lundi 20 août 2012

Aqui e agora

Que relação existe entre o tempo presente e o crítica protestante? Para responder a esta questão é necessário antes que nada entender o tempo presente. Falar da situação espiritual do tempo presente [1] pode significar duas coisas. É dizer que vamos de uma situação contingente em direção a um ponto de vista superior. O tempo presente seria, então, parte de uma situação mais geral. O momento presente estaria enquadrado no caminhar do processo histórico. 



E para fazer a leitura desse tempo presente pode-se recorrer à análise histórica, à avaliação crítica ou à construção filosófica. Algumas vezes, porém, algum desses elementos falha. Por isso, não basta observar o tempo presente. Estamos excessivamente ligados a ele, o que nos pode levar a escorregar para um julgamento do ser enquanto aqui e agora e esquecer que devemos estar voltados para o futuro. 


O momento é importante, mas transformar o exame da situação espiritual do tempo presente em apreciação subjetiva é realizar uma redução, é ver a situação como totalidade e permanência. Olhando assim colocamos a situação num patamar elevado e a perspectiva que temos é aparentemente ampla e global, apesar de seu caráter individual e limitado. 

Tal análise do momento pode levar a uma ampla aprovação e tocar emocionalmente setores expressivos da sociedade e comunidades inteiras. Um exemplo foi o trabalho de Spengler, A decadência do Ocidente, onde o filósofo alemão parte da profunda crise de seu país no primeiro pós-guerra e conclui que a cultura ocidental chegou ao fim. 

Esta é uma maneira de ver. Ela pode ser qualificada como parcial e limitada, mesmo quando apresenta análises de conjuntura e perspectivas para o futuro. Mas por que então parcial? Porque não aceita suas responsabilidades. Porque não reconhece os limites daquele que observa, assim como de seu próprio horizonte. [2] 

Mas se existe um nível mais elevado, mais amplo do que este analisado pelo observador, somos levados a falar da situação espiritual do tempo presente, possibilidade que pode ser qualificada de responsável. E é possível chegar a tal patamar de observação? [3]

Caso exista um ponto de vista mais elevado, a partir do qual se posicione um atalaia do tempo presente, como deve ser este mirante? Deve estar numa altura acima de qualquer comparação. Só o absolutamente inacessível, incomparável, incondicionado, livre das amarras do historicismo, pode ser de fato responsável. 

Partindo dessa realidade, pode-se dizer que existiram pessoas que interpretaram a situação espiritual de uma época dada. Eis aqui o ponto de intersecção entre o tempo presente e a crítica protestante. Seguindo a trilha aberta por Tillich, que cita a paixão de Troeltsch no combate ao historicismo, e que terá seus estudos sobre profetismo reconhecidos inclusive por estudiosos judeus, [4] é possível afirmar que o princípio profético traduz inquietude e descontentamento em relação aos acontecimentos sociais e religiosos concretos. 

Há uma semelhante busca ética de respostas entre aquele que encarna a crítica protestante e a ação consciente do intelectual orgânico [5]. Ambos representam determinada comunidade, têm função superestrutural e, apesar de sua organicidade, precisam exercer autonomia em relação às pressões sociais que sofrem. É dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo poder. E um poeta nosso expõe isso muito bem. Vamos ouvir Thiago Grulha. 

Notas
[1] Paul Tillich, Kairós II in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 255-267, tradução francesa do original Kairós. Zur Geisteslage und Geisteswendung, Gesammelte Werke, 1926, VI, pp. 29-41. 
[2] Idem, op. cit., p. 255. 
[3] Idem, op.cit., p. 255. 
[4] León Epsztein, em A Justiça Social no Antigo Oriente Médio e o Povo da Bíblia, São Paulo, Edições Paulinas, 1990, p. 116 cita E. Troeltsch, Das Ethos der hebraischen Propheten, in Log., 191, p. 1:28. 
[5] “Se e a relação entre intelectuais e povo-nação, entre dirigentes e dirigidos - entre governantes e governados - é dada por uma adesão orgânica, na qual o sentimento paixão torna-se compreensão e portanto saber (não mecanicamente, mas de forma viva), é somente então que a relação é de representação e que se produz o intercâmbio de elementos individuais entre governados e governantes, entre dirigidos e dirigentes, isto é: que se realiza a vida conjunta que, só ela, é a vida social, cria-se um bloco histórico”. Antonio Gramsci, Il Materialismo Storico e la Filosofia di Benedetto Croce, Turim, Einaudi, 1966, p. 115. 


Tempo Para Amar
Thiago Grulha

Olhei no relógio e o dia já se foi
E eu não disse te amo pra ninguém
Até tive chances mas deixei pra depois
Quanta coisa na vida eu deixei pra depois também,
Pra depois também
Estava com pressa
Não abracei meus pais
Não escutei a quem pedia atenção
Pra correr e vencer, deixei amigos pra trás
Estou ganhando o mundo
Perdendo meu coração

Quem não tem tempo para amar
Morre por dentro a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo

Olhei no relógio e ainda é cedo, eu sinto a alma amanhecer
O amor perfeito lança fora o medo
Quem decide amar, decide viver
Decide viver

Quantos esperam o nosso olhar de amor
Palavras que confortem o coração
Em dia de guerra, de ódio e rancor

Só o amor de Deus é que traz salvação

Quem não tem tempo para amar
Morre por dentro a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo

Quem não tem tempo para amar
Morre com o tempo a cada segundo, a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo
O amor de Deus transforma o mundo
O amor de Deus transforma tudo.