jeudi 4 mai 2017

O momento vicário

Você vai explodir!


Eis a potência termonuclear, poderosa e sutil, difícil de imaginar quando olhamos na materialidade do cotidiano. Mas ao detonar, a passagem se faz. É a páscoa de cada um, de todos nós. É travessia com potência não antes imaginada, mas que os humanos através de suas estórias relatam de formas diferentes.

É a passagem que o mestre de Nazaré relatou no seu último jantar com os amigos chegados. Ele sabia da explosão, da concentração que se expande em calor e luz, projetada no caminhar da existência, a iluminar os seus amigos e depois com energia todos que no correr da estória, e mais do que depois, se debruçassem sobre o eu sou o que sou, e num sussurro quase inaudível murmurassem quero a carne vicária, a aliança nova, que é eterna.

A travessia é momento único porque é o derramar da existência na eternidade. É momento de glória, que parece triste porque os olhos da materialidade sentem a explosão mas veem apenas o estar. Para isso somos potência termonuclear, para ir longe, mais além do que parece. É o ir destinado a todos, mas é ir especial para aqueles que atravessaram a existência com fome de eternidade. Por isso é pão e vinho. É alegria, é festa, porque rompe grilhões, escravidão, e abre o voo para o espaço prometido, para além do tempo, para o sem tempo sem fim.

O que era fermento, o que inchava de ar, numa alquimia supérflua do ego, está fora. Temos concentração que se faz expansão, força e luz. E é isso que celebramos no 14 nissan, para além das terras, sejam elas prometidas ou não, para além da busca de explicações com cores, dizeres e fazeres religiosos. 

O momento da explosão é banquete e o mestre de Nazaré ensinou isso. É momento vicário, onde carne é pão, onde sangue é vinho, onde existência é eternidade. O momento da explosão é aliança nova, não vivida antes, onde há comunhão entre o aqui e o mais além, entre o agora e o depois eterno. É chegada porque é encontro, porque se chega indo, ternamente, nesse abrir os braços que nasce da explosão termonuclear que somos, projetados em cores, energia e luz pelo eterno a dentro.

Esse é o momento da passagem, é minha, é sua, é páscoa humana. E diante dela, dizeres e fazeres religiosos repousam no passado, ficam fora do eterno. E nesse sentido somos libertos, projetados na eternidade, para a celebração eterna da vida. E isso é a páscoa de cada um, é a páscoa de todos. É a explosão da vitrine, que aqui chamamos concentração termonuclear de cada um. 

Para isso somos, para explodir em cores, energia e luz em direção ao espaço sem fim, ao eterno que se abre a partir do momento em que os olhos se fecham, para que todo o meu ser possa ver. 

(Pequena meditação numa manhã de seis de março de dois mil e dezesseis -- o nascer do mestre de Nazaré no coração, por Jorge Pinheiro).