lundi 18 octobre 2010

Amazônidas


Por Jorge Pinheiro, do rio Negro, no Amazonas

Eles próprios se dizem Sateré, lagarta de fogo, e Mawé, papagaio inteligente. Os Saterê-Mawê habitavam o território entre os rios Madeira e Tapajós, ao norte das ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas, e ao sul das cabeceiras do Tapajós.

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dimanche 17 octobre 2010

Para pensar João, o batizador, e os essênios

Por Jorge Pinheiro

Os essênios (...) atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em enviar suas ofertas ao templo, sem ir lá fazer os sacrifícios, porque eles o fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Seus costumes são irrepreensíveis e sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão admirável que supera de muito a de todos os gregos e os de outras nações, porque eles fazem disso tudo o seu empenho e preocupação, e a ela se aplicam continuamente. (...) Possuem todos os bens em comum, sem que os ricos tenham maior parte do que os pobres: seu número é de mais de quatro mil. Não têm mulheres, nem criados, porque estão convencidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida. Quanto aos criados, é ofender à natureza, que fez todos os homens iguais, querer sujeitá-los. Assim, eles se servem uns aos outros e escolhem homens de bem da ordem dos sacrificadores [de linha sacerdotal], que recebem tudo o que eles recolhem do seu trabalho e têm o cuidado de dar alimento a todos”. (1)

João, o batizador
Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia, e dizia: ‘Arrependam-se dos seus pecados, porque é chegado o reino dos céus’. A respeito de João escreveu o profeta Isaías: ‘Alguém está gritando no deserto: Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele’.” Mt 3. 1-3.

“Eu batizei vocês com água, mas ele os batizará com o Espírito Santo”(Mc 1.8).

É interessante comparar a pregação de João, o batizador, com uma das regras da comunidade de Qumran, que diz: “E quando essas coisas sucederem aos membros da comunidade de Israel, no tempo designado, separar-se-ão da habitação dos homens perversos e irão para o deserto preparar o caminho do Senhor, como está escrito: No deserto preparai o caminho do Senhor, endireitai no deserto a estrada para nosso Deus” (1QS 8.12-14).

O deserto (harabah, em hebraico) de que falava o profeta Isaías, segundo a maioria dos especialistas, ficava na região onde se localizava a comunidade de Qumran e onde João, o batizador, iniciou seu ministério. Segundo Burrows (2), este local onde João batizava, fica na região que cerca o Jordão, um pouco antes da embocadura do mar Morto, a 16 quilômetros do povoado de Qumran, ou a quatro horas de caminhada até lá. Tanto o texto de Qumran, como João citam Isaías a respeito do deserto como lugar de preparação para o caminho do Senhor, isto porque o deserto passou a ser visto como lugar de renovação, símbolo da separação da multidão perdida e prova da conversão realizada. A expressão conversão é uma das mais usadas em 1QS (Regra da Comunidade, caverna 1), CD (Escrito de Damasco), 1QH (Rolo de Hinos, caverna 1) e 1QM (Rolo de Guerra, caverna 1).

Outra afirmação da Regra da Comunidade é: “Ele purificará a carne de todas as obras ímpias pelo Espírito Santo e aspergirá sobre ela o Espírito de Verdade como água de purificação”. (IQS 4.21).

É interessante notar, conforme Lc 1.5, que os pais de João eram de linhagem sacerdotal. Zacarias era sacerdote, e Isabel era uma das filhas de Arão. Dessa maneira, João era de linhagem sacerdotal, como os essênios. Era solteiro, também como os essênios monásticos. No cântico de Zacarias diz-se que “o menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até o dia em que havia de manifestar-se a Israel” (Lc 1.80). E em Lc 3.2 está escrito que “sendo sumo-sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra a João, filho de Zacarias, no deserto”.

Para muitos pesquisadores há duas hipóteses:
(1) Zacarias entregou o filho para ser educado pelos essênios (3), que eram conhecidos por sua dedicação e honestidade religiosa. Além disso, esperavam a chegada do Messias e do reino de Deus.
(2) Por serem idosos e de linhagem sacerdotal, o menino foi adotado após a morte dos pais. O historiador judeu Flávio Josefo conta que os essênios “não fazem caso do matrimônio, mas adotam crianças, quando estas são flexíveis e aptas à aprendizagem. Consideram-nas como parte de sua família e as criam segundo suas próprias maneiras” (4).

Apesar de semelhanças no modo de vida -- João “se alimentava de gafanhotos e de mel silvestre” (Mc 1.6) e o Documento de Damasco prescrevia até mesmo como se devia prepará-los [“Os gafanhotos, em suas várias espécies, precisam ser colocados no fogo ou em água enquanto vivos” (DD 12.14] – devemos ser cautelosos em afirmar que João, o batizador, era membro da comunidade de Qumran.

Fontes
(1) Flávio Josefo, História dos Hebreus, livro 12, capítulo 2, RJ, CPAD, 1992, p. 415.
(2) Burrows, M., More Ligth on the Dead Sea Scrolls, Londres, Secker & Warburg, 1958, p.60.
(3) Burrows, op. cit., pp. 61 e 62.
(4) Burrows, op. cit., pp. 62 e seguintes.