jeudi 18 septembre 2014

A consciência, a violência manifesta e Ana Netrebko, "From Janitress to Opera Diva"

A consciência humana procede também da ideação da violência, e fornece os meios que possibilitam à violência individualizar-se como substância do humano. A alienação em suas manifestações é o elo entre a existência humana e a matéria da violência, presença e paradoxo que equilibra vida e morte, permanência e destruição. Por isso, o rabino de Tarso, disse que o homem novo constrói a paz, porque derribou a parede da separação que estava no meio, a inimizade e aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para criar, nele próprio, o novo humano, fazendo a paz. Essa á a boa notícia para todos os que estão mergulhados na violência da iniquidade da sociedade de classes, opressora do humano: propomos a violência dos excluídos de bens e possibilidades como justiça que constrói a paz.

E eu completei: sem poder não há justiça. E o que é o oposto da justiça? Podemos dizer, iniquidade. Certo, mas o oposto da justiça é também exclusão de bens e direitos, é a escravidão. Por isso, muitas pessoas fogem da violência manifesta que se impõe a partir da justiça e do poder, porque buscam conforto e segurança. Ora, o conforto e a segurança podem ser bons, mas não são de fato o bem maior. Uma pessoa que passa a vida à procura de conforto e segurança no final pode se dar mal, porque quando se evita a dor, se evita construções mais profundas.

Por mais que muita gente fuja temerosa diante da violência manifesta, mesmo daquela que nasce da justiça, a violência é inevitável, pois é fruto dos limites quebrados. Há tempo para tudo, como disse o meu amigo Qohelet, tempo de matar e tempo de curar, tempo de guerra e tempo de paz. Portanto, se quisermos ter justiça e, consequentemente, paz, a chave não é eliminar a violência da justiça, mas ao contrário ser agente do poder que nasce da justiça. 

O preço da justiça é o poder que se manifesta na proporção dos limites quebrados, quando a exclusão de bens e direitos exclui a possibilidade de cidadania e liberdade. Nesse sentido, a violência manifesta, mesmo aquela que nasce da justiça causa dor. A conquista e construção da liberdade se dá com dor. Mas o que chamamos dor é muitas vezes esforço. O parto e o trabalhar a terra, metáforas da expansão humana, como disse o Eterno para o casal que se lançava ao mundo, implicam em dor, em esforço. A partir daí podemos entender a relação entre violência e dor, e que, embora o esforço possa ser doloroso, diante da justiça não se pode fugir dessa realidade. Quem deseja uma viagem confortável e segura vai perder as mais impressionantes conquistas da vida.

-- Puxa, Qoh, acho que nos entendemos.

Por Jorge Pinheiro