jeudi 13 décembre 2012

Terra basca e liberdade

Texto de Jorge Pinheiro e fotos de Naira Di Giuseppe, de Hendaye, França 

A história do povo basco é coberta de mistério e alguns arriscam dizer que ocuparam uma única região da Europa por muito mais tempo que qualquer outro grupo étnico. 


Foto de Naira Di Giuseppe

A Europa é um espaco de conflito de ideias e projetos civilizatórios. É e sempre foi assim. Talvez, os motivos disso sejam a presenca de culturas e povos diferentes ai instalados, a plantação beligerante dos monoteismos, cujas mensagens de paz estão embainhadas na espada, e a dificuldade para se harmonizar tanta diversidade. E a gente é obrigado a pensar nisso quando chega a Hendaye, cidadezinha linda, com apenas quinze mil habitantes, um balneário para a alegria dos turistas que se bronzeiam na praia. Situada no meio do País Basco, às portas da Espanha, Hendaye é banhada por duas águas, aquelas do oceano Atlântico e as da baía de Txingudi. A cidade é point para os esportes náuticos. E para quem gosta de natureza preservada, há o complexo de Serge Blanco e o domínio d'Abbadia.

Como disse Naira, a partir de suas perambulações pela cidade, “Hendaye é diferente do que estamos acostumados a ver em nossas passagens pela Europa. As casas tem nomes, talvez até vejamos isso em algumas cidadezinhas brasileiras, mas aqui os nomes são de qualquer modo diferentes, estão numa língua estranha para mim, em basco. As placas e indicações da cidade também aparecem em basco, mas tambem em francês. Então tentei aprender esse novo idioma, deduzir pelo francês e pela repeticão dos termos, o que era, por exemplo, `karrika´, `rua´. Outra coisa interessante, além da arquitetura e das fachadas das casas, é que está próxima a cidades de praias famosas. Biarritz, por exemplo, me parece que não está muito longe daqui. Mas Hendaye nos leva à estaçao de esqui, pois está ao sopé da montanha, nos Pirineus. E vi gente com esquis nas mãos. É claro que nesta época do ano, verão, não há neve aqui em baixo, por isso achei meio estranho o pessoal com esquis – mas lá em cima é diferente. E você vai encontrar placas: Ongi etorri Euskal mendietarat! Bienvenue dans la montagne basque! Ou seja, bem-vindo à montanha basca. E as águas da baía de Txingudi formam um belo conjunto de paisagem com a montanha ao fundo”. 

Foto de Naira Di Giuseppe

Hendaye é uma comuna francesa. Comuna na França é uma unidade territorial grande, subdividida em arrondissement, departamento e região. No caso, Hendaye fica na região administrativa da Aquitânia, no departamento dos Pireneus Atlânticos. É uma cidade basca.

A história do povo basco é coberta de mistério e alguns arriscam dizer que ocuparam uma única região da Europa por muito mais tempo que qualquer outro grupo étnico. Estrabão, no século I, disse que a região onde hoje se localiza Navarra e Aragão, a leste da atual comunidade autônoma do País Basco, era habitada pelos vascones. Embora vascones lembre bascos, não se sabe se os vascones foram de fato os ancestrais dos bascos de hoje.

O movimento nacionalista basco nortista nasceu em 1963, teve uma atuação importante na região, mas nunca alcançou mais do que 15% dos votos. Conquistou, porém, uma vitória democrática importante quando, em 1997, a região basca na França foi reconhecida como “pais” e hoje recebe o nome de “Pays Basque", com direitos culturais, mas sem orçamento próprio. Atualmene, aqui na região, cerca de 22% da população é bilíngüe, 8% é francófona que entende basco, e o restante 70% só fala francês. 

Já no sul a situação foi bem diferente, por isso remonto à Guerra Civil Espanhola. Em 1937, na metade da guerra, as tropas do Governo Autônomo Basco, para nosso incômodo histórico, se renderam em Santoña às tropas italianas aliadas ao General Franco. Essa rendição partiu de um acordo: que a indústria pesada e a economia bascas não fossem atingidas. Para a esquerda isso foi uma traição, principalmente porque soldados bascos se uniram ao exército franquista no resto das batalhas no front norte.

Depois da guerra, Franco iniciou a consolidação da Espanha como estado-nação unificado. O regime introduziu leis contra as nacionalidades, e procurou acabar com a cultura e o idioma bascos. Considerou Biscaia e Guipúzcoa províncias traidoras, aboliu a autonomia, mas Navarra e Álava mantiveram pequenos privilégios.

A oposição a essas ações criou o movimento separatista basco e a Euskadi Ta Askatasuna/ ETA, que significa Terra Basca e Liberdade. A morte de Franco e a democratização espanhola levaram à criação da região autônoma, mas a luta separatista se manteve até 2005. Hoje, o País Basco no sul tem parlamento eleito, força policial, sistema educacional, e coleta de impostos. E mais que nada, cultura e idioma livres e reconhecidos.

Voltando à viagem. Saia de Coimbra de trem, cruze parte do norte de Espanha, que tem cidades lindas, e apeie em Hendaye. Fique aí uns dias. É uma maneira deliciosa de entrar na França. Bidai ona izan! Bon voyage! Boa viagem!

Moses Pinheiro e Shabbetai Zevi

PINHEIRO, Moisés (século XVII), nascido em Izmir. Contemporâneo de Shabbetai Zevi, Pinheiro estudou literatura talmúdica e cabalística com ele em sua juventude (1640-1650). Não há indícios reais de que tenha apoiado as reivindicações messiânicas de Shabbetai Zevi, em 1648. Por volta de 1650, deixou Izmir e se estabeleceu em Livorno, onde se tornou um mestre respeitado. Foi um discípulo e divulgador do pensamento de Shabbetai na Itália. E mesmo quando este se declarou Messias, causando grande alvoroço nas comunidades judaicas, não o abandonou, embora aparentemente não tenha concordado com ele, nesta questão que foi considerada apostasia pelo judaísmo. 

Como delegado da comunidade de Livorno, foi visitar Shabbetai Zevi, no verão de 1666, no auge das discussões. Lá, conversou com Shabbetai e Nathan de Gaza, e afirmou sua convicção do erro de Shabbetai. Em março de 1667, retornou à Itália com uma delegação de três outras comunidades. Nathan ficou na casa dele, em 1668. Pinheiro, que liderou o centro shabbateano em Livorno, manteve uma correspondência com o amigo e mestre ao longo dos anos e também com Abraão Cardozo. Tal como demonstrado pelas notas de Abraão Rovigo, na discussão sobre as questões shabbateanas (Ben-Zvi Institute, Ms. 2265), até 1690 Pinheiro foi considerado um homem de fiel ao judaísmo. Alguns, porém, afirmam que posteriormente caminhou em direção à apostasia messiânica de Shabbetai, mas disso não há informações precisas. 

Seu neto, por parte da filha, Joseph Ergas foi um conhecido rabino cabalista, que se manteve em silêncio sobre as ligações shabbateanas do avô. O rabino Malaquias ha-Kohen de Livorno, disse que Ergas, seu aluno, apesar de ser um inimigo declarado do movimento shabbateano, elogia Pinheiro por sua piedade e vida ascética no seu prefácio do seu livro Ergas responsa, Divrei Yosef (1742). Várias das memórias de Pinheiro sobre Shabbetai Zevi estão preservadas. 

BIBLIOGRAFIA 
Scholem, Shabbetai Zevi, índice; J. Sasportas, Ẓiẓat Novel Zevi (1954), índice; I. Tishby, em: Zion, 22 (1957), 31-33; idem, em: Sefunot, 3-4 (1960), 93, 107; Freimann, Inyenei Shabbetai Zevi (1912), 45, 95. 
[Gershom Scholem] 

Fonte: Encyclopaedia Judaica . © 2008 Grupo Gale. Todos os direitos reservados. 


PINHEIRO, MOSES 
The unedited full-text of the 1906 Jewish Encyclopedia 

One of the most influential pupils and followers of Shabbethai Ẓebi; lived at Leghorn in the seventeenth century. He was held in high esteem on account of his acquirements; and, as the brother-in-law of Joseph Ergas, the well-known anti-Shabbethaian, he had great influence over the Jews of Leghorn, urging them to believe in Shabbethai. Even later (1667), when Shabbethai's apostasy was rumored, Pinheiro, in common with other adherents of the false Messiah, still clung to him through fear of being ridiculed as his dupes. Pinheiro was the teacher of Abraham Michael Cardoso, whom he initiated into the Cabala and into the mysteries of Shabbethaianism. 

Bibliography 
Grätz, Gesch. 3d ed., x. 190, 204, 225, 229, 312.