depois morreu. - Eu sempre "encanei" que vovô foi vítima de um atentado, foi assassinado. - Você sabe muito bem, que ninguém fica rico impunemente, você sempre vai deixar uns inimigos pelo caminho. - Minha avó, Mariana Pinheiro, era uma fazendeira típica da época. Ela não sabia ler, ou escrever. Mas dizem que era uma mulher muito inteligente e correta. - Quando meu avô morreu, (nas palavras da minha tia Aliz), começaram a aparecer pessoas lá no nosso sobrado, cobrando dívidas do meu avô. - (aí é que entra a desconfiança), como é que o meu avô poderia estar devendo, se ele era um homem rico? - Isso sempre me cheirou a "mutreta"...- Bem, o pior é que vovó "pagou" todos esses picaretas...Perdeu toda a fortuna da família, no intuito de honrar a memória dele. - Os putos quebraram a nossa família. - O meu tio Ari, já morava no Rio, era "crupiê" no Cassino da Urca. - Tio Ari era um cara bonitão, fazia muito sucesso com a mulherada. - A família começou a passar por necessidade, lá em Minas, e as irmãs mais velhas resolveram ir pro Rio, para trabalhar e ajudar a família. O tio recebeu as irmãs lá, e as ajudou no começo. Tia Luli, fez curso de secretariado, e arrumou emprego. - Tia Iracema foi trabalhar num ateliê de Alta costura. Elas prosperaram muito no Rio, tia Luli se casou com um dos maiores madeireiros de Joinville. Ficou muito rica. Tia Iracema virou estilista de moda, criava vestidos e chapéus. - Abriu seu próprio ateliê, atendia a alta sociedade do Rio, e também a família do presidente Getúlio Vargas. - Tia Marieta se casou com um milionário Argentino. - Ficaram em Perdões, vovó, mamãe Maria e tia Aliz. - Depois de uns tempos, a família toda se reuniu no Rio. Tinha os outros tios, Atagyba, Aristóbulo - Todos foram pro Rio. -O único que voltou a Perdões foi o tio Ari, que se casou com a tia Adriana, filha de uma tradicional família mineira. Tio Ari chegou a diretor do IBC em Varginha. - Essa é uma homenagem a minha família, que soube renascer das cinzas. 

"Tia Aliz, uma linda história de amor"

Minha querida tia Aliz. - Eu amei muito essa tia, e vou contar essa história pra vocês. Ela morreu nos meus braços. Deus me deu essa dádiva, de estar com ela, sozinhos, nós dois, em casa. - Eu a entreguei à Deus, pedi a Ele que a recebesse no Céu. É uma história que chega as raias do surrealismo. - Tia Aliz, morava com um senhor português, de nome Gonçalves. Eu morria de medo dele. Ele era baixinho, corcunda e usava uma bengala, pra se apoiar e se locomover. - (Acho que todas as crianças da família tinham medo dele). A tia era uma mulher muito bonita, alta, loura, de longos cabelos lisinhos. As vezes eu ia passar a tarde na casa dela. Ela preparava o nosso almoço, nós comíamos e ficávamos conversando. As vezes, tomávamos umas tacinhas de vinho do Porto, e a conversa fluía, bem sincera e descontraída. A tia me contava coisas de nossa família, dos meus avós. - Na realidade, ela me tornou um confidente dela. Naqueles momentos de solidão, ela tinha um menino sobrinho, também solitário, e ela me contava tudo. Eu sempre a amei muito, e a respeitei. Isso numa época em que respeito não era o meu forte.- Mas o grande amor da titia, era o Alfonse. - Alfonse era um tipo atlético. Ele era remador do Flamengo. Era um primo pobre, daquela família de jornalistas, dona de uma rede de televisão, e de um jornal muito famoso no Rio, e no Brasil. Ele morava na Praça São Salvador, naqueles prédios dos Bancários. Havia ali, um acordo tácito, de um triângulo amoroso. Era uma coisa muito moderna, pra época. Um sabia do outro. Mas era tabu se comentar a respeito. A família toda sabia, mas era "boca de siri". Um dia, entre um papo e outro, eu perguntei: - Titia, o Alfonse morreu de quê? E Ela me respondeu, - Filho se eu te contar, você não vai acreditar...Eu nunca contei isso pra ninguém. - Eu, moleque curioso, perguntei de novo... - Morreu de que, titia? - Ela me contou. - Sabe filho, o Alfonse era um homem muito "fogoso". Ele morreu nos meus braços...(???). - Nós havíamos almoçado, (uma feijoada), e fomos para o apartamento dele. - E ele queria por que queria fazer amor comigo. - Eu disse pra ele: - Alfonse, está muito calor. Vamos descansar um pouquinho, depois fazemos amor. - Mas ele queria, por que queria...E fomos fazer amor..- Ele teve um piripaque, e morreu nos meus braços...- Imagine o meu sofrimento, eu ali, com o homem que eu amava, morto nos meus braços... - Foi terrível - Eu liguei pra família dele, e avisei que ele tinha morrido. - Para as outras pessoas, eu disse que ele estava descansando e morreu...- Sempre guardei isso no meu coração, mas estou contando pra você agora, meu sobrinho querido. Titia Aliz, veio morar aqui em Campinas, com minha mãe. Ela já estava velhinha. Eu tinha vindo visitar a minha mãe aqui. Mamãe pediu que eu ficasse com ela, por que ela (minha mãe), precisava pagar umas contas no centro, e eu fiquei cuidando da titia. Fiz um suco de laranja, levei pra ela, dei no canudinho. Apoiei ela nos meus braços.. Ela fez um barulho, um som estranho e morreu...Eu fiquei ali, aconchegado com ela, um tempão... Orei e entreguei ela nas mãos de Deus...Foi a primeira vez que alguém morrei nos meus braços... Mas foi uma morte, serena, tranquila...(Eu nunca tive coragem de contar isso à ninguém)... Mas acho que a tia Aliz, não ficaria brava, agora, por que eu guardei esse segredo por muitos anos. - Descanse em Paz, minha tia querida. - Vou amá-la enquanto viver.

"Eu estou tão impressionado"

Essa noite eu sonhei com eles. Eu me lembrei deles, e chorei. Chorei bastante. - (Meu Deus, como é que eu vou poder "montar" essa história, para contar pra vocês ?). - Bem, vamos lá. - Eu cheguei em casa às seis horas da manhã, minha senhoria estava acordada. - Eu disse pra ela: - Eu preciso dormir, trabalhei naquela boate até agora. E vou trabalhar pelos próximos três dias, preciso descansar, dormir...- Minha senhoria perguntou: - E se ela vier ? - Ela pode subir, respondi e fui descansar. (Eu fazia esses "bicos", quando estava sem dinheiro, e trabalhava de dia, vendendo material de escritório). Era na firma do "meu amigo judeu". - Lá pelas quatro horas da tarde ela chegou. Linda & perfumada como sempre. - Bem, vamos sair ? - Vamos lanchar e assistir uma peça de teatro ? Vamos assistir "Arena conta Zumbi" ?- Não meu amor, eu estou sem dinheiro, e preciso arrumar o do aluguel & o da comida. - Eu fechei três dias, naquela boate, pra cantar boleros & serestas...É super cansativo. - Ela disse: - Meu pai depositou, eu tenho dinheiro. Eu pago o aluguel & o da comida, vamos nos divertir um pouco. - Respondi: - Não amor, obrigado. Eu levanto essa grana, não se preocupe - (Eu nunca aceitei dinheiro de namorada, sempre tive vergonha). Sempre imaginei que aceitar dinheiro de mulher era vergonhoso. Eu me sentiria por baixo, essas coisas. Ficamos por lá, namoramos, comemos no quarto. A noite eu fui trabalhar. Me sentava num banquinho, cantava, os caras pediam essa & aquela música, eu cantava, eles pediam de novo, era phodda. - Minhas amigas da noite, faziam os velhos me dar gorjetas, cada vez que eu cantava "à pedidos". Ali eu ganhei uma boa grana, sempre que precisei. - No quarto dia, eu voltei ao meu trabalho, na firma do meu amigo judeu. Quando cheguei lá, estavam todos eles . Eles iam para jogar baralho, conversar & comer. Todos eles tinham números no braço, números escritos com letra azul. Eram os sobreviventes dos Campos de Extermínio nazista. Ali tinham poloneses, húngaros & tantos outros. Eles tinham o olhar triste, mas havia ali, uma grande vontade de viver, uma força interior. - Logo que eu cheguei seu Anton perguntou ? - Onde você estava ? Sumiu... - Eu estava namorando, seu Anton, e cantando numa boate, pra ganhar algum...(Eles se entreolharam, sérios, e depois caíram numa gargalhada gostosa). Começaram a falar em húngaro, e me olharam, aprovando minha atitude. (Essa noite eu sonhei com eles, os senhores numerados). Me peguei imaginando, como deve ter sido a vida deles, nos campos de concentração, ainda meninos...Muito deles perderam os pais, a família, naquele inferno. A grande lição que aprendi com eles, é que a vida sempre nos oferece uma oportunidade. - Mas é preciso lutar, porque a vida é luta renhida. - Salve o povo judeu. Que renasce das cinzas, sempre. O povo Fênix. 

"Uma história real & triste"

(Ele me contou essa história, com os olhos cheios de lágrimas). - Alô, é o senhor Saintclair Lima, que está falando ? - Sim, sou eu, algum problema ? - Senhor Saintclair, aqui é da empresa de cobranças, é sobre um débito seu, no cartão de crédito, que já está em trinta mil reais...- Nós estamos com uma promoção hoje, se o senhor concordar, o valor é de apenas novecentos e oitenta reais, e o senhor quita a sua dívida... - Saintclair pergunta: - de quando é essa dívida ? - É de 2006... - Ele responde: - Meu filho, essa dívida já caducou... Nós estamos em 2014... - O cara do call center responde : - Dívidas não caducam, senhor...- Saintclair argumenta; essa dívida é de antes dessa lei. Essa já caducou...( O cara da empresa de cobranças vai ficando nervoso). - O senhor já explicou isso para o seu gerente no banco ? - O velho responde. - Eu tenho oitenta anos, estou doente, não saio mas de casa, como poderia ir ao banco ? - Sabe, meu filho, eu sinto muito, mas você não vai receber essa comissão. - Eu não tenho dinheiro pra pagar, ( há um prazer quase sexual, nessa afirmação). - O velho Saint continua: - Quando eu fiz essa dívida, eu era rico, empresário, o meu rating nesse banco era AAA, eu tinha dinheiro aplicado lá, tinha seguros, desconto de cheques & duplicatas...Agora eu estou velho, phuddiddo, desamparado. Todos os meus amigos sumiram, ninguém vem aqui em casa. - Sabe, aqueles amigos que comiam o meu churrasco, que tomavam o meu uísque, que se banhavam na minha piscina ? Sumiu todo mundo... - Hoje meu filho, eu vivo de mesada dos meus filhos, (eu tenho dois). Um me paga o aluguel, contas de energia elétrica & telefone. - A outra filha, me compra alimentos e me dá quinhentos reais. Desses quinhentos reais, eu gasto quatrocentos e cinquenta com os meus remédios...- Você acha que eu teria coragem de pedir novecentos e oitenta reais para pagar essa conta ? - Não tenho coragem, filho...(Eu fiz a minha parte de pai, os coloquei em boas universidades, comprei carro zero), essas merdas todas... Mas agora, eu sou um ninguém, uma sombra do que era... - O cara falou: - Senhor, essa nossa conversa está sendo gravada... - Que bom filho, grava essa merda toda, mostra pra todo mundo, mostra o que o Brasil faz com os velhos... Sabe filho, eu não tenho aposentadoria, eu não tenho plano de saúde, não tenho essas merdas. Meus filhos me fizeram um plano funeral, acho que eles estão imaginando que eu vou morrer logo. - Mas eu quero viver bastante, só para dar trabalho à eles, que me deixaram abandonado nessa casa... - Anote aí, o senhor Santclair Lima não vai pagar essa conta. Essa o banco se phuddeu, e você também, kkkkkkk. (O atendente desligou o telefone, esse era o velho Saint, phuddiddo, até na hora de dar o calote). Quando ele me contou essa história, eu pude ver o brilho nos olhos dele. A doce vingança. O velho Santclair é phodda. Fui.

"Dia - (Noite), de falar com Deus"

- Nós vamos sair essa noite ? - Não meu bem, essa noite nós não sairemos, respondi. - Mas porque ? - Porque essa noite eu subirei aquela montanha... - Que montanha, cara, você é maluco? - Hoje eu subirei a montanha, para falar com Deus & chorar as dores do mundo. (Maluco, aquela garota me achava isso, - maluco). - Eu disse: - Lu, eu quero ver o por do sol & passar a noite lá, quero ver as estrelas, quero colocar minhas ideias no lugar. Amanhã a gente se vê. Preciso ter um particular com Deus. (Até me lembrei daquela música, " Se eu quiser falar com Deus ", do Gilberto Gil). A Lu era tão louca quanto eu, porque ela resolveu me acompanhar. Peguei minha mochila, o saco de dormir, peguei alimentos e água. Ela também se preparou & fomos subir a montanha. Velho & bom Charles Bukowski, eu estava de careta, limpo como bumbum de criança. Afinal, conversar com Deus era coisa muito séria. Lu caminhava atrás de mim, sempre perguntando: - Falta muito, Alê ? - Lu, falta um montão meu bem, você quer voltar ? Eu levo você e volto, não tem problema. Mas aquela Lu era decidida, continuou a subir comigo. No alto daquela montanha tinha uma caverna pequena, era lá que eu ia ficar. Chegamos no local, ainda era dia, arrumamos as coisas, os sacos de dormir, as velas, tudo. Quando o sol começou a se por, aquelas cores fortes, aquela beleza toda, Lu exclamou: - Que lugar bonito Alê, e você queria vir sozinho... Eu disse: - Lu, hoje eu vou chorar, eu vou rir, eu vou dançar, gritar, e você pode me achar maluco...(Ela me deu a mão, nos deitamos na pedra, e Deus chegou), ficamos ali olhando o céu. - Era bonito de se ver. Aquele céu lotadinho de estrelas. - Eu disse pra Ele: - Deus, o Senhor está aqui ? O Senhor veio me visitar ? E meus olhos se encheram de lágrimas, eu estava chorando, as minhas lágrimas saíam com naturalidade. E Deus me disse que Ele estava ali. Que eu podia abrir o meu coração. Lu me olhava com surpresa, vendo a minha intimidade com Ele. Lu começou a chorar também. E Deus conversava conosco, dizia que todas as dores iriam passar, que era só uma questão de paciência...Eu argumentei com Ele, que eu estava desempregado, que se não arrumasse dinheiro, seria despejado do meu quarto, e coisas tais. (Deus falou no meu ouvido: - Se aquiete menino, eu vou resolver tudo para você. - Olha que lugar bonito, se eu criei tudo isso, você acha que Eu não consigo resolver os seus problemas ?) - Eu não disse nada, eu apenas me levantei & comecei a cantar, a dançar, e a curtir aquela noite maravilhosa. Lu ficou surpresa, entrou no clima & ficamos ali dançando, cantando, & dando Glórias, por sermos jovens e felizes. Depois desse particular com Deus, nós comemos e ficamos o resto da noite, dando risadas e conversando. Pela manhã, descemos a montanha, os dois calados, em total silêncio. Quando cheguei em casa, tinha um recado: - Era para eu ligar para a empresa tal, que tinha um emprego me esperando lá. (Esse Deus era muito bom, numa só noite Ele resolveu todos os meus problemas). Nada como subir a montanha de vez em quando, para se bater um papo com Ele. - Fui.

"O arco íris"

Ele se dirigiu ao filho e disse: - Estou indo embora, estou abandonando todas as minhas obrigações, estou lhe passando a empresa, os imóveis, tudo que tenho. Só preciso que você deposite todos os meses, um pouco de dinheiro na minha conta. - Preciso também, comprar um carro novo, o meu está muito velho e não vai aguentar a viagem. - Tem que ser um 4x4, um off road. - Velho: - Onde você quer ir? E eu? - O velho responde: - Eu vou atrás do arco iris, do "meu" arco iris. (Tudo começou assim). Ele pegou o gato dele, comprou provisões, água, uma barraca, lanternas, essas coisas todas. - Rodou por esse Brasil inteiro, (ele e o gato). Sempre procurando o arco iris...(Ele precisava pegar o pote, - o pote que fica embaixo do arco iris). - Sempre que chovia, lá estava ele, perseguindo, acompanhando aquela quimera). Ele já havia notado, que sempre que ele se aproximava, o arco iris se afastava dele. Depois de meses nessa correria, ele já desconsolado, triste, cansado, resolveu acampar, descansar. - Foi pra aquela mata fechada, na divisa de São Paulo com o Paraná. - Ali era morada de onças e cascavéis, mas ele não teve medo...Subiu aquela montanha, arfando de cansaço & sofrimento, (ele e o gato). O lugar era muito bonito, passava um rio lá embaixo, o céu era um mar de estrelas. - Na quinta noite, estava ele olhando o céu, e teve uma visão... - Apareceram três mulheres. Elas usavam roupas pretas, de veludo, brocadas em diamantes. Quando a lua cheia refletia nelas, os brilhantes faiscavam. - Todas tinham cabelos louros, compridos. - Eles se comunicavam sem palavras, sem abrir a boca. - A primeira se identificou como Lilith, a segunda, como Lisbeth & a terceira, como Sônia. - Lilith disse: - Eu sei do seu propósito, de passar no arco iris. - Mas o seu coração espiritual, ainda não está perfeito, para que isso aconteça. - Lisbeth, que estava calada, até aquele momento disse: - Nós passamos, nós três. - Sônia continuava calada...- Sônia resolveu falar (mentalmente), e disse: - Talvez você consiga, por que você não pediu posses, pediu apenas para viajar no tempo, para resolver coisas do seu passado...Coisas mal resolvidas. - (Ele ficou ali por mais uns dias, as vezes descia até o rio, para se banhar e pescar). - Numa tarde quente, ele desceu ao rio, para se banhar, e começou aquela chuva. - Chovia torrencialmente, e ele ali parado, pensativo, triste...O sol reaparece, a tarde fica linda, com aquele cheiro de mato & terra molhada... (Ele nota que o arco iris está bem acima dele, e ele visualiza o "pote"). - Um pote cheio de ouro, transbordante de brilho. - Ele caminha até ali, coloca a mão, e sente que aquilo se dilui em sua mão...Cai e desmaia. Acorda noite alta, um céu estrelado visita seus olhos. - Vê um menino de costas, cabelos louros, longos...- O menino diz, (sem se virar): - Venha até aqui. - Ele se aproxima, trêmulo, amedrontado...- Ele pergunta ao menino: - Quem é você? - O menino responde, vocês me chamam de "O Senhor do tempo", mas esse não é o meu nome, por que o tempo não existe, é uma invenção humana. - Diz ainda: É tudo uma questão de expansão & contração. - Na casa do meu Pai não existe isso. - O homem, atrevido, pergunta o nome dele. - Ele diz: - Meu nome é Eu Sou, (Porquê Sou). - Eu Sou diz a ele: - Nós demos tudo a vocês, inclusive a Vida Eterna, mas vocês colocaram quase tudo a perder, quando inventaram esse tal de "tempo". - Mas meu Pai, na sua Misericórdia, ainda dá chance a vocês...- Quando nós enviamos o nosso irmão até essa "ESFERA", ele foi torturado, ofendido e assassinado por vocês...(Quando Eu Sou ficava bravo, os cabelos dele branqueavam). - Ele tinha um olhar cansado, de quem já viu muitas coisas, naquele corpo de menino...- Me diga de uma vez por todas: Qual a necessidade real, que você tem, de viajar no "tempo"? - Ele respondeu a Eu Sou: - Eu deixei muitas coisas erradas, no passado, coisas que eu gostaria de acertar...- Eu Sou explicou: - Não existe memória no passado, isso é invenção de vocês...- Meu Pai, recebeu ensinamentos do Pai, do Pai, do Pai Dele, de que vocês são seres tristes, vaidosos, invejosos, menores...- Mas Ele na sua imensa misericórdia, não abriu mão de vocês... - Tudo em vocês é pequeno...- A ciência de vocês é primária. Querem conhecer novas esferas, mas não conseguem resolver a fome, a desigualdade, a vida... - Vocês ainda usam hidrazina, como combustível de suas naves... Não tem a tecnologia do viajar no éter. - Meu Pai tem tudo isso, para entregar, mas ainda não chegou a hora. - (Os cabelos Dele estavam totalmente brancos). - O homem diz: - Me dê a chance de voltar, por favor...- Eu Sou faz um gesto com as mãos, e aparecem três alamedas... Ele diz: - Escolha duas, uma delas é o seu passado... - O homem entra na primeira alameda, lá dentro só existem pessoas velhas doentes. Existe um ranger de dentes, naquele lugar, só sofrimento, tristeza, dor. - O homem volta correndo, Eu Sou está com os cabelos totalmente brancos...- O homem entra na segunda alameda. - Lá dentro está ELA, do jeito que ele a conheceu há quarenta anos atrás...- Ele se aproxima, ela muito simpática, se apresenta a ele, eles conversam.- Ele nota que ela não se lembra dele, que ela está feliz, - O mesmo sorriso de sempre...- (Ele tinha tantas coisas para conversar com ela)...Mas desiste e volta. - Eu Sou já se tornou um ancião, naquele corpo de menino, mas brilha muito. O homem já não consegue olhar diretamente pra Ele. - Eu Sou diz: - Tudo o que você viu aqui, será esquecido. - Ele, (o homem), pede que Eu Sou deixe as memórias daquele momento. - Mas Eu Sou é irredutível, diz que não... - O homem acorda no outro dia, tranquilo, pega o gato, as coisas dele, e volta para casa, pra vida dele.

"Quando eu me envolvi com ela"

Quando eu me envolvi com ela, eu já havia saído do Exército. - Eu saí bem mais triste. do que entrei. - Eu entrei um menino e saí um cara meio revoltado. - Negócio era o seguinte: - Ano, 1968, naquele quartel se torturavam pessoas, a soldadesca toda sabia...O pessoal do rancho, que servia comida para os presos políticos, tinham me contado. - Eles diziam: - Pinheiro, são todos jovens, meninos, a maioria é gente da nossa idade. Eles me contaram, que quando levavam a comida, era proibido falar com os caras, e tinham que entrar de cabeça baixa e sair, idem. - Sempre eram acompanhados de um oficial. As vezes, quando a gente estava de guarda, na madrugada, eles levavam os meninos para o "pau". A gente ouvia choros & gritos, era uma merda de se ouvir. - O xadrez dos presos políticos, era do lado do nosso xadrez. - Os caras que torturavam, na maioria das vezes, não eram do quartel. - Eles chegavam naqueles carros oficiais, pretos, iam pro xadrez, e logo depois o prisioneiro entrava, encapuzado. - Meu, eu várias vezes pensei em meter bala naqueles filhos da puta. - Quando a gente estava de guarda, usava um fuzil Fal, calibre 7,62, era facim, facim morrer ali, mandando bala naqueles putos. - Eu quando saí de lá, já não era o mesmo cara, eu carregava todas as dores do mundo, no meu coração. Eu procurava aventuras de todas as formas, eu queria esquecer aquelas merdas. Eu sabia, que existia uma guerra comendo solta. Depois desse período, eu comecei a ajudar os guerreiros. Até os anos da abertura, eu ajudei. Eu escondi pessoas lá em casa, eu guardei documentos, malas. Eu acolhi esposas & filhos de guerrilheiros lá em casa. Era o mínimo que eu podia fazer. - Comecei a escrever músicas de protesto, tive uma porrada delas proibidas, pela censura militar. - Tenho cópias aqui, até hoje, envelhecidas pelo tempo, amareladas. - Quando eu me envolvi com ela, me senti um Nabokov, ela era a minha Lolita...Ela morava naqueles prédios lá de cima, em Santa Teresa, acho que o nome era "Equitativa". - Eu fiz até uma música pra ela, se chamava, "Mulher nenhuma me domina, nem Cristina, nem Regina". - Era um baião, fugia totalmente ao gênero musical que eu gostava. Mas era tudo mentira, as mulheres sempre me dominaram, sempre me cuidaram. - Véio, eu sentia uma tristeza tão grande, uma porra de um vazio no coração...- Aquela Lolita me ajudou muito, mesmo ela não sabendo...Eu me atracava com ela, eu abraçava aquela menina com tanta garra... Mas meu coração já não era o mesmo. É incrível, como a gente pode mudar em um ano. Era tudo um filme, que passava pela minha mente, eu me lembrava daqueles choros, no quartel, daquela tristeza, de saber que pessoas eram torturadas. De saber que muitos deles nunca mais voltaram a seus lares. Sentia o sofrimento dos pais, aquela merda toda. Comecei a sonhar com aquilo...Depois disso, resolvi viver, comer todas as mulheres que pudesse, daí pras drogas foi um pulinho. Vivi loucamente por muitos anos, tentando esquecer tanta merda, tanto sofrimento. Hoje eu olho para trás, eu fico me lembrando de tudo, os detalhes já se perderam no tempo, mas meu coração ainda se amargura, só de me lembrar dessas coisas.

"Rango"

(Jornal Correio Popular, Campinas/Sp. - Matéria do dia 23 de setembro de 1990. -Autora: Maria Tereza Costa). - "Estudo prevê uso das Forças Armadas no País". - As Forças Armadas estão prevendo que terão de intervir para garantir a paz social e restaurar a lei e a ordem, e que isso deverá acontecer em função de dois problemas interligados: os cinturões de pobreza e miséria que envolvem as grandes cidades e a questão do menor abandonado. Esta previsão está no documento "Estrutura do Poder Nacional para o ano de 2001", elaborado pela Escola Superior de Guerra. e até agora com distribuição restrita a algumas autoridades, e sob o controle do Estado Maior das Forças Armadas. A Pastoral do Menor, da Arquidiocese de São Paulo, que teve acesso ao documento, está distribuindo cópias para, segundo a entidade, alertar a sociedade sobre as propostas da Escola Superior de Guerra. Oficiais da ESG se recusam a comentar o documento". - RANGO - João levantou-se às cinco da manhã, madrugada fria. Contou uns trocados, (que talvez desse pra comprar um leite "c" aguado e uns pães pra molecada). Separou o da condução. Saiu. Foi enfrentar aquela condução filha da puta e foi pensando em fome, desemprego e coisas tais. - O que mais impressionou João, foram os soldados, a rua estava cheia deles, com suas baionetas brilhantes. Ele, em sua ignorância nada entendia. Entrou no ônibus lotado, ninguém falava, estavam todos pensativos, sombrios. João não entendia porra nenhuma de greve, de nada. Ele só entendia de trabalho e dinheiro pra alimentar aquele "tantão" de bocas que tinha em casa. A rua continuava cheia de militares. Chegando na fábrica, João se deu conta de que ali também haviam muitos soldados... Os operários estavam todos na porta, querendo saber, querendo entrar para cumprir o turno. - E o aviso: - Por ordem dos militares, todos deveriam retornar as suas casas., até ordem em contrário. - Os buchichos corriam solto, depois de tantas promessas, tantos peões sem emprego, passando fome...Ele nunca tinha se incomodado com essas coisas, afinal, sempre havia conseguido manter-se empregado. Nem era com ele...Agora, era polícia por todos os lados, e todos que iam acordando, iam tomando consciência de que alguma coisa tinha mudado. - Toda população ficou sabendo que os tempos de promessas já eram. E quem fosse contrário, talvez pagasse com a própria vida, aquela vidinha de merda. Ele deu meia volta e foi para casa. Os dias foram-se passando, ele em casa, sem porra nenhuma pra fazer... Ia até o bar, tomava uma cachacinha. A conversa era sempre a mesma. O país estava parado. Gente estava morrendo que nem bicho. Estavam-se formando grupos de treinamento de trabalhadores famintos. Gente desesperada. E gente desesperada é pau pra toda obra, pra qualquer tipo de serviço. João tinha medo. Em casa já não tinha mais comida, as crianças choravam com fome. Só os ricos tinham estoque de alimentos. Ele tinha medo & fome. No bar, o pessoal já estava falando em saque & luta armada. Os mais afoitos, já estavam saqueando há tempos, mas era coisa desorganizada. Eles formaram um grupo, e o nosso João entrou. Diziam que o esquema era simples: - Um grupo de seguranças ficaria na frente, e o outro grupo estouraria a porta e fariam o serviço. Agora: - Os caras da frente teriam que segurar a barra, de todo jeito, mesmo com o risco da própria vida. Depois o butim seria dividido entre as famílias do quarteirão. João foi escalado para a próxima missão, estava fudido mesmo, quem não arrisca não petisca. Ia pintar um rango legal, ele tinha quase certeza. A mulher ia ficar super feliz. Ele não diria nada pra ela, ia fazer uma surpresa, quando chegasse com aquele "monte" de alimentos. Combinaram tudo no bar. Ele iria no grupo dos seguranças, levaria uma pistola velha e um pedaço de corrente de ferro. A ordem era segurar o tranco lá fora, de qualquer maneira. O problema era que ele não entendia porra nenhuma de tiros, ou de correntadas. E a ordem era segurar o pepino de qualquer jeito. Na realidade, ele tinha medo de se cagar na hora, e picar a mula. Deixando o pessoal se phudder lá dentro. Toda aquela gente boa, nem pensar! Meia noite, o pessoal reunido, tudo passado e repassado. O combinado era que ele ficaria com mais dois na frente, dois cearenses franzinos. A kombi velha, roubada, lógicamente, ficaria em ponto estratégico, prontinha pra entrar em ação. Zé do táxi, motorista experiente, ficou responsável pela retirada do grupo. Foram à luta. Zé encostou a kombi na miúda e desceram todos. Zé deitou-se no banco da frente e ficou esperando, coração aos pulos. Os seguranças se postaram em cantos escuros. O pessoal da demolição começou o trabalho. - Sem muito barulho, dizia um, tudo bem, dizia outro. O pessoal entrou. A kombi começou a ser carregada. a galera com medo, mas alegre, afinal era comida, depois de tantos dias de fome... - O nosso João ali, esperando que tudo termine, coração aos pulos, (literalmente), querendo relaxar... - Eis que pinta um carro de patrulha, da polícia, (que sempre aparece em hora errada). Nosso João ali, paralisado pelo terror, sentindo uma dor no peito. E o calhorda do Zé do táxi resolve bater em retirada, deixando alguns ainda lá dentro. E os seguranças com o pepino pra descascar. O medo das metralhadoras é intenso. João reza pro pessoal vazar dali, mas já é tarde. Zé do táxi vaza, deixando os os três seguranças, e os demolidores lá. Descem dois soldados, da baratinha, o cearense do outro lado abre fogo, acerta um soldado, leva uma rajada no peito. O outro cearense atira sem parar, esgota toda a munição e cai baleado. João ali paralisado pelo medo, pelo terror.. Podendo fugir e sentindo aquela pressão no peito. Deixa cair a pistola, quer ar e não consegue aspirar. Vai perdendo a noção das coisas, saindo dessa para melhor. Vítima de ataque cardíaco. Viaturas aparecem, como que brotadas da noite, ambulância, para cuidar dos soldados. - "Os ladrões ja eram" diz o capitão, para o repórter. - Fala o vigia, (que fora encontrado amordaçado), falam todos & ninguém fala nada. - Fechando, diz o cinegrafista, fechando...

"Ernesto"

Ernesto foi uma das pessoas mais interessantes que eu conheci. Português, setenta e cinco anos, milionário. Foi ele que me apresentou o famoso "leitão à moda da Bairrada", os bons vinhos & azeites portugueses. Ernesto não gostava de tomar banho, dormia e acordava com a mesma roupa, tinha "cheiro de velho", tinha "panariço", nos pés e nas mãos. Usava iodo, nos dedos dos pés & mãos, mas tinha dinheiro pra cacete. Só de imóveis, tinha uns cem, entre classe média, alta & populares. Também era agiota. Assim que eu montei o meu escritório, na rua Paulo Lacerda, em Campinas, nos tornamos amigos. Ele era odiado no bairro. Mas aquele velho português tinha um grande coração. Ele passava seis meses no Brasil e seis meses em Portugal, (tinha muitas propriedades lá). Ernesto tinha um modo peculiar de se expressar, era aos gritos...As vezes, no fim da tarde, nós nos sentávamos em frente a casa dele e ficávamos proseando. Passava uma pessoa, e ele gritava: - Aquele cara é um filho da puta!!! Me deve um dinheiro! - E passa pela outra calçada. (falava tão alto, que não tinha jeito do cara não ouvir). Eu ficava meio envergonhado. Ernesto me perguntava: - Ô Alex, tu estás comendo aquela tua secretária?) - Ela é uma morena muito gostosa. - Eu dizia que não, mas ele não acreditava...Acho que Ernesto estava apaixonado pela morena. - Ele dizia: - Meu filho, tu tens que tomar cuidado com os funcionários, eles sempre vão querer te phudder. No Natal, eu comprava aquelas geleias francesas para ele, comprava umas garrafas de Chandon...Ele se comovia, afinal, não tinha amigos...Muitos grandes empresários, deviam dinheiro ao Ernesto. Sempre nas tardes do Natal, eu ia até a casa dele, fazer um lanche. Ele e a esposa, dona Luisa, me serviam aquelas delícias portuguesas. - Tinha um bolo, chamado bolo real, todos os anos eu tinha que trazer um bolo desses para casa.- Ele chegou ao Brasil em 1961, duro, leso, trabalhou muito, comprou um caminhão de doces, daquela fábrica famosa "Confiança" e começou a ganhar dinheiro. Mas a grande sacada dele é que se casou com uma velha podre de rica, tia da dona Luisa. Nesse meio tempo, ele comia a dona Luisa, e esperava a velha morrer.. Quando a velha morreu, ele casou-se com a dona Luisa. Ele morreu há uns dois anos atrás, dona Luisa herdou toda a grana. Eu as vezes, chamava ele pra ir até São Paulo comigo, a gente tinha alguns serviços em Aldeia da Serra, Tamboré, Alphaville, e eu o levava comigo. Um dia, na volta, nós paramos no "Frango Assado", pra almoçar, ele tomava vinho direto... Ele pergunta ao garçon: - Tens um vinho de qualidade nessa casa? -O cara diz que tem o vinho seco da casa... (Aquele dia eu fiquei muito envergonhado). Ele prova o vinho e grita: Esse vinho é uma merda! Uma bosta! Um cu. O salão inteiro se volta pra nós...(Eu não tenho onde meter a cara...) - Ele grita: - Vamos embora dessa merda !!!! Saímos dali rapidinho, esse era o meu amigo Ernesto. Um dia eu precisei de dinheiro. - Disse, Ernesto, eu preciso pagar os funcionários, e o meu caixa está meio que baixo, você me emprestaria algum? - Ele prontamente responde: - Quanto você precisa, meu filho? - Uns cinco mil reais...- Me chama lá dentro, abre uma gaveta. Surpresa! O cara tinha mais de um milhão lá, em pacotes de real, de dólares, de euros... Me passa o dinheiro, eu pergunto: - Você quer que eu assine uma promissória? - Ernesto responde: Não meu filho, não precisa assinar nada...(Esse era o meu amigo Ernesto). - Vamos tomar uma bagaceira, eu mesmo fiz, (aquela bagaceira me deixava bêbado & vermelho). - Esse era o meu amigo Ernesto. (Meu personagem tipo, Eça de Queiróz). 

"Joransen von Straubein"

Plena Ditadura, quartel, (I Batalhão de Guardas - Rj.). O capitão faz pose e diz: - Soldado Pinheiro, o senhor está lotado na Cia. de Comando e Serviços. Vai fazer tudo que um infante faz, mas também vai se phudder no almoxarifado. Vai trabalhar com o tenente fulano. (Que que eu poderia dizer praquele filho da puta???). - Ok senhor, entendido, (pensei comigo - É nóisss). - Soldado Pinheiro se apresentando senhor, o capitão me mandou vir trabalhar com o senhor. (O tenente fez pose de "phuddiddão" e disse, ok soldado, tome muito cuidado comigo, por que preu destruir você é rapidinho). (Pensei com os meus botões), tanto lugar legal e eu fui cair logo aqui, com esse bosta). Os dias foram-se passando e eu descobri que aquele tenente era um vagal. Eu teria que tocar aquela seção sozinho. Eu trabalhava muito, ali, mas eu consegui deixar aquele almoxarifado nos trinques. Entrada, saída de itens, de equipamentos, tudo. O pior é que eu ainda tinha que cumprir com todas as minhas obrigações & treinamentos. Correr, física, armamentos, aquela merda toda. Quando davam as quatorze horas, eu já estava um bagaço. Resolvi, sempre, após o almoço, fumar uma baganinha escondido lá dentro, só pra dar uma desanuviada. Num desses dias o cara me pegou fumando...(senti um cagaço enorme). - Ele gritou!!! Soldado Pinheiro, seu filho da puta! Você está fumando maconha aqui na minha seção? Eu me apavorei, fiquei sem ação... E o puto disse, "quando fumar essa merda aqui, tranque a porta", tome muito cuidado...(O safado também fumava os "beises" dele ali...). Moral da história, ficamos amigos, e passamos a carburar juntos. Ele era tenente do CPOR e morava em Botafogo, gostava de samba & noitadas. Acho que "juntou a fome com a vontade de comer". Passamos a sair pras noitadas. - Um dia ele perguntou? - Você é escritor? - Respondi que não, que ainda estava adquirindo experiência, mas que gostaria de escrever, quando tivesse mais idade. Então ele me pediu que inventasse um nome fictício pra ele, um nome de guerra. - Meu, o cara era moreno, parecia um árabe, um tuaregue . Resolvi sacaneá-lo e inventei..." JORANSEN VON STRAUBEIN", um soldado nazista, criado apenas pela minha piração. Vamos chamá-lo por esse nome, a partir de agora. O nóia mandou fazer cartões de visitas essa alcunha e saiu por aí, dizendo pra todo mundo que ele era o Joransen, dessa data em diante. - Tenho histórias loucas dessa figura, mas contarei depois... - Aprontei muito naquele quartel, por causa desse Joransen... Fui.

"Christovam"

- Christovam disse para o rapaz: - Nós temos que empreender uma viagem: - Na realidade, eu vim aqui para levá-lo comigo...Calculo que vamos levar uns 25 dias de caminhada, até as Minas Gerais. - Pegue o mínimo possível de objetos. - Áh, sim, qual é o seu nome mesmo? - Eu disse: - Eles me chamam de Alex, mas esse não é o meu nome não... - O meu nome é Alexandre Pinheiro dos Santos, meu pai também era Alexandre, só que era em grego. - O nome dele era Amynthas Jorge dos Santos. Saímos do Rio naquela tarde, (não sem antes eu dizer que podíamos ir de ônibus), ele me explicou que a nossa missão era caminhar & levar as boas novas (???). - Eu quis retrucar, mas ele lia os meus pensamentos, eu havia me esquecido desse detalhe. - Ele falou, eu agora serei o seu mentor, não sei porquê. Mas obedeço ordens superiores. Não questiono as deliberações de Deus. Enchi duas garrafas d'água e fomos. O sol era escaldante, mas por incrível que possa parecer, nós não sentíamos e não suávamos. Não havia cansaço também. Lá pelas oito horas da noite, já estávamos na baixada Fluminense. Eu não sentia nenhuma canseira, acho que poderia andar pelo resto da vida, naquela balada. - Lá adiante existe uma igreja, ele disse, vamos parar um pouco. Era uma igreja pintada de cinza, escrito, "Assembléia de Deus". Muito simples, os irmãos estavam cantando um louvor... Nos sentamos no último banco e ali ficamos, assistindo o culto. - As irmãs usavam aquelas sandálias de dedo, se vestiam simplesmente... Em dado momento, elas começaram a falar a língua dos anjos, e a revelar coisas ocultas. - Uma delas disse: - Eu sinto a presença de Deus nesse lugar! - Toda Honra & Glórias ao Senhor! Eles cantavam e batiam palmas ao Senhor, (era muito bonito). - Christovam se virou e me disse em pensamento: - Eu gosto dessas igrejas simples: - Deus habita nesse local. - Ele disse mais: - Afirme o seu coração Espiritual, pois você verá quantos anjos estão aqui. - Eu fechei os meus olhos, elevei o meu pensamento à Ele, quando os abri, eu vi a quantidade de anjos que estavam ali. - Eram altos, acho que tinham mais de quatro metros. Eles tocavam trombetas, anunciando a presença de Deus ali. Me vi no dia de Pentecostes, quando o Senhor entregou a língua dos anjos aos seus servos. No final do culto, fomos convidados a lanchar com eles. A mesa era farta, e estava rodeada de anjos. - Christovam explicou que nós estávamos viajando a pé, e eles nos convidaram à dormir ali, na igreja. Saímos dali cedinho, e continuamos nossa caminhada. Esse dia, nós não comemos nada, (mas também, não tínhamos fome). No terceiro, ou quarto dia, nós estávamos dormindo no mato, na subida da serra, acordamos pela manhã ouvindo um barulho de asas... Era um anjo muito bonito, resplandescente em poder & Glória. - Ele disse: - Meu Pai mandou esse alimento para vocês. - O nome dele é "maná", é para comer no dia, não pode guardar. Deixou a cesta ali e partiu. - Senti o sorriso do Christovam, e li o seu pensamento: - Ele dizia: - Isso é coisa do Mordechai, só ele mesmo...- (Aquele alimento tinha uma cor dourada, sabor de mel & de baunilha). Cada vez que o anjo vinha, o sabor era diferente. - As vezes, encontrávamos um andarilho, e Christovam pregava as boas novas a ele. - Andamos muitos dias, não estávamos cansados, não estávamos sujos, e nem suados. Ele as vezes parava, subitamente, me olhava, e dizia: - A Glória do Senhor é para sempre! - Eu já havia perdido a conta de quantos dias já havíamos caminhado. - Um certo dia ele disse: - Hoje nós vamos passar no território de bruxas & demônios. - Muitos homens de fé perderam a benção nesse lugar, afirme seu coração espiritual, pois a tentação será muito grande. - Eu perguntei: - Não podemos passar por outro lugar? - Ele respondeu: - Não! Nós temos, e vamos passar por aqui! - O nome disso é prova. - O Senhor, aquele que tudo vê, o Alpha & o ômega, quer que nós passemos por aqui! - Eu já passei oito vezes, você vai conseguir! Nós entramos no território do "cão". - Eu orava e dizia a Deus: - Senhor, o Senhor conhece as minhas limitações, mas eu tudo posso, Naquele que me fortalece. - Cuida da minha alma, Senhor. Eles vieram travestidos de lindas mulheres, nuas, com toda sua beleza exposta. - Eu orava. - Eu dizia o salmo que minha mãe havia me ensinado: - Olho para os montes, de onde me virá o socorro. O socorro vem de Deus, que criou os céus e a Terra. - A certa hora, Christovam me ungiu, com óleo santificado. - Cada demônio, que nós desviávamos, perdia sua beleza, e se transformava naqueles seres horripilantes. Nós conseguimos passar... Chegamos no acampamento de Christovam. - Tinha muitas pessoas lá, mulheres, homens, crianças. As crianças sorriam para ele, os adultos cumprimentavam, por sinais. Tinham também, quatro anjos, que cuidavam do perímetro. Anjos com espadas de fogo, faziam sentinela ali. - Eu perguntei: - Eles podem ver os anjos? - Ele disse: - Não, mas eles sentem a presença Divina aqui. Eles me lembravam os amish, não tinha luz elétrica, não tinha nada de modernidade. - Mas tinha amor & a presença de Deus. - Essa foi a minha caminhada com Christovam.

"O dia em que eu fiz um acordo com Deus"

Essa foi a noite em que eu deixei de me drogar. - Eu estava em casa, apena coçando o saco, sem fazer nadica. Me veio o estalo: - Nê, vamos até São Paulo? Vamos passear um pouco? Nós estávamos em nossa casa, em Campinas, era uma sexta feira tranquila. Nê me olhou, assim assim...(Eu senti que ela não estava muito afim). - Ela disse: 'Tá bom, vamos..(Ela cuidava de mim, tinha medo que eu fizesse as minhas merdas de sempre). Pegamos o Cometa e fomos pra Sampa. Nós fomos pra casa da minha sogra, a vovó "Loloi". - Ficamos um tempo por lá. (Mas na realidade eu queria me drogar), queria ficar doidão. Fomos visitar o irmão do Chili. Ele conhecia os "maleiros", os traficantes... (Eu já havia tido duas overdoses bravas). A Nê resolveu (eu acho), tomar conta de mim. Minha última overdose foi "Freud". - Eu havia comprado 30 gramas de cocaína lá na Santa Cecilia, 'tava um calor infernal, eu provei aquela merda e peguei o metrô. Dentro do metrô, eu comecei a passar mal. Minha glote foi fechando e eu já não conseguia respirar direito. Meu desespero foi terrível, eu não queria morrer dentro daquela merda, com aquele calorão todo...Eu elevei o meu pensamento à Deus, pedi que Ele me levasse em casa. (Acho que esse dia eu deixei os meus dois anjos "apurados"). Eu consegui chegar em casa, e a Nê me salvou, no que eu entrei no quintal, eu desabei. (ela me reanimou, fez massagem no meu peito, deu porradas nas minhas costas, essas merdas todas). Mais tarde, eu voltei a usar a droga & a tomar uísque. - Mas voltando ao "passeio". Chegamos na casa do "amigo", ele tinha uma bola de cacaína pura, era uma pedra de coca, do tamanho de uma bola de futebol...Tinha também muita erva & crack. - Eu nunca havia visto o tal de crack. - Nós cheiramos aquela merda até de madrugada, eu ele e a falecida esposa dele. Eu cheirava e fumava direto, aquelas merdas. Lá pelas duas da manhã, (nós havíamos iniciado às seis da tarde), eu disse pra ele: - Essa sua cocaína é uma merda, eu continuo de careta. O cara arregalou os olhos e disse: - Vou preparar uma pedra de crack pra você fumar...(Naquele tempo, eles faziam as pedras, era um negócio fortíssimo). Ele pegou uma colher, colocou água com bicabornato de sódio, colocou a coca, e acendeu embaixo, com o isqueiro. Aquela merda se transformou numa pedra. O "amigo" colocou aquilo num cachimbo e disse: - Fuma essa merda...Eu fumei aquela bosta, achei o gosto horrível e disse pra ele: - Esse crack também é uma merda.(Foi a única vez que eu usei aquilo, na minha vida). - Eu disse pra Nê: Vamos embora, chega, eu quero vazar...(Eu já estava achando que ele poderia me dar uns tiros, pela minha "descortesia" com ele)...Quando eu saí dali, eu notei o meu estado. Eu estava alucinado, entrando em paranóia, achando que estava sendo seguido, essas coisas. Cheguei na casa da vovó Loloi,(ela havia deixado uns colchonetes pra gente dormir). Meu estado era lastimável. Aos prantos, deprimido, minha mulher apavorada.. Ali, naquele lugar, eu desafiei Deus. - Eu disse: "Tudo bem, o Senhor é Deus né? - Então me cure dessa merda"!!! Eu não aguento mais!!! - Ou me cura, ou me mata logo". - Vamos ver se o Senhor consegue me curar!!! - Mas tem um detalhe: - Eu não quero ter "fissura", não quero sentir dor. Essas coisas todas...Você vai achar que eu sou maluco, tudo bem, mais eu nunca mais usei drogas, depois desse dia. -Cara, foi difícil demais, eu comecei a contar os dias, em que já estava de careta, eu sentia o cheiro daquela coisa, no meu nariz. - Deu um trabalhão, mas eu consegui. - Entendi uma coisa também: - "Droga não é apenas vício: - Droga é escravidão, perdição & maldição". - É uma coisa espiritual, demoníaca. - Só Jesus, pra livrar você disso, só Ele. 

"Diálogo com Mordechai"

Christovam estava muito apurado, cuidando dos detalhes, da viagem daquelas mil e duzentas almas que seriam arrebatadas. Eu, não sabia se estava vivendo um sonho, se aquelas coisas todas, não seriam apenas "piração" da minha cabeça. Estava sentado, envolvido em meus pensamentos, e Mordechai chegou. - Nós temos muitas coisas para conversar: - Coisas que vão abrir o seu entendimento. - Mordechai fora um "escolhedor", mas agora ele era um "viajante". (Mordechai tinha o poder de ler os pensamentos, antes mesmo que eles fossem criados), ele se antecipava). - Ele cumpria "missões" espirituais. - Eu ia perguntar... - Ele respondeu: - Ele é o seu avô...Mas ele não sabe. Ele morreu a primeira morte, e quando se morre a primeira morte, há o esquecimento das coisas passadas... - (Essas coisas que eu estou vivendo, eu já morri também? - Eu pulei daquele penhasco? - (A conversa era toda em pensamentos). Mordechai me explicou que eu não havia morrido, mas tinha sido requisitado para ser um "escolhedor". - Havia sido Abençoado com a Vida & a Graça. - Porquê eu ? - Ele respondeu que isso era a vontade do Alpha & Ômega. - Eu perguntei: Esse lugar existe, ele é físico? - Disse ele, esse lugar não é físico, é um campo espiritual. - (Então eu morri). - Você morreu para as coisas do mundo, mas (re)nasceu para as coisas de Deus (???). - Mordechai, eu não tenho nenhum mérito, sempre fiz coisas erradas, tentei tirar minha vida, um par de vezes, que mérito existe nisso? - Mordechai respondeu: - Quem conhece os méritos é o Senhor. - Mas eu acho que ele gostou muito, quando você e sua prima Raquel, quebraram a maldição de sua família (???) - Depois da morte da primeira geração após o Christovam, vocês reuniram os novos Pinheiros, e resolveram o problema daquelas terras. - O Senhor viu virtude naquilo. - (Por quase um século de vocês, aquilo ficou "amarrado". - Com a ajuda do Senhor, os demônios daquela "casa" foram expulsos. - Deus operou, para que Christovam fosse honrado. - A coisa não era financeira, era espiritual. - E o Senhor quis juntar você e ele. - Áh!, outra coisa, o seu nome não é Alex, Alexandre, o Seu nome verdadeiro é Zayn. - Você sabia disso? - Não: - Eu respondi, nunca soube disso. - (Mordechai não fazia diferença entre passado, presente, ou futuro). - Ele era um "viajante", tinha dois mil e seiscentos anos, na nossa contagem do tempo. Tinha estado em Babilônia, quando ela caiu, tinha estado em Sodoma e Gomorra. Conheceu Elizeu, Eli e tantos outros. Ele não era anjo, era um guerreiro do Senhor. Me contou que eu tive esposa, três filhos, falou de coisas que eu não sabia. Ele era branco, alto, bochechudo, usava uma túnica branca, com um cinturão de corda azul, de seda. - Eu perguntei: - E agora, o que vai acontecer? - Agora nós vamos enviar essas mil e duzentas almas para o arrebatamento, depois saberemos a nova missão. - Como vamos levar tantas pessoas? - Ele disse: Vem comigo: - Me mostrou a "arca", a "carroça de ouro". - Eu disse, mas ela é tão pequena...(Era uma esfera dourada, media mais, ou menos, uns 5x5 metros). - Mordechai disse: - Você quer conhecer? - Mas aqui é lugar Santificado, afirma seu pensamento, em seu coração Espiritual, e converse com Deus, se Ele permitir, você poderá ver a "arca". Eu me coloquei de joelhos, e orei, disse a Ele que gostaria de entrar...(Quando abri os olhos, havia uma abertura na nave). - Mordechai disse: - Tire os sapatos e limpe bem os pés... - Quando eu entrei, eu senti a Grandeza do Senhor, - Era tudo muito branco, não havia nada lá, (e surpresa)! - Era maior do que um estádio de futebol!!! - Disse: - Mordechai, não tem nada aqui, não tem instrumentos, nada. - Mordechai riu e disse: - Eu a uso há quase dois mil anos, quem a conduz é Deus... - Esse foi meu diálogo inicial com Mordechai, um servo do Senhor.

"A visita"

Ele achava que vivia no melhor dos mundos. Tinha juventude, tinha beleza, fazia sucesso com as meninas... Só não tinha dinheiro, (aí seria a perfeição).Havia perdido a hora do trabalho, como sempre fazia, tinha perdido a noite em bebidas & garotas. Resolveu passear, subir aquela montanha e ver o Rio de Janeiro lá de cima. Mas a rebordosa era muito forte, fraqueza nas pernas, canseira, será que conseguiria subir? Resolveu tomar uma Caracu com dois ovos, (pra dar "sustância", como se diz lá em Minas). - Montou o "kit de caminhada", duas bananas nanicas (no Rio é banana d'água), um pão adormecido e uma garrafa d'água). Tinha um restinho de "sal de anfetamina", uma bolota de haxixe e um maço de cigarros Minister. Foi tomar o bendito Caracu. - Pediu que o cara jogasse aquele pouquinho de sal na vitamina. No que engoliu a primeira talagada daquela merda, "golfou". Aquilo bateu e voltou... Tampou o nariz e foi com "fé e vitória". Bebeu tudo...- Quando a anfetamina bateu no cérebro, deu aquela coçadinha no cocuruto, (ele sentiu o baque), já se sentia mais forte. - Pegou o "busão", foi até o final da linha, e começou a caminhada. E sobe ruas, sobe morro, até que o caminho virou uma trilha. Continuou subindo, até chegar defronte uma pedra grande. (Tinha acabado o caminho). Virou à esquerda, em direção ao mar...Mais uma trilha estreita, até chegar na pedra. Ela fazia um declive acentuado, mas dava para uma vista maravilhosa. Ele resolveu que ia ficar bem na beirada, para poder curtir aquela vista bonita, da baía de Guanabara. Era alto aquele lugar, os urubus voavam abaixo de onde ele estava. - Se acomodou direitinho, tirou a camisa e começou a "dixavar" a bolotinha de haxixe. -Enrolou, no papel do pão, acendeu e fumou a metade. Ficou ali "urubuzando" a vista, os barcos lá embaixo, na entrada da baía...Era muito bonito o lugar. O haxixe misturou com a anfetamina, a anfetamina com o haxixe...(O mano véio começou a viajar)...Começou a imaginar, como seria se jogar lá de cima, e sair voando, planando feito um pássaro. - (Ou até se matar - mas ele estava num ótimo dia, pra se matar). Fora de cogitação. Na viagem dele, começou a ouvir uma voz suave que dizia: - Pula, você consegue voar, pode pular, vai ser muito bom. Ele chegou até a beira daquele abismo, mas deu medo e ele voltou...-A voz dizia bem suave: - Confie em mim... Ele sentiu uma mão suave, que passava pelas costas dele, que dizia...- Não pule não filho meu..Não pule... Ele sentou-se de novo, e ali ficou, pensativo. - Olhava para aquele "marzão" bonito...Em dado momento, ele se sentiu observado, (Sabe quando a gente sente, que tem alguém atrás de nós, nos olhando?). Pois é: - Ele sentiu essa sensação...Ele olhou para trás, e viu aqueles quatro senhores idosos. Eles se vestiam iguais, com vestes brancas, tinham o mesmo rosto, faziam os mesmos gestos, e abriam as bocas ao mesmo tempo. (Nesse momento, ele não sabe porque, se lembrou daquela passagem do profeta Ezequiel, defronte o Rio Quebar). - Quando Ezequiel teve aquela visão. Os olhos deles tinham o brilho do âmbar. - Eles disseram: - Saía daí filho, esse lugar é muito perigoso. Aí mora um demônio da morte. Muitas pessoas já se mataram aí. Ele recuou um pouco, ficou em segurança...Em dado momento eles disseram: - Nós fomos enviados até aqui, por que temos uma missão para você (???) - O Nosso Pai, (Aquele que tudo vê), nos incumbiu de lhe transmitir que você agora trabalha para Ele...- Você será um "Escolhedor". - Existem muitos escolhedores nesse mundo...A função de vocês, será a de escolher doze mil pessoas de cada tribo(???). - Por que esse mundo de vocês, está para terminar. - A vida, como vocês a conhecem, vai perecer. Ele está para voltar, e só o povo escolhido é que vai viver. - Vem tempos de muito choro e ranger de dentes. - O sol vai sumir, a fome vai grassar, morte, violência & choro, - Essa é a herança dos que ficarem. - O frio será mortal, para a raça humana, vai haver canibalismo, todas as maldições acontecerão. - Quando será isso? Ele perguntou? - Eles disseram que só o Deus Todo Poderoso, é quem sabia a data... - Eles rodearam aquele rapaz, e cantaram cânticos suaves, tiraram uma pequena esfera de ouro, e colocaram dentro do corpo dele. - Disseram: - Com essa esfera, você vai conhecer os outros "escolhedores", e também vai saber quem deve ser conduzido para o número de doze mil, da sua tribo. - Você não se lembrará de toda essa nossa conversa, disseram. - Só aquilo que estará no seu coração espiritual, isso você lembrará. - Disseram Adonai, e sumiram numa bola de fogo. - Foi isso que aconteceu.

"Trinta moedas"

Cara, o domingo estava lindo, o sol saudando a gente com alegria. Eu olhei "praquela" princesa do meu lado, ela estava acordando, linda, linda, linda... - Eu perguntei: - Bem, vamos à igreja? - Ela espreguiçou, que linda mulher, era a minha esposa... - Ela fez beicinho e perguntou? - Que igreja??? - Eu respondi: - Aquela do "sacrifício", fica pertinho aqui de casa, podemos ir a pé, não vamos precisar nem tirar o carro da garagem... - Está um domingo tão bonito, vamos congregar? - Vamos visitar o "Papai do Céu" ? - Ela me olhou fixamente e disse: - Você sabe que eu não gosto daquela igreja...(O pai dela era pastor pentecostal, daquelas igrejas tradicionais). Mas depois de eu encher os "pacovás" dela, ela concordou... - Ela era "cabreira" comigo, por que eu já havia dado uns quinze mil reais de "sacrifícios" pros caras, e ela andava putíssima comigo. Eu havia entrado na "vaquinha", pra comprar um jato Bombardier pro "bispo", eu ajudei o "bispo" a comprar aquele condomínio em Boca Ratton, em Miami. Enfim, eu despiroquei geral, naquela "igreja". - Eu cheguei a pagar 100 reais num quilo de sal, pra espalhar na firma, pra tirar a "zica", eu "aluguei" um "cajado" de compensado, por 200 reais, pra bater o cajado lá na firma, pra tirar o mau olhado . A minha esposa estava meio cabreira comigo. Ela dizia que aquilo era "mandinga" evangélica... Mas ela me amava, (e quando a gente ama, suporta qualquer loucura). - Fomos a igreja. Chegamos lá, ouvimos a "pregação". Um cara entregou um "saquitel" pra nós e disse: - Os senhores tem que colocar 30 moedas de 1 real no "saquitel", mas tem que ser moedas novinhas em folha. - Elas representam as trinta moedas que Judas Iscariotes recebeu, para trair Jesus... - Meu bom & amigo Charlie Bukowski: - Eu pirei na cena...Onde eu iria descolar trinta moedas de um real??? - Deixei minha mulher lá, e sai desesperado pra descolar as trinta moedas . - Era domingo, o comércio estava fechado, fui no posto de gasolina, descolei umas moedas. - Tinha umas poucas de 1 real, e outras de 0,50 centavos...- Voltei lá, e fui falar com o "diácono", - Perguntei: - Pode ser de 0,50 & de um real??? (As moedas estavam todas sujas, velhas)... - O "diácono" respondeu, (mal educadamente), o senhor é surdo? - O "bispo" não acabou de dizer que são trinta moedas novinhas?). Eu olhei pra minha mulher, o olhar dela não era nada amigável... Eu peguei o "saquitel", coloquei as trinta moedas, mais uma nota de cinquenta & vazamos dali... Véio, foi só a gente sair da "igreja", e minha esposa começou com o maior esporro, que eu já havia tomado na vida... Comida de rabo das boas. - Ela disse: - "Cara", (quando ela falava cara, eu sabia que vinha bucha pesada), eu nunca mais venho aqui com você...(E se você forçar a barra, eu me separo de você)...- Véio & bom Charlie, eu estava triste pra dedéu...- Essa foi a última vez que eu entrei numa "igreja"...- (Depois eu conversei com Deus), e disse pra Ele: - Agora eu virei um cristão Maranata & um ermitão espiritual. - Vou continuar Honrando o Senhor, mas igreja, nunca mais...- (Acho que Ele entendeu, continuei fazendo as minhas orações, tentando ser um bom cristão, fazendo caridade & pregando a Palavra)...- Mas o "bispo" nunca mais viu o meu rico dinheirinho. – Fui!

"Show na Estação São Bento do Metrô"

Depois de tocar & cantar num barzinho da rua Augusta, a troco de uns míseros dinheiros, eu já estava meio que de saco cheio da vida. - Essa merreca ajudava no orçamento de casa. - Cabelo me pergunta: - Vocês querem fazer um show no Metrô? - O Costa trabalha lá, eu consigo pra vocês. - Eu liguei pro Giba, no Rio e perguntei se ele toparia. - (Giba era o meu parceiro de música & noitadas). - Giba queria saber do cachê... - Eu disse: - Os caras não pagam cachê, mas tem um retorno bom, de mídia, vamos nessa? - Ele topou, eu disse pra ele,- Temos que arranjar um pessoal pra tocar conosco, fazer a "cozinha". Ele pegou um pessoal, só tinha fera. Giba conhecia todo mundo, era amigo do Tim Maia, passaram a infância juntos na Tijuca, eram amigos. - E conhecia muito de música. Ele conhecia todo mundo. - Nós tínhamos uma marca, nosso nome era "grupo afro". - Ele foi o maior percussionista que eu conheci, o cara tocava uma tumbadora de responsa, e tinha muito swing no cantar. Nós dois fazíamos muito sucesso na noite. Nessa época, eu namorava a Sandra, uma morena de quase dois metros de altura, linda, linda, linda. (Eu simplesmente sumia, ao lado daquela morena). - Era muita "belezura". O show seria às dezesseis horas. Combinei com a Sandra da gente ir cedo, por que eu queria me concentrar.Nós nos encontramos e fomos pra lá. - O pessoal do Mosteiro de São Bento havia reservado uns aposentos pra nós, (os músicos). - Eu nunca havia entrado naquele lugar. Era muito bonito, vinha um canto gregoriano ao fundo, muito lindo. - Nosso aposento era um quarto com duas camas e um banheiro...- (Eu senti ali, que não haveria muita concentração). - Sandrinha se jogou na cama e ficou me olhando, com aquela carinha" pidona", fazendo beicinho e caras & bocas...- De repente ela diz: - 'Ta um calorão aqui, acho que vou tirar a blusa...(tira a porra da blusa). - Eu estou ali, fazendo "olhos de mouco", na minha... Sandrinha resolve tirar a calça jeans..- Estou eu querendo me concentrar, e aquela mulher de calcinha & sutiã na minha frente...- (Ao fundo aquele canto gregoriano)...- De repente Sandrinha resolve tirar o sutiã. Eu quietinho, querendo ver até onde aquela sacanagem ia dar...- Já meio "emputecida" ela tira a calcinha... - Como quem diz: - E aí cuzão, vai deixar passar batido? - Eu juro que até aquele momento, eu não estava pensando em putaria. - Eu precisava trabalhar, me concentrar...- Sandrinha vira o corpo pra parede, e deixa a mostra aquele corpão, aquele bundão maravilhoso...- Eu começo a me despir, já sentindo um certo calor, o tesão já tomando conta do meu corpo, do meu ser..Parto pra cima, como um cavaleiro da idade média, com minha lança em riste, e ataco aquelas carnes duras. - Como sem nenhuma delicadeza, como com raiva, ela geme, estrebucha, como com violência...- Trepamos por horas...- Na hora do show, estou com olheiras profundas, cansado...- Um bagaço humano. - Faço a minha parte no show e volto pra casa com ela...- A noite, Sandrinha queria mais... - Eu dei mais, minhas ultimas reservas de energia & sêmen... - Sandrinha acabava comigo...Era insaciável, aquela garota. - Fui. - Fiquei exausto, só de lembrar.

"Bento Lisboa, 41 sobrado"

- Nos anos sessenta, precisamente em 1965, havia um puteiro nesse endereço. - A cafetina era uma senhora francesa, muito educada, muito fina. - Eu não me lembro o nome dela. - ( Vamos inventar um nome...). Giselle...Antoanelle... (Antoanelle é bonito, vai ser esse). - Eu conheci madame Antoanelle por intermédio do " Chamaco". - Chamaco era contumaz dos puteiros do Rio de Janeiro, um certo dia me convidou a ir lá com ele. (Eu sempre tive por princípio, não pagar para transar, desde que ele pagasse, eu iria). Chamaco concordou e eu fui com ele. - A madame nos recebeu, Chamaco disse umas palavras no ouvido dela... Eu tinha quinze anos, nessa época. Chamaco entrou com uma moça pro quarto, e eu fiquei ali, com cara de tonto. Eu tinha muita vergonha, desses lances, estava meio que perdido. - Madame chegou, me pegou pelo braço, me levou para um quarto e me mandou esperar... Daí há pouco entra uma moça bonita e diz: - Senta aqui do meu lado, vamos conversar... - Você é virgem? Nunca esteve com uma mulher? - Eu disse: Eu sou virgem e estou morrendo de vergonha, acho que vou esperar o meu amigo lá fora. - Ela começou a conversar, me acalmar.. Disse que a primeira vez era assim mesmo. - Disse que eu teria que começar um dia... Porquê não começar agora? - Combinou comigo, o seguinte: - Que eu tirasse a minha roupa e me deitasse, depois ela tiraria a dela... - Eu tirei a roupa, me deitei, e me cobri até o pescoço. - Ela se despiu, ficamos ali juntinhos um tempo, ela me fazia carinhos quase infantis... - Me abraçou como se eu fosse o filhinho dela. Depois me mostrou os seios, o corpo dela, a intimidade. Ela me iniciou nas coisas do sexo. - Se você me perguntar se foi bom, sinceramente eu vou dizer que não...- Alguns dias depois eu voltei lá, a tarde. - Madame me recebeu, perguntou se eu estava com fome, eu lanchei com as moças. Conheci uma por uma. - Madame me contou um pouco da vida dela, como veio parar no Brasil. - Disse que eu poderia voltar a hora que eu quisesse. - Eu voltei muitas vezes, para conversar, para fazer pequenos serviços para ela... Eu pagava contas, colocava cartas no correio, ia na farmácia... - Fiquei intimo daquele lugar. - Ela dizia: "Alexandrree", com aquele sotaque francês: "Quando você voltar do trabalho amanhã, passe aqui, vou fazer uma comida para você. - Eu trabalhava numa companhia de seguros americana: "The Home Insurance Company", era office boy. - Ao invés de ir para a escola, eu ia pro puteiro da Madame Antoanelle. - Era uma casa de muita alegria. Quando as meninas não estavam "trabalhando", elas faziam crochê, tricot. - Eu perguntava pra madame: - Por que elas bordam tanto? - Madame me explicava que as meninas estavam fazendo o enxoval, para casar. - Tinha dias em que eu chegava lá, e madame estava completamente bêbada, com uma garrafa de vinho do lado.. Gostava do vinho moscatel, ou do vinho Raposa. - Eu gostava quando madame bebia... Ela desmaiava no sofá, a gente levava ela pra cama, e eu sempre terminava a noite dormindo com uma daquelas moças...- As meninas me disputavam ,"hoje ele vai dormir comigo". Um dia eu encontrei o Chamaco, ele disse: - Eu tô sabendo que você se mudou pro puteiro, vou contar tudo pra sua mãe, ela vai meter a porrada em você - Mamãe nunca soube, (eu acho), mas sinto saudades daquele tempos. Happy days. 

"Anjos? Nós?"

Aquele dia, eu estava feliz, eu ganhava bem, fazia um trabalho agradável, e a vida era bela. Trabalhei, e a tarde eu e um amigo fomos comer pastéis. O que aconteceu, foi lá no fim da Avenida Paulista, lá onde tem um viaduto. Acho que embaixo desse viaduto, passa a Avenida , - Eu esqueci o nome, mas é aquela que sai lá no Ibirapuera. - Eram umas quatro horas da tarde. Vimos o cara subir a mureta do viaduto. - Meu amigo disse: - Ele vai se jogar, vamos ficar aqui pra ver... - Vamos ver se ele tem coragem mesmo...- Eu fui tomado por um impulso, e disse vamos lá. - My friend arregalou os olhos??? - Ir lá? - Vamos lá, cacete, vamos pra lá. - (Eu, realmente não sabia, o quê fazer lá). - Eu fui suicida a vida inteira, normalmente eu deixaria ele morrer em paz. Mas eu quis ir. Ainda não haviam chegado os curiosos, os mórbidos. Os demônios... - Éramos só nós três, eu, meu amigo, e a morte. - A morte, quando se aproxima ela pára o tempo, parece que tudo fica mais pesado. - O ar fica pesado. - No que nos aproximamos, ele disse:- Fiquem aí, senão eu me jogo! - - Eu disse pra ele, - Calma, nós não viemos atrapalhar, você pode se matar tranquilo, nós não vamos fazer nada...- Mas eu queria só saber: - Vai se matar por quê? - Eu estou sem emprego, eu e a minha família passando fome, eu estou muito humilhado, 'tava passando aqui e resolvi pular. - Meu, eu disse, você pode até não acreditar, mas a vida toda, eu tentei me suicidar... As duas vezes que eu tentei, eu não consegui... - E se você pular dessa merda e não morrer? - Eu acho que você poderia se matar com um tiro na cabeça... - Uma coisa mais fulminante... - Mas você não deve ter um revolver, verdade? - Eu ia falando, falando e o cara arregalava os olhos... - Ele foi descontraindo..Os demônios da curiosidade, já estavam chegando...(aqueles que torcem pelo pior). - Eu disse pra ele: - Cara, hoje é sexta feira, sua mulher vai saber pelo "jornal nacional", que você pulou, ela vai ficar puta com você, vai achar que você é um covarde. - Os problemas vão continuar. ela vai ter que resolvê-los , sem ninguém para ajudar. - Pula logo essa merda, seu cuzão! - Amanhã o dia vai nascer de novo, seu bosta. - E ela vai estar só. - Ela e as crianças... - Olha, véio, se você não quiser pular, eu e o meu amigo temos dinheiro, nós vamos entregar o dinheiro pra você. - Pra você comprar comida... Depois você encontra um jeito melhor de se matar. - Disse pro meu amigo.- Dá a grana aí. Ele não gostou muito..- . Repeti, me dá o dinheiro, seu merda. - Ele me deu, eu juntei com o meu. - Disse pro suicida: - Vem pegar, (já estava cheio de curiosos ali). - Ele desceu da mureta, pegou o dinheiro e sumiu na multidão...- Eu me sentia leve, feliz... - Ali eu entendi o sentido de tudo aquilo: - DEUS NOS HAVIA USADO COMO ANJOS. - Bem ou mal, nós salvamos uma alma, aquele dia. - Agora, tínhamos que arrumar dinheiro pra voltar pra casa. - Foi uma sexta feira muito boa.

"Livramento"

Ele apontou a metralhadora pra nós quatro. - E gritou: - Parados aí!!! Quietinhos, seus putos!!! - Nós paramos e ficamos quietinhos, paradinhos... Nosso medo era muito grande. - Nós estávamos no morro da Babilônia, no Rio. - Cada um com uma pipa, (papagaio), e um carretel de linha. - Quatro menininhos apavorados. - Ele usava um gorro preto e uma roupa tipo militar. Tinha um outro, que não dava pra gente enxergar, que disse: - mata eles. - Tinha um outro, cavando um buraco. - Eu tremia um pouco, e resolvi fazer uma oração. - "Comecei, - Olho para os montes, de onde me virá o socorro, o meu socorro vem do Senhor, que criou os céus e a Terra". - (minha mãe me ensinou esse salmo, ela gostava muito dele). - Ele disse:- Ei você aí, você que está falando baixinho...Que porra é essa?? - Eu disse pra ele, eu estava fazendo uma oração, que minha mãe me ensinou... E orei de novo... Olho para os montes, de onde me virá o socorro... - O outro gritou de lá: Vai matar esses putos ou não? - Ele disse -: Não, não vou matar esses putos... - Ele falou pra nós, corram daqui e não olhem pra trás...- E soltou uma rajada para o alto. - Meu, eu estou correndo até hoje. - Acho que a oração da minha mãe nos salvou. - Dias depois nós subimos o morro de novo. - Tinha um monte de policiais lá, e um monte de corpos... - Jornalistas...

"O encontro"

Já haviam se passado quatro anos, desde que ele fora visitado pelos Atalaias, os Guardiões. - Ele havia recebido a missão de se tornar um "Escolhedor", havia recebido a Vida, dentro do seu corpo. Muita coisa mudou, até a alimentação dele mudou. Ele deixou de comer animais mortos, o cheiro adocicado de sangue, desses cadáveres, não lhe caíam bem. A alimentação dele, agora, era de legumes, frutas, mel, nozes & castanhas, trigo integral, coalhada, essas coisas. Notou também, que aquelas coisas que eram importantes, deixaram de ser. Hoje, ele via as coisas de forma muito diferente. Não havia pressa, não havia depressão, drogas ou bebidas. O modo de ver a vida também. Hoje ele gostava de estar no meio do povo, de conversar, de falar de Deus & Abençoar as pessoas. Ele notou também, que poderia ficar sem comer por vários dias, por que a fome não visitava o corpo dele. (Comia só para não perder o hábito). Ele conseguiu fazer um jejum de sete dias, só bebendo água. A Vida, que havia sido implantada nele, até aquele momento, não tinha se manifestado. Os Atalaias, haviam dito que no momento certo, ele saberia... Um certo dia, ele passeava pelo Campo de Santana, no Rio, vendo os pássaros e viu aquele senhor sentado. Sentiu um calor interno, uma emoção diferente. (A Vida estava se manifestando dentro dele). O senhor fez sinal com a mão, batendo com ela no banco, como se dissesse: - Sente-se aqui...Ele atendeu o pedido. - O peito dele parecia que ia explodir, de tanta alegria. - O senhor disse: Sem abrir a boca: " Os dias do Senhor são de muitas Alegrias". Ele concordou com a cabeça, "os dias do Senhor são de muitas alegrias". (Ele sentiu ali, que havia encontrado um outro "escolhedor"). Notou que a roupa daquele homem era antiga, roupas do passado, mas muito limpas e engomadas. Aquele homem, tinha os cabelos ondulados, bigodes, usava um terno (fato), com colete, colarinho alto, em uma camisa branca, e gravata de bolinhas. Era elegante demais, para o calor de quarenta graus, do Rio.(Ele não parecia se incomodar com o calor). - O rapaz perguntou: - O quê o senhor faz por aqui? - Ele disse: - Eu vim me encontrar com uma pessoa...( A conversa era toda em pensamentos). - O senhor está tendo dificuldade para encontrar essa pessoa? - O velho respondeu: - Eu já encontrei: - É você...(Havia tanto amor & tranquilidade naquele velho)...- O idoso disse: -Eu estou aqui para sanar as suas dúvidas, à respeito do que vai acontecer. - Eu estou bem longe de casa...O rapaz teve um repente e perguntou: - Vamos almoçar juntos? - O velho perguntou: Comida? Almoçar comida quente? - Sim, comida quente, eu tenho umas coisas lá em casa, posso preparar um almoço pra nós. - O velho riu mentalmente e disse: - Tem uns dez anos que eu não como comida quente (???). - O senhor se alimenta de quê? - Água & frutas, ele respondeu. - Água tem em todo lugar, frutas eu consigo no final da feira... - Vocês aqui, jogam muita comida fora, comida boa, as vezes tem um amassadinho na fruta e vocês jogam fora. - Acho que o tanto de alimentos que vão para o lixo, daria para alimentar um país inteiro. - Deus não deve gostar nada disso. - Mas eu não vim aqui para falar de comida. - Ele levou o velho para a mansarda dele, comeram lentilhas refogadas, coalhada com mel, frutapão e ficaram conversando por lá. Depois do almoço o velho explicou: - Ele está voltando, o que vai acontecer aqui é que um asteróide vai se chocar com esse planeta. - Ele só será visível quando estiver muito próximo. Os instrumentos daqui não conseguirão detetá-los, só quando estiver já em fase de colisão. - O eixo da Terra mudará, a elipse também. - Haverá um alinhamento de planetas. - Calor, frio & escuridão, essa será a herança deles. - Os arrebatados irão para um planeta, próximo a Epsilon Eridani, na constelação de Eridani. - Fica apenas a 10,5 anos luz daqui. - Esse planeta está escondido dos olhos humanos. - Mas será uma base temporária: - De lá, o Senhor vai encaminhá-los para outras esferas. - Ele perguntou: - Mas vão apenas doze mil de cada tribo (país) ? -É muito pouco, o senhor não acha? - O velho respondeu: - Doze mil é apenas um número, representa as doze tribos de Israel. - O jovem pensou e disse: - Só na Índia, na China, existem bilhões de pessoas...- Os desígnios de Deus são só Dele, disse o velho. - Ele (o jovem), perguntou o nome do ancião... - O velho disse: - Os nomes não são importantes, na Obra do Senhor. - O jovem estava emocionado, perguntou se ele poderia receber um abraço do ancião. Eles se abraçaram, aquele ambiente começou a rodar, a brilhar, o quarto se encheu de pequeninas luzes prateadas. Foi muito bonito. - Ele insistiu: - Me diga o seu nome, por favor... O Velho disse, meu nome é Christovam, Christovam Pinheiro. - Eu só me lembro, que eu estava cavalgando, havia feito um negócio muito bom, tinha muito dinheiro no alforge... - Eu vi um clarão, meu cavalo corcoveou e eu caí. - Só me lembro dos Atalaias do meu lado, dizendo que Deus havia me requisitado, para ser um "Escolhedor". - Foi isso que aconteceu. - Nada foi mudado dessa conversa, nem para mais, nem para menos. - Shalom.

"Mama Ernestina de África" 

Mama Ernestina tinha uma pensão na rua do Lavradio, no Rio de Janeiro. Ela era uma negra, escrava, que havia sido alforriada e assassinada, no caminho, entre a fazenda e o Rio. Ela me contou que os patrões haviam dado a liberdade à ela, depois de muitos anos de serviço. Ela me disse que viu um clarão, tudo se perdeu, na mente dela. De repente avistou quatro seres, vestidos com as mesmas roupas, tinham as mesmas faces, e falavam as mesmas palavras: - Eles disseram: - Agora você trabalha para o Senhor, você foi escolhida para ser uma "escolhedora". Tiraram uma pequena esfera dourada das vestes, e colocaram dentro do seu coração. - (Eles repetiam sempre as mesmas palavras)...- Ela me perguntou: - De onde você está vindo? - Eu respondi que estava vindo de Villa Rica. Disse que estive com um homem chamado Açoriano de Almeida. - (Mordechai havia me mandado procurar esse homem), por que ele tinha uma coisa para me entregar. Açoriano me entregou uma caixa dourada, disse que eu partisse, e não olhasse nem para e esquerda, nem para a direita. - Em hipótese alguma, eu olhasse para trás. - (Eu mantinha aquela caixinha bem próxima do meu coração). - Mama Ernestina me disse, em pensamento: - Entre, porquê tem um demônio muito grande, que esteve seguindo você... - Eu segui Mama... Lá dentro, a casa estava cheia de gente, pessoas que almoçavam, servidas por três moças negras, bonitas e sorridentes. O cheiro da comida era muito bom, as moças eram muito atenciosas e educadas. Mama disse: - Venha até a janela, olhe para ele, ele havia se transformado em humano, era mal encarado, e muito feio. - Mama falou: - Dê uma olhada na aura dele, afirme seu coração espiritual... - O sujeito tinha uma aura negra, e vermelha, exteriormente. Mama disse: - Podemos queimar ele, com óleo quente ungido... - Mas acho que ele não vai ter coragem de entrar. - Dentro daquela casa haviam três anjos africanos, de tez amendoadas, e cabelos longos. Cada um deles portava uma lança de fogo, que batiam ao chão e soltavam chispas avermelhadas. Mama disse: - Mordechai está vindo buscar você, essa cidade está tomada por eles, os anjos negros, os "coisas ruins". Mordechai chegou, eu entreguei a caixinha para ele, abracei Mama Ernestina, e entramos na "carruagem de fogo" dele. Chegamos no nosso posto espiritual e Mordechai entregou a caixinha aos Atalaias. Os Atalaias ungiram aquelas mil e duzentas pessoas, implantaram a "vida" nelas, disseram as palavras de sempre. - Elas embarcaram na "arca" & partiram para Epsilon Eridani, para preparar o Lugar. - Dali em diante, só o Senhor sabia, para onde eles iriam.. - (Na casa do meu Pai, existem muitas moradas). - Foi isso que aconteceu.

"Ódio, a força do ódio"

(O dia que o valente se cagou, e se mijou). Eu estava na casa do meu amigo/irmão, Dentinho, conversando e tomando café . A certa altura eu disse pra ele: - Dentinho meu irmão, eu estou indo embora, estou me despedindo de você. - Acho que nunca mais nos veremos... Dentinho franziu o cenho, como sempre fazia e disse: Indo embora? - É amigo, indo embora. Ele sentiu o baque, ficou calado. - Sabe Alex, eu sempre considerei você um irmão. Você é o meu melhor amigo, e me abraçou...Eu me comovi com aquele louco. - Dentinho disse então, vou pegar uma lembrança pra você. - Voltou com três armas, (uma Luger, uma Walter PPK, e uma Browning. - Eu disse, que porra é essa cara? - Ele disse, escolha uma...- Eu peguei essas armas do velho, do meu avô... - Depois que o velho morreu, eu peguei essas armas para o meu acervo, (???). - Eu falei pra ele, - Dentinho meu irmão, eu não gosto de armas, eu sou um pacifista convicto. Não quero. - Ele franziu o cenho (de novo), e disse, - Alex, se eu tivesse dinheiro, eu lhe daria, se eu tivesse uma joia, eu lhe daria. Mas acontece, meu irmão, que a única coisa de valor que eu posso lhe entregar, é uma dessas armas... - Fica com a Browning,é uma arma de defesa compacta e muito poderosa...- Pegou um trapo, colocou a arma, mais dois carregadores e uma caixa de projéteis. - Eu guardei aquela Browning por muitos anos, as vezes, quando eu a estava limpando, eu me lembrava dele...- Eu me casei, tive duas filhas, a primeira morreu com 15 dias, morreu de infecção hospitalar. - Um dia eu comprei mais uma caixa de projéteis, 765, ponta reforçada com aço, e deixei guardada. - Minha segunda filha, já estava com quatro, cinco anos, quando tudo aconteceu. - "Era um sábado, eu estava em casa, coçando o saco, minha esposa disse: - Eu vou levar a menina numa festinha de aniversário, você quer ir? - Eu não quis. - Disse, pega um dinheiro e vai de táxi...Ela pegou o dinheiro, mas não foi de táxi. - Ela se encontrou com a sobrinha e foram a pé. (Ela, a sobrinha, dois sobrinhos pequenos e minha filhinha). - Lá pelas tantas, me deu uma inquietação, um aperto no coração, uma tristeza.- Eu não conseguia ficar quieto. - Decidi ir lá na festa, pra saber delas. - Caminhei dois quarteirões e vi o carro... Capotado, virado na calçada... Senti um aperto no coração...- Perguntei prum cara: - O que aconteceu? - O cara me disse que um carro havia capotado ali, vinha fazendo racha, e atropelou as três crianças...As moças não sofreram nada, por que vinham conversando, logo atrás.- Eu já tremia, em estado de choque, mil sensações voavam por minha cabeça...- Cheguei no hospital e vi minha filhinha, as forças me faltaram e eu caí de joelhos...Ela veio correndo, a minha menininha, com um hematoma roxo na testa, do tamanho de uma laranja...- Ela me abraçou e dizia, "'tá tudo bem, papai". - Eu a apertei e comecei a chorar, soluçar...- Aquele corpinho tão frágil... Os meninos, sofreram muito, tiveram que fazer enxerto, foi um sofrimento só. Nosso sobrinho fez o BO, correu atrás de tudo.- Quem atropelou, foi um playboysinho do bairro, casado um uma menina muito legal. Ela nos procurou, e disse que arcaria com as todas despesas médicas... Mas o playboy me procurou e disse: - Eu não vou pagar nada, se você encher o meu saco, ainda vou lhe dar umas porradas, e se duvidar, ainda mando matar você...Eu sou rico, e posso tudo.- O ódio me tomou ali, mas eu fiquei bem quietinho...Aquele cara acabava de assinar a sentença de morte dele... O meu pacifismo foi pro espaço. Eu não descansaria, enquanto não matasse ele...Os meses foram-se passando, minha filha não teve sequela nenhuma. - Mas aquele tipo não me deixava em paz. - Passava no carrão novo, buzinava, debochava, e fazia aquele sinal típico com o dedo pra cima...- Eu já havia pedido a alguns olheiros, que me informassem dos passos dele...Não deu outra... Meu olheiro veio e me disse. 'Tá na barbearia do espanhol, é baba, é só ir lá e "fazer" o cara..- Eu peguei a Browning do Dentinho, carreguei os três pentes, e fui. - Eram umas duas horas da tarde, pouco movimento na rua. - Invadi a barbearia e o espanhol gritou, assim que me viu, - Eu não quero bagunça aqui. O valente estava sentado na cadeira de barbeiro, eu fechei a porta de vidro, saquei a Browning e disse pro cara, você acredita em Deus? - O valente começou a tremer e a se mijar.- Eu disse pra ele, ore meu filho, por que você vai morrer...Comecei a sentir um cheiro de merda, o valente estava se cagando...Destravei a arma, puxei uma bala pra agulha...O espanhol estava branco, o valente, nem se fala...- Uma voz dizia na minha cabeça:- Mata ele, mata ele. Outra voz dizia: - Não faça isso...Eu puxei o lóbulo da orelha dele e sapequei um tiro, o sangue jorrava, eu não tive coragem de matar aquele filho da puta, indefeso. - Eu tremia, era só adrenalina. - Eu disse pra ele, - eu vou lhe dar duas chances de vida... Se você for macho mesmo, vai na sua casa, pegue uma arma, e venha trocar tiro comigo. - Se você for só esse viadinho que é, suma desse bairro, por que a próxima vez, não vai ter "boi"... Ele sumiu, eu também sumi por uns tempos... - Esse foi o dia que o valente se cagou, e foi o dia que eu descobri o ódio...- Dentinho tinha razão, um dia aquela arma poderia ter um uso". - Hoje não faria mais isso.

"Mara, minha ex cunhada"

(Esse conto é a lá Charles Bukowski , tirem as crianças da sala & prendam os cachorros). Sandra & Mara. Zona Leste de Sampa, eu namorava a Sandra, era um "morenão" de arrebentar. A irmã dela era um "filé" também. Sandra estava impossibilitada de ir em casa, por que estava com um treco nos peitos. Daí Sandrinha ficou dodói . Mara,sempre que podia, arrumava um jeito de ir lá pra casa. Eu estava sozinho em casa, nessa época. Mamãe havia arrumado um emprego, na casa de uns fazendeiros, no interior. Mamãe era dama de companhia, cuidava de uma senhora idosa. Eu sabia que as idas da Mara, lá em casa, poderiam acabar em phodda. - Mara gostava de lavar os meus cabelos, e hidratá-los. Ela manjava da coisa. Principalmente, por que ficava se roçando em mim, se insinuando. - Eu era jovem, e tinha aquele tesão, "aquele fogo consumidor". Eu ficava sempre só de shorts, em casa, sem camisa, a vontade. Estava lá, pensando na vida, fazendo o meu almoço e elucubrando... - Se ela vier aqui hoje, eu vou comê-la, de todos os jeitos, de todas as formas possíveis & imagináveis. Um amigo do Rio, havia me ensinado uma técnica de "chegada", que eu nunca tinha usado. "Ataque total, frontal". - Blitizkrieg, Eu era tímido pra cacete, mas iria partir pra cima. Marinha chegou, - Oi, vim dar um jeito nessa cabeleira...Mini saia, blusinha frente única...Tesão, tesão, tesão...(Eu era louco de dar dó). - Disse pra ela. - Mara, eu preciso confessar um negócio pra você.- Eu estou tendo fantasias sexuais com você, (e já parti pra cima ). - Empurrei ela pra parede, beijei, peguei ela de surpresa. Peguei o meu pau, e coloquei na mão dela. Aquela mão estava xoxa...- Comecei a dizer, - Eu tenho sonhado que estou puddendo com você, (isso no ouvido dela). - Eu beijo você na boca, vou descendo, chupo sua intimidade, você me chupa...(senti uma apertadinha no meu pau, bem de levinho). - Eu como sua xoxotinha com todo carinho & depois como o seu lóló...E quero confessar também, já bati um par de punhetas pensando em você. - (Depois desse episódio, aprendi que elas adoram, se você confessa que se masturbou, pensando nelas). - O ar ficou estranho, ela apertando o meu pau devagarinho... - Eu recuei, achei que havia extrapolado. - Guardei o pau, e disse, vamos aos cabelos Me sentei. - Ela começou a mexer nos meus cabelos... Eu enfiei a mão entre suas pernas, e acariciei bem de levinho, aquele ninho de amor. - O cheiro de sexo já tomava o ambiente. Ela veio pra minhas costas e começou a fazer o trabalho. De repente se achegou, me acochou, e gozou nas minhas costas (???). - Nesse meio tempo, eu fiquei quietinho ali, (nunca havia me acontecido isso). - Joguei Mara na cama, fiz o prometido, peguei um "jontex", e terminei aquela empreitada louca. - Mara, minha louca cunhada... (Good Times)...

"O governador & Senhora"

Quando o governador ia almoçar na casa da tia Luli, era uma festa. Comida a rodo, bebidas, e tudo mais. Depois do almoço, eles jogavam bridge, (coisa de ricos). Eu só sabia jogar ronda, buraco, essas coisas. (Mas isso eu aprendi depois, mais velho). Minha tia, era uma leonina mão de vaca, mas eu gostava dela. Ela me lembrava um personagem de Balzac, (Eugénie Grandet). Mão de vaca, mas ótimo coração. - Quando eu sabia da ida do governador, eu sempre arrumava um jeito de ir lá. Eu ficava "entocado na cozinha", comendo, me fartando de todas as travessas que voltavam da mesa. (As empregadas eram minhas amigas, e diziam: - Manda bala, come mesmo, come essas merdas todas ). Ela ( tia Luli, odiava isso, por que gostava de entocar aquelas comidas, pra comer com a família dela, no resto da semana). - As vezes me chamava à mesa, e dizia pra visitas. Esse é o meu sobrinho "pau de arara". Eu, na minha ingenuidade, achava que aquilo era um puta elogio. - Quando descobri que pau de arara eram aquelas pessoas que vinham do norte, pra fazer a vida no Rio, fiquei meio assim, meio chateado. As empregadas não gostavam muito dela não, por que ela as trazia de Minas, (pra poder pagar um salário de merda, pra elas). Dizia que as serviçais do Rio, cobravam muito caro. Eu, o pau de arara, detonava com tudo que vinha da sala, era a minha vingança... O governador, era um general, phuddiddão. Havia sido nomeado interventor no Espírito Santo. Era governador "biônico", como se dizia à época. - Era ditadura brava, nesses tempos. - Eu saia de lá, com os bolsos atulhados de salgadinhos , e ia descansar no Largo da Glória... Eu era um menino malvado.

"Banana Split"

Anos 50's. Ipanema, final de tarde. Bar a beira mar. Eu mamãe e Vinícius. Não sei se eu falei, mas mamãe era uma pessoa muito culta, filha de fazendeiros do Sul de Minas. Mamãe havia estudado em colégio de freiras muito tradicional. Falava francês fluentemente, escrevia e frequentava a noite literária do Rio. Tinha vários amigos escritores, (Alceu Amoroso Lima, Henri de Lanteiul), escritores muito famosos na época. Ia aos saraus, vernissages, enfim, era uma mulher descolada. Era muito bonita também. Eu. menino, morria de ciúmes dela. Ela era tipo mignon, olhos grandes, castanhos amendoados.Na época se dizia que pessoas assim "eram um pedaço". Pedaço de mal caminho... Mas voltando aquela tarde.- Vinícius estava tomando um uisque, mamãe estava bebendo algo que eu não me lembro. - Vinícius me perguntou: - E você menino, o que você quer? - Eu rapidamente falei:- Eu quero sorvete. Vinícius chamou o garçon e eu pedi, eu quero banana split. - Devorei o sorvete. - Vinícius perguntou, você quer outro? Fiz que sim com a cabeça...Mamãe me olhou, eu abaixei a cabeça, envergonhado. Vinícius falou: - Deixe o menino, Maria, e chamou o garçon.-Mamãe disse pra ele; - você vai acostumar mal esse garoto. - Mas já era tarde, o garçon já estava chegando com outra banana split. Vinícius me cativou com essas banana split's. - Anos depois, eu fiquei sabendo que aquele Vinícius era o poeta, Vinícius de Moraes. - Ele havia me conquistado com dois sorvetes. - Coisas da vida.

"Time de artistas da estrada de tijolos amarelos"

- Você se lembra Janis ? E você, Hendrix ? - Vocês já tinham morrido... - Era uma agência de propaganda, alternativa. Lá na rua Fradique Coutinho, quase esquina com a Wizard, na Vila Madalena. Ali era o Village, eu me sentia no Village. - Era uma boa agência, tinha bons redatores, a área de criação também era legal. Os caras me chamaram para trabalhar lá. Eles já tinham bons produtos, bons clientes. Mas cometeram a loucura de me chamar. Eu também já tinha o meu toque de Midas bem desenvolvido. Eu já fazia dinheiro, de uma forma criativa, como meu amigo havia me ensinado, (o meu amigo judeu). - Na realidade, eu era o departamento comercial deles... Eu vendia, ia às reuniões, fazia o telemarketing ativo, isso numa época em que nem existiam call center's no Brasil. - Eu fazia guerrilha de marketing pra eles. - Era um franco atirador. Trabalhava feito um filho da puta. Mas me divertia pra caralho. E ganhava uma graninha razoável... A noite, eu bebia & me drogava, afinal, eu trabalhava no "Village". Muito uísque, muito mesmo, & muita brite. Depois de certo tempo, eles colocaram aquela dona pra trabalhar comigo, (eu não me lembro o nome dela). Ela seria minha contato publicitária, (será que era uma promoção ?). - Meu querido Bukowski, aquela dona cheirava pra caralho ! - Ela cheirava pela manhã, na hora do almoço, & a tarde. Na realidade, ela nunca vendeu porra nenhuma. Mas eu continuava ralando, vendendo, ganhando minhas comissões. As vezes, eu dava uns tirinhos com ela, só pra não fazer desfeita. Ela gostava de se sentar diante de mim, e ficar abrindo as pernas, pra me fissurar. "Tu" sabe, não é Charles, eu até pensei em passar a rola nela, pensei mesmo. Mas depois, descobri que ela estava com "chatos", e me desencantei... - Aquela piranha me levava nos lugares loucos, da Vila. Isso durante o horário de expediente...Então eu arrumei um jeito de dar um pé na bunda dela. - Janis, Janis, nem lhe conto... Trabalhar no Village, era do caralho. - Só tinha drogado naquela área. Era maconheiro, era cheirador, era alcoólatras, Ali era phodda. - Eu me lembro de uma sexta feira, que era aniversário de um brô, eu estava com uma garrafa de "Wiborova" na mão. Resolvemos pegar uma brite, pra festa, e fomos em cana, eu & o Toninho. - O pessoal no Deic nos enquadrou, no prédio do traficante, lá em Pinheiros. Tinha viciado pra caralho, dentro do apartamento. Nós não tínhamos nada, nenhum "flagrante", daí eu questionei os caras, disse que era ilegal nos manter ali. Que aquela prisão era ilegal & coisas & tais. O "Steve", (policial), perguntou se eu era advogado, essas merdas. Toninho estava paralisado, os Steve's estavam todos "cheirados", very crazy... Eu abri minha garrafa de "Wiborova" e comecei a beber, os Steve's beberam comigo, ficamos amigos... Fomos todos para o Deic, eu e o Toninho pagamos as fianças de uns caras e fomos embora. Passamos a noite lá... Mas não assinamos nada, não houve problema conosco, & nem enrosco. - Trabalhar naquele lugar foi phodda. - Quer saber de uma coisa ? - Eu nem sei por que me lembrei dessa merda agora. - Fui.

"Araraquara"

- Você conhece Araraquara ? - Dan me perguntou. - Cara é uma cidade linda, limpa, arborizada, com meninas maravilhosas, lindas... Dan essa época, era cadete da Aeronáutica, queria pilotar caças, mas fez umas cagadas lá na Academia. Quase matou-se e ao instrutor, e foi convidado a se retirar, a vazar. - Mas voltando ao papo da"Morada", ele disse. - Eu estava de folga, em Pirassununga, e fui conhecer a cidade, fiquei muito impressionado... - Que lugar bonito... (Estou me lembrando disso agora, tantos anos depois), por que além de conhecer Araraquara, ter tantos amigos virtuais ali, a cidade me deu o maior presente da minha vida. Araraquara me deu o meu amor. A mulher que eu amei, durante quase quarenta anos. - A vida nos reserva essas surpresas. Eu amo muito a Morada do Sol, eu me casei lá. Eu passeei lá. Eu ri, eu vivi, eu amei nessa cidade. - Depois que ela morreu, eu nunca mais tive coragem de ir lá. Talvez seja covardia minha, de imaginar que vou encontrá-la, que ela estará me esperando, essas coisas. Talvez seja medo, medo de voltar à sofrer (de novo), a perda. - Quando eu sarar, quando meu coração estiver mais forte, eu pretendo ir à Morada. Recolher um tantinho da felicidade que nós plantamos ali. Dizem que é bom, voltarmos aos lugares onde fomos felizes. - Nesses locais, a energia, o sentimento, fica grudado, nas coisas, nos objetos. - Eu pretendo um dia, recolher felicidade, por todos os lugares por onde passamos. Eu vou entrar no carro, e perseguir essa felicidade, que se foi, mas que ainda existe. - Obrigado Araraquara, por me entregar o maior presente da minha vida. - O meu amor.

"A igreja"

- Cara, eu gostava de ir aquela igreja. - Sei lá, chega uma época na vida, que nós nos aproximamos de Deus. Eu continuava (ainda), um cidadão do "mundo". - Gostava das pessoas de lá... Eles não tinham aquela cobrança, que os "crentes" tem. De querer empurrar a fé deles, pela sua goela abaixo. Aquela igreja era pequenininha. - Era do lado do meu escritório, no Centro Empresarial Vergueiro, na Vila Mariana. - O Mané foi comigo, nós gostávamos de lá. - Nós nos batizamos lá. Eu até compus uns gospel's & Spiritual's pra eles. O pastor era paraguaio, mas não era fake não...Eu ainda fumava uns beises, (antes de me batizar"). Depois eu parei com as drogas, dei um tempo, (até hoje). - Cara, eu nunca fui um "rato de igreja". Eu sempre tentei me portar de uma forma mais independente, nessas coisas espirituais. (Deus sempre havia cuidado de mim, sempre me livrou de todos os riscos, que eu passei, nessa minha vida louca). - Eu sabia que nós tínhamos uma intimidade, uma amizade. Ele havia me livrado dos perigos, das drogas, da morte... (Eu sempre vivi meio que, em situações de alto risco). - Nessa época, eu era um feiticeiro muito poderoso, (os meus amigos diziam que eu era um guru). - Dias antes de eu me batizar, começou a me dar uma dor de cabeça do cacete, não passava de jeito nenhum. Eu perguntei ao pastor. - Que que está acontecendo comigo ? Ele me respondeu que eu estava me libertando, daquelas merdas todas, que eu cometia. Aquelas coisas de "desdobramento", aquelas coisas de entrar na mente dos outros...Eu programava as pessoas, para que elas fizessem o que eu mandasse... Era phodda, eu tinha muito poder... No dia que eu me batizei nas águas, todas as dores terminaram. - Eu & o Mané, nos batizamos no mesmo dia, foi muito bonito. Eu comecei a me sentir mais leve, mais humano. Voltei a ser aquele garoto simples, puro, ingênuo, de tantos anos atrás. - Foi bom . Mas as coisas boas, não duram eternamente. Uma segunda feira eu chego lá, e a igreja está fechada. Nunca mais vi o pastor. (Acho que houve um "cisma", tentaram tomar a igreja do casal). - Mas eu fui feliz ali. Minha vida tomou outro rumo. - Nunca mais entrei em outra igreja. - Mas mantenho no meu coração, tudo que aprendi com eles. - Baccio.

"A irmã do João Luiz"

O nome dela era Denise, a irmã do meu amigo. - ( Meu, isso aconteceu há tantos anos atrás, por que será que essas memórias me visitam agora) ? - Dizem que quando nós vamos envelhecendo, essas memórias antigas nos visitam, nos entregando segredos esquecidos, guardados em nosso "arquivo morto". - Eu era tão garoto, quando isso aconteceu. - Mas vamos à história. - Quando eu voltava da escola, (eu estudava de manhã, na "Marechal Deodoro", após o almoço, eu ia conversar com Denise, no apartamento deles. Ela lavava as louças, conversando comigo na cozinha. - Denise já era uma moça, de corpo formado, bem delineado, bonita. - Eu era um menino, pequeno, ainda. - (Mas você sabe como são os meninos, desde pequenos, só pensam em sacanagem). - Tudo bem, eu confesso, eu bati umas bronhas pensando nela. Mas eu nem ejaculava ainda. Eu só sentia "aflição". - Nós, os meninos menores, brincávamos, dizendo que quem não gozava, sentia "aflição). - A primeira vez que ejaculei, quase desmaiei, minha pressão caiu, foi um terror. Eu estava no banheiro da tia Luli, tinha almoçado e fui fazer o serviço, foi Freud. - (Mas voltando a Denise, sempre havia um clima diferente, quando eu ia lá). - Ela gostava de tirar cravos, do meu rosto, ela gostava de me dar beijos na boca. Eu nunca comentei isso com ninguém, nem com os meninos, meus amigos. Era o nosso segredo, meu & de Denise. Ela já namorava, já saía com as amigas, era uma estudante, uma normalista, como se dizia na época.- Uma tarde daquelas, estava muito calor e Denise me disse: - Vamos nos deitar um pouquinho ? - Se você dormir eu acordo você lá pelas quatro horas. - Vem descansar comigo... - (Denise era tão bonita, tão cheirosa)... - Fala sério, quem em sã consciência dormiria ? Minha imaginação de menino estava a todo vapor. - Denise tirou minha camiseta, me deixou só de bermuda...Ficou também só de roupa íntima, e me abraçou. - Nós ficamos ali, os dois quietinhos, Denise começou a me acarinhar, me dar beijinhos. Aquilo parecia um sonho. Denise pegou no meu "pirulito", arregaçou pra cima & pra baixo. Ele obedeceu, (eu não tinha fimose). - Me deu os seios para eu beijar, eu beijei. Eu estava tão feliz & assustado, com tudo aquilo. Nunca, nos meus melhores sonhos, eu imaginei que fosse tão bom, estar com uma menina. Denise estava molhada. - Eu pensei: - Será que ela está fazendo xixi ? (Eu tinha tanto para aprender, ainda). - Ela deitou-se de bruços, eu montei nela, e fiquei ali, por instinto, me movimentando, me deliciando. - Meu coração sentia uma alegria tão grande, fui invadido por um sentimento tão bonito. (Estava me sentindo um homenzinho, nem eu acreditava). - Denise balbuciava uns sons que eu não entendia, era tão estranho, tudo aquilo. - De repente, eu entrei num lugar úmido, molhado, quente... Denise se assustou, eu também. - (Eu estava dentro de uma mulher, pensei). Nós ficamos momentaneamente parados, assustados. - Eu disse pra ela : - Não se preocupe, eu ainda sou um menino. (Como que dizendo: - Eu não gozo ainda). - Denise relaxou, eu comecei um movimento de vai e vem rápido. Denise gozou. - Eu estava tão enlouquecido de alegria, de felicidade, eu não gozei. Mas me senti um homem/menino. - Depois, fomos tomar refrigerante & comer bolachas. Denise cantarolava feliz. Minha Denise. - Foi tão bonito.

"Minha querida professora"

Eu sempre exigi que os meus filhos honrassem, & respeitassem os professores. Os professores são os grandes formadores, do caráter de uma criança. - Eu me lembro com muito carinho, da minha professora primária, dona Liete. - Aquela época, eu estudava naquela escola, a "Deodoro", ali perto do Relógio da Lapa. Eu era um menino pobre, tinha dia que o único alimento que eu comia, era a "merenda escolar". Eu repetia a merenda. Eu afanava sanduíches de pão com mortadela, para comer em casa, mais tarde. (Hoje eu conto isso, e alguns amigos não acreditam). Eles dizem que eu sou de uma família muito rica & poderosa. - É verdade. Mas eu & mamãe passamos por apuros, nessa vida de Deus. - Mamãe trabalhava de datilógrafa, (digitadora, hoje se diria), naquela companhia de seguros. Pagar o nosso aluguel, colocar comida em casa, vestir, calçar, foi difícil... Mas depois que eu cresci, eu sempre trabalhei, & isso nos ajudou bastante. Mas voltando a dona Liete. - Eu me sentava no fundo, naquela classe. Ali era o point dos bagunceiros. Eu nunca fui bagunceiro, mas gostava de aprender com eles. Dona Liete passava os exercícios, e eu resolvia tudo, rapidinho. Ela começou a me olhar com maior atenção. Me perguntava as coisas, onde eu morava, se eu gostava de ler, de estudar... - Velho, lá em casa todo mundo lia. Eu desde de menininho, fui acostumado a ler. Ela dizia que eu fazia lindas redações, essas coisas... Nessa época, mamãe havia alugado um apartamento ali na Augusto Severo. Na realidade, não era um apartamento, era uma sobreloja, toda envidraçada, era lindo ali. Minha professora sacou, que as vezes eu não tinha o que comer. Eu comia rapidinho, pra poder repetir. Dona Liete sacou, tanto sacou, que começou a pegar uns pães com mortadela, e a me entregar lá fora...Me comprava lanches, me levava marmitinhas...Um dia ela quis ir lá em casa. Queria conhecer mamãe. - Nessa época, mamãe estava dando aulas particulares, de francês, e trabalhando na cia. de seguros. Mas eu levei minha professora em casa. Aquela sobreloja era imensa. Os únicos móveis que tínhamos lá, eram os de cozinha & nossas camas. Nós não tínhamos mais merda nenhuma, só isso. Mas eu fui feliz ali, junto com minha mãe. - Quando dona Liete conheceu minha mãe, elas ficaram amigas. - Dona Liete dizia, pra minha mãe: - "O seu menino é muito inteligente". - Nós precisamos cuidar dele, ele vai ter um belo futuro, você vai ver... _ Eu amava minha professora. - Quando eu conseguia juntar uns tostões, eu ia na feira, e comprava uma maçã bem bonita pra ela. (Eram caríssimas, aquelas maçãs, com um papel fino roxo). - Eu lustrava a maçã, e embrulhava naquele papel roxo, e deixava na mesa dela. Ela gostava, mas depois me devolvia a maçã... Dizia que eu é que devia comê-la, que eu precisava mais. - Quando eu fiz treze anos, eu fui trabalhar naquela loja de calçados, lá perto do Largo do Machado. - Ela sempre ia me visitar, e me levava pra lanchar no Lamas. - Depois nos perdemos no mundo, nos desencontramos na existência. - Beijos, dona Liete.

"Quem de vocês?"

Quem de vocês, viu o eclipse ? O apocalipse ? Os dias perdidos ? A maçã da vida ? - Acho que todos nós vimos um pouco disso. Ou tudo, ou quase tudo... - "Aquela manhã". - (Não é a música do Eduardo Duzek não). - Aquela manhã os passarinhos chilreavam de tal maneira, que eu tive a certeza da mudança. O sol brilhava com uma intensidade tal, que eu senti a mão de Deus naquele lugar. O dia estava diferente, ou seria eu ? - Eu entendi o que a Dolores Duran queria dizer...("Hoje eu quero a rosa mais linda que houver, e a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem")-Eu estava amando, & estava sendo amado. - Pela primeira vez em minha vida, eu me senti importante para alguém. Meus caminhos iam mudar, minha vida teria outro rumo.(Essa coisa de amor é tão louca, essa vontade de rir, de gritar, de dizer: - "Eu sou feliz"). - Notei que comecei a reparar mais nas coisas, nas pessoas. Entendi que a felicidade nos faz melhor. Eu ia me casar, brô, é me casar. - Eu estava em Araraquara, com a mulher mais linda, ao meu lado, acordando comigo. - Rememorei tudo o que eu havia passado, toda solidão, toda tristeza, a fome, (em alguns momentos). Notei que nada daquilo tinha importância, o meu passado havia se feito pequeno... Eu, olhando aquela mulher jovem, bonita, me prometi melhorar... Ser tudo aquilo que ela esperava de mim... - Quando eu disse o sim, naquele cartório, eu senti os pássaros da felicidade voando, ao meu redor. Senti o sol me dizendo: - "Eu não lhe disse" ? - "Você não acreditava, mas aí está, sua hora chegou". Lutei tanto, para fazê-la feliz...Deixei o meu egoísmo ir embora, deixei o meu orgulho vazar, só para estar com ela, (sempre). - Todo eclipse, todo apocalipse, já não era nada. - Todos os dias perdidos, a maçã da vida, (o pecado), já não tinham nenhuma importância. O que importava era o novo tempo, os novos caminhos. A vida à trilhar. - Pena que os anos passaram num átimo, numa rapidez desenfreada. Mas eu fiz a minha parte. Agora faço hora, me arrebento, no aumento, das saudades de você. Baccios molhados, mon amour. – fui.

"Minha mãe"

- Minha mãe. - Já falei de uma série de temas, pessoas, mas acho que fiquei devendo, falar de minha mãe. Poucas pessoas, conheceram minha mãe, (de fato). Ela era muito reservada. Eu herdei isso dela também. - Meus familiares estão lendo meu livro, agora, e estão surpresos, pelas coisas que conto aqui. Mariazinha Pinheiro, minha mãe, me ensinou algumas coisas fundamentais, na minha vida. : - Ser sincero, não ter inveja, fugir de pessoas fúteis, sonhar, almejar & realizar. - Vou lhes contar uma história real, agora. - Nós estávamos morando naquela sobreloja, lá na Avenida Augusto Severo. Eu imagino que aquele aluguel devia ser os "olhos da cara". Mamãe trabalhava de digitadora, na companhia de seguros, dava aulas particulares de francês. Mas nós tínhamos um problema, o nosso dinheiro, sempre acabava antes do final do mês. - Ela me levava para comer na empresa, (eu comia, e ela ficava sem comer). Me trazia sanduíches de lá. Naquele tempo não havia vale refeição, essas coisas. Uma vez, ela chegou em casa, cansada, nós não tínhamos nada pra comer... - Eu disse: - Mãe, eu estou com tanta fome...Minha barriga está até roncando...Ela saiu e foi pedir um prato de comida, na casa da tia Luli. - Tia Luli era muito rica, mas era meio segura...Mamãe voltou com aquele prato raso, com pouca comida, e disse : - Coma, meu filho...Eu peguei o garfo, separei aquele alimento em duas partes iguais, comi a minha parte, e passei pra ela...- Ela disse, coma, você está precisando mais do que eu. - Eu não quis comer a parte dela, queria dividir . (Os olhos de mamãe estavam marejados de lágrimas). - Naquele momento eu virei um "homem", eu entendi o que era o amor, de uma mãe, por um filho. - Naquele momento, eu jurei que iria sempre honrá-la & amá-la. - No dia seguinte, eu saí da escola e fui procurar um emprego... Fui andando pela rua do Catete, sem rumo, tentando ver as placas de emprego, nos comércios. - Quase lá no Largo do Machado, eu vi uma placa, numa loja de calçados. - "Menino para estoque, - preciso". - Entrei, ainda vestido com a roupa da escola. Vi um senhor lá dentro e me apresentei. Pedi o emprego. O senhor me olhou, me vistoriou e perguntou: - Quantos anos você tem ? Eu disse que tinha doze anos... - Ele disse: - Eu não posso empregá-lo, você é muito novinho ainda... Só a partir dos quatorze anos...(Acho que ele notou o meu semblante, de desapontamento). Mas eu não desisti. - Eu contei tudo para ele, que eu e mamãe estávamos passando por apuros, que não tínhamos comida em casa, contei tudo. - Eu juro que vi uma lágrima, fugindo pela face dele... Ele disse: - Manda sua mãe vir aqui amanhã, quero conversar com ela. (Eles eram gregos, a loja era de muito luxo). - No outro dia, ele disse para minha mãe: - Eu gostei muito do seu menino, vou empregá-lo, mas não posso registrá-lo ainda. Você aceita ? - Eu implorava com os olhos, que ela me deixasse trabalhar...Mamãe concordou. Eu comecei a trabalhar ali, saía da escola, me trocava e ia para a loja. Ali eu aprendi tudo sobre sapatos, estoque, tamanho, cor, modelo. Sabia o que era um "Chanel, e tantos outros modelos. - No sábado, a loja fervia de clientes, eu ajudava os vendedores. - Daí a começar a vender, foi um pulinho. Eu vendia, e as comissões iam para os vendedores. Eles sempre me davam gorjetas, aos sábados. - Meu patrão me ensinou a vender sapatos. - Ele dizia : - Sempre que você for pegar o modelo que a cliente pediu, traga mais alguns parecidos... As mulheres sempre tem dúvidas, do que comprar, do que fica melhor. - Resumo dessa história: - Nunca mais passamos fome, eu e mamãe. Eu sempre deixava o meu dinheiro pra ela. (Ela nunca mexia nele). Salvo alguma "emergência". Ali eu fui feliz, tinha o "meu dinheiro", comprava roupas, ia ao cine "Politheama", aos domingos, assistir as matinês. - Virei "homem" a partir daquele prato de comida. - Beijos mãe, onde a senhora estiver.

"Coxas Grossas"

- Noite bonita. Enluarada & estrelada. Após comer feito um leão, delícias árabes, só me restou caminhar. - Pensei, - a noite me convida à ir ao MAM, (Museu de Arte Moderna). Fui procurar os amigos lá. Nós sempre fazíamos um som, rolava um "pot", & tinha umas meninas bonitas. Véio & bom Kerouac, naquele tempo não havia perigo, de se caminhar pelo Aterro do Flamengo. - Assim que cheguei, não vi nenhum dos meus amigos. Só aquela hippie cabeluda, vestida em uma roupa indiana, recostada numa coluna...Disse olá, perguntei pelos meus amigos, mas ela não sabia de ninguém. Aquela dona estava muito louca. Olhos vermelhos, inquieta, viajando na marijuana. Me convidou a ficar com ela, enquanto o pessoal não chegava...Aquele silêncio constrangedor... De repente ela diz: - Você gosta de mulheres de coxas grossas ? - (Óh, meu querido John Fante, senti que pelo andar da carruagem, que coisas estranhas aconteceriam ali). - Gosto sim, respondi. Daí ela disse: - Eu tenho as coxas grossas... - Bom & querido John, você sabe que eu sou tímido e que não procuro confusões. Mas quando dei por mim, aquela dona já estava de pé, com o vestido levantado. Ela disse: - São grossas não é? - Você gosta ? - São muito bonitas, você tem razão...(Enquanto dizia isso, eu me dava conta da saia justa, em que estava entrando). - Vocês, mulheres, não devem fazer isso conosco, (nos pegar de surpresa, nos deixar com cara de idiotas). Ela disse: - Vamos phudder um pouquinho ? Enquanto seus amigos não chegam ? - Como diria minha mãe: - Óh mon Dieu de la France, que enrosco, que sufoco. A dona sentiu minha hesitação e perguntou: - Você é viado? Não é chegado ? - Eu disse, - eu sou chegado. É que você me pegou de surpresa...(Senti ali, que teria que comer aquela hippie, pra defender o bom nome da família). Como toda hippie que se preza, ela não usava calcinha, e dava pra ver aquele monturo de pentelhos, aflorando, entre as pernas dela. - Querido John, você já trepou por obrigação ? Apenas para defender o seu bom nome na praça ? - Foi isso que eu fiz. Me atraquei com aquela dona, que tinha um cheirinho de desodorante vencido, e parti pras cabeças. - Trepamos, trepamos & trepamos. Eu logo após, caí de "bode", ela também. Acordo com o Giba chutando os meus pés, e me alugando. A hippie já tinha vazado na noite. - E você ? Gosta de mulheres de coxas grossas ? Muito cuidado com elas...

"Glamour, Status, Posses"

Quem nunca correu atrás desses valores ? - Mas não, ela não queria nada disso. Ela queria apenas amar aquela pessoa. Naqueles tempos, se valorizavam coisas menores. - Você pertence a que família ? - Seus pais fazem o que ? - Você ainda é virgem ? Era uma hipocrisia do caralho...( Ela era de família pobre, não tinha "pedigree", não era mais virgem). - Apenas estava apaixonada. Eu, francamente, não sabia o que dizer, o que responder. - Era muito bonita, aquela minha amiga. Simples, trabalhadora, lutadora, uma brasileira comum. ( Na realidade, eu nunca havia ligado para essas coisas, sempre vivi as coisas simples, o amor natural). - Mas ela, coitada, estava sofrendo. (Uma menina suburbana & um garoto "figurão", da sociedade). - Eu poderia dizer umas verdades a ela, que ela cuidasse de arrumar um outro namorado, essas coisas. - Mas o dia estava tão lindo, o sol batendo forte, em nossos corpos. Copacabana nos roubava a vontade de discutir, naquele domingo. Eu senti dó. No meu egoísmo jovem, eu estava "cagando", para aquelas convenções. (Ela continuava naquele ti, ti, ti infindável). É lógico que o menino queria apenas se divertir com ela. Nunca, a família dele permitiria um compromisso. - Ela era muito bonita. Trabalhava de dia, e estudava a noite. Era um "pedaço de mal caminho", até eu, pensei em ter um "affair" com ela. Mas eu sempre fui sincero, com as minhas amigas, e deixei passar batido. Naquele momento, meus pensamentos eram egoístas. Eu estava de olho numa gringa, que ria, em minha direção. E o danado do sol queimando, fazendo o trabalho dele... (Fui conversar com a turista, perguntei se queria que eu passasse bronzeador nela). A gringa aceitou. Passei o "Coppertone nela, suavemente, naquela pele branca, me demorando perto das partes mais sensíveis). Abandonei minha amiga, peguei minhas coisas, e fui curtir com a americana. Conversamos, rimos & fomos passear. Minha amiga ficou com os problemas dela, com seu amor impossível, sua tristeza. - Eu fui curtir, eu era o "latin lover", o cara. - (Apenas um egoísmo juvenil). - Aquela gringa era maravilhosa, saímos a noite, bebemos, namoramos & fizemos amor. - Copacabana & seus meandros. - Fui.

"Madrugada & Fantasmas"

Quando eu era jovem, eu tinha muito medo de fantasmas. Hoje eu não tenho mais, eu até converso com eles. As primeiras assombrações que vi, me davam aquele calafrio no cangote, aquela vontade de sair correndo, desenfreadamente. O primeiro fantasma que vi, foi em Perdões, Minas Gerais. Estávamos eu, tia Lola, e a empregada dela. Estávamos na pracinha, em Perdões, tocando violão, bebendo cachaça com groselha. Era época da Quaresma. Aquele vulto veio caminhando, desde o lado direito da igreja, pela rua Dr. Zoroastro Alvarenga, até chegar perto de nós. Ele vestia uma roupa preta, tinha um medalhão de ouro no pescoço, e um capuz negro. Não dava para se ver o rosto dele. - Eu saí correndo e deixei as mulheres lá...Ainda tranquei a porta. Foi phodda, aquela noite. Depois disso, continuei vendo fantasmas, assombrações, pelo resto da minha vida. Vi fantasmas em Santa Teresa, vi fantasmas naquelas ruas do centro velho do Rio. - Hoje, nas noites de insônia, nas madrugadas de solidão, (algumas vezes, eu sinto solidão), eu vou para a sala, com a casa toda às escuras, no silêncio da noite, e converso com eles. Eles me chegam tipo, lembranças, saudades. Vou até a sala, abro as cortinas, me sento no meu velho & amigo sofá. Deixo tudo às escuras, fico sentindo o silêncio. Eu os sinto. Sei que todos eles estão ali, a me espreitar. Uns tem o olhar de comiseração, outros tem o olhar de amor, de carinho... Tem algumas vezes, em que a saudade bate mais forte. Daí eu vou lá nos fundos da casa, e chamo o Johnny Doe, o meu gato. Johnny entra e fica comigo. Ele se aproxima do meu rosto, eu consigo até escutar sua respiração, me olha com aqueles olhos amarelos, como que dizendo: - Eu estou aqui com você, fica frio, velho. Nós nos acomodamos no sofá, e ficamos ali em silêncio. Apenas ouvindo a conversa dos fantasmas. Johnny de vez em quando diz alguma coisa, na língua dos gatos, eu entendo e respondo. Em seguida continua o silêncio, a madrugada caminha, tranquila & rotineira. Por fim, nós adormecemos, eu e ele. Quando abro os meus olhos, pela manhã, Johnny está me olhando, como que dizendo: - Eu estou aqui, eu cuidei de você, meu velho. Johnny pula do sofá e vai cuidar da vida dele. E eu vou cuidar da minha. - Ciao.

"Agencia de Emprego & Trabalho"

Eu morava no bairro do Belenzinho, em Sampa, com mamãe, meu padrasto & uma porrada de filhos dele. Eu não me sentia nada bem, ali. Eu me sentia estranho, meio que perdido. Nas horas de lazer, (fora a escola), eu gostava de ler, e de tocar meu violão, escondido lá nos fundos da casa. Eu precisava urgentemente arrumar um emprego. Não conhecia ninguém ali, naquele bairro. Morria de vergonha daquele povo. Eu nem comia com eles, tinha vergonha. Era um "bicho do mato", assustado & perdido. Mamãe fazia o meu prato, e guardava na "estufa", para eu comer depois. Aquele dia, eu saí a pé, fui andando até a avenida Rangel Pestana. Entrei naquela agencia de empregos. O rapaz que me atendeu me passou uma ficha para eu preencher, com todos os meus dados, eu preenchi, e devolvi a ele. - Fiquei tomando aquele chá de cadeira, por um tempão, até que aquela coroa bonita me atendeu. - Véio, eu era tímido pra cacete. Minhas mãos suavam, me deu até vontade de cagar, pode acreditar. - A dona me olhou, me tirou de cima abaixo. Perguntou minha idade, aquelas merdas todas. Ela me olhava de um modo estranho, como se quisesse entrar na minha mente, na minha alma. Eu disse que estudava, que fazia um curso técnico de comércio, que entendia de contabilidade, essas porcarias todas. A dona mandou que eu voltasse no outro dia, lá pelas cinco horas da tarde. (Eu estranhei o horário, mas disse que voltaria). No dia seguinte, eu compareci no horário combinado, e não tinha ninguém na agencia, só ela...( Velho & querido Charles Bukowski), resumindo essa ópera, a dona me levou pra sala dela, e me agarrou. Começou a se esfregar em mim, e me "usou & abusou". (Se eu disser que não gostei, estarei mentindo, por que foi bom pra caralho). Após a surpresa e o susto, eu entrei no jogo. Deixei que ela me "usasse". Eu não balbuciei uma palavra, apenas correspondi. Deixei que aquela louca me conduzisse, pelos meandros da sexualidade. Saí de lá, com uma recomendação para trabalhar naquele cotonifício famoso, na rua Catumbi, no Belém. Meu trabalho na empresa, era de bater faturas & duplicatas. Eu gostei. Mas o que mais eu curti, era que a minha seção ficava lá no terceiro andar, e eu trabalhava só. Eu adorava aquele lugar, pois me dava a liberdade, de ficar longe de casa, e ainda ganhar umas horas extras. - Aos sábados, eu não precisava trabalhar, mas eu fugia pra lá, e ficava batendo faturas até a tarde. - Passado uns meses, eu já era conhecido das meninas, as operárias, e sempre tinha umas "bocas pra beijar & uns corpos pra sarrar". Namorei muitas meninas de lá. Com elas era tudo muito rápido. Nós nos atracávamos nos muros da Celso Garcia, a noite, e era a coisa mais linda. Amei aquele trabalho. – Fui.

"Minha amiga, (ou meu amigo), hermafrodita"

Aquele "menino" era diferente. Ele era triste & reservado. Todas as tardes, lá pelas três, quatro horas, ele se achegava, e ficava vendo nossa turma se divertir. Mas o "menino" não se "misturava" conosco. Por mais que nossa turma convidasse, ele não jogava bola, não "caía n'água",não queria fazer nada... Mas parecia ser uma pessoa legal. Ele apenas queria estar com a gente. Ele se sentia bem, com aquela molecada bagunceira, era isso. Lá pelas seis horas, o pessoal se dispersava, mas eu sempre ficava mais um pouquinho, ali na praia do Leme. Nos pegamos numa amizade boa & sincera. Nós batíamos papo, falávamos de meninas, de namoradinhas, essas coisas. Ele era filho único, eles haviam se mudado há pouco tempo, para Copacabana. Mais que amigos, nós ficamos "irmãos", saíamos de rolê pelas ruas, vendo as meninas, tentando arrumar namoradas. Um dia, ele me confessou, que nunca havia namorado ninguém. Nunca havia beijado uma garota. - Velho & bom Cupido, nós tínhamos que arrumar uma mina pra ele. ( - Vai vendo a merda que isso tudo vai dar). - Eu expliquei tudo pra minha mina, disse que ele nunca tinha beijado, e coisas tais, e perguntei se ela não teria alguém, pra sair conosco. Minha namorada ficou de "ajeitar" a prima, pra ele...Na noite seguinte, saímos nós quatro, fomos passear na orla, comer pipocas & namorar. Velho & bom Charlie, eles estavam se entendendo direitinho, possivelmente meu amigo daria o primeiro beijo, aquela noite mesmo. - Mas a merda, quando tem que acontecer, acontece, não tem jeito. - Lá pelas tantas, os dois se beijaram, se enlaçaram. ( O estalo da bofetada, foi ouvido por nós, logo a seguir). A prima, meteu a mão na cara do meu amigo, e saiu vazada, chorando & xingando. Eu não entendi porra nenhuma, e nem a minha namorada. Minha gata me deixou ali, no "cavalete", e foi atrás da prima. Meu amigo, surpreendentemente, começou a chorar. Eu, não estava entendendo merda nenhuma. - E "ele" me contou, disse que era menina & menino (???) - Me encarou e disse : - "Eu sou hermafrodita". (Véio, que merda era isso? Eu nunca tinha ouvido essa palavra, esse nome). - "Ele", que agora era "ela", me explicou. - " Eu tenho os dois sexos, tenho um pintinho & uma xereca". - Bukowski, seu puto, não precisa ficar rindo. Eu era um menino ingênuo, um menino bobo. Mas a minha curiosidade, a maldita curiosidade, eu queria ver aquela coisa, mas não tive coragem de pedir. Até hoje, eu fico imaginando, como deve ser a "xeca/pinto. - Depois disso, eu nunca mais vi o "menino/menina". - Alguns anos depois, eu estou numa festa, eu & o Dan, do pessoal da medicina, na federal do Rj, ali perto do Pinel, e encontro "ele". "Ele" está todo seguro de si, acompanhado de uma loura, de fechar o comércio, e me reconhece. Me abraça, me chama de irmão. A loura estranha, mas ele me apresenta. - Fica me agradando, dizendo que me procurou, essas coisas...(foi isso que aconteceu). - O meu amigo hermafrodita. - Fui.

"Coprofagia"

Sabe, eu hesitei muito, para colocar essa história aqui. Tudo que eu escrevo, aconteceu de verdade. É lógico, que certas histórias eu preciso romancear um pouco, para que elas se tornem mais palatáveis. Desde de menino que eu coleto histórias, "causos", acontecimentos. Isso me ajudou muito, porque eu aprendi a não julgar as pessoas. As coisas que eu vi, ouvi, são coisas do "mundo", são acontecimentos "naturais". - Hoje, vou contar para vocês, a história do " Rapaz que comia cocô ". - Isso aconteceu lá pelos anos 80's, eu já tinha os meus trinta anos de vida. - Eu sempre achei que sabia de tudo, que a vida não tinha mais novidades, para me apresentar. Essa história me deixou muito "mexido", até um pouco estupefacto. - Vamos lá: - Nós conhecíamos uma moça muito alegre, muito simpática, (mas não tínhamos muita intimidade com ela). Ela trabalhava de caixa, num hipermercado, próximo da nossa casa. Certo dia, fomos fazer compras, eu & minha esposa, e a moça estava super feliz, os olhos dela, transbordavam de felicidade. Assim que nos viu, ela disse, - Eu vou me casar, estou me sentindo no Paraíso. - Ele é uma pessoa muito boa, um homem trabalhador & honesto. - Nós a felicitamos, desejamos tudo de bom, na nova vida de casada, aquelas coisas todas. Depois desse dia, nós nunca mais nos vimos. Após vários meses, nós nos reencontramos, na casa de uns amigos comuns, onde estava tendo um churrasco. O olhar dela, agora, era vazio & triste, como se algo tivesse quebrado o encanto de viver. - Você sabe, eu sou curioso por natureza, e perguntei: - Por que esse olhar tão triste ? Aconteceu algo de ruim ? Minha mulher estava ao meu lado, ouvindo nosso papo...Aquela menina já havia tomado algumas doses de cachaça & copos de cerveja, e desabafou. - É meu casamento, acho que não deu certo, estou pensando em me separar...(Eu não disse nada, esperei ela desabafar). E ela disse : - Ele gosta de comer cocô (???). - Como ? O quê ? - Quando estamos transando, ele pede que eu fique de cócoras, ele deitado de barriga pra cima, e pede que eu defeque na cara dele (???). Velho & bom Marquês de Sade, eu quase caí pra trás. Nunca havia ouvido falar numa tara dessas, (eu era jovem & bobo). - Depois, ele pede que eu o beije na boca... Eu tenho nojo e saio de perto. (Minha mulher, não sabia se ria, ou chorava, do inusitado da situação).- Eu, francamente, fiquei "passado", com aquela história. Durante várias semanas, fiquei quietinho, no meu canto, pensando naquilo. Muitos anos se passaram, e até hoje, eu revejo aquela cena, o sofrimento daquela menina... - Ali eu aprendi mais uma lição, o mundo é uma caixinha de surpresas, o amor é uma caixa de Pandora. Nós, que caminhamos por esse mundão, temos que ter muita humildade, com certas coisas, que acontecem no dia a dia. - Depois, pesquisando, lendo, descobri que muitas pessoas gostam de praticar a coprofagia.

"A dama do elevador"

Chanel nº 5, essa era a fragrância maravilhosa, que ela deixava no ar,ao passar. Ela era bonita, alta & elegante. Tinha um sorriso meio zombeteiro, nos cantos dos lábios. Não me lembro o nome dela. Mas sei que era atriz, relativamente famosa, na época. Eu gostava de vê-la, ficava sentado na escadaria do prédio, pacientemente esperando por ela. Aquela figura me cumprimentava, apenas com um movimento imperceptível da cabeça, um leve & desbaratinado movimento. Vezes por outra, eu conseguia subir com ela, naquele elevador lento e antigo. - Comi muitas vezes aquela mulher, em meus pensamentos. Em meus sonhos. O perfume dela era envolvente & adocicado. Uma noite, lá pelas nove horas, eu subi com ela. Eu ficava "bebendo" aqueles segundos, com meu olhar "pidão" & curioso. Essa noite, ela me beijou, eu não sei como aconteceu, mas quando dei por mim, estava saciando o meu desejo naquela boca. - Ela simplesmente parou o elevador, entre dois andares, e me beijou. Na saída, me deu aquele sorriso maroto, zombeteiro, e sumiu. Eu parei de viver, esperando por ela, querendo repetir. Passava horas & horas, perdido ali, viajando na imaginação, desejando a "dama do elevador". Na segunda vez que aconteceu, nós nos beijamos, e eu, num momento de atrevimento, levei minha mão até o meio das pernas dela. Senti aqueles pelos sedosos, aquele lugar úmido & aconchegante. Ela abriu um pouco mais as pernas, como que me convidando, me dando as boas vindas em sua intimidade. Eu trabalhei ali, com certa insegurança, mas tentando acertar no carinho, no prazer dela. (Aquela "dama do elevador", suspirava em meus ouvidos, coisas que eu não entendia). Meu desejo era muito grande. Depois que terminamos, ela me beijou, e desceu no andar onde morava. Eu voltava a me sentar na portaria, e saboreava, aquelas recordações... A última vez, que eu estive com a dama, nós saímos do elevador, e fomos lá para a casa de máquinas, no último andar do prédio. E ela me fez feliz, me permitiu penetrá-la. Eu nunca ouvi a voz dela. Somente alguns sussurros & suspiros. E o sorriso, que era cheio de deboche & promessas. Foi muito bom, esse amor furtivo, com a "dama do elevador". - Dedico esse conto ao Nelson Rodrigues, um mestre nas relações humanas. Nas coisas do amor.

"Agradecimentos/Dedicatórias"

Queria agradecer, & dedicar esse livro as pessoas que me ajudaram a realizar esse sonho. - Em primeiro lugar, a Nê, minha querida esposa, que "viajou" em 2012. - Em segundo lugar, ao meu querido filho Israel, que chorou as minhas lágrimas & riu comigo, nos momentos bons. Em terceiro lugar, ao meu neto, o Felipe Gabriel, que eu vi apenas três vezes, em toda minha vida. - Gostaria de agradecer também, ao Yoffe, meu querido & bom Yoffe, por permitir que esse lindo sonho se realizasse. Paloma, minha filha postiça, eu não poderia me esquecer de você. - Um agradecimento à todos os meus amigos & personagens, que povoaram, (povoam), as páginas desse livro. Um agradecimento especial, ao Silvio Fernando Rodrigues, o Nando. Que além de criar um bonito prefácio, tem roteirizado os "nossos" contos, no intuito de criar "curtas" & uma série de Televisão. - Obrigado também, a todas as pessoas que visitaram & (visitam) a nossa página na net, a "Leoninos a beira de um ataque de nervos". Onde eu incluo a minha sobrinha, Joy Freire, a criadora da fan page.- Obrigado a todos vocês!


Alex Pinetree