samedi 16 janvier 2016

Os quatro gigantes e seus símbolos

A simbologia dos gigantes na tradição hebraica
e suas possíveis representações nesta modernidade tardia
Jorge Pinheiro, PhD


Os gigantes do Antigo Testamento
Simbologia geral

São os perigos, problemas e inimigos do povo do Deus Eterno. Simbolizam pessoas e instituições, guerreiros violentos, aqueles que derrubam, quebram, esmagam, despedaçam e dispersam. São sombras do mundo dos mortos e a própria morte. Apesar dessas imagens, nunca são seres espirituais, mas gente e instituições. 

Como são descritos no texto os quatro gigantes?

Lança > hanit > e espada > hereb, são símbolos de autoridade e de poder de destruição. Não é um tipo de arma que o Deus Eterno tem em seu arsenal. Davi já dissera que o Senhor salva não com espada ou com lança (I Samuel 17.47) e em Isaías 2.4 encontramos que Deus converterá as espadas em lâminas de arados e lanças em podadeiras. 

Safe > o gigante que está em Gobe, mora na cidade. 

Golias > Crônicas. 20.5 diz que se trata de Lahmi, irmão de Goliath, embora II Sm. 21.19 fale somente de Golias. Possivelmente, Golias fosse um nome de família ou um título de nobreza.

Dedos > etsba > quando se refere a homem mau ou ímpio descreve seu trabalho artístico contrário à vontade do Deus Eterno, como a fabricação de ídolos. Aqui estamos diante de um matador que tem mais dedos do que é natural e que tem como ofício matar pessoas do povo de Deus. Assim, quem é este gigante está escrito nas suas próprias mãos e pés. 

O que os quatro gigantes representam para nós hoje?

Isbi-Benobe é aquele que tem a lança e a espada. Tem autoridade e poder de destruição. Pode ser entendido como governos, instituições que podem interferir no destino das pessoas. São aquelas instituições internacionais e nacionais, distantes, que a gente ouve falar, vê na mídia, mas, na maioria das vezes, não temos como chegar até ela.

Safe é o gigante que atua no lugar onde a gente mora. Nós o conhecemos, é uma presença permanente na vida das pessoas. 

Golias é um título de família, tem nobreza. E representa aquelas famílias, empresas poderosas, que tem poder para interferir em nossas vidas.

O quarto gigante representa as religiões ligadas à idolatria e ao sacrifício de inocentes. São aquelas empresas que violentam e matam pessoas. 

Diante de nossa fraqueza, de nosso cansaço para enfrentar esses gigantes, como o Deus Eterno nos defende?

Levantando pessoas, que são valentes, são guerreiros, amigos fiéis, que conhecem os gigantes. Ou mesmo pessoas que não merecem confiança, que não são flor que se cheire, violentas. Um exemplo foi Abisai, irmão e cúmplice de Joabe, general de Davi. E também através de parentes, como Jônatas, sobrinho de Davi.

Exegese
Gigantes em hebraico

O primeiro termo em hebraico para gigantes é nefilim, que significa "guerreiro violento" ou "aquele que derruba" (Gn. 6:4). A raiz da palavra, o substantivo napal nos remete às idéias de quebrar, esmagar, despedaçar, dispersar. Os nefilim foram guerreiros que derrubaram muitos reis da época. A palavra também traduz a idéia de "ser maravilhoso". Em Nm. 13:33 o nome é dado a uma tribo dos canaanitas, de grande estatura: "os filhos de Anaque". A versão revista em inglês, nestas passagens, translitera o original e grafa "Nephilim". 

O segundo termo em hebraico para gigantes é refaim, um dos povos pré-semiticos mais antigos da Palestina (Dt. 3:11), que habitaram a oeste do rio Jordão, e de quem Ogue foi descendente. Mais tarde, com a chegada dos canaanitas, foram submetidos por Quedorlaomer (Gn. 14:5), e seus territórios foram prometidos como possessão a Abraão (15:20). Conforme Dt. 2:20, os amonitas os refaim de zanzumim, que por isso tornou-se outro sinônimo para gigantes. Anaquim, Zuzim e Emim tiveram origem nesse povo. Em Jó 26:5, refaim aparece como "aqueles que caíram", "sombras", ou mesmo refaim; e em Is. 14:9, refaim é traduzido por "morte". Na verdade, refaim significa os mortos que partiram para o outro mundo e, por extensão, nos leva às idéias de sombra e espírito dos mortos. Em Sm. 21:16, 18, 20, 33, o termo aparece no singular, "gigante", e vem antecedido do artigo "o", haraphah, o que significa que se tratava do pai dos demais gigantes referidos no texto ou de que ele era o líder de um grupo de refaim. A Vulgata escreve o nome desse gigante como "Arapha," e o poeta inglês Milton (in "Samson Agonistes") optou pela grafia "Harapha". Ver tb. I Cr. 20:5, 6, 8; Dt. 2:11, 20; 3:13; Js. 15:8, onde a palavra aparece simplesmente como "gigante". Em outras traduções, o termo nos textos de Sl. 88:10; Pv. 2:18; 9:18; 21:16 aparece como "morte" ou como "sombra" (vide Is. 26:14).

O terceiro termo para gigantes em hebraico é anaquim (Dt. 2:10, 11, 21; Js. 11:21, 22; 14:12, 15; chamados "filhos de Anaque". Nm. 13:33, Js. 15:14): uma raça nômade de gigantes, descendentes de Arba (Js. 14:15), pai de Anaque, que apareceu no sul da Palestina perto de Hebrom (Gn. 23:2; Js. 15:13). Essa era uma tribo cuchita da mesma raça dos filisteus e dos reis pastores egípcios. Davi em muitas ocasiões enfrentou esses gigantes, como em II Sm. 21:15-22. Golias foi um deles (I Sm. 17:4).

O quarto termo em hebraico para gigantes é emin, uma tribo de antigos guerreiros canaanitas. Eles eram "grandes, muitos e altos como os anaquim" (Gn. 14:5; Dt. 2:10, 11).

O quinto termo para gigante, no singular, em hebraico é gibbor (Jb 16:14), ou seja, campeão ou herói. No plural (giborim) traduz a idéia de "homens poderosos" (II Sm. 23:8-39; I Rs. 1:8; I Cr. 11:9-47; 29:24.) Um exército de seiscentos deles atacou Davi e o cercou, quando este estava fugindo. Eles estavam organizados em três divisões de duzentos giborim, que por sua vez se subdividiam em trinta milícias de vinte guerreiros. Os chefes das milícias foram chamados de "os trinta" e os capitães das divisões de "os três", e o comandante foi chamado de "o chefe dos capitães" (II Sm. 23:8). Os filhos de casamentos mistos com gigantes são citados em Gn. 6:4 e são chamados pelo nome hebraico de giborim.

O texto
II Samuel 21:15-22

Houve outra guerra entre os filisteus e Israel. Davi e os seus soldados foram e lutaram contra os filisteus. Durante a batalha Davi ficou muito cansado. Um gigante chamado Isbi-Benobe tinha uma lança de bronze que pesava mais ou menos cinco quilos e estava usando uma espada nova. Ele pensou que podia matar Davi. Mas Abisai, cuja mãe era Zeruia, socorreu Davi, atacou o filisteu e o matou. Então os soldados de Davi fizeram a promessa de nunca mais deixar que Davi saísse com eles para a guerra. Eles disseram: O senhor é a esperança de Israel, e nós não queremos perdê-lo. Depois disso houve outra batalha contra os filisteus na cidade de Gobe. E Sibecai, da cidade de Husa, matou um gigante chamado Safe. Houve mais uma batalha contra os filisteus em Gobe, e Elanã, filho de Jair, de Belém, matou Golias, da cidade de Gate. O cabo da lança de Golias era da grossura do eixo de um tear de tecelão. E houve ainda outra batalha em Gate. Ali havia um gigante, descendente dos antigos gigantes, que tinha seis dedos em cada mão e em cada pé. Ele desafiou os israelitas; e Jônatas, filho de Siméia, irmão de Davi, o matou. Esses quatro eram descendentes dos gigantes da cidade de Gate e foram mortos por Davi e os seus soldados.