lundi 7 mars 2016

Uma leitura singela da ceia do Pessach

A ceia pascal de 14 nissan

Uma leitura singela da ceia do Pessach




Durante a ceia judaica da páscoa, Jesus disse fazei isto para se lembrarem de mim. A celebração da Páscoa judaica, para nós cristãos, passou a ser o aniversário da crucificação de Jesus. O pão partido durante a ceia é o seu corpo. E o vinho no cálice é a benção do resgate através de seu sangue. Fazer isso, partir o pão, comer a ceia de Páscoa, e beber o vinho do cálice, simboliza a redenção da nova aliança. E devemos celebrar essa ceia em memória dele. Portanto, é necessário lembrar, que a centralidade dessa ceia pascal é a morte do Messias. 

A ordem do serviço da Páscoa judaica começa com uma oração, a bênção do cálice de vinho. E o cálice circula entre os convivas. Em seguida são servidas ervas amargas em água salgada. O chefe da família, que lidera este momento da ceia, apresenta um pão sem fermento, o parte e, em seguida, coloca um pedaço de lado. O participante mais jovem pergunta o que torna essa noite diferente de todas as outras noites? A resposta é dada pela história da primeira Páscoa. Canta-se os Salmos 113 e 114 antes de encher o segundo cálice de vinho. 

Antes da refeição, os convivas lavam suas mãos. A ceia começa com bocados de ervas mergulhados em um molho. E há um momento especial, quando um cordeiro assado é repartido entre os comensais. A ceia termina com o canto dos salmos 115 a 118 e do salmo 136, quando se bebe a última taça de vinho. 

O memorial da última ceia do Messias, simbolicamente, traz à cena a ceia do Pessach, que prefigura em certa medida as idéias de aliança e redenção. Mas o Pessach judaico nos fala de libertação da escravidão no Egito, da libertação de um reino de opressão e o caminhar em direção à terra prometida. Aponta para o passado e situa todo o acontecimento num espaço geográfico definido. É uma lição para as novas gerações. 

A páscoa do Senhor toma os símbolos do Pessach e aponta para o futuro. É, sobretudo, não espacial e não temporal, e aponta para o sacrifício vicário do Senhor Jesus, para a nova aliança feita em cima de seu sangue derramado e para a promessa de sua volta, quando o Senhor instalará um novo Reino de alegria, justiça e paz, eternas. É uma páscoa que nasce nos corações e se projeta na eternidade.

Do pastor e amigo Jorge Pinheiro.


Você vai explodir

Você vai explodir!


Eis a potência termonuclear, poderosa e sutil, difícil de imaginar quando olhamos na materialidade do cotidiano. Mas ao detonar, a passagem se faz. É a páscoa de cada um, de todos nós. É travessia com potência não antes imaginada, mas que os humanos através de suas estórias relatam de formas diferentes.

É a passagem que o mestre de Nazaré relatou no seu último jantar com os amigos chegados. Ele sabia da explosão, da concentração que se expande em calor e luz, projetada no caminhar da existência, a iluminar os seus amigos e depois com energia todos que no correr da estória, e mais do que depois, se debruçassem sobre o eu sou o que sou, e num sussurro quase inaudível murmurassem quero a carne vicária, a aliança nova, que é eterna.

A travessia é momento único porque é o derramar da existência na eternidade. É momento de glória, que parece triste porque os olhos da materialidade sentem a explosão mas veem apenas o estar. Para isso somos potência termonuclear, para ir longe, mais além do que parece. É o ir destinado a todos, mas é ir especial para aqueles que atravessaram a existência com fome de eternidade. Por isso é pão e vinho. É alegria, é festa, porque rompe grilhões, escravidão, e abre o voo para o espaço prometido, para além do tempo, para o sem tempo sem fim.

O que era fermento, o que inchava de ar, numa alquimia supérflua do ego, está fora. Temos concentração que se faz expansão, força e luz. E é isso que celebramos no 14 nissan, para além das terras, sejam elas prometidas ou não, para além da busca de explicações com cores, dizeres e fazeres religiosos. 

O momento da explosão é banquete e o mestre de Nazaré ensinou isso. É momento vicário, onde carne é pão, onde sangue é vinho, onde existência é eternidade. O momento da explosão é aliança nova, não vivida antes, onde há comunhão entre o aqui e o mais além, entre o agora e o depois eterno. É chegada porque é encontro, porque se chega indo, ternamente, nesse abrir os braços que nasce da explosão termonuclear que somos, projetados em cores, energia e luz pelo eterno a dentro.

Esse é o momento da passagem, é minha, é sua, é páscoa humana. E diante dela, dizeres e fazeres religiosos repousam no passado, ficam fora do eterno. E nesse sentido somos libertos, projetados na eternidade, para a celebração eterna da vida. E isso é a páscoa de cada um, é a páscoa de todos. É a explosão da vitrine, que aqui chamamos concentração termonuclear de cada um. 

Para isso somos, para explodir em cores, energia e luz em direção ao espaço sem fim, ao eterno que se abre a partir do momento em que os olhos se fecham, para que todo o meu ser possa ver. 

[Pequena meditação nesta manhã de sete de março de dois mil e dezesseis depois do nascer do mestre de Nazaré, por Jorge Pinheiro].