mercredi 12 octobre 2011

Ainda que a figueira não floresça

mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador” (Habacuque 3.18).

Ele é o homem do abraço carinhoso, de coração generoso, que carrega quem sofre no colo. Esse Habacuque procura uma profecia de conforto, que dê ânimo ao povo, como se faz com uma criança que chora. Mas não é isso que acontece.

Habacuque reclama da decadência moral dos judeus e lamenta. E quando o Eterno informa que mobilizará os caldeus para exterminar a apostasia, estarrecido Habacuque diz ao Eterno que os caldeus são piores do que os judeus, que são traiçoeiros, e destroem tudo que encontram pela frente. Idolatram sua própria força e capacidade militar, ao invés de dar glória ao Eterno.

Habacuque, porém, sabe que o Eterno é puro de olhos e, por isso, espera a solução que virá dele. No entanto, está perplexo, a justiça do Eterno para com os inimigos caldeus e os judeus apóstatas não virá como fogo do céu, exclusivamente sobre os pecadores, mas como tsuname que avançará sobre inimigos e apóstatas e sobre todos. E o justo não surfará sobre essa maré de destruição -- deverá repousar apenas na sua fé.

Agradecimento, confiança e oração são as chaves espirituais para desvendar os mistérios do governo do Eterno sobre a terra. O espírito de Habacuaque e de seus irmãos vacilam entre o medo e a esperança, mas ao final os julgamentos do Eterno triunfarão alegremente.

Muitas vezes, quando falamos de crise entre as nações, ou de dor e sofrimento entre os cristãos, nos perguntamos se o Eterno está preocupado com essas coisas. A resposta para essas questões estão presentes no rolo de Habacuque. O profeta do primeiro testamento ensina que as nações e os povos são julgadas pelo bem e pelo mal que produzem no mundo. E que esses juízos muitas vezes atingem também os filhos de Deus.

Conhecedor da alienação de Judá e consciente de que os caldeus invadiriam seu país, Habacuque sofre diante do que acontecerá ao seu povo. O profeta ora ao Senhor (3.1-19) e pede que Ele tenha misericórdia no exercício da sua justiça.

E foi assim, num momento extremo de dor, que Habacuque compôs o final do seu livro, o capítulo três, que é um dos poemas mais lindos do primeiro testamento. Nele o profeta mostra que toda a glória e todo o louvor pertencem a Deus.

Glória pelo que Ele é: misericordioso. O Eterno não vem só para julgar, mas também para livrar. “Mesmo que estejas irado, tem compaixão de nós” (3.2).

Glória por sua majestade. Devemos aceitar a sua justiça, não porque entendemos ou deixamos de entender, mas porque Ele é o Eterno e nós somos pó. “Ele pára e a terra treme. Ele olha para as nações e elas ficam com medo” (3.6).

Glória por nos manter firmes na adversidade. Lembre-se: ainda que a figueira não floresça, que não haja uvas nas parreiras, que os campos não produzam alimentos e que o rebanho seja exterminado, Ele está ao seu lado. “O Deus Eterno é a minha força. Ele torna o meu andar firme”. (3.19).

Após as manifestações do Eterno no passado da história do povo, Habacuque canta, agora, a libertação antecipada contra o inimigo, através da interposição da majestade sublime do Eterno, de modo que aquele que crê pode regozijar-se no Eterno da sua salvação. Assim, o capítulo três, um salmo composto para ser cantado e acompanhado por instrumentos, fecha o livro com um lirismo cheio de esperança.

A violência aparentemente bem-sucedida dos caldeus, a apostasia dos judeus, e a maré da justiça de Deus, que varre a Palestina, é o pano de fundo para esse profeta de coração generoso falar de esperança e dizer que o justo viverá por sua fé, hn"Wma/ (emuná), por seu posicionamento consciente e fiel diante da vontade soberana do Eterno.

Por isso, querido irmão, querida irmã, como Habacuque não se esqueça: quando tudo parece perdido, com Deus ainda não está perdido. Quando chegamos ao final de nossos recursos, os recursos de Deus ainda estão disponíveis. E quando a crise, a dor e o sofrimento nos encurralam, precisamos olhar para o alto, porque é Ele quem torna o teu andar firme como o de uma corça e quem te leva para as montanhas, onde estarás seguro (3.19).

Que a fé de Habacuque sirva de exemplo para você e para mim. Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

 

Eu, você e o eterno

O humano herdou do Eterno nomeado sistemas que possibilitam o relacionamento com a transcendência e viver a presença dessa transcendência na existência material. A imagem do eterno tem um poder extraordinário. Ela afeta a psique do humano com tal força que, diante dela, nos perguntamos: esse imagem é real? E perguntamos isso porque está nomeado que só um é eterno, pai de todos, que está acima de todos e que atua através de todos e em todos (Ef 4.6). Donde, outra questão nos é colocada: somos ou não proprietários do poder? O humano tem o desafio de vencer obstáculos e construir a existência, herdou potencialidades. Não é proprietário do poder do Eterno nomeado, mas não nasceu tabula rasa, deve construir consciência. Trouxemos sistemas que nos possibilitam ser humanos. Somos imago Dei.

Quando olhamos para o humano percebemos que o transcendente é fundante, porque as imagens ancestrais estão relacionadas com a construção da consciência. Ou seja, devemos trabalhar pelo que permanece e que é entregue pelo eterno
(Jo 6.27). Temos, por isso, que descobrir as leis eternas, mas intuímos que, em última instância, brotam da união da transcendência presente nas bordas da existência com o Eterno nomeado. Ou seja, em relação ao Eterno, o humano tem a capacidade de integrar a eternidade no modelo da existência.

O Eterno se identifica com as imagens nomeadas, é espírito de conhecimento e sabedoria que atrai
(Ef 1.17), mas tais imgens nomeadas nem sempre estão conscientes e vivas na existência pessoal. Isto é um perigo, porque a identificação não consciente leva à idolatria, fica-se amarrado por dentro, sem usufruir da possibilidade de saltar do mundo interior em direção à transformação da realidade que alucina.

Quando o eterno não potencializa efetivamente a consciência humana, nem experimentamos o processo de individuação que faz de nós imago Dei, que nos leva ao confronto entre as realidades do que está dentro com o que está fora, não usufruimos do que está nomeado e deve ser construído. Embora a decisão da eternidade é que sejamos filhos, pois fomos gerados por ela em por issom devemos destuir o que é de barro
(Sl 2.7-9). Quando essa construção não se dá, somos sombra. Somos sem destino.
 
O desenvolvimento da consciência retoma as características do Eterno nomeado, pois a todos
foi dado as ferramentas necessárias (Ef 4.7) que possibilitam a construção da relação do que é pessoal com o que é eterno. Isso é desenvolvimento humano. Quando a transcendência brota nas vidas temos consciência dos perigos da existência. E o espírito humano parte para o desafio de criar estruturas para suportar tanto a realidade interna como a realidade externa, a fim de identificar os demônios que querem nos lançar nas profundezas do mar infinito.

O espírito humano deve construir estruturas de diálogo entre as alegrias e as angústias da existência, pois
não há nada melhor do que gozar o resultado daquilo que se faz. Essa é a recompensa (Ec 3.22). Céu e terra é correlação necessária, porque na presença do eterno que se faz consciente a liberdade humana é polaridade, é viver a vida diante da tirania do não-ser.