A partir do Iluminismo, o desenvolvimento das ciências, assim como a autonomia
da filosofia em relação à teologia traduziu-se em desafio para o espírito
religioso. Mas o ponto decisivo de todo o desenvolvimento moderno foi o
reconhecimento de que uma estrutura viva não pode ser composta fora de suas
partes, mas cresce a partir de uma origem. O crescimento da oposição à
sociedade capitalista, nas primeiras décadas do século XX, levou às novas
interpretações da história. E essas leituras, que, entre outras coisas,
apresentaram a fé como desenvolvimento e a história como presença do eterno no
tempo, romperam o círculo até então fechado da compreensão da existência.
Leituras até
então inéditas, como a de que a tarefa imediata da arte não é esconder a
essência, mas expressar significado, levaram à reflexão do caráter espiritual
presente tanto na ciência, como na filosofia.
Em sua lógica
interna, de origem, a sociedade capitalista deveria ser uma antítese ao
princípio do nacionalismo. Mas esta sociedade carrega um paradoxo: a
organização das pessoas no interesse da eficiência econômica destrói a
estrutura orgânica das vocações e fomenta à divisão em classes. O que está em
choque com o ideal planetário da organização econômica, que confronta a
individualidade nacional e propõe a globalização não imperial das nações. Por
isso, as éticas dos movimentos anticapitalistas, que se expressam como
movimentos nacionalistas, permaneceram expectantes, inseguros, provisórios, e
sempre retornaram à moralidade capitalista.
O ideal de
humanidade, enquanto globalidade justa de direitos e possibilidades, não pode
ser abandonado, pois quando negado torna-se medida de ego-transcendência, que
nasce da realização das éticas auto-suficientes de finitude. E tal fenômeno de
negação da globalidade justa de direitos e possibilidades leva ao misticismo em
suas mais variadas facetas: a busca da razão da existência na manipulação de
astros, espíritos e magias. Misticismos estes que rompem a compreensão da
existência como construção que nasce da dialética entre imanência e
transcendência. Para o espírito de finitude auto-suficiente não há de fato
transcendência, mas maneiras de manipular astros, espíritos e forças a fim de
obter este ou aquele resultado. Estes são, em última instância, meios e fins da
real catástrofe de toda a finitude que se faz suficiente.
Cresceu no século XX a crença expressa nas profecias do fim dos tempos. Estas, subjetivamente, traduziram a compreensão que a auto-suficiência da finitude tinha um tempo limite, estava cronometrada existencialmente, pois não expressava a relação essencial entre tempo e eternidade. Era uma leitura capenga da realidade, pois partiu e permaneceu mergulhada no misticismo.
Por isso, entendemos que em toda esfera das ciências naturais diante de dogmas e rituais há um torneamento que procura distanciar-se do espírito de finitude auto-suficiente, do espírito da sociedade capitalista. Porém esta procura de distanciamento capitulou diante das aberrações, dificuldades e reações da sociedade capitalista e gerou novas convicções, aparentemente realistas, mas de fato alienadas, e nesse sentido também místicas, separadas do espírito científico e crítico. Esta é a realidade do tempo presente.