samedi 22 octobre 2022

A França protestante

Primeiro tour
A Paris protestante

Vamos descobrir juntos lugares simbólicos do protestantismo no coração de Paris. Entre as 5.000 ruas e avenidas de Paris, quase uma centena leva o nome de um protestante importante ou de uma personalidade proeminente de origem protestante. Cada arrondissement da capital inclui pelo menos um / https://museeprotestant.org/parcours/paris-protestant/

Nesta caminhada através das ruas que marcam a história da Reforma protestante em Paris, vamos ver não somente arquitetura e geografia, mas a presença dessa fé tão presente na história da França. 

Alguns lugares. como 

A Paris de Calvino (https://museeprotestant.org/notice/paris-de-calvin), 

O DEFAP (https://fr.wikipedia.org/wiki/Service_protestant_de_Mission, 

A Maisons des Missions (https://museeprotestant.org/notice/maison-des-missions), e a Faculté de Théologie Protestante (https://museeprotestant.org/notice/faculte-de-theologie-protestante-de-paris), há 130 anos fazendo missões e formando pastores. 

E a Bibliothèque de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français (https://www.shpf.fr/bibliotheque) com seus acervos e exposições vão enriquecer nossa compreensão do que significou e significa hoje ser protestante. 

No bairro de Saint-Germain-des-Prés, centro cultural do protestantismo, passaremos pela igreja de Saint-Germain-L'Auxerrois, localizada ao lado do Palácio do Louvre, onde na noite de 23 para 24 de agosto de 1572, seu sino tocou, soando o alarme para o assassinato de centenas de nobres huguenotes, que tinham vindo a Paris assistir ao casamento de Henri de Navarra e Marguerite de Valois no Louvre. Despertado pelo sino, o povo de Paris massacrou centenas de protestantes.

Mas bairros como Saint-Germain des Prés desempenharam um papel importante no nascimento do protestantismo. Jacques Lefèvre d’Étaples, teólogo e humanista, que viveu ali, traduziu o Novo Testamento para o francês e por isso foi perseguido. Teve que fugir da cidade, mas não abandonou a fé e se tornou um dos grandes comentaristas dos textos do apóstolo Paulo.

Mas como vimos acima, Paris viveu o mais terrível dia da história do protestantismo. Na noite de São Bartolomeu foi impetrado o massacre de protestantes, que teve inicio no dia 24 de agosto de 1572, prolongado por vários dias na capital. Cerca de 30 mil protestantes foram mortos, e depois o massacre foi estendido a mais de vinte cidades das províncias durante as semanas e meses seguintes.


No quadro, a topografia parisiense da época, manipulada, adapta-se ao desejo de mostrar em conjunto os principais locais desta tragédia. À esquerda, pode-se ver a igreja do convento dos Grands-Augustins (agora desaparecido) onde soou o sino que desencadeou os assassinatos, o Sena e a Pont des Meuniers. Ao centro, ao fundo, o Louvre e, em frente ao prédio, Catarina de Médici, a viúva negra, principal instigadora dos massacres. 

Ao centro, ao fundo, a mansão em que o almirante de Coligny, líder do partido protestante, foi morto e depois decapitado e castrado. Reunidos em torno de seu cadáver, os líderes do partido católico, os duques de Guise e Aumale e o Chevalier d'Angoulême. Ao fundo à direita, a Porte Saint-Honoré e, na colina de La Villette, a forca de Montfaucon, onde o corpo do almirante foi pendurado de cabeça para baixo. Reunindo mais de 150 figuras, a obra é um verdadeiro catálogo da crueldade em tempos de guerra civil. Grávida estripada (à direita da pintura ao fundo), crianças arrastando um bebê na ponta de uma corda (ao fundo ao centro, à direita da ponte Meuniers), mulher espetada em um espeto de assar (apenas atrás das crianças arrastando a criança), cadáveres nus e empilhados (principalmente aos pés de Catarina de Médici), casas saqueadas (atrás dos líderes católicos). 

O rei Carlos IX dispara um arcabuz contra seus próprios súditos de uma janela no Louvre (provavelmente da torre esquerda do prédio). Esta pintura é bastante excepcional pela qualidade de sua execução, mas também porque as representações contemporâneas dos massacres de São Bartolomeu são muito raras. Tem a assinatura do pintor François Dubois, protestante de Amiens que se refugiou em Genebra após os massacres. 

(https://fr.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_la_Saint-Barthélemy#/media/Fichier:La_masacre_de_San_Bartolomé,_por_François_Dubois.jpg).

Este evento das Guerras de Religião foi fruto de um emaranhado de fatores, tanto religiosos e políticos quanto sociais. Foi a consequência dos conflitos entre católicos e protestantes da nobreza francesa. Aconteceu dois anos após a paz de Saint-Germain, quando o almirante de Coligny, líder do partido protestante, retornou ao conselho real. Agravada pela severa reação parisiense, católica e hostil à política de apaziguamento, reflete também as tensões internacionais entre os reinos da França e da Espanha, agravadas pela insurreição anti-espanhola na Holanda.

Segundo a tradição histórica, o rei Carlos IX e de sua mãe, Catarina de Médici, foram os principais responsáveis ​​pelo massacre.


No dia 13 de abril de 2016, numa cerimônia pública foi inaugurada a primeira placa em homenagem às vítimas do massacre de São Bartolomeu, próxima à Pont Neuf, praça du Vert Galant, pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo (https://fep.asso.fr/2016/04/devoilement-de-la-plaque-en-hommage-aux-victimes-du-massacre-de-la-saint-barthelemy/).

Mas visitaremos também as Catacumbas de Paris ( https://www.youtube.com/watch?v=3QCQwSssuf8 ) que datam de 1700, quando o ossário foi formado a partir de uma antiga pedreira subterrânea. Ao longo dos anos, mais e mais restos mortais foram trazidos de cemitérios superlotados para dar lugar ao desenvolvimento da cidade, até 1860. Hoje, ali estão expostos ceca de 6 milhões de esqueletos, sendo o maior ossário do planeta. Apesar de chocante, permite um olhar fascinante sobre esta antiga prática funerária.

Mas Paris na superfície ainda é uma festa. Assim, vamos passear pelo Sena ( https://www.getyourguide.fr/la-seine-l2601/paris-croisiere-de-1-h-sur-la-seine-t193940/?partner=true ) e subir à torre Eiffel ( https://www.toureiffel.paris/fr ) num final de tarde.

Segundo Tour

Les Cévennes dos camisards

Nesta viagem à França vamos ver como a fé reformada reagiu, não somente militarmente com os camisards de Les Cévennes e em outras regiões da França, mas também social e politicamente à intenção católica de acabar com os protestantes, que em 1560 eram cerca de 7 milhões de fiéis. numa população de 18 milhões de franceses. 

A partir de Paris, vamos à região de Les Cèvennes e ao Museu do Deserto ( http://www.museedudesert.com/article5684.html ).

E visitaremos a Tour de Constance (https://museeprotestant.org/notice/aigues-mortes-gard-la-tour-de-constance/ ) famosa por ter-se tornado uma prisão de mulheres, onde Marie Durant se tornou símbolo da resistência e da fé. Para entender: em 1685, o rei Luís XIV (1638-1715) revogou o Édito de Nantes que havia estabelecido a paz religiosa entre protestantes e católicos. A partir de então, o exercício do culto protestante foi proibido, os pastores eram presos, lançados às galeras ou mesmo mortos. E as crianças eram batizadas à força na fé católica. Milhares de protestantes deixaram o reino às pressas, mas a resistência se tomou conta do país.


Prisioneiras huguenotes na Tour de Constance. Tela de Michel Maximilien Leenhardt

Terceiro tour

Montpellier e a cultura protestante

Passearemos pela Montpellier protestante, onde visitaremos a Faculté de théologie de Montpellier / https://www.iptheologie.fr/facultes/montpellier/ herdeira de várias instituições, a Academia Protestante de Montpellier (fundada em 1596), e a Academia de Montauban e Puylaurens (fundada em 1598), bem como a Faculdade de Teologia Protestante de Montauban (1808-1919).

Na França, a Reforma Protestante teve uma dupla fonte: humanista (Cercle de Meaux, Lefèvre d’Étaples…),L uterana e Reformada (Guillaume Farel, Martin Bucer…).

A síntese e estruturação da Igreja se deve a Jean Calvin (1509-1564).

A Igreja Reformada da França (ERF) foi a primeira Igreja Protestante na França. O 1º Sínodo Nacional ocorreu em 1559. Visitaremos então a catedral de Maguelone /https://www.eglise-protestante-unie.fr/montpellier-centre-ville-p2021A/histoire/histoire-du-protestantisme-5, reconstruindo assim, juntos, uma história de fé e luta que nos ajudam a entender a França de hoje.

Observação: Para entender a história do protestantismo na França nos remetemos a um texto de Sébastien Fath, historiador e sociólogo, batista, e professor da Universidade de Paris ( https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-03100463/document ). 

Nossa visita tem como duração três dias em Paris e três dias em Montpellier e a região de Cévennes. As caminhadas e visitas incluirão está fotos, textos e vídeos, assim mapas de orientação. Esta visita a França protestante vai comover e surpreender. Venha mergulhar em nossa história.



Jean de Léry, meu irmão

A Confissão de fé da Guanabara

A Confissão de Fé da Guanabara 

de Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, 

Pierre Bourdon e André la Fon


Anglada, Paulo R. B., Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras, São Paulo, Editora Os Puritanos, 1998, pp. 190-197. Vide: Crespin, Jean: L' Histoire des Martyres, 1564. A Tragédia da Guanabara: História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, tradução de Domingos Ribeiro de On the Church of the Believers in the Country of Brazil, part of Austral America: Its Affliction and Dispersion, do texto original atribuído a Jean Lery, Histoire des choses mémorables survenues en le terre de Brésil, partie de l' Amérique australe, sous le governement de N. de Villegaignon, depuis l' an 1558, publicado em 1561. 


A Confissão de fé aqui transcrita tem como fonte primeira Crespin, Jean, A Tragédia da Guanabara; História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, pp. 65-71.

 

Os huguenotes vindos para a França Antártica foram acusados de heresia. Alguns fugiram, outros foram presos e condenados à morte por Villegaignon. Foram enforcados e seus corpos atirados morro abaixo, em 1558. Antes da execução, porém, professaram por escrito sua fé. Quatro deles, Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon escreveram, assim, a primeira Confissão de fé protestante das Américas.



Texto da Confissão de fé da Guanabara


Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo: 


I. Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem. Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente. 


II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis. 


III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo, nos ensinam. 


IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem. E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas são realmente distintas uma da outra. 


V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no seu corpo, porque o pão continua em sua natureza e substância, semelhantemente ao vinho, e não há mudança ou alteração. Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo: "Porque preparas tu os dentes e o ventre? Crê, e tu o comeste." O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefícios. Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: "Este pão é meu corpo." Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: "este é o sinal e a figura do meu corpo." S. Agostinho diz: "O Senhor não evitou dizer: — Este é o meu corpo, quando dava apenas o sinal de seu corpo." Portanto (como é ordenado no primeiro cânon do Concílio de Nicéia), neste santo sacramento não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai. Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas. 


VI. Cremos que, se fosse necessário por água no vinho, os evangelistas e São Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência. E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamen­tando-se sobre o sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir necessariamente. 


VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro, quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos quais ordenou tomar e comer. 


VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal. 


IX. Cremos que o batismo é sacramento de penitência, e como uma entrada na igreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Cristo. Representa-nos a remissão de nossos pecados passados e futuros, a qual é adquirida plenamente, só pela morte de nosso Senhor Jesus. De mais, a mortificação de nossa carne aí nos é representada, e a lavagem, representada pela água lançada sobre a criança, é sinal e selo do sangue de nosso Senhor Jesus, que é a verdadeira purificação de nossas almas. A sua instituição nos é ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos apóstolos observaram, usando de água em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito. Quanto aos exorcismos, abjurações de Satanás, crisma, saliva e sal, nós os registramos como tradições dos homens, contentando-nos só com a forma e instituição deixada por nosso Senhor Jesus. 


X. Quanto ao livre arbítrio, cremos que, se o primeiro homem, criado à imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, só ele conheceu o que era livre arbítrio, estando em sua integridade. Ora, ele nem apenas guardou este dom de Deus, assim como dele foi privado por seu pecado, e todos os que descendem dele, de sorte que nenhum da semente de Adão tem uma centelha do bem. Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: "Tua perdição é de ti, ó Israel." Ora isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito. Quanto ao homem cristão, batizado no sangue de Jesus Cristo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Cristo restitui nele o livre arbítrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: "Tenho o querer, mas em mim não acho o realizar." O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia não pode cair em impenitência. A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele. 


XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia. Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: "recebei o Santo Espírito;" depois acrescenta: "Se perdoardes a alguém os seus pecados," etc. Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor. 


XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence. No tocante à ordem eclesiástica, cremos no que S. Paulo dela escreveu na primeira epístola a Timóteo, e em outros lugares. 


XIII. A separação entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento não se pode fazer senão por causa de adultério, como nosso Senhor ensina (Mateus 19:5). E não somente se pode fazer a separação por essa causa, mas também, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte não culpada, se não podendo conter-se, deve casar-se, como São Ambrósio diz sobre o capítulo sete da Primeira Epístola aos Coríntios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho. 


XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher, não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escrituras, não se fundando a nossa fé sobre esse ponto. 


XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e insolente em si mesmos. E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: "Se as virgens se dedicam de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias." Quanto à passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no batismo, na qual está contido este ponto: "Que cada um deve servir a Deus na vocação em que foi chamado." As viúvas, pois, não faziam voto de continência, senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e não tinha outra consideração que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade. Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado, proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma, tenham já uma aprovação de continência. 


XVI. Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, intercessor e advogado, pelo qual temos acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por ele já reconciliados teremos plena vitória contra a morte. Quanto aos santos mortos, dizemos que desejam a nossa salvação e o cumprimento do Reino de Deus, e que o número dos eleitos se complete; todavia, não nos devemos dirigir a eles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceríamos o mandamento de Deus. Quanto a nós, ainda vivos, enquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escrituras. 


XVII. Quanto aos mortos, São Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, no capítulo quatro, nos proíbe entristecer-nos por eles, porque isto convém aos pagãos, que não têm esperança alguma de ressuscitar. O apóstolo não manda e nem ensina orar por eles, o que não teria esquecido se fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Salmo 48, diz que os espíritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida; que se nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos. Esta é a resposta que damos aos artigos por vós enviados, segundo a medida e porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. 


Assim seja. 

Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon. 





"Monumento ao Pregador", dedicado em memória ao primeiro culto protestante, conduzido pelos huguenotes. Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, Praça Rev. Mattathias Gomes dos Santos