samedi 20 février 2016

Religião, uma construção maior do viver humano (II)

Religião, uma construção maior do viver humano (II)
Jorge Pinheiro, PhD


O meu povo sofre por falta de entendimento”. Profeta Oséias.

O Brasil é um país engraçado. Talvez único, ou um dos poucos do mundo ocidental, tão religioso, supersticioso, mas de espiritualidade profundamente materialista. É crente e evangélico na proporção dos milhões, e essa fé crente evangélica segue os padrões do país, supersticiosa, mas com espiritualidade materialista.

Vamos pensar um pouco esta questão. O protestantismo já existe no Brasil há cerca de cento e cinquenta anos. Era uma religião dos letrados com influência direta do pensamento anglo-saxão. A própria elite os ouvia, com curiosidade, com ponta de inveja porque representava a modernidade que o país carecia, mas isso ficava por aí. Afinal, não era coisa brasileira, e nem se adaptava à índole brasileira.

Mas o tempo passou, surgiu uma versão mais plástica chamada evangelismo, e o boom midiático dos anos 50 em diante fez o resto. Surgiu uma fé que fica sem dizer de onde veio, que se misturou alegremente com as variantes mais diferentes dessa índole brasileira. E cresceu, cresceu e virou algo que nenhum protestante jamais imaginara: uma mistura de fé e culturas afros, de fé e culturas brasilíndias e muito, mas muito mesmo da religiosidade e superstição brasileiras. Ah! já ia me esquecendo, ficou algo que lembra ainda um protestantismo esmaecido.

Bem, o tal protestantismo que falamos no início era Iluminista, letrado, de gente que fazia perguntas, mas sabia que não tinha necessariamente as respostas. E se estudava para isso. Um pastor era um sujeito que estava a par das modernidades dos centros do mundo. Sabia das coisas e deixava sua paróquia boquiaberta com seus sermões.


Mas na ciranda do crescimento do evangelismo, e das pressões midiáticas, o importante era conhecer as quatro leis espirituais – que não vou explicar aqui – e falar muito, sobre tudo, mesmo que este falar não tivesse lá nem pé, nem cabeça. E o evangelismo crente virou a segunda maior religião brasileira. Não de letrados, de fazer a elite babar de inveja, mas dos milhões que estavam à margem, sem documentos, letras e posses. 

Conforme dados do IBGE, os evangélicos passaram de 17% da população brasileira em 2000 para 22,3% em 2012.


Igrejas Evangélicas no Brasil segundo o IBGE


Lógico, se é fenômeno de milhões, a elite não ia deixar isso passar batido. Afinal essa gente vota. E alguns milhares, da elite gorda, aderiram a fé, afinal só é necessário aprender algumas frases chaves, se possível que citem Jesus. E a partir daí uma porta se abre, é mais um irmão ou irmã que necessita de nosso apoio para mudar o Brasil.



Um cadinho de raio de Sol


Fantástico, um país com milhões de crentes, gente religiosa, supersticiosa, que vive a invocar forças poderosas e fazer milagres estranhos. Mas é isso. E talvez você, assim, como eu, estamos no meio disso. Um pouco boquiabertos, é claro.