mardi 16 février 2021

76 anos intensos ...

No dia 5 de março deste ano (2021) cheguei aos 76 anos
São 60 anos de um debruçar sobre a filosofia -- aos 16 anos já tinha lido a República de Platão, As dores do mundo de Schopenhauer, A filosofia positiva de Augusto Comte e O mundo interior de Farias Brito, entre outros -- e depois começar a estudar formalmente, além das discussões que fazíamos em casa. E 50 anos de estudo da teologia -- a partir de Agostinho, as Confissões, e Kierkegaard, Temor e tremor -- e depois com as faculdades, mestrado e doutorado cursados. E três idiomas da juventude: grego, hebraico e russo. Tudo isso forrado do judaísmo liberal de meus pais.

Mas, nesse aniversário de 76 anos, realço o texto de "kadish - vida, morte e reino", que eu gosto tanto. Se você quer conhecer um pouco do meu pensamento -- filosófico, teológico e religioso --, vale a pena ler "kadish - vida, morte e reino". Encomende com Eduardo de Proença da Fonte Editorial (+55 11 32140679).

E aqui vai um capítulo do livro. Boa leitura.


O kadish, santificação... 


... é uma das ideias-força da liturgia judaica. Deve ser praticado como ato de glorificação e santificação do haShem, do Nome divino, a partir de uma das visões escatológicas de profeta Ezequiel. Na liturgia apresenta várias versões, e a mais conhecida é a do lamentado, embora o kadish não inclua nenhuma referência aos mortos ou a sua ressurreição. O kadish influenciou várias orações cristãs, e o rabino de Nazaré ensinou aos seus discípulos um kadish que ficou conhecido como o Pai Nosso.

Não há nenhum ensino explícito nos textos das escrituras hebraicas que nos dê uma receita para orar o kadish. Porém, rabinos entendem Levítico 22.32 como um ensino que deve ser respeitado ... “para que Eu possa ser santificado entre os filhos de Israel".

No Talmude, o kadish é mencionado várias vezes. Foi ensinado pelo rabino Yossi: Um dia eu estava caminhando na estrada, e entrei nas ruínas de Jerusalém uma ruína para orar. Vint Eliyahu, o profeta, que estava na porta, esperou por mim até eu terminar minha oração. Depois ele me disse: A paz seja com você, rabino, e eu disse: "A paz seja com você também meu rabino e meu senhor. Ele disse então: Meu filho, por que você entrou nesta ruína? Disse-lhe: para orar. Ele então acrescentou: Meu filho, que voz você ouviu nesta ruína? e eu lhe disse: Ouvi um eco, como o pio de uma pomba, dizendo: Ai dos filhos pelos pecados que destruíram a minha casa, e queimou o meu altar, e os lancei no meio das nações. Ele então completou: Na sua vida não é nesta hora que deve elevar sua voz, mas todos os dias, três vezes ao dia. Não só isso, mas na hora em que Israel entra nas sinagogas e casas de estudo. 

Mas também o rabino Shimon ben Gamaliel exortou homens e congregação a orarem o kadish. 

Na segunda agadá, após a destruição do Templo, o kadish era orado em aramaico e considerado de importância para a sobrevivência espiritual do mundo. O kadish não era orado como lamento, mas pelos rabinos após suas exposições da Torá, nas tardes do sábado. E, mais tarde, quando terminavam o estudo de uma seção de midrash ou agadá. Esta prática se desenvolveu na Babilônia, onde a maioria das pessoas falava o aramaico.

Pessoalmente, vejo o kadish não apenas como peça litúrgica, mas como teologia que na adoração a haShem engloba vida, morte e reino. Por isso, sem dúvida, podemos aprender muito com as tradições judaicas desta teologia do kadish. 

Nessas reflexões sobre adoração, história, teologia e também política seguimos os passos de Shaul de Tarso, rabino filho de rabino, e utilizamos como referenciais teóricos três pensadores: um dos pais da Sociologia, Karl Marx; um teólogo, Paul Tillich; e um filósofo, Slavoj Zizek, a partir dos quais tenho realizado muito da minha produção acadêmica. Assim, Shaul, Marx, Tillich e Zizek, convido-os simplesmente a fazer o mesmo que Ieshua, rabino de Nazaré: romper preconceitos.