jeudi 11 octobre 2012

Vaicrá

Vaicrá
20 DE MARÇO DE 2012 BY CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA
Rabino Ruben Sternschein


Existe algo resgatável e relevante da prática dos sacrifícios para o homem do século 21? Antigamente, ao invés de rezar, a forma de se comunicar com Deus era através de oferendas que incluíam vegetais, animais e em alguns povos até pessoas, como mulheres bonitas ou filhos primogênitos.

A Torá mostra a proibição clara e contundente dos sacrifícios humanos, mas ao mesmo tempo a regulamentação que permite, sim, os outros sacrifícios. Sabemos que essa prática continuou por séculos até a destruição do Segundo Templo no ano 70 e.c. A partir desse momento as rezas substituíram totalmente os rituais praticados outrora no Templo.

Todavia, cabe a nós nos perguntarmos se existe naquela prática algo relevante para nós. A pergunta é importante e necessária especialmente no nosso meio liberal, que não se conforma em aceitar simplesmente o fato de algo estar escrito ou ter sido praticado. Por outro lado, tampouco nos conformamos com uma atitude de crítica arrogante que atribua aos antepassados simplesmente a barbárie. Por sermos respeitosos da tradição religiosa, não podemos apenas dizer: “Eles eram primitivos e não tinham alcançado nosso grau de humanidade e espiritualidade”. A pergunta da relevância dos sacrifícios surge especialmente esta semana, na qual começamos de novo a ler o livro Vaicrá, na parashá de mesmo nome, que detalha em longos capítulos o ritual das oferendas animais e vegetais.

Iremos sugerir algumas respostas baseadas na língua, supondo que a linguagem revela sempre valores e idéias.

A palavra ‘corbán’, sacrifício ou oferenda ritual, inclui a raiz da palavra ‘aproximar’, da palavra ‘entranha’ e também da palavra ‘parente’. A oferenda também é dita em hebraico através da palavra usada para esforço ou sacrifício.

Sabemos que a prática antiga exigia escolher cautelosamente o que ia se sacrificar. Em alguns casos, deveria ser estritamente da propriedade de quem o oferecia, não poderia ser algo encontrado ou recebido de presente ou uma sobra desnecessária.

Por outro lado, o aspecto principal do ritual consistia em DAR. A forma de se comunicar com a Divindade e com a própria religiosidade era dando algo de si.

Talvez a prática antiga junto com a expressão idiomática queiram nos dizer que quando empenhamos nosso sincero esforço para dar o máximo de nós a ponto de expor algo de nossa mais profunda intimidade, conseguimos aproximar e nos aproximar do mais elevado.

Shabat shalom,
Rabino Ruben Sternschein