mardi 25 octobre 2011

Antigo Testamento
Diáspora, Helenismo & Guerra
Prof. Dr. Jorge Pinheiro

Entretanto, no tempo de teu bom prazer, tu escolherás novamente para ti um povo, porque lembraste teu pacto. E farás com que eles sejam separados para ti como um coisa santa, diferente de todos os povos. E tu renovarás teu pacto com eles como uma mostra de glória e com palavras do teu Santo Espírito, com obras da tua mão e com um escrito da tua mão direita, revelando a eles ambas as raízes básicas da glória e as alturas da eternidade. E lhes darás um novo Moisés, um que irá (...), o humilde”. Guerra dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas 1.16-17.

É comum encontrarmos pessoas que consideram o período intertestamentário como anos de silêncio. Segundo essas pessoas, os quatro séculos que separam os textos de Esdras, Neemias e Malaquias, no Antigo Testamento, e as primeiras epístolas paulinas e o livro de Marcos, no Novo Testamento, têm uma característica: neles, Deus optou pela mudez.

A história do povo judeu, no entanto, mostra que esses anos de silêncio não existiram [1]. Ao contrário, a época do helenismo, que vai do ano 333 a 63 antes de Cristo, tem como característica uma agitação espiritual inédita na história do judaísmo e uma presença real de Deus no meio do povo.

Na verdade, ao decretar esses anos de silêncio, o que se faz é voltar as costas para as riquezas dos acontecimentos da vida judaica no período, assim como para a expansão e importância do helenismo. É, enfim, decretar que a roda da história não girou durante quatrocentos anos.

Mas, pior que tudo, ao proceder assim fecha-se a porta para a compreensão das condições históricas que prepararam o caminho para o ministério de Jesus e para a expansão do cristianismo. Durante 270 anos, a civilização helênica lutou pela hegemonia nas terras do Oriente Médio e da Palestina. No centro desse conflito entre o paganismo e a fé judaica temos três anos de crise intensa: a insurreição de Judas Macaréu contra a repressão desencadeada por Antíoco IV Epifanes, de 167 a 164 a.C.. Por ser um momento chave na história do judaísmo, conhecer as causas históricas, sociais e religiosas desse conflito, e seus desdobramentos, levarão à compreensão do mundo judaico em que viverão Jesus de Nazaré e os primeiros cristãos.

A guerra dos macabeus, que nasceu do choque do judaísmo reformado do pós-exílio e os valores da cultura helênica, marcou o fim do projeto político-religioso aberto com Esdras. A época de Antíoco IV assinalou uma ruptura radical e irreversível, a partir da qual surgiu uma espiritualidade pluralista no mundo judaico. O esquema fechado -- lei, templo, sacerdócio -- foi golpeado em suas bases. Um conjunto aberto, cujas orientações apontaram para diferentes soluções, substituiu o ideal anterior.

Se você estiver interessado no tema, leia História e Religião de Israel, Origens e crise do pensamento judaico, São Paulo, Editora VIDA, 2007. Você pode comprar numa boa livraria on-line.

Um forte abraço do autor, Jorge Pinheiro.


(1) Raymond E. Brown, Joseph A. Fitzmayer, Roland E. Murphy, in Comentário Bíblico San Jerônimo, Ediciones Cristiandad, Madri, 1972, vol. 5, p 99. A produção literária mostra o ineditismo e a agitação espiritual do período intertestamentário. Podemos citar: Septuaginta, 2Esdras, 3Esdras, 1Macabeus, 2Macabeus, 3Macabeus, 4Macabeus, Tobias, Judite, Oração de Manassés, Daniel, acréscimos a Daniel (Prospecto, Cântico de Azarias e dos Três Varões, Susana, Bel e o Dragão), acréscimo a Ester, Baruch, Epístola de Jeremias, Eclesiástico, Sabedoria de Salomão, Carta de Aristéias, Livro dos Jubileus, Martírio e Ascensão de Isaías, Salmo de Salomão, Oráculos Sibilinos, Enoque (etiópico), Assunção de Moisés, Apocalipse de Baruch (siríaco), Apocalipse de Baruch (grego), Testamento dos Doze Patriarcas, Vida de Adão e Eva, Apocalipse de Abraão e Testamento de Abraão.