dimanche 17 juin 2018

A fé do caminhante


Existe um fio condutor entre a história do povo de Israel e a tradição nascida com o rabino de Nazaré, que é a idéia de libertação. Na origem da história do povo de Israel, Adonai se revela a Abraão, faz com ele uma aliança, prometendo abençoá-lo, multiplicar a sua descendência e dar-lhe uma terra.

Em Abraão vão entroncar-se as grandes religiões monoteístas, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Os judeus alimentaram ao longo de séculos a esperança na vinda de um messias. E mantêm ainda hoje como referência da sua história, a libertação da escravidão do Egito. Na noite da passagem do anjo exterminador, que matou todos os primogênitos egípcios, incluindo o filho do Faraó, e o início de uma caminhada de quarenta anos em direção à terra de Canaã, realizaram uma ceia especial, a Páscoa. Nesse jantar foi servido cordeiro assado, ervas amargas e vinho, simbolizando os sofrimentos passados e a alegria futura, a esperança da liberdade. Atualmente, a Páscoa judaica, chamada Pessach, é uma festa que se estende do 15 ao 21 de Nissan (março-abril). Dura sete dias em Israel e oito na diáspora para evitar qualquer erro de calendário. É a festa da Páscoa e também a festa da primavera.

Já os muçulmanos não celebram a Páscoa, mas virados para Meca, seguindo a tradição do Antigo Testamento oferecem a Alá, animais em sacrifício por seus pecados e imploram as bênçãos de Alá. É a grande festa, a festa do sacrifício, que se celebra setenta dias após a ruptura do jejum do mês de Ramadã. Ela tem lugar no décimo dia do décimo-segundo mês do ano. Ela se desenvolve em união com os peregrinos de Meca. É a maior festa religiosa do Islamismo.

Yeshua vem na continuidade da história de Israel, dando origem a uma outra aliança, feita com todos os povos da terra. Nessa história, a celebração da Páscoa judaica, na quinta-feira, foi o clímax de vida terrena de Yeshua. No fim desse jantar com os discípulos, conta o Evangelho que Yeshua tomou do pão e do vinho, abençoou-os, fazendo deles, memorial de sua oferta vicária pelos homens, antecipando a entrega que se daria dali a horas no alto do calvário. A ceia da Páscoa dá origem a uma nova aliança, que é marcada pelo tríduo pascal da morte, sepultamento e ressurreição de Yeshua.

Dentro da tradição católica, a Páscoa é precedida de quarenta dias de preparação conhecidos por Quaresma e que começam na Quarta-feira de cinzas. A semana anterior à festa é chamada de Semana Santa. A Páscoa é a festa maior do cristianismo e centro de toda a sua fé. Na Semana Santa se celebram o Domingo de Ramos, a Quinta-feira Santa ou Festa da Eucaristia ou Lava-pés , a Sexta-feira Santa, ou dia da morte de Yeshua, quando se faz a Via- sacra, e na véspera da Páscoa, é celebrado o Sábado de Aleluia, também conhecido como Vigília Pascal. A data é móvel seguindo o calendário lunar e celebrada no primeiro Domingo depois da primeira lua cheia após o início do outono, no hemisfério Sul.

O rabino Shaul, escrevendo aos cristãos da Galácia, lembra que Yeshua libertou homens e mulheres para que vivam com dignidade, sem submeterem- se outra vez ao jugo da escravidão. Esse é o sentido da Páscoa, memorial de libertação, embora incompleto, pois se realiza a cada dia, enquanto construção humana consciente, quando lutamos contra o que escraviza e aliena.

Jorge Pinheiro, Kadish, vida, morte e reino, São Paulo, Fonte editorial, 2018, pp. 63-65.

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