Religião, uma construção maior do viver humano (II)
Jorge Pinheiro, PhD
“O meu povo
sofre por falta de entendimento”. Profeta Oséias.
O Brasil é um país engraçado. Talvez único, ou um
dos poucos do mundo ocidental, tão religioso, supersticioso, mas de espiritualidade
profundamente materialista. É crente e evangélico na proporção dos milhões, e
essa fé crente evangélica segue os padrões do país, supersticiosa, mas com
espiritualidade materialista.
Vamos pensar um pouco esta questão. O
protestantismo já existe no Brasil há cerca de cento e cinquenta anos. Era uma
religião dos letrados com influência direta do pensamento anglo-saxão. A
própria elite os ouvia, com curiosidade, com ponta de inveja porque
representava a modernidade que o país carecia, mas isso ficava por aí. Afinal,
não era coisa brasileira, e nem se adaptava à índole brasileira.
Mas o tempo passou, surgiu uma versão mais plástica
chamada evangelismo, e o boom
midiático dos anos 50 em diante fez o resto. Surgiu uma fé que fica sem dizer
de onde veio, que se misturou alegremente com as variantes mais diferentes
dessa índole brasileira. E cresceu, cresceu e virou algo que nenhum protestante
jamais imaginara: uma mistura de fé e culturas afros, de fé e culturas
brasilíndias e muito, mas muito mesmo da religiosidade e superstição
brasileiras. Ah! já ia me esquecendo, ficou algo que lembra ainda um
protestantismo esmaecido.
Bem, o tal protestantismo que falamos no início era
Iluminista, letrado, de gente que fazia perguntas, mas sabia que não tinha
necessariamente as respostas. E se estudava para isso. Um pastor era um sujeito
que estava a par das modernidades dos centros do mundo. Sabia das coisas e
deixava sua paróquia boquiaberta com seus sermões.
Mas na ciranda do crescimento do evangelismo, e das pressões midiáticas, o importante era conhecer as quatro leis espirituais – que não vou explicar aqui – e falar muito, sobre tudo, mesmo que este falar não tivesse lá nem pé, nem cabeça. E o evangelismo crente virou a segunda maior religião brasileira. Não de letrados, de fazer a elite babar de inveja, mas dos milhões que estavam à margem, sem documentos, letras e posses.
Conforme dados do IBGE, os evangélicos passaram de 17% da população brasileira em 2000 para 22,3% em 2012.
Lógico, se é fenômeno de milhões, a elite não ia deixar isso passar batido. Afinal essa gente vota. E alguns milhares, da elite gorda, aderiram a fé, afinal só é necessário aprender algumas frases chaves, se possível que citem Jesus. E a partir daí uma porta se abre, é mais um irmão ou irmã que necessita de nosso apoio para mudar o Brasil.
Um cadinho de raio de Sol
Fantástico, um país com milhões de crentes, gente
religiosa, supersticiosa, que vive a invocar forças poderosas e fazer milagres
estranhos. Mas é isso. E talvez você, assim, como eu, estamos no meio disso. Um
pouco boquiabertos, é claro.