mardi 4 octobre 2011

Lendo Oséias com Calvino - capítulo dois

Oséias 2:2-23
Tão numeroso: a população dos filhos de Israel faz parte de uma das três promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó (ver Gn 12,2; 22,17; 26,4; 28,14). Porque chegou o dia de Jezrael: anuncia a dialética (v.1) do título Jezrael: o Eterno semeia versus o Eterno espalha. O dia de Jezrael é o dia da alegria ou dia de desespero.

O Eterno entrou em processo contra o  povo: Os 4,1; 12,3; Is 1,18; 3,13-15; Mq 6,1-2. Prostituição: a idolatria é prostituição e a infidelidade é adultério (Os 1,2; Jr 2,20; 3,1; 5,7; 13,27).

Oseias 2.2-8  2 Então Judá e Israel hão-de ficar de novo unidos; escolherão um único chefe e hão-de levantar-se do abismo, porque chegou o grande dia de Jezrael 3 Chamem aos vossos irmãos Meu-povo e às vossas irmãs Bem-amada." 4 "Acusem Israel, vossa mãe, acusem-na, pois ela já não é minha mulher e eu já não sou seu marido. Que ela retire do rosto as marcas da sua prostituição, e do peito, os sinais do seu adultério 5 De contrário, vou deixá-la completamente nua e mostrá-la como no dia em que nasceu. Transformarei a sua terra em deserto e terra seca, e farei com que morra de sede. 6 Não terei amor pelos seus filhos, porque são filhos duma prostituta, 7 uma vez que a sua mãe se prostitui e leva uma vida vergonhosa. Ela mesma dizia: "Vou ter com os meus amantes, aqueles que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e o meu vinho." 8 Por isso, vou tapar-lhe o caminho com uma sebe de espinhos, e cercá-la de um muro para não encontrar o caminho.

O Eterno tinha motivos para repudiar Israel: as prostituições e adultérios – idolatria. Ele, porém, gostaria de poupá-lo. Para fazer isso, teria que haver arrependimento. O Eterno está disposto a perdoar, mas a falta de arrependimento impede a comunhão.

Isaías 59.1-2  “Não pensem que o braço do Senhor é muito curto para vos salvar, e que o seu ouvido é surdo para vos escutar! 2 São as vossas faltas que cavam um abismo entre vós e o vosso Deus; são os vossos pecados que o levam a desviar o olhar, para não atender os vossos pedidos”.

Caso Israel não se arrependesse, o Eterno o deixaria sofrer as conseqüências da alienação. A terra secaria e os filhos sofreriam.

Quando Israel foi atrás de amantes (ídolos), achou que eles fossem a fonte das sua prosperidade. O inimigo e seus servos (o mundo, a carne e o diabo) oferecem atrações. Pessoas acham que os benefícios do erro justificam os riscos. Pode haver prazeres, lucros, mas o preço é mais alto do que os benefícios. "Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?" (Jr 5.31).

O Eterno, como marido, impediu o acesso de Israel aos seus amantes, dando-lhe motivo para voltar e buscá-lo. Felizes são os que enxergam a realidade e voltam! Não foram os amantes e sim o próprio Senhor que sustentava Israel, mas ele tomou as coisas que o Eterno lhe dera e as usou para servir baal.

“O Profeta, neste versículo (v. 2), parece se contradizer: pois ele prometeu reconciliação e, agora fala de um novo repúdio. Essas coisas, juntas, não parecem concordar bem com Deus abraçar novamente, ou estar desejoso de abraçar, em seu amor, aqueles a quem antes rejeitara — e que enviasse, ao mesmo tempo, uma carta de divórcio e renunciasse ao laço matrimonial. Mas, se ponderarmos o desígnio do Profeta, veremos que a passagem é muito coerente, e que não há contradição alguma nas palavras. Ele, de fato, prometeu que, em uma época futura, Deus seria propício aos israelitas: mas, como não haviam ainda se arrependido, era preciso lidar, outra vez, mais severamente com eles, para que retornassem a seu Deus real e cabalmente subjugados. Assim, vemos que, na Escritura, promessas e ameaças estão junta e retamente misturadas. Pois, caso o Senhor passe um mês inteiro vituperando pecadores, é capaz de eles, nesse período, rebelarem-se uma centena de vezes. Por isso Deus, depois de mostrar aos homens seus pecados, adiciona alguma consolação e modera a severidade, para que eles não se desanimem: em seguida, ele volta outra vez à ameaça, e assim o faz pela necessidade; pois, embora os homens fiquem terrificados com o temor da punição, todavia, não se arrependem. É necessário que eles, então, sejam repreendidos não apenas uma vez ou outra, mas com muita freqüência”. (João Calvino, Comentário sobre Oséias, pp 46-47)

Ezequiel 16 apresenta uma versão desta história, só que a esposa em Ezequiel é Judá e não Samaria.

Oseias 2:9-13   9 Procurará conquistar os seus amantes, mas não o vai conseguir, andará atrás deles e não os encontrará. Então dirá: "Vou regressar ao meu primeiro marido, porque eu era bem mais feliz então do que agora." 10 Ela não compreendia que era eu quem lhe dava o trigo, o vinho e o azeite, o ouro e a prata em abundância, de que se servia para o culto a baal. 11 Por isso, vou tirar-lhe o meu trigo, no tempo da ceifa e o meu vinho, no tempo das vindimas. Vou-lhe retirar a minha lã e o meu linho, para ela ficar completamente nua. 12 Vou deixá-la nua e envergonhada diante dos seus amantes, e ninguém mo impedirá de o fazer. 13 Vou pôr fim às suas alegrias, às suas festas, às celebrações da lua nova, aos seus sábados e a todas as outras solenidades.


Quando Israel insistiu em praticar a idolatria, o Eterno decidiu castigá-lo.
  • As bênçãos deixaram de ser derramadas (9).
  • Israel ficou exposto e os povos viram sua pobreza (10).
  • Perderam a alegria da comunhão, as festas e os sábados, devido à infidelidade.(11)
  • Israel perdeu tudo que ganhara antes (12).
  • O povo sofreu, conforme o tempo em que andou na idolatria (13).
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As conseqüências trágicas da alienação são os resultados naturais do distanciamento. O Eterno  parou de cuidar da nação e Israel sofreu nas mãos dos amantes. O mundo ensina lições quando a pessoa escolhe a alienação (Lc 15.11-32).

Deus amava Israel, mas o deixou sofrer para chegar ao arrependimento necessário à reconciliação.

Oseias 2:14-25  14 Devastarei as suas vinhas e as suas figueiras, das quais ela dizia: "Esta é a paga que me deram os meus amantes." Farei delas um matagal que será devorado pelos animais do campo. 15 Vou pedir-lhe contas por ter prestado culto aos ídolos de baal, pelo fumo dos sacrifícios que lhes oferecia. Ataviada com anéis e colares corria atrás dos seus amantes, esquecendo-se que eu existia. Palavra do Senhor! 16 Mas, um dia, vou reconquistá-la, vou conduzi-la ao deserto, e falar-lhe ao coração. 17 Então lhe darei novamente as suas vinhas, e o desgraçado vale de Acor tornar-se-á para ela uma porta de esperança. E ela vai responder ao meu amor como quando era jovem, no tempo em que ela saiu do Egipto." 18 "Naquele dia, ela há-de chamar-me "meu marido" e não mais me tratará por meu senhor, baal. 19 Retirarei da sua língua o nome do deus baal, e nunca mais se lembrará dele. 20 Então concluirei a favor do meu povo uma aliança com os animais dos campos com as aves do céu e todos os bichos da terra. Farei desaparecer do país armas de guerra, arcos e espadas, de modo que o meu povo possa viver tranquilo. 21 Israel, o meu casamento contigo é eterno e este casamento terá, para sempre, lealdade e justiça, amor e ternura. 22 Vou-me casar contigo e serei fiel e tu hás-de reconhecer que eu sou o Senhor. 23 Naquele dia, responderei às necessidades do céu; este responderá às necessidades da terra Palavra do Senhor! 24 A terra, por sua vez, responderá com trigo, vinho novo e azeite, e todos estes produtos responderão à planície de Jezrael. 25 Então o país será para mim uma boa sementeira, amarei a que era chamada Mal-amada, e ao que era chamado Não-é-meu-povo hei-de dizer: Tu-és-o-meu-povo; e ele me responderá: Meu Deus!"

Depois do período de sofrimento, a mulher foi cativada pelo marido, voltaram ao tempo de namoro e reconciliação.

Deus cativou a mulher e a levou para o deserto para lhe falar ao coração. Agiu para possibilitar a volta. E a tratou com carinho, apaixonadamente.

O vale de Acor se torna porta de esperança (15). Vale de Acor: vale da desgraça. Segundo Js 7.26 encontrava-se na região de Jericó. É provável que o profeta se refira ao que é contado em Js 7. Por meio da desgraça da invasão dos assírios (11.5), um remanescente encontraria a esperança da nova vida. As correções de rumo, os desafios, são portas de esperança.

Hebreus 1.4-13  4 O Filho tornou-se superior aos anjos, porque herdou do Pai um nome que é superior ao deles. 5 Realmente, Deus nunca disse a nenhum anjo: Tu és meu filho, desde hoje sou teu pai. E mais: Eu serei seu pai e ele será meu filho. 6 E na altura de enviar o seu único Filho ao mundo, Deus disse: Todos os anjos de Deus o devem adorar. 7 Ora, a respeito dos anjos, também diz: Faz dos seus anjos ventos e dos seus servidores chamas de fogo. 8 Mas a respeito do Filho diz: Tu és Deus e o teu trono dura para sempre: Governas o teu reino com justiça, pois a justiça é o teu ceptro. 9 Amas o que é justo e detestas a maldade: Por isso Deus, o teu Deus, te ungiu e coroou festivamente colocando-te acima dos teus companheiros. 10 E ainda: Foste tu, Senhor, que no princípio criaste a Terra e os Céus säo obra das tuas mäos. 11 Eles häo-de acabar, mas tu permaneces. Eles häo-de envelhecer como o vestuário; 12 tu os dobrarás como uma capa e hás-de pô-los de lado como quem muda de roupa. Mas tu és sempre o mesmo: O passar dos anos näo te envelhece. 13 Deus nunca disse a nenhum anjo: Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés.

Israel chamaria Deus de "meu marido", não de "meu baal" ou "meu senhor" (16-17).

Baal significa senhor, mestre. AAo chamar Deus por este nome, num contexto de idolatria, estaria deixando-o no mesmo nível dos deuses cananeus. A chave aqui não é a falta de respeito, mas o fato de que o Eterno quer restabelecer uma intimidade de marido e mulher.

Deus daria de volta a terra perdida, o povo habitaria em segurança (18). O Eterno faria uma aliança com sua esposa arrependida (19-20). Depois do que Israel fez, Deus se dispôs a tomá-lo de volta e entrar em nova aliança. Ele seria um Deus bondoso, e ela um povo fiel e abençoado (21-23).
“O Profeta aqui aproveita a ocasião para falar do crescimento do povo. Ele prometera um frutífero e grande aumento de trigo, vinho e óleo; porém, para que finalidade seria isso, se a terra não possuísse numerosos habitantes? Por isso, foi preciso fazer essa adição. Além disso, o Profeta dissera antes: ‘Ainda que sejais vós imensos em número, todavia, somente um remanescente será preservado’. Ele agora coloca a nova mercê divina em oposição à sua vingança, e diz que Deus novamente semearia o povo. Por essa frase, descobrimos que a alusão à palavra Jizreel é impropriamente observada por alguns, ou seja, que eles, que dantes foram um povo degenerado e não verdadeiros israelitas, serão então a semente de Deus: todavia, as palavras admitem dois sentidos; pois urz, zara’, aplica-se tanto à terra quanto à semente. Os hebreus dizem: ‘A terra está semeada’, e também, ‘O trigo está semeado’, ou qualquer outro grão. Se pois o Profeta compara o povo à terra, o sentido será, eu semearei o povo como semeio a terra; isto é, eu os tornarei fecundos como a terra quando é produtiva. Deve ser então assim vertido: Eu semea-la-ei para mim como a terra, isto é, como se ela fosse a minha terra. Ou pode ser traduzido desta maneira, eu semea-la-ei para mim mesmo na terra, e para este fim, para que a terra, que esteve por um tempo abandonada e desolada, tenha muitos habitantes; e, como sabemos, foi o caso. Contudo, o pronome relativo no gênero feminino não nos deve desconcertar, pois o Profeta sempre fala como de uma mulher: o povo, sabemos, até agora nos foi descrito sob a pessoa de uma mulher. E ele, posteriormente, adiciona hmjwr-al, Lo-ruchamah. Ele fala aqui, ou de Laruchamae, uma filha adúltera, ou de uma mulher adúltera, a quem um marido tome para si. Quanto ao assunto em si, é fácil descobrir o que o Profeta quer dizer, que é que Deus difundiria uma descendência em toda parte, quando o povo tivesse sido reduzido não somente a um número pequeno, mas a quase nada: pois quão pouco faltou para ser ruína completa a desolação do povo, quando disperso no desterro? Ele era então, como foi afirmado antes, como um corpo despedaçado: a terra, no meio tempo, desfrutou de seus sábados; Deus a tinha aliviado de seus moradores Compreendemos então o que o Profeta quis dizer como sendo que Deus multiplicaria o povo, que o pequeno resto aumentaria para uma grande e quase inumerável descendência. Eu então a semearei na terra, ou seja, de um extremo a outro da terra toda; e eu terei misericórdia sobre Laruchamae, isto é, em misericórdia recebê-la-ei, a quem não obtivera misericórdia; e direi ao nãopovo: Vós sois agora meu povo. Vemos que o Profeta insiste nisto — que o povo não apenas buscaria as vantagens exteriores da vida presente, mas principiaria na própria fonte, voltando a alcançar o favor de Deus, e o conhecendo como Pai propício a eles: pois isso é o que o Profeta quer dizer, do que se dirá mais alguma coisa amanhã”. (João Calvino, idem, op. cit., p. 75)