lundi 20 décembre 2010

Elementos para um estudo do fundamentalismo

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Só alguns detalhes para você entender o porquê da bibliografia um pouco extensa. O fundamentalismo, quer escatológico, ou não, não é um fenômeno importado a partir de alguns autores. O fundamentalismo combina realidades culturais e sociais importantes. Devemos ressaltar três delas: a onda milenarista, produto do final de milênio e final de século. Isso já tinha acontecido com o cristianismo nos 900 de nossa era. Está documentado e foi uma loucura. Essa onda milenarista nós vivemos nos anos 1900. A segunda onda deve ser acrescentada a primeira -- foi o crescimento do mundo dito secular -- que é uma construção do protestantismo, leia Tillich --, com o desenvolvimento da indústria, das cidades, da ciência, da teologia acadêmica e o fim da família patriarcal, foi uma reação da igreja, de defesa, através da construção de muralhas de fundamentos, que delimitassem o espaço da fé. A terceira onda foi a expansão da fé evangélica, não mais do protestantismo histórico, mais de um evangelicalismo de respostas imediatas ao secularismo, por um lado globalizado e por outro crescentemente nacionalizado, que se expandiu pelas Américas, em especial pelo Brasil, pela África e Ásia.  Estas três ondas, que se combinaram e criaram fenômenos novos, têm que ser entendidas como acontecimentos globais que caracterizaram o viver evangélico nos anos 1900. Esses fenômenos culturais e sociais, globalizados, de reação ao admirável mundo novo que surgia, e a nacionalização da fé, estão presentes a nossa volta. Caso você conheça um pouco de vida da igreja, vai ver como pastores e fiéis temem o mundo real, todo ele surge como coisa do diabo, tudo é ruim, espinhento e aponta para o inferno. As importações, que mais do que importações são movimentos da globalidade, já que somos influenciados, mas influenciamos também -- o jeitão neopentecostal brasileiro está a invadir o mundo, tanto o primeiro como o terceiro.  Assim, as leituras teológicas não teriam força de penetração se algo maior, que tocasse coração e mentes, não estivesse acontecendo. A tendência histórica é um arrefecimento de tais fenômenos, mas isso vai exigir, possivelmente, mais um século. Não se esqueça que os fenômenos na igreja são históricos.

Donde, a bibliografia geral baixo procura introduzir você na análise do fundamentalismo como fenômeno cultural, histórico e social -- realidade que ainda não entregou os pontos na modernidade líquida.

Era isso que gostaria de somar e multiplicar com você. Só para seu conhecimento... Vou colocar este e-mail no meu blog. Fica com Deus e atenção porque o seu tema é de relevância para o estudo do cristianismo evangélico na alta modernidade.

Fica com Deus, camarada.

Bibliografia para introdução ao tema

ARMSTRONG, Karen, O fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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____________, “Individualismo, mudança de valores, sociedade de satisfação imediata. Tendências convergentes na sociologia”, em Concilium 282 (1999) 34-47.