mercredi 15 février 2012

Perfil do trabalhador do ABCD paulista

Presença feminina veio para ficar

O perfil da indústria e dos trabalhadores no ABCD e nas cidades irmãs paulistas mudou. Em parte, essas alterações se deram a partir das reformas implementadas pelos governos petistas tanto nas áreas econômicas e sociais, como diretamente nas áreas trabalhistas e sindicais. A região, que conta com 259,7 mil trabalhadores nos diferentes setores da indústrias, teve um papel marcado na história do desenvolvimento de São Paulo e é fonte de identidade do trabalhador que desponta neste início de século nos pólos industriais.

As primeiras indústrias foram instaladas na região na década de 1930. Crises econômicas, mudanças de governo, moeda, alterações no sistema produtivo e nas relações trabalhistas e avanços tecnológicos contribuíram para uma mudança no perfil da classe operária. 

Atualmente, as fábricas são organizadas em produção em série, baseadas no modelo toyotista. Antigamente, você tinha mais pessoas trabalhando, porque precisava de um contingente maior. Hoje, também com as tecnologias e as privatizações, o número de trabalhadores diminuiu”, explicou Zeíra Camargo de Santana da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos -- DIEESE do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

De acordo com Santana, a classe operária na região era muito forte no período anterior a 1989, antes da abertura econômica, quando dos 602 mil empregos formais do ABC, 363 mil eram da indústria de transformação, representando 60% dos empregados. 

A crise durante o governo Collor, de 1989 a 1992, a alta inflacionária, também contribuiu para a queda do número de trabalhadores. “Em três anos, eram 113 mil trabalhadores com carteira assinada a menos, só aqui no ABC. Destes, 107 mil foram na indústria. Em 1999, estávamos com 188 mil empregos. O número caiu praticamente pela metade”, falou. 

Hoje, a região possui 259,7 mil trabalhadores na indústria, segundo o próprio Dieese.

É melhor ser sábio do que ser forte. O conhecimento é mais importante do que a força. E essa afirmação presente nas Escrituras judaicas (Provérbios 24.5) se transformou em realidade no ABCD.

Entre os altos e baixos no número de empregos na indústria, o perfil dos profissionais que atuam na área também foi alterado. Entre a década de 1960, quando as fábricas se firmaram no ABC, e hoje, os trabalhadores deixaram de representar as camadas mais baixas da sociedade. 

Um exemplo disso foi a melhora na formação profissional dos metalúrgicos do ABC. Dados divulgados pelo sindicato da categoria mostram que, em 1994, a classe era representada por 48% dos trabalhadores com ensino fundamental incompleto. Em 2009, a escolaridade melhorou, apenas 8% detinham o ensino fundamental incompleto, 42% tinham ensino médio concluído e 20% apresentavam ensino superior completo. 

Um estudo divulgado em 2010 pela Subseção Dieese mostra que o salário para quem trabalha na indústria tem um valor médio de R$ 2.500. A classe metalúrgica ganha cerca de R$ 3.500. O menor salário na região é o do setor de comércio, em média R$ 1.120. Nas metalúrgicas, a faixa etária acima de 40 anos representa 38,6% do total. Os jovens, até 24 anos, são apenas 14%.

A mulher trabalhadora é corajosa e enfrenta os desafios com energia. É isso que diz o livro de Provérbios no capítulo 31, a partir do verso 10. E ela faz parte do novo perfil da classe trabalhadora.

E as mulheres já são 20% dos trabalhadores da indústria, tendo conquistado definitivamente seu espaço no setor industrial. Em 2000, havia 10 mil mulheres só na classe metalúrgica. Em 2009, o número aumentou para 13,7 mil. Elas ficaram mais jovens e instruídas, chegando a superar os homens em nível de escolaridade. Ainda ganham um salário menor, mas no ABCD são melhor remuneradas do que outras da categoria, comparadas ao Estado de São Paulo e ao Brasil.

Para Cleide Tameirão, coordenadora do coletivo das mulheres da CUT ABC e diretora do Sindicato dos Rodoviários do ABC, esse destaque das mulheres pode ser o resultado da vontade de construir uma sociedade mais igualitária. 

A nossa luta é justamente essa, salário igual para trabalho igual. Mas ainda é um trabalho de formiguinha. A gente busca muito uma política afirmativa, promovendo ações, discussões. Em toda oportunidade, nós levantamos essa bandeira pela igualdade”, disse.

Ainda segundo a coordenadora, a diferença de salário, entre homens e mulheres, depende do setor. 

No transporte, por exemplo, onde é a minha base de sustentação, não tem essa diferença. O salário é o mesmo para homens e mulheres. Mas em outros ramos existe uma grande desigualdade. Quanto à questão educacional, as mulheres estão na frente”. 

Segundo dados do Dieese, 59,2% das mulheres possuem ensino superior completo nas montadoras de São Bernardo, enquanto os homens 20%. Nas empresas de base, com exceção das montadoras, o nível de instrução é semelhante para ambos. Entre 1994 e 2002, o saldo de empregos para mulheres metalúrgicas foi negativo, quase cinco mil demissões. Mas, entre 2002 e 2009, foram criados 3,1 mil novos postos de trabalho, um ganho de até 11 milhões na economia. 

E a expectativa pelo crescimento do espaço da mulher no mercado repousa agora sobre colo feminino.

A entrada de uma presidente mulher no governo foi uma alavancada para a sociedade. Isso vai nos ajudar muito, na valorização, na autoconfiança. Eu acredito que a presidente Dilma Rousseff vá fazer grandes políticas voltadas para mulheres”, afirmou Santana. 

Fonte
Texto a partir de reportagem de Amanda Sequin para o Rudge Ramos Jornal (29 abril 2011), que contou com a colaboração de alunos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.