mardi 12 juin 2018

Momentos de deserto


Não sei se você viu o filme “Os dois filhos de Francisco”. É a história de uma dupla sertaneja e mostra como o sucesso implica em superação de dificuldades, persistência e fidelidade a um ideal. De fato, não é uma questão de sorte, mas de fidelidade a um projeto.

Conforme nos conta Lucas, por três vezes, na solidão do deserto, o Yeshua foi tentado. Na primeira vez, o adversário propôs os prazeres do corpo. Na segunda, o caminho do poder e das riquezas. E na terceira vez, a autossuficiência.

Firmado nas Escrituras, Yeshua resistiu às tentações por amor ao pai e ao espírito, e a cada um de nós. Yeshua foi fiel porque não queria se afastar do pai e do espírito e, também, porque não queria se afastar de você.

Em momentos de deserto, também somos tentados a abandonar a comunhão com nosso Adonai e com Mashiah. Somos tentados a escolher os caminhos mais fáceis, os prazeres do corpo, a glória desse mundo e o egoísmo.

As tentações sempre surgirão em nossas vidas. Mas o caminho secreto da vitória sobre elas é a fidelidade. Fidelidade de comunhão com Adonai e com o corpo do Mashiah. Possivelmente, ninguém tomará conhecimento de suas batalhas, porque se darão nos momentos de deserto de seu coração, mas, lembre-se: a recompensa pela fidelidade é a comunhão eterna com o Mashiah Yeshua. 

 “A terra era um vazio, sem nenhum ser vivente, e estava coberta por um mar profundo. A escuridão cobria o mar, e a ruach de haShem se movia por cima da água”. Gênesis 1.2.

A ruach hakadosh é o acontecer da presença atuante de haShem, que penetra até o mais íntimo da existência humana. Leia o Salmo 139.7-23. Ele atua como força de vida no ser humano e transforma aqueles que se encontram sob o poder do Mashiah.

Cria espaço, põe em movimento, leva da estreiteza para a amplidão. Cria o horizonte e nas nossas vidas amplia o horizonte. Na experiência com o Espírito, Adonai não é experimentado somente como pessoa da trindade, mas também como aquele espaço e tempo de liberdade onde o ser humano pode se desenvolver.

Aí eu me ajoelhei aos pés do anjo para adorá-lo, mas ele me disse: Não faça isso! Pois eu sou servo de haShem, assim como são você e os seus irmãos que continuam fiéis à verdade revelada pelo Mashiah. Adore a Adonai! Pois a verdade revelada pelo Mashiah é a mensagem que o Espírito entrega aos profetas.

Esta é a experiência do espírito. Um dos nomes de haShem, segundo a religião judaica, é Macom: amplidão. Quando o Espírito é experimentado como essa amplidão aberta à vida, quando os seres humanos vivem no Espírito, Adonai é experimentado como um novo tempo de vida.

A ressurreição é bênção da integridade de haShem. Quando pensamos na ressurreição pensamos em duas coisas: lá atrás na história, Adonai ressuscitou Yeshua. E lá na frente, um dia, Adonai vai nos ressuscitar. Assim, a ressurreição tem passado e futuro. São duas colunas: passado e futuro. Mas e hoje? Será que a ressurreição tem alguma coisa a ver com o meu presente?

E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu. Essa foi a palavra daqueles dois discípulos na estrada de Emaus. 

A morte personifica os limites da existência. A morte personifica medo existencial, fim da esperança, perda do sentido da vida. E naquele entardecer, naquela estrada, os discípulos entristecidos afirmaram que, com a morte de Yeshua, havia morrido algo na vida deles. Assim como a morte do esposo mata algo na esposa, como a morte do amigo mata algo naquele que fica, a morte de Yeshua matara naqueles dois discípulos a vida que dava sentido ao caminhar de cada um deles. 

Foi isso que aconteceu com aqueles discípulos de Emaus: vagavam à noite pela estrada da vida, cabisbaixos, derrotados. A vida não tinha mais sentido para eles. E é assim que acontece conosco muitas vezes: andamos desesperançados, derrotados pela realidade que esmaga a vida e destrói o futuro. 

Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo: Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando. Então Yeshua entrou para ficar com os dois. Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Adonai. Depois partiu o pão e deu a eles. Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Yeshua. 

O novo nasce quando nos reunimos com o irmão ao redor da mesa, ouvimos a palavra e repartimos o pão. Nós vencemos as crises quando redescobrimos o sentido da ressurreição. E ela é mais que uma lembrança do passado e um futuro de esperança. É um fato presente, uma bênção da integridade de haShem para nossa vida presente. A ação de haShem que no passado trouxe Yeshua à vida é a mesma que a cada dia te dá força. Mas lembre-se: a descoberta da ressurreição não é um ato solitário. É um ato solidário, que implica em ouvir a palavra e repartir o pão. A ressurreição de Yeshua é a expressão permanente do compromisso irrevogável de haShem conosco.

Texto do livro de Jorge Pinheiro, Kadish, vida, morte e reino, São Paulo, Fonte Editorial, 2018, pp. 59-62.

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