samedi 8 juin 2013

JORGE PINHEIRO: Religião, guerra e paz

JORGE PINHEIRO: Religião, guerra e paz: Nota nº 292 Declaração do Ibas sobre o confito em Gaza 21/11/2012 - (English version bellow) Índia, Brasil e África do Sul express...

Religião, guerra e paz

Nota nº 292
Declaração do Ibas sobre o confito em Gaza


21/11/2012 -

(English version bellow)

Índia, Brasil e África do Sul expressam sua mais firme condenação da violência em curso entre Israel e Palestina, que ameaça a paz e a segurança da região. Os países do IBAS lamentam profundamente a perda de vidas humanas e expressam sua preocupação pelo uso desproporcional e excessivo da força.

Eles exortam as partes a cessarem imediatamente toda a violência, a exercerem o máximo de moderação e evitem tomar qualquer ação que possa agravar ainda mais a situação. Eles sublinham a sua expectativa de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas fará o máximo no cumprimento de suas responsabilidades em relação a essa grave situação.

Eles também sublinham a necessidade urgente de levantar o bloqueio a Gaza, que continua a agravar a já difícil situação socioeconômica e humanitária prevalecente.

Os países do IBAS expressam seu firme apoio aos esforços de mediação do Governo do Egito, da Liga dos Estados Árabes e do Secretário-Geral da ONU com vistas a obter um cessar-fogo negociado entre as partes.

Os países do IBAS acreditam que apenas a diplomacia e o diálogo levarão à resolução da crise atual, o que torna ainda mais urgente retomar as negociações diretas entre Israel e a Palestina, que levem a uma solução abrangente para a questão palestina, ou seja, a realização da solução de dois Estados.

Tendo em vista a iminente consideração da Questão da Palestina por parte da Assembleia Geral da ONU, Índia, Brasil e África do Sul expressam o seu apoio à solicitação da Palestina de ser-lhe concedido o status de Estado observador do Sistema das Nações Unidas.
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A religião e a construção da paz
A partir de uma entrevista de Jorge Pinheiro à revista Defesa da Fé, Ano 9, Número 71.

A religiosidade faz parte do ser humano?

Jorge Pinheiro – O ser humano é potencialmente espiritual, e essa espiritualidade se expressa de várias formas, sem precisar de um lugar definido. A religião ocupa um espaço privilegiado na espiritualidade, que é a dimensão da profundidade do espírito humano. Por isso, a busca humana por sentido de vida dirige essa potencialidade na construção de religiões.

O que isso prova?

Jorge Pinheiro – Que a religião está presente em todas as ações do espírito humano: na ética, na estética, no conhecimento. Por isso, quando alguém rejeita a religião em nome da ética, da estética, ou da busca do conhecimento, em última instância está a rejeitar a religião em nome da própria religião, porque a espiritualidade é formadora de sentido.

Como o senhor distingue a religiosidade da espiritualidade?

Jorge Pinheiro – A espiritualidade é a relação da pessoa com a transcendência. Nesse sentido, a espiritualidade é a totalidade da vida. A religião, por sua vez, traduz uma dimensão dessa espiritualidade. Por exemplo, quando se assiste a um filme ou se lê um livro e somos despertadas, cada qual à sua maneira, para a miserabilidade humana, vemos aí uma expressão da espiritualidade. As experiências humanas com o que é sagrado envolvem escolha, disciplina e prática, e levam o ser humano às experiências religiosas, porque a religião traduz o que é sagrado para a vida do fiel. Dessa forma, a espiritualidade tenderá sempre a ser traduzida em religiosidade.

A diversidade religiosa brasileira é resultado de que fatores?

Jorge Pinheiro – Em relação à realidade brasileira percebemos mais diversidade confessional do que religiosa. Oitenta e nove por cento dos brasileiros confessam ser cristãos, cuja fé está presente no desejo de justiça e solidariedade. Diante dessa religiosidade cristã invisível, podemos dizer que quase todos os brasileiros são cristãos em alguma medida. Tomemos, como exemplo, a igreja católica, que não pode ser analisada como una, pois abriga diferentes manifestações de religiosidade. Além dessa pluralidade católica, há centenas de igrejas evangélicas que incluem as históricas, as pentecostais, as neopentecostais e as importações mais recentes, produtos da globalização.

A religião é um fator de agregação ou desagregação social?

Jorge Pinheiro – Pode ser uma coisa ou outra. Talvez seja melhor trabalharmos com um exemplo: a posição de setores da igreja evangélica durante os anos da ditadura militar no Brasil. Algumas igrejas apoiaram o governo militar, e tivemos até casos de torturadores evangélicos, membros de igrejas importantes. Assim, a religião desagrega quando usufrui das benesses do Estado e se torna correia de transmissão da corrupção e da violência, real ou simbólica. A religião agrega quando defende a vida humana. Com isso, constatamos que pode ser uma coisa ou outra.

Essa é uma triste marca em nossa história.

Jorge Pinheiro – Sim. É claro que seria um erro uniformizar a atuação dos evangélicos nesse período, até porque muitos deles também foram torturados. Mas o certo é que muitos evangélicos, cooptados pelo regime, foram cúmplices de torturas e mortes. 

Em que a fé cristã ajudou a melhorar o mundo?

Jorge Pinheiro – Para entendermos o papel do cristianismo, é necessário, antes, compreender que o Deus cristão é um Deus do tempo e da história. Isso significa, que é o Deus que atua na história visando uma meta final. Com o cristianismo e sua mensagem, o círculo trágico da sucessão dos deuses do politeísmo, com poderes ilimitados e injustos sobre os povos, foi superado. Cristo salva o universo, essa é a mensagem cristã em sua essência. Ou seja, a plenitude da história se correlaciona ao reinar universal de Deus, reinado da justiça e da paz.

Qual será o papel da religião no futuro?

Jorge Pinheiro – A religião sempre teve e continuará a ter um papel político: a defesa da justiça. As pessoas compreendem a necessidade da justiça e a política, com base no poder, cumpre uma função legítima quando serve às reivindicações da justiça. Às vezes, infelizmente, as religiões se perdem, caem na espiritualidade negativa, ao negarem a diferença, e se tornam instrumentos da discriminação. Não estamos isentos disso. Ao contrário, presenciamos esse tipo de postura no fundamentalismo religioso. Mas, o diálogo entre as religiões, para cumprir um papel positivo, deve se apoiar na busca incondicional da justiça.

Como o senhor vê a relação dos Estados com a religião?

Jorge Pinheiro – Para entendermos esta questão, vale a pena nos reportarmos a uma entrevista do filósofo Hans Georg Gadamer, concedida em 1999, às vésperas de completar cem anos de idade. Na ocasião, ele disse que “o respeito pelas outras religiões é um bem que pode nos salvar da catástrofe, mas o caminho para a salvação tem inimigos dentro e fora da Igreja”. Em outras palavras, estava a dizer que, devido ao fato de muitos países possuírem tecnologias capazes de destruir a vida sobre o planeta, o diálogo franco entre as religiões é indispensável. Ainda segundo o filósofo luterano, o problema consiste nas confissões religiosas que são muito diferentes, tornando difícil encontrar uma linguagem comum. Até para os diferentes ramos do cristianismo é difícil o entendimento.

Qual seria, então, a alternativa para que os governos possam buscar paz para essas zonas de conflitos?

Jorge Pinheiro – Talvez devessem partir daquilo que todas as culturas e religiões têm em comum. E, segundo Gadamer, esse tema unificador está relacionado aos direitos humanos. Neste sentido, a questão não é tanto a discussão sobre a possibilidade de manutenção de Estados laicos, mas a construção de um diálogo interreligioso que possibilite a construção da paz mundial. E isso só será possível quando os líderes religiosos de diferentes credos e pontos de vista não impedirem a construção de princípios comuns de defesa da vida humana.

A igreja cristã está preparada para lidar com este quadro de pluralismo?

Jorge Pinheiro – Não é possível falar de pluralismo religioso sem falar de poder, fica uma questão: amor e poder são compatíveis? As igrejas, como qualquer outra ordem social instituída, têm uma existência objetiva que remete à prática do serviço ao próximo. Para isso, não podemos deixar que as igrejas (confissões e denominações) se tornem totalitárias, ou seja, mesmo como Igreja de Cristo não podemos negar os limites de nosso poder. E esse limite é o amor. Dessa forma, poderemos conviver pacificamente com as outras religiões e seguir o caminho da justiça.

Qual é o papel da apologética neste contexto religioso?

Jorge Pinheiro – Karl Barth negava a necessidade da apologética. Dizia que Deus não tem necessidade de que o defendam. Já Tillich entendia a teologia como apologética. Concordo com Tillich, mas defendo uma apologética do amor. Entendo que a apologética só tem sentido se antes houver testemunho. Por isso, quando falo de apologética do amor estou resgatando Karl Barth, que só entendia vida cristã na plenitude do Espírito. Aí está a chave da questão: sem plenitude do Espírito não há vida cristã, nem testemunho, e, logicamente, a apologética que sair daí não terá amor. Antes, será uma arma de guerra: conduzirá à violência.

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India, Brazil and South Africa express their strongest condemnation of the ongoing violence between Israel and Palestine, that threatens the peace and security of the region. The IBSA countries deeply regret the loss of human lives and express their concern over the disproportionate and excessive use of force.

They urge the parties to immediately cease all violence, to exercise maximum restraint and to avoid taking any action that may further exacerbate the situation. They stress their expectation that the United Nations Security Council will do its utmost in the fulfillment of its responsibilities in regard to this serious situation.

They also stress the urgent need for to lift the blockade on Gaza which continues to worsen the already dire socio-economic and humanitarian situation in Gaza.

The IBSA countries express their strong support to the mediation efforts of the Government of Egypt, the League of Arab States and the UN Secretary-General aimed at achieving a negotiated ceasefire.

The IBSA countries believe that only diplomacy and dialogue will lead to the resolution of the current crisis, which makes it even more urgent to resume direct talks between Israel and Palestine, leading to a comprehensive solution to the Palestinian Question i.e. the achievement of a two-state solution.

In view of the upcoming UN General Assembly discussion on the Question of Palestine, India, Brazil and South Africa express their support for Palestine's request to be accorded Observer State status in the United Nations system.