lundi 2 mai 2022

Primeiro de maio -- consciência e transformação

Primeiro de maio -- consciência e transformação
Questões teóricas sobre o movimento de massas
-- Uma leitura tillichiana

Jorge Pinheiro, PhD

A palavra massa, para Paul Tillich [Masse et Esprit, Études de philosophie de la masse], transformou-se em slogan político e social. Expressão esta que conota superioridade e idolatria. Por isso, quando se deseja discutir seriamente o conceito massa, e logicamente o Primeiro de maio, é necessário definir seus contornos e esfriar um pouco a fervura do slogan. 

Uma conversa com o Dr. Paul Tillich / Youtube -- Vitor Chaves de Souza. Fragmentos do video original "A conversation with Dr. Paul Tillich" [videorecording]. ("Uma conversa com o Dr. Paul Tillich") Legendado por Vitor Chaves de Souza http://www.vitorchaves.com Créditos: Title: A conversation with Dr. Paul Tillich and Mr. Werner Rode, a graduate student of theology [videorecording]. Published: [New Haven, CT] : Yale Broadcast & Media Center, [2010] Description: 1 DVD (28 min.) : sd., b&w ; 4 3/4 in. Notes: Telecast in 1956 on the NBC-TV series Frontiers of faith and produced by the National Council of Churches of Christ in the U.S.A., Broadcasting and Film Commission. Reproduced in new format on Sept. 30, 1986, by Union Theological Seminary in Virginia, Library Media Services Department. DVD copy of original VHS videocassette: [Virginia : Union Theological Seminary, 1986] Summary: Werner Rode, a graduate student at Union Theological Seminary, New York, interviews the theologian Paul Tillich in 1956 concerning his life and developments in theology during his career.

Segundo Tillich, há dois conceitos de massa, um formal e outro material, o primeiro de ordem psicológica e sociológica e o segundo de ordem histórica e social. Em termos formais, a massa consiste numa associação de pessoas que, na associação, deixam de ser indivíduos. Sua individualidade se perde e ele se submete à coletividade. A pessoa se torna um átomo, desprovido de suas qualidades, seu movimento próprio, e se transforma em pura quantidade subordinada ao movimento da massa. Através da psicologia das massas pode-se ver como a alma perde sua forma individualizada uma vez que toma a forma da massa e como o indivíduo entra em contradição com ele próprio, já que é um átomo da massa ou um ser bem singularizado. 

Tillich considera que no movimento psíquico da massa alguns elementos se separam e se isolam, adquirindo eficiências por eles próprios. Isto porque um indivíduo é o resultado de uma longa evolução interior e sua alma está ligada a milhares de liames à vida da alma em sua totalidade, que assim torna-se autônoma . Na massa, as forças de inibição, de reflexão e de matizações caducam. Tudo se transforma. Assim, podemos resumir essas transformações em duas leis. A lei da imediaticidade, segundo a qual a massa não reflete, mas é. Ela tem uma existência objetiva, não subjetiva como afirmou Hegel, ela é em si, não para si . 

A massa não sabe porque ela faz aquilo que faz. Quando acede a ela própria é sempre através de certos indivíduos, um orador ou chefe. A massa é imediata, vive inteiramente o presente, sem ligações com o passado ou o futuro, sem lembranças ou reflexões. Suas motivações são irracionais. Mas para Tillich, a lei da imediaticidade explica o desabrochar dos instintos biológicos imediatos, que estavam inibidos. Também mostra a existência de um princípio espiritual imediato que se faz presente, que pode ser traduzido como o abandono ao instinto do momento em direção à disponibilidade da revelação espiritual do presente, revelação de uma espiritualidade subjetiva impura . 

Ou seja, a irracionalidade das motivações pode dirigir ao irracional de baixo, à demência, ou ao irracional de cima, à novidade criadora. A outra lei da psicologia das massas, segundo Tillich, é a lei da amplificação. Se a vida espiritual do indivíduo perde suas inibições, se tal fato se repete em cada indivíduo presente, como num alternador, o vivido por um, suscita em outro experiência idêntica, porque a massa vivencia ela própria o ser massa. Essa lei nos leva a dois aspectos da vida da alma, o aspecto emocional e o aspecto intelectual. 

Em todo movimento da massa podemos observar a força do entusiasmo, a amplificação das paixões, da coragem, que podem levar ao seu sacrifício e destruição. Do lado intelectual, a lei da amplificação age de forma mais discreta, porque o processo de reflexão não convém à massa por causa de sua complexidade. De certo ponto de vista, a pessoa está mais alerta que a massa, mas a massa pode se elevar bem acima das consciências subjetivas, com suas intuições mais simples, mas também maiores e também com sua clarividência disso, que prepara o espírito objetivo no momento presente. A amplificação pode levar ao monumental e ao heroísmo, mas também ao demoníaco e à destruição. E as intuições da massa podem se conformar ao espírito ou lhe ser refratário. 

As leis da psicologia das massas são leis naturais, afirma Tillich. Elas são sempre válidas e necessárias onde uma pluralidade se encontra reunida. Elas têm valor para todos os estamentos sociais, para um grupo de marginais, assim como para uma assembléia de nobres. Com ironia superior, elas regem uma reunião de convencidos individualistas, assim como explicam o sentimento de superioridade existente na palavra massa, quando usado como slogan . No conceito material de massa, a essência de um grupo de pessoas determinado é ser essencialmente formado conforme a psicologia das massas. 

Por isso, no sentido histórico do termo, a massa, quer sejam classes ou ordens, raças ou círculos, partilha do destino de ser excluído de toda formação espiritual individual. Vemos, então, que a imediaticidade da massa faz com que desabroche nela instintos biológicos que estavam inibidos no indivíduo, o que traz à tona um princípio espiritual imediato: a disponibilidade à revelação espiritual do momento presente. 
Essa imediaticidade é o que leva a massa ao irracional de baixo, à demência, ou ao irracional de cima, à novidade criadora. Ao lado da imediaticidade, os aspectos emocional e intelectual são amplificados. As forças do entusiasmo e da coragem são amplificadas de tal modo que podem levá-la ao sacrifício e destruição. Assim, a massa se eleva acima das consciências individuais com intuições simples, mas com clarividência disso. Este processo prepara o espírito objetivo no momento presente. Quando objetivamente a massa vive esse processo de espiritualização, nela, religião e cultura se misturam. A esse primeiro momento de evolução da massa Tillich chama de massa mística.

No contexto geral de uma análise do socialismo, não se pode deixar de levar em conta que a evolução histórica dá nascimento a diferentes tipos de massa, conforme o modelo de desenvolvimento das relações entre religião e cultura. O primeiro estado consiste em uma unidade onde os dois ainda não se distinguem. Uma segunda etapa é marcada pela autonomia da cultura: assim, ela se diferencia mais e mais da religião, a ponto de gerar a secularidade moderna. Mas esta ruptura e separação são catastróficas tanto para a cultura como para a religião. E serão então superadas pela etapa final da teonomia, caracterizada pela presença de conteúdo religioso em todas as formas autônomas da cultura. 

Podemos facilmente reconhecer os elementos desse esquema na descrição dos diferentes tipos de massa. A massa mística corresponde à religião de origem: é a fusão dos indivíduos numa única comunidade que engloba tudo. Vem em seguida a etapa da autonomia, onde os indivíduos se diferenciam cada vez mais da comunidade de origem, até tornarem-se completamente independentes e separados. Mas ainda é massa sem forma e cultura, que não se colocou em movimento e caminhou para um estado de individualização. Essa é o estado de massa técnica ou mecânica, característico da moderna sociedade industrializada. 

A partir daí surge a perspectiva de uma etapa final onde a massa e a individualidade pessoal formarão uma nova união, uma síntese nova, chamada massa orgânica, que corresponderá ao ideal da teonomia. Logicamente, nem sempre se caminhará em direção a este ideal: mas o tempo histórico que orienta nessa direção é o da massa dinâmica. Dessa maneira, a massa dinâmica é sempre revolucionária, não unicamente no sentido político do termo – inclusive este é o sentido menos freqüente --, mas sempre em um sentido de fé espiritual e social. É necessário que ela seja revolucionária, porque o sentido de seu movimento é precisamente ir além do estado de massa e todas as formas que são responsáveis por este regulamento .

Assim, o movimento da massa dinâmica parte da massa mecânica e é essencialmente um movimento de libertação: o movimento da massa dinâmica parte da massa mecânica, já existente ou em perigo de aparecer, e visa a supressão da massa, visa à massa orgânica, não importando que esse começo seja ou não atendido. 

Temos, então, uma compreensão diferente daquela de Gramsci, que entende a vanguarda enquanto intelectualidade orgânica, mas não vê a massa em processo dinâmico que pode levar ao surgimento de uma massa orgânica. Sem desejar fazer um confronto entre os dois pensadores, tocamos apenas no ponto que metodologicamente nos interessa: a vanguarda não se limita ao militante ou intelectual, é um processo maior que tem na massa orgânica uma dupla ação, de liderança da sociedade e de transformação da situação-limite. 

Uma tal visão abre perspectivas interessantes na análise e compreensão de diferentes situações históricas. A questão da transformação da sociedade e a luta pela democratização são compreendidos melhor através do caminho metodológico construído por Paul Tillich. E como afirmou, todas as questões convergem para uma mesma resposta: a humanidade deve ter origem nas profundezas de um novo conteúdo, onde será superada a oposição entre massa e personalidade. Onde um novo conteúdo será produto do destino e da graça.



La fonction Éros

La fonction Éros.
Contre Aristophane
et un poème de Caetano et Peninha au milieu
Jorge Pinheiro, PhD


A côté de la cathédrale de Santa Ana, devant une Guinness IPA, 50 cl, je me demande : qu'est-ce que la fonction Eros ?

Eh bien, il faut d'abord penser à Eros, puisque les préjugés et l'éloignement de la philosophie maudissent une telle fonction.

Les corps comprennent la solitude, la folie des désirs, les abîmes du plaisir. Si, après l'union des corps, la solitude est un partenaire, le corps est ce morceau de moi qui ne s'achève jamais.
Le texte hébreu des Origines dit que l'Éternel a dit : "il n'est pas bon pour l'humain de vivre seul, alors je lui construirai quelqu'un qui l'aidera à avancer". Nous le savons, dans un état de tranquillité, et conscients de nos désirs, nous recherchons l'intimité.

Autrement dit, sincèrement, nous voulons avoir quelqu'un à qui faire confiance, à qui nous pouvons révéler notre côté le plus profond. Nous aimerions tous pouvoir faire confiance à ceux qui apprécient notre intimité avec certains des sentiments que nous gardons sous clé. C'est peut-être pour cela que nous nous sentons attirés par les groupes sociaux comme Facebook, Twitter et autres. C'est vrai, dans les eaux peu profondes et profondes, nous voulons être désirés.

." Parfois dans le silence de la nuit, je m'imagine nous deux. Je reste là à rêvasser, réunissant l'avant, le maintenant et l'après " ("Sozinho", de Caetano Veloso et Peninha).

Dès lors, la question se pose : qu'est-ce qui nous empêche d'accepter la fonction Eros ? Avons-nous peur des risques ? Quoi rayures?


Aristophane, Youtube
Aristophane (vers 450-385 av. J.-C.) – Une Vie, une œuvre [1995]
Rien ne veut rien dire 
Par Francesca Isidori et Claude Giovanetti. Emission diffusée pour la première fois sur France Culture le 19.01.1995. Intervenants : Philippe Brunet (de l'Institut de la papyrologie de la Sorbonne.) - Jean Taillardat - Alain Blanchard.

Pensons-y avec le poète Aristophane, de retour dans le Banquet de Platon. Il a dit que dans le passé, la nature n'était pas ce qu'elle est aujourd'hui. Nos ancêtres étaient duels, mais ils avaient une unité parfaite. Chaque humain était un tout, de forme sphérique, avec le dos et les flancs arrondis. Ils avaient quatre mains, le même nombre de jambes, deux visages identiques sur un cou rond, mais une seule tête pour l'ensemble de ces deux visages opposés. Ils avaient quatre oreilles et deux organes sexuels.

"Pourquoi me laisses-tu partir si librement ? Pourquoi ne restes-tu pas avec moi ? Je me sens très seul."

Cette dualité génitale explique pourquoi il n'y avait pas deux mais trois genres dans l'espèce humaine : les mâles, qui avaient deux sexes mâles, les femelles, qui avaient deux sexes femelles, et androgyne, qui avait les deux sexes. Le mâle, dit le poète, était le fils du Soleil, la femelle la fille de la Terre, l'espèce mixte de la Lune, qui participe du Soleil et de la Terre. Tous avaient une force impressionnante, et ils ont donc essayé de gravir le ciel et de combattre les dieux. Pour les punir, Zeus décida de les couper en deux, de haut en bas, comme une orange est coupée. Alors fin de complétude, d'unité, de bonheur ! Dès lors, chacun est obligé de chercher l'autre morceau.

" Je ne suis pas et je ne veux pas être votre propriétaire. C'est juste qu'un câlin se passe parfois bien. J'ai mes désirs et mes projets secrets ".

Maintenant, nous sommes séparés de nous-mêmes. Ce désir de chercher est ce qu'Aristophane appelait Eros et, lorsqu'il est satisfait, il est la condition du bonheur. Seul Eros reconstruit la nature, fusionner deux êtres en un seul. Ainsi, pour le poète, une personne serait homoaffective, hétéroaffective ou androgyne, selon l'unité perdue. Ainsi, partant du mythe, Aristophane considère que lorsqu'une personne - si elle est encline à homme ou femme – trouve sa moitié, devient un prodige d'amour et de tendresse.

« Pourquoi m'oublies-tu et disparais-tu ? Et si je m'intéresse à quelqu'un ? Et si elle gagner?".

Telle est la définition de l'Eros fusionnel d'Aristophane, qui nous ferait revenir à l'unité de la première nature, qui nous libérerait de la solitude, et qui serait, dans cette vie comme dans l'autre, le plus grand bonheur à atteindre. Mais, parce qu'elle exige une telle fusion de deux personnes, elle est toujours un moment et, donc, loin d'abolir la solitude, elle la confirme.

Si les âmes pouvaient fusionner, ce serait autre chose, mais ce sont les corps qui fusionnent un instant. D'où l'échec. Tout le monde veut être un, mais tout le monde est plus que jamais deux, toujours.

C'est pourquoi les Romains disaient "post coitum omne animal triste". Mais si Eros ne naît pas de cette fusion des ames, le plaisir naît. Ou, nous pouvons dire, les corps comprennent mieux Eros que les spécialistes. Les corps comprennent la solitude, la folie des désirs, les abîmes du plaisir. si après l'union des corps, la solitude est un partenaire, le corps est ce morceau de moi qui ne s'achève jamais.

Détail : Platon détestait Aristophane. Et l'histoire hébraïque, qui plonge dans les profondeurs de l'existence, n'en reste pas moins : nous sommes deux pareils, toujours. Et c'est du différent, du divergent, que doit naître l'unité. Ou comme l'a dit l'homme de Nazareth, et les deux seront une seule chair. Et que ce soit une bénédiction ou une malédiction, je pense que cela dépend les uns des autres.

« Soit tu me trompes, soit tu n'es pas mûr. Où es-tu maintenant ?
(« Sozinho », de Caetano Veloso et Peninha).


Hieronymus Bosch, Youtube / 
Les peintures troublantes de Hieronymus Bosch
"Il n'y a pas d'autre artiste comme Hieronymus Bosch. Pendant la Renaissance européenne, ce peintre hollandais évoquait des paysages d'enfer cauchemardesques, pleins de créatures grotesques et absurdes. Particulièrement dans sa pièce la plus célèbre, Le Jardin des délices. Mais pourquoi cet artiste a-t-il créé des peintures aussi dérangeantes ? Sont-ils le produit d'un imaginaire vif, empreint d'un sens religieux symbolique ? Ou sont-ils le produit d'un esprit troublé, affligé d'hallucinations intenses et effrayantes ? Examinons les peintures de Hieronymus Bosch et découvrons l'artiste derrière son travail étrange et troublant. J'ai vraiment aimé faire cette vidéo et j'ai beaucoup appris pendant sa réalisation. J'espère que vous l'avez tous apprécié aussi". Hochelaga.