mercredi 17 septembre 2014

Corrupção, uma palavra

[Uma reflexão  de Jones de Freitas]

Car@s

Gostaria de discutir mais essa questão da corrupção.

Numa mensagem recente aqui na lista, me chamou a atenção pela centralidade do argumento:

"Todos nós, ou boa parte, temos um vínculo afetivo com Lula e o PT mas (discordando do Daniel) fez água no barco moral do partido. Quem era bom saiu ou ficou totalmente sem poder de fogo. O PT vai aprender com a lição e se reformular, resgatando suas origens? NEM MORTA! Acabou isso! Depois de sentir o gostinho do poder e se corromper, não tem volta atrás! Se quando eles não conheciam isso eles não optaram por abrir mão... imagine agora que conhecem? Além disso, tem o orgulho ferido, o rabo preso para esconder, os compromissos já feitos. Conheço gente do PT, ótimos pais de família, sindicalista pé no chão no passado... Estão riquíssimos!! Moradores do Leblon ... mesmo sem assumirem cargos de confiança (quarto escalão). Não podem mais abrir mão disso. Meu conselho é: esqueçam esse partido! Ele é o PMDB do futuro." (09/09/14).

Ou seja, o PT pecou, comeu e gostou do fruto proibido e, portanto, está condenado para a eternidade. Não pode ser reformado. Está perdido e devemos todos esquecê-lo.

Como todo governo tem algum grau de corrupção, aqui e na Suíça, esse tipo de análise não esclarece muita coisa.

A análise moral da corrupção também não explica a esquizofrenia que seria um governo corrupto por natureza, mas que por algum misterioso instinto suicida fortalece e respeita a independência do
Judiciário, da PF, da PGR, do TCU, da AGU, etc. etc.  A discussão é tão confusa que  a maioria das pessoas deve achar que o Roberto Costa era do PT e quem descobriu tudo foi a revista Veja e não
a PF e a Justiça.

Citando uma recente mensagem do Daniel:

"O engraçado é que o governo que tanto "aparelhou" e cometeu "malfeitos" é o mesmo que recuperou a capacidade operacional e deu autonomia à Polícia Federal, ao Ministério Público, à CGU e até, quem diria, do TCU (Lula autorizou em 2003 a criação de 600 vagas de auditor, o que praticamente dobrou a capacidade de trabalho do órgão de controle). Se no projeto de poder do PT estava já premeditada a roubalheira, foi um tremendo tiro no pé (pra não dizer burrice!)."

Há uma novidade no Brasil: colarinhos-brancos, gente muito poderosa atrás das grades. Isso acontecia no passado?

Para mostrar as limitações do argumento moral na análise política, imaginemos um governo de ascetas, de gente impoluta que faça uma política econômica com brutal concentração de renda, empobrecendo e jogando no desemprego dezenas de milhões de pessoas, transferindo renda dos pobres para os ricos.  Isso não seria corrupção, mas uma decisão de política macroeconômica que refletiria uma determinada correlação de forças. Seria exaltada pela mídia conservadora, levaria a significativa melhora dos índices do Brasil nas agências de classificação de riscos, etc. Os fariseus todos teceriam loas a essa política que levaria ao desespero milhões de pessoas, justamente as mais vulneráveis. Um roubo monumental praticado à luz do dia e  dentro da melhor moral e bons costumes.

Não é à toa que o argumento da corrupção seja tão utilizado pela direita. Ela ri do PT, novato nessas lides, sempre deixando o rabo de fora. Observem o Maluf e o Arruda, ambos gozando de inabalável apoio do eleitorado mais conservador – o mesmo que deblatera contra a corrupção política.

Outra coisa interessante: todos sabemos que uma das saídas para um melhor controle da corrupção é a reforma política. Também sabemos que esse Congresso jamais aprovará qualquer reforma política. No entanto, quando se procura aumentar a participação popular ou propor uma Constituinte para fazer a reforma política quem apoia essas propostas? Quase ninguém do campo anticorrupção.

Tenho enormes críticas e decepções com o PT. A corrupção é a menor delas. 

Abraços
Jones de Freiras