Presença feminina veio para ficar
O perfil da
indústria e dos trabalhadores no ABCD e nas cidades irmãs paulistas mudou. Em
parte, essas alterações se deram a partir das reformas implementadas pelos
governos petistas tanto nas áreas econômicas e sociais, como diretamente nas
áreas trabalhistas e sindicais. A região, que conta com 259,7 mil trabalhadores
nos diferentes setores da indústrias, teve um papel marcado na história do
desenvolvimento de São Paulo e é fonte de identidade do trabalhador que
desponta neste início de século nos pólos industriais.
As
primeiras indústrias foram instaladas na região na década de 1930. Crises
econômicas, mudanças de governo, moeda, alterações no sistema produtivo e nas
relações trabalhistas e avanços tecnológicos contribuíram para uma mudança no
perfil da classe operária.
“Atualmente,
as fábricas são organizadas em produção em série, baseadas no modelo toyotista.
Antigamente, você tinha mais pessoas trabalhando, porque precisava de um
contingente maior. Hoje, também com as tecnologias e as privatizações, o número
de trabalhadores diminuiu”, explicou Zeíra Camargo de Santana da subseção
do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos --
DIEESE do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
De acordo com
Santana, a classe operária na região era muito forte no período anterior a
1989, antes da abertura econômica, quando dos 602 mil empregos formais do ABC,
363 mil eram da indústria de transformação, representando 60% dos
empregados.
A crise durante
o governo Collor, de 1989 a 1992, a alta inflacionária, também contribuiu para
a queda do número de trabalhadores. “Em três anos, eram 113 mil
trabalhadores com carteira assinada a menos, só aqui no ABC. Destes, 107 mil
foram na indústria. Em 1999, estávamos com 188 mil empregos. O número caiu
praticamente pela metade”, falou.
Hoje, a região
possui 259,7 mil trabalhadores na indústria, segundo o próprio Dieese.
É melhor ser
sábio do que ser forte. O conhecimento é mais importante do que a
força. E essa afirmação presente nas Escrituras judaicas (Provérbios
24.5) se transformou em realidade no ABCD.
Entre os altos
e baixos no número de empregos na indústria, o perfil dos profissionais que
atuam na área também foi alterado. Entre a década de 1960, quando as fábricas
se firmaram no ABC, e hoje, os trabalhadores deixaram de representar as camadas
mais baixas da sociedade.
Um exemplo
disso foi a melhora na formação profissional dos metalúrgicos do ABC. Dados
divulgados pelo sindicato da categoria mostram que, em 1994, a classe era
representada por 48% dos trabalhadores com ensino fundamental incompleto. Em
2009, a escolaridade melhorou, apenas 8% detinham o ensino fundamental
incompleto, 42% tinham ensino médio concluído e 20% apresentavam ensino
superior completo.
Um estudo
divulgado em 2010 pela Subseção Dieese mostra que o salário para quem trabalha
na indústria tem um valor médio de R$ 2.500. A classe metalúrgica ganha cerca
de R$ 3.500. O menor salário na região é o do setor de comércio, em média R$
1.120. Nas metalúrgicas, a faixa etária acima de 40 anos representa 38,6% do
total. Os jovens, até 24 anos, são apenas 14%.
A mulher
trabalhadora é corajosa e enfrenta os desafios com energia. É isso que diz
o livro de Provérbios no capítulo 31, a partir do verso 10. E ela faz
parte do novo perfil da classe trabalhadora.
E as mulheres
já são 20% dos trabalhadores da indústria, tendo conquistado definitivamente
seu espaço no setor industrial. Em 2000, havia 10 mil mulheres só na classe
metalúrgica. Em 2009, o número aumentou para 13,7 mil. Elas ficaram mais jovens
e instruídas, chegando a superar os homens em nível de escolaridade. Ainda
ganham um salário menor, mas no ABCD são melhor remuneradas do que outras da
categoria, comparadas ao Estado de São Paulo e ao Brasil.
Para Cleide
Tameirão, coordenadora do coletivo das mulheres da CUT ABC e diretora do
Sindicato dos Rodoviários do ABC, esse destaque das mulheres pode ser o
resultado da vontade de construir uma sociedade mais igualitária.
“A nossa
luta é justamente essa, salário igual para trabalho igual. Mas ainda é um
trabalho de formiguinha. A gente busca muito uma política afirmativa,
promovendo ações, discussões. Em toda oportunidade, nós levantamos essa
bandeira pela igualdade”, disse.
Ainda segundo a
coordenadora, a diferença de salário, entre homens e mulheres, depende do
setor.
“No
transporte, por exemplo, onde é a minha base de sustentação, não tem essa
diferença. O salário é o mesmo para homens e mulheres. Mas em outros ramos existe
uma grande desigualdade. Quanto à questão educacional, as mulheres estão na
frente”.
Segundo dados
do Dieese, 59,2% das mulheres possuem ensino superior completo nas montadoras
de São Bernardo, enquanto os homens 20%. Nas empresas de base, com exceção das
montadoras, o nível de instrução é semelhante para ambos. Entre 1994 e 2002, o
saldo de empregos para mulheres metalúrgicas foi negativo, quase cinco mil
demissões. Mas, entre 2002 e 2009, foram criados 3,1 mil novos postos de
trabalho, um ganho de até 11 milhões na economia.
E a expectativa
pelo crescimento do espaço da mulher no mercado repousa agora sobre colo
feminino.
“A entrada
de uma presidente mulher no governo foi uma alavancada para a sociedade. Isso
vai nos ajudar muito, na valorização, na autoconfiança. Eu acredito que a
presidente Dilma Rousseff vá fazer grandes políticas voltadas para mulheres”,
afirmou Santana.
Fonte
Texto a partir
de reportagem de Amanda Sequin para o Rudge Ramos Jornal (29 abril 2011), que
contou com a colaboração de alunos do curso de Jornalismo da Universidade
Metodista de São Paulo.