vendredi 9 mars 2018

Kadish

Neste último livro, Kadish, vida, morte e reino, Jorge Pinheiro pensa a relação entre existência e eternidade. Mas faz isso a partir do dia-a-dia da própria existência. Sabemos que nosso autor viveu uma vida de tal intensidade e força, que muitos gostariam de ter tido a oportunidade de fazê-lo também. Assim, embora o texto seja prosa, mas tenha também poesia e teatro, ele é biográfico. Mas isso o leitor deverá descobrir, porque ele escreve de um futuro próximo, e nesse sentido faz ficção que cobre o presente e o passado.

Escreve rompendo as linhas do tempo, mas também do espaço, combinando lugares e experiências. 

Estamos diante de um texto profundamente teológico que apresenta novas leituras, nem sempre ortodoxas, sobre temas milenares. Diante disso, só podemos desejar a você leitor, uma boa leitura. 

Yoffe Shemtov







mardi 6 mars 2018

73, algumas imagens e um pouco de aritmética


Assim diz IHVH rei de Israel e seu redentor IHVH Sabaot Eu o primeiro Eu o último fora de mim não há elohim”. Ieshayahu 44.6.


IHVH, o tetragrama, τετραγράμματον, é o teônimo hebraico יהוה, transliterado em letras latinas, é o primeiro, e 73 remete a uma imagem, porque o dom da luz para a vida é a chanucá ou hanucá, חנכה ḥănukkāh ou חנוכה ḥănūkkāh, é o festival das luzes, que nos fala de dedicação e inauguração. A cada vez que retiramos uma hanucá de 73 temos uma dezena, 64, 55, 46, 37, 28, 19, até chegar à primeira dezena. Ora, o dom da hanucá é 9. Ou seja, se dá dezena tirarmos o dom das luzes teremos o início, bereshit, בראשית, a primeira palavra do texto da torá, תּוֹרָה, instrução, os cinco primeiros livros do Tanakh, hamishá humshêi torá, חמשה חומשי תורה, as cinco partes da torá), porque “Elohim diz uma luz será e uma luz é.” 

Números, números. Segundo Pitágoras, o universo é regido por relações matemáticas e a partir daí continuamos nossa viagem, na construção de imagens : 73 é o 21º número primo. Ele forma com o precedente, 71, um par de primos gêmeos. Na sua forma decimal, um número primo permutável, uma vez que uma permutação dá 37 que também é primo. A sua permutação 37 é um número hexagonal centrado, 37 é também o 12º número primo que é a permutação de 21, 21 é o produto de 7 e 3. 

O binário de 21 é 10101 que é palíndromo – que se lê igual da frente para trás -- em binário, um número palíndromo primo: 1001001 que também tem a característica de ser um número de 7 bits, incluindo três 1. Na base 8, um número uniforme: 111, um número estrelado. O número primo menor que é a soma de três cubos diferentes: 73 = 64 + 8 + 1; 73 tomado na forma 7 para o cubo dão 343, 3 + 4 e 3, 73 assim também. Qualquer número inteiro positivo pode ser expresso como a soma de no máximo 73 sextos plenos. 

O início, a cabeça, bereshit nos leva à declaração de IHVH, Eu o primeiro, Eu o último. IHVH é o fundamento, é o Eterno. Por isso, 73 traduz a imagem daquele que foi completado, onde as partes interagem, onde o que está fora encontra equilíbrio, mas onde a autonomia se preserva.

“Entenda Iaacob Israel chamado Eu ele Eu o primeiro o último também”. Ieshayahu 48.12.

Jorge Pinheiro
Montpellier, 5 de março de 2018.



















dimanche 4 mars 2018

Entregue o bandido

A Páscoa, celebração da ressurreição, se aproxima, 
vamos nos preparar para ela?

Entregue o bandido e viva o Cristo


Em relação à vida cristã, o apóstolo Paulo diz que há três tipos de pessoas: 

(1) A natural, que não tem o Espírito como senhor da vida: “Mas quem não tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que vêm do Espírito e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucura para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual”. (1Coríntios 2.14).

(2) A espiritual, que tem o Espírito como senhor e procura pensar a vida como Jesus haveria de pensar: “A pessoa que tem o Espírito Santo pode julgar o valor de todas as coisas, porém ela mesma não pode ser julgada por ninguém. Como dizem as Escrituras Sagradas: 'Quem pode conhecer a mente do Senhor? Quem é capaz de lhe dar conselhos?' Mas nós pensamos como Cristo pensa”. (1Coríntios 2.15-16).

(3) E a carnal, que tem a fé e o ensino, mas confia em seus próprios esforços para viver a vida: "Na verdade, irmãos, eu não pude falar com vocês como costumo fazer com as pessoas que têm o Espírito de Deus. Tive de falar com vocês como se vocês fossem pessoas do mundo, como se fossem crianças na fé cristã. Tive de alimentá-los com leite e não com comida forte, pois vocês não estavam prontos para isso. E ainda não estão prontos, porque vivem como se fossem pessoas deste mundo. Quando existem ciumeiras e brigas entre vocês, será que isso não prova que vocês são pessoas deste mundo e fazem o que todos fazem?” (1 Coríntios 3:1-3)

E leia este trecho 

Filipenses 2.1-11. “Por estarem unidos com Cristo, vocês são fortes, o amor dele os anima, e vocês participam do Espírito de Deus. E também são bondosos e misericordiosos uns com os outros. Então peço que me dêem a grande satisfação de viverem em harmonia, tendo um mesmo amor e sendo unidos de alma e mente. Então peço que me dêem a grande satisfação de viverem em harmonia, tendo um mesmo amor e sendo unidos de alma e mente. Que ninguém procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros. Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha: Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte — morte de cruz. Por isso, Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é o mais importante de todos os nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai”.

O amor cristão

É preciso coragem para ir à luta, como as Escrituras Sagradas nos desafiam. E a principal dessas lutas, diz respeito ao nosso caráter. Por isso, fazer aos outros aquilo que nós desejamos que nos façam, é a melhor definição de amor. Isso quer dizer que devemos considerar as pessoas da nossa família, os amigos, mas também aqueles de quem discordamos tão importantes quanto nós. Significa aprender a respeitar as pessoas e entender que não estão aqui por acaso. Esse é o amor que Jesus ensinou.

O jeito de Deus para completar a sua transformação em nossa vida é a obra do Espírito Santo. Caso você tenha aceitado Jesus como Senhor da sua vida, uma das primeiras coisas que o Pai fará é introduzir o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, na sua vida.

Através do Espírito Santo, Ele vai realizar um processo de transformação, trabalhando todos os dias para mudar seu caráter, na sua forma de agir e reagir espiritualmente. O Espírito Santo se dedicará a edificar a sua vida através do amor. Mas você deve cooperar com Ele.

Como você tem experimentado a presença e o poder transformador do Espírito Santo
na sua vida?
Medite sobre uma situação em que você não cooperou como devia com o Espírito Santo e quais foram as conseqüências. 

Durante a semana medite nos seguintes textos e converse com Deus

Segunda-feira Seja forte Salmos 31.24

Terça-feira O sofrimento vai passar Jó 11.16-19

Quarta-feira Deus refaz a vida Salmos 138.7

Quinta-feira Entrega o problema a Deus Salmos 55.22

Sexta-feira Não se desespere João 14.1

Sábado Deus quer p/ você Jeremias 29.11

Texto para reflexão

Fomos chamados à liberdade. O que significa isso? Bem, talvez falar de corvos, gaviões e passarinhos ajude...

ENTREGUE O BANDIDO

Em 1965, Pier Paolo Pasolini, um dos gênios do cinema italiano, filmou “Gaviões e passarinhos”, história que é uma metáfora sobre a liberdade. Numa estrada vazia, um senhor e seu filho encontram um corvo que fala. O corvo os transforma em dois monges franciscanos e eles são obrigados a pregar para gaviões e passarinhos. O próprio Pasolini diria:

"Nunca criei um filme tão desarmado, frágil e delicado como esse. Ele não se parece com meus filmes anteriores e não se parece com nenhum outro filme... Seu surrealismo tem pouco a ver com o surrealismo histórico, mas fundamentalmente com o surrealismo das fábulas".

O filme é uma parábola sobre a crise existencial, representada pelo corvo. Pai e filho representam as pessoas inocentes que não sabem como enfrentar as falsidades do mundo. A liberdade tem um custo. O custo de enfrentar as limitações de nosso caráter, em primeiro lugar. E é sobre isso que vamos falar: entregue o bandido, agora!

Jesus disse que deveríamos apresentar nossas necessidades ao Pai, em nome dele (João 14.13), e que ele, Jesus, nos responderia para que o Pai fosse glorificado no Filho. A idéia do texto é que devemos apresentar, entregar a Deus nossas necessidades. É como se disséssemos: “Senhor, olha a minha situação, quero lhe entregar este problema, fica com ele, com o problema, a dor, e supre minha necessidade”.

Aprendi com um amigo pastor, que muitas vezes devemos entregar nossas dificuldades de caráter a Deus, como o xerife leva o bandido para a cadeia. “Deus, eis aqui o meu pecado, ele é um bandido na minha vida, eu não quero mais ele comigo. Coloca ele não cadeia”. E Jesus agarra a limitação do seu caráter e prende. E você sai de diante de Deus, em paz, sem nenhum pecado bandido para infernizar a sua vida.

Nesse sentido, como disse o sábio, há tempo para tudo. E você deve definir os tempos de sua liberdade. Isso significa, em primeiro lugar, dizer que a partir de agora, desse momento, você não quer mais conviver com essa falha do seu caráter.

Muitas pessoas sofrem e oram a Deus para que as liberte de uma dependência, de uma alienação, mas não entregam o bandido ou, como diziam os jovens da FEBEM, “não soltamos o refém”. Você tem que soltar o refém.

Ao fazer isso, você não está exigindo nada de Deus. Você não está mandando em Deus. Ao contrário, você está fazendo exatamente aquilo que Ele deseja. Quando você entrega a Deus o seu problema, o seu vício, o seu pecado, você não sai vazio da presença de Deus. Como o herói de um filme de bang bang que capturou o bandido procurado e o entregou ao xerife, você, pela graça, recebe uma recompensa espetacular: o fruto do Espírito. Cada bandido procurado e entregue, você pode trocar por um gomo do fruto do Espírito. Você entrega o bandido do ódio e sai com o amor, você entrega a bandida da ira e sai com a paz no coração.

Agora você sabe que tem uma tarefa pela frente, fixar os tempos da sua liberdade. Prepare-se: esta é a semana em que você está desafiado a entregar algum bandido que inferniza a sua vida vida -- o ódio ou um de seus cúmplices: antipatia, aversão, enfado, nojo, raiva, repugnância. Lembre-se, nessa tarefa o Espírito Santo é seu aliado, ele vai lhe dar coragem e força, vai lhe animar para você cumprir a missão. Vá em frente, você pode!

Por isso, como na parábola de Pasolini, somos chamados a pregar para gaviões e passarinhos. Somos livres em Cristo: chamados a viver no Espírito o desafio incondicional de realizar a verdade e fazer o bem.

vendredi 2 mars 2018

A revolução de Maio de 68


A revolução deu face a uma nova França, mas ...
Jorge Pinheiro, PhD


1968-2018. A revolução de Maio de 68 na França faz cinquenta anos. E para lembrar a primavera rebelde dos jovens e trabalhadores franceses escolhemos o caminho de deixar reflorescer nos corações os slogans que foram pintados nos muros, pichados nas portas, colados nos elevadores durante aqueles dias febris no Odéon, Nanterre, Sorbonne, Censier, Condorcet. No giz, em feltro, no spray, à tinta, em cal a imaginação tomou o poder. 

Cada slogan a sua maneira foi testemunho do sentimento fraterno, comunal, pela liberdade que, no espaço de dias, definiu os contornos utópicos de uma sociedade libertária e democrática. Não queremos aqui fazer uma sociologia dos slogans de Maio de 68, nem a crítica deles, mas deixar que o leitor brasileiro tenha contato com um pouco daquelas criações revolucionárias que mexeram com a imaginação de milhões de jovens nos anos que se seguiram. E nos ensinaram a fazer uma política criativa e cheia de vida... apesar dos erros, é lógico.

É proibido proibir/ O sonho é realidade/ As reservas impostas ao prazer excitam o prazer de viver sem reservas/ Sejamos cruéis!/ Tenho algo a dizer, mas não sei o quê/ Todo o poder abusa. O poder absoluto abusa absolutamente/ O agressor não é aquele que se revolta, mas o que afirma/ Ser livre em 1968 é participar/ Um homem não é estúpido ou inteligente: ele é livre ou não é/ Nós somos ratos (talvez) e mordemos/ Não me libertem, eu me encarrego disso/ A poesia está na rua/ Façam amor e recomecem/ A ação não deve ser uma reação, mas uma criação/ Corre camarada, o velho mundo está atrás de você/ Sob a calçada, a praia/ A vontade geral contra a vontade do general/ A revolução tem de deixar de ser para existir/ Abram o cérebro tantas vezes quanto a braguilha/ E se queimássemos a Sorbonne?/ Quando a assembléia nacional se transforma num teatro burguês, todos os teatros burgueses devem transformar-se em assembléias nacionais/ Sejamos realistas, exijamos o impossível/ O álcool mata, tomem LSD/ A liberdade é o crime que contém todos os crimes. É a nossa arma absoluta!/ Abramos as portas dos asilos, das prisões, e de outras faculdades/ A barricada fecha a rua, mas abre o caminho/ Trabalhador: você tem 25 anos, mas o seu sindicato é do outro século. Para mudar isso, venha ver-nos/ Não reivindicaremos nada, não pediremos nada, conquistaremos, ocuparemos/ Não é o homem, mas sim o mundo que se tornou anormal/ Enfureçam-se!/ A arte morreu. Não consumam o seu cadáver!/ Quanto mais faço amor, mais vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais faço a revolução, mais vontade tenho de fazer amor/ Violem a alma mater/ A humanidade só será feliz quando o último capitalista for enforcado nas tripas do último esquerdista/ A sociedade é uma flor carnívora/ O poder tinha as universidades, os estudantes tomaram-nas. O poder tinha as fábricas, os trabalhadores tomaram-nas. O poder tinha a ORTF, os jornalistas tomaram-na. O poder tem o poder, tomemo-lo/ Não é uma revolução, Senhor; é uma mutação/ A vida está alhures/ Não vão à Grécia este verão, fiquem na Sorbonne/ Não consumamos Marx/ A imaginação ao poder. 

O sonho do Maio de 68 invadiu os corações de jovens e trabalhadores do mundo. Atravessou oceanos, e chegou a continentes distantes. Os anos que se seguiram não foram de nostalgia, nem de pensar que o sonho tinha acabado, ao contrário, renasceu nas lutas de estudantes e trabalhadores latino-americanos. O levante de jovens e trabalhadores na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Uruguai, Venezuela e praticamente todos os países deste continente viveram um pouco disso, com a formação de sindicatos, mobilizações e movimentos guerrilheiros, que traduziram a realidade do poder operário nas fábricas e bairros. Mas também aconteceu nos campos, nas fazendas invadidas, e nas escolas e universidades ocupadas pelos estudantes.

Abaixo a sociedade do espetáculo!

No Brasil, neste ano da graça de 2018, a massa de excluídos de bens e possibilidades permanecem em compasso de espera. Esperam, em compasso de, desnorteados, drogados pela indústria do espetáculo. Por isso, não são vistos como perigo que ameaça. 

A classe média, os qualificados e qualificadas, curva-se. Sente-se coproprietária e mostra os dentes quando pensa estar ameaçada a perenidade do espetáculo. Mas, apesar desse instinto de sobrevivência que faz dela serva, não tem estabilidade no emprego, não vê crescimento da economia, e nem o fim da inflação, que sempre ameaça no fim do túnel. A corda estica e ameaça romper-se. E a classe média que até agora tentou frear as crises, vê-se às voltas com a presença constante, em cada esquina, bem ali do lado de sua casa, dos excluídos que a seu jeito parecem querer também o seu Maio francês. 

Este cenário ajuda a pensar os acontecimentos que estão à porta, embora não tenham valor de modelo e ainda menos lei da natureza social. O ano da graça de 2018 pode ser igual aos outros anteriores, de laço e maltrato, mas pode também ser a chave a dar volta à fechadura e abrir a porta. E o equilíbrio social, esta correia de aceite do espetáculo, pode se fazer desequilíbrio e trazer de volta a alegria do "é proibido proibir".














Mai 68 : nuit des barricades