mercredi 30 octobre 2013

Moisés, o príncipe do Egito


A PREPARAÇÃO DE MOISÉS
por JORGE PINHEIRO

Êxodo 2: 1-22.
A chave para entendermos a preparação Moisés, como líder do povo de Adonai, está no Capítulo 2 do livro de Êxodo. Na verdade, este capítulo abarca três períodos definidos.

I. Moisés na casa dos pais.
II. Moisés na corte de Faraó.
III. Moisés no deserto.

I - Na Casa dos Pais

Quando falamos de Moisés na casa de seus pais[1], podemos trazer do texto algumas conclusões muito interessantes.
           
A. Moisés era uma criança bonita (Êx 2:2).
           
B. Os pais de Moisés[2], Anrão e Joquebede, eram pessoas de fé no Elohim de Israel (Hb 11:23). Exemplo: a sabedoria (aparente ingenuidade) da mãe de Moisés em colocar o cesto de papiro[3] com a criança próximo ao lugar onde a filha do Faraó[4] se banhava. O choro da criança chamou a atenção da princesa e tocou seu coração.
           
C. Eram pessoas que tinham amor pelos seus irmãos escravizados, conforme Hb 11:24-26[5].
           
Conclusão: Fé no Adonai da aliança e amor por seu próximo. Esses foram os ensinamentos básicos que Moisés teve em seu lar.

II - Na Corte do Faraó

E o que aprendeu na corte de Faraó?

A. No livro de Atos dos Apóstolos 7:22 encontramos: “E Moisés[6] foi instruído em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em suas palavras e obras[7]”. Sem dúvida, recebeu a mais alta educação que a grande nação egípcia poderia oferecer. Era poderoso em palavras traduz a gigantesca obra literária que produziu sob a inspiração de Iaveh: o Pentateuco. Poderoso em obras. Era um líder. Segundo o historiador judeu do primeiro século, Flávio Josefo, Moisés foi um grande herói militar, que comandou um exército no sul do Egito e livrou o país de uma invasão etíope.
           
B. Êxodo 2:11 e 12 e Atos 7:24-25 nos mostram que ele estava tentando livrar seus irmãos da escravidão. A iniciativa era sua e estava apoiada em sua própria força e vontade[8].
           
C. A educação que recebeu e o sucesso que obteve como líder fizeram dele um homem autossuficiente. Êxodo 2:13 e 14 nos leva a constatar que era visto por seus patrícios como um homem soberbo, arrogante, acostumado a mandar e ser obedecido.

III - No Deserto de Adonai

Que influência tiveram os quarenta anos no deserto sobre o caráter de Moisés?

Em Êxodo 3:11 vemos que ele se recusa a assumir responsabilidades.
Por que? Onde está o seu espírito de autossuficiência?

Em Êxodo 4:17 vemos que na corte de Faraó tudo era obra do engenho e arte humanas. No deserto tudo era obra de Iaveh, conforme expõe sabiamente Sl 8.3 e 4.
                       
A. Assim, o deserto ensinou a Moisés o caminho da paciência (Ex.14:10-14; 15:23-25; 16:2-3; 17:1-4; 32:31-32; Nm.12:1-8). A solidão e a grandeza solene do deserto deram-lhe o ambiente propício para refletir. Aí associou-se intimamente a um povo descendente de Abraão, os midianitas[9] que, muito possivelmente, adoravam o Elohim verdadeiro, conforme Ex.18:10-12.
                       
B. Com seu sogro Jetro[10], sacerdote, conheceu a religiosidade e as formas de culto dos descendentes de Abraão, assim como os caminhos e recursos do deserto. Era muito claramente uma preparação, pois ela haveria de viver a última etapa de sua vida, ali, liderando um povo que tinha sido escravo e que ele amava tanto.
                       
C. Assim, no deserto, com os midianitas, Moisés aprendeu o caminho da austeridade e da dependência a Elohim, que ele nunca poderia alcançar no palácio real. Moisés saiu do palácio como um príncipe arrogante e voltou ao Egito, para libertar seu povo, como um pastor terno e cheio de compaixão.

E O QUE SIGNIFICA ISSO PARA NOSSA VIDA?

A. Adonai transforma planos diabólicos em bênçãos.

Uma lição impressionante que este capítulo nos dá é como o poder soberano de Iaveh transformou os planos diabólicos de Faraó, de impedir que o povo deixe o Egito, em planos benéficos. (Ex 1:10 “...vamos ser espertos com esse pessoal, porque eles podem se multiplicar muito e se houver guerra podem se unir aos nossos inimigos e lutar contra nós”.)

B. Para Iaveh, mais importante do que fazer e acontecer é ser.
Foi instruído em toda a ciência dos egípcios. O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no primeiro século d.C., afirma que Moisés, foi general do exército. Ele atribui a Moisés a pacificação da Núbia, sul do Egito, o que aumentou em muito os tesouros egípcios, já que os nubianos tiveram que pagar pesados tributos em ouro. Atos dos Apóstolos 7:22

C. Iaveh manda para o deserto aqueles que vai usar.
Moisés saiu do palácio como um príncipe arrogante e voltou ao Egito, para libertar seu povo, como um pastor terno e cheio de compaixão.


[1] Seu pai, Amram, era descendente de Levi (da tribo de Levi, da família de Caat). Sua mãe, Joquebede, era tia de Amram, conforme Êx. 6:18-20 e comentário de Dobson, John H., A Guide to the Book of Exodus, SPCK, London, 1977, págs. 17 e 18.
[2] Os pais de Moisés, graças à providência de Elohim, puderam criá-lo em sua própria casa. Sua mãe amamentou-o possivelmente até os três anos de idade, conforme era a tradição hebreia (II Macabeus 7:27), quando o entregou à filha de Faraó para ser educado no palácio real.
[3] Um cesto de papiro. O papiro era uma matéria-prima muito utilizada pelos egípcios. Substituía o papel para a escrita, era utilizado para utensílios domésticos, como cestas, e até para a produção de embarcações.
[4]Embora arqueólogos e historiadores do Egito antigo nem sempre tenham a mesma opinião sobre fatos que aconteceram a cerca de 3.500 anos, nos últimos quinze anos a arqueologia e a história começaram a viver uma revolução, graças à utilização da informática e dos recursos técnicos da computação. Velhas teorias são descartadas e novas hipóteses são propostas. O conhecimento que temos, atualmente, sobre o novo reino egípcio, no período que cobre os anos de 1570 a 1085 a.C., nos oferece importantes informações sobre a vida dos faraós dessa época. Mantinham, por exemplo, residências e haréns nas grandes cidades, Tebas, Mênfis e  Ramsés, mas também casas de campo e de esportes em regiões mais afastadas, como no leste do delta do Nilo e nas regiões próximas a Góssen. A mais famosa estância de lazer dos faraós era Fayum, que por localizar-se numa região pantanosa permitia temporadas especiais de caça e de pesca. Documentos em papiro contam que ali existia um harém, onde as mulheres de linhagem real supervisionavam atividades industriais ligadas à fiação e tecelagem. Assim, ao contrário do que se imaginou durante muitos anos, os haréns egípcios não eram centros de reclusão, mas unidades de esporte e produção. Os papiros nos falam de Nefure, princesa filha de Amenotepe I. «A jovem Nefure que salvou o bebê Moisés morava num palácio em Mênfis, a residência real do co-regente. Existem muitas estátuas egípcias de uma jovem segurando um bebê. Estas estátuas referem-se sempre a Nefure e Senemut. O termo Senemut significa literalmente “irmão da mãe”. Para entender o que essa expressão significava é preciso analisar alguns elementos da religião egípcia. Acreditavam que o primeiro rei do Egito foi Osíris. Ele casou-se com Isis, que era sua irmã. O irmão de Osíris, Set, matou Osíris para ocupar o trono. Após a ascensão de Set ao trono, Isis fez com que, através de expedientes mágicos, Osíris voltasse à vida e a engravidasse. Depois disso, Osíris voltou ao mundo dos mortos. A criança que nasceu foi chamada Hórus e era Osíris reencarnado. No fim da história o trono retornou a Hórus, que era o rei por direito. Assim, o filho de Isis, por ser a reencarnação de Osíris, era também era seu marido e seu irmão. Tudo numa coisa só. Todos os reis do Egito, então, passaram a ser Hórus, a reencarnação de Osíris. Era assim que eles acreditavam”. Ronald Wyatt, the Moses of the Bible and History, Wyatt Archaeological Research, webmaster@crystalpt.com
[5] É interessante notar que Moisés publicamente faz-se conhecido como hebreu. O que inevitavelmente levou-o a participar das aflições de seu povo, ao invés de esconder-se na posição de filho de uma princesa egípcia. E é esta postura que o escritor de Hebreus realça no texto. Moisés, mesmo baseado em sua própria força e prestígio, preferiu  ligar-se a um povo, momentaneamente escravo, a alienar-se de sua tradição hebreia.
[6] A Bíblia diz em Êx 2:10 que quando “o menino cresceu, ela (a mãe) o entregou à filha de Faraó, a qual o adotou e lhe pôs o nome de Moisés”.  Em hebraico, Mosheh, do verbo mashah, tirar. É bem possível que este nome Mosheh seja uma abreviação da expressão egípcia Thutmosés (“o deus Tot nasceu”), já que a princesa dificilmente lhe daria um nome hebreu. Outra hipótese para o nome Mosheh é que tenha vindo do termo egípcio mesu, que significa filho, derivado de um verbo que quer dizer produzir, retirar. Daí o jogo de palavras entre mesu, no egípcio, e mashah, no hebraico. Vide A Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas, São Paulo, 1985, pág.107, comentário de pé de página “j”, sobre Êx. 2:10.
[7]«Seu nome de princesa era Nefure e é assim que aparece em muitas inscrições. Nessa época seu pai era co-regente do faraó Anmosis. Mais tarde, ao tornar-se rainha, Nefure tornou-se conhecida como Hatshepsut. Quando Moisés nasceu o imperador do Egito era Anmosis, e ele vivia em Tebas. Na cidade de Mênfis, Thutmoses I era o co-regente do império. Mas como era costume também recebia o título de faraó. O termo faraó significa “casa grande” e traduzia o poder daquele que tinha o senhorio. Aos 33 anos, Moisés foi designado príncipe e tornou-se Thutmoses II. É importante notar que este não é o nome de Moisés, mas uma designação. O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu no primeiro século d.C., afirma que Moisés, já como Thutmoses, foi general do exército. Ele atribui a Moisés a pacificação da Núbia, o que aumentou em muito os tesouros egípcios, já que os nubianos tiveram que pagar pesados tributos em ouro. Finalmente, quando Moisés tinha 40 anos, conforme descreve Êxodo 2, ele assassinou um nobre egípcio e teve que fugir do Egito. Na antiga Tebas existe uma construção chamada Deir el Bahri, um templo que Moisés construiu para sua mãe adotiva, Nefure. Tem uma tumba, possivelmente para o próprio Moisés, onde vemos uma jovem mulher segurando uma criança pequena. Documentos referentes à essa construção mostram que ela teve começo quando Moisés tinha cerca de 16 anos, época em que foi designado filho da filha do faraó e colocado na linha de herdeiros ao trono. Os nome Senemut e Nefure são mencionados na tumba. Abaixo da tumba, arqueólogos descobriram um pequeno quarto cavado na rocha, onde estavam as múmias de Hathofer e Ramose, os nomes egípcios dos pais de Moisés, Anrão e Joquebede. Assim, sua mãe hebreia foi embalsamada e recebeu um funeral real, o que indica que ela foi enterrada ali na época da sua morte. O corpo de seu marido Ramose, entretanto, teve um segundo funeral. Ele foi removido da sepultura original e transferido para este local. Esta tumba nunca foi terminada e ninguém mais foi enterrado ali. Mais tarde, outra tumba real foi mandada construir por Moisés, quando ele tinha cerca de trinta e três anos. A tumba 353 é tão fascinante quanto a primeira e nela ninguém foi enterrado. Foi a segunda construída por Moisés e seria seu túmulo real. É interessante notar que, ao contrário de outras tumbas, onde o morto é representado com esposa e família, Moisés é mostrado apenas com sua mãe e seu pai, Hathofer e Ramose. Até porque Moisés nunca foi casado enquanto esteve no Egito”. Ronald Wyatt, the Moses of the Bible and History, Wyatt Archaeological Research, webmaster@crystalpt.com
[8] “Moisés não tinha justificativa para esse ato (ferir o egípcio), nem pela lei da terra nem aos olhos de Elohim. Daí a necessidade de mais quarenta anos de disciplina, antes que seu coração e mente estivessem plenamente habilitados para receber a revelação dos propósitos e leis de Iaveh”. Davidson, F., O Novo Comentário da Bíblia, Ed. Vida Nova, SP, 1994, pág. 123.
[9] Os midianitas eram um poderoso grupo de tribos. Viviam na região leste do golfo de Ácaba. Esse região tinha muitos oásis e água que era utilizada para irrigação. A partir de 1969, os arqueólogos descobriram que, no tempo de Moisés, os midianitas dominavam a região de Moab e Edom, controlando as rotas comerciais do noroeste da Arábia. A Bíblia de Jerusalém, obra citada, p. 107, comentário de pé de página “l”,  sobre “A Fuga de Moisés para Madiã”.
[10] Os textos apresentam nomes diferentes para o sogro de Moisés. Em Êx.2:18, temos Reuel, em 3:1, 4:18 e 18:1 ele é Jetro, e em Nm 10:29 fala de Hobab, filho de Reuel. Muito possivelmente, esses nomes se referem em primeiro lugar ao líder do clã, Reuel, o midianita ou quenita, conforme Jz. 1:16 e 4:11. Sendo que aqui midianita ou quenita referem-se a duas tradições de casamento, uma refletindo a tradição javista, ligada à Palestina do sul, e outra eloísta. Logo após o nome do clã, muito possivelmente temos o nome do líder da família, Hobab. Dentro dessa visão, o nome do sogro de Moisés seria mesmo Jetro (Hobab), já que é como Êxodo o chama em três vezes das quatro em que é citado.