lundi 30 mai 2022

Paris, a outra

Um pouco da Paris protestante

Há lugares simbólicos do protestantismo no coração de Paris. Entre as ruas e avenidas de Paris, quase uma centena leva o nome de um protestante importante ou de uma personalidade de origem protestante. Cada bairro inclui pelo menos um. 

Através dessas ruas descobrimos não somente arquitetura e geografia, mas a presença dessa fé tão presente na história da França. Alguns lugares. como a Paris de Calvino, a Maisons des Missions e a Faculté de Théologie Protestante há mais de um século fazendo missões e formando pastores. E a Bibliothèque de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français, com seus acervos e exposições que enriquecem nossa compreensão do que significou e significa hoje ser protestante. 

No bairro de Saint-Germain-des-Prés, centro cultural do protestantismo, vemos a igreja Saint-Germain-L'Auxerrois, localizada ao lado do Palácio do Louvre. Na noite de 23 para 24 de agosto de 1572, seu sino tocou soando o alarme para o massacre dos huguenotes, que tinham vindo a Paris assistir ao casamento de Henri de Navarra e Marguerite de Valois no Louvre.

Mas bairros como Saint-Germain des Prés desempenharam um papel importante no nascimento do protestantismo. Jacques Lefèvre d’Étaples, teólogo e humanista, viveu ali, traduziu o Novo Testamento para o francês e por isso foi perseguido. Teve que fugir da cidade, mas não abandonou a fé e se tornou um dos grandes comentaristas de Paulo, o apóstolo dos gentios.

Mas como vimos, Paris viveu o mais terrível dia da história do protestantismo. Na noite de São Bartolomeu foram massacrados protestantes. A carnificina teve inicio no 24 de agosto de 1572, prolongado por vários dias na capital. Cerca de trinta mil protestantes foram mortos, e depois o massacre foi estendido a mais de vinte cidades das províncias durante as semanas e meses seguintes.

Le Massacre de la Saint-Barthélemy de François Dubois
Musée cantonal des Beaux-Arts de Lausanne.

No quadro, a topografia parisiense da época, manipulada, adapta-se ao desejo de mostrar em conjunto os principais locais desta tragédia. À esquerda, pode-se ver a igreja do convento dos Grands-Augustins (agora desaparecido) onde soou o sino que desencadeou os assassinatos, o Sena e a Pont des Meuniers. Ao centro, ao fundo, o Louvre e, em frente ao prédio, Catarina de Médici, a viúva negra, principal instigadora dos massacres. 

Ao centro, ao fundo, a mansão em que o almirante de Coligny, líder do partido protestante, foi morto, decapitado e castrado. Reunidos em torno de seu cadáver, os líderes do partido católico, os duques de Guise e Aumale e o Chevalier d'Angoulême. Ao fundo à direita, a Porte Saint-Honoré e, na colina de La Villette, a forca de Montfaucon, onde o corpo do almirante foi pendurado de cabeça para baixo. Reunindo mais de 150 figuras, a obra é um verdadeiro catálogo da crueldade. Grávida estripada (à direita da pintura ao fundo), crianças arrastando um bebê na ponta de uma corda (ao fundo ao centro, à direita da ponte Meuniers), mulher espetada em um espeto de assar (apenas atrás das crianças arrastando a criança), cadáveres nus e empilhados (principalmente aos pés de Catarina de Médici), casas saqueadas (atrás dos líderes católicos). 

O rei Carlos IX dispara um arcabuz contra seus próprios súditos de uma janela no Louvre (provavelmente da torre esquerda do prédio). Esta pintura é bastante excepcional pela qualidade de sua execução, mas também porque as representações contemporâneas dos massacres de São Bartolomeu são muito raras. Tem a assinatura do pintor François Dubois, protestante de Amiens que se refugiou em Genebra após os massacres.

Este evento das Guerras de Religião foi fruto de uma combinação de fatores,  religiosos, políticos e sociais. Foi a sequência dos conflitos entre católicos e protestantes da nobreza francesa. Aconteceu dois anos após a paz de Saint-Germain, quando o almirante de Coligny, líder do partido protestante, retornou ao conselho real. Agravada pela severa reação parisiense, católica e hostil à política de apaziguamento, reflete também as tensões internacionais entre os reinos da França e da Espanha, agravadas pela insurreição anti-espanhola na Holanda.

Segundo a tradição histórica, o rei Carlos IX e de sua mãe, Catarina de Médici, foram os principais responsáveis ​​pelo massacre.


No dia 13 de abril de 2016, em cerimônia pública foi inaugurada a primeira placa em homenagem às vítimas do massacre de São Bartolomeu, próxima à Pont Neuf, praça du Vert Galant, pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

Embora não tenha uma ligação direta com a história do protestantismo, vale a pena visitar as Catacumbas de Paris, que datam de 1700, quando o ossário foi formado a partir de uma antiga pedreira subterrânea. Ao longo dos anos, mais e mais assadas foram trazidas de cemitérios superlotados para dar lugar ao crescimento da cidade, até 1860. Hoje, ali estão expostos ceca de seis milhões de esqueletos, sendo o maior ossário conhecido.

Mas Paris na superfície é uma festa. Assim, vamos passear pelo Sena, e subir à torre Eiffel num final de tarde.

Observação: 
Para entender a história do protestantismo na França nos remetemos a um texto de Sébastien Fath, historiador e sociólogo, batista, e professor da Universidade de Paris. https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-03100463/document 

Fontes
https://museeprotestant.org/parcours/paris-protestant
https://museeprotestant.org/notice/paris-de-calvin
https://fr.wikipedia.org/wiki/Service_protestant_de_Mission
https://museeprotestant.org/notice/maison-des-missions
https://museeprotestant.org/notice/faculte-de-theologie-protestante-de-paris
https://www.shpf.fr/bibliotheque
https://fr.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_la_Saint-Barthélemy#/media/Fichier:La_masacre_de_San_Bartolomé,_por_François_Dubois.jpg
https://fep.asso.fr/2016/04/devoilement-de-la-plaque-en-hommage-aux-victimes-du-massacre-de-la-saint-barthelemy/
 https://www.youtube.com/watch?v=3QCQwSssuf8 
https://www.getyourguide.fr/la-seine-l2601/paris-croisiere-de-1-h-sur-la-seine-t193940/?partner=true 
https://www.toureiffel.paris/fr