mercredi 29 août 2012

O Eterno e os caminhos da Sabedoria

Baruque, capítulo 3

Senhor, todo-poderoso, Deus de Israel, é uma alma angustiada e um coração atormentado que clama a vós: Escutai, Senhor! Tende piedade! Porque pecamos contra vós. Estais sentado sobre um trono eterno, e nós caminhamos para um definitivo aniquilamento. Senhor, todo-poderoso, Deus de Israel, escutai a prece dos mortos de Israel, dos filhos daqueles que pecaram contra vós, que não atenderam à voz do Senhor, seu Deus, e por isso foram levados à desgraça. Não mais tomeis em conta os crimes de nossos pais, lembrai-vos, apenas, nesta hora, do poder de vosso nome.

Sois o Senhor nosso Deus, e nós queremos louvar-vos, Senhor. Por esse motivo é que nos inspirastes o temor a vós e a necessidade de vos invocar. Agora, em nosso exílio, vos louvamos, já que o nosso coração renunciou às iniqüidades de nossos pais, que contra vós pecaram. Olhai! Aqui vivemos em um exílio, para onde nos dispersastes, a fim de sermos objeto de opróbrio, de insultos e maldições, e para carregarmos o peso das culpas de nossos pais, que haviam abandonado o Senhor, nosso Deus. Escuta, Israel, os mandamentos de vida, medita, a fim de que aprendas a prudência. Donde vem, Israel, donde vem, que te encontras em terra inimiga, que definhas em solo estranho, passas por imundo, qual cadáver, és contado entre os ocupantes dos túmulos. Negligenciaste a fonte da sabedoria. Se houvesses caminhado pelas sendas de Deus, poderias habitar para sempre na paz.




Aprende onde se acha a prudência, a força e a inteligência, a fim de que saibas, ao mesmo tempo, onde se encontram a vida longa e a felicidade, o fulgor dos olhos e a paz. Quem jamais encontrou sua morada, e penetrou em seus domínios? Onde estão os chefes das nações que domavam os animais da terra, e brincavam com as aves do céu, que entesouravam prata e ouro, em quem os homens confiavam, e cujos bens são inesgotáveis? Onde estão aqueles que trabalham a prata com dificuldade? Nada resta de suas obras. Desapareceram, desceram à habitação dos mortos, e outros subiram ao lugar deles, os mais jovens viram o dia e habitaram a terra, não descobriram, porém, o caminho da sabedoria, nem conheceram a senda que a ela conduz. Também seus filhos não a alcançaram e longe permaneceram de seu caminho. Dela não se ouviu falar em Canaã nem foi vista em Temã. Mesmo os filhos de Agar, à procura de prudência terrestre, e os negociantes de Madiã e Temã, os amigos de provérbios e os desejosos de prudência, não puderam conhecer o caminho da sabedoria, nem dela obter informações sobre sua pista.

Ó Israel!, quão imensa é a casa de Deus, como é vasta a extensão de seus domínios! Sim, é vasta, imensa, ampla, ilimitada. Lá nasceram os famosos gigantes antigos, de estatura imensa e alma de guerreiros. Não os escolheu Deus, nem lhes mostrou o caminho da sabedoria. E por falta de sagacidade pereceram, vítimas da própria estultícia. Quem escalou o céu a fim de procurar a sabedoria, e a trouxe para baixo das nuvens Quem atravessou o mar para encontrá-la, e a adquiriu, ao preço do ouro mais puro Ninguém conhece o caminho que a ela conduz, nem sabe a pista que lá o possa levar. Somente aquele que tudo sabe a conhece, e por efeito de sua prudência a descobre, aquele que criou a terra para tempos que não findam, aquele que de animais a povoou, aquele que lança o relâmpago e o faz brilhar, que o chama e ele, bramindo, obedece. Brilham em seus postos as estrelas e se alegram, e as chama, e respondem: Aqui estamos. E jubilosas refulgem para o seu criador. É ele o nosso Deus, com ele nenhum outro se compara. Conhece a fundo os caminhos que conduzem à sabedoria, galardoando com ela Jacó, seu servo, e Israel, seu favorecido. Foi então que ela apareceu sobre a terra, onde permanece entre os homens.

lundi 27 août 2012

IV Jornada Científica da Faculdade Teológica Batista de São Paulo

Não dá para esquecer na gaveta a sua pesquisa científica na área da Teologia. Se você já pesquisou academicamente no seu curso de Teologia um tema relevante, faça sua inscrição. Super abraço para todos e todas. Jorge Pinheiro.

As inscrições serão feitas pelo site do evento. Qualquer dúvida deve ser esclarecida por meio do Fale Conosco

Investimento:

alunos R$25,00 (sem almoço)
demais participantes R$45,00 (sem almoço)
Click aqui para fazer a inscrição.


Local – Faculdade Teológica Batista de São Paulo
R. João Ramalho. 466 – Perdizes. Próximo ao terminal Barra Funda.
Telefone (11) 3879-3600 (seg-sex: das 9h30 às 12h00 e das 14h00 às 21h00)
www.teologica.br - cademica@teologica.br  


Data – 15 de setembro de 2012

Hora – Credenciamento: 8h30.
             Abertura 9h

Observações gerais

As inscrições serão feitas pelo site do evento sob coordenação da Secretaria da Faculdade
Os trabalhos inscritos serão postados no site.
A Coordenação acadêmica é responsável pelo encaminhamento dos trabalhos à Comissão Científica e por fazer contato com os inscritos.
A Comissão Científica avaliará os trabalhos e dará retorno à Comissão Organizadora para providências às comunicações e pôsteres.

vendredi 24 août 2012

Noé, bom entre os bons

Esboço de sermão para meus alunos de Homilética -- e para todos os leitores e leitoras do blog












Fontes
Derek Kidner, Gênesis, introdução e comentário, São Paulo, Editora Vida Nova.
Moisés Katznelson, tradutor judaico de La Biblia hebreo-español, Telavive, Editorial Sinai, Israel.
Ruben Sternschein, "Noah, ser bom entre os bons" in Arte e sabedoria milenar semana a semana -- o que a Torá nos diz hoje, São Paulo, Congregação Israelita Paulista, 2012, p. 18.

mercredi 22 août 2012

Aquele que matou Ícaro

Peça em três atos. Todos os personagens estão em cena desde o início, apenas o jogo de luz define o cenário, quando os personagens em cada ato são iluminados. Quando um personagem fala, a luz vai se tornando mais intensa. Quando ele se cala, a luz declina. E quando o outro personagem fala, iluminado, vive processo idêntico. No palco há um espelho, que fala como imagens de televisão. As imagens em bricolagem desfilam enquanto Macário, o espelho, fala. Mas, outras montagens, cenários e luzes são possíveis. O diretor define. Para os leitores, fica o desafio: façam a leitura do texto em voz alta. Depois dos ensaios, convidem os amigos e vizinhos. Encenem. O teatro faz bem à alma.

Primeiro ato
Ao amanhecer, no palácio de Cócalo, rei de Câmico, na costa meridional da Sicília.

Dédalo -- Bom dia, Macário.

Macário -- Bom dia, Dédalo.

Macário (continua) -- Por que você abandonou Ícaro, como Jefté fez com a menina? Eu bem que avisei você, Dédalo. Eu disse para você não fazer como Jefté, que disse: eu queimarei em sacrifício aquele que sair primeiro da minha casa para me encontrar quando eu voltar da guerra. Eu o oferecerei em sacrifício ao Eterno. Você tinha que dominar a sua arte, caso contrário ela se tornaria inimiga, se colocaria à porta do seu coração como uma fera querendo saltar em cima e devorar você. Cabia a você dominá-la.

Dédalo -- Dominá-la! Dominá-la! O que significa isso, Macário? E quando eu me engalfinho com ela, quando dou pernada e levo sopapos da minha arte, para ter controle sobre ela, já não estou tão envolvido, que de bela fera imaginada ela já não é realidade vivida no peito que dói?

Macário -- Mas eu vi quando você abandonou Ícaro. Você o levou lá para cima, acima das colinas, das pastagens de Creta, vagando pelo azul, e não ficaram os dois, um e outro, o par olhando para as ondas debaixo. E vagou com as nuvens, flutuou na imensidão, cheio de prazer e realização. Coitado de você Dédalo, arquiteto de engenho e arte. Você se bastou, deixou o menino se esgueirar alucinado em direção ao sol forte.

Dédalo -- Para você é fácil julgar, Macário. Você é reflexo da minha loucura, assim como foi reflexo dos caminhos de meu filho. Você é meu inverso, como foi dele, você se mexe, mas está fixo. E quando a gente é um ponto fixo e o resto é cenário é fácil julgar. Você é o sagrado que me consome. Você é a minha dimensão apofática, negação daquilo que sou, é martírio, cruz, morte. Através de você mergulho nas trevas. É isso mesmo Macário, reconheço a minha arrogância e desejo, esse é o meu desejo, que no reconhecimento do desvario possa conhecer para além da razão.

Macário -- Eu sei que é por isso que nos vemos todos os dias. Que é por isso que você levanta, fica diante de mim e começamos a conversar. Eu, Macário, sou misterium tremendum que esmaga e leva o medo até a profundidade da sua alma. Esse temor qualitativo, motivo para reflexão e energia, faz de você meu adorador.

Dédalo -- Eu sei, Macário, meu senhor, que necessito ser como você. Quero incorporar aquilo que me é distinto. Mas, apesar de nossa intimidade a cada manhã, permanece esse abismo entre eu, adorador, e você, sagrado. Desejo saltar o abismo que nos separa, e talvez seja esse o móvel que faz de mim espiritual, ao imitar a queda de Ícaro, o amor do filósofo e a insanidade da juventude. Talvez...

Macário -- Agora, não dá mais, Dédalo! Eu vi você abandonar Dédalo. Você o derrubou, você derreteu as asas dele. Com sua imaginação, com suas mãos de escultor você o puxou para a imensidão do Egeu. Você não o olhou nos olhos. Olhos nos olhos. Dois de realização, egocentrados, dois de terror, caindo no abismo. E você continuou seu vôo de prazer profundo. Esqueceu, abandonou, não viu o rosto aterrorizado que mergulhava. Profundo, vil prazer. E você, mestre, fez os olhos temerosos saltarem. Eu vi, Dédalo. E isso você vai ver também, a cada manhã que olhar para mim.

Dédalo -- Ah! Querido Ícaro, estou perdido nos meus labirintos. Vejo seus cabelos cacheados, os olhos negros, instigantes, voadores. O rosto de jovem que sonha, queimado pelo sol esperto. Ah! Miserável homem que sou, quem livrará o meu corpo da morte?

Macário -- Dédalo, a sua confusão já não está, mas também não estão a escultura e o vôo. Você matou Ícaro e metade da sua alma se foi. Vou colocar no seu rosto, a marca dos olhos desesperados, que olham para além do que todo mundo vê. E as pessoas que olharem para você verão que você vê o que elas não vêem. E fugirão de você por isso. E não matarão você porque vão ficar com medo. E essa será a vingança que Ícaro me autorizou dar a você. Vagar sem esperança pelo labirinto da vida.

Segundo ato
Ao entardecer, num orquidário em Jardim, na chapada do Araripe.

Carvoeiro – Eu vejo a dor de Dédalo de maneira diferente. Dédalo sempre esteve sujo como eu. Bicho humano vivia na sombra. Vou prosar uma toada. Dédalo estava preso na mina, que tinha só uma luz do sol iluminada na entrada. Lá desde a infância teve a cabeça e as pernas amarradas de movimentos. Bicho preso, só conseguia ver o que estava diante. Não tinha voltar do rosto e olhar para trás. Mas, atrás dele, a luz do candeeiro do céu alumiava. Entre a ilustração e Dédalo havia um caminho, mas também um tapume alto. Lá estava Dédalo, libertário, infância a dentro...

Maquinista – Não sei aonde você quer chegar, mas Dédalo é um do protesto. Está livre para criar e fazer. Com ele não tem contras, é ranzinza para a norma dos deuses. As amarrações antigas não têm para ele, o que é engenharia é bom. Legal é novidoso, é bênção buscada. Vou ficar afluente! Ser ourudo está no ninho do coração de Dédalo e não conseguir é pecado.

Guarda-chuva – Não sei não. Vocês são complicados. Acho que já está escrito quando se nasce. Sou guarda-chuva e aqui todo mundo me conhece assim. Quando cheguei, ela estava na cama aos berros. Fiz psiu para se acalmar, embora berrar não fosse mau. Peguei jornal e coloquei debaixo dela. Peguei a minha tesoura, linha de algodão e cortei em três pedaços de vinte e cinco centímetros. Peguei o cobertor, na verdade uma colcha fina que estava ao lado da cama. Dobrei em três e coloquei em cima da mulher. Minhas mãos estavam limpas, mas eu esfreguei com álcool.

Carvoeiro – Espera aí guarda chuva, eu quero continuar. Dédalo se livrou dos nós das amarrações, mas não da astúcia das idéias. Desatado, levantou, voltou a cabeça, andou, olhou para a luz. Como o filho, Dédalo sofreu muito: a iluminação foi coisa de dor, mas o deslumbrou e ele não conseguiu ver as gentes por inteiro. Foi isso que aconteceu com Dédalo, o engenho e a arte dançaram na frente dos olhos dele e queimaram! Que confusão, as verdades doeram, e a astúcia das idéias foi bem mais amistosa do que o mundo transiluminado pelo candeeiro do meio-dia! O filho despencou lá de cima e Dédalo foi para a Sicília.

Maquinista – Dédalo se lançou, cheio do espírito, no criar e fazer no mundão besta. É arquiteto virtuoso, de virtude aburguesada. É puro dos modernosos, cheio de economias e racionalidades, e quer que tudo que é criatura seja trabalhador sóbrio e industrioso, aferrado no manejo, destinado na vida amarrada pelos divinos. Dédalo quer tudo que é criatura debaixo do mando dele, que é decreto eterno vindo dos deuses.

Guarda-chuva – Sei não. Vocês são complicados. Acho que coisa má nasce feita. Quando as contrações aumentaram e a bolsa d´água rompeu, coloquei os dois travesseiros que encontrei para amparar a cabeça e as costas da mulher. Ela começou a fazer força, retinha a respiração e segurou as coxas por trás dos joelhos, puxando as pernas. Apareceu a cabeça. Coloquei uma toalha embaixo das nádegas dela. Mas eu não tinha outra toalha para colocar entre as pernas da mulher. Amparei a cabeça roliça da criança com as mãos em concha. Tinha uma membrana, mas retirei. Para complicar, o cordão veio enrolado no pescoço. Coloquei um dedo por baixo do cordão, afrouxei e passei o cordão por cima da cabeça. Disse para a mulher parar de fazer força. Eu queria que a criança nascesse feliz, sorrindo, sem ruína da vida.

Maquinista --- A sina de Dédalo é essa, ficou na especialização, esqueceu que casa de gente é terra e céu. Dédalo é ciborgue, meio gente, meio máquina, e quando fala faz ruído de máquina. E não fala sem máquina. Dédalo tem o estilo da máquina e vai parir máquinas até a última gota de combustível. Mesmo no céu, está preso na mina, como disse o carvoeiro, mas a mina é de ferro, sistema de uso e danação das idéias livres e do fazer gostoso.

Guarda-chuva -- Principio a entender, mas não sei se concordo com vocês. Quando um ombro começou a sair, amparei, e o outro veio saindo também. Segurei o resto do corpo com as mãos. Não puxei o menino, que poderia se chamar Dédalo. Por que não? E o resto do corpo veio em baba de quiabo. Retirei as gosmas da boca e do nariz com um pano. Segurei de ponta cabeça e o resto da baba saiu. Chorou raivoso o choro dos infelizes. Coloquei-o de costas, amarrei o cordão com as linhas de algodão. Dei dois nós, um mais ou menos a quinze centímetros e outro a vinte centímetros do umbigo. Cortei entre os nós. E fiz depois um terceiro nó a dez centímetros do umbigo e cobri o umbigo com um tampão. Entreguei Dédalo para a mãe. Ele já estava agasalhado. Cobri a mulher e fiquei esperando aquela água-viva vir escorrendo. Coloquei num prato, cortei em pedaços pequenos e dei para ela comer. Eu não jogo a vida fora. Por isso, sou guarda-chuva de fama aqui no Jardim.

Terceiro ato
Ao amanhecer, no palácio de Cócalo, rei de Câmico, na costa meridional da Sicília.

Dédalo -- Que tristeza profunda! Minha sem-vida começa agora, é vazio, não há reino, nem fé, nem paciência. Não há utopia: perdi os sentidos, o êxtase, o presente também.

Macário -- É isso mesmo, Dédalo. Para você não há mais iluminação, nenhuma notícia boa. Você começou a vagar com desespero, sem perspectiva, cheio de medo. E olhar o mundo assim é terrível. Não há mais fonte inesgotável para a imaginação, não há mais transformação. Não há mais possibilidades emergentes à luz do futuro prometido.

Dédalo -- Estou na Sicília, no palácio de Cócalo, e o que vejo? Gente sem âmago, só pedaços. Não há sinais, nem caminho. Não há sentido cronológico de término, não há a absoluta necessidade de pensar o fim, não há kairos, significado maior e profundo na história. Não há expectativa, lúdico, alegria, não há um momento de grande emoção.

Macário -- É a sina de olhar o mundo sem ter Ícaro junto. O que parecia ser bom, ao deixar o labirinto para trás, é queda e perda de sentido. A alegria, felicidade e destino escorrem entre os dedos. Sem Ícaro você é só infeliz. E assim fica o que você vê. Por isso, você precisa cada vez mais de mim. Por isso, todos os dias, você tem que olhar e conversar comigo, ver o vivo e o morto, chorar e ter medo. Não há salvação para você. Infeliz, porque o sol derreteu a aventura e o risco. Não há mais tempo oportuno, não existe para você um começar agora de esperança.

mardi 21 août 2012

Lições de existência


As pessoas são tocadas pelo amor. Nada sensibiliza mais o ser humano, talvez por isso o rolo bíblico de Cantares compare a paixão à força da morte, já que os dois estados se nos apresentem como definitivos. Caso você já tenha estado apaixonado ou apaixonada sabe como é.

Versão completa, dublada, para você curtir com calma

Num domingo de janeiro preparei este prefácio de manhã a partir daquilo que chamei Lições de amor. Foi um pensar na gratidão ao Eterno, um jeito de dizer a Ele que o amo. E pensando, me remeti a um filme de 2001, Uma lição de amor (veja acima), que conta a história de um pai com deficiência mental e uma filha, de sete anos, que começa a ultrapassá-lo intelectualmente. No filme, uma assistente social quer levar a menina para um orfanato, alegando que o pai não tem condições de criar a filha. Foi nesse momento que me deparei com dois dois textos, o de Cantares (8.6), já citado acima, e outro, também belíssimo, de um profeta mal compreendido e meio abandonado, Oséias (2.14-23). 

Minha leitura de Deus, um delírio, de Richard Dawkins, não fez o efeito que ele esperava. Na verdade, me levou a uma outra leitura: fiz uma ponte entre as lições de amor do Eterno e a minha paixão por Ele. E foi assim que surgiu esse prefácio, num discurso sobre as minhas provas da existência do Eterno, que divido em três: (1) o “Noturno Opus 9, no. 2” de Chopin, (2) a roda e (3) a raiz quadrada de menos 1. Talvez, você, querido leitor do meu amigo Jorge Luiz Sperandio, esteja achando que estou louco, o que pode não ser mentira, mas se tiver curiosidade e paciência, vai entender o caminho que trilhei. E esse caminho, que vai na contramão do que Dawkins disse, nos ajuda a entender porque Sperandio está preocupado com os temas centrais da fé cristã, criação, pecado e salvação. Enfim, as lições de amor e essas minhas provas da existência do Eterno se correlacionaram, e levam a uma teoria da existência. 

Eternidade e amor estão entrelaçados, e vejo isso quando sou obrigado a pensar uma teoria da existência. E, metodologicamente, como teólogo, a primeira coisa que devo me perguntar é se uma coisa existe ou não existe. E isso significa trabalhar com variáveis: (1) uma coisa existe; (2) uma coisa não existe; (3) uma coisa não existe, mas já existiu, deixou de existir e não existe mais, porém poderia existir. 

Devo pensar também, e essa questão é um pouco mais complexa, que a existência existe. E ainda que eu diga que existência é espaço/tempo, como não temos espaço apenas, ou tempo apenas, a existência existe. Não dá para dizer que a existência não existe, ela é realidade no cosmo, produz diferença no mundo. Caso não existisse a existência, então, nada existiria. 

Mas, outra questão deve ser colocada: se posso falar numa teoria da existência, preciso entender que posso apreendê-la enquanto atos de conhecimento. E ato de conhecimento é uma ação consciente sobre algo que existe ou uma realidade. Por isso, os atos de conhecimento nos remetem a pessoas que são conscientes e podem conhecer a existência através de seus processos e modos. 

As pessoas são tocadas pelo amor. Nada sensibiliza mais o ser humano do que o amor, como dissemos acima. E, por isso, o amor e a morte se nos apresentam como estados definitivos. Caso você já tenha estado apaixonado ou apaixonada sabe como é. 

E Oséias contou que o Eterno disse (2.14-18): “Vou seduzir a minha amada e levá-la de novo para o deserto, onde lhe falarei do meu amor. Ali, eu devolverei a ela as suas plantações de uvas e transformarei o vale da Desgraça em porta de esperança. Então ela falará comigo como fazia no tempo em que era moça, quando saiu do Egito. Mais uma vez ela me chamará de “meu marido”, em vez de me chamar “meu senhor” (meu baal). Nunca mais deixarei que ela diga o nome baal, nunca mais ela falará desse deus. Sou eu o Senhor quem está falando. Naquele dia, farei a favor dela uma aliança com os animais selvagens, com as aves, com as cobras, para que não ataquem a minha amada. Quebrarei as armas de guerra, os arcos e as espadas. Não haverá mais guerra e o meu povo viverá em paz e segurança. Israel, eu casarei com você, e para sempre você será minha legítima esposa. Eu tratarei você com amor e carinho, e serei um marido fiel. Então, você se dedicará a mim, o Senhor. Naquele dia, serei o Deus que atende: atenderei o pedido dos céus, os céus atenderão o pedido da terra, dando-lhe chuvas. E a terra responderá produzindo trigo, uvas e azeitonas. Assim, eu atenderei as orações do meu povo de Israel. Plantarei o meu povo na Terra Prometida para que eles sejam a minha própria plantação. E eu amarei aquela que se chama Não-Amada, e para aquele que se chama Não-Meu-Povo eu direi: “Você é meu povo” e ele responderá: “Tu és meu Deus”. 

Agora, vamos desconstruir o texto de Oséias e relacioná-lo com a teoria da existência. 

Deslumbrar e fascinar são desafios da existência e isso está expresso do texto de Oséias, quando o Eterno diz: “Vou seduzir a minha amada e levá-la de novo para o deserto, onde lhe falarei do meu amor”. A travessia do deserto, quando os hebreus fugiram do Egito, foi um tempo de intimidade com a eternidade, uma porta de esperança, diferente do vale da desgraça, onde o soldado Acã foi condenado à morte por traição. 

Assim, nessa correlação entre eternidade e amor, podemos discutir a existência a partir dos noturnos de Frederico Francisco Chopin. Esses noturnos eram cantos livres, que traduziam as experiências pessoais de Chopin e expressavam sua espiritualidade. Diria que os noturnos desse músico são o deserto do profeta Oséias, espaço/tempo de intimidade com a eternidade. 

Particularmente, sou apaixonado pelo Noturno Opus 9 no. 2, que tem a propriedade de ser uma obra de criação e pertença de um humano sensível. É peculiar, diria inédita e exclusiva. E ao dizer essas coisas, afirmo não apenas que existe, mas sou obrigado a falar de sua natureza, de sua essência. Ou seja, saber que o Noturno Opus 9 no. 2 de Chopin existe, significa dizer que não existem outros Noturnos Opus 9 no. 2. Só existe esse. 

Baal e îche são outros dois desafios da existência 

E as lições de amor nos trazem de volta a Oséias, quando o Eterno diz: “Ela me chamará de meu marido”. E Isaías (54:4-5) conta que o Eterno disse: “Não temas, porque não serás envergonhada; não te envergonhes, porque não sofrerás humilhação; pois te esquecerás da vergonha da tua mocidade e não mais te lembrarás do opróbrio da tua viuvez. Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra”. 

E mais uma vez a correlação entre amor e eternidade me remeteu a outro processo da existência, que vou analisar a partir de uma das mais simples máquinas que construímos: a roda. Todos conhecemos as suas aplicações e sabemos que crescem a cada dia: vão do uso nos transportes à utilização nas mais diferentes máquinas mecânicas. Mas é simples: caracteriza-se pelo movimento de rotação em seu interior. Em mecânica diz-se que o seu fato mais importante é determinado pela a transmissão de força, velocidade e distância, que se dá pela relação entre o diâmetro da borda da roda e o diâmetro do eixo. 

Ora, a roda nos remete ao trocadilho que Oséias fez com a palavra baal, que era o deus da fertilidade dos cananeus, mas cuja palavra significava também senhor e marido. Oséias não quer que sua amada o chame de baal, mas de îche, homem, que por extensão poderia significar também marido e herói. 

Esse exemplo, o da roda, nos ajuda a entender a questão da existência, que não é uma propriedade que pertence, mas é o pertencimento a uma propriedade. Pense na roda, no conceito roda e em todas que existem ou podem existir. A existência da roda consiste em participar de relações de predicados. Assim, a existência da roda significa que pertence a propriedades ou é parte de propriedades. Nesse sentido, a existência é sempre participação na relação de predicados. Como baal ou îche

Celebrar a imagem que transcende é um desafio fundante da existência 

E para sempre você será minha legítima esposa”, disse o Eterno sobre sua amada. Oséias utiliza esse recurso para falar de uma aliança que transcende os predicados definidos pela existência. 

Ou como o Eterno disse ao profeta Jeremias (31.33-34): “Quando esse tempo chegar, farei com o povo de Israel esta aliança: eu porei a minha lei na mente deles e no coração deles a escreverei; eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. Sou eu, o Senhor, quem está falando. Ninguém vai precisar ensinar o seu patrício nem o seu parente, dizendo: “Procure conhecer a Deus, o Senhor.” Porque todos me conhecerão, tanto as pessoas mais importantes como as mais humildes. Pois eu perdoarei os seus pecados e nunca mais lembrarei das suas maldades. Eu, o Senhor, estou falando”. 

Aqui entra o meu terceiro exemplo dessa correlação entre eternidade e amor e os desafios de uma teoria da existência: a raiz quadrada de menos 1 (√-1). Como vimos, as coisas que existem tem suas propriedades. Quando alguma coisa não tem condições de ter existência comprovada ou não tem pertença/predicados, ela fica fora das leis fundamentais da lógica e da existência dos atos de conhecimento. Por isso, em matemática falamos em unidade imaginária i, enquanto solução da equação quadrática: x2+1=0, da qual decorre x2=−1. 

Ou, dessa séria questão existencial x=√-1, onde a unidade imaginária é i=√-1. Dentro da lógica matemática não posso dizer que este número exista, ele é imaginário porque é um recurso da minha imaginação, pois não há número real cujo quadrado seja negativo. E isso é um fato. Imagina-se, então, que haja números especiais, dotados de propriedades que satisfaçam essa exigência da imaginação. E assim a matemática criou uma classe de números: os imaginários, que não são reais. 

E, agora, voltemos ao filme. O que os amigos do pai deficiente mental entendiam, e a assistente social não, era que havia entre o pai e a filha uma aliança maior, que transcendia em muito suas deficiências intelectuais, uma aliança de amor. 

Dessa maneira, nessa correlação tresloucada entre eternidade e amor digo que uma teoria da existência parte de três fundamentos: (1) a diferença entre existir e não existir, e que essa diferença não é um atributo, não é uma propriedade; (2) a existência não faz parte da essência de cada coisa, mas cada coisa, todas as coisas mostram diferenças entre natureza e existência; (3) a mente transcende, produz representações que agregam conhecimento e constroem sentido para a existência. É o que Dawkins não entende e que Sperandio, com paciência e amor, explica a ele. 

Assim, na correlação eternidade/amor, a existência deslumbra e fascina; é baal e îche; transcende e cria a imagem que alucina. E faça uma boa leitura. 





lundi 20 août 2012

Aqui e agora

Que relação existe entre o tempo presente e o crítica protestante? Para responder a esta questão é necessário antes que nada entender o tempo presente. Falar da situação espiritual do tempo presente [1] pode significar duas coisas. É dizer que vamos de uma situação contingente em direção a um ponto de vista superior. O tempo presente seria, então, parte de uma situação mais geral. O momento presente estaria enquadrado no caminhar do processo histórico. 



E para fazer a leitura desse tempo presente pode-se recorrer à análise histórica, à avaliação crítica ou à construção filosófica. Algumas vezes, porém, algum desses elementos falha. Por isso, não basta observar o tempo presente. Estamos excessivamente ligados a ele, o que nos pode levar a escorregar para um julgamento do ser enquanto aqui e agora e esquecer que devemos estar voltados para o futuro. 


O momento é importante, mas transformar o exame da situação espiritual do tempo presente em apreciação subjetiva é realizar uma redução, é ver a situação como totalidade e permanência. Olhando assim colocamos a situação num patamar elevado e a perspectiva que temos é aparentemente ampla e global, apesar de seu caráter individual e limitado. 

Tal análise do momento pode levar a uma ampla aprovação e tocar emocionalmente setores expressivos da sociedade e comunidades inteiras. Um exemplo foi o trabalho de Spengler, A decadência do Ocidente, onde o filósofo alemão parte da profunda crise de seu país no primeiro pós-guerra e conclui que a cultura ocidental chegou ao fim. 

Esta é uma maneira de ver. Ela pode ser qualificada como parcial e limitada, mesmo quando apresenta análises de conjuntura e perspectivas para o futuro. Mas por que então parcial? Porque não aceita suas responsabilidades. Porque não reconhece os limites daquele que observa, assim como de seu próprio horizonte. [2] 

Mas se existe um nível mais elevado, mais amplo do que este analisado pelo observador, somos levados a falar da situação espiritual do tempo presente, possibilidade que pode ser qualificada de responsável. E é possível chegar a tal patamar de observação? [3]

Caso exista um ponto de vista mais elevado, a partir do qual se posicione um atalaia do tempo presente, como deve ser este mirante? Deve estar numa altura acima de qualquer comparação. Só o absolutamente inacessível, incomparável, incondicionado, livre das amarras do historicismo, pode ser de fato responsável. 

Partindo dessa realidade, pode-se dizer que existiram pessoas que interpretaram a situação espiritual de uma época dada. Eis aqui o ponto de intersecção entre o tempo presente e a crítica protestante. Seguindo a trilha aberta por Tillich, que cita a paixão de Troeltsch no combate ao historicismo, e que terá seus estudos sobre profetismo reconhecidos inclusive por estudiosos judeus, [4] é possível afirmar que o princípio profético traduz inquietude e descontentamento em relação aos acontecimentos sociais e religiosos concretos. 

Há uma semelhante busca ética de respostas entre aquele que encarna a crítica protestante e a ação consciente do intelectual orgânico [5]. Ambos representam determinada comunidade, têm função superestrutural e, apesar de sua organicidade, precisam exercer autonomia em relação às pressões sociais que sofrem. É dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo poder. E um poeta nosso expõe isso muito bem. Vamos ouvir Thiago Grulha. 

Notas
[1] Paul Tillich, Kairós II in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 255-267, tradução francesa do original Kairós. Zur Geisteslage und Geisteswendung, Gesammelte Werke, 1926, VI, pp. 29-41. 
[2] Idem, op. cit., p. 255. 
[3] Idem, op.cit., p. 255. 
[4] León Epsztein, em A Justiça Social no Antigo Oriente Médio e o Povo da Bíblia, São Paulo, Edições Paulinas, 1990, p. 116 cita E. Troeltsch, Das Ethos der hebraischen Propheten, in Log., 191, p. 1:28. 
[5] “Se e a relação entre intelectuais e povo-nação, entre dirigentes e dirigidos - entre governantes e governados - é dada por uma adesão orgânica, na qual o sentimento paixão torna-se compreensão e portanto saber (não mecanicamente, mas de forma viva), é somente então que a relação é de representação e que se produz o intercâmbio de elementos individuais entre governados e governantes, entre dirigidos e dirigentes, isto é: que se realiza a vida conjunta que, só ela, é a vida social, cria-se um bloco histórico”. Antonio Gramsci, Il Materialismo Storico e la Filosofia di Benedetto Croce, Turim, Einaudi, 1966, p. 115. 


Tempo Para Amar
Thiago Grulha

Olhei no relógio e o dia já se foi
E eu não disse te amo pra ninguém
Até tive chances mas deixei pra depois
Quanta coisa na vida eu deixei pra depois também,
Pra depois também
Estava com pressa
Não abracei meus pais
Não escutei a quem pedia atenção
Pra correr e vencer, deixei amigos pra trás
Estou ganhando o mundo
Perdendo meu coração

Quem não tem tempo para amar
Morre por dentro a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo

Olhei no relógio e ainda é cedo, eu sinto a alma amanhecer
O amor perfeito lança fora o medo
Quem decide amar, decide viver
Decide viver

Quantos esperam o nosso olhar de amor
Palavras que confortem o coração
Em dia de guerra, de ódio e rancor

Só o amor de Deus é que traz salvação

Quem não tem tempo para amar
Morre por dentro a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo

Quem não tem tempo para amar
Morre com o tempo a cada segundo, a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo
O amor de Deus transforma o mundo
O amor de Deus transforma tudo.

dimanche 19 août 2012

A dúvida e a situação-limite humana

“A existência humana é a elevação do ser à dimensão da liberdade. O ser se liberta das cadeias da necessidade natural. Torna-se espírito e adquire liberdade de se questionar a si mesmo, o seu ambiente, de questionar a verdade e o bem e de decidir a seu respeito. Entretanto, há nessa liberdade certa falta de liberdade, pois somos todos compelidos a decidir. ‘Essa inevitabilidade da liberdade, de ter que decidir, cria profunda inquietude da existência; é por esse meio que a existência passa a ser ameaçada’. Tudo isso, porque somos confrontados por uma exigência incondicional de escolher o bem e de realizá-lo, na mesma medida em que isso não pode ser alcançado. Conseqüentemente, o ser humano, na sua dimensão espiritual carrega em si uma ruptura, que também se manifesta na sociedade. Não é possível fugir dessa exigência. Ao enfrenta-la jamais se reveste de segurança absoluta. Trata-se pois do que Tillich chama de ‘situação humana limite’: todas as seguranças que construímos são questionadas e as possibilidades humanas alcançam e descobrem seus limites”. James Luther Adams, O conceito de era protestante segundo Paul Tillich, in Paul Tillich, A Era Protestante, SBC, Ciências da Religião, 1992, p. 301.

“Observamos aqui um dos aspectos mais originais e notáveis da doutrina da justificação em Tillich. Lutero aplicava essa doutrina apenas à vida religiosa-moral. O pecador, não obstante ser injusto era ‘justificado’. Tillich aplica a mesma doutrina igualmente à esfera religiosa-intelectual. Nenhuma autoridade tem o direito de exigir, na verdade, a aceitação de qualquer crença ‘correta’ de quem quer que seja. A devoção à verdade é suprema; é devoção a Deus. Existe sempre um elemento sagrado na integridade que conduz à dúvida mesmo sobre Deus e a religião. Na verdade, se Deus é a verdade, Ele é a base e não o objeto das questões a seu respeito. Qualquer lealdade à verdade será sempre religiosa, mesmo quando acabar constatando a falta de verdade. Parafraseando Agostinho, a pessoa que duvida com seriedade terá de dizer: ‘Duvido, logo sou religioso’. O divino se faz presente até mesmo na dúvida. O ateísmo absolutamente sério pode se dirigir ao incondicional; pode ser uma forma de fé na verdade. Vê-se aqui a conquista da falta de sentido pela consciência da presença paradoxal do ‘sentido na própria falta de sentido’. Assim é ‘justificado’ aquele que duvida. A única atitude fundamentalmente irreligiosa é, então, a do cinismo absoluto com sua completa falta de seriedade”. James Luther Adams, idem, op., cit., pp. 302-3.

vendredi 17 août 2012

IDC 106.2 FM, Herzliya, Israel


IDC Radio is a college radio station operated from IDC Herzliya, Israel.
IDC Radio offers varied quality talk and music programs.

Imagem e dignidade


Shelach Lechá
Rabino Ruben Sternschein
17 de agosto de 2012
29 de av de 5772
BY CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA

Nem sempre a vaidade é superficial. Nem sempre o marketing é uma mentira ou uma inflação de uma pequena verdade em prol de um interesse mesquinho e egoísta. Nem sempre promover uma imagem é apenas egolatria e poder.

Na parashá da semana, Deus resolve acabar com uma grande quantidade dos hebreus libertados pois eles temem a liberdade e preferem voltar à escravidão egípcia. “Compram” com facilidade o conto de dez dos doze espiões que foram mandados a analisar a Terra de Israel e seus habitantes, segundo o qual a terra consome seus habitantes e quem resiste são gigantes que jamais permitirão que ninguém se introduza nela.

Nesse momento Moshé intervém em favor dos hebreus e convence Deus com um argumento típico de um assessor de imagem: “O que vão dizer os egípcios sobre um Deus que tirou seu povo para matá-lo no deserto por falta de capacidade para levá-lo com vida até o destino final?

Alguns mestres medievais como Rabi Itschak Arama e Rabi Abarbanel reclamaram absortos, dizendo: como é possível que Moshé pense que Deus se importaria com Sua imagem e, acima de tudo, justamente diante de pagãos como os egípcios!

Nachmânides sugere uma solução magistral: não era a Sua imagem em si, pela sua vaidade, pelo seu “ego”, o que preocuparia Deus e Moshé, mas sim o que implicaria para a humanidade e para o mundo um Deus que destrói tudo, uma dinâmica mundo-Deus determinada e caracterizada pela raiva e pelo mútuo afastamento. Ou seja, o cuidado da imagem por motivos altruístas, pelo bem de quem observa a imagem, interpreta-a, incorpora-a e reage a ela.

Nossa imagem tem a ver com o que representamos e não apenas com quem somos. Se um judeu identificado como tal age corretamente em público, cedendo um assento a uma grávida no metrô, ajudando um idoso a atravessar a rua, contribuindo com a campanha do agasalho, fazendo negócios limpos, logo os judeus como coletivo são identificados com esses valores.

Se um judeu liberal, um cipiano, participa de sua comunidade com entusiasmo, aprende, pensa, ensina, se comove e vive uma vida mais significativa, logo o judaísmo liberal e a CIP serão identificados como algo de valor e significado.

Da maneira como falemos com nossos filhos, pais e cônjuges, quem nos vir e ouvir aprenderá como ser adulto.

O israelense Shmuel Yosef Agnon, Prêmio Nobel de Literatura em 1966, escreveu que quando alguém falece dizemos o Cadish porque nos preocupamos com a imagem que fica da vida diante do afastamento desse ser querido. O Cadish tenta continuar sustentando Deus e o mundo e sua dignidade na hora de perda de quem representava tudo isso.

Que possamos nesta semana compreender tudo o que representamos e manter a maior dignidade possível de nossas múltiplas imagens. Em prol dos que delas aprendem a viver e ser.

Shabat shalom,
Rabino Ruben Sternschein



Números 14.13-19
13 E disse Moisés ao SENHOR: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a tua força fizeste subir este povo do meio deles. 14 E dirão aos moradores desta terra, os quais ouviram que tu, ó SENHOR, estás no meio deste povo, que face a face, ó SENHOR, lhes apareces, que tua nuvem está sobre ele e que vais adiante dele numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite. 15 E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: 16 Porquanto o SENHOR não podia pôr este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto. 17 Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: 18 O SENHOR é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração. 19 Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui.

jeudi 16 août 2012

O cairo e a filosofia da história

Em relação às perspectivas do futuro, cairo é um momento especial, tempo bom, especial.

"C’était une intuition subtile qui incitait l’esprit de la langue grecque à designer le temps formel par le terme chronos, qui est différent de kairós, lequel designe ‘temps opportun’, le moment riche en contenu et en signification. Et ce n’ést pas un hasard si ce mot a trouvé son usage le plus dense et le plus fréquent là où la langue grecque devint le véhicule de l’esprit historique et dynamique du judaïsme et du christianisme primitif, c’est-à-dire dans le Nouveau Testament. On y dit de Jésus que son kairos n’était pas encore venu; et puis qu’à un moment ou l’autre il est venu en kairo, à instant où les temps etaient dans leur plenitude. C’est seulement pour la réflexion abstraite, objective, que le temps est une forme vide, pouvant recevoir n’importe quel contenu. Mais pour celui qui vit et a conscience de ce qu’est un événement créateur, le temps est charge de tension, de possibilités et d’impossibilités; il est qualitatif et riche de contenu; tout n’est pas possible en tout temps, tout n’est pas vrai en tout temps, tout n’est pas exigé à tout moment. Divers ‘maitres’, c’est-à-dire diverses puissances cosmiques, règnent em différents temps, et le ‘Seigneur’ qui triomphe de tous les autres anges et pouvoirs, règne dans le temps plein de destin et de tensios, qui s’étend entre la Résurrection et la Seconde venue; il règne dans le ‘temps présent’ qui, en son essence, est différent de tout autre temps du passe. C’est dans cette vive et très profonde conscience de l’histoire que s’enracine l’idée du kairós; et c’est à partir de là qu’elle doit être élaborée en concept d’une philosophie de l’histoire consciente”. Paul Tillich, Kairos I in Christianisme et socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 116-117.


Assim, cairo é tempo favorável para a construção de propostas e alternativas sociais. É um tempo carregado de tensão, de possibilidades, qualitativo e rico de conteúdo, mas nem tudo é possível sempre. Isto porque, os poderes são plásticos e se fazem presentes em tempos diferentes. É nessa consciência da história que está enraizada a idéia do cairo e é a partir dela que deve ser elaborado o conceito de uma filosofia da história.

mercredi 15 août 2012

Toninho Mendes e Jorge Pinheiro


Toninho Mendes dá o seu recado: "Inicio uma nova empreitada editorial. No sábado dia 18 de agosto das 17 as 21 horas estarei no estande da editora Sampa na Bienal do Livro, autografando o número 1 de uma série de 3 revistas sobre a história da ditadura militar. A apresentação da pesquisa foi feita por Jorge Pinheiro, colega daquele período do jornalismo que lutou contra a ditadura. A capa está acima. A revista estará nas bancas no final de agosto. Abraços e saudades".
 

mardi 14 août 2012

Organização social, práticas sexuais e religião

Cadernos de Pesquisa
Print version ISSN 0100-1574
Cad. Pesqui. vol.38 no.133 São Paulo Jan./Apr. 2008

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742008000100012 
RESENHAS

Organisation sociale, pratiques sexuelles et religion: le cas des trois religions monothéistes

Maria José Werebe, Paris : L'Harmattan, 2007, 262p.

Maria José Werebe foi professora livre-docente do curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS–, na França. Especialista em educação sexual, situa o comportamento sexual humano para além de condicionantes de ordem biológica. Para a autora, um amplo conjunto de elementos intervém na sexualidade humana, cujas possibilidades de expressão encontram-se na confluência de fatores biológicos e socioculturais. A sexualidade se constitui também em um saber, aprendido e transmitido: "saber como fazer e como não fazer", conhecer o preço do prazer, as condições de negociação do desejo, as regras sociais quanto às trocas e relacionamentos sexuais.

As religiões constituem um importante elemento na conformação e compreensão da sexualidade. Em primeiro lugar porque as práticas sexuais se inscrevem em um contexto cultural e "a religião representa um fator importante no estabelecimento de normas e preceitos que visam reger o comportamento humano". A despeito do avanço da secularização, da separação entre poder religioso e poder laico, e da evolução das normas morais, "as religiões continuaram a exercer uma influência significativa em quase todas as sociedades". Em segundo lugar porque a sexualidade está fundada em um saber e o homem faz intervir o sagrado no discurso dele sobre ele mesmo, com o fim de legitimá-lo. Assim, a religião pode se constituir esse instrumento de sacralização de normas, mesmo quando as normas são provenientes de fontes externas independentes de prescrições religiosas, como certas tradições culturais ou leis "estabelecidas pelas autoridades no poder, em função de interesses políticos e econômicos".

A Werebe se propõe a analisar as relações entre as três religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo – e a sexualidade, para o que entende seja necessário situá-las em seu contexto político, econômico e cultural e considerar a sua evolução no espaço e no tempo. Busca compreender as regras por elas enunciadas e "suas implicações na prática sexual, na organização da família e na sociedade de hoje", procedendo ao exame dos textos revelados (a Bíblia – Antigo e Novo Testamento – e Alcorão), dos textos escritos pelas autoridades religiosas e de interpretações dos textos por crentes e não crentes no que concerne à sexualidade.

Na primeira parte do livro examina o judaísmo, sua história, os pontos centrais de sua doutrina e as regras morais e sexuais estabelecidas no texto, procurando levar em conta as diversas correntes e suas normas e atitudes em relação à sexualidade. Destaca que essas normas e atitudes podem variar de acordo com o grau de adesão do crente às tradições religiosas, com a sua classe social e o país em que vive, e conforme se trate de judeu de Israel ou da diáspora. Em relação à sexualidade, comportamento e normas dos judeus sofreram mudanças significativas ao longo da história, em virtude da influência que receberam da cultura das sociedades em que viveram e das diferenças de interpretação dos textos religiosos entre sábios e autoridades religiosas. Enquanto os ortodoxos apregoam uma "moralidade estrita e intransigente", a tolerância e a liberdade de atitudes, inclusive no campo da sexualidade, fazem parte do estilo de vida da maioria dos judeus, particularmente daqueles que vivem fora de Israel.

Na segunda parte, ressalvando a impossibilidade de contemplar toda a sua história, transformações e ramificações, mesmo no interior das principais confissões, a autora analisa o cristianismo em seus principais momentos históricos no que concerne às reciprocidades de interesses políticos e influências culturais mútuas entre religião e sociedades nas quais se instala e para as quais se expande, na forma das três principais confissões: católica romana, oriental-ortodoxa e protestante. Do ponto de vista da moral sexual o cristianismo é "herdeiro dos preceitos hebraicos e greco-romanos" que, contudo, evoluíram e sofreram transformações ao longo do tempo.

O catolicismo romano é a mais importante dentre as confissões cristãs em face do número de adeptos, da sua expansão e presença em inúmeros países, e da influência que sempre exerceu nos domínios "religioso, político e moral". Prescreve uma moralidade sexual estrita em muitos aspectos, com os renovadores opondo-se aos conservadores nesse campo. Para estes, as relações sexuais têm por finalidade única a procriação, de modo que os métodos contraceptivos, o aborto e o homossexualismo são condenados. No entanto os preceitos morais da Igreja Católica não são totalmente seguidos pela maioria dos seus adeptos: "a contracepção e o aborto são aceitos pela maioria dos católicos, assim como a relação sexual fora do casamento".

No que se refere ao cristianismo oriental-ortodoxo, a autora destaca que, embora haja diferenças entre as suas diversas correntes, este se mostra também muito conservador em relação às questões sexuais. É contudo mais liberal do que o catolicismo romano, uma vez que não prioriza um moralismo estrito, mas sim "o ser humano e a comunhão entre as pessoas". A adoção de métodos contraceptivos cabe à consciência individual e se admite o divórcio, assim como o novo casamento em caso de adultério ou esterilidade.

Quanto ao protestantismo, os preceitos morais de cada uma das correntes no seu interior variam significativamente conforme estejam mais ou menos ligados a tendências liberais ou fundamentalistas. Entre os pentecostais as posições de algumas correntes não são muito rígidas, "mesmo se a Assembléia de Deus, dentre outras, preconiza um certo rigor"; na França, os protestantes adotam posições majoritariamente liberais quanto à moralidade, sendo favoráveis ao uso de métodos contraceptivos, tolerantes quanto à relação sexual pré-conjugal e mesmo quanto ao homossexualismo, e admitem o aborto em alguns casos; contudo, ainda na França, as correntes denominadas evangélicas não chegam a ser tão liberais. No entanto, "os conservadores americanos de direita pregam uma moral extremamente retrógrada, contra o aborto e os homossexuais", chegando até, em alguns casos, a propor a proibição de salas de aula mistas nas universidades.

Na terceira parte do livro, a autora trata do islamismo, a "mais jovem" das religiões estudadas, de sua evolução e expansão desde que foi criado, suas correntes e as normas e regras morais e sexuais que lhes correspondem, fazendo também uma rápida abordagem do feminismo árabe-muçulmano, assim como da situação das mulheres em alguns países muçulmanos. Chama a atenção para a "grande diversidade étnica e cultural do mundo muçulmano" (islã negro, árabe, iraniano etc.) e para a tendência de considerar certas regras associadas ao Islã "como sendo universais", quando na verdade essas são interpretadas de modo diferente de acordo com o país, categorias sociais, e comunidades imigradas. Nos países em que o islamismo é a religião principal ou oficial, obviamente a tendência é que as regras sejam mais estritas, embora algumas delas sejam mais "determinadas por tradições culturais do que pela religião". Mesmo nesses países é possível verificar progressos em direção à maior liberalidade quanto à moral sexual e aos direitos das mulheres. Exemplos nesse sentido são a Turquia (estado laico) e a Tunísia, onde o aborto e a adoção de métodos contraceptivos são admitidos, e a poligamia e o repúdio de mulheres é proibido (o divórcio é permitido na Turquia).

Nas comunidades imigradas, alguns grupos integristas – minoritários – "tentam impor regras morais rígidas, às vezes por meio de métodos violentos", mas a maioria dos imigrantes muçulmanos se integra à cultura local, adotando um islamismo "moderado, compatível com as liberdades democráticas". De modo geral apenas os grupos "radicais" são favoráveis a uma moral sexual rígida. Contudo, de acordo com a autora, ao contrário do que ocorre com os cristãos e judeus, não se constata queda da prática religiosa entre os muçulmanos, principalmente nos países em que eles são majoritários.

Para além da riqueza de dados e informações, um dos méritos desta obra está no próprio fato de voltar o olhar para as relações entre religião, sociedade e sexualidade. A análise transversal não dá margem a que se corra o risco de limitar e/ou excluir da problemática de gênero parcela considerável de mulheres, uma vez que o fator religioso incide sobre as relações sociais de sexo tanto de forma indireta, pelos imbricamentos existentes entre cultura, saberes e poderes laicos e religiosos, quanto de forma direta, em face da forte presença de mulheres nas religiões.

Outro elemento de destaque está na abordagem do fenômeno religioso como processo mais dinâmico e amplo do que as representações acerca das religiões ou de suas manifestações dominantes poderiam fazer crer. A autora evita uma abordagem simplista1 mas comum, mesmo nos meios acadêmicos, que tende seja a afirmar uma "missão redentora" da ciência, da república laica, de todas as instâncias que representariam, enfim, a libertação da religião, da falsa consciência de si para a "real" racionalidade e liberdade, seja a exaltar um pretenso papel "libertário" da religião. Como se as religiões tivessem sempre e apenas uma face– ou libertadora ou de reforço do patriarcado – e jamais as mulheres, dentro de uma visão religiosa, pudessem aceder ou se beneficiar da condição de sujeito em contraposição à sociedade laica, que sempre lhes favoreceria esse acesso.

Na perspectiva da autora, a realidade ou as realidades dessa relação entre religião, sujeito e sociedade é bem mais complexa. O processo de crescente autonomização dos sujeitos se consolida também no (e talvez mesmo a partir do) campo religioso, possibilitando aos "crentes modernos" comporem as suas crenças e exercerem a sua fé, sem necessariamente "respeitar todas as regras impostas pela sua religião" ou pelas autoridades religiosas. De fato os dados indicam que "o retorno do sentimento religioso não impediu uma queda [na observação] das práticas religiosas, em particular entre os cristãos e os judeus". Se, no entanto, há um retorno do sentimento religioso, ele é explicável em parte pelas desigualdades e injustiças sociais, pelo confronto de etnias e dificuldades de aceitação da alteridade. Cenário no qual reivindicações étnicas, políticas ou identitárias, estão ou são, em muitos casos, associadas a um pertencimento religioso, ao mesmo tempo em que se verifica crescimento de integrismos e fundamentalismos, que tanto se podem configurar em "solução de desespero" quanto em afirmação ou desejo de poder.

Com essa perspectiva sensível e lúcida a autora conclui que o problema não está na religião em si, mas no que se faz dela, ou com ela. Não se trata, no caso, de 'resgatar' as religiões ou de justificá-las, mas de reconhecer a complexidade de fatores envolvidos na adesão e nas formas de manifestação religiosa, tanto do ponto de vista dos sujeitos religiosos, quanto no que se refere às relações entre religião e sociedade e das implicações destas sobre as relações de gênero no âmbito interno e externo ao contexto religioso.

Naira Carla Di Giuseppe Pinheiro dos Santos
Núcleo de pesquisa em gênero
e religião Mandrágora/NETMAL
Doutora em Ciências da Religião
pela Universidade Metodista de São Paulo
nairapinheiro@gmail.com

1. Woodhead, L. Mulheres e gênero: uma estrutura teórica. Revista Eletrônica Rever , v.2, n.1. Disponível em: www.pucsp.br/rever.         [ Links ]  ]

Teologia humana, pra lá de humana


O humano é responsável pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã. É na construção escolhida ou imposta, mas aceita, e na sequência dela, que cada um, que cada uma, faz a comunidade humana. As realidades imanentes e transcendentes são vaidades e correr atrás do vento quando é descartado o papel humano de cada dia. Por isso, a teologia exorta à crítica do espírito de religiosidade e chama à liberdade do livre espírito: pensar a imposição para construir além dela.

Os batistas



Os batistas são, depois do pentecostalismo, a ramificação mais numerosa do protestantismo evangélico, compreendido como um cristianismo biblicista, conversionista e militante. É a principal confissão protestante norte-americana e tem um crescimento significativo no Brasil. Em termos gerais, desenvolveu-se a partir de três traços distintivos: uma teologia de inspiração calvinista, uma eclesiologia congregacionalista e de proclamação – com autonomia da assembleia local e composta de militantes engajados – e a prática do batismo por imersão do convertido, o coração da especificidade batista. Esse protestantismo evangélico se caracteriza, ao mesmo tempo, por uma referência à tradição confessional e por uma plasticidade marcante. É essa construção confessional, no caso brasileira, com suas tradições, que um grupo de especialistas analisa nesta obra.

lundi 13 août 2012

Casa Grande, de Gladir Cabral

Gladir Cabral


A casa grande é branca e branda como a seda, 
Acolchoada, fina e nobre como a renda, 
Mas aqui fora reina a lei da reprimenda, 
Da palmatória, nossa paga, nossa prenda. 

Doutores, caros, fortes, ricos e senhores 
Que suspirais pelas janelas dos amores, 
Olhai por nós marcados por terríveis dores, 
De vós vêm nossas esperanças e temores. 

Os nossos corpos sendo mortos pouco a pouco, 
Os nossos sonhos já desfeitos, todos loucos. 
Na casa grande há uma cruz numa parede. 

No coração de um negro há uma casa nova 
Sem palmatória, sem corrente obrigatória, 
Sem mais senhores, todos são de todo amigos 
E nas paredes não há cristos esquecidos. 

Nessa fazenda Deus é gente aproximada, 
É tempo inteiro, tarde, noite e madrugada, 
Motiva encontro, comunhão e caminhada, 
Faz liberdade ser bem mais que uma palavra. 

Os nossos corpos redimidos num momento 
Bem mais veloz que a luz de todo o pensamento, 
A nossa casa é muito mais que uma fazenda (1ª) 
A nossa vida é bem mais que uma fazenda (2ª)

mardi 7 août 2012

Estudo Interreligioso -- programa para o segundo semestre de 2012

EMENTA O Estudo Interreligioso, enquanto estudo racional da experiência cristã e das religiões mundiais. Conceitos, cosmovisão e metodologia do Estudo Interreligioso. Abordagens e leituras das correlações com outras cosmovisões. OBJETIVOS O estudo das correlações entre as religiões mundiais e o cristianismo é importante porque possibilita ao aluno abordar outras leituras da realidade. Isso permite aos futuros profissionais da teologia, sejam pastores, professores ou missionários, construir uma concepção de mundo que permita o diálogo com outras formas de pensar, mas ao mesmo tempo permitir ao aluno balizar teologicamente sua vida ministerial.
3. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO O propósito básico da apologética foi expresso por Pedro: “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1ª. Pedro 3.15). A apologética, então, é a resposta para perguntas e questões sobre a fé cristã, tanto as questões levantadas pelos próprios cristãos, como os questionamentos apresentados pelos não-crentes. Agosto O Deus trino e os argumentos cosmológico, teleológico, axiológico e suas avaliações. Leituras Pinheiro, Jorge, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012, cap. 3 e 4. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008, cap. 3. 
Setembro A coerência do teísmo: necessidade, onipresença, onisciência, onipotência e suas avaliações. Leituras Pinheiro, Jorge, op. cit, cap. 4. Outubro/ Novembro O problema do mal e as doutrinas cristãs: Trindade, encarnação e o particularismo cristão e suas avaliações. Leituras Pinheiro, Jorge, op. cit., caps. 10, 11 e 12. STOTT, John, op. cit., caps. 4 e 5. METODOLOGIA Optamos por uma abordagem temática dos assuntos, sem descuidar da referência necessária à história dessa área da Teologia, que permita estabelecer o fio condutor da exposição dos temas. Isto porque fazer apologética não deve ser visto como atividade solitária, mas que se faz através do diálogo entre pensadores, igreja e fiéis quando expõem suas diferenças. RECURSOS Audiovisuais. AVALIAÇÃO Os alunos serão avaliados por sua participação em classe (peso 3), pelos seminários apresentados (peso 4) e por uma prova final (peso 3). BIBLIOGRAFIA BÁSICA BECKWITH, francis J., CRAIG, William L., e MORELAND, J. P., Ensaios Apologéticos, São Paulo, Hagnos, 2006. Pinheiro, Jorge, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR Pinheiro, Jorge, “A doutrina da eleição – calvinismo, arminianismo e o equilíbrio da doutrina batista” in Revista Teológica, São Paulo, Ano 4, no. 5, 2008. Santo Anselmo, Livre arbítrio e predestinação, uma conciliação entre a presciência e a graça divina, São Paulo, Fonte Editorial, 2006.

Filosofia II -- segundo semestre de 2012

EMENTA A compreensão da correlação entre a filosofia e a teologia é essencial para que se possa romper com as leituras rasas da fé cristã, que descartam as influências de épocas, culturas e pensadores na construção do pensamento teológico. Acreditamos que o estudo da Filosofia Cristã oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento de uma consciência crítica, pela qual a experiência vivida é transformada em consciência compreendida, ou seja, em conhecimento a respeito dessa experiência. OBJETIVOS Optamos por uma abordagem temática dos assuntos, sem descuidar da referência necessária às histórias da filosofia e da teologia, que permitam estabelecer os fios condutores da exposição dos temas. Isto porque teologizar filosoficamente não deve ser visto como atividade solitária, mas como diálogo entre os pensadores escolhidos para tais debates e a capacidade crítica de professor e alunos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Agosto / Setembro O círculo teológico O círculo em que se situa o teólogo é diferente daquele do filósofo. Ele acrescenta aos “a priori do mistério” o critério da mensagem cristã. Enquanto o filósofo procura permanecer geral e abstrato em seus conceitos, o teólogo é consciente e intencionalmente específico e concreto. Assim, o teólogo entra no círculo teológico com um compromisso concreto, como membro da igreja cristã para cumprir suas funções essenciais, sua interpretação teológica da revelação e da realidade. A filosofia e a teologia formulam a pergunta pelo ser. Mas elas o fazem de perspectivas diferentes. A filosofia lida com a estrutura do ser em si mesmo; a teologia lida com o sentido do ser para nós. Dessa diferença surgem tendências convergentes e divergentes entre teologia e filosofia. Textos: Pinheiro, Jorge, Deus é brasileiro, as brasilidades e o Reino de Deus, São Paulo, Fonte Editorial, 2008, Introdução e capítulo 1. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008, Introdução e caps. 1 e 2. Tillich, Paul, Teologia Sistemática, São Leopoldo, Sinodal, 2005, Introdução, B 3-7. Outubro A razão e a pergunta pela revelação Quando falamos de razão podemos trabalhar com dois conceitos, um ontológico e outro técnico. O primeiro predomina na tradição clássica e o segundo principalmente a partir do empirismo inglês. Mas como estes conceitos nos levam à pergunta pela revelação? Textos Pinheiro, op. cit., capítulo 2. Stott, op. cit., capítulo 3. Tillich, op. cit., parte 1, item 1A-C. Novembro A vida e suas ambigüidades O conceito ontológico de vida e sua aplicação universal nos levam aos dois tipos de considerações, a essencialista e a existencialista. Essas considerações, em última instância, falam da unidade multidimensional da vida. O que nos leva aos processos e ambigüidades existenciais da vida e a perguntar pela vida sem ambigüidades, a vida eterna. Textos Pinheiro, op. cit., capítulo 3. Stott, op. cit., capítulo 3. Tillich, op. cit., parte 4, item 1.A-C. METODOLOGIA Aulas expositivas Debates em classe Apresentação de seminários Realização de leituras RECURSOS Quadro negro / Data-show Audiovisuais (filmes, vídeos) Textos para leituras AVALIAÇÃO Apresentação de Seminário/Grupos (peso 4) Monografia sobre um dos temas tratados na disciplina (peso 4) Presença e participação em sala de aula (peso 2) BIBLIOGRAFIA PINHEIRO, Jorge, Deus é brasileiro, as brasilidades e o Reino de Deus, São Paulo, Fonte Editorial, 2008. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008 TILLICH, Paul, Teologia Sistemática, São Leopoldo, Sinodal, 2005. BIBLIOGRAFIA AUXILIAR Severino, Antonio Joaquim, Filosofia, São Paulo, São Paulo, Cortez, 1992. Pinheiro, Jorge, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da praxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012. Chauí, Marilena e outros, Primeira filosofia: lições introdutórias, São Paulo, Brasiliense, 1984. DICIONÁRIOS DE FILOSOFIA Japiassu, Hilton e Marcondes, Danilo, Dicionário Básico de Filosofia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1989. Abbagnano, Nicola, Dicionário de Filosofia, São Paulo, Mestre Jou, 1970.

lundi 6 août 2012

Laicidade e teologia, os primórdios dos Batistas na América

Roger Williams
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Roger Williams

Roger Williams (Londra, 21 dicembre 1603 – Providence, 1º aprile 1684) è stato un teologo inglese. Divenne famoso in quanto fautore della separazione fra Chiesa e Stato e primissimo fautore dell'assoluta libertà di pensiero e di pratica religiosa. Fu anche sostenitore per instaurare rapporti più giusti con i Nativi Americani. Fu fondatore dello stato di Rhode Island e della città di Providence. Fu fondatore della prima e della seconda Chiesa Battista stabilitasi in America e soprattutto fu il primo vero padre del concetto di laicità dello Stato.

Primi anni

Williams nacque in una famiglia Puritana, suo padre, James Williams (1562-1620), fu un agiato mercante a Smithfield, in Inghilterra; sua madre si chiamava Alice Pemberton (1564-1634).

Sotto la protezione di sir Edward Coke (1552-1634), il famoso giurista, che gli fece ottenere una borsa di studio alle scuole superiori del monastero cartesiano della Charterhouse (Casa di Cartesio) a Londra, poi si laureò (Bachelor of Arts), all'università di Pembroke Cambridge nel 1627. Sembrava avere un dono naturale per le lingue e acquisì presto familiarità con latino, greco, olandese e francese. Diede lezioni a John Milton in olandese in cambio di lezioni di lingua ebraica [1].

Dopo la laurea a Cambridge, Williams divenne cappellano della ricca famiglia di Sir William Masham, a Otes nell'Essex, dove conobbe persone influenti. Malgrado il loro aiuto, rinunciò al sacerdozio, per la sua avversione alla chiesa di stato anglicana. Il 15 dicembre 1629, sposò una cameriera, Mary Barnard (1609-1676), nella chiesa di High Laver, Essex, Inghilterra ed emigrati in America, ebbero sei figli.

Prima della fine del 1630, Williams adottò un punto di vista dissidente e capì che non avrebbe potuto lavorare in Inghilterra sotto la rigorosa gestione dell'arcivescovo William Laud. Girò per cercare altre offerte nelle università e nella chiesa ufficiale finché decise di cercare nella Nuova Inghilterra (New England) quella libertà di coscienza che gli veniva negata nel suo paese.


Arrivo in America

Nel 1630, Mary e Roger Williams arrivarono Boston sulla nave Lyon (Leone). Il 5 febbraio 1631, la comunità religiosa lo invitò a sostituire il precettore, che stava ritornando in Inghilterra ma Williams trovò che era una "chiesa anglicana" e non officiò in essa. Fu spinto a dare espressione alle sue convinzioni, formatesi in Inghilterra, che la legge non potesse punire nessuna specie di infrazione ai 10 comandamenti, l'idolatria, l'interruzione del Sabba, il culto falso e la blasfemia e che ogni individuo dovrebbe essere libero di seguire, negli argomenti religiosi, le sue proprie convinzioni.

La prima idea fu che il magistrato non dovesse punire l'infrazione religiosa e di conseguenza significava che l'autorità civile non doveva essere la stessa dell'autorità ecclesiastica. La seconda idea fu che la gente dovrebbe avere libertà d'opinione in materia religiosa che Williams chiamò la "libertà dell'anima". Queste idee sono rimaste uno dei fondamenti per le garanzie della costituzione degli Stati Uniti di non istituire una religione ufficiale di stato e della libertà di scegliere e praticare la propria religione. [Vedere il 1° emendamento della Carta dei diritti degli Stati Uniti.]

La Chiesa di Salem, nel Massachusetts che riempiva di sentimenti Separatisti i coloni di Plymouth, invitò Williams a diventare il loro maestro ma il suo insediamento fu prevenuto da un rimostranza indirizzata al governatore Endicott da sei dirigenti bostoniani. La colonia di Plymouth allora gradì riceverlo, come precettore associato ed insegnante. Qui rimase circa due anni e, secondo il governatore Bradford, i suoi insegnamenti furono bene approvati.


Rapporti con i Nativi Americani

Acquaforte del XIX secolo, su disegno di A. H. Wray

Il rispetto del Williams per la dignità della popolazione nativa americana e la sua compiacenza nel trattare con loro su una base di uguaglianza gli attirarono la loro durevole amicizia. Insistette sempre che qualsiasi terra colonizzata da Europei avrebbe dovuto essere comprata ad un prezzo ragionevole dalla tribù locale.

Mentre impiegava molto tempo a Plymouth, fra i nativi americani, il suo "desiderio dell'anima" divenne "fare dei buoni nativi". Scrisse: "Dio era compiaciuto di darmi uno spirito indulgente e paziente, per alloggiare con loro, nei loro ripugnanti e fumosi buchi... per imparare i loro dialetti". Durante i suoi primi anni in Nuova Inghilterra, acquisì padronanza in grado notevole, della lingua dei nativi.

Durante quel tempo, la sua mediazione su richiesta del Massachusetts impedì una coalizione dei Pequot con i Narragansetts e i Mohicani (Mohegans). Scrisse di questo servizio durante gli anni seguenti: "La mia mediazione mi ha forzato tre giorni e tre notti ad alloggiarmi e a mescolarmi con i sanguinari ambasciatori Pequot, le cui mani ed armi erano coperte del sangue dei miei conterranei assassinati e massacrati da loro sul fiume Connecticut". Williams servì numerose volte come mediatore ad altri coloni. Quando le difficoltà dei coloni con i Nativi Americani aumentarono, fu chiamato per fare da intermediario fra questi due differenti modi di vivere.

Vita a Salem, distinte visioni

La casa di Roger Williams a Salem (chiamata "Witch House", la Casa della Strega)

Verso la fine del suo ministero a Plymouth, secondo Brewster, Williams cominciò "a promuovere... persone entusiaste dei suoi propri singolari pareri" e "cercare di imporla ad altri". La gente di Plymouth si rese rapidamente conto che avevano trovato il proprio modo di pensare, ugualmente avanzato, non solo riguardo ai Nativi Americani, ed egli lasciò l'incarico per tornare di nuovo a Salem.

Anche qui la sua intransigenza sulla questione della tolleranza, in contrasto con l'opposizione, gli procurò dissidi e controversie. Divenuto assistente ufficioso della guida spirituale Skelton, quando questo morì, nell'agosto 1634 e divenuto suo sostituto, iniziò quasi immediatamente le polemiche con le autorità del Massachusetts che in alcuni mesi dovevano condurre al suo esilio. Williams fu rimosso da Salem nell'estate del 1633 ed esiliato dalle colonie della baia del Massachussetts.

Residenza a Providence

Williams scelse la sua nuova residenza nella Narragansetts Bay, presso la tribù di Nativi Americani omonima, nel Rhode Island, "ad un sito dove due fiumi dolci si versano in uno salato" e il 1º Giugno 1636, lo battezzò Providence (Provvidenza) per l'ispirazione che Dio aveva dato ai nativi di ospitarlo, che ammise avere uguali diritti con i dodici "amici e vicini" (molto erano venuto da lui dal Massachusetts fin dall'inizio della primavera). Fu stabilito che tutti avessero lo stesso diritto di voto, anche quelli che di tanto in tanto diventavano membri della loro comunità. Fu promessa da tutti obbedienza al sindaco, ma "soltanto negli affari civili". In 1640, un altro accordo fu firmato dai 39 uomini liberi, nel quale essi esprimevano la loro determinazione "di adempiere sempre alla libertà di coscienza". Un simile governo unico fu creato nello stesso giorno, un governo che espressamente prevedeva che la libertà religiosa e la separazione fra autorità civile ed ecclesiastica (chiesa e stato).

Nel 1637, alcuni seguaci di Anne Hutchinson visitarono Williams per avere un consiglio su come andare via dal Massachusetts. Come Williams, questo gruppo era in difficoltà con i teocrati puritani. Raccomandò loro di comprare la terra sull'isola di Aquidneck dai Nativi Americani. Presero posto a Pocasset, che ora è chiamata Portsmouth, a Rhode Island. Fra loro erano il marito William di Anne Hutchinsons, William Coddington e John Clarke (1609-1676) [2].

Nel 1643, Williams fu mandato dai suoi cittadini in Inghilterra dal suo collega per assicurarsi un riconoscimento della colonia. I puritani erano allora in contrasto con l'Inghilterra ed attraverso i buoni uffici di sir Henry Vane fu prontamente ottenuto il riconoscimento completamente democratico, chiamato "Providence Plantations".

Nel 1647, la colonia che era stata piantata a Rhode Island fu unita a Providence sotto un singolo governo e la libertà di coscienza fu di nuovo affermata.

Il 18 maggio 1652, Rhode Island approvò la prima legge in America del Nord per rendere illegale la schiavitù.

La zona che ora è il Rhode Island si trasformò in un porto sicuro per la gente perseguitata per i loro credo, i Battisti, i Quaker, gli Ebrei ed altri andarono là per seguire la loro coscienza in pace e sicurezza.

Sorsero disaccordi fra le città del continente di Providence e di Warwick da un lato e le città dell'isola di Aquidneck d'altro. C'era inoltre disaccordo (sull'isola) fra i seguaci di John Clarke e quelli di William Coddington. Coddington era andato in Inghilterra e, nel 1651, aveva ottenuto dal consiglio di stato l'incarico di fare le regole nelle isole del Rhode Island e di Conanicut. Questa disposizione lasciò Providence e Warwick a sé stesse. Lo schema del Coddington fu molto disapprovato da Williams e Clarke ed i loro seguaci, in particolare poiché sembrava coinvolgere una federazione del dominio di Coddington con il Massachusetts e il Connecticut e conseguente messa in pericolo della libertà della coscienza, non solo sulle isole, ma anche nel Providence e in Warwick, che sarebbero lasciati non protetti.

Molti degli avversari di Coddington erano, in quel tempo, battisti. Successivamente, durante lo stesso anno, Williams e Clarke andarono in Inghilterra a nome dei loro amici per assicurarsi che il governo di Oliver Cromwell annullasse la lettera del Coddington e riconoscesse la colonia come repubblica, dipendente soltanto dall'Inghilterra. Riuscito ad ottenere ciò Williams ritornò a Providence. Fino alla fine della sua vita, continuò a interessarsi in modo profondo agli affari pubblici.

Rapporti con i battisti

Prima Chiesa Battista in America. Williams fondò la prima congregazione battista in America, nel 1638

Nel 1638, parecchi cristiani del Massachusetts, che erano stati indotti ad adottare i punti di vista dei credenti battisti e si trovarono soggetti alla persecuzione, furono rimossi da Providence. La maggior parte di questi probabilmente erano stati sotto l'influenza di Williams mentre era nel Massachusetts ed alcuni di loro possono essere stati influenzati dagli anticredentibattisti inglesi prima che lasciassero l'Inghilterra.

John Smyth (1570-1612), Thomas Helwys e John Murton erano fondatori (1609) e della ricca letteratura nella legislatura della libertà della coscienza prodotta da questo partito dopo il suo ritorno in Inghilterra. Egli avrebbe potuto appena evitare di imparare qualcosa del partito di antibattista infantile Calvinista che sorse a Londra nel 1633, poco dopo la sua partenza, guidata da Spilsbury, da Eaton e da altri.

Tuttavia, Williams non adottò i punti di vista antibattisti infantili prima del suo esilio dal Massachusetts, dato che gli antibattisti infantili non sono stati posti al suo posto dai suoi avversari. Il puritano Winthrop attribuisce i punti di vista "Anabattisti" di Williams all'influenza di Katherine Scott, una sorella di Anne Hutchinson, Antinomiana. È probabile che Ezekiel Holliman sia arrivato a Providence come antibattista infantile e si sia unito con la sig.ra Scott nell'impressionare Williams sull'importanza della credenza battista.

Circa a marzo del 1639, Williams fu battezzato da Holliman ed immediatamente si procedette a battezzare Holliman ed undici altri. Così fu costituita una chiesa battista che ancora sopravvive come la prima chiesa battista in America. Quasi allo stesso tempo, John Clarke, compatriota di Williams nella causa della libertà religiosa nel nuovo mondo, stabilì una chiesa battista in Newport, Rhode Island. "C'è molto dibattito durante i secoli se la chiesa di Newport o di Providence hanno meritato il posto "della prima" congregazione battista in America. Le annotazioni esatte per entrambe le congregazioni sono carenti",[3] di conseguenza, sia Roger Williams che John Clarke sono variamente accreditati per essere il fondatore della fede battista in America. Williams rimase con la piccola chiesa a Providence soltanto alcuni mesi. Si convinse che le ordinanze perse nell'apostasia non avrebbero potuto essere ristabilite bene senza una speciale commissione divina, che rilasciasse la seguente dichiarazione sulla sua partenza dal settore [4]:
« Non c'è chiesa di Cristo regolarmente costituita sulla terra, né alcuna persona qualificata per amministrare qualsiasi ordinanza della chiesa; né può esserci finché nuovi apostoli siano mandati a trasmettere dal gran capo della chiesa per cui venendo, io stanno cercando. »

Egli assunse l'atteggiamento "di un cercatore" (Seeker) o di un "Arrivato-esterno" (Come-outer), sempre profondamente religioso ed attivo nella propagazione della verità cristiana, tuttavia di non ritenere soddisfacente che tutto il corpo dei cristiani avesse avuto tutti i contrassegni della chiesa vera. Egli continuò le condizioni amichevoli con i battisti, essendo in accordo con loro nel loro rifiuto del battismo infantile come nella maggior parte degli altri argomenti.

L'atteggiamento religioso ed ecclesiastico di Williams è espresso bene nelle seguenti frasi (1643):
« I due primi principi e fondamenti della vera religione, o culti del vero Dio in Cristo, sono rifiuto dei lavori guasti e fede verso Dio, prima delle dottrine battista o del battesimo e dell'imposizione delle mani, che continuano le ordinanze e la pratica del culto; il desiderio che concepisco è il bene di milioni di anime in Inghilterra e tutte le altre nazioni che si professano essere nazioni cristiane, che sono supportate dalla pubblica autorità al battista e dall'unione con Dio nelle nell'ordinanza di culto, prima di salvaguardare il lavoro dal rifiuto e di convertirsi a Dio »

Morte, sepoltura e memoriali

Williams morì all'inizio del 1684. Fu sepolto nella sua proprietà. Successivamente nel diciannovesimo secolo i suoi resti furono spostati nella tomba di un discendente nel Cimitero della Terra del Nord (North Burial Ground). Infine, nel 1936, sono stati disposti all'interno di un contenitore di bronzo e sono stati posti nella base di un monumento sul Prospect Terrace (Terrazzo della Prospettiva) a Providence. Quando i suoi resti furono riesumati per risepellirli, erano sotto un melo. Le radici dell'albero si erano sviluppate nel punto in cui il cranio del William riposava e seguito il percorso delle sue ossa decomposte e si era sviluppato approssimativamente nella figura del suo scheletro. Soltanto una piccola quantità di osso è stata ritrovata per essere riseppellita. "La radice di Williams" ora fa parte della collezione della società storica del Rhode Island, in cui è montata su un piedistallo nello scantinato del museo la Casa di John Brown. [5] [6]

Il memoriale nazionale di Roger Williams, stabilito in 1965, è un parco nei quartieri poveri di Providence. Il parco di Roger Williams è un parco cittadino sul bordo meridionale di Providence. Williams è stato scelto nel 1872 per rappresentare il Rhode Island nella National Statuary Hall Collection (sala di collezione statuaria nazionale) nel United States Capitol (Campidoglio degli Stati Uniti).

Scritti

La carriera di Williams come autore cominciò con A Key into the Language of America (Londra, 1643), scritto durante il suo primo viaggio in Inghilterra. La sua successiva pubblicazione fu Mr. Cotton's Letter lately Printed, Examined and Answered in pubblicazioni del Club di Narragansett, volume II).

Seguì presto The Bloudy Tenent of Persecution, for Cause of Conscience (Londra, 1644). Questo è il suo lavoro più famoso e fu la dichiarazione e la difesa più abile del principio della libertà assoluta della coscienza che è stampata in tutte le lingue. È sotto forma di dialogo fra la Verità e la Pace e ben illustra il vigore del suo stile.

Durante lo stesso anno un opuscolo anonimo fu pubblicato a Londra che è attribuito comunemente a Williams, intitolato: Queries of Highest Consideration Proposed to Mr. Tho. Goodwin, Mr. Phillip Nye, Mr. Wil. Bridges, Mr. Jer. Burroughs, Mr. Sidr. Simpson, all Independents, etc. Questi Indipendenti erano membri dell'Assemblea di Westminster e la loro Apologetical Narration, in cui supplicano per la tolleranza, è arrivato molto lontano dopo l'insegnamento alla libertà della coscienza del Williams.

Nel 1652, durante la sua seconda visita in Inghilterra, Williams pubblicò The Bloudy Tenent yet more Bloudy: by Mr. Cotton's Endeavor to wash it white in the Bloud of the Lamb; of whose precious Bloud, spilt in the Bloud of his Servants; and of the Bloud of Millions spilt in former and later Wars for Conscience sake, that most Bloudy Tenent of Persecution for cause of Conscience, upon, a second Tryal is found more apparently and more notoriously guilty, etc. (Londra, 1652). Questo lavoro copre gran parte dei temi coperti dal Bloudy Tenent ma presenta il vantaggio di essere scritto in risposta alla elaborata difesa del A Reply to Mr. Williams his Examination(pubblicazioni del Narragansett Club, Volume II).

Altri lavori di Williams sono:

The Hireling Ministry None of Christ's (London, 1652)
Experiments of Spiritual Life and Health, and their Preservatives

(London, 1652; reprinted, Providence, 1863)
George Fox Digged out of his Burrowes (Boston, 1676).

Un volume delle sue lettere è incluso nell'edizione Narragansett Club edizione di Williams Works (7 vol., Providence, 1866-74) e un volume è stato pubblicato dal J. il R. Bartlett (1882).