lundi 14 mai 2012

Travessias da leitura

O desafio maior para quem lê é o próprio exercício da leitura. O desejo de conservar o texto em sua aparente literalidade geralmente leva a um caminho oposto àquele que se pretende. Ou seja, é necessário atravessar o texto por diferentes caminhos. É necessário, sem dúvida, lê-lo a partir de sua literalidade, que é nossa primeira leitura. Mas a literalidade nos leva ao símbolo, às imagens que são trasmitidas pelas palavras ou conjunto de palavras. Por isso, o que parece simples e claro, geralmente não é, já que as palavras são imagens e símbolos.
Vejamos um exemplo simples, durante séculos os cientistas descreveram o mundo como semelhante a uma máquina, governando o mundo estavam os princípios de regularidade e ordem. Todas as coisas pareciam a soma das partes: as causas e efeitos estavam ligados linearmente e os sistemas se moviam de modo determinista e previsível. Mas, com o passar do tempo, os cientistas viram que existiam fenômenos que contradiziam a lógica linear: as formas espirais das chamas de fogo, os redemoinhos em correntes e as formações de nuvens, por exemplo, não podiam ser representadas por simples equações lineares.

E a travessia dos textos bíblicos nos mostraram que, para além da linearidade do texto, existe a leitura simbólica que nos remete às construções teológicas. Assim, se existe a realidade imediata do “deserto” como lugar árido, seco e de difícil sobrevivência, a imagem “deserto” nos remete ao conceito teológico de que espiritualmente e, mesmo existencialmente, muitas vezes, somos desafiados a através o “deserto” que não é literal, é simbólico, mas que também existe.

Por isso, falamos de travessias do texto bíblico. Essas travessias fazem diferentes percursos: o literal, o simbólico, o ecológico, o ético, o estético, entre outros, e o do futuro. Ora, quando lemos o texto numa primeira vez, sem dúvida, somos obrigados a partir da literalidade dele. E para mergulhar nessa literalidade devemos utilizar recursos de análise e intepretação como, por exemplo, pesquisar as condições e época em que foi escrito, a quem foi dirigido e com que finalidade. Mas também os recursos literários que foram utilizados na sua construção, ou seja, verbos, substantivos, adjetivos, e expressões idiomáticas, por exemplo. E palavras-chave que se destacam no texto serão importantes na compreensão dessas travessias, porque podem e devem ser cruzadas com outras presentes em diferentes textos, o que nos remeterá às imagens e aos símbolos construtores de um conceito teológico -- como vimos no caso de “deserto”.

O conceito teológico, porém, vai apontar para outros caminhos. O que essa proposta teológica está sugerindo que eu faça? Esse caminho aponta paras as travessias ecológica, ética, estética, que me exortam a viver de determinada maneira, a partir da travessia teológica. E se eu vivo de determinada maneira, a partir das travessias ecológica, ética, estética propostas pela travessia teológica, esse caminhar ecológico, ético, estético apontam para um futuro. Esses são algumas travessias possíveis do texto bíblico. São vias que remetem ao meu futuro e da minha comunidade, que brotam da teologia, que por sua vez nascem da literalidade do texto.

A esse conjunto de travessias, que fazem a riqueza da leitura e compreensão não linear do texto escriturístico é a complexidade hermenêutica. Essa expressão encerra elementos, conjunto de informações, fatos e circunstâncias que têm nexo entre si, mas que navegam num mar aparentemnete caótico, que pode ser entendido como o vazio obscuro e ilimitado que precede e propicia a geração das compreensões do texto para a vida de uma pessoa ou de uma comunidade. Na construção das leituras complexa do texto, partindo da literalidade, podemos ir mais fundo ainda nesta construção dessas compreensões se vermos complexidade e caos como aqueles comportamentos imprevisíveis que aparecem em sistemas regidos por leis. Assim, determinadas questões teológicas são praticamente impossíveis de serem compreendidas numa abordagem tradicional de causa-efeito, por exemplo, o sistema ecológico presente no sexto dia da criação, em Gênesis, ou as propostas sanitárias de Deuteronômio. Mas as dificuldades, às vezes, são atribuídas à impossibilidade de se isolar os ruídos externos ao sistema teológico como, por exemplo, a presença dos dogmas confessionais que, muitas vezes, levam às distorções de compreensão.

As compreensões, então, para questões teológicas nem sempre estão na procura de mais informações para tentar encontrar uma relação de causa-efeito, mas em entender quais regras básicas regem o comportamento do sistema simbólico de nossa religiosidade judaico-cristã, que tipo de retroalimentação existe, de que forma esta retroalimentação atua no sistema e o tipo e duração dos ciclos de retroalimentação. Isso é o que chamamos de hermenêutica da dinâmica não-linear ou hermenêutica da complexidade para uso na teologia, onde o caos se refere às áreas de instabilidade de fronteira, o que para nós significa, em termos teológicos, que se move entre o equilíbrio de um lado, em especial a revelação, e a complexa situação randômica da construção da realidade.
Necessitamos a hermenêutica da complexidade para melhor compreender as relações entre a simbologia da revelação e a interpretação e suas expressões estruturais e organizacionais. Essas estruturas são sistemas complexos constituídos por agentes interativos com uma tendência aparente para a auto-organização, pois os crentes nas religiosidades judaico-cristãs são adaptativos, de modo que as regras de seus comportamentos mudam à medida que eles aprendem. Na verdade, esse mundo religioso judaico-cristão não é aquele representado pela metáfora de uma máquina. As coisas são mais do que a soma de suas partes: equilíbrio é morte, causas são efeitos e efeitos são causas, desordem e paradoxo estão em toda a simbologia da revelação.

Por isso, dizemos que uma hermenêutica da complexidade deve levar em conta que se antes, na modernidade, a interpretação foi entendida como aparato de retroalimentação negativo, que possibilitou a construção de dogmáticas confessionais e encaminhou fiéis na direção da correção de seus desvios do plano traçado, à luz da hermenêutica da complexidade o quadro é mais rico. As interpretações de origem iluminista não estão corretas, hoje, nem para leituras ligadas às rotinas do viver diário e, muito menos, no que tange às construções de conhecimentos que respondam às necessidades das confissões judaico-cristãs no mundo da alta modernidade -- elas se encontram em crise. Os resultados de suas ações não podem ser definidos porque as estruturas dos sistemas religiosos tornam o futuro impossível de ser controlado. O corolário é que o dogma viável não é mais o resultado de um intento prévio de um intérprete visionário, mas emerge das múltiplas possibilidades lançadas por várias dinâmicas em colisão entre a vida humana e o texto. Assim, nós leitores deveríamos pensar como jardineiros e, em vez de deliberar, deveríamos trabalhar possibilidades. 

Si Chile es ejemplo, ¿por qué las protestas?



MAURICIO AVILA | THURSDAY, APRIL 5, 2012
Suramérica | Economia y Sociedad

HACE UN PAR DE SEMANAS nos encargaron desde Londres (donde están las oficinas centrales de mi compañía) una entrevista con la líder de las protestas estudiantiles del año pasado en Chile, Camila Vallejo.

Entre las preguntas que nos enviaron estaba la siguiente: si Chile es ejemplo para muchos países en varios ámbitos, ¿por qué protesta la gente? Este requerimiento me hizo pensar que justamente esa debe ser una gran interrogante para el mundo. Chile tuvo el 2011 un crecimiento del 6%, que está en el promedio de lo que otras economías de la región crecieron. Más que México, menos que Argentina, pero más que Brasil y Perú.

Efectivamente, un país con un ingreso percapita superior a los 16 mil dólares, con estabilidad política y buenos índices generales en calidad de vida y altos niveles de inversión en otros países, no debiera tener problemas internos. Pero sucesivamente los chilenos han salido a la calle para protestar por la mala educación, por el cuidado al medio ambiente, por la centralización que hunde a las regiones extremas...

Por eso es bueno meterse en algunas de las cifras que explican las protestas. A Chile le gusta compararse con las 27 naciones miembros de la OECD. Y en el ítem de desigualdad, está al final de la lista. Mientras en el promedio de los países OECD el 10% más rico de la población gana 9 veces lo que gana el decil más pobre, en Chile esa cifra se triplica: el 10% más rico de la población gana 27 veces el sueldo del decil de menores ingresos. Si uno considera el percapita de los chilenos, dejando fuera al 10% más rico, el índice baja a poco menos de 9 mil dólares. El 60% de los chilenos gana menos de 800 dólares al mes.

Vamos a la educación. En Chile no existe educación superior gratuita. En promedio una carrera universitaria cuesta 400 dólares al mes. Vale decir, una familia que tiene un hijo en la universidad gasta la mitad de sus ingresos en la educación de él. Y ahí es donde entra el mercado. Chile tiene una de las economías de libre mercado más abiertas del mundo, y el sistema educacional se construyó sobre esa premisa. Finalmente, los jóvenes y sus familias deben pedir préstamos para poder estudiar que se pagan hasta a 20 años. Y no hay ningún estudio que demuestre que la inversión se justifique por los ingresos futuros como profesional.

Por eso los chilenos protestan. Es cierto, las cifras macroeconómicas del país son excelentes, mucho mejores que el promedio de la región y mucho más cercanas a los países desarrollados, pero la realidad es muy distinta.