mardi 5 décembre 2023

A morte do justo e a festa da luz

A morte do justo

Livro de Sabedoria, capítulo 2, versículos 10-24

Tiranizemos o justo na sua pobreza, não poupemos a viúva, e não tenhamos consideração com os cabelos brancos do ancião! Que a nossa força seja o critério do direito, porque o fraco, em verdade, não serve para nada. Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas ideias; basta sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai. Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência. Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir. Eis o o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os cega: eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não acreditam na glorificação das almas puras. Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão.

A festa da luz

O povo que andava na escuridão viu uma forte luz: a luz brilhou sobre os que viviam nas trevas. (Isaías 9.2).

É comum todos os anos ouvirmos estas palavras do profeta Isaías, nas comemorações do nascimento de Jesus. E a cada ano, elas têm um novo sabor e fazem reviver o clima de alegria e caminhada, que é típico do nascimento.

Ao povo atribulado e oprimido, que andava em trevas políticas e sociais porque estava sob o jugo do Império romano, apareceu uma luz forte. Sim, esta luz forte, irradiada da humildade de uma criança nascida numa vila sem importância – Beitlehem, em hebraico, A Casa do Pão, em português -- é a luz do sentido pleno da vida. Se a primeira luz foi a do Big Bang, conforme nos conta o livro das Origens (1. 3), mais brilhante é a luz que traz o sentido da vida àquele que reconhece sua miserabilidade e clama por revolução!

O nascimento é a festa da luz da eternidade entre nós. Na criança d`A Casa do Pão, a luz primeira volta a resplandecer no firmamento da humanidade para dissipar as nuvens da alienação. O brilho do triunfo do que é necessário e perene aparece no horizonte da história para propor um caminho novo, a marcha da construção de um novo mundo de alegria, justiça e paz!

A travessia noturna

Tu, ó Eterno, aumentaste esse povo e lhe deste muita felicidade. Eles se alegram pelo que tens feito, como se alegram os que fazem as colheitas ou como os que repartem as riquezas tomadas na guerra. (Isaías 9.3).

O anúncio vale também para nós, homens e mulheres do terceiro milênio. A comunidade reúne-se em louvores para escutar a boa nova do nascimento de uma criança. Em meio ao terror do Império presente nas vidas, do deserto noturno, o nascimento é noite de memória.

Após longa espera, irrompe o esplendor do dia novo. Nasceu a criança, a eternidade conosco! Nasceu aquela que foi anunciada pelos profetas e invocada pelos que andavam nas trevas. Na escuridão e silêncio da vida clandestina, a luz faz-se mensagem de novo caminho.

Mas não contrasta esta certeza do novo caminhar com a realidade histórica em que vivemos? Diante dos fatos que ouvimos, esta palavra de um novo caminho parece sonho. Mas é nisso mesmo que se encerra o desafio do caminho, tornando este anúncio simultaneamente consolador e exigente. O caminhar novo nos envolve na exigência solidária do que é necessário e perene e ao mesmo tempo nos leva a apoiar o diferente e o igual, sempre gente como nós.

A força da solidariedade

Deus revelou a sua graça para dar salvação a todos. (Tito 2, 11).

Nesta memória do nascimento, nossos corações estão inquietos e preocupados com a persistência, em diversas regiões do mundo, da guerra das penosas carências, das tensões sociais. Procuramos uma resposta que nos mobilize.

O texto da carta de Paulo a Tito recorda-nos que o nascimento da criança traz a liberdade aos extremos da terra e aos momentos da história. Para todo homem e mulher nasce a criança que tem os títulos de conselheiro, forte, eterno, príncipe da paz. (Isaías 9.6). Ela traz a resposta que necessitamos, que desfaz temores e dá coragem para a ação do caminhar em direção ao novo aparentemente impossível.

Nesta noite de memória torna-se mais firme a confiança na força redentora da palavra que se fez carne e habitou entre nós. Quando as trevas parecem prevalecer, a criança nos diz para não ter medo! Ela derrota o poderio do mal, liberta da escravidão da morte e nos convida ao banquete da vida.

Sou chamado a me mobilizar em força solidária, assumir a parceria pelo mundo novo. Sou chamado a vencer o mistério da iniquidade, ser testemunha de solidariedade e construtor da paz. Vamos, a partir da memória, aos campos d`A Casa do Pão para encontrar a criança, mas também para com ela encontrar outras gentes, irmãos e irmãs feridas no corpo e oprimidas no espírito. A festa da luz é travessia noturna em direção ao sentido pleno da vida!