jeudi 10 mai 2012

A saga de José Manoel da Conceição


Prof. Dr. Jorge Pinheiro dos Santos
Faculdade Teológica Batista de São Paulo
Eixo Temático: História
Categoria: Mesa redonda
“Se a historiografia brasileira relega o protestantismo a segundo plano, ou mesmo o ignora, a literatura mundial é plena de clássicos trabalhos sobre o protestantismo e sua grande e decisiva influência na construção do chamado mundo moderno. De fato, a Reforma do século XVI rompeu definitivamente com toda a estrutura do mundo medieval e liberou o homem para pensar e fazer. Os grandes princípios do livre exame, da salvação pela fé, do sacerdócio universal, do direito de rebelião, da democracia na igreja local e da legitimidade dos juros e do lucro foram para sempre consagrados como conquistas dos tempos modernos. A ética protestante do manejo racional do dinheiro e o desempenho no trabalho perpassa a história moderna, seja de maneira positiva ou negativa. Autores importantes têm responsabilizado o protestantismo pelos males do capitalismo, assim como outros reconhecem sua decisiva contribuição para a liberdade e a livre iniciativa, coisas que, apesar de tudo, trouxeram o homem para um posto de dignidade no mundo em contraposição à inexorabilidade do destino social a que estava relegado no mundo antigo. Neste ponto, tenho a impressão de que o nosso protestantismo no Brasil não se inteirou do que representam os princípios que a Reforma nos legou a partir do século XIX, embora alguns deles, mesmo de maneira inconsciente, tenham exercido alguma influência na modernização do Brasil”. Antonio Gouvea Mendonça, Protestantismo no Brasil, Apontamentos sobre sua contribuição para a cultura brasileira, ABIEE -- I Encontro para historiadores 2004, Piracicaba, São Paulo.

“José Manuel da Conceição (1822-1873) foi um ex-sacerdote católico que ingressou na Igreja Presbiteriana do Brasil. Primeiro brasileiro ordenado ao ministério evangélico, foi convertido a fé reformada pela influência dos missionários norte-americanos do presbiterianismo do Brasil. Dedicou-se ao trabalho de evangelista itinerante no interior da então província de São Paulo, visitando as suas antigas paróquias onde o zelo pelo ensino da Bíblia lhe rendeu o apelido de "padre protestante". Conceição encontrou nesses lugares o ambiente preparado para a formação de comunidades evangélicas. Exerceu seu ministério junto ao povo expondo o evangelho sem ferir sentimentos religiosos tradicionais”. Segundo a enciclopédia online Wikipedia.

O APÓSTOLO DO PROTESTANTISMO

Ele ficou só. Quase como toda a sua vida. Só. Incompreendido, mobilizado por idéias para muitos, talvez para a maioria, tresloucadas. Ideias de Deus na cabeça. É possível que aquele verso, tão batido, tão marcado em suas memórias, tivesse naquele momento voltado mais uma vez, tomado corpo na sua carne magra e mais envelhecida do que o tempo vivido. Os que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto como águias, correm e não se ficam exaustos, andam e não se cansam. Pelas andanças Brasil a dentro ele viu e amou ver o gavião, piar forte e sobrevoar o céu azul. Conheceu esse predador temido pelos outros pássaros. E quem já acompanhou a sua morte? Ele se aninha longe, lá em cima, naquelas montanhas da Mantiqueira e a gente não sabe, nem vê. Esse velho, de 59 anos, estava a morrer, sem eira nem beira, em casa emprestada no meio do caminho. Dormiu, e em meio aos sonhos do Senhor, deixou as trilhas da vida, os caminhos da peregrinação. Exalou o suspiro derradeiro e deixou para nós, quase cento e setenta anos depois, lições de protestantismo.

Esse homem foi batizado José Manoel, paulista, e nasceu numa época conturbada. Na verdade alguns meses antes dos brasileiros, liderados por um nobre português, declararem a indep0endência da terra. O ano era 1822. O garoto morou em Sorocaba e foi educado por um padre, José Francisco de Mendonça que, na verdade, era seu tio. Educação boa aquela, cheia de latim e classicidades. Coisa para nenhuma família rica colocar defeito, mas que em relação à família de José Manoel não era o caso.

Bem, com um tio como padre e uma educação dessas, foi praticamente natural a escolha que fez. Foi para o seminário de Sorocaba. E aí fez amizade com alguns estrangeiros, ingleses e alemães. A Inglaterra nessa época era a rainha dos mares e modelo para os países do mundo. A jovem nação, recém saída da independência, além das boas relações diplomáticas e comerciais, procurava copiar os modos e costumes ingleses, mas esbarrava naquele protestantismo anglicano, que ninguém entendia bem o que era, mas que não caia bem frente ao catolicismo professado por essas bandas. De todas as maneiras, os reformados alemães e ingleses entregaram ao jovem um costume, ler o livro preto. E o próprio José Manoel conta:

"Eu ia com frequência a uma fundição de ferro em Ipanema (em Sorocaba, na minha região) onde visitava a família Godwin, cujo pai, Mr. Godwin, era superintendente da casa de máquinas. Eu me comovia profundamente ao observar o completo silêncio que lá reinava aos domingos. Era uma família inglesa. Mais tarde, quando eu fui admitido na comunidade, eu vi a totalidade das famílias a ler a Bíblia e livros devocionais. Mais tarde eu visitei quase todas as famílias alemãs e em todas eu encontrei o mesmo quadro de devoção e religião. Comecei a pensar: quem sabe se estes estrangeiros têm tanta religião como nós, os brasileiros? Seria a religião deles igual à nossa? Ainda, quem sabe se eles são mais religiosos que nós porque são mais civilizados do que nós?" [1]

E foi ordenado padre em 1845. Imaginem que padre sofisticado: falava latim, o que poderia ser considerado natural, mas também inglês, francês e alemão, lia a Bíblia e achava que as obras meritórias não garantiam o céu a ninguém. Logicamente, o apelido veio rápido: padre protestante. Tinha vinte e dois anos. Exerceu seu sacerdócio até 1864 nas cidades de Monte Mor, Piracicaba, Santa Bárbara, Taubaté, Sorocaba, Limeira, Ubatuba e Brotas. Amado por suas ovelhas, pelo jeitão simples de homem do interior, mas também por sua verve profética, por seus sermões teológicos, ficou conhecido por esse interiorzão paulista. Seus superiores também gostavam dele, afinal era um homem profundamente sincero, porém guardavam dúvidas. Esse era um tempo novo para a terra de centenária presença católica. Agora, chegavam aqui as novidades protestantes, gente que adorava sem imagens, que não reconhecia a autoridade papal e que se deixassem traria para cá os ventos novos da rebeldia protestante. Por isso, os superiores do padre José Manoel tomaram algumas medidas, evitaram que se estabelecesse numa paróquia, para que esta não se tornasse quartel-general de ideias estapafúrdias. Virou padre andarilho, a visitar e ministrar nas paróquias no interior da Província de São Paulo. E assim foi por quinze anos.

Esse tempo foi muito importante para José Manoel. Serviu para ele conhecer a alma brasileira, tão dócil, obediente e supersticiosa nas coisas da fé. Serviu para conhecer a sua igreja, tão hierarquizada, tão metida na política e tão distante das necessidades reais do seu povo. E serviu, muito mais ainda, para ele pensar a sua condição de humano condenado à perdição eterna. Miserável homem que sou! Ah! Como doía na alma de José Manoel a sua condição de pecador!

As conversas com os estrangeiros, a leitura da Bíblia e de literatura protestante, entre as quais a tradução alemã da História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, publicada pela Laemmert, editora protestante do Rio de Janeiro, foram formatando uma consciência reformada naquele padre. E isso começou a ficar translúcido no seu sacerdócio. Aconselhava seus fiéis a lerem a Bíblia e quando noivas o procuravam para confessar-se antes do casamento, o padre protestante dizia: "Eu e você precisamos nos confessar a Deus e não aos homens".

Desejava que suas paróquias estivessem comprometidas com a fé, queria melhorar as condições de vida religiosa de suas ovelhas. Mas ele próprio atravessava um momento de profunda crise espiritual. As questões da salvação e do valor meritório das obras fizeram com que trilhasse um caminho semelhante ao de Lutero, quando condenou as indulgências por proporcionarem uma paz falsa. Lutero disse que a Igreja e seu sistema de comutação negavam a graça de Jesus. José Manoel conhecia as ideias do monge alemão, mas será que ele estava certo, mesmo? Não podia, sob tal pressão e dúvidas, continuar a exercer seu ministério. Quis abandoná-lo, mas seus superiores apresentaram uma proposta mais suave, dispensá-lo temporariamente de suas funções sacerdotais.

E, assim, foi viver em uma casinha do interior, perto de Rio Claro. Foi então que a ação missionária o alcançou. O pastor Blackford, conhecedor da fama do padre protestante, resolveu visitá-lo. Não foram necessárias grandes e profundas discussões, José Manoel de alma contrita esperava um momento como esse.

“Acreditá-lo-eis? Quando embrenhado nas cavernas das rochas esperava morrer longe das visitas do Pastor Evangélico, ei-lo que de mansinho, cingindo em torno de sua fronte uma auréola de glória, que me consumia no fogo da confissão; ei-lo, trazendo no peito um coração de pomba, não se desprezando de se aproximar de mim, que mais parecia com uma fera que com este humano, toma-me pela mão, consola-me, cheio de uma amabilidade a mais nobre, e salva-me”.[2]

Foi batizado na Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, no dia 23 de outubro de 1864, e consagrado pastor em São Paulo, em novembro de 1865.

Se por um lado, José Manoel sabia que tinha tomado a decisão certa, abandonando os erros do catolicismo romano, depois de, por tanto tempo, ter pregado e espalhado pelos sete ventos essas doutrinas, a angústia continuava a macerar sua alma. De Deus não se zomba. Passou dias orando e meditando. O que fazer. Se é que podia fazer alguma coisa. E tão angustiado andava que nem recebia seus amigos missionários. Mas, enfim, sentiu a voz de Deus lhe falar. O sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado. Tranqüilidade de alma. Escreveu, então, uma profissão de fé evangélica, onde narrou suas lutas espirituais, num
estilo ardente, que hoje é um clássico da espiritualidade protestante brasileira.

E, assim, salvo pelo sacrifício vicário de Jesus, José Manoel lançou-se a maior de suas obras, apresentar às suas antigas ovelhas o Evangelho da graça. Iniciou seu ministério em Brotas, onde conquistou não apenas pessoas isoladas, mas famílias inteiras. Conhecido e respeitado, apesar dos apelidos na maioria das vezes ditos de forma carinhosa, falava de Jesus com tal fervor e doçura, que em Brotas, em apenas dois dias, levou ao batismo onze adultos e dezessete crianças. As famílias se convertiam, eram batizadas e participavam da celebração de ceia, no mesmo evento.

E assim, esse ex-padre, que de fato nunca abandonou totalmente sua catolicidade, passou a fazer viagens, aproveitando o conhecimento do interior paulista onde havia servido como padre. Em cada vila procurava explicar as razões da mudança em sua vida, os erros do catolicismo e a doutrina do protestantismo. Em sua última paróquia, Brotas, surgiu a que seria a maior igreja protestante no Brasil e que serviu para irradiar o presbiterianismo para outras regiões de São Paulo e Minas Gerais. Inicialmente, os primeiros seminaristas do presbiterianismo o acompanharam. Porém, após 1869, passou a realizar viagens solitárias. Em 1867, os missionários, vendo que enfrentava problemas emocionais e cansaço, fizeram com que viajasse para os Estados Unidos a fim de se tratar. Mas isso pouco adiantou. Ao voltar deu continuidade às suas viagens solitárias, que o distanciaram cada vez mais de seus colegas norte-americanos. Eles desejavam que José Manoel se sedentarizasse, assumisse uma igreja local, se estabelecesse como pastor presbiteriano. Mas o espírito de Paulo, o apóstolo, essa visão católica de falar ao mundo e as multidões, mesmo quando ia de casa em casa, o consumia. E a pastor-padre desaparecia por meses, se embrenhando por matas e mundos. Os missionários ficavam sem notícias de José Manoel e, não poucas vezes, mandaram pessoas à sua procura.

Teve sérias divergências com o projeto missionário dos norte-americanos. Intuitivo, mas conhecedor do jeito brasileiro de ser, sabia chegar ao povo e pregar um Evangelho contextualizado. Pautou seu trabalho pela itinerância, sem planejamento prévio. As divergências, na verdade, não eram apenas estratégicas, eram teológicas. Enquanto os missionários norte-americanos viam apenas idolatria e superstição na religiosidade brasileira, o José Manoel percebia os pontos positivos do catolicismo brasileiro. Mas do que construir uma nova religião. Começar do zero, desejava reformar o catolicismo. Não somente falando aos que estavam na base da pirâmide católica, mas a toda a Igreja. Nesse sentido, sonhou como Lutero e foi massacrado pelo sonho. Deixando para nós lições que até hoje não entendemos bem.

Esparsas notícias, uma situação permanente de quase fome durante as viagens, dormindo pelas beiras de estrada, e uma caridade franciscana, que o levava a dar o pouco dinheiro que ganhava às vezes como ofertas de antigas ovelhas eram doadas aos mais pobres ou, então, enviado para a missão. Uma muda de roupa gasta e suja, a comida frugal fez dele um pastor andarilho, magro, doente... Maltrapilho. Até preso foi, como indigente, até que sua identidade foi confirmada. Porém, não foi longe, desmaiou, foi socorrido por uma enfermaria militar do Campinho, próximo do Rio de Janeiro, onde morreu em 24 de dezembro de 1873.

Dados e números do seu ministério

Sua mensagem alcançou fazendeiros, líderes comunitários influentes, índios e escravos. E o deslocamento desses líderes para outras cidades levou o protestantismo a outras regiões do país.

Sua pregação itinerante começou em junho de 1866, na cidade de Ibiúna, e, a partir daí, fez cinco grandes viagens missionárias no período de um ano, no lombo de mulas ou a pé. Elas tiveram os seguintes itinerários:
·                 1ª viagem (03.03.1866 a 03.06.1866) – Ibiúna, Sorocaba, Brotas, Limeira, Campinas, Belém (Itatiba), Bragança, Atibaia e São Paulo.
·                 2ª viagem (04.06.1866 a início de outubro de 1866) – São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Pindamonhangaba, Aparecida, Guaratinguetá, Queluz, Rezende, Barra Mansa, Piraí, e retornou passando pelas mesmas cidades, uma a uma, até chegar a São Paulo.
·                 3ª viagem (final de outubro de 1866 a 16.12.1866) – Cotia, Ibiúna, Piedade, São Roque, Piracicaba, Porto Feliz, Itu, Brotas, Itaquari (Itirapina), Rio Claro, Limeira, Piracicaba, Capivari, Campinas Belém (Itatiba), Bragança, Atibaia, Santo Antônio da Cachoeira (Piracaia), Nazaré Paulista, Santa Isabel e São Paulo.
·                 4ª viagem (21.01.1867 a 07.02.1867) – Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba, voltando por Caçapava, São José, Jacareí, Taubaté e São Paulo
·                 5ª viagem (14.02.1867 a 02.04.1867) – Santa Izabel, Nazaré Paulista, Santo Antônio da Cachoeira (Piracaia), Bragança, Amparo, Mogi Mirim, Ouro Fino, Borda da Mata, Santa Ana do Sapucaí (Silvianópolis) e, por fim, voltando a São Paulo.
Durante essas jornadas se hospedava em casas de pessoas que se sentia abençoadas com sua presença. Chegou a se hospedar na casa do subdelegado em Ibiúna, discutiu com padres em Aparecida, foi ao Rio de Janeiro participar da consagração pastoral do missionário Chamberlain, em meio da sua segundo viagem.

Foi excomungado por apostasia em 2 de abril de 1867, um ano e cinco meses após sua ordenação pastoral. No dia 3 de maio de 1867 escreveu sua resposta à excomunhão, onde apresentou as incoerências entre o catolicismo e o protestantismo. Em seguida empreendeu viagem pelos arredores de São Paulo, tendo sido recebido por um padre, velho amigo quer ainda o amava.

No final de maio de 1867, apresentou no Rio de Janeiro um relatório onde destacou o poder da Palavra e do Espírito. Contou que crianças convertidas quebravam os ídolos de seus pais, pregavam a estes e até para os padres.

Nos Estados Unidos, onde ficou por um ano para descansar, fez conferências, produziu trabalhos literários, traduziu, fez revisão, e produziu uma versão portuguesa do Novo Testamento.

De volta ao Brasil em outubro de 1868, faz nova viagem passando por Angra dos Reis, Parati, Cunha, Lorena e chegando a São Paulo.

Sentindo-se abandonado, continuou suas viagens. Mais uma vez só. Passou, então, a dedicar-se aos mais humildes, levando instrução religiosa e caridade, apoio social, orientações de higiene, atuando com enfermeiro, ajudando em serviços domésticos.

Por mais quatro anos fez assim, vivendo humildemente. Morreu enquanto dormia, num catre emprestado pelo major Fausto de Souza, autor de sua primeira biografia, tamanho impacto que lhe causou o pequeno contato que teve com o apóstolo. O major, convertido, tornou-se médico, presidente da província de Santa Catarina e defensor do protestantismo pregado por José Manoel da Conceição.

Referências bibliográficas

Mathias, Luiz Guilherme Lochem, Ser protestante, sendo brasileiro, Uma leitura “tillihciana” da vida e dos escritos do pastor José Manoel da Conceição, dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2008.
Mendonça, Antonio Gouvea, Protestantismo no Brasil, Apontamentos sobre sua contribuição para a cultura brasileira, ABIEE -- I Encontro para historiadores, Piracicaba, São Paulo, 2004.
Ribeiro, Boanerges, O Padre Protestante, Casa Editora Presbiteriana, São Paulo, 1950.
Léonard, Émile-G., O Protestantismo Brasileiro: Estudo de Eclesiologia e História Social, ASTE, São Paulo, SP, 1963. Tradução do francês por Linneu de Camargo Schützer.
Souza, Major Fausto de Ex-Padre José Manuel da Conceição, Imprensa Evangélica, Fevereiro de 1884.

Jornal
O Puritano, Ano II, n.º 54, 14 de junho de 1900.
_______ , Ano II, nº 55, 21 de junho de 1900.
_______ , Ano II, no. 56, 28 de junho de 1900


[1] O Puritano, 14 de junho de 1900, p. 1 e seguintes.
[2] José Manoel da Conceição, Profissão de fé Evangélica, O Puritano, Ano III, no. 59, p. 2.

O plantador de Igreja

O que diferencia a Igreja de um museu 
Darrin Patrick

mercredi 9 mai 2012

Deus existe

Para discussão em sala de aula 
Apologética Cristã
(Recomendo, porém, a gregos e troianos)


vendredi 4 mai 2012

Ontologia e religião

Seminário em diálogo com o pensamento de Paul Tillich


Apresentação

A Associação Paul Tillich do Brasil e o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo têm o prazer de convidá-lo e convidá-la para o 18° Seminário em Diálogo com o pensamento de Paul Tillich.

Tema
Ontologia e religião
no pensamento contemporâneo em diálogo com Paul Tillich

Data: 16 a 18 de Maio de 2012

Local: Salão de Leitura- Ed. Gama

O evento é para todos os acadêmicos que se interessam em aprofundar o tema proposto. Todas as conferências serão seguidas de um debate. Haverá espaço para comunicações livres, que deverão tratar do tema do encontro e/ou do pensamento de Paul Tillich. A tradicional assembleia da Associação está convocada para o dia 17 de Maio às 17h00. Serão trocadas ideias sobre as atividades futuras.

Tema

Ontologia e religião
no pensamento contemporâneo em diálogo com Paul Tillich

Tillich insistiu sempre no caráter fundamental da ontologia para a filosofia e a teologia, na sua prioridade em relação com a epistemologia, como base da doutrina de Deus na Teologia Sistemática, como fundamento da análise religiosa da cultura e da ética. A ontologia de Tillich pode ser caracterizada como retomada idealista e existencial da ontologia clássica grega.

Pretendemos discutir a contribuição de Tillich à reflexão ontológica e os seus limites, em diálogo com alguns pensadores contemporâneos como Heidegger, Lévinas, Gadamer e Ricoeur.

Programa

Quarta-feira, 16 de Maio de 2010.
17h00 Abertura
17h15 a 18h45 Comunicações
20h00 Conferência e debate: Rui de Souza Josgrilberg (UMESP): Ontologia e religião em Paul Tillich e no pensamento contemporâneo.

Quinta-feira, 17 de maio.
8h30 Conferência e debate: Etienne Alfred Higuet (UMESP): Ontologia e teologia da cultura em Paul Tillich.
10h30 Conferência: Benedito Eliseu Cintra (São Camilo): Ontologia e religião em Emmanuel Lévinas.
14h00 Comunicações
17h00 Assembléia da Associação Paul Tillich do Brasil
19h30 Noite cultural

Sexta-feira, 18 de maio.
8h30 Conferência e debate: Marco Casanova (UERJ): Ontologia e religião em Martin Heidegger.
10h30 Mesa redonda: Eduardo Gross, Jonas Roos e Frederico Pieper (UFJF): Tillich em diálogo com Heidegger, Gadamer e Kierkegaard.
12h30 Encerramento.

Inscrição

A inscrição para participação e/ou apresentação de comunicações deve ser feita através do formulário no site: http://www.paultillich.com.br/inscricao

Quem pretende apresentar uma comunicação no evento deve efetuar sua inscrição até o dia 13 de Maio de 2012. Quem quiser apenas participar do evento pode se inscrever através do site até o dia 15 de Maio ou realizar a inscrição na abertura do encontro. Se houver dificuldades técnicas, solicita-se enviar inscrição para o e-mailcontato@paultillich.com.br

Taxa de inscrição: R$ 30,00 (depósito na conta do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião) ou na abertura do evento. Entregar o comprovante do depósito pessoalmente na chegada ao evento.

Banco do Brasil
Agência: 2897-5
Conta Corrente: 80952-7

Comunicação: O participante tem direito de apresentar uma comunicação científica no Seminário Paul Tillich que tenha relação com o tema do seminário e/ou sobre o pensamento de Paul Tillich. Pede-se o envio do resumo até o dia 13 de Maio. O tempo de apresentação no evento é de 20 minutos, com 10 minutos de discussão.

Para conseguir o certificado, pede-se a participação em pelo menos 50% do encontro.

Data e Local

O 18° Seminário em Diálogo com o pensamento de Paul Tillich: Ontologia e religião no pensamento contemporâneo em diálogo com Paul Tillich acontecerá entre os dias 16 e 18 de Maio de 2012, no Salão de Leitura da Faculdade de Teologia, no edifício Gama , Campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo – SP. Entrada pela Rua Planalto ou Alfeu Tavares.

Hospedagem

Estamos verificando as possibilidades de hospedagem na Casa do Estudante, a três quarteirões da Universidade Metodista, ou no campus da Universidade. Preço a confirmar. Reservar com antecedência, com Ana Maria Fonseca; tel. 11/4366-5809 begin_of_the_skype_highlighting            11/4366-5809      end_of_the_skype_highlighting; e.mail: ana.fonseca@metodista.br (vagas limitadas). É preciso trazer roupa de cama. Podem entrar em contato também pelo e.mail contato@paultillich.com.br.

Para as refeições, há diversos restaurantes e lanchonetes no centro de convivência da UMESP e nas proximidades.


mercredi 2 mai 2012

Encontro teológico

Brasilidades, Ecologia e Protestantismo
Prof. Dr. Jorge Pinheiro 
Prof. Ms. Elcio Sant´Anna

As brasilidades e o Reino de Deus
Prof. Dr. Jorge Pinheiro
Ecologia, Meio Ambiente e o Povo de Deus
Prof. Ms. Elcio Sant´Anna 
ABN
OPBB 
Igreja Batista do Fonseca -- Niterói

04/05/2012 (SEXTA-FEIRA), 
19:30h -  Prof. Dr. Jorge Pinheiro  
As brasilidades e o Reino de Deus
O diálogo entre o protestantismo e a Cultura Brasileira
* 19h30-19h45 Abertura (ABN) 
* 19h45-21h - Prof. Dr. Jorge Pinheiro
* 21h-21h30 - Debate 
* 21h30-21h40 - Encerramento (ABN)
   
05/05/2012 (SÁBADO): 
Prof. Dr. Jorge Pinheiro e Prof. Ms. Elcio Sant´Anna
MANHÃ
8h30, Igreja Batista Fonseca (templo) 
* 8h30-8h45h - Abertura (ABN) 
* 8h45-10h - Prof. Ms. Elcio Sant´Anna
Ecologia, Meio Ambiente e o Povo de Deus
* 10h-10h15 - Cafezinho
* 10h15-11h15 - Prof. Dr. Jorge Pinheiro
* 11h15h-12h -  Debate   
TARDE 
14h, Igreja Batista Fonseca (salão) 
* 14h-14h15 - Abertura (ABN) 
* 14h15-15h15 - Prof. Ms. Elcio Sant´Anna
* 15h15-15h30 - Cafezinho
* 15h30 -16h30 - Prof. Dr. Jorge Pinheiro
* 16h30-17h15  - Debate 
* 17h15-17h30 - Encerramento (ABN)

lundi 30 avril 2012

A violência da globalização


Quando o fascismo e a intolerância ressurgem, como resposta à crise cultural, econômica e social do Ocidente, este texto do filósofo francês Jean Baudrillard apresenta algumas questões que devem ser analisadas. Eis um bom desafio para essas dias de chuva. 
Jorge Pinheiro, véspera do 1º. de maio de 2012.

O que pode impedir o êxito desse sistema de violência mundial não são alternativas, mas singularidades que não obedecem a um juízo de valor ou a um princípio político. Impedem o sucesso do pensamento único e dominante, mas não são um contrapensamento único. Jean Baudrillard, 1º.  de novembro de 2002.

Jean Baudrillard

Seria a globalização uma fatalidade? De alguma forma, todas as outras culturas que não a nossa escapavam à fatalidade da troca indiferente. Onde se situará o limiar crítico da passagem ao universal e, depois, ao mundial? Que vertigem será esta que impulsiona o mundo para a abstração da Idéia, e esta outra vertigem que incita à realização incondicional da Idéia?

Porque o universal era uma Idéia. Quando se realiza no mundial, ela se suicida enquanto Idéia, enquanto fim ideal. Como o humano se tornou a única instância de referência e a humanidade imanente a si mesma passou a ocupar o vazio deixado por Deus morto, o humano agora reina sozinho, mas já não tem motivação final. Não tendo mais inimigo, engendra-o do interior e secreta todos os tipos de metástases inumanas.

Conquistas da modernidade e do progresso

Donde a violência do mundial - violência de um sistema que persegue qualquer forma de negatividade, de singularidade, inclusive a forma última de singularidade que é a própria morte - violência de uma sociedade em que estamos virtualmente proibidos de conflito, proibidos de morte - violência que, de certa maneira, põe fim à própria violência  e que trabalha para instalar um mundo livre de qualquer ordem natural, seja a do corpo, a do sexo, a do nascimento ou a da morte.

Mais do que de violência, seria necessário falar de virulência. Trata-se de uma violência que é viral - que atua por contágio, por reação em cadeia, e destrói, pouco a pouco, todas as nossas imunidades e nossa capacidade de resistência.

Entretanto, nada está decidido, e a globalização não ganhou por antecipação. Diante desse poder homogeneizante e dissolvente, se vê, em toda parte, levantarem-se forças heterogêneas - não só diferentes, mas também antagônicas. Por trás das resistências cada vez mais intensas à globalização, sociais e políticas, é preciso ver mais do que uma rejeição arcaica: uma espécie de revisionismo dilacerante quanto às conquistas da modernidade e do “progresso”, de recusa não apenas da tecno-estrutura mundial, como também da estrutura mental de equivalência de todas as culturas.

Este ressurgimento assume aspectos violentos, anômalos, irracionais em relação a nosso pensamento esclarecido - formas coletivas étnicas, religiosas, lingüísticas - mas, igualmente, formas individuais de perturbação do caráter ou neuróticas. Seria um erro condenar esses sobressaltos como populistas, arcaicos ou mesmo terroristas. Tudo o que faz um acontecimento hoje o faz contra essa universalidade abstrata - inclusive o antagonismo do islamismo com os valores ocidentais (pelo fato de ser a mais veemente contestação desses valores, é que, hoje, o Islã é seu inimigo número um).

Vingança de culturas singulares

Quem poderia impedir o sucesso do sistema mundial? Certamente não o movimento antiglobalização, que só tem por objetivo frear a desregulamentação. Seu impacto político pode ser considerável, mas o impacto simbólico é nulo. Essa violência é também uma espécie de peripécia interna que o sistema pode superar sem perder o controle da situação.

O que pode impedir o êxito do sistema não são alternativas positivas, são singularidades. Ora, estas não são positivas nem negativas. Não são uma alternativa; são de outra ordem. Não obedecem mais a um juízo de valor nem a um princípio de realidade política. Podem, pois, ser o melhor ou o pior.

Não é possível, portanto, confederá-las numa ação histórica conjunta. Impedem o sucesso de todo pensamento único e dominante, mas não são um contra-pensamento único - elas inventam seu jogo e suas próprias regras do jogo.

As singularidades não são necessariamente violentas, e algumas são sutis, como as da língua, da arte, do corpo ou da cultura. Mas há algumas violentas - como a do terrorismo. É a que vinga todas as culturas singulares que pagaram com seu desaparecimento a instauração desse único poder mundial.

Despeito feroz entre culturas

Não se trata, portanto, de um “choque de civilizações”, mas de um confronto - quase antropológico - entre uma cultura universal indiferenciada e tudo o que, em qualquer área, conserva algo de uma alteridade irredutível.

Para o poder mundial, tão radical quanto a ortodoxia religiosa, todas as formas diferentes e singulares constituem heresias. Por esta razão, estão condenadas a entrar, querendo ou não, na ordem mundial ou a desaparecer. A missão do Ocidente (ou melhor, do ex-Ocidente, visto que há muito deixou de ter valores próprios) é submeter, por todos os meios, as múltiplas culturas à lei da equivalência.

Uma cultura que perdeu seus valores só pode se vingar nos valores das outras. Inclusive as guerras - como a do Afeganistão - visam primeiro, para além das estratégias políticas ou econômicas, a normalizar a barbárie, a obrigar todos os territórios a se alinharem. O objetivo é dominar toda e qualquer região refratária, colonizar e domesticar todos os espaços selvagens, tanto no espaço geográfico quanto no universo mental.

A instalação do sistema mundial resulta de um despeito feroz: o de uma cultura indiferente e de baixa definição em relação a culturas de alta definição; o dos sistemas desencantados, que perderam a intensidade, em relação a culturas de alta intensidade; o das sociedades dessacralizadas em relação a culturas ou formas sacrificiais.

Humilhação contra humilhação

Para tal sistema, qualquer forma refratária é virtualmente terrorista. É o caso ainda do Afeganistão. Que, num território, todas as permissões e liberdades “democráticas” - a música, a televisão, inclusive o rosto das mulheres - possam ser proibidas, e que um país possa tomar o contrapé total do que chamamos de civilização - qualquer que seja o princípio religioso invocado -, tudo isso é insuportável para o resto do mundo “livre”.

Não se considera que a modernidade possa ser renegada em sua pretensão universal. Que ela não seja vista como a evidência do bem e o ideal natural da espécie, que se conteste a universalidade de nossos costumes e de nossos valores - ainda que por algumas mentes imediatamente caracterizadas como fanáticas -, tudo isso é um crime em relação à visão do pensamento único e do horizonte consensual do Ocidente.

Esse confronto só pode ser compreendido à luz da obrigação simbólica. Para compreender o ódio do resto do mundo em relação ao Ocidente, é preciso inverter todas as perspectivas. Não se trata do ódio daqueles de quem se tirou tudo e aos quais nada se retribuiu mas, sim, do ódio daqueles a quem tudo se deu sem que eles pudessem retribuir. Não é, portanto, o ódio da espoliação e da exploração, é o ódio da humilhação.

E é a este que responde o terrorismo do 11 de setembro: humilhação contra humilhação. O pior para a potência mundial não é ser agredida ou destruída, é ser humilhada. E a potência foi humilhada pelo 11 de setembro, porque os terroristas lhe infligiram, então, alguma coisa que ela não pode retribuir. Todas as represálias são apenas um aparelho de coação física, ao passo que ela foi desfeita simbolicamente.

A guerra responde à agressão, mas não ao desafio. O desafio só pode ser aceito humilhando o outro em resposta (mas, de modo algum, esmagando-o sob bombas, nem trancando-o como cães em Guantânamo).

Saturação da existência

A base de qualquer dominação é a ausência de contrapartida - sempre segundo a regra fundamental. O dom unilateral é um ato de poder. E o “império do bem”, a violência do bem, consiste exatamente em dar - sem contrapartida possível. Consiste em ocupar a posição de Deus. Ou do Senhor, que deixa a vida ao escravo em troca de seu trabalho (mas o trabalho não é uma contrapartida simbólica; portanto, as únicas respostas, afinal, são a revolta e a morte). Deus, pelo menos, dava espaço para o sacrifício.

Na ordem tradicional, sempre existe a possibilidade de retribuir - a Deus, à natureza ou a qualquer outra instância, sob a forma do sacrifício. É o que garante o equilíbrio simbólico dos seres e das coisas. Não temos, hoje, mais ninguém a quem retribuir, a quem restituir a dívida simbólica - e é essa a maldição de nossa cultura.

Não que nela seja impossível o dom e, sim, que nela o contra-dom é impossível, visto que todas as vias sacrificiais foram neutralizadas e desmontadas (resta apenas uma paródia de sacrifício, visível em todas as formas atuais da condição de vítima).

Estamos, desse modo, na situação implacável de receber, receber sempre, não mais de Deus ou da natureza, mas através de um dispositivo técnico de troca generalizada e de gratificação geral. Tudo nos é virtualmente dado e, queiramos ou não, temos direito a tudo. Estamos na situação de escravos aos quais se deixou a vida e que estão ligados por uma dívida insolúvel.

Tudo isso pode funcionar durante muito tempo graças à inserção na troca e na ordem econômica mas, num dado momento, a regra fundamental a vence, e a essa transferência positiva corresponde, inevitavelmente, uma contratransferência negativa, uma ab-reação violenta a essa vida cativa, a essa existência protegida, a essa saturação da existência. Tal reversão assume a forma de uma violência aberta (o terrorismo faz parte dela), ou da negação impotente, característica de nossa modernidade, do ódio de si e do remorso - todas paixões negativas que são a forma degradada do contra-dom impossível.

Veredicto e condenação da sociedade

Aquilo que detestamos em nós, o obscuro objeto de nosso ressentimento, é esse excesso de realidade, esse excesso de poder e de conforto, essa disponibilidade universal, essa realização definitiva - o destino que, no fundo, o “grande inquisidor” reserva às massas domesticadas em Dostoievski. Ora, é exatamente isso que os terroristas criticam em nossa cultura - donde a repercussão que o terrorismo encontra e o fascínio que exerce.

Tanto quanto no desespero dos humilhados e dos ofendidos, o terrorismo se baseia, por exemplo, no desespero invisível dos privilegiados da globalização, em nossa própria submissão a uma tecnologia integral, a uma realidade virtual esmagadora, a um domínio das redes e dos programas que traça, talvez, o perfil involutivo da espécie inteira, da espécie humana tornada “mundial” (a supremacia da espécie humana sobre o resto do planeta não seria à imagem da supremacia do Ocidente sobre o resto do mundo?). E esse desespero invisível - o nosso - é irremediável, pois decorre da realização de todos os desejos.

Se o terrorismo decorre, pois, desse excesso de realidade e de seu prazo impossível, dessa profusão sem contrapartida e dessa resolução forçada dos conflitos, então a ilusão de extirpá-lo como um mal objetivo é total, dado que, sendo como é, em seu absurdo e em seu contra-senso, ele é o veredicto e a condenação que esta sociedade emite em relação a si mesma.


Tradução: Iraci D. Poleti
Jean Baudrillard é filósofo, autor, dentre outros livros, de “La Guerre du Golfe n’a pas eu Lieu” (1991), “Le Crime Parfait” (1994) e “L’Esprit du Terrorisme” (2002), todos editados pela Galilée. Este texto foi extraído de seu novo ensaio, “Power Inferno” (ed. Galilée, Paris, 94 páginas).

samedi 28 avril 2012

La situation religieuse actuelle en Allemagne

"Le socialisme à recourir aux forces proches de l'origine. Actuellement, il ne peut vaincre sans elles. De cette alliance dépendent l'avenir du socialisme et par là même le destin de l'Allemagne et de l'humanité européenne. Aura-t-elle lieu? La prolétarisation de presque toutes les couches sociales la rendra-t-elle superflue? De cela décidera l'évolution interne de la société capitaliste; de cela décideront les lois économiques, en union indissoluble avec les hommes qui s'y réalisent. Puisque les lois sont un facteur déterminant, l'avenir de l'Occident ne reste pas entièrement opaque; mais puisqu'elles ne sont déterminantes qu'à travers l'agir humain, toute prévision sûre est exclue. Puisque l'agir humain est un facteur de détermination, l'avenir réservé à l'Occident peut être aussibien le socialisme que la barbarie. Parce que l'agir humain n'est libre que dans le cadre de lois économiques et sociales, il n'y a pas de troisième voie possible, il n'y a fondamentalement que cette alternative".
1930, café à Francfort
"Actuellement, de nombreux groupes liés au mythe originel connaissent une révolution par suite de la crise économique; ils se lancent à l'assaut du capitalisme et ont déjà dissous le centre bourgeois: c'est là un signe des plus clairs en faveur de la victoire du socialisme. Mais ils agissent envoûtés par un nationalisme sans rupture et soutenus spirituellement et matériellement par certains groupes de la bourgeoisie qui prennent part à la lutte des classes: c'est là la plus grande menace pour le socialisme. Non seulement parce qu'il se trouve acculé de l'extérieur à une position défensive, livrant ainsi des forces révolutionnaires au romantisme politique, mais aussi parce que sa défiance du romantisme politique l'amène à se replier sur ses composantes bourgeoises. Or il ne peut vaincre que s'il rejette ces composantes, puisqu'elles l'entraînent dans un conflit interne qui menace de le broyer. Il ne peut vaincre que par son principe, où s'unissent forces originelles et attente prophétique".

"Dans ce principe, l'attente doit prédominer. Par elle, l'être humain s'élève à l'humanité. C'est seulement guidés par l'attente que l'être humain, que la société humaine parviennent à l'accomplissement. La domination du mythe originel est domination de la violence et de la mort".
1930, dimanche des jeunes
"Seule l'attente peut surmonter la mort dont le mythe originel nouvellement apparu menace l'Occident. Or l'attente est le symbole du socialisme".

Paul Tillich, La situation religieuse actuelle en Allemagne, texte de la version américaine originale, panie dans la revue Religion in Life, vol. m, n°2 (1934), pp. 163-173.

lundi 16 avril 2012

O punhal de Abraão e o sentido da vida

Gênesis 22 é um dos textos mais desnorteadores do Antigo Testamento. Abraão, em obediência a Deus, se prepara para sacrificar seu filho. Mas o texto apresenta lições preciosas sobre o sentido da vida.


A teologia relaciona conhecimento e experiência e estabelece entre elas correlações. É através das correlações que percebemos as dimensões da vida: estética, ética e a dimensão da fé.

A dimensão da alegria, emoção e prazer

"Abrão respondeu: - Ó SENHOR, meu Deus! De que vale a tua recompensa se eu continuo sem filhos? Eliézer, de Damasco, é quem vai herdar tudo o que tenho" (15.2). 

A dimensão da alegria, afetiva, emocional e do prazer é básica na realidade humana. Essa experiência é diversificada, mas tem uma característica comum: o desejo. O sentido estético da existência traduz-se na busca da realização profissional, do consumo e posse de bens. Abraão fez essa experiência estética, mas ela não bastou. Por isso disse a Deus:

"Ó SENHOR, meu Deus! De que vale a tua recompensa se eu continuo sem filhos? Eliézer, de Damasco, é quem vai herdar tudo o que tenho".

O desejo produz satisfação afetiva, emocional e material, e a principal experiência estética é o desejo erótico.

A dimensão do compromisso, do direito e da lei 

A dimensão estética não nos realiza plenamente. Muitas vezes, os objetivos não são claros e se perdem por não haver plena satisfação. Há uma outra dimensão humana que, ao contrário da experiência estética, é de mais fácil definição: a dimensão ética, que traduz compromissos, deveres e as leis que governam a vida. E o herói dessa dimensão ética é o cônjuge fiel.

O casamento cristão, indissolúvel, pleno de companheirismo, é um discurso de exaltação ao amor. O casamento é o meio através do qual homem e mulher fazem uma opção, tendo Deus como testemunha. É aqui que se evidencia a experiência ética: os dois terão que resistir aos dias maus para manter a vida conjugal.

O homem deixará o pai e a mãe para se unir a sua mulher e os dois serão uma só pessoa, de modo que não são dois mais um só”. Marcos 10.7-8.

O casamento é a mais profunda experiência para se atingir tal sentido ético de vida. O casal deve entender que o heroísmo moral da vida cotidiana é a única forma de desviá-los dos caminhos que comprometem a relação conjugal. Só o heroísmo ético, aliado à ajuda de Deus, pode salvar a vida conjugal e a vida moral. Mas o casamento não é a única e derradeira experiência ética humana. A experiência da escolha e do posicionamento diante de Deus é uma fonte de inspiração e um espaço de reflexão e vida.

A dimensão da fé

O sentido ético na vida de Abraão não foi dado por sua relação com Sara, pois não foi um marido exemplar...

"Diga, então, que você é minha irmã. Assim, por sua causa, eles me deixarão viver e me tratarão bem". (12.13).

"Abraão dizia que Sara era sua irmã. Então Abimeleque, rei de Gerar, mandou que trouxessem Sara para o seu palácio". (20.2).

... foi dado pelo nascimento de Isaque. O filho prometido possibilitou a Abraão essa experiência ética mas, ainda assim, faltava ao patriarca o desafio da fé, a entrega a Deus daquilo que lhe era mais caro.

Pensemos: Caso o sacrifício se tivesse consumado, Abraão não teria como justificá-lo à luz da ética humana. Seria o assassino de seu filho. Permaneceria toda a vida indagando acerca das razões do sacrifício e não obteria resposta. Do ponto de vista humano, a dúvida seria permanente.

Abraão sofreu, mas posicionou-se. Ou como diria Habacuque (2.4), séculos depois, o homem de más intenções não sobrevive, mas o justo tem fé, está posicionado em Deus e vive. A fé fez com que ele saltasse das dimensões da alegria, afetividade e prazer, e da própria razão ética para o plano do absoluto, âmbito em que o entendimento é cego. Abraão ilustra na sua radicalidade o desafio da fé. A fé representa um salto, a ausência de mediação humana, porque não pode haver transição racional entre o finito e o infinito. A fé é inseparável da angústia, o temor de Deus é inseparável do tremor. Por isso, o escritor de Hebreus (11.1.) dirá que a fé é a certeza de que vamos receber o que Deus prometeu e a prova de que existem coisas que nossos olhos e razão não conseguem ver.

Quando chegaram ao local que Deus havia indicado, Abraão fez um altar e arrumou a lenha em cima dele. Depois amarrou Isaque e o colocou no altar, em cima da lenha. Em seguida pegou o punhal para matá-lo”. 22.9-10.

O punhal de Abraão é o símbolo do salto. É  angústia desespero. Mas o movimento da lâmina que aparentemente antecede a morte, conduz ao grito de Deus: Abraão! O movimento da lâmina leva a um novo sentido da vida, ao encontro com o filho amado. 

Abraão não hesitou em sacrificar Isaque e esta entrega lhe deu o filho de volta. A dimensão da fé é entrega ao Deus que não vemos e comunica-se através do silêncio. As duas primeiras dimensões, estética e ética, perdem sentido sem a dimensão da fé. A fé deve estar presente tanto na dimensão estética quanto na ética. A fé é uma dimensão que desestrutura experiências e possibilita o encontro com o sentido real da vida.

Fé implica em fazer escolha e permanecer nela, é posicionamento, já que é solitude e colocar-se sob o olhar de Deus. Esse estar só no sofrimento nos leva a certeza de que Deus cumpre suas promessas e, assim, dá sentido a subjetividade e à vida.

Os movimentos do infinito

Quando nos colocamos diante da miserabilidade humana e de nosso destino, nos situamos diante de uma realidade que nenhuma lógica pode explicar: a fé. Esta não é substituição afetiva provisória que dura enquanto não se fortalecem as luzes da razão. É um modo de existir. E esse modo nos situa em relação ao absurdo e ao paradoxo. O  absurdo de Deus feito ser humano e o paradoxo das circunstâncias do advento de Cristo.

Deus tornado ser humano, Cristo é o mediador. É por meio de Cristo que o ser humano se situa existencialmente perante Deus. Cristo é o fato primordial para a compreensão que o ser humano tem de si. Não há mediação conceitual, prova racional, que nos transporte à compreensão da divindade. A mediação é o Cristo, é o fato do sacrifício do cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Aqui se situam as circunstâncias que fazem da encarnação de Cristo um absurdo: a verdade não nos foi revelada com as pompas da lógica e da razão. Ela chegou a nós através de uma virgem que dá a luz, de uma criança que é Filho de Deus, mas nasce entre animais e, mais tarde, morre numa cruz como criminoso.

Sem riscos não há fé. Por isso, a fé caminha ao lado do amor. É por amor que Deus decide agir, mas como seu amor é a causa, seu amor também é o fim. Deus quer estabelecer relações com o ser humano. O amor de Deus ensina, mas também leva à dimensão da fé, quando passamos do “não somos” àquilo que “devemos ser”.

"Abraão olhou em volta e viu um carneiro preso pelos chifres, no meio de uma moita. Abraão foi, pegou o carneiro e o ofereceu como sacrifício em lugar do seu filho" (13).

"Abraão pôs naquele lugar o nome de "O SENHOR Deus dará o que for preciso”. É por isso que até hoje o povo diz: "Na sua montanha o SENHOR Deus dá o que é preciso” (14).

Caso permanecesse a distância infinita que separa Deus e o ser humano, jamais teríamos acesso à verdade. É a mediação do absurdo e do paradoxo que nos coloca em comunicação com Deus. Por isso devemos dizer: creio porque é absurdo. Este é o caminho do encontro com Deus. 

Assim, estamos diante de um movimento absurdo e paradoxal do infinito, que nos leva a romper com o imediato da vida, mas possibilita, por meio da fé, recuperá-lo. É possível tornar a vida compatível com o amor de Deus. A renúncia nos conduz a uma aparente e radical ruptura com o mundo, mas a fé nos traz para uma nova relação com o mundo, positiva, que reafirma numa nova dimensão a alegria e a lei, agora plenas de sentido! Por isso, posicionados, caminhemos com o Mestre, sabedores de que neste espaço de fé ele dará o que for preciso e nos fará sobrevoar alturas que as afetividades e a razão desconhecem (Hebreus 12.2).

Texto recomendado
Soren Kierkegaard, Temor e tremor, Editora Hemus, 2008.

samedi 14 avril 2012

Kaddish


Kadish é a terceira sinfonia de Leonard Bernstein. A sinfonia escrita em 1963 para grande orquestra é uma obra dramática, com um coro completo, um coro de crianças, uma solista soprano e um narrador. O nome da peça, Kaddish, refere-se à oração judaica cantada em cerimônias fúnebres. É uma oração de adoração ao Criador, onde não se menciona a palavra morte. A sinfonia foi dedicada à memória de John F. Kennedy, assassinado em 22 de novembro de 1963, semanas antes da primeira apresentação. Alguns críticos vêem Kaddish como um clamor pelo Holocausto. Samuel Pisar, em memória de Leonard Bernstein, criou uma oração que é rezada nesta apresentação.

vendredi 13 avril 2012

A sociedade do espetáculo

Guy Debord
A sociedade do espetáculo, 1a. edição francesa, Editions Gallimard, Paris, 1967
A separação acabada

Unidade e divisão na aparência
O proletariado como sujeito e como representação

I. A Separação Acabada

Mas com certeza, para a época presente, que prefere o signo à coisa significada, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência à essência... só a ilusão é sagrada, a verdade profana. Mais, a sacralidade é considerada reforçada na proporção em que a verdade diminui e a ilusão aumenta, de tal modo que o mais alto grau de ilusão passa a ser o mais alto grau de sacralidade.

Feuerbach, Prefácio à segunda edição de A Essência do Cristianismo.

1 Nas sociedades em que prevalecem as modernas condições de produção, toda a vida apresenta-se como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido afastou-se em uma representação.

2 As imagens, desligadas de todos os aspectos da vida, fundem-se em uma corrente comum em que a unidade da vida não pode mais ser reestabelecida. A realidade considerada parcialmente desdobra-se, em sua própria unidade geral, como um pseudo-mundo à parte, objeto de mera contemplação. A especialização das imagens do mundo é completada no mundo da imagem autônoma, onde o mentiroso mente para si mesmo. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não vivente.

3 O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como toda a sociedade, parte da sociedade e instrumento de unificação. Como parte da sociedade, é especificamente o setor que concentra todos os olhares e toda a consciência. Devido ao próprio fato de ser separado, esse setor é o terreno comum do olhar enganado e da falsa consciência, e a unificação que ele realiza não passa da língua oficial da separação generalizada.

4 O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediada por imagens.

5 O espetáculo não deve ser entendido como um abuso do mundo da vsião, como produto das técnicas de difusão em massa de imagens. É, antes, uma Weltanschaaung que se tornou real, foi materialmente traduzida. É uma visão do mundo que se objetivou. 
6 Apreendido em sua totalidade, o espetáculo é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Não é um suplemento ao mundo real, uma decoração adicional. É o coração da irrealidade da sociedade real. Em todas as suas formas específicas, o espetáculo é o modelo presente da vida socialmente dominante. É a afirmação onipresente da escolha já feita na produção e em seu corolário no consumo. A forma e o conteúdo do espetáculo são identicamente a justificação total das condições e metas do sistema existente. O espetáculo é também a presença permanente dessa justificação, pois ocupa a parte principal do tempo vivido fora da produção moderna. 

7 A própria separação faz parte da unidade do mundo, da praxis social global dividida em realidade e imagem. A prática social que se coloca diante do espetáculo autônomo é também a totalidade real que o contém. Mas a divisão no seio dessa totalidade mutila-a a ponto de fazer com que o espetáculo seja visto como sua própria meta. A linguagem do espetáculo é feita dos sinais da produção dominante, que são ao mesmo tempo a meta suprema dessa produção.