jeudi 13 août 2020

A síndrome do Messias ausente

A síndrome do Messias ausente 
Jorge Pinheiro 

Um mal atravessa o movimento evangélico brasileiro: a síndrome do Messias ausente. Este mal, na verdade, não é exclusividade do movimento evangélico brasileiro, ao contrário, se fez presente no judaísmo antigo e no correr de sua história, assim como no cristianismo. Judaísmo e cristianismo são religiões messiânicas, ambas esperam a aparição majestosa do Messias prometido. 

No judaísmo bíblico há um momento especial que encarna e traduz esta síndrome. E isso se faz presente no relato de uma conversa entre o profeta Samuel e Deus. O profeta, frustrado, informa a Deus que o povo quer um rei, deseja um regime como as nações ao redor. E Deus diz para o profeta não se sentir derrotado, porque tal desejo não é contra o profeta, mas contra ele, Deus. Ou seja, o povo quer um Messias presente, um rei, uma monarquia e não uma federação de tribos, de clãs. E assim, surge o primeiro rei de Israel, Samuel. E no correr da história, os judeus viveram momentos dramáticos, quando Messias galvanizaram corações e mentes. 

No cristianismo, a síndrome do Messias ausente foi contornada, não com muito sucesso pelos católicos com a instituição do papado. E cada Papa, à sua maneira, tentou suprir a síndrome do Messias ausente. 

Mas no protestantismo, este mal que é antropológico e existencial está presente na proliferação de líderes carismáticos que também à maneira própria tentam cumprir um papel que não lhes cabe historicamente. Donde a resultante é a proliferação de cismas e a criação de agrupamentos cada qual com uma verdade própria, ou muitas verdades, todas nascentes da mesma revelação, as escrituras judaico-cristãs. 

No Brasil, neste evangelicalismo novo, tal síndrome antropológica e existencial se expressou com força maior durante a campanha do atual presidente. E ele, apoiado pelos profetas dos maiores conglomerados evangélicos, surge com a missão de fazer do Brasil um país evangélico. 

É importante ver que, segundo pesquisa o Datafolha, 31% da população brasileira é evangélica. E 48% destes votaram em Bolsonaro, como dissemos apoiado por lideranças importantes como o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e o pastor José Wellington Bezerra da Costa, do Ministério Belém das Assembléias de Deus. 

Mas como a promessa do Messias é escatológica, o mal que perpassa o movimento evangélico brasileiro leva ao drama. Drama este que se dá como dualidade. Em primeiro lugar traz a médio prazo uma frustração antropológica com o Messias presente, por este não cumprir a promessa de criar um novo tempo, e, posteriormente, a frustração existencial com o próprio movimento evangélico. Ou seja, se o Messias presente é falso, há algo de errado com a própria mensagem. 

E esse drama vivido pela frustração com o Messias presente já se traduz em números. Segundo dados do IBOPE, o apoio que ele teve inicialmente caiu de 60% de aprovação para 41%. Ora, numa população de 220 milhões, os evangélicos são 68 milhões. Destes, 48% votaram nele. Mas, nesse momento, são 13 milhões os que depositam fé nele. Essa queda não significa que o presidente não terá mais apoiadores entre os evangélicos, mas sim que a síndrome do Messias ausente, no caso brasileiro, já é um mal para milhões de pessoas e vai se traduzir muito rapidamente num problema para a igreja evangélica brasileira.