A PREPARAÇÃO DE
MOISÉS
por
JORGE PINHEIRO
Êxodo
2: 1-22.
A
chave para entendermos a preparação Moisés, como líder do povo de Adonai, está
no Capítulo 2 do livro de Êxodo. Na verdade, este capítulo abarca três períodos
definidos.
I.
Moisés na casa dos pais.
II.
Moisés na corte de Faraó.
III.
Moisés no deserto.
I
- Na Casa dos Pais
Quando
falamos de Moisés na casa de seus pais[1],
podemos trazer do texto algumas conclusões muito interessantes.
A.
Moisés era uma criança bonita (Êx 2:2).
B.
Os pais de Moisés[2],
Anrão e Joquebede, eram pessoas de fé no Elohim de Israel (Hb 11:23). Exemplo: a sabedoria (aparente ingenuidade) da mãe de Moisés em colocar o cesto de
papiro[3]
com a criança próximo ao lugar onde a filha do Faraó[4]
se banhava. O choro da criança chamou a atenção da princesa e tocou seu
coração.
C.
Eram pessoas que tinham amor pelos seus irmãos escravizados, conforme Hb
11:24-26[5].
Conclusão:
Fé no Adonai da aliança e amor por seu próximo. Esses foram os ensinamentos
básicos que Moisés teve em seu lar.
II
- Na Corte do Faraó
E
o que aprendeu na corte de Faraó?
A.
No livro de Atos dos Apóstolos 7:22 encontramos: “E Moisés[6]
foi instruído em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em suas palavras e
obras[7]”.
Sem dúvida, recebeu a mais alta educação que a grande nação egípcia poderia
oferecer. Era poderoso em palavras traduz a gigantesca obra literária que
produziu sob a inspiração de Iaveh: o Pentateuco. Poderoso em obras. Era um
líder. Segundo o historiador judeu do primeiro século, Flávio Josefo, Moisés
foi um grande herói militar, que comandou um exército no sul do Egito e livrou
o país de uma invasão etíope.
B.
Êxodo 2:11 e 12 e Atos 7:24-25 nos mostram que ele estava tentando livrar seus
irmãos da escravidão. A iniciativa era sua e estava apoiada em sua própria
força e vontade[8].
C.
A educação que recebeu e o sucesso que obteve como líder fizeram dele um homem autossuficiente.
Êxodo 2:13 e 14 nos leva a constatar que era visto por seus patrícios como um
homem soberbo, arrogante, acostumado a mandar e ser obedecido.
III
- No Deserto de Adonai
Que
influência tiveram os quarenta anos no deserto sobre o caráter de Moisés?
Em
Êxodo 3:11 vemos que ele se recusa a assumir responsabilidades.
Por
que? Onde está o seu espírito de autossuficiência?
Em
Êxodo 4:17 vemos que na corte de Faraó tudo era obra do engenho e arte humanas.
No deserto tudo era obra de Iaveh, conforme expõe sabiamente Sl 8.3 e 4.
A.
Assim, o deserto ensinou a Moisés o caminho da paciência (Ex.14:10-14;
15:23-25; 16:2-3; 17:1-4; 32:31-32; Nm.12:1-8). A solidão e a grandeza solene
do deserto deram-lhe o ambiente propício para refletir. Aí associou-se
intimamente a um povo descendente de Abraão, os midianitas[9]
que, muito possivelmente, adoravam o Elohim verdadeiro, conforme Ex.18:10-12.
B.
Com seu sogro Jetro[10],
sacerdote, conheceu a religiosidade e as formas de culto dos descendentes de
Abraão, assim como os caminhos e recursos do deserto. Era muito claramente uma
preparação, pois ela haveria de viver a última etapa de sua vida, ali, liderando
um povo que tinha sido escravo e que ele amava tanto.
C.
Assim, no deserto, com os midianitas, Moisés aprendeu o caminho da austeridade
e da dependência a Elohim, que ele nunca poderia alcançar no palácio real.
Moisés saiu do palácio como um príncipe arrogante e voltou ao Egito, para
libertar seu povo, como um pastor terno e cheio de compaixão.
E
O QUE SIGNIFICA ISSO PARA NOSSA VIDA?
A.
Adonai transforma planos diabólicos em bênçãos.
Uma
lição impressionante que este capítulo nos dá é como o poder soberano de Iaveh
transformou os planos diabólicos de Faraó, de impedir que o povo deixe o Egito,
em planos benéficos. (Ex 1:10 “...vamos ser espertos com esse pessoal, porque
eles podem se multiplicar muito e se houver guerra podem se unir aos nossos
inimigos e lutar contra nós”.)
B.
Para Iaveh, mais importante do que fazer e acontecer é ser.
Foi
instruído em toda a ciência dos egípcios. O historiador judeu Flávio Josefo,
que viveu no primeiro século
d.C., afirma que Moisés, foi general do exército. Ele atribui a Moisés a
pacificação da Núbia, sul do Egito, o que aumentou em muito os tesouros
egípcios, já que os nubianos tiveram que pagar pesados tributos em ouro. Atos dos Apóstolos 7:22
C.
Iaveh manda para o deserto aqueles que vai usar.
Moisés
saiu do palácio como um príncipe arrogante e voltou ao Egito, para libertar seu
povo, como um pastor terno e cheio de compaixão.
[1] Seu pai, Amram, era descendente de Levi (da tribo de
Levi, da família de Caat). Sua mãe, Joquebede, era tia de Amram, conforme Êx.
6:18-20 e comentário de Dobson, John H., A Guide to the Book of Exodus, SPCK,
London, 1977, págs. 17 e 18.
[2] Os pais de Moisés, graças à providência de Elohim,
puderam criá-lo em sua própria casa. Sua mãe amamentou-o possivelmente até os
três anos de idade, conforme era a tradição hebreia (II Macabeus 7:27), quando
o entregou à filha de Faraó para ser educado no palácio real.
[3] Um cesto de papiro. O papiro era uma matéria-prima
muito utilizada pelos egípcios. Substituía o papel para a escrita, era
utilizado para utensílios domésticos, como cestas, e até para a produção de
embarcações.
[4]Embora arqueólogos e historiadores do Egito antigo nem
sempre tenham a mesma opinião sobre fatos que aconteceram a cerca de 3.500 anos,
nos últimos quinze anos a arqueologia e a história começaram a viver uma
revolução, graças à utilização da informática e dos recursos técnicos da
computação. Velhas teorias são descartadas e novas hipóteses são propostas. O
conhecimento que temos, atualmente, sobre o novo reino egípcio, no período que
cobre os anos de 1570 a 1085 a.C., nos oferece importantes informações sobre a
vida dos faraós dessa época. Mantinham, por exemplo, residências e haréns nas
grandes cidades, Tebas, Mênfis e Ramsés,
mas também casas de campo e de esportes em regiões mais afastadas, como no
leste do delta do Nilo e nas regiões próximas a Góssen. A mais famosa estância
de lazer dos faraós era Fayum, que por localizar-se numa região pantanosa
permitia temporadas especiais de caça e de pesca. Documentos em papiro contam
que ali existia um harém, onde as mulheres de linhagem real supervisionavam
atividades industriais ligadas à fiação e tecelagem. Assim, ao contrário do que
se imaginou durante muitos anos, os haréns egípcios não eram centros de
reclusão, mas unidades de esporte e produção. Os papiros nos falam de Nefure,
princesa filha de Amenotepe I. «A jovem Nefure que salvou o bebê Moisés morava
num palácio em Mênfis, a residência real do co-regente. Existem muitas estátuas
egípcias de uma jovem segurando um bebê. Estas estátuas referem-se sempre a
Nefure e Senemut. O termo Senemut significa literalmente “irmão da mãe”. Para
entender o que essa expressão significava é preciso analisar alguns elementos
da religião egípcia. Acreditavam que o primeiro rei do Egito foi Osíris. Ele
casou-se com Isis, que era sua irmã. O irmão de Osíris, Set, matou Osíris para
ocupar o trono. Após a ascensão de Set ao trono, Isis fez com que, através de
expedientes mágicos, Osíris voltasse à vida e a engravidasse. Depois disso,
Osíris voltou ao mundo dos mortos. A criança que nasceu foi chamada Hórus e era
Osíris reencarnado. No fim da história o trono retornou a Hórus, que era o rei
por direito. Assim, o filho de Isis, por ser a reencarnação de Osíris, era
também era seu marido e seu irmão. Tudo numa coisa só. Todos os reis do Egito,
então, passaram a ser Hórus, a reencarnação de Osíris. Era assim que eles
acreditavam”. Ronald Wyatt, the Moses of the Bible and History, Wyatt
Archaeological Research, webmaster@crystalpt.com
[5] É interessante notar que Moisés publicamente faz-se
conhecido como hebreu. O que inevitavelmente levou-o a participar das aflições
de seu povo, ao invés de esconder-se na posição de filho de uma princesa
egípcia. E é esta postura que o escritor de Hebreus realça no texto. Moisés, mesmo
baseado em sua própria força e prestígio, preferiu ligar-se a um povo, momentaneamente escravo,
a alienar-se de sua tradição hebreia.
[6] A Bíblia diz em Êx 2:10 que quando “o menino cresceu,
ela (a mãe) o entregou à filha de Faraó, a qual o adotou e lhe pôs o nome de
Moisés”. Em hebraico, Mosheh, do verbo
mashah, tirar. É bem possível que este nome Mosheh seja uma abreviação da
expressão egípcia Thutmosés (“o deus Tot nasceu”), já que a princesa
dificilmente lhe daria um nome hebreu. Outra hipótese para o nome Mosheh é que
tenha vindo do termo egípcio mesu, que significa filho, derivado de um verbo
que quer dizer produzir, retirar. Daí o jogo de palavras entre mesu, no
egípcio, e mashah, no hebraico. Vide A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas,
São Paulo, 1985, pág.107, comentário de pé de página “j”, sobre Êx. 2:10.
[7]«Seu nome de princesa era Nefure e é assim que aparece
em muitas inscrições. Nessa época seu pai era co-regente do faraó Anmosis. Mais
tarde, ao tornar-se rainha, Nefure tornou-se conhecida como Hatshepsut. Quando
Moisés nasceu o imperador do Egito era Anmosis, e ele vivia em Tebas. Na cidade
de Mênfis, Thutmoses I era o co-regente do império. Mas como era costume também
recebia o título de faraó. O termo faraó significa “casa grande” e traduzia o
poder daquele que tinha o senhorio. Aos 33 anos, Moisés foi designado príncipe
e tornou-se Thutmoses II. É importante notar que este não é o nome de Moisés,
mas uma designação. O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no primeiro século d.C., afirma que
Moisés, já como Thutmoses, foi general do exército. Ele atribui a Moisés a
pacificação da Núbia, o que aumentou em muito os tesouros egípcios, já que os
nubianos tiveram que pagar pesados tributos em ouro. Finalmente, quando Moisés tinha 40 anos, conforme descreve
Êxodo 2, ele assassinou um nobre egípcio e teve que fugir do Egito. Na antiga
Tebas existe uma construção chamada Deir el Bahri, um templo que Moisés
construiu para sua mãe adotiva, Nefure. Tem uma tumba, possivelmente para o
próprio Moisés, onde vemos uma jovem mulher segurando uma criança pequena.
Documentos referentes à essa construção mostram que ela teve começo quando
Moisés tinha cerca de 16 anos, época em que foi designado filho da filha do
faraó e colocado na linha de herdeiros ao trono. Os nome Senemut e Nefure são
mencionados na tumba. Abaixo da tumba, arqueólogos descobriram um pequeno
quarto cavado na rocha, onde estavam as múmias de Hathofer e Ramose, os nomes
egípcios dos pais de Moisés, Anrão e Joquebede. Assim, sua mãe hebreia foi
embalsamada e recebeu um funeral real, o que indica que ela foi enterrada ali
na época da sua morte. O corpo de seu marido Ramose, entretanto, teve um
segundo funeral. Ele foi removido da sepultura original e transferido para este
local. Esta tumba nunca foi terminada e ninguém mais foi enterrado ali. Mais
tarde, outra tumba real foi mandada construir por Moisés, quando ele tinha
cerca de trinta e três anos. A tumba 353 é tão fascinante quanto a primeira e
nela ninguém foi enterrado. Foi a segunda construída por Moisés e seria seu
túmulo real. É interessante notar que, ao contrário de outras tumbas, onde o
morto é representado com esposa e família, Moisés é mostrado apenas com sua mãe
e seu pai, Hathofer e Ramose. Até porque Moisés nunca foi casado enquanto
esteve no Egito”. Ronald Wyatt, the Moses of the Bible and History, Wyatt
Archaeological Research, webmaster@crystalpt.com
[8] “Moisés não tinha justificativa para esse ato (ferir
o egípcio), nem pela lei da terra nem aos olhos de Elohim. Daí a necessidade de
mais quarenta anos de disciplina, antes que seu coração e mente estivessem
plenamente habilitados para receber a revelação dos propósitos e leis de Iaveh”.
Davidson, F., O Novo Comentário da Bíblia, Ed. Vida Nova, SP, 1994, pág. 123.
[9] Os midianitas eram um poderoso grupo de tribos.
Viviam na região leste do golfo de Ácaba. Esse região tinha muitos oásis e água
que era utilizada para irrigação. A partir de 1969, os arqueólogos descobriram
que, no tempo de Moisés, os midianitas dominavam a região de Moab e Edom,
controlando as rotas comerciais do noroeste da Arábia. A Bíblia de Jerusalém,
obra citada, p. 107, comentário de pé de página “l”, sobre “A Fuga de Moisés para Madiã”.
[10] Os textos apresentam nomes diferentes para o sogro de
Moisés. Em Êx.2:18, temos Reuel, em 3:1, 4:18 e 18:1 ele é Jetro, e em Nm 10:29
fala de Hobab, filho de Reuel. Muito possivelmente, esses nomes se referem em
primeiro lugar ao líder do clã, Reuel, o midianita ou quenita, conforme Jz.
1:16 e 4:11. Sendo que aqui midianita ou quenita referem-se a duas tradições de
casamento, uma refletindo a tradição javista, ligada à Palestina do sul, e
outra eloísta. Logo após o nome do clã, muito possivelmente temos o nome do
líder da família, Hobab. Dentro dessa visão, o nome do sogro de Moisés seria
mesmo Jetro (Hobab), já que é como Êxodo o chama em três vezes das quatro em
que é citado.