vendredi 2 avril 2021

Convite à praxis

 Convite à PRÁXIS

Jorge Pinheiro, PhD


“Gentileza gera / Gentileza amorrr / meus filhos vamos / todos colaborar com / o nosso querido presi- / dente para que Deus / e Jessuss colabore com / todos para 1 Brasil”. Profeta Gentileza



Nesta pós-modernidade verde e amarela, comunidades fazem de forma natural um retorno às origens da nacionalidade brasileira, quando nossos brasis ocupavam este vasto sterrítório sem a presença dos invasores. Como os clãs de origem, as comunidades urbanas surgem a partir da união de integrantes em torno de elementos comuns. É possível se chegar as comunas do protestantismo brasileiro. Podemos, então, apontar os perfis e identificar as particularidades dessas comunidades, peculiares em seus desenvolvimentos. 


Tais particularidades provêm dos perfis. Aqui desejamos direcionar esta compreensão sociológica: as comunas protestantes, todas elas, em maior ou menor medida, têm como parâmetro textos fundantes, as Escrituras Sagradas judaico-cristãs. Exatamente por isso, para compreender o comunitarismo protestante, urbano e globalizado, é necessário conhecer a teologia que professa, tanto bíblica quanto sistemática.


A relação entre comunidade e protestantismo brasileiro manifesta-se na forma de um paradoxo, no sentido de um modo de pensar que está à margem das opiniões aceitas e mesmo em oposição a elas. O paradoxo inicial do protestantismo reside no fato de ser ele uma obra da comunidade na forma de um saber racional que tem a intenção de explicar a realidade e, por extensão, a própria comunidade da qual procede. Essa universalidade da intenção protestante deve ser designada como sendo o predicado da interrogação religiosa que se dirige à essência ou ao ser das coisas. Ela determina o caráter paradoxal da relação entre comunidade e protestantismo na medida em que é origem, instância fundadora da comunidade. Há aqui um entrecruzamento de causalidades históricas, mas é importante assinalar como outras produções -- arte, literatura e política -- apresentam essa originalidade de terem nascido ostentando os traços do que serão as suas essências como intenção de conhecimento. Nesse sentido, o estudo da teologia pode ser considerado não só um caminho para se penetrar no espírito da comunidade, mas introdução ao estudo dos temas do pensamento protestante brasileiro em geral. 


É necessário ter presente a correlação que existe entre o dinamismo das comunidades e a produção protestante que segmentos diferentes do evangelicalismo construíram na história recente do Brasil. A sobrevivência dessas práxis (veja Glossário) mostra que o evangelicalismo é um nó direito que assegura a continuidade da tradição protestante no Brasil. 


O protestantismo está inscrito no destino das comunidades evangélicas brasileiras, faz parte do seu espírito. Por isso, é necessário perguntar qual a razão que conduz esse destino. Ora, o protestantismo oferece motivos para essa interrogação, pois o evangelicalismo brasileiro coloca em questão a razão sobre a qual o protestantismo alicerçou suas bases históricas. Hoje, as comunidades evangélicas brasileiras caminham na contra-corrente do racionalismo moderno e da legitimação social de seus usos. Procuram um retorno às comunidades de origem, buscam o sentido solidário dos primeiros cristãos e, por isso, se apresentam, por um lado, marcadas pelo paradoxo do racionalismo moderno e, por outro, pela esperança escatológica do Reino.


Dessa maneira, um dos objetivos destas leituras é fornecer um primeiro contato com as teologias bíblicas e sistemáticas que referenciam o pensamento das comunidades protestantes do Brasil urbano na alta-modernidade.

   

Ao conhecer as razões que levaram à criação da conduta e dos valores identitários dos cristãos protestantes, passa a ser possível entender as singularidades da linguagem do mundo evangélico brasileiro e as expressões desses códigos de comportamento próprios dessas comunidades.


O comunitarismo cristão pressupõe um retorno aos hábitos que fundaram a igreja antiga e, posteriormente, o movimento protestante. Essa volta busca reconstruir as características intrínsecas aos tempos heróicos da saga cristã, mas é, também, uma resposta à modernidade individualista e secularizada. A recuperação dos valores fundantes tornou-se evidente a partir do final do século XX e caracterizou-se pela formação de comunidades sociais autônomas nas grandes cidades. Esse retorno às origens leva naturalmente à busca das compreensões e fontes do cristianismo solidário, em clara oposição à racionalidade moderna. Desta forma, a expressão paulina “temos a mente do Cristo” traduz no comunitarismo cristão a redescoberta da importância da pessoa, imago Dei, e é tambem modo de defesa contra a estrutura racionalista que não supriu as necessidades existenciais do humano.


O que nos remete ao segundo objetivo das leituras, fornecer aos herdeiros da Reforma protestante, quer magisterial, quer radical, um aparato mínimo, bíblico e sistemático, que balize sua fé histórica. Pois, o estudo de temas bíblicos e sistemáticos como Ontologia, Cristologia e Pneumatologia, entre outros, é essencial porque não se pode pensar um protestante que não seja solicitado a refletir sobre tais questões. Isso significa que os estudiosos da teologia têm, ou deveriam ter, uma compreensão da ação da teoria protestante sobre o pensar das pessoas e da própria realidade brasileira. A pesquisa dos temas teológicos apresentados nestas leituras oferece, assim, condições teóricas para a superação da consciência ingênua e possibilita o desenvolvimento de uma consciência crítica, que permite compreender a riqueza dos fenômenos vividos pelos fiéis e pela comunidade, criando condições para a construção de um conhecimento a respeito da experiência de fé da Igreja protestante brasileira.


Estas leituras, é importante dizer, nasceram de minhas pesquisas como estudioso dos temas abordados, de minha experiência como professor de Teologia e de minha caminhada como cristão e pastor protestante brasileiro.   


A lembrar o cântico de Maria: “Agiu com a força do seu braço, dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derrubou os poderosos do trono e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”.




Tela da Liz Murakami