vendredi 16 mai 2014

Toada para bailar a ceia de Jesus

Jorge Pinheiro, com a participação especial do Profeta Gentileza


Gente tem três pilares, vamos cantar um
O Espírito e seu baile
Alheação fica fora, sem debrum
Gente é feliz na roda, marchetada de riso
Exaltada, de curso traçado

Eterna é ceia de Jesus, de ressurreição cheia
Gente cresce no presente cheia de semelhança
Comer o pão, coração repica a alegria do outro,
Comunidade afeto efetivo, machucado a gente cura.
Jesus olhou, repicou a dor da gente,
VVamos toar e bailar a Ceia de Jesus.

Bem querer é para quem baila
O Espírito da vida é toada liberta do destino
Do alheação e do acabamento.
O Eterno voou com seu Jesus, gente igual
Destino novo, a gente dança a contradança do Espírito.

Querência boa é toada e baile, fazer o bem bom,
O Eterno não gosta de toada sem nota certa
Jesus se acaba quando a gente dorme e acorda na alheação.
Querência toada e baile fala com retirantes
Jesus não quis refastelar, querência toada e baile é para quem caminha,
Não pesa a mão, quer gente novinha em folha.
Sigam os pés, ensaiem do jeito, querência toada e baile faz rima com errante
Vão dormir folgados. É isso mesmo, Jesus não vive no rabo de arraia,
Na sapiência é mestre sim, de gentileza.

Olha o trilho, igual na esquerda e na direita com certeza,
Exclusão não, toada de gente,
Olha o trilho, igual na esquerda e na direita, para ir ir além
Repousa com certeza, presente de Jesus.
Repica a dor do andarilho, não depende do escrito,
Gente não tem como responder às exigências do escrito,
O Eterno está do outro lado.
Presente chega chega nos braços, dor e prazer, indulto das alheações.
Livres do escrito, gente é gente pra lá de gente.
Ir além, toar e bailar...

Toada linda é animação, não pisa a cana,
Apanhado com a faca na mão, no momento vil,
Gente desarma, não esquece a querência boa, toada e baile no Espírito.
Ajuda e obedece a lei do baile.
Desobriga porque está desobrigado.
Desobrigação é a toada mais linda cantada no baile,
Esquecer o dinheiro levado é difícil, o Eterno faz assim.
E vamos para rede, na varanda, no fresco da tarde.
É gozo, desobrigação.
Comunidade é certeza, acende o farol alto e mostra à gente que a rede é possível,
mesmo quando o mar não está para peixe.

Jesus está livre, certeza não basta, permanecer é preciso.
Continuar na certeza, gente é pra lá de gente não faz cera.
Constância consta, olha o axioma!
Dormir, comer sal juntos, descobrir, inteirar.
Gente caminha pra liberdade.
Vida dribla a azáfama da alheação.

Eterno acorda e dorme no partir do pão.
Gente é parecença, experiência, comunidade com certeza.
Bebe e come bênçãos celebrando,
Gente convive na consistência.

Livre para ir para a cama sem a faina da alheação,
Da amarração que impede o movimento.
Descobrir toada e baile, conhecer e ficar na celebração de Jesus
Axioma e livramento da azáfama da alheação, de escombros e acabamento.

O espectro do vermelho

Uma leitura teológica do socialismo no Partido dos Trabalhadores, a partir de Paul Tillich e Enrique Dussel 

[Apresentação da tese de doutoramento defendida em janeiro de 2006 por Jorge Pinheiro dos Santos].

Desde a primeira República com a chegada dos imigrantes europeus, em especial espanhóis e italianos, surgiram tentativas de construção de um partido operário que tivesse condições de ação político-eleitoral. Mas todas essas tentativas fracassaram. Até mesmo o Partido Comunista, fundado em 1922, por seu posicionamento ambíguo em relação à democracia e por traduzir, durante a longa presença de Josef Stálin na liderança da União Soviética, uma política ditada por interesses externos, mais precisamente do Cominter, não conseguiu ser este partido. Com o final do Estado Novo surgiu o Partido Trabalhista Brasileiro como organização populista, que combinava uma liderança burguesa e pelego-sindical com base eleitoral popular e de trabalhadores urbanos. Mas também não foi o partido operário sonhado pelos militantes socialistas da primeira República. Outra experiência que vale a pena ressaltar foi a do Partido Socialista Brasileiro, fundado por intelectuais e políticos socialistas-democráticos em 1947. Tendo que enfrentar, à esquerda, o Partido Comunista Brasileiro, marxista-leninista, e à direita, o Partido Trabalhista Brasileiro, burguês, o Partido Socialista Brasileiro também não conseguiu construir o sonhado partido operário de massas, com inserção sindical e expressão político-eleitoral.

Por esses motivos, quando no final dos anos 1970 surgiu o Partido dos Trabalhadores, que nucleou amplos setores sindicais e de trabalhadores fabris em todo o país, a esquerda brasileira, com raras exceções, começou a olhar tal fenômeno como algo novo na história brasileira. O sonho tornava-se realidade. Passados 25 anos da fundação do PT, algumas questões são levantadas, todas girando ao redor da pergunta: que partido é esse? É marxista-leninista? É social-democrata? E se é socialista, que socialismo é esse? 

Por isso, as dissertações de mestrado e as teses de doutorado produzidas nos últimos anos sobre o Partido dos Trabalhadores traduziram a preocupação de analisá-lo a partir de leituras sociológicas e históricas. Aqui tivemos outro tipo de preocupação. Todas as dissertações e teses se perguntaram se com o PT estávamos diante de um socialismo de novo tipo. Discutiram o que acontecia no interior mesmo do socialismo, comparando tendências e correntes, ou analisando a importância do sindicalismo na formação desse novo partido. Dessa maneira, nos últimos anos, a academia brasileira produziu excelentes estudos sobre o Partido dos Trabalhadores e suas relações com a esquerda brasileira e o socialismo. Estes trabalhos efetuaram análise qualitativa do papel desempenhado pelos diferentes agrupamentos políticos da esquerda na formação do Partido dos Trabalhadores, abrindo caminho para a compreensão do socialismo e da formação do PT para a história das idéias socialistas no Brasil. 

Mas no conjunto dos estudos acadêmicos ainda são poucas as dissertações ou teses que trabalham a análise do Partido dos Trabalhadores a partir da Teologia. Tal carência na pesquisa acadêmica chamou nossa atenção, pois é fato notório que a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base estiveram presentes na formação do PT, quer fornecendo reflexão teórica, quer participando com militantes e ativistas. Era de se perguntar, então, porque tão pouco esforço nesse sentido. E por extensão se era possível compreender o pensamento e a história do PT sem correlacionar suas propostas sociais com a religião e o cristianismo. Por isso fizemos a pergunta se havia uma correlação entre cristianismo e socialismo, onde estariam presentes esses elementos religiosos no socialismo petista e em que sentido dariam um caráter especial ao socialismo proposto? Cremos que a tese ora defendida respondeu tais questões, confirmando esta presença cristã no PT, mas também analisando como influenciou o conjunto da esquerda não-comunista no Brasil. 

Fez parte dos objetivos do trabalho, a partir da história da formação do Partido dos Trabalhadores mostrar como ele surgiu de amálgama de socialismos, soldados ao redor de uma corrente sindical, com apoio de um setor da Igreja católica, em especial das Comunidades Eclesiais de Base. E também foi objetivo da pesquisa analisar como depois da queda do muro de Berlim e da crise do comunismo no bloco soviético, o Partido dos Trabalhadores procurou definir um socialismo petista com cara brasileira. E que nesse trânsito entre socialismo como mito fundante, socialismo real e cristianismo social, o Partido dos Trabalhadores acabou por afirmar a democracia enquanto projeto político central. E assim constatamos que tais mudanças, que levaram à democracia enquanto realpolitik, acabaram por afastar o PT de sua utopia original e, inclusive, da revolução democrática. Assim, a tese ora apresentada procurou preencher a lacuna existente na pesquisa acadêmica referente à construção do pensamento socialista e democrático no Partido dos Trabalhadores.

A justificativa da pesquisa confirmou-se através da utilização de uma documentação oficial que incluiu as resoluções de onze encontros nacionais, dois encontros nacionais extraordinários e dois congressos nacionais. Partimos, então, dessa documentação oficial e da revista trimestral “Teoria e Debate”, que cobrem a história e a produção teórica do partido. A pesquisa explorou também a bibliografia existente em livros, teses, artigos de jornais e revistas, e memórias, enquanto informações e testemunhos que confrontamos com a documentação oficial analisada. Utilizamos, dessa maneira, um farto material para a compreensão do pensamento e ideário do PT como um todo e do pensamento socialista em particular. O desvelamento teológico do ideário do Partido dos Trabalhadores através da leitura dessa literatura nos permitiu uma nova visão acerca do passado, possibilitando entender melhor os envolvimentos presentes. 

Mas além da justificativa científica, foi importante constatar a importância do Partido dos Trabalhadores para a sociedade brasileira, assim como para a política nacional. Em termos sociais, o PT surgiu enquanto organização ligada às classes trabalhadoras da cidade e do campo, polarizando, inevitavelmente, a política nacional. A importância social da tese mostrou tal relevância, ao analisar o papel da religião no próprio crescimento eleitoral do PT.

Um exemplo disso, que na tese foi analisado, é o fato de que o PT atuou sobre o conjunto da sociedade brasileira modificando padrões sociais anteriormente estabelecidos, como, por exemplo, sua inserção nos grotões, através da presença cristã, o que modificou o perfil do voto conservador e de direita dessas áreas. Ora, essa importância social nos direcionou à questão política. Sem mistificar os limites da presença do PT no cenário nacional, vimos que construiu lideranças e desenvolveu nova maneira de fazer política: de diálogo com os setores excluídos e marginalizados da sociedade, em parte esquecida desde os governos de Getúlio Vargas e João Goulart.

A pesquisa qualitativa possibilitou, também, o equacionamento de uma das questões que levantamos: a presença de uma religiosidade cristã invisível que se fez presente no processo de construção do pensamento socialista do Partido dos Trabalhadores e que foi encontrada nos textos oficiais e nos pronunciamentos dos líderes petistas, não enquanto discurso cristão propriamente, mas enquanto consciência religiosa. Tais constatações da pesquisa confirmaram as hipóteses de que o socialismo do Partido dos Trabalhadores tem profundas imbricações com a religião. Ou seja, o desenvolvimento do pensamento socialista dentro do Partido dos Trabalhadores, sem dúvida, pode e deve ter uma leitura teológica. 

Assim, vimos que a Teologia, enquanto hermenêutica dos universos simbólicos, permite uma abordagem do problema do poder, principalmente quando partimos de duas perspectivas fundamentais nessa leitura teológica: a antropológica política, que percebe o simbólico como fundante da vida social, e a ética que, ao dar ênfase às instituições, pensa a relação entre instituições e estruturas políticas. 

Vimos que para Paul Tillich, a distância que separa o ser e a consciência é necessária para que o ser se eleve à consciência. Por isso, consciência supõe não somente uma ligação ao ser, mas também um distanciamento que permita reflexão. Assim, aquele que é confrontado em sua ligação original com um grupo ou com uma classe é chamado a dar consciência a outra classe que não é a sua. E toma como exemplo Marx, que não era proletário, mas rompeu com sua classe de origem e se colocou a serviço de outra. Marx mostrou que a relação entre a situação social e o pensamento político deve se elevar da esfera biográfica para aquela das relações funcionais. Tal realidade leva a palavra princípio a caracterizar de maneira global os grupos políticos, pois deixa de lado a esfera biográfica e permite ao pensamento extrair a multiplicidade de fenômenos que constitui a característica comum a todos os indivíduos.

Normalmente, esta tarefa se cumpre com ajuda do conceito de essência, pois a relação entre essência e fenômeno domina a teoria do conhecimento. Porém a lógica da essência não é suficiente para explicar as realidades históricas. A essência de um fenômeno histórico, como constata Tillich, é uma abstração vazia, de onde se expulsou a força viva da história. Isso leva Tillich a buscar a essência do socialismo na própria história e nos mitos que lhe deram origem, afirmando que o socialismo é um movimento de oposição, um movimento de oposição à sociedade burguesa, mas enquanto mediação uniu-se à sociedade burguesa na oposição às formas feudais e patriarcais de sociedade. Entender esta raiz do socialismo ajudaria a entender as raízes do pensamento político que lhe deu origem. Tillich parte de uma teologia política onde seu referencial primeiro é o ser. Mas para ele, não se pode entender o socialismo caso não se experimente a exigência de sua justiça como uma necessidade incondicional, pois quem não é desafiado pelo socialismo não pode falar do socialismo, a não de forma superficial. Não pode falar dele porque é contrário àquilo que ele defende. É por isso que a leitura teológica de Tillich sobre política e socialismo rompe as bases preconceituosas sobre tal debate e nos possibilitou abordar o assunto, a partir da correlação, sem estigmatizar grupos e movimentos. Logicamente, por olhar a realidade a partir de um momento específico da história, que se dá na Europa, entre as duas guerras mundiais, faltaria nesta abordagem teológica de Paul Tillich o olhar latino-americano que, mesmo reconhecendo as estruturas comuns à história do pensamento político, indicassem novos aspectos e movimentos, entre os quais a presença cristã institucional e invisível na sociedade brasileira. 

Enrique Dussel complementa Paul Tillich através de uma teologia latino-americana que é um pensar sobre Deus, mas um Deus que se revela na história, que se revela através do Outro, que é o mistério incompreensível de nossa liberdade. Para Dussel, crer na revelação de Deus é compreender o sentido da história, que ele nos apresenta através do Outro. Tal compreensão da teologia permite a Dussel analisar como cristianismo e socialismo se relacionaram na história recente da América Latina e do Brasil. Para ele, a relação cristianismo-socialismo começou a ser colocada nos grupos estudantis cristãos, principalmente a partir de 1959 pela revolução cubana, e que o antecedente mais distante aconteceu no Brasil, na época da Juventude Universitária Católica. Segundo Dussel, o pensamento do padre Cardonnel e principalmente de Henrique de Lima Vaz foram adotados como ‘compromisso político’ pela Ação Popular, cujo Documento de Base admitiu a ação revolucionária. Assim, em junho de 1968, o Congresso Nacional da Juventude Operária Católica e da Ação Católica Operária condenou o capitalismo e defendeu a luta de classes, admitindo a análise marxista da realidade social. A partir desse momento, dezenas de grupos cristãos na América Latina aceitaram a estratégia revolucionária dos focos de Che Guevara, como a guerrilha de Teoponte de Nestor Paz Samora, em 1970, na Bolívia. Mas o caso mais conhecido foi o do padre Camilo Torres, morto em 15 de fevereiro de 1966. Com o fracasso da teoria dos focos, a Unidade Popular chilena constituiu-se em novo modelo de transição ao socialismo. E, assim, o cristianismo social ocupou um espaço político até então inédito na história latino-americana e brasileira. 

Os estudos desenvolvidos por Paul Tillich, assim como por Enrique Dussel, nos deram instrumentos para uma compreensão teológica da realidade política brasileira, quer a partir da leitura das raízes antropológicas, no caso de Paul Tillich, quer ética, no caso de Enrique Dussel. E foi a partir das justificativas expostas, e definido o campo motivacional dos autores, que nos armamos de razões instrumentais e referenciais para desenvolver o trabalho ora apresentado. E mais do que isso, levamos em conta a riqueza do momento histórico, tanto em relação à consolidação democrática, quanto em relação às perspectivas de construção do futuro, apesar de ser este um momento de crise ética, que ameaça, sobretudo, a esperança.

A metodologia da tese teve por base uma extensa pesquisa bibliográfica do socialismo brasileiro no período do pós-guerra até a formação do Partido dos Trabalhadores, assim como das correntes socialistas que se fizeram presentes no partido. A metodologia procurou através da pesquisa bibliográfica trazer informações sobre a presença da ética cristã no PT, quer através das correntes católicas ligadas à Teologia da Libertação, quer de grupos evangélicos. Também foi nossa intenção compreender a relação que Tillich e Dussel construíram entre religião, cristianismo e socialismo, e como tais correlações se apresentaram na formação e construção do Partido dos Trabalhadores. Por isso, a metodologia teve por base os escritos socialistas de Tillich, amparados em conceitos que foram por ele construídos no correr de sua vida. A idéia-chave para o trabalho foi o argumento tillichiano de que o socialismo traduz a exigência incondicional de justiça e por isso não pode ser entendido quando separado da ética cristã que lhe deu origem. 

Da mesma maneira, a metodologia reportou a Dussel e seu conceito de religião enquanto infraestrutura, ou seja, enquanto estrutura crítica da totalidade do sistema que oprime, o que dá à religião função histórica essencial. E também ao conceito de analética, que é a afirmação da exterioridade, não somente como negação da negação do sistema desde a afirmação da totalidade, mas como superação da totalidade a partir da transcendentalidade interna ou da exterioridade daquele que nunca esteve dentro. A analética é crítica por isso, é a superação do método dialético negativo, mas não o nega, simplesmente o assume e completa. Para Dussel afirmar a exterioridade é realizar o impossível para o sistema, é descobrir aquilo que surge a partir da liberdade não condicionada, revolucionária e inovadora. Por isso, só através da analética é possível comprometer-se com o outro, a ponto de arriscar a vida na luta pela libertação desse outro, além do que possibilita a justiça do sistema.

Dessa maneira, a partir da metodologia descrita, analisamos a relação entre teologia e socialismo em Tillich e Dussel, focalizando questões como socialismo, democracia e justiça. Tal análise teológica proposta partiu, assim, do universo simbólico cristão e socialista como fundante do pensamento político e da vida militante dentro do Partido dos Trabalhadores, com abordagens do problema do poder em suas relações com estes universos simbólicos. Dessa maneira, a proposta da tese cumpriu seu objetivo ao analisar a relação do cristianismo com a política brasileira através de seus conteúdos simbólicos. 

Nossa hipótese central foi demonstrada: a religião e o cristianismo social foram componentes fundamentais na formação do pensamento socialista no Partido dos Trabalhadores. Essa hipótese -- que teve dois desdobramentos, ao perguntar: qual é o sentido teológico de um partido socialista que se forma desta maneira? E se é possível, teologicamente, demonstrar a importância disso? -- também foi respondida. Pois ficou evidente que um tipo de socialismo religioso teve presença marcante no conjunto do pensamento petista, ao levantar a bandeira da expansão da democracia de participação e a solução de problemas brasileiros historicamente pendentes, como a questão da terra, do trabalho e da liberdade cidadã. Assim, cremos que respondemos através da tese “O espectro do vermelho: uma leitura teológica do socialismo no Partido dos Trabalhadores, a partir de Paul Tillich e Enrique Dussel” aos questionamentos propostos.



O Caminho e o sentido da vida no judaísmo

O sentido da vida e neste sentido o conceito de caminho constitui um questionamento teológico acerca do significado da existência. E vamos fazer uma leitura a partir do pensamento judaico, que consiste na observância das leis divinas e na reverência perante Deus e sua vontade. Para isso apresentaremos um texto do rabino Haym Halevi Doni

Aunque se ha hecho un esfuerzo para resumir algunas de las ideas en las que los judíos siempre creyeron profundamente y que constituyen los principios básicos de fe que han caracterizado al judaísmo a través de las épocas, no me he empeñado en sondear profundamente en la teología judía o en explicar las consideraciones filosofico-religiosas sobre la naturaleza del hombre, de la vida, del bien y del mal, que emanan de las enseñanzas judías y que impregnan su concepción total del mundo. Haber hecho eso hubiera significado ir mas allá del alcance y del objetivo de este libro. Sin embargo, la razón principal por la cual evitare aquí ahondar profundamente en teología es la resumida perfectamente en las palabras de Samuel Belkin, Presidente de la Universidad Ieshivá:

"...Se han hecho muchos esfuerzos para formular un enfoque coherente y sistemático de la teología judía. Sin embargo, todos esos esfuerzos se han revelado infructuosos porque el judaísmo nunca se preocupo demasiado de doctrinas lógicas. Su deseo fue mas bien desarrollar un conjunto de practicas, un código de actos religiosos, que pudiera establecer un modo de vida religioso. Es verdad, que esos actos y practicas emanan de conceptos básicos teológicos y morales, pero tiene gran significado el hecho de que esas teorías teológicas y morales, pero tiene gran significado el hecho de que esas teorías teológicas del judaísmo permanezcan siempre invisibles, que puedan aprehenderse solamente por medio de las practicas religiosas a las que dan nacimiento. Grandes filósofos eruditos rabínicos encontraron de esa manera una mayor medida de acuerdo entre ellos en el minian hamitzvot, (clasificación de los 613 preceptos religiosos que la Torá impone del judío), que en su empeño de presentar el dogma básico judío en formas de artículos de fe... En el judaísmo los artículos de fe y las teorías religiosas no pueden divorciarse de las practicas particulares... La teología del judaísmo esta contenida en gran parte en la Halajá, el sistema jurídico judío que no se ocupa de la teoría sino principalmente de la práctica... (Si pudiera decirse que el judaísmo reposa sobre dos principios gemelos: la soberanía de D’s y el carácter sagrado del individuo... esta filosofía (así como todos sus fundamentos filosóficos) se refleja claramente en la Halajá...."

Halajá es el termino general para la ley judía; también se refiere a la decisión definitiva y autorizada sobre cualquier tema especifico. Esta basada primordial y fundamentalmente en las ordenanzas bíblicas y en los mandamientos de la Torá escrita y oral, como también en toda la legislación y disposiciones rabínicas, incluyendo las decisiones juridico-religiosas transmitidas a través de las épocas en formas de respuestas y comentarios de grandes e importantes sabios rabínicos. Todo este conjunto sirve de base autorizada y proporciona los antecedentes legales para el proceso interrumpido de la adopción de decisiones legales-religiosas hasta nuestros mismos días. La palabra Halajá en si, significa: "el camino por el cual uno marcha". La Halajá es practica, no teórica. La Halajá es legalista, no filosófica. Aunque la fe es la base a partir de la cual la Halajá se desarrolla, coloca su mayor énfasis en los actos. La Halajá se ocupa de la aplicación adecuada de los preceptos (mitzvot) en toda situación y circunstancia. (Los preceptos de origen bíblico no pueden ser modificados en esencia, aquellos de origen rabínico pueden ser modificados en ciertas circunstancias y condiciones por estudiosos competentes y autorizados). La Halajá exige un compromiso en la conducta. Ella trata con obligaciones éticas y deberes religiosos.

En su carácter de sistema jurídico judío, la Halajá cubre todos los aspectos y relaciones de vida del mismo, tanto entre el hombre y su semejante como entre el hombre y D’s. De esa manera, la Halajá se ocupa no solo de aquellas áreas consideradas generalmente como pertenecientes a la esfera del ritual y de la religión, sino también de aquellas que, generalmente los sabios no judíos asignan a las esferas de la moral o de la ética o a la ley civil o criminal.

Así como la Halajá lo abarca todo, puede afirmarse también que la religión judía lo abarca todo. No existe ningún área en la esfera de la conducta humana de la cual no trate o no ofrezca guía. Si se da por entendido que cada aspecto de la vida es considerado sujeto a las directivas establecidas por la Halajá, no puede considerarse entonces, que la religión judía –cuando sea observada correctamente- llene solo alguno de los múltiples aspectos de la vida, o que sea distinta y este separada de otras áreas de la misma existencia y preocupaciones del hombre. Los hábitos alimenticios de una persona, su vida sexual, su ética comercial, sus actividades sociales, sus diversiones, sus manifestaciones artísticas, todo esto se encuentra bajo la cobertura de la ley religiosa de los valores religiosos y de las directivas espirituales del judaísmo. La religión judía no se disocia de ningún aspecto de la vida y no limita su preocupación solamente a los actos rituales que tienen un significado místico en un mundo sobrenatural. Observada con plenitud y correctamente, la religión judía es en si la vida misma y provee de valores para guiar toda la existencia.

Esta es la naturaleza de la tradición religiosa transmitida al judío. Por eso es que los Profetas de Israel predicaron y lucharon con tanto fervor en pro de la justicia social y por la eliminación de la pobreza como por la santidad del Shabat y la abolición de la idolatría. Es verdad, todos los libros sobre el judaísmo enfatizan el hecho de que el judaísmo es una forma de vida; que es acción, no solamente un culto. Aunque no se minimiza el papel central que desempeña la doctrina, sin lugar a dudas, el énfasis es puesto sobre los actos. La esencia de la fe judía no se ha cultivado sobre hipótesis doctrinales o declaraciones dogmáticas, sino en la aplicación practica de la Torá, mitzvot maasiot (preceptos prácticos).

"...Las verdades conceptuales del judaísmo y sus valores significan muy poco si no se las traduce en una forma de vida. La Halajá es el medio por el cual los conceptos y los valores se aplican a la vida cotidiana. La Halajá señala los métodos para la concretización de la teoría, de los principios, del credo..."

La Halajá, enfocada en la ejecución y cumplimiento de los preceptos (mitzvot) sirve para concretizar lo que, de otra manera, yacería en la esfera de la abstracción, a la vez que sirve para santificar lo que de otra manera quedaría en la esfera de lo mundano.

Ernst Simon, de la Universidad Hebrea de Jerusalem, ofrece una explicación equilibrada del por que de la observancia de la Halajá por el judío moderno. Dice que:

"...Existe una relativa identidad entre la fe y el pueblo, y esta identidad relativa solo puede establecerse y mantenerse por medio de una forma de vida santificada. La Halajá es nuestro único medio para establecer y mantener esta forma de vida santificada...2

Sobre todo, dice Simon:

"... La Halajá puede tener una profunda pertinencia para el judío moderno porque formula y representa una actitud hacia la vida que enfatiza la necesidad de restituir el intelecto a una sociedad que es en parte anti-intelectual, de disciplinar a un mundo entregado en parte al libre albedrío, de orientar y dar un sentido de dirección a un caos de excesiva información y de una religión nacional frente a las incursiones del misticismo y el oscurantismo..."

Tal como lo afirma Louis Ginzberg:

"Solamente en la Halajá se encuentra expresada exacta y adecuadamente el pensamiento y el carácter del pueblo judío".

Seymour Siegal lo expresa muy bien:

"No seguimos siendo judíos solo porque seamos miembros de una sociedad filosófica con elevados principios (aunque es un motivo de orgullo y un reto, perpetuar y profundizar el legado de ideas y de conceptos que hemos heredado). Seguimos siendo judíos porque somos parte de la comunidad de Israel, que ha aceptado vivir su vida como una comunidad separada, por siempre, obedeciendo a D’s. Sin lugar a dudas algunas ideas derivan de esta premisa. Mas nuestra existencia esta definida por el hecho del Pacto (con su necesaria implicación de la Torá y la Halajá, o la Ley); noesta definida únicamente por ideas.

Algunos círculos expresan el temor de que la estricta adhesión a la Halajá, sin que este acompañada por una profunda fe y sentimientos espirituales, quede reducida a una forma de behaviorismo desprovista de toda dimensión y calidad espiritual. Sin embargo, ese temor no justifica que se disminuya la obligación de la Halajá ; por el contrario, enfatiza la necesidad de acentuar la calidad espiritual de todos los actos. Desde hace mucho tiempo los rabinos reconocieron el problema y trataron de solucionarlo cuando enseñaron, por ejemplo, que : "no hagas rutina de tus plegarias..." (Pirkei Avot 2 :18). El hecho de que un acto pueda culminar en un extremismo indeseable, no justifica la anulación del mismo. Debe controlarse el abuso sin eliminar la esencia del acto.

Incluso Abraham Joshua Heschel, un notable exponente del punto de vista que destaca el espíritu interior del hombre (al que él llama la esfera de la Agadá), se opone enérgicamente a todos aquellos que confinan al judaísmo exclusivamente a la Halajá, insistiendo en que :

De hecho, la forma mas segura para abandonar la Agada (fe, interiorización) es abolir la Halajá. Sin la Halajá, la Agada pierde su sustancia, su carácter, su fuente de inspiración, su defensa contra el peligro de la secularización. Por medio de la interiorización solamente no nos acercamos a D’s. Las mas puras intenciones, la devoción mas profunda, las mas nobles aspiraciones espirituales, son vanas cuando no se realizan en la acción.

Al igual que todos los sistemas legales basados en una "constitución" o en algún otro código de leyes, también la Halajá permite a menudo diferencias de opiniones y diferencia de comportamiento, particularmente en las áreas que no afectan la esfera de la Ley Divina de la Torá. Pero todos los diferentes dictámenes de carácter religioso adoptados por estudiosos competentes, deben ser susceptibles de justificarse y defenderse de acuerdo a las reglas de interpretación de la Halajá. Deben basarse en la mas pura enseñanza religiosa. De estas diferencias de opinión, dicen nuestras fuentes religiosas que "las unas y las otras son las palabras del D’s viviente", porque ambas emergen de la fe en ese D’s y del sincero deseo de cumplir la voluntad de ese D’s. Existe una gran diferencia entre el estar en desacuerdo sobre lo que la Torá y la tradición requieren de nosotros cuando se deben resolver problemas, y el franco abandono de la autoridad y la jurisdicción de la Torá y de la Halajá. Esta ultima actitud aleja a una persona de los limites legítimos del judaísmo.

La Halajá es el camino judío para asegurar y perpetuar la forma de vida judía. Si se abandona o se rechaza la Halajá, desaparece también lentamente esa forma de vida y con esa desaparición se desvanecen los valores característicos y apreciados por el judaísmo. Esto no ocurre de inmediato, toma de una a dos generaciones, pero ocurre. Es el proceso conocido como la asimilación. Comienza cuando los judíos rechazan el carácter obligatorio de la Halajá y finaliza con la desaparición del judaísmo. Esto no es especulación o polémica sino un hecho histórico que, por desgracia, se repitió una y otra vez en muchas condiciones y circunstancias diferentes. Donde las observancias distintivas del judaísmo desaparecían, solo una amenazante crisis de antisemitismo constituía el único factor que retardaba la total asimilación física del pueblo judío.

Rabbi Haym Halevi Donin

To Be A Jew: A Guide To Jewish Observance In Contemporary Life [Paperback].