samedi 3 avril 2021

Minhas leituras do Novo Testamento

 Novo Testamento

Minhas leituras

Jorge Pinheiro

 

Jesus, alegria da humanidade!

 

 

Jesus transforma água em vinho

João 2. 1--11.

 

No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali. Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse:

-- Eles não têm mais vinho.

Respondeu Jesus:

-- Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou. Sua mãe disse aos empregados:

-- Façam tudo o que ele lhes mandar

Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabiam entre oitenta e cento e vinte litros. 

Jesus disse aos empregados:

-- Encham os potes com água

E os encheram até a borda.

Então lhes disse:

-- Agora, levem um pouco ao encarregado da festa

Eles assim fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora os empregados soubessem que haviam tirado a água. Então o noivo chamou o encarregado e disse:

-- Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido, mas você guardou o melhor até agora

Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

 

A história da presença de Jesus no casamento da Caná para muitos historiadores abre o ministério de Jesus e a transformação da água em vinho é o primeiro milagre de Jesus. Era um momento de alegria, o maior na cultura judaica, que de repente ficara ameaçado pela falta de um dos principais componentes da festa: o vinho. É interessante que a transformação da água em vinho não é acompanhada de nenhum discurso, nenhuma palavra especial. Apenas uma constatação: de que aquele vinho era o melhor.

 

Mas o evangelista deixa claro que aquele sinal, aquele milagre, o da alegria, significa o começo de uma nova era para o mundo: estamos diante daquele que é a alegria da humanidade.

 

O Testemunho de João batista

João 3.27-29.

 

A isso João batista respondeu:

-- Uma pessoa só pode receber o que lhe é dado dos céus. Vocês mesmos são testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo, mas sou aquele que foi enviado adiante dele. A noiva pertence ao noivo. O amigo que presta serviço ao noivo e que o atende e o ouve, enche-se de alegria quando ouve a voz do noivo. Esta é a minha alegria, que agora se completa.

 

 

João batista explica sua relação com Jesus, tirando uma ilustração do Antigo Testamento, que fala da relação de Deus com sua noiva Israel. (Isaías 54.2-10). João é apenas o amigo do noivo, a quem compete procurar a noiva para o noivo, e preparar todas as coisas necessárias para o casamento.

 

A responsabilidade inclui a preparação do contrato de casamento e, interessante, obriga-o a permanecer diante do quarto nupcial para atender qualquer pedido do noivo. João batista estava alegre porque o povo seguia Jesus, e isso mostrava que o seu próprio ministério tinha frutificado, pois a alegria do precursor é abrir caminho para a alegria do casamento. 

 

A tristeza será transformada em alegria

João 16.16-24

 

-- Mais um pouco e já não me verão; um pouco mais, e me verão de novo.

Alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros:

-- O que ele quer dizer com isso: Mais um pouco e não me verão; e um pouco mais e me verão de novo, e porque vou para o Pai?

E perguntavam:

Que quer dizer 'um pouco mais'? Não entendemos o que ele está dizendo.

Jesus percebeu que desejavam conversar com ele a respeito disso, e lhes disse:

-- Vocês estão perguntando uns aos outros o que eu quis dizer quando falei: Mais um pouco e não me verão; um pouco mais e me verão de novo? Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria. A mulher que está dando à luz sente dores, porque chegou a sua hora; mas, quando o bebê nasce, ela esquece a angústia, por causa da alegria de ter vindo ao mundo. Assim acontece com vocês: agora é hora de tristeza para vocês, mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão, e ninguém lhes tirará essa alegria. Naquele dia vocês não me perguntarão mais nada. Eu lhes asseguro que meu Pai lhes dará tudo o que pedirem em meu nome. Até agora vocês não pediram nada em meu nome. Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa.

 

Jesus agora faz referência à tristeza dos discípulos, que lamentam a perspectiva da sua partida. Será retirada sua presença física, porém sua presença espiritual seria realizada nas obras do Espírito Santo, começando com Pentecostes e continuando durante toda a vida da Igreja. 

 

Os discípulos pensam que a referência a um pouco contradiz sua declaração concernente sua ida para o Pai. Jesus percebe esta confusão de pensamento, sem procurar corrigi-la. Responde em termos positivos que elucidam seu próprio pensamento. A tristeza aos onze se converterá em alegria. Compara essa tristeza às dores de parto que são passageiras. Depois de nascida a criança o temor é esquecido sendo substituído pela alegria. A alegria dos discípulos nasceria do seu sofrimento espiritual: Jesus voltará após a sua morte e ninguém jamais poderia roubar lhes aquela alegria.

 

Naquele dia não se fará mais perguntas como as que agora tanto perturbam os discípulos. Nada me perguntareis... Se pedirdes alguma coisa, pedirão em conformidade com a vontade de Deus. Jesus os inspira a pedir naquele sentido e garante-lhes o gozo de serem atendidos.

 

 

Lições da estrada de Emáus

A ressurreição, bênção da integridade de Deus

 

 

Lucas 24.

 

13 - Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús, que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém. 14 - Eles estavam conversando a respeito de tudo o que havia acontecido. 15 - Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus chegou perto e começou a caminhar com eles, 16 - mas alguma coisa não deixou que eles o reconhecessem. 17 - Então Jesus perguntou: - O que é que vocês estão conversando pelo caminho? Eles pararam, com um jeito triste, 18 - e um deles, chamado Cleopas, disse: - Será que você é o único morador de Jerusalém que não sabe o que aconteceu lá, nestes últimos dias? 19 - O que foi? - perguntou ele. Eles responderam: - O que aconteceu com Jesus de Nazaré. Esse homem era profeta e, para Deus e para todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras. 20 - Os chefes dos sacerdotes e os nossos líderes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. 21 - E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu. 22 - Algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram espantados, pois foram de madrugada ao túmulo 23 - e não encontraram o corpo dele. Voltaram dizendo que viram anjos e que estes afirmaram que ele está vivo. 24 - Alguns do nosso grupo foram ao túmulo e viram que realmente aconteceu o que as mulheres disseram, mas não viram Jesus. 25 - Então Jesus lhes disse: - Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! 26 - Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória. 27 - E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os Profetas. 28 - Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez como quem ia para mais longe. 29 - Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo: - Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando. Então Jesus entrou para ficar com os dois.
30 - Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e deu a eles. 31 - Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Jesus. Mas ele  desapareceu. 32 - Então eles disseram um para o outro: - Não parecia que o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas? 33 - Eles se levantaram logo e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos reunidos com outros seguidores de Jesus.

 

A ressurreição, bênção da integridade de Deus

 

O passado e o futuro

 

Quando pensamos na ressurreição pensamos em duas coisas: lá atrás na história, Deus ressuscitou Jesus. E lá na frente, um dia, Deus vai nos ressuscitar. Assim a ressurreição tem passado e futuro. São duas colunas: passado e futuro. Mas e hoje? Será que a ressurreição tem alguma coisa a ver com o mu presente?

 

2. Os limites da existência

 

Lucas 24.21 – E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu.

 

A morte personifica os limites intransponíveis da existência. A morte personifica o medo existencial, o fim da esperança e a perda do sentido da vida.

 

Com a morte de Jesus morreu algo na vida dos discípulos... Assim como a morte do esposa mata algo na esposa, a morte do amigo mata algo amigo, a morte de Jesus matou nos discípulos a vida que dava sentido à vida de cada um deles. 

 

E foi isso que aconteceu com aqueles discípulos de Emaús:  vagavam à noite pela estrada da vida, cabisbaixos, derrotados. A vida não tinha mais sentido para eles.

 

E é assim que acontece conosco muitas vezes: andamos desesperançados, derrotados pela realidade que esmaga a vida e destrói o futuro. 

 

 

O novo nasce pela fé na ressurreição

 

25 - Então Jesus lhes disse: - Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! 26 - Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória.

 

Jesus transpôs a barreira dos limites impostos a existência. O novo nasce quando nos reunimos com o irmão ao redor da mesa, ouvimos a Palavra e repartimos o pão. 

 

29 - Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo: Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando. Então Jesus entrou para ficar com os dois. 30 - Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e deu a eles. 31 - Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Jesus.

 

Vencemos as crises quando redescobrimos o sentido da fé na ressurreição. Isso acontece quando nos reunimos com o irmão, ouvimos a Palavra e repartimos o pão.

 

Por isso, a ressurreição não é um dado do passado e um futuro de esperança. É um fato presente, uma bênção da integridade de Deus para nossa vida presente. A ação de Deus que no passado trouxe Jesus à vida é a mesma que a cada dia te dá força.

 

Mas lembre-se: não é um ato solitário a descoberta da fé na ressurreição. É um ato solidário, que implica em ouvir a Palavra e repartir o pão.

 

A ressurreição de Jesus é a expressão permamente do compromisso irrevogável de Deus conosco.

 

 

Maria, eis aqui a serva do Senhor

 

Lucas 1 -- 26 - Quando Isabel estava no sexto mês de gravidez, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré. 27 - O anjo levava uma mensagem para uma virgem que tinha casamento contratado com um homem chamado José, descendente do rei Davi. Ela se chamava Maria. 28 - O anjo veio e disse: - Que a paz esteja com você, Maria! Você é muito abençoada. O Senhor está com você. 29 - Porém Maria, quando ouviu o que o anjo disse, ficou sem saber o que pensar. E, admirada, ficou pensando no que ele queria dizer. 30 - Então o anjo continuou: - Não tenha medo, Maria! Deus está contente com você. 31 - Você ficará grávida, dará à luz um filho e porá nele o nome de Jesus. 32 - Ele será um grande homem e será chamado de Filho do Deus Altíssimo. Deus, o Senhor, vai fazê-lo rei, como foi o antepassado dele, o rei Davi. 33 - Ele será para sempre rei dos descendentes de Jacó, e o Reino dele nunca se acabará. 34 - Então Maria disse para o anjo: - Isso não é possível, pois eu sou virgem! 35 - O anjo respondeu: - O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Deus Altíssimo a envolverá com a sua sombra. Por isso o menino será chamado de santo e Filho de Deus. 36 - Fique sabendo que a sua parenta Isabel está grávida, mesmo sendo tão idosa. Diziam que ela não podia ter filhos, no entanto agora ela já está no sexto mês de gravidez. 37 - Porque para Deus nada é impossível. 38 - Maria respondeu: - Eu sou uma serva de Deus; que aconteça comigo o que o senhor acabou de me dizer! E o anjo foi embora. 39 - Alguns dias depois, Maria se aprontou e foi depressa para uma cidade que ficava na região montanhosa da Judéia. 40 - Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41 - Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se mexeu na barriga dela. Então, cheia do poder do Espírito Santo, 42 - Isabel disse bem alto: - Você é a mais abençoada de todas as mulheres, e a criança que você vai ter é abençoada também! 43 - Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?! 44 - Quando ouvi você me cumprimentar, a criança ficou alegre e se mexeu dentro da minha barriga. 45 - Você é abençoada, pois acredita que vai acontecer o que o Senhor lhe disse. 46 - Então Maria disse: 47 - - A minha alma anuncia a grandeza do Senhor. O meu espírito está alegre por causa de Deus, o meu Salvador. 48 - Pois ele lembrou de mim, sua humilde serva! De agora em diante todos vão me chamar de mulher abençoada, 49 - porque o Deus Poderoso fez grandes coisas por mim. O seu nome é santo, 50 - e ele mostra a sua bondade a todos os que o temem em todas as gerações. 51 - Deus levanta a sua mão poderosa e derrota os orgulhosos com todos os planos deles. 52 - Derruba dos seus tronos reis poderosos e põe os humildes em altas posições. 53 - Dá fartura aos que têm fome e manda os ricos embora com as mãos vazias. 56 - Maria ficou mais ou menos três meses com Isabel e depois voltou para casa.

 

Maria, nossa irmã de fé

 
1. Maria foi escolhida por Deus – era reta, justa e pura aos olhos do Senhor. E Deus sabia que ela daria um exemplo de fé, obediência e humildade.


28 - O anjo veio e disse: - Que a paz esteja com você, Maria! Você é muito abençoada. O Senhor está com você.


2. Maria era uma jovem de coragem. Diante da missão, ser mãe do Salvador, não colocou seu casamento com José em primeiro lugar. Não teve medo de ser abandonada, nem de ser apedrejada. 

 

38 - Maria respondeu: - Eu sou uma serva de Deus; que aconteça comigo o que o senhor acabou de me dizer! E o anjo foi embora.

 

3. Quando sua prima

 

42 - Isabel disse bem alto: - Você é a mais abençoada de todas as mulheres, e a criança que você vai ter é abençoada também!

 

Maria não se envaideceu, nem mostrou orgulho, mas...

 

4. Adorou a Deus

 

46 - Então Maria disse: 47 - - A minha alma anuncia a grandeza do Senhor. O meu espírito está alegre por causa de Deus, o meu Salvador. 48 - Pois ele lembrou de mim, sua humilde serva! De agora em diante todos vão me chamar de mulher abençoada, 49 - porque o Deus Poderoso fez grandes coisas por mim. O seu nome é santo, 50 - e ele mostra a sua bondade a todos os que o temem em todas as gerações.

 

A missão seria difícil para Maria. Foi uma mãe sofredora. Sofreu na fuga para o Egito, sofreu diante das perseguições e das ameaças à vida de seu filho; e sofreu ao ver o filho traído, condenado e morto numa cruz.

 

O erro teológico dos católicos

 

Ano 431 - Maria é proclamada "Mãe de Deus".

 

Ano 609 - Culto da Virgem Maria, por Bonifácio IV. Invocação da Virgem Maria, estabelecida por lei na Igreja pelo Concílio de Constantinopla.

 

Ano 1125 - As primeiras idéias sobre a Imaculada Conceição de Maria, combatidas por São Bernardo.

 

Ano 1317 - Oração da Ave-Maria, papa João XXII.

 

Ano 1854 - A Imaculada Conceição da Virgem, papa Pio IX.

 

Ano 1950 - Assunção de Maria transformado em artigo de fé.

 

Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim. (João 14.6).

 

 


 

A INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE

 

 

Como se sabe, grande é o número de sistemas que tentam interpretar o Apocalipse. Todos concordam sobre o sentido geral do livro, que quer anunciar a vitória do Bem sobre o mal, do reino de Cristo sobre as maquinações dos pecadores. Divergem, porém, quando tentam indicar a época precisa em que o Apocalipse situa essa vitória. As diversas teorias se agrupam sob os títulos seguintes:

 

a. Sistema do fim dos tempos: João estaria descrevendo os embates finais da história. Esta interpretação esteve em voga na Antigüidade; foi posta de lado na Idade Média; do século XVI aos nossos dias é mais e mais prestigiada principalmente por parte de correntes que profetizam o fim do mundo para breve;

 

b. Sistema da história antiga (do século I aos séculos IV/V): o Apocalipse descreveria a luta do judaísmo e do paganismo contra os discípulos de Cristo, luta que terminou com a queda da Roma pagã (476) e o triunfo do Cristianismo;

 

c. Sistema da história universal: o Apocalipse apresentaria, sob a forma de símbolos, uma visão completa de toda a história do Cristianismo; descreveria sucessivamente os principais episódios de cada época e do fim do mundo. 

 

Todas estas interpretações são, de algum modo, falhas, pois não levam em conta suficiente o estilo próprio do livro e querem deduzir do Apocalipse notícias que satisfaçam aos anseios de concreto ou mesmo à curiosidade do leitor. Por isto, deixando-as de lado, proporemos a teoria da recapitulação, que tem seu grande mestre no Pe. E. B. Alio O.P., professor da Universidade de Friburgo (Suíça) e autor do livro: Saint Jean. L'Apocalypse. Paris, 1933 (4á edição)'. Examinemos essa teoria:

 

 

A Recapitulação

 

 

Antes do mais, é necessário observar que nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1.19: 

 

· 1.4-3.22: as coisas que são (revisão da vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais João escreve); o estilo é sapiencial e pastoral;

 

· 4.1-22.15: as coisas que devem acontecer depois. Esta é a parte apocalíptica propriamente dita, para a qual se volta a nossa atenção. Observemos a estrutura dessa parte:

 

· 4.1-5.14: a corte celeste, com sua liturgia. O Cordeiro "de pé, como que imolado" (5.6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. Tudo o que acontece no mundo está sob o domínio desse Senhor, que é o Rei dos séculos. Notemos assim que a parte apocalíptica do livro se abre com uma grandiosa cena de paz e segurança; qualquer quadro de desgraça posterior está subordinado a essa intuição inicial. 

 

O corpo do livro, que se segue, compreende três septenários: 6.1-8.1: os sete selos 8.2-11.18: as sete trombetas 15.5-16.21: as sete taças. Reflitamos sobre este núcleo central (de sentido decisivo) do Apocalipse. 

 

Pergunta-se: uma estrutura construída de forma tão sofisticada poderá ainda ser o reflexo imediato da história tal como ela é vivida pelos homens? Não seria, antes, o fruto de um arranjo lógico ou do trabalho de alguém que reflete sobre os acontecimentos e procura discernir alguns fios condutores por debaixo das diversas ocorrências da vida cotidiana?

 

Sabemos que o estilo de João é comparado ao vôo de uma águia que gira em torno do objeto contemplado até finalmente dar o bote ou dizer claramente o que quer. Levando em conta esta peculiaridade de estilo, podemos dizer que o autor não expõe os sucessivos acontecimentos concretos da história do Cristianismo, mas apresenta a realidade invisível que se vai afirmando constantemente por detrás dos episódios visíveis da história. 

 

Em outros termos: o Apocalipse apresenta (sob forma de símbolos) a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o fundo e a coluna dorsal de toda a história. Cada septenário (o dos selos, o das trombetas e o das taças) é uma peça literária completa em si mesma; o número sete, aliás, significa plenitude ou totalidade, segundo a mística dos antigos. 

 

A seguir, de 17.1 a 22.15, ou seja, após os três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal:

 

17.1-19.10: a queda de Babilônia (símbolo da Roma pagã);

 

19.11-21: a queda das duas feras que regem Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do Império); 

 

20.1-15: a queda do Dragão, supremo instigador do mal. 

 

Em contra partida, a seção final (21.1-22.15) mostra a Jerusalém celeste, Esposa do Cordeiro e antítese da Babilônia pervertida. Os vv. 22,16-21 constituem o epílogo do livro. Aprofundemos um pouco mais o sentido do tríplice septenário central do Apocalipse. 

 

O primeiro, o dos selos (6,1-8,1), nos dá a ver a paulatina abertura do livro que está nas mãos do Cordeiro. É o septenário mais sóbrio e nítido, que, pode-se dizer, resume o livro inteiro; examinemo-lo de perto:

 

O primeiro selo corresponde a "um cavalo branco, cujo cavaleiro tinha um arco. Deram-lhe uma coroa e ele partiu vencedor e para vencer ainda" (5,2). O cavalo branco reaparece em 19,11-16; seu montador é o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis (19,16). - Conseqüentemente dizemos que o primeiro septenário se abre com uma figura alvissareira: a do Verbo de Deus ou Evangelho que, vencedor (porque já propagado no mundo), se dispõe a mais ainda se difundir. Sobre este pano de fundo vêm os três flagelos clássicos da história:

 

O segundo selo corresponde ao cavalo vermelho, símbolo da guerra (6,3s);

 

O terceiro selo é o do cavalo negro, símbolo da fome negra e da carestia que a guerra acarreta (6,5s);

 

O quarto selo é o do cavalo esverdeado, símbolo da peste e da morte decorrentes da guerra e da fome (6,7s). 

 

Aí estão os três flagelos que afligem os homens em todos os tempos e que a Bíblia freqüentemente menciona; cf. Lv 26,23-29; Dt 32,24s; Ez 5,17; 6,11-12; 7,15; 12,16. 

 

Depois disto, o quinto selo apresenta os mártires no céu pedindo a Deus justiça para a terra ou o fim da desordem que campeia no mundo. Reproduzem o clamor dos justos de todos os tempos ansiosos de que termine a inversão dos valores na história da humanidade. Em resposta, é-lhes dito que tenham paciência e aguardem que se complete o número dos habitantes da Jerusalém celeste; cf. 6,9-11. 

 

O sexto selo já nos põe em presença do desfecho da história: chegou o Grande Dia do juízo final (6,17). Aparecem então os justos na bem-aventurança celeste: os judeus representados por 144.000 assinalados, e os provenientes do paganismo, a constituir "uma multidão inumerável de todas as nações, tribos, povos e línguas" (7,9); celebram a liturgia celeste. 

 

Aqui se encerra propriamente o primeiro septenário; compreende em suas grandes linhas os aspectos aflitivos da história da humanidade e o anseio dos justos para que a ordem se restabeleça; a consumação da história é, para os fiéis, vitória e felicidade. A consolação que João quer transmitir aos seus leitores, consiste precisamente em mostrar que as calamidades sob as quais os homens gemem, estão envolvidas num plano sábio de Deus, onde todos os males estão dimensionados para que sirvam à salvação das criaturas e à glória do Criador. Eis aí a síntese do Apocalipse apresentada com clareza no primeiro septenário. 

 

E o sétimo selo (8,1)? Corresponde a um silêncio de meia-hora. Sim, o livro se abriu por completo. João espera a execução dos desígnios de Deus contidos no livro aberto. Este silêncio de meia-hora é o "gancho" do qual pende o segundo septenário. O segundo e o terceiro septenários (8,2-11,18 e 15,5-16,21) retomam o conteúdo do primeiro com algumas variantes. Observemos, para começar, que terminam cada qual com a consumação da história (sétima trombeta em 11,1418 e sétima taça em 16,17-21). O segundo septenário tem em vista principalmente os flagelos que afligem o mundo profano: a terra, a vegetação, as águas, os astros... Ao contrário, o terceiro septenário tem em mira as sortes da Igreja perseguida pelo Dragão (Satanás) e seus dois agentes (o poder imperial pagão, que manipula a religião oficial do Estado pagão). Observemos dentro do segundo septenário o "gancho" do qual pende o terceiro septenário: em Ap 10,8-11 é entregue a João um livrinho, doce na boca e amargo no estômago. Como entender isto? -- O segundo septenário apresenta a execução do plano de Deus contido no livro cujos selos se abriram. Portanto, se deve haver outra série de revelações, deve haver também outro livro que as traga; é precisamente este que João recebe em 10,811 (amargo no estômago, porque portador de notícias pesadas para os cristãos fiéis). 

 

Merece atenção especial o intervalo ocorrente entre o segundo e o terceiro septenários, ou seja, a secção de 11,19 a 15,4. Ele prepara a série das taças, apresentando os grandes protagonistas da história da Igreja: a Mulher e o Dragão no capítulo 12; as duas Bestas, manipuladas pelo Dragão, sendo que a primeira sobe do mar (quem olha da ilha de Patmos para o grande mar, se volta para Roma) e representa o poder imperial perseguidor, ao passo que a segunda Besta sobe da terra (quem de Patmos olha para o continente próximo, volta-se para a Ásia Menor, onde campeia o culto religioso do Imperador); ver respectivamente Ap 13,1 e 11. 

 

A sede capital destes dois agentes é Babilônia (= a Roma pagã). O cap. 12, ao apresentar a Mulher e o Dragão, é também uma síntese da mensagem da Apocalipse e da história da Igreja, que será comentada na quarta parte deste estudo. - Como dito, os agentes do mal estão fadados a perecer, como se lê em 17,1-20,15, dando lugar à Jerusalém celeste e à bem-aventurança dos justos. 

 

Por conseguinte as calamidades que o Apocalipse apresenta a se desencadear sobre o mundo, não hão de ser interpretadas ao pé da letra; antes, depreender-se-á o seu sentido à luz das cenas de paz e triunfo que João intercala entre as narrativas de flagelos (enquanto os justos padecem na terra, há plena segurança no céu, conforme o Apocalipse). Justapondo aflições (na terra) e alegria (no céu), João queria precisamente dizer aos seus leitores que as tribulações desta vida estão em relação estrita com a Sabedoria de Deus; foram cuidadosamente previstas pelo Senhor, que as quis incluir dentro de um plano muito harmonioso, plano ao qual nada escapa. 

 

Em conseqüência, ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos se deviam lembrar de que tais adversidades não esgotam toda a realidade, mas são apenas as facetas externas e visíveis de uma realidade que tem seu aspecto celeste e grandioso. As calamidades sob as quais os cristãos do primeiro século se sentiam prestes a desfalecer, não os deveriam impressionar, constituíam como que o lado de baixo de um tapete que, visto no seu aspecto autêntico e superior, é um verdadeiro tapete oriental, cheio de ricas cores e belos desenhos. 

 

Eis a forma de consolo que João queria incutir aos seus leitores (não só do séc. I, mas de todos os tempos da história): os acontecimentos que nos acometem aqui na terra são algo de ambíguo ou algo que tem duas faces: uma exterior, visível, a qual é muitas vezes aflitiva e tende a nos abater; outra, porém, interior, invisível aos olhos da carne (mas perceptível aos olhos da fé), a qual é grandiosa e bela, pois faz parte da luta vitoriosa do Bem sobre o mal; é mesmo a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas atualmente reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c. 5). Por isto, enquanto os cristãos na terra gemem (Ai, ai, ai!), os bem-aventurados na glória cantam (Aleluia, aleluia, aleluia!). 

 

No céu os justos não se acabrunham com o que acontece de calamitoso na terra: continuam a cantar a Deus porque percebem o sentido verdadeiro das nossas tribulações. No dizer de João, essa mesma paz e tranqüilidade devem tornar-se a partilha dos cristãos na terra, pois, embora vivam no tempo e no mundo presentes, já possuem a eternidade e o céu sob forma de semente (semente da graça santificante, que é semente da glória celeste). 

 

Assim o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: é uma realidade simultaneamente da terra e do céu, do tempo e da eternidade. Na medida em que é da terra e do tempo, apresenta-se aflitiva. Este aspecto, porém, está longe de ser essencial: no seu âmago, a vida do cristão é celeste e, como tal, é tranqüila, à semelhança da vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo que os cristãos possuem na terra em germe. 

 

 

DOIS TEXTOS EM PARTICULAR

 

 

Examinaremos Ap 12.1-17 e 20.1-10. 

 

Ap 12.1-17

 

Este capítulo sintetiza toda a história da Igreja sob a forma da luta entre a Mulher e o Dragão, figuras paralelas às da Mulher e da serpente em Gn 3.15. Este trecho apresenta uma Mulher gloriosa e sofredora ao mesmo tempo. Está para dar à luz um filho que um monstruoso Dragão espreita para abocanhá-lo. A Mulher gera seu Filho, que tem os traços do Messias. Ele escapa ao Dragão e é arrebatado aos céus. Dá-se então uma batalha entre Miguel com seus anjos e o Dragão, que acaba sendo projetado do céu sobre a terra, onde procura abater a Mulher-Mãe, perseguindo-a de diversos modos. Mas o próprio Deus se encarrega de defender a Mulher no deserto durante os três anos e meio ou os 42 meses ou os 1260 dias de sua existência. 

 

Vendo que nada pode contra essa figura grandiosa, a Serpente antiga atira-se contra os demais filhos da Mulher, tentando perdê-los. Que significa este capítulo? Está claro que o Dragão representa Satanás, aquele que é "mentiroso e homicida desde o início" (cf. Jo 8.44). 

 

Quanto à Mulher, não pode ser identificada com algum personagem individual, mas é a Mulher que perpassa toda a história da salvação. Com efeito; já à primeira Eva (mãe dos vivos) Deus prometeu um nobre papel na obra da Redenção. A primeira Eva se prolongou na Filha de Sião, o povo de Israel, do qual nasceu o Messias. A filha de Sião culminou na segunda Eva, a Igreja de Cristo. Por isso, em Ap 12.1 e seguintes, a Mulher é gloriosa, mas sofredora como o povo de Israel, pois os filhos que ela gera estão sujeitos a ser atingidos pela sanha do Dragão, que age neste mundo como um Adversário já vencido, mas desejoso de arrebanhar os incautos que lhe dêem ouvidos. Agostinho diz que o demônio é um cão acorrentado: pode ladrar, fazendo muito barulho, mas só morde a quem se lhe chegue perto. Por último, esta Mulher-Mãe, Igreja que exerce sua maternidade por toda a história da salvação, se consumará na Jerusalém celeste, a Esposa do Cordeiro (Ap 21 s). 

 

A batalha entre Miguel e o Dragão não corresponde à queda original dos anjos, mas significa plasticamente a derrota de Satanás, vencido quando Cristo venceu a morte por sua Ressurreição e Ascensão. Deus permite Satanás tentar os homens nestes séculos da história da Igreja, com um fim providencial, provar e consolidar a fidelidade dos crentes. Satanás só age por permissão de Deus. 

 

A duração de 1260 dias ou 3 anos e meio que a Mulher passa no deserto, não significa cronologia, mas tem valor simbólico. Com efeito, três anos e meio, 42 meses e 1260 dias são termos equivalentes entre si: correspondem à metade de sete anos. Sete é o símbolo da totalidade, da perfeição, da bonança e, por conseguinte, a metade de sete é o símbolo do que está inacabado, da dor. Portanto, três anos e meio (e as expressões equivalentes em meses e dias) no Apocalipse traduzem toda a história da Igreja na medida em que não é algo concluído, que é a penosa luta da Igreja entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, no deserto deste mundo. 

 

Ap 20.1-10 

 

É este o trecho que fala de um  aparente reino milenar de Cristo sobre a terra, estando Satanás acorrentado. O milênio seria inaugurado pela primeira ressurreição, reservada aos justos apenas, aos quais seria dado viver em paz e bonança com Cristo. Terminado o milênio, Satanás seria solto para realizar a seu ataque final, que terminaria com a sua derrota definitiva. Dar-se-iam então a segunda ressurreição, para os demais seres humanos, e o juízo final. 

 

A teoria milenarista, entendida ao pé da letra, foi professada por antigos escritores da Igreja: Justino (+165), Irineu (+202), Tertuliano (+ após 220), Lactâncio (+ após 317). Agostinho (+430) propôs novo modo de entender o texto, a partir a leitura de João 5.25-29, onde se lê: 

 

“Em verdade, em verdade vos digo, aquele que ouve a minha palavra... passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo, que vem a hora, e já veio, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão”. 

 

“Não vos admireis disto, pois vem a hora em que ouvirão sua voz todos os que estão nos sepulcros. Os que praticaram o bem sairão para a ressurreição da vida, os que, porém, praticaram o mal, sairão para a ressurreição do juízo". 

 

Nesse trecho, o Senhor distingue duas ressurreições: uma, que se dá "agora" ("e já veio"), no tempo presente, quando ressoa a pregação da Boa Nova: é espiritual e publicitada através do batismo; equivale à passagem da vida no pecado para a vida na graça que santifica. A outra é futura e se dará no fim dos tempos, quando os corpos forem transformados pela vida na graça por enquanto latente nos salvos. 

 

Assim, no Apocalipse a ressurreição primeira é a passagem da morte para a vida que se dá na conversão de cada cristão, quando este começa a viver a vida sobrenatural ou a vida do céu em meio às lutas da terra. A segunda ressurreição é, sim, a ressurreição dos corpos, que se dará quando Cristo vier em sua glória para julgar todos os homens e por termo definitivo à história. 

 

Mil anos, em Ap 20.1-10, designam a história da Igreja na medida em que é luta vitoriosa ("mil" é um símbolo de plenitude, de perfeição; "mil felicidades", na linguagem popular, são "todas as felicidades"). Pela redenção na cruz, Cristo venceu o príncipe deste mundo (cf. Jo 12.31), tornando-o semelhante a um cão acorrentado, que muito pode ladrar, mas que só pode morder a quem voluntariamente se lhe chegue perto (Agostinho). 

 

É justamente esta a situação do Maligno na época que vai da primeira à segunda vinda de Cristo ou no decurso da história do Cristianismo. Por isto os três anos e meio que simbolizam o aspecto doloroso desses séculos (já estamos no vigésimo primeiro século), são equivalentes a mil anos, caso queiramos deter nossa atenção sobre o aspecto feliz, transcendente ou celeste da vida do cristão que peregrina sobre a terra: a graça santificante é a semente da glória do céu. 

 

Assim se vê quanto seria contrário à mentalidade de João tomar ao pé da letra os mil anos do capítulo 20 e admitir um reino milenário de Cristo visível na terra após o término da história atual. 

 

 

Considerações finais

 

O sistema da recapitulação proposto merece a preferência aos demais, pois é o que mais leva em conta a mentalidade e o estilo de João. Este, também no seu Evangelho, recorreu ao estilo da recapitulação em espiral. Contudo não se pode negar as alusões do Apocalipse aos personagens e situações da história antiga (Nero, a invasão dos bárbaros, Roma, Babilônia...). 

 

Mediante essas referências, João não tinha em vista deter a atenção do seu leitor sobre episódios da Antigüidade, mas mencionar tipos característicos de mentalidades humanas ou de situações de vida que acompanham toda a história da Igreja: assim Nero vem a ser o protótipo dos soberanos políticos que persigam a Igreja em qualquer época (há muitas reproduções de Nero através da história). Por isto também o número 666 da Besta do Apocalipse, adversária dos cristãos, equivale, segundo a interpretação mais provável, à expressão Kaisar Neron (Imperador Nero). 

 

Roma e Babilônia, por sua vez, designam de maneira típica o poderio deste mundo que, com seus mil atrativos de esplendor e prazer, procura seduzir os discípulos de Cristo para o pecado. A luta a que João assistiu, entre Roma pagã e a Igreja, é evocada no Apocalipse não por causa da luta propriamente dita, mas dentro de uma perspectiva mais ampla, isto é, a fim de simbolizar e predizer o combate perene que se vai travando entre o poder diabólico e Cristo através dos séculos, até terminar com a plena vitória do Senhor Jesus. 

 

Estas considerações concorrem para evidenciar quanto é vã a tentativa de descobrir a predição de fenômenos estranhos da hora presente (bombas atômicas, explosões, enchentes e secas, discos voadores) nos quadros do Apocalipse. Estes são quadros típicos e perenes, quadros que se reproduzem por todo o decorrer da história, variando apenas de aspectos. 

 

A sua mensagem abrange todas as situações análogas: querem, sim, dizer que as desgraças da vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano da Providência Divina, a qual tudo faz concorrer para o bem daqueles que 0 amam (cf. Rm 8.28). 

 

 

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO APOCALIPSE

Segunda parte

 

 

O Apocalipse passo a passo

Estamos então nos últimos anos do primeiro século, no fim do reinado do imperador Domiciano. O culto do imperador divinizado se espalha e torna-se o teste da lealdade política: todo bom cidadão deve participar dele. Os cristãos professam a existência de um só Deus e um só Senhor. Recusam esta idolatria que é o culto imperial, expõem-se ao martírio. Para compreender o Apocalipse é preciso que esta situação seja lembrada. 

 

"O que diz o espírito às igrejas”

 

Ler o cap. 1. 

 

A obra se apresenta como uma carta: tem um endereço (1,4); como uma profecia: é a Palavra de Deus (1,2-3), e João arrebatado pelo Espírito, escuta e vê (1,10 e 12) como os profetas de outrora; como um apocalipse (revelação, 1,1); por isso a visão de João (1,12-20) se sobrecarrega com elementos simbólicos. 

· A saudação da carta tem uma estrutura trinitária; Deus e o Espírito têm uma breve menção (1,4). João se detém mais no Cristo: três títulos lhe são dados, sua obra é resumida, sua vinda anunciada.

· Na primeira visão, é o Cristo que se manifesta. Qual o sentido dos elementos descritos nos versículos 13-16? (cf. BJ notas). Como ele se apresenta nos versículos 17-18?

 

Ler os cap. 2 e 3. 

 

Cada uma das sete cartas às Igrejas se compõe dos mesmos elementos: escrita em nome do Cristo evoca a situação concreta da Igreja a que se dirige e termina com uma promessa. 

· De que maneira Cristo é designado em cada carta? Diante das tribulações suscitadas pelos pagãos ou falsos doutores as Igrejas reagem com fidelidade, ou relaxamento. Que promessas são feitas aos vencedores?

 

"Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, louvor e glória”.

 

Ler os cap. 4 e 5. 

 

Com o quarto capítulo, o céu se abre e João é convidado a entrar (4,1). O desenrolar e o objetivo da história, visto do lado de Deus lhe vão ser revelados. Assim ele poderá fazer compreender às Igrejas o sentido do que estão vivendo. 

No céu, João vê primeiro celebrar-se um culto em torno de um trono, no qual alguém está sentado. 

· Que representam as personagens que a celebram? Como se exprime sua adoração?

Deus tem na mão um livro selado que ninguém pode abrir enquanto Cristo não tiver vindo. Somente ele revelará o seu conteúdo, entre as aclamações dos personagens celestes (5,1-14). 

· Por que Cristo é chamado Leão, depois de Cordeiro?

· Que significa a posição e o estado do Cordeiro no versículo 6?

· Conforme os cânticos que o aclamam, é digno de que e por que?

 

Ler os cap. 6 e 7. 

 

O Cordeiro abre sucessivamente os sete selos do Livro. A abertura dos quatro primeiros provoca na terra a saída de quatro cavaleiros, cujo simbolismo é indicado por uma expressão tirada de Ezequiel (6,8; cf. BJ). 

· À oração dos mártires, convidados a esperar ainda a vingança (5º selo), responde a cólera divina que começa a se desencadear (6º selo): contra quem?

Diante da cólera de Deus, quem pode resistir (6,17)? O resto da visão nos vai contar. Ela distingue na terra (7,1-8) o grupo dos 144.000, pertencentes às 12 tribos de Israel, o povo que Deus elegeu (marcou com seu selo). Aparece em seguida, no céu, uma grande multidão, que ninguém podia contar, vinda de todos os povos cuja identificação é fácil. Esta multidão passou pela tribulação: agora está salva e canta (7,9-17). 

· De quem lhe veio a salvação (10)? E de que modo (14)?

Ao 7º selo segue-se um tempo de silêncio (8,1). Novas visões explicitarão o que estava apenas esboçado na visão dos selos. 

 

 

 

"Será consumado o mistério de Deus"

 

Ler os caps. 8-9 e 11-14-19. 

 

Novamente tudo parte de Deus, que age através de seus anjos (8,25). Estes, ao som de suas trombetas (ainda uma série de sete) desencadeiam sobre a terra quatro espécies de flagelos paralelos aos quatro primeiros selos, mas que se inspiram nas pragas do Egito (8,6-12; cf. Ex 7-10). A quinta e a sexta trombeta fazem surgir batalhões demoníacos, cujo aspecto é horrível e a ação maléfica (9,1-19). 

· Contudo, Deus tem intenções de salvação deixando o campo livre a esse monstro. Qual é, conforme 9,20-21?

A sétima trombeta suscita cantos de louvor, no céu. 

· Qual o objeto desses cantos em 11,15 e 17?

O terceiro "Ai" chega. A sétima trombeta, como o sétimo selo, não põe fim a nada. Ela abre novas perspectivas de julgamento, mas também de salvação (11,18-19). 

 

Ler o cap 10,1-11.13. 

 

Entre o soar da 6ª e da 7ª trombeta, dois episódios se intercalam: o do "primeiro livro" (10,1-10) e o das duas testemunhas (11,1-13). O primeiro prepara o futuro (a seqüência dos capítulos do Apocalipse), o segundo explicita um passado ainda recente. 

O anjo do arco-íris tem uma dupla função: traz um livrinho aberto e faz uma proclamação. 

· Como a postura do Anjo e suas palavras indicam o soberano domínio de Deus?

João recebe a confirmação de sua missão de profeta (10,8-11). Ela é dirigida "contra" povos e reis. 

· Que sorte está reservada à cidade santa? (v. 2 e 13) e por que? O texto não é esclarecido por 21,24 e 13,35?

· Os adoradores, no entanto, são poupados e há sobreviventes. Ter-se-á notado igualmente que as "testemunhas" partilham o destino de seu Senhor (7,12). Assim estabelece-se o seu reino (cf. sétima trombeta).

 

 

 

 

"A hora da perseverança e da fé"

 

Ler o cap. 12. 

 

Centro e talvez chave do Apocalipse joanino, este capítulo dá a conhecer, numa visão grandiosa, as razões da perseguição dos cristãos. 

Dois sinais antagônicos aparecem: uma Mulher, um Dragão (v. 1-5). 

O menino arrebatado para junto de Deus é o sinal da queda do dragão (v. 7-9). Enquanto o céu aplaude (12,10-12), terríveis ameaças pesam sobre a Mulher e sobre o resto de sua "descendência": os cristãos. 

· Mas a vitória de seu Filho está assegurada. A Mulher encontra um refúgio no deserto, onde Deus protege e alimenta seu povo (12,6 e 13-16).

 

Ler o cap. 13. 

 

Depois desta revelação capital sobre a luta que continua por detrás dos acontecimentos da história, podemos, com toda serenidade, ver aparecer dois animais monstruosos (tudo o que é demoníaco é hediondo, cf. 12,3 ou 4,2-19). Eles representam duas realidades de todos os tempos: o poder político e as ideologias religiosas e todas as que o poder põe a seu serviço. (João pensa no culto imperial favorecido pelas religiões da época). 

· Que relações existem entre o Dragão e os animais? [E] Entre os dois animais? Qual é a tática de cada um dos Animais e como se comportam os homens diante deles?

 

Ler o cap. 14. 

 

Em face dos animais e de seus partidários, se levantam o Cordeiro e os que O seguem, já vistosos, cantando o cântico novo (14,1-5). Esta visão vem acompanhada de aclamações angélicas (14,6-13). 

· Que dizem estas, nos desígnios de Deus, a propósito dos adoradores da Besta e dos fiéis do Senhor?

Em seguida dois quadros paralelos vêm simbolizar o julgamento divino (a ceifa e a vindima; 14,14-20). 

 

 

 

“Caiu Babilônia, a grande!”

 

Ler os cap. 15 e 16. 

 

João contempla no céu anjos portadores de taças, mas antes mesmo que eles tenham derramado seu conteúdo (a cólera de Deus) sobre a terra, o povo dos vencedores entoa no céu o cântico do Cordeiro (15,1-4). 

· Este cântico exalta a obra de Deus: em que termo e por que?

Depois as sete taças das últimas sanções divinas se derramam, em rápida sucessão. 

· A quem elas atingem (v. 2.6.10)? Obtêm o resultado esperado (v. 9.11)?

O Dragão e seus animais tentam, como último estratagema (12,16) lutar ainda, mas em vão: está terminado! A sétima taça produz o terremoto que o número sete traz habitualmente (17-21), mas desta vez ele é o sinal do fim. 

 

Ler o cap. 17,1-19,10. 

 

Uma nova figura aparece, que lembra o primeiro animal (cf. 13,1-10): a figura feminina de "Babilônia", personificando Roma, a capital do Império. 

Ela ocupa o trono com uma glória insolente; por isso sua queda é espetacular, enquanto o povo de Deus, para não partilhar seu destino, se afasta dela (18,1-8). 

Então se eleva a tríplice lamentação dos reis, dos mercadores e dos marinheiros, surpreendidos diante do fim súbito de uma tão poderosa cidade (18,9-20), enquanto há júbilo no céu. 

· Um anjo, com um gesto simbólico, proclama a ruína definitiva. Qual é o refrão?

· Então ressoa a aclamação litúrgica (qual?) da multidão celeste, louvando a Deus por seus julgamentos e a glória de seu reino.

· 

"As núpcias do Cordeiro"

Uma deslumbrante visão se apresenta subitamente: o céu se abre para dar passagem a um cavaleiro resplandecente, que vai travar os últimos combates. 

 

 

Ler o cap. 19,11-20,15. 

 

O cordeiro se transformou em guerreiro. 

· De onde vem o sangue que tinge o seu manto? Com que arma combate? Os nomes que lhe são dados são suficientes para defini-lo? Cf. 19,12.

Tudo cede diante dele; seus inimigos são sucessivamente eliminados: os reis, os animais, e por fim, depois de um último combate, o dragão (19,19-20,10). 

· Agora já estamos no fim dos tempos. Satã está completamente vencido, mas já o estava há muito tempo (cf. 12,5) apesar das aparências contrárias. Da mesma forma, os mártires não cessaram nunca de partilhar o triunfo do Cordeiro e sua vida (20,4.6). A morte, por seu turno, é vencida e os homens julgados segundo suas obras (20,11-15).

 

Ler o cap. 21,1-22,5. 

 

O mundo antigo desapareceu e uma visão radiante ocupa seu lugar. João contempla, vinda do céu, em todo seu esplendor, a Cidade Santa que é a Esposa do Cordeiro. 

· A primeira representação dela é destinada a por em relevo o poder criador de Deus (21,1 e 5,6) e a nova Aliança que acaba de instaurar. Por que termos esta é evocada nos versículos 3 e 7?

A descrição da Nova Jerusalém se inspira largamente em Ezequiel (cf. Ez 40-48). Como ele, João examina a cidade do exterior até o coração da cidade. 

· Por que se interesse ele pelos fundamentos da muralha (21,24), pelas portas (21,12-13.25), pelos materiais de construção? Qual é o sentido das imagens de luz?

· João suprimiu o Templo (por quê?), mas guardou a fonte: de onde brota ela? Quais os habitantes da cidade e qual sua ocupação?

No epílogo de sua obra (22,6-21) João atesta com firmeza a autenticidade de suas visões e a urgência de sua mensagem. O próprio Jesus anuncia sua vinda. Para lhe responder, exprimindo o voto de todos os que têm sede, o Espírito se une à Esposa:

"Amém! Vem, Senhor Jesus!"

 

 

 

 

 

 

Bibliografia para aprofundamento

 

Apocalipse

2002

 

ARENS, Eduardo. El cordero y el dragón: el Apocalipsis, ¿una teología política? In: Yachay - Revista de cultura, filosofía y teología. Universidad Católica Boliviana, Cochabamba, Bolívia, 2002. v.19, n.35, p.109-137 (Artículo "que destaca la importancia que tiene considerar la situación vital e ideológica del género apocalíptico para responder a la pregunta por lo que Juan propugnaba y defendía en su Apocalipsis. El lenguaje de este libro nos muestra, entre otras cosas, señala Arens, numerosos términos 'provenientes del mundo político y afines'; contraposiciones o antagonismos muy marcados (como los del cordero y la bestia, de Jerusalén y Babilonia), que simbolizan los reinados de Dios y de Satanás y otras tantas cuestiones de poder y soberanía; una terminología cultual; y la actitud anticristiana de Roma; que dan cuenta de la mencionada situación a la vez que enseñan el marco 'profundamente político', de dicho género. El reinado de Dios, soberano y liberador, y toda la cristología del Apocalipsis de Juan, significarían principalmente, en este contexto, el triunfo de la justicia de Cristo sobre 'los poderes políticos y económicos opresores' de la humanidad, no la destrucción de este mundo") (SA) [Imágenes - Símbolos - Soberanía de Dios - Babilonia - Soberanía - Libertad]

 

CHEVITARESE, André Leonardo. I. Literatura do cristianismo primitivo - Dragão, serpente e mulher. As bases helenísticas do capítulo 12 do Apocalipse de João, o visionário. In: Estudos de Religião. Universidade Metodista de São Paulo - UMESP - Campus Rudge Ramos, São Bernardo do Campo/SP, Brasil, 2002. v.16, n.22, p.11-36 ("Texto apresentado e discutido no grupo de pesquisa Estruturas Religiosas Convergentes no Judaísmo e Cristianismo do Primeiro Século (UMESP/FAPESP)". "O texto procura verificar a conexão entre as imagens descritas no capítulo 12 do livro do Apocalipse de João, o Visionário, e os seus primeiros leitores e ouvintes situados na Ásia Menor, na última década do I d.C. Para esse fim, foi feito um levantamento dos significados das palavras gregas correspondendo a 'dragão' e 'serpente' na literatura grega, em toda a sua extensão. Os principais tópicos dizem respeito a: caracterização física, lugar de habitação, conexões temáticas, relação com deuses ou heróis, presença nos escudos, sinonímia, sacralidade, simbolismo. A comparação com o texto de João permite levantar uma série de pontos de convergênca e divergência e de chegar a algumas conclusões afirmativas sobre interações culturais e influências helenísticas no capítulo 12 do Apocalipse") (SA) [Dragão - Universo divino - Universo heróico - Serpente - Simbolismo]

 

FELIX, Isabel Aparecida. A terra e a mulher. Uma leitura ecológica de Apocalipsis 12,1-18. In: A Palavra na Vida. Centro de Estudos Bíblicos - CEBI-RS, São Leopoldo/RS, Brasil, 2002. n.177/178, p.55-60 (A Palavra na Vida, 177/178) (Reflete a partir de Apocalipse 12,1-18: "pensamos que no Apocalipse de João, concretamente no capítulo 12, os mitos são leituras da realidade vivida pelas mulheres sob o domínio do Império Romano") (SA) [Mito - Mulher Terra - Ecofeminismo - Dragão]

 

FIORE, Joaquim de. Introdução ao Apocalipse. In: Veritas - Revista de filosofia. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS, Porto Alegre/RS, Brasil, 2002. v.47, n.3, p.453-471 ("O livro do Apocalipse é o último de todos os livros escritos com espírito de profecia incluindo no catálogo das Sagradas Escrituras. E, por isso mesmo, o livro é chamado de Revelação, pois é através dele que se pode desvendar as obras de Cristo que, neste momento de plenitude dos tempos, estão completas ou estão se completando") (SA) [Livro da Revelação - Tradução]

 

FRIEDRICH, Nestor Paulo. A besta (OHPION) no Apocalipse: uma descrição. In: Estudos Bíblicos. Editora Vozes, Petrópolis/RJ, Brasil, 2002. n.74, p.96-106 ("Neste estudo é apresentado um quadro comparativo daqueles textos no Apocalipse em que ocorre uma referência à besta. A análise procura mostrar como o próprio livro do Apocalipse desmascara este poder demoníaco antagônico a Deus e ao Cordeiro, apontando simbolicamente para sua dimensão interior (ideologia) = besta, e sua manifestação exterior concreta = reis, Roma, poder do Império Romano") (SA) [Besta da terra - Falso profeta - Símbolo - Mito]

 

GALVÃO, Antônio Mesquita. Apocalipse ao alcance de todos. In: O Recado. O Recado Editora, São Paulo/SP, Brasil, 2002. n.179, p.1-95 (Estudo sobre o livro de Apocalipse. "O Apocalipse não é um livro de segredos, mas uma revelação que nos apresenta Cristo como chave para compreensão e julgamento da história. Trata-se de uma linguagem simbólica, empregada por causa das condições de perseguição que afligiam a igreja, no tempo em que foi escrito. Deus foi se revelando aos poucos, através da história, e no Apocalipse ele completa essa revelação. Por uma linguagem cifrada, é verdade, Deus revela o quanto nos ama, e como, através do Cristo vitorioso, prepara a nossa salvação. Apokálipsis em grego quer dizer revelação. O verbo apo-kalyptôo significa revelar algo obscuro. O Appocalipse é um livro que retrata uma relação entre o passado, o presente e o futuro. Ele se abre com a revelação de Jesus, como Messias, a testemunha fiel e verdadeira, o Primogênito dos mortos, o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores, o Libertador e aquele que criou, para o Pai, um povo santo. Embora o autor chame o livro de profecia, alguns exegetas vêem nele também um estilo semelhante às Epístolas do NT. Alguns estudiosos vêem no Apocalipse uma releitura interpretativa que os cristãos do primeiro século teriam feiito do AT. Na verdade, essa visão tem, de certa forma, algum fundamento, pois o livro usa o evento do êxodo como protótipo das grandes libertações que vêm de Deus. A escatologia do Apocalipse realiza-se privilegiadamente no tempo presente. O incidente central do livro, transformador da história, é a morte e a ressurreição de Jesus. A revelação centra sua pregação na presença do ressuscitado, que ocorre no mundo e na história. O Apocalipse une escatologia e política, práxis e mito, consciência e transformação histórica. A mensagem dos mártires vencendo a Besta, por exemplo, é uma lição de fé e libertação. O livro foi escrito no tempo em que a Igreja se instaurava. O cristianismo foi, desde o início, um movimento profético-apocalíptico... O Apocalipse não tem uma exegese padrão, uniforme e consolidada. Existem teorias de interpretação bem diversas, algumas até opostas. É preciso ir com cuidado e observar as diversas fontes") (SA) [Visões - Cristo - Igreja - Cartas à Igreja - Mundo - Selos - Trombetas - Mulher vestida de sol - Anticristo - Povo do cordeiro - Sete taças - Ira de Deus - Consumação final - Cristo vencedor - Celebração da vitória - Jerusalém celeste - Atos 1,1-8 - Atos 1,9-3,22 - Atos 4,1-16,21 - Atos 17,1-20,15 - Atos 21,1-27 - Atos 22,1-5 - Atos 22,6-21 - Atos 22,16-21]

 

THOMPSON, Alvin. G. K. Beale, The Book of Revelation (New International Greek Testament Commentary; Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1999), 1245 págs. In: Revista Kairós. Seminario Teológico Centroamericano, Guatemala, Guatemala, 2002. n.30, p.128-129 (Una reseña; "en este comentario masivo sobre el Apocalipsis Beale ha creado un recurso valioso para los estudiantes serios. Aunque el comentario de Beale (así como otros libros de esta serie) tiene su base en el texto griego, no llega a ser tan técnico como para resultar ininteligible a los que tienen poco conocimiento del griego... Aunque no se aconseja que el libro de Beale sea su único comentario sobre Apocalipsis, los estudiantes serios de Apocalipsis hallarán en este volumen una herramienta de mucho valor") (SA) [Reseña]

 

Apocalipse

2001

 

ADRIANO, José Filho. À queda da Babilônia em Apocalipse 18. Uma crítica das relações comerciais de Roma. In: Revista Teológica Londrinense - RTL. Seminário Teológico Reverendo Antônio de Godoy Sobrinho, Londrina/PR, Brasil, 2001. n.1, p.107-130 (Leitura bíblico-teológica de Apocalipse 18 desde uma ótica econômico-social. O pano de fundo que perpassa o artigo é o do Império Romano e sua marcante presença em todas as províncias, incluindo a da Ásia Menor. O artigo navega pelas águas turbulentas e agitadas do Apocalipse. Relaciona um capítulo com outro e ambos com o contexto social-político-econômico e religioso que está presente no livro todo) (DG) [justiça de Deus - símbolos - cântico fúnebre - anjos - julgamento - lamento - lamento dos reis - lamento dos marinheiros - Apocalipse 17,1 - Apocalipse 18,1 - Apocalipse 19,1 - apocalipse 18,1-24 -Apocalipse 17,1-6 - Apocalipse 17,8-14 - Apocalipse 17,7.15-18 - Apocalipse 16,19 - Ezequiel 26,15-18 - Ezequiel 27,1-8 - Ezequiel 27,26-36 - Apocalipse 18,1-3]

 

ÁLVAREZ VALDÉS, Ariel. ¿Quién es la bestia del Apocalipsis? In: Actualidad Pastoral. Actualidad Pastoral, Morón, Argentina, 2001. n.281-283, p.220-221 ("En diversos momentos del libro del Apocalipsis, aparece la bestia así como la descripción de su actividad en contra de los cristianos y de la iglesia de Jesús. Pero son dos lugares claves para poder descifrar el misterio que encierra su figura: los capítulo 13 y 17. En los dos el autor aporta los datos suficientes para que el lector que no conozca el sentido de este símbolo, pueda descubrirlo.... Adelantemos ya ahora el final: la bestia es, en el Apocalipsis, nada más ni nada menos que el Imperio Romano") (SA) [simbología - exploración]

 

FERNÁNDEZ, Laurén y CASTILLO, Jaime. Signos de esperanza. In: Revista de Interpretación Bíblica Latinoamericana - RIBLA. RECU - Editorial Dei, Quito, Equador, 2001. n.39, p.130-143 (También en portugués: In: Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana. Petrópolis/São Leopoldo, 1998. n.39, p.139-153; "El imperio se ha declarado la verdad última, se trata del fin de las alternativas y de las utopías que no sean las suyas. Esta situación actual, ya era vivida por las comunidades del Apocalipsis. La cotidianidad lo demostraba, era el ámbito en el que de manera absoluta se expresaba el poder de Roma, no había alternativa (esperanza), que pudiera ser oposición articulada. La experiencia cristiana de tribulación y muerte, vivida desde la experiencia del Mártir muerto y resucitado, logra volverse resistencia y esperanza salvando a la misma cotidianidad del imperio de lo efímero. Las visiones de 1,9-19 y 12,1-18 son una lectura - contemplación de la cotidianidad, que logran cambiar la tribulación y muerte, en resistencia, y esperanza en el triunfo de la vida y de la justicia") (SA) [Vida - Muerte - Desesperanza - Bien - Mal - Figuras - Mujer - Monstruo - Batalla - Dragón - Persecución - Canto de victoria - Jesús - Llaves de lectura - Vida de las comunidades - Visión]

 

GRINGS, Dadeus. A igreja de Cristo x plano pastoral. In: Teocomunicação. Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS, Porto Alegre/RS, Brasil, 2001. v.31, n.131, p.13-20 ("Ao iniciarmos o estudo para o grande projeto pastoral, que deve nortear, coordenar e harmonizar nossas atividades eclesiais, abrimo-nos à voz do Espírito, para ouvir o que ele diz á nossa igreja, á semelhança das mensagens dirigidas ás 7 igrejas da Ásia , exaradas nos primeiros capítulos do Apocalipse". Aborda "A igreja do Pai misericordioso"; "Igreja missionária" e "A igreja do Espírito participativo") (SA) [trindade]

 

RIBEIRO, Ricardo. La esperanza. In: Página Valdense. Iglesia Evangélica Valdense, Paysandú, Uruguai, 2001. n.60, p.2 (Una reflexión a partir de Apocalipsis 21,1: "la fe y la esperanza son las guías provisorias que nos conducen a la práctica del amor") (SA)

 

SANTIAGO, William Soto. Entrando a tempo na arca da salvação. 1.ed., Missão Apocalíptica Internacional, São José dos Campos/SP, Brasil, 2001. 33p. (Reflexão bíblico-pastoral - inspirada no capítulo 7 do livro do Apocalipse. O autor oferece uma análise bíblica e uma proposta de atualização para os/as cristãos/as que procuram no texto bíblico iluminação para sua vida. Exemplos da vida cotidiana enriquecem o texto e o aproximam do leitor/ª) (DG) [ - Apocalipse 7,1-17 - Apocalipse 19,7-10 - Efésios 2,19-22 - Hebreus 3,5 - 2 Coríntios 3,10-11 - Mateus 25,10-13 - Lucas 21,36 - Lucas 14,11]

 

SAUER, Erich. O triunfo do crucificado. In: A Candeia. Editora Conhecer a Bíblia, Gramado/RS, Brasil, 2001. v.14, n.53, p.1065-1066 (Reflete a partir de Apocalipse 13: escreve "acerca da natureza do sistema anticristão") (SA) [linguagem - profecia bíblica]

 

Apocalipse 

2000

 

CÁRDENAS PALLARES, José. Carlos Mesters y equipo de la CRB. El sueño del pueblo de Dios. Las comunidades y los movimientos apocalípticos, México, Ed. Dabar, 1999, 352p. (Tu Palabra es Vida, 7). In: Efemérides Mexicana. Universidad Pontificia de México, México DF, México, 2000. v.18, n.53, p.253-258 (Quiere "compartir algunas reflexiones sobre este libro tan interesante y tan desigual... A pesar del gran parecido entre el portugués y el español la traducción es deficiente... El libro es de calidad desigual, al grado que a veces parece estar escrito por mentes opuestas, hay muchas inexactitudes... Al principio del libro hay unas orientaciones prácticas para la lectura de la Biblia en común. Por lo general son muy valiosas. Se trata de no leerla en un ficticio vacío histórico. Además, recomiendan estudiar la situación en la que surgió el texto. Se invita a leerlo en un ambiente de oración, con miras a un compromiso en la fe y en la misión, y expresar ese compromiso en forma de ofertorio. Estas recomendaciones son el antídoto contra un exégesis estéril. La guía a la lectura del Apocalipsis es excelente. Explica a grandes rasgos el movimiento apocalíptico, aclara el contexto socioeconómico en que surge el libro, hace notar los peligros del movimiento apocalíptico hoy en día; en concreto, de cómo se distorsiona el mensaje de este libro") (SA)

 

CUNHA, Elenira. Maravilhar-se com mulher? Por que não? Imagens da mulher no livro do Apocalipse. In: Estudos de Religião. Universidade Metodista de São Paulo - UMESP - Campus Rudge Ramos, São Bernardo do Campo/SP, Brasil, 2000. v.14, n.19, p.175-183 ("A autora analisa imagens de mulheres no livro do Apocalipse. Mostra como a mulher era vista como um ser que prejudicava a pureza masculina e sua devoção a Deus - Apocalipse 14,1-5. Mas, por outro lado, ela era vista como muito sedutora, digna do maravilhamento do visionário - Apocalipse 17,1-7. Para uma religiosidade que requeria o ideal da abstinência sexual, o simples 'olhar' para a mulher e maravilhar-se com ela constituía-se em grande problema") (DG) [mulher - imagem de mulher - renúncia sexual - sexualidade - literatura apocalíptica - leitura de gênero - Apocalipse 17,1-8 - Apocalipse 21,1-22,5 - Apocalipse 17,1-6 - Apocalipse 14,4]

 

FRIEDRICH, Nestor Paulo. Apocalipse 2-3: sete cartas? Uma análise literária. In: Estudos de Religião. Universidade Metodista de São Paulo - UMESP - Campus Rudge Ramos, São Bernardo do Campo/SP, Brasil, 2000. v.14, n.19, p.149-173 ("Este artigo analisa o gênero literário de Apocalipse 2 e 3, mostrando que, apesar das analogias judaicas e helenistas, trata-se de um texto sui generis, constituídas de um misto de gêneros. Formalmente, as sete proclamações são muito semelhantes aos antigos editos reais e imperiais; no que se refere ao conteúdo, possuem características da profecia cristã-primitiva. Esta forma literária evidencia o caráter polêmico da obra: o fato de ter emoldurado sua obra em uma estrutura epistolar, inspirar-se nos profetas do Antigo Testamento e construir as sete proclamações em analogia com editos imperiais indica que tinha em vista um endereço concreto, uma situação específica e um momento histórico peculiar") (DG) [gênero literário - cristianismo da Ásia Menor - promessa - dimensão profética - Apocalipse 2,14-20 - Apocalipse 2,18-29 - Apocalipse 1,1-3 - Apocalipse 1,4-5b - Apocalipse 1,7 - Apocalipse 1,19-20 - Apocalipse 1,11 - Atos 21,11 - Amós 1,3-2,5 - Marcos 15,39 - Apocalipse 4-22 - Apocalipse 2,14-20 - Atos 2,14-26 - Atos 3,12-26]

 

HOEFELMANN, Verner. Como entender os símbolos do Apocalipse. In: 22 perguntas e respostas da fé. Editora Sinodal, São Leopoldo/RS, Brasil, 2000. p.44-47 (Breve aproximação à simbologia do Apocalipse e explicação de algum desses símbolos do livro) (DG)

 

HOLMES, Raymond. La adoración en el libro de Apocalipsis. In: Theologika - Revista Bíblico-Teológica. Universidad Unión Incaica, Lima, Peru, 2000. v.15, n.1, p.2-32 ("La adoración en el libro de Apocalipsis - uno de los libros bíblicos donde más aparece el motivo de la adoración es el Apocalipsis. De hecho el libro empieza con una escena de adoración al resucitado por Juan y esta acción de adoración se manifiesta a lo largo del libro llegando al clímax de la adoración cuando los redimidos los hacen ante el trono de la deidad. El autor acertadamente menciona que la adoración cristiana ha decaído tremendamente y sugiere que, ésta debe de seguir los patrones bíblicos de adoración si es que los adoradores desean recibir las bendiciones que realmente implican adorar 'en espíritu y en verdad'") (DG) [adoración teocéntrica - liturgia - majestuosa - humillación - cordero - Babilonia - remanente - Apocalipsis 1,17 - Apocalipsis 4,10 - Apocalipsis 5,14 - Apocalipsis 14,1-5 - Apocalipsis 13 - Apocalipsis 14,6-12]

 

MOURA, Arlindo. A desmistificação dos poderes bestiais - Apocalipse 13. In: Estudos Bíblicos. Editora Vozes, Petrópolis/RJ, Brasil, 2000. n.68, p.89-101 (Estudo do capítulo 13 que busca, entre outros aspectos, desmascarar a falsidade e as ilusões que as bestas e as bestinhas de ontem e de hoje carregam em si, para se perpetuar e consolidar seu poder. "O presente comentário, porém, não pretende abordar todo o livro do Apocalipse, mas, de maneira peculiar, o capítulo 13, em que as imagens referidas acima são destaques centrais... o capítulo 13 é dotado de uma simbologia extraordinária formada por números e animais. Esses elementos são contributos que fazem ver o destino final do dragão, das bestas e também daqueles que são por elas perseguidos") (DG [dez chifres - dez diademas - besta - cordeiro - 666 - dragão]

 

RUBEAUX, Francisco. "Caiu, caiu a Babilônia, a grande..." - Apocalipse 18,2. In: Estudos Bíblicos. Editora Vozes, Petrópolis/RJ, Brasil, 2000. n.68, p.80-88 ("A partir do capítulo 18 do Apocalipse, ele nos mostra que o desafio é não cair nas ciladas e ilusões de força e poder das bestas imperiais, que se renovam a cada etapa da história, mas conseguir resistir na vivência de algo alternativo e novo, com fé na vitória final, que será do Cordeiro e de seus seguidores!") (DG) [sistema econômico romano - império romano - Apocalipse 13 - Apocalipse 18,9-10 - Apocalipse 18,11-16 - Apocalipse 18,17-20]

 

SANTIAGO, William Soto. A materialização do céu na terra. 1.ed., Missão Apocalíptica Internacional, São José dos Campos/SP, Brasil, 2000. 27p. (Estudo sobre o livro de Apocalipse. Centra sua atenção no capítulo 21,1. A chave de leitura ou o tema é: "A materialização do céu na terra". São 27 páginas onde é apresentada a riqueza do capítulo 21 do livro de Apocalipse que trata da Nova Jerusalém) (DG) [lágrima - livro da vida - Cordeiro - milênio - Espírito Santo - Verbo - templo - cidade - imortal - profeta - reino de Deus - cavalo - Apocalipse 5,21 - Apocalipse 19,11 - Apocalipse 19,11-21 - Apocalipse 17,14 - Apocalipse 7,14].

 

SAUER, Erich. O triunfo do crucificado. In: A Candeia. Editora Conhecer a Bíblia, Gramado/RS, Brasil, 2000. v.13, n.51, p.1027-1030 (Estuda "O sistema do Anticristo" a partir de Apocalipse 13; "conforme o Apocalipse 13 o Anticristo virá como cabeça de um sistema humano que é inimigo de Deus, em oposição e imitação aberta à trindade divina") (SA)

 

SILVA, João Artur Müller da (editor). 22 perguntas e respostas da fé. Editora Sinodal, São Leopoldo/RS, Brasil, 2000. 94p. (Breve aproximação à simbologia do Apocalipse e explicação de algum desses símbolos do livro) (DG)

 

STAM, Juan. Los siete mundos de Juan de Patmos. In: Signos de Vida. Consejo Latinoamericano de Iglesias - CLAI - Ecuador, Quito, Equador, 2000. n.16, p.29-33 (Presenta los siete mundos de Juan de Patmos: "El mundo del imperio romano"; "El segundo mundo de Juan es el mundo de las escrituras hebreas"; "El tercer mundo de Juan era el de literatura apocalíptica"; "El mundo de Qumran enriquecía también el pensamiento de Juan de Patmos"; "Otro mundo tangencial al Apocalipsis es el de la tradición rabínica"; "Otro mundo que definitivamente habitaba Juan de Patmos era el mundo de la liturgia, tanto judía como cristiana" y "Finalmente, otro mundo en que vivía Juan de Patmos, y donde tendremos que entrar si queremos compartir sus visiones y su mensaje, es el mundo de la imaginación") (SA)

 

SZCZERBACKI, Rubens. Revelando os mistérios do Apocalipse. 2. ed., Editora Betel, Rio de Janeiro/RJ, Brasil, 2000. 342p. (A 1a. impressão é de 1986; "é um livro de contornos simples e uma ferramenta para que o cristão não encare o Apocalipse como um filme de terror, mas como parte integrante das Escrituras Sagradas. É um livro onde, versículo por versículo, o autor explica os fundamentos de palavras, signos e figuras, de modo a servir como fonte de consulta tanto para estudiosos em escatologia como para leigos em geral. O Apocalipse é um livro de consumação, pois revela o plano final de Deus para a igreja e para Israel... O objetivo é desmistificá-lo a partir de uma visão histórico-judaico-profética, conclamando o povo de Deus a assumir uma postura responsável diante do seu Senhor para uma vida santa e piedosa, a fim de não passar pelo tempo de grande angústia reservado brevemente para este planeta"; divide o livro em diversos capítulos: "1 - As coisas que tens visto"; "As coisas que são - Introdução"; "2 - Carta às igrejas em Éfeso, Esmirna, Pérgamo e Tiatira"; "3 - Carta às igrejas em Sardes, Filadélfia e Laodicéia"; "4 a 22 - Introdução"; "4 - A visão do trono da majestade divina"; "5 - O livro selado com sete selos"; "6 - A abertura dos seis primeiros selos"; "7 - O ministério dos 144 mil israelitas"; "8 - O sétimo selo - As quatro primeiras trombetas"; "9 - A quinta e a sexta trombetas"; "10 - O livrinho doce amargo"; "11 - As duas testemunhas e a sétima trombeta"; "12 - A mulher e o dragão"; "13 - As duas bestas"; "14 - O evangelho eterno - A ceifa e a vindima"; "15 - Os sete anjos com as sete taças cheias das últimas pragas"; "16 - As sete taças são derramadas"; "17 - A queda de Babilônia espiritual"; "18 - A destruição de Babilônia mística: Roma"; "19 - Alegria e triunfo nos céus - A vitória de Cristo"; "20 - Satanás é amarrado por mil anos - O juízo final"; "21 -O novo céu e a nova terra - A Nova Jerusalém"; "22 - O rio da água da vida - Admoestações e promessas finais - Conclusão" e o "Apêndice - Os cinco anjos dos continentes") (SA).

 

AS BEM-AVENTURANÇAS E O FRUTO DO ESPÍRITO

O caráter do cristão

 

OS DOIS TEXTOS

 

 

"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus./ Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados./ Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra./ Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos./ Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus./ Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus./ Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus./ Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós./ Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós". (Mateus 5:3-12).

 

 

"Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra essas coisas não há lei". (Gálatas 5:22 e 23).

 

 

O CARÁTER DO CRISTÃO

 

 

Esses dois textos descrevem o caráter do cristão. Não são aspectos que devem ser desenvolvidos em separado, mas formam um todo equilibrado e diverso, que bem podemos definir como o roteiro para o discipulado cristão. A ordem é que todo discípulo amadureça todas as qualidades mencionadas.

 

 

Falando no monte, Jesus disse que cada pessoa possuidora dessas qualidades - são mansas e misericordiosas, humildes de espírito e limpas de coração, choram e têm fome e sede de justiça, são pacificadoras, sofrem injúria e perseguições por amor à justiça e por amor ao Mestre - é makários (em grego, significa feliz). Para muitos teólogos, Jesus estava apresentando uma teoria para a felicidade humana. É importante, no entanto, esclarecer que a expressão makários refere-se não somente a um estado ideal de felicidade, mas uma construção real do caráter, que produz bençãos imediatas e futuras. 

 

 

Na verdade, seguindo a lógica exposta por Robert Gundry, Jesus se posiciona como um novo legislador, um novo Moisés, superior, promulgando uma nova lei, a lei do amor, que nasce do Espírito. Jesus não somente condena o arcaísmo da legislação ritual, mas deixa claro que uma nova aliança está nascendo. Assim, estamos diante de um novo povo. Esse israelita espirital terá um caráter novo, diferente em essência dos padrões do mundo. E os pais da igreja também entenderam assim.

 

 

Comentando as bem-aventuranças, Agostinho (354-430), o bispo de Hipona, vê na exposição de Jesus uma graduação, como se estivéssemos subindo uma escada. O primeiro degrau é a humildade, a submissão à autoridade divina, e o segundo degrau, a mansidão. Esses dois primeiros degraus colocam o discípulo, em espírito de piedade, diante do conhecimento de Deus. É então que, a partir daí, descobre os laços "com que os hábitos da carne e os pecados sujeitam a este mundo". 

 

 

Assim, para Agostinho, os terceiro, quarto e quinto degraus estão relacionados à luta contra o presente século e seus ditames. Já o sexto degrau leva o crente, vitorioso anteriormente, a contemplar o "bem supremo, que somente pode ser visto por uma inteligência pura e serena". 

 

 

O sétimo degrau é a sabedoria, que nasce da contemplação da verdade, que pacifica o homem e imprime nele a semelhança com Deus. E o último degrau volta ao primeiro, pois ambos nomeam o Reino dos Céus, a perfeição.

 

 

Embora a visão agostiniana seja excessivamente alegórica para nossa hermenêutica reformada, ela faz chegar até nós a compreensão dos pais da igreja sobre o Sermão do Monte.

 

 

AS QUALIDADES DE UM FRUTO SAUDÁVEL

 

 

Do que vimos até aqui, fica claro que o Sermão do Monte fala de qualidades, características dos discípulos de Cristo. E o texto de Galátas 5:22 e 23 sintetiza a mesma preocupação. Fala do fruto de uma árvore saudável. E descreve apenas um fruto, porque a idéia aqui desenvolvida é a de uma corrente, que só existe através de elos entrelaçados. Se apenas um elo for frágil, toda a corrente se faz frágil.

 

 

Essas nove virtudes, podem ser catalogadas, segundo Lightfoot, em: 

 

 

(1) hábitos mentais - amor, alegria, paz -, que inspiram o discípulo ao amor a Deus e aos homens, geram profundo regozijo de coração, que nenhuma obra da carne pode produzir, e criam um sentido de harmonia no que se refere a Deus e aos homens; 

 

 

(2) qualidades sociais - longanimidade, benignidade, bondade -, que nos levam a paciência passiva, diante de injúrias e perseguições, nos dão uma bondosa disposição em relação ao próximo e nos direcionam à beneficência ativa; 

 

 

(3) e princípios gerais de conduta - fidelidade, mansidão, domínio próprio -, que traduzem posturas de comportamento, ou seja, ser dignos de confiança, não defender com unhas e dentes os próprios interesses e ter sob controle desejos e paixões.

 

 

Voltando ao Sermão do Monte, encontramos no versículo 20, do capítulo analisado: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus".Esta declaração, uma ordem aos discípulos, une numa corrente de ouro, os dois textos estudados. E por que Jesus dá os escribas e fariseus como anti-exemplos? Porque, como explica Stott, "a grandeza do reino não é apenas avaliada pela justiça que se conforma à lei", pois a entrada no reino torna-se impossível se não houver um comportamento que vá além da própria lei. 

 

 

Aliás, o apóstolo Paulo em Gálatas 5:23 diz que contra as virtudes expressas pelo fruto do Espírito não existe lei. Os escribas e fariseus diziam que a lei tinha 248 mandamentos e 365 proibições, e concordavam que era impossível cumprir tudo. Como então exceder os rabinos? Simplesmente porque não estamos limitados à lei de Moisés, mas à lei do Espírito. A justiça do cristão excede porque é mais profunda, é uma justiça que nasce do coração regenerado, é interna e tem como fonte o Espírito de Deus que habita em nós. É fruto do Espírito.

 

 

Assim, podemos dizer que o caráter do cristão, expresso em Mateus 5:3-12 e Gálatas 5:22 e 23, traduz na própria vida do discípulo seu novo nascimento. E, Jesus nos ensinou que ninguém entrará no reino dos céus se não nascer do Espírito.

 

 

Temas para exercício

 

 

As bem-aventuranças

 

 

(a) Bem-aventurados os humildes de espírito; (b) bem-aventurados os que choram; (c) bem-aventurados os mansos; 

(d) bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça; (e) bem-aventurados os misericordiosos; (f) bem-aventurados os limpos de coração; (g) bem-aventurados os pacificadores; 

(h) bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça; (i) bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.

 

 

Definição das quatro primeiras

 

 

(a) Bem-aventurados os humildes de espírito, ou seja, aqueles que reconhecem sua própria miserabilidade diante de Deus, sua total dependência espiritual diante o Criador.

 

 

(b) Bem-aventurados os que choram, ou seja, aqueles que se derramam, compungidos diante de Deus por seus próprios pecados e pelos de seus irmãos. Expressa uma postura de verdadeiro arrependimento. 

 

 

(c) Bem-aventurados os mansos, ou seja, aqueles que perdoam, que não cobram a dívida, que alegremente caminham a segunda milha. 

 

 

(d) Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, ou seja, aqueles que olham para Cristo e querem ser igual a Ele. Cristo é o justo, sobre Ele repousa a justiça de Deus. Ter fome e sede de justiça é alimentar-se espiritualmente de Cristo, ser igual a Ele.

 

 

O texto-chave do Sermão do Monte.

 

 

"Porque eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus". Mateus 5: 20.

 

 

Explicação do versículo 20 de Mateus 5.

 

 

Os escribas e fariseus viviam uma religiosidade formal, de aparência, sem transformação real de vida, sem conversão. Nesse sentido, o cristão deve exceder esse padrão, ir além, mudar em essência, ter um coração de carne.

 

 

A condição para sermos aceitos por Jesus (Mt. 7:21-23).

 

 

É a veracidade daquilo que se professa. Praticar o que se prega. Nesse sentido, o que caracteriza o discípulo não é a exterioridade de suas ações, por mais poderosas, miraculosas ou expressivas, mas a obediência que se traduz em vida moralmente genuína e fecunda.

 

 

Explicação do significado da santificação no Primeiro testamento, no Novo testamento e o desenvolvimento da conceituação.

 

 

(a) Apesar do mandamento ter sido expresso claramente em Levítico 19:2, "Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo", o kadish (a santificação) era, e é para o judeus, cerimonial. O kadish se dá em certos momentos da vida, em celebrações e rituais. Assim, no cabalat sabat (entrada do sábado) se faz santificação no culto familiar, na alimentação kosher (pura), nos utensílios utilizados pelos sacerdotes, antigamente no templo, hoje nas sinagogas. 

 

 

(b) A santificação cristã parte de outra perspectiva: somos definidos por Deus como santos. Devemos então viver aquilo que já somos: separados por Deus para servi-lo, glorificá-lo, espelhá-lo diante do mundo. Somos santos e devemos santificar toda a realidade circundante com nossa vida santificada e em crescente santificação. Esse novo conceito é claramente explicado na primeira carta do apóstolo Pedro, capítulo 1, dos versículos 13 ao 25, mas a segunda parte do versículo 15, nos dá a chave do pensamento cristão sobre a santificação: "tornai-vos  santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento".   

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

 

Agostinho, Santo, O Sermão da Montanha, Edições Paulinas, São Paulo, 1992.

 

Gee, Donald, Para Que Deis Fruto, Edições Vida, São Paulo, 1985.

 

Gundry, Robert H., Panorama do Novo Testamento, Edições Vida Nova, SP, 1991.

 

Stott, John R. W., "A Mensagem do Sermão do Monte", ABU Editora, SP, 1993.

 

 

Carta aos Efésios

 

 

AUTOR. Paulo, o apóstolo. Veja 1:1.

DATA. Provavelmente escrita em Roma, ano 60-64 d.C.

 

Éfeso hoje

 

A região do Mar Egeu é uma das regiões mais belas da Turquia. Longas praias de areia, oliveiras verdes, rochas e pinheirais juntamente com águas cristalinas. O clima é ameno e a brisa marítima refresca os dias mais quentes do verão. Uma das regiões mais bonitas é Marmaris, que foi um local destacado na rota comercial que ligava a Anatolia ao Egito. Os arredores de Marmaris estão cheios de locais históricos.

 

Marmaris situa-se numa baía rodeada de montanhas, no ponto de encontro entre o Mar Egeu e o Mediterrâneo. A dois dias de viagem está a antiga Éfeso e Pamukkale, onde possivelmente morou Maria, a mãe de Jesus. De Éfeso restam ruínas, a casa de Maria e a basílica de São João  As sete igrejas citadas no Apocalipse estavam localizadas em cidades hoje da Turquia. 

 

 

A Carta

 

A Carta aos Efésios "é um hino de adoração proveniente do coração do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono e sim o transbordar de sentimentos ardentes do coração agradecido do apóstolo. No grego esta passagem (1.3-14) constitui uma grande sentença. O espírito de Deus inspirou o apóstolo Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia salvado”.

 

A epístola é “um dos mais notáveis escritos do Novo Testamento, tanto pela consistência teológica, quanto pela praticidade”. Sua ênfase concentra-se no:

 

1. projeto divino da salvação, 

2. na natureza da igreja, 

3. e no senhorio de Cristo sobre todas as coisas. 

 

A Epístola descreve a igreja como sendo o corpo de Cristo. Ele é a cabeça que dá vida e comanda o corpo. Os aspectos da universalidade e unidade da igreja, bem como sua submissão a Cristo -- revelada através de um novo estilo de vida -- , são preponderantes:

 

1. bênção da eleição Efésios 1,3-4.

2. bênção da adoção Efésios 1,5-6

3. conhecimento de Deus Efésios 1,7-14

4. graça Efésios 1,15-23

5. nova sociedade Efésios 2,1-10

6. universalidade da graça Efésios 2,11-22

7. unidade da igreja Efésios 3,1-13.

8. edificação da igreja Efésios 3,14-21.

9. nova vida Efésios 4,1-6; 4,7-16

10. plenitude do espírito Efésios 4,17-5,14

11. relacionamentos cristãos Efésios 5,15-21 Efésios 5,22-6,9

12. luta espiritual - Efésios 6,10-20. 

 

A carta aos Efésios “é portadora de uma boa notícia: o universo inteiro forma um só corpo em Cristo, cabeça de tudo. Essa novidade é celebrada na 'grande bênção' que abre o texto (1,3-14) e que espalha suas raízes, ramos, flores e frutos por todo o texto. Neste texto o aluno vai encontrar uma introdução básica para começar a entender Efésios e um comentário breve a cada trecho, mostrando continuamente a ligação que existe entre o grande hino e as partes menores do texto:" 

 

 

O Ministério de Paulo 

 

Sua primeira visita, At 18:18-21; em sua segunda visita, o Espírito Santo foi dado aos crentes, At 19:2-7; continua seu trabalho com êxito extraordinário, At 19:9-20; seu conflito com os artífices, At 19:23-41; sua palavra aos anciãos efésios, At 20:17-35. Os judeus convertidos nas igrejas primitivas se inclinavam a ser exclusivos e a separar-se de seus irmãos gentios. Esta situação na igreja de Éfeso pode ter motivado o apóstolo a escrever esta carta, cuja idéia fundamental é a unidade cristã.

 

 

TEXTO CHAVE, 4:13.

 

CADEIA CHAVE, mostrar a corrente do pensamento, 1:10; 2:6, 14-22; 4:3-16.

 

TEMA PRINCIPAL. A unidade da igreja, especialmente entre os crentes judeus e gentios.

Percebe-se esta intenção na ocorrência de certas palavras e frases, como:

 

(1) As palavras com e juntamente; 1:10; 2:6; 2:22.

(2) A palavra um - um só novo homem; 2:14-15; um só corpo, 2:16; um Espírito, 2:18; uma esperança,4:4; um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos, 4:5-6.

 

OUTRAS PALAVRAS E FRASES REPETIDAS.

 

(1) Em Cristo, 1:1,3,6,12,15,20; 2:10,13;3:11;4:21.

(2) Nos lugares celestiais, 1:3,20; 2:6; 3:10.

(3) Riquezas de graça, 1:7;2:7. Riquezas de glória, 1:18; 3:16. Riquezas de Cristo, 3:8.

 

SINOPSE

 

PARTE I. A igreja e o plano de salvação. Ao discutir o plano de salvação nas diferentes epístolas. Paulo varia a ênfase. Em Romanos, ele o faz sobre a fé sem as obras; em Gálatas, sobre a fé sem as observâncias cerimoniais; em Efésios, sobre a unidade dos crentes.

 

Cap. Um.

 

(1) A saudação, vv. 1-2.

(2) A origem divina da Igreja, vv. 3-6.

(3) O plano de salvação.

(a) Por meio da obra redentora de Cristo, vv. 7-8.

(b) Seu alcance é universal, vv. 9-10.

(c) Garante uma rica herança espiritual, vv. 11-14.

(d) Oração para que os crentes possam ser iluminados quanto às riquezas de suas provisões, vv. 15-23.

 

Cap. Dois.

 

(e) O plano prevê uma ressurreição espiritual longe do pecado, e a exaltação do crente aos lugares celestiais vv. 1-6.

(f) Esta exaltação depende inteiramente da graça, e não das obras, vv. 7-10.

(g) Inclui os gentios, que estavam apartados de Deus, mas que foram aproximados por causa do sangue de Cristo, vv. 11-13.

(h) Remove todas as barreiras entre judeus e gentios, e os une em um corpo para habitação do Espírito Santo, vv. 14-22.

 

Cap. Três.

 

(i) Os mistérios do propósito divino são revelados a Paulo, e sua designação como apóstolo aos gentios, vv. 1-12.

(j) A segunda oração de Paulo pela plenitude espiritual da igreja e sua iluminação acerca do amor incomparável de Cristo, vv. 14-21.

 

PARTE II. Aplicação prática. Propósito do plano divino no que se refere à igreja.

 

Cap. Quatro.

 

(1) A unidade dos crentes.

(a) No Espírito, 1-3.

(b) As sete unidades mencionadas, vv. 4-6.

(c) A diversidade de dons e a unidade do corpo de Cristo, vv. 7-16.

(2) A vida cristã conseqüente, o andar dos crentes:

(a) Não como os pecadores, vv. 17-21.

(b) Em uma nova vida, abandonado os pecados passados, vv. 22-32.

 

Cap. Cinco.

 

(c) Andar em amor e pureza, vv. 1-7.

(d) Andar na luz, vv. 8-14.

(e) Andar com cuidado, cheios do Espírito, vv. 15-21.

(3) A vida no lar.

(a) Deveres dos esposos e das esposas, vv. 22-23.

 

Cap. Seis.

 

(b) Deveres dos filhos, dos pais, dos servos, e dos senhores, vv. 1-9.

(4) A luta espiritual.

(a) A fonte de fortaleza, v. 10.

(b) A armadura e os inimigos, vv. 11-18.

(5) Palavras finais e bênção, vv. 19-24.

 

 

SELEÇÕES ESCOLHIDAS

Orações de Paulo pela igreja, 1:16-23; 3:14-21.

A unidade cristã, 4:3-16.

A armadura espiritual, 6:10-17.

 

 

 

  

 

 

JESUS, REFORMADOR MARGINAL

 

Nesta pesquisa em busca das bases bíblicas da política social de Jesus trabalhamos com o texto de Lucas 4.14-30 e tomamos como referenciais a Ben Witherington III e John Howard Yoder. 

 

Witherington III analisa a marginalidade social de Jesus a partir das realidades expressas pela hierarquia sacerdotal da época em relação a ele. Ao não ter pai conhecido e reconhecido não tinha direito a um nome. Por isso, era visto como alguém de genealogia desconhecida. E o fato de ser nomeado homem de Nazaré, oriundo de uma vila de camponeses e artesãos, pouco conhecida e afastada das rotas comerciais, fazia com que sua identidade geográfica também o desclassificasse como possível figura messiânica. 

 

Assim, genealogia e geografia faziam dele um judeu socialmente à margem, que, por suas origens, não merecia crédito. Mas, esse homem-sem-nome, esse homem-sem-terra santa iniciou suas atividades de maneira no mínimo inusitada na sinagoga de Nazaré, conforme descreve Lucas.

 

Segundo Yoder, na época, não havia nas sinagogas uma leitura dos profetas regularmente prescrita. E o fato de essa passagem não estar presente nos lecionários conhecidos posteriormente, tende a indicar que Jesus a escolheu de propósito. Morris, afirma que essa hipótese corrobora a afirmação de Lucas: “abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito”. Aqui dois detalhes merecem ser realçados: primeiro, é a única referência clara nos Evangelhos de que Jesus sabia ler. E, segundo, por que, ao ler Isaías 61.1-2, ele omitiu uma frase, curar os contritos de coração e acrescentou outra, libertar os oprimidos, que está em Isaías 58.6? Na verdade, utilizou os textos que considerou mais úteis à exposição de sua plataforma político social.

 

O uso que fez de termos políticos, como reino e evangelho, mostram que tal seletividade tinha uma finalidade: falar de uma promessa política de intervenção social alternativa àquelas dos poderes presentes na época. Assim, se lermos o texto apresentado por Jesus, numa perspectiva rabínica, estamos diante de uma recorrência às promessas do jubileu, quando as injustiças acumuladas durante anos deveriam ser sanadas. A fala daquele homem de identidade questionada não afirmava que a Palestina seria resgatada na escala temporal, mas que deveria entrar na vida palestina o impacto solidário do ano sabático. 

 

Da mesma maneira, o Reino vindouro surgia enquanto compreensão profética do ano sabático. Nesse sentido, o sábado da semana ampliava-se no sábado dos anos, onde o sétimo deveria ser de descanso e reforma, já que restaurava o que tinha sido exaurido, natureza e pessoas. Essa coleção de regulamentos presente em Levítico 25.1-26.2 concernia ao direito de propriedade da posse da terra e de pessoas, que constituíam a base da riqueza. O propósito era fixar limites ao direito de posse, já que toda propriedade, natureza e pessoas, pertenceria a Deus. Assim, ninguém poderia possuir a natureza e as pessoas de forma permanente, pois tal direito pertencia a Deus. E o ciclo de sete anos sabáticos desaguava no qüinquagésimo ano, o jubileu messiânico (Lv 25.8-24), que só vai aparecer de novo em todo o Antigo Testamento apenas em Números 36.4. Mas, Jeremias, no capítulo 34.8-17 falou de uma reforma social na Jerusalém sitiada, quando Zedequias proclamou a liberdade dos escravos hebreus. Da mesma maneira, em Isaías 58.6-12 encontramos a reforma como parte da visão profética. Nesse sentido, a reforma do jubileu apontava para a reestruturação econômica e sócio-política das relações entre os povos da Palestina.

 

É interessante que Flávio Josefo tenha afirmado anos depois da presença de Jesus em Nazaré, que “não existe um único hebreu que, mesmo hoje em dia, não obedeça à legislação referente ao ano sabático como se Moisés estivesse presente para puni-lo por infrações, e isso mesmo em casos que uma violação passaria despercebida”.

 

Apesar da afirmação de Josefo, sabemos que um enquadramento econômico e social a partir das disposições de Levítico 25, o que incluía inclusive a redistribuição da propriedade, nunca foi literalmente vivido entre os judeus. Por isso, coube a um “sem-terra prometida” levantar o discurso do ano da libertação. 

 

A proposta de reforma do Jesus marginal era a anunciação profética da entrada em vigor de uma era nova, caso os ouvintes aceitassem a notícia. Não estava a se referir a um evento histórico, mas reafirmava uma esperança conhecida de seus ouvintes: a da reforma econômica e sócio-política que deveria mudar as relações entre os povos palestinos.

 

E aquele homem de genealogia desconhecida e geografia marginal colocou a centralidade da reforma sobre ele próprio ao afirmar que naquele momento, na sinagoga de Nazaré, a promessa profética se cumpria. E é isso que Lucas vai mostrar na seqüência de seu Evangelho: o reformador marginal era o messias prometido.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

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MORRIS, L. Lucas – Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1990.

NORTH, Robert S. J., Sociology of Biblical Jubilee, Roma, Instituto Bíblico Pontifício, 1954.

PIKAZA, Xabier, A Figura de Jesus: Profeta, Taumaturgo, Rabino, Messias, Petrópolis, Vozes, 1995.

PLUMMER, A. Gospel According to St. Luke. ICC. New York: Charles Scribner’s Sons,  s. d.

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TROCMÉ, Etienne, Jésus-Christ et la révolution non-violente (vv.aa.), cap. III, Genebra, Labor et fides, 1961. 

VERMÉS, G., Jesus, O Judeu, São Paulo, Loyola, 1990.

WITHERINGTON III, Ben, The Christology of Jesus, Minneapolis, Fortress, 1990.

YODER, John Howard, A política de Jesus, São Leopoldo, Sinodal, 1988.