jeudi 24 mars 2016

Paul Tillich, política e religião

A produção teórica de Paul Tillich sobre política e religião 
é muito vasta e cobre dezesseis anos de produção, indo de 1919 a 1935, fora textos produzidos posteriormente em sua fase norte-americana. 
Jorge Pinheiro, PhD

Embora tenhamos feito uma leitura de seus principais textos, editados em francês, em 1990, 1992 e 1994,7 nos concentramos em algumas formulações que consideramos fundamentais para a compreensão do fenômeno político. Nossa abordagem de Tillich e de sua produção procura a compreensão de métodos de análise e de crítica da condição política e não tomar as idéias e argumentos de Tillich como cânon. Entendemos que seus escritos foram elaborados sob condições especiais e refletem conjunturas e realidades peculiares à modernidade do século vinte e, embora nos sirvam de roteiro para reflexão, não podem ser entendidos como palavra final. 

Metodologicamente optamos por uma leitura não histórica e não cronológica, mas sistemática. Assim, procuramos compreender o pensamento de Tillich em seu conjunto, situando nessa compreensão a questão política e como suas abordagens podem nos ajudar a fazer uma leitura teológica da correlação política e religião e das contradições e perspectivas daí advindas. 



(Nota -- 7 Paul Tillich, Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands, 1919-1931, Paris, Genebra, Québec: Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1990, 1992. Christentum und Soziale Gestaltung, Gesammelte Werke II, VI, IX, X, XII, XIII, Evangelisches Verlagswerke Stuttgart, 1962, 1967, 1970, 1972. Trad. fr., Nicole Grondin e Lucien Pelletier. Écrits contre les nazis, 1932-1935, Paris, Genève, Québec : Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1994. Christentum und soziale Gestaltung. Frühe Schriften zum religiösen Sozialismus, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, Gesammelte Werke II, 1962, 1968. Trad. fr. Nicole Grondin e Lucien Pelletier). 

O contexto histórico e cultural 

Paul Tillich nasceu num lar luterano, na cidade alemã de Starzddel, perto de Berlim, em 1886. Em 1910, graduou-se doutor em Filosofia, em Breslau, e em 1912 licenciou-se em Teologia, em Halle. Durante a I Guerra Mundial serviu como capelão no exército alemão. Psicologicamente, foi muito afetado pela visão das mortes e da destruição em massa causadas pela guerra. Sofreu dois colapsos nervosos e sua fé num cristianismo calcado no romanticismo alemão do século dezenove desabou. Ele conta como foi esse sofrimento, que produziu a grande transformação de sua vida: 

“A transformação ocorreu durante a batalha de Champagne, em 1915. Houve um ataque noturno. Durante toda a noite, não fiz outra coisa senão andar entre feridos e moribundos. Muitos deles eram meus amigos íntimos. Durante toda aquela longa e terrível noite, caminhei entre filas de gente que morria. Naquela noite, grande parte da minha filosofia clássica ruiu em pedaços; a convicção de que o homem fosse capaz de apossar-se da essência do seu ser, a doutrina da identidade entre essência e existência... Lembro-me que sentava entre as árvores das florestas francesas e lia “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, como faziam muitos outros soldados alemães, em contínuo estado de exaltação. Tratava-se da liberação definitiva da heteronomia. O niilismo europeu desfraldava o dito profético de Nietzsche, ‘Deus está morto’. Pois bem, o conceito tradicional de Deus estava mesmo morto”.8 

O mundo em colapso e a esperança socialista 

Para Tillich, o mundo entrara em colapso, e com ele o otimismo naquela cultura que tinha depositado sua confiança no ser humano e acreditado no progresso da civilização. "A experiência dos quatro anos de guerra -- escreveu Tillich --, abriu diante de mim e de todos de minha geração tal um abismo que nunca pôde ser fechado novamente". E foi em Verdun que Tillich situou sua ruptura com o liberalismo teológico alemão. Como vimos, ele fala com 

(Nota -- 8 “To be or not to be”, Time Magazine, 16.03.1959, Vol. LXXIII, No. 11, pp. 47ss. Tillich foi capa desse número da revista, com chamada especial: “A theology for protestants”). 

tristeza daquela noite que, em meio ao trovejar dos canhões, depois de procurar durante horas dar um pouco de conforto aos moribundos que chegavam ao acampamento, ao amanhecer, exausto, dormiu entre cadáveres. E ali morreu seu idealismo teológico. Há nesta descrição da batalha de Verdun uma releitura das memórias de Goethe quando este fala da batalha de Valmy: "Neste lugar e neste dia começa um tempo novo da história do mundo". Goethe disse que Valmy foi o começo do século dezenove, marcado pela fé na razão, na paz, na justiça e na democracia, convencido de que a cultura européia chegava a um momento especial de sua história. Em Verdun, Tillich descreve o fracasso desta fé, a queda desta convicção e, também, o fim do século dezenove.9 

A experiência que Tillich viveu como capelão durante a I Guerra Mundial, não foi simplesmente uma experiência particular, mas em última instância a compreensão da condição humana, enquanto demonstração da situação espiritual do momento que se abria para o mundo. Nesse sentido, seu destino pessoal coincide com o destino de milhões de pessoas e da Europa inteira. Com a guerra, a derrota da Alemanha e o fim da monarquia, algo novo emergiu do desastre, surgiu das profundezas, da dimensão da profundidade do inconsciente de milhões de pessoas. Se durante alguns anos, o destino da morte cobriu uma geração inteira, derrubando por terra o edifício do século dezenove, desse caos surgia a possibilidade de mudança, de construção de algo novo. 

O julgamento da I Guerra Mundial levou Tillich à compreensão de que não se pode divinizar nenhuma construção política. Mas ao se fazer o julgamento da guerra, também se faz o julgamento das possibilidades humanas. Ora, tal julgamento tem um aspecto positivo, que Tillich chamará de kairós10: é um momento de graça onde a possibilidade humana se torna plena de força divina. Mas este kairós é diferente das propostas apresentadas por aqueles socialismos que se posicionam a favor da guerra, pois o kairós aponta para a possibilidade de um mundo novo. E a esperança que ele gera é maior que a simples ilusão humana, pois esta esperança tem o próprio Deus por fundamento, já que aqui a graça gera o kairós. 

(Notas -- 9 André Gounelle, Fernand Chapey: “Paul Tillich: esquisse biographique”, Montpellier, Institut Protestant de Théologie, Etudes Théologiques et Religieuses/ETR, 1978/2, 53, pp. 223-224. 10 Paul Tillich, “Kairos I” in Christianisme et socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Paris, Genebra, Québec: Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 116-117. Der Widerstreit von Raum und Zeit, Gesammelte Werke, VI, Evangelisches Verlagswerke Stuttgart, 1963, pp. 53-72. Trad. fr. Nicole Grondin e Lucien Pelletier). 

Herdeiro do pensamento alemão do século dezenove, Paul Tillich é devedor do idealismo alemão, em especial de Hegel e Schelling,11 mas é a partir de 1919, na Alemanha destruída pela I Guerra Mundial que começa a trabalhar sobre a idéia de uma teologia da cultura. Aspecto de destaque em sua obra é o fato de ter elaborado uma teologia da história, já que recusou exercer “a tarefa de mero coletor e divulgador de fatos e dados. O importante era tornar vivo o que já passou, era olhar o passado para compreender a situação presente, era aliar os fatos a uma interpretação”.12 Para ele, cultura tem uma leitura diferente daquela que terá para a antropologia da segunda metade do século dezenove, que inclui a produção humana em toda a sua riqueza e diversidade. Para ele, cultura é a produção da intelectualidade européia ilustrada. 

E por baixo das manifestações culturais específicas se faz presente a religião. Assim, a religião expressa o incondicionado, dando margem a manifestações especiais, que se apresentam enquanto cultura. Daí seu interesse em manter um permanente diálogo com artistas, escritores e com o mundo social-democrata da época. Dessa maneira, durante toda sua vida Tillich será um teólogo da cultura e um filósofo da religião. 

Para Tillich, depois da I Guerra Mundial, era preciso abandonar aquele Deus concebido pela teologia do século dezenove e fazer o cristianismo responder aos problemas e às exigências contemporâneas. Assim, depois da guerra começou a repensar seu cristianismo e se aproximou do socialismo do Partido Social Democrata alemão. Conforme explica o próprio Tillich, ele poderia ter desenvolvido sua filosofia a partir da leitura de Nietzsche, mas a experiência da revolução alemã de 191813 dirigiu suas preocupações em direção a uma filosofia da história, a partir da sociologia e da politica. E seu estudo de Ernst Troeltsch (1865-1923)14 preparou a mudança de direção.15 

(Notas -- 11 Na sua tese sobre Friedrich Wilhelm Joseph Schelling, La mystique et la conscience de la culpabilité dans le développement philosophique de Schelling (1912), Tillich apresentou o ponto de vista de Schelling sobre mito e mitologia. Martin Leiner, “ Mythe et modernité chez Paul Tillich ”, in Marc Boss, Doris Lax, Jean Richard (ed.), Mutations religieuses de la modernité tardive, Actes du XIVe. Colloque International Paul Tillich, Marselha, 2001, Hamburgo, Londres, LIT, 2002, p. 9.  12 Cláudio de Oliveira Ribeiro, “Teologia e Ciências: Uma aproximação entre a produção teológica latino- americana e a de Paul Tillich”, in Por Uma Nova Teologia Latino-Americana, A Teologia da Proscrição, vv. aa., São Paulo, Paulinas, 1996, pp. 211-212. 13 Paul Tillich, “ La situation spirituelle du temps présent. Rétrospective et perspective ” in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Paris, Genebra, Québec : Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 330-331. Die religiose deutung der gegenwart, Gesammelte Werke, X, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, 1968, pp. 108-120. Trad. fr. de Nicole Grondin e Lucien Pelletier. 14 Paul Tillich, “Ernst Troeltsch. Son importance pour l’histoire de l’esprit ” in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Paris, Genebra, Québec : Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 219-220. “ Ernst Troeltsch, Versuch einer geistesgeschichtlichen Wurdigung ”, Begegnungen, Gesammelte Werke XII, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, 1971, pp. 166-174. Trad. fr. de Nicole Grondin et Lucien Pelletier). 

Para definir os contornos do socialismo tillichiano em sua fase inicial devemos nos remeter a dois textos escritos nos dois anos subseqüentes à revolução de 1918, redigidos no calor da vitória revolucionária, e que se encontram em “Christianisme et socialisme I e II”.16 Embora esses textos não tenham a profundidade sistemática dos escritos socialistas dos anos 1920-30, eles procuram explicar de um ponto de vista teológico o papel da revolução que acabava de acontecer na Alemanha. Assim, em 1919, Tillich deu uma conferência pública cujo conteúdo foi um esforço para fundamentar teologicamente um artigo que tinha escrito antes, onde dizia ser tarefa do cristianismo assegurar a unidade interior do ser humano futuro, através da construção de uma nova síntese entre a religião e a cultura. Na conferência afirmava que tal exigência estava fundamentada na radicalidade da teologia. A conferência recebeu o título de “Sobre a idéia de uma teologia da cultura”.17 

Aqui Tillich empreende pela primeira vez uma definição da tarefa da teologia, no quadro das ciências da cultura. Ela aparece como ciência normativa, não por impor sua autoridade sobre as normas da conduta humana ou por traduzir o processo dos julgamentos de valor que esta conduta requer, mas porque está interessada em situações concretas, que constituem seu conteúdo. Ou, em outras palavras, ela é normativa porque é reveladora de sentido. 

A teologia, para Tillich, enquanto ciência do indivíduo deve partir do contexto histórico e cultural. Ele observa que as éticas teológicas anteriores tinham se dado como tarefa analisar o arraizamento da vida moral, ou seja, a raiz concreta do indivíduo em sua comunidade. Mas, agora, no momento em que a teologia reconhece a existência de uma comunidade cultural externa à igreja, comunidade que constitui o horizonte imediato das decisões do indivíduo e que se enraíza numa cultura contemporânea global, a constituição de uma ética teológica pura não é mais possível: torna-se necessário elaborar uma teologia da cultura.18 

O nazismo como pano de fundo 

(Notas -- 15 Paul Tillich, “On the boundary, an autobiographical sketch”, in The Interpretation of History, New York- London, Scribner, 1936, p. 54. Aux Confins, Paris, Planète, p. 67. Trad. fr. Jean-Marc Saint. 16 Marc Boss, “ Protestantisme et modernité: résonances troeltschiennes des premiers écrits socialistas de Tillich (1919-1920) ”, in A Dumais et J. Richard, editores, Ernst Troeltsch et Paul Tillich, pour une nouvelle synthèse du christianisme avec la culturele de notre temps, Québec : Les Presses de l’Université Laval, L’Harmattan, 2002, pp. 88. 17 Jean-Claude Petit, La Philosophie de la Religion de Paul Tillich, Genèse et évolution, la période allemande 1919-1933. Montréal : Fides, Héritage et Projet, 1974, pp. 17-19. 18 Jean-Claude Petit, La Philosophie de la Religion de Paul Tillich, op. cit., pp. 19-20). 

Anos mais tarde, em janeiro de 1933, o nacional-socialismo chegava ao poder. Entre os anos de 1919 e 1924, Tillich tinha participado do Círculo Kairós, um grupo de reflexão sociológico, filosófico e teológico do socialismo. Entre os anos 1920 e 1927 ajudou a editar os Cadernos do Socialismo Religioso, e em 1929/30 os Novos Cadernos do Socialismo. Mas com o advento do nazismo ao poder, ele percebe que o socialismo havia nascido como kairós, com a reflexão contextual da revolução socialista, e deveria desaparecer com ela. 

Nesse contexto de ascensão do nazismo, de crise e derrota da revolução socialista, não se poderia esquecer o fato de que o julgamento divino se apresenta paradoxal porque declara absoluto, perfeito e santo aquilo que é relativo, imperfeito e pecador, o ser humano. Assim, partindo da teologia de Lutero e de seu conceito de salvação pela graça, Tillich faz uma nova abordagem da questão social na Alemanha e na Europa: aquilo que aparece como abismo da realidade, que reduz a nada o que existe, que coloca todas as coisas sob julgamento, tem um lado positivo. É possível afirmar que o contexto de julgamento pode levar a uma vontade de moldar o mundo de maneira imanente, momento do novo, quando o reino de Deus se faz presente no mundo. 

Fruto desses anos de reflexão e militância intelectual, Tillich formulou seu conceito de socialismo religioso19 e escreveu A Decisão Socialista,20 livro que foi queimado publicamente pelos nazistas em 1933. Se tivesse ficado na Alemanha, possivelmente Tillich tivesse terminado seus dias num campo de concentração, mas salvou-se ao aceitar o convite para lecionar na Universidade de Columbia e no Union Theological Seminary, em Nova York. 

No século vinte, poucos teólogos tiveram tanta influência como Paul Tillich, que procurou responder às questões universais relacionando cultura e fé. Em termos teológicos sua pressuposição básica era de que a fé não é necessariamente inaceitável para a cultura e a cultura contemporânea não é necessariamente inaceitável para a fé. Buscou desenvolver uma 

(Notas -- 19 Paul Tillich, “Le socialisme religieux I” in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919- 1931), Paris, Genebra, Québec : Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 355-362. Christentum und soziale Gestaltung, Gesammelte Werke II, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, 1962, pp. 151-158. Trad. fr. de Nicole Grondin et Lucien Pelletier. 20 Paul Tillich, “La Décision Socialiste”, in Écrits contre les nazis (1932-1935), Paris, Genève, Québec: Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1994, pp. 17-170. “Die sozialistische Entscheidung”, in Christentum und soziale Gestaltung. Frühe Schriften zum religiösen Sozialismus, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, Gesammelte Werke II, 1962, pp. 219-365. Trad. fr. Nicole Grondin e Lucien Pelletier, introd. de Jean Richard). 

teologia cujo método consistiu em relacionar fé e cultura, a fim de responder ao desafio de contextualizar a mensagem cristã num primeiro momento para a intelectualidade socialista e, posteriormente, para o ser humano contemporâneo. 

A cultura socialista no início do século vinte via a religião como ópio, fator de alienação das massas. A contribuição de Tillich foi oferecer ao pensamento socialista, a partir de uma nova maneira de fazer teologia, respostas sobre o significado de vida. O que Tillich procurou demonstrar é que uma compreensão de Deus é consistente com a compreensão socialista do mundo, e o que o intelectual via como uma deficiência na construção das idéias cristãs, Tillich encarava como uma oportunidade de alcançar o conhecimento não-empírico. Se para pensador socialista a gênese do futuro repousava sobre a luta de classes, para Tillich o socialismo traduzia o clamor contra a desumanidade, era um protesto contra sociedade industrial, que substituía os seres humanos por máquinas, dilacerando-os nos dentes da engrenagem da produção e do consumo capitalistas. Se a tecnologia levava a isso, onde estava a esperança e a resposta ao descontentamento vivido por essas gerações? O elemento perdido nesse processo era o espírito. 

Assim, Tillich resgata Kierkegaard21 quando dá ênfase à potência da individualidade humana, à existência.22 O que deve ser encontrado só o será através de sua própria coragem interna. Dessa maneira, a pergunta fundamental de existência humana é: o que eu sou? E essa pergunta só pode ser respondida por aquele que pergunta. 

O intelecto permite um conhecimento do funcionamento do universo físico e das complexidades dos sistemas do macrocosmo. Antes de uma pessoa poder dominar as técnicas, a consciência do observador precisa conhecer o lugar dele no esquema das coisas. Porém para entender o conceito, a razão, é necessário entender a ontologia fundamental que expressa as condições de essência e existência. Por isso, a ontologia existencial em Tillich eleva a pergunta pelo ser e pelo não-ser à teologia, que pode responder à pergunta sobre Deus a partir da luz que o não-ser reflete. O que Tillich apresentou ao mundo é um modo de unir verdades infinitas à uma cultura que parece desconsiderar a consistência histórica. O medo de um propósito perdido prevaleceu naquelas décadas de violência e destruição. Diante do equilíbrio perdido e da presença do caos permanente, Tillich redescobriu o equilíbrio e usou o presente 

(Notas -- 21 Pedro Rubens, Discerner la foi dans des contextes religieux ambigus, enjeux d’une théologie du croire, Paris, Les Editions du Cerf, 2004, p. 183. 22 Marc Boss, “Persistance du socialisme religieux dans la Philosophie existentielle de Paul Tillich”, in Marc Dumas, François Nault e Lucien Pelletier (ed.), Théologie et culture: hommages à Jean Richard; Quebec, Les Presses de l’Université Laval, 2004, p. 343-347). 

como fogo que acende a pira. Para ele a chave está no espírito, pois sem poder criativo não há vida. O espírito é poder, assim como a razão, que se unem e transcendem. As obras de arte, a literatura e a poesia, a filosofia e a política são frutos não só da razão, mas também do espírito. São criações individuais, mas também universais da razão e do espírito. Em todo trabalho humano de relevo pode-se ver a profundidade do que é individual, a grandiosidade de algo único, que acontece, mas que não pode ser repetido, e que, não obstante, por atravessar os séculos é universal, mas acessível ao conjunto dos seres humanos. 

Assim a teologia, enquanto conhecimento humano, particular, mas também universal, traduz- se enquanto maneira de busca do transcendente. A distância entre a fé e cultura, através da teologia, deve ser estreitada para que o ser humano possa resistir à tentação de que apenas o que é físico e material é o padrão maior da civilização. A teologia da cultura de Tillich é um marco para aqueles que investigam a espiritualidade humana aparentemente perdida, isto porque o mundo tecnológico não pode ser compreendido em profundidade sem a admissão de que a espiritualidade faz parte do conhecimento e busca do gênero humano. Assim, o fundamento da teologia da cultura está no fato de que a ontologia da cultura é um desdobramento da ontologia do ser humano. Na direção desse fundamento está a pergunta sobre a unidade ontológica da cultura: qual o princípio antropológico da criação cultural? 

Quando dizemos que o ser humano é o único animal que cria seu próprio universo de significação é na cultura que vamos encontrar o ato e a forma da expressividade humana como ser histórico. O primeiro momento da reflexão teológica sobre a cultura consiste em assegurar, seja ao ato da criação cultural, seja na forma do seu objeto, a unidade que só pode ser pensada em oposição ao fluxo do tempo e à dispersão do espaço onde a experiência se situa. 

A unidade ontológica da cultura reside na relação dialética que vigora entre a estrutura transcendental do sujeito, que se manifesta no ato da criação cultural, e a idealidade transcendental da obra de cultura, manifestada na forma transtemporal e transespacial que lhe assegura perenidade simbólica. A teologia apresenta-se, então, como paradigma da ontologia da cultura, pois tematiza a transcendência do ato como interrogação sobre o que é, tanto no que se refere à idealidade da forma, como na objetividade do ser.23 

(Nota -- 23 Henrique C. de Lima Vaz, “Ontologia da Cultura” in Cultura e Filosofia, aula inaugural do Curso de Filosofia do Instituto de Filosofia, Artes e Cultura (IFAC), da Universidade Federal de Ouro Preto, setembro de 1994, pp. 6-12). 

A partir dessa leitura teológica da cultura, o resultado da relação entre a politica e a fé cristã levou Tillich a um sofisticado sistema de pensamento, onde a teologia da cultura tornou-se algo especial dentro da história da teologia. Talvez, pudéssemos falar de uma teologia sociopolítica, ou mesmo de uma teologia do socialismo, já que a concepção teológica de Tillich parte de uma leitura sociológica e histórica, e de uma análise crítica. Para ele, a relação entre teologia e política nunca pode ser descrita apenas pela conjunção “e”, mesmo quando um movimento político está fundamentado numa concepção de mundo. 

Nesse caso, duas atitudes são possíveis: pode-se ver a política sob o ângulo da luta pelo poder e seu objetivo estratégico; ou pode-se levar em conta as pretensões desse grupo político em encarnar uma concepção de mundo e submeter suas pretensões ao tribunal das categorias teológicas. Neste caso, não estamos falando mais de política, mas de teologia política. Em outras palavras, há um setor da teologia da cultura, que a teologia não pode esquecer se quiser manter a exigência da incondicionalidade da mensagem cristã.24 

Segundo Eberhard Amelung, que foi orientado por Tillich em sua tese de doutorado, em Harvard, os principais conceitos desenvolvidos com o socialismo religioso,25 como kairós e teonomia são fruto da leitura tillichiana da situação histórica dos anos 1920 na Alemanha. Dessa maneira, para Amelung, o compromisso socialista religioso de Tillich constitui a matriz de sua teologia da cultura, e possivelmente de toda a sua teologia.


Leia
Jorge Pinheiro, Teologia e Política, Paul Tillich, Enrique Dussel e a Experiência Brasileira, São Paulo, Fonte Editorial, 2006.






Teologia e política (1)

Por que estudar o pensamento de Paul Tillich? 
Jorge Pinheiro, PhD

Essa é uma pergunta que hoje se faz no Brasil, tanto nas faculdades de teologia, como nas áreas de filosofia e ciências sociais. Partindo de minha experiência como pesquisador e professor, considero que Tillich fornece fundamentos teóricos para aqueles que se interessam não somente pela política, mas pelas imbricações da política com a religião. Por isso, ele se torna referencial tanto para estudos no campo da teologia, como da filosofia e das ciências sociais. Sem dúvida, suas abordagens sobre essas correlações iluminam questões teóricas e possibilitam abordar realidades até agora pouco compreendidas. Ou seja, seus estudos sobre política, socialismo e religião, assim como sua teologia da cultura, nos permitem analisar questões desafiadoras sob novas perspectivas. 


A temática política e religião pode e deve ser abordada a partir de perspectiva teológica, mas isso nos remete à própria teologia e à pergunta: em que medida ela pode ser um instrumento para a análise política? A teologia, e aqui recorremos a Paul Tillich, relaciona pólos, a mensagem cristã e a interpretação dessa mensagem, que deve levar em conta a situação daqueles a quem ela se destina. 

Situação, aqui, são as formas científicas e artísticas, econômicas, políticas e éticas, através das quais as pessoas e grupos exprimem as suas interpretações da existência.1 Nesse sentido, a teologia pode dar respostas às perguntas implícitas na situação, não enquanto soluções definitivas, mas no sentido de procurar sínteses. 

(Notas -- 1 Paul Tillich, “Systematic Theology I”, Chicago, University Chicago Press, XI, 1951, pp. 3-4. “Das System der Wissenschaften nach Gegenstanden und Methoden”, Fruhe Hauptwerke, Gesammelte Werke I, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, 1955, pp. 265-290). 

Para isso, utilizamos o método da correlação, ou seja, a análise da situação humana, de forma que venham à tona perguntas e a individuação das respostas nos fatos reveladores, possibilitando respostas correlatas às perguntas colocadas pela própria existência. 

A partir daí nos vemos diante da questão: que sentido tem a história? Tillich nega o negativismo fundamentalista que não vê sentido na história, mas também vai além do progressismo intra-histórico, quer iluminista, quer marxiano. Para ele, o cristianismo propõe um símbolo religioso, o do reino de Deus, que deve ser interpretado como dimensão histórica e dimensão transistórica. Dessa maneira, o sentido da história está na manifestação do reino de Deus, quer enquanto reino da salvação em contraposição à história do mundo, quer enquanto diretrizes e movimento em direção à plenitude da história, que em sua dimensão transcendente e transistórica é a vida eterna. Esse processo, que parte do eterno e desemboca no eterno, Tillich chama de panenteísmo escatológico.2 

Perguntas acerca das situações e respostas teológicas estão ligadas à existência. Por isso, ao analisar a questão do socialismo, Tillich faz uma teologia política onde seu referencial primeiro é o ser. Nesse sentido, podemos dizer que faz uma fenomenologia política quando analisa questões como o ser, a origem do pensamento político enquanto mito, e a partir daí procura trazer à tona os elementos não reflexivos do pensamento político. E é a partir da análise do pensamento político que Tillich vai explicar o surgimento da democracia e do socialismo. 

Assim, este trabalho visa fornecer bases teóricas para a análise do pensamento político e da correlação política e religião, resgatando elementos para o estudo das raízes do pensamento político, do socialismo e de suas relações com a religiosidade contemporânea. Nossa intenção, aqui, foi apresentar uma contribuição da teologia para a compreensão da crise social e política de uma época (no caso de Tillich em relação à crise alemã e à ascensão do nazismo), que nos permita aprofundar o estudo das origens do pensamento político na própria realidade brasileira. Assim, a leitura teológica que fazemos contextualiza e traz para o momento presente a antropologia política de Paul Tillich, elaborada entre as duas grandes guerras do século vinte na Europa. 

(Nota -- 2 Paul Tillich, Systematic Theology I (1951), p. 421). 

Mas, é necessário fazer a crítica do socialismo religioso e do sentido dialético do método da correlação tillichianos, como questionamentos que nos permitam entender o fenômeno político brasileiro. E para realizar essa crítica recorremos a Enrique Dussel, com o conceito de religião infraestrutural e seu método analético. Dussel, que trabalha com abordagens construídas a partir de Lévinas e Marx, nos leva à pessoa enquanto outro que é revelação do mistério da liberdade, e nos leva também à religião, e aqui devemos entender ao cristianismo, enquanto infraestrutura que denuncia o poder excludente, o que nos ajuda a trazer Tillich para o tempo presente latino-americano. 

Embora saibamos que a fé é ato da inteligência, modo de ver, Dussel nos diz que a fé também mostra que nosso conhecimento sempre esbarra em algo que não pode transcender e pára ali sabendo, no entanto, que há algo mais. Quem é ou o que é que realmente ultrapassa o que se vê, que vai além do que se vê? Em primeiro lugar, é a esperança de que o outro se revelará, concretamente: o amor do outro. O amor é o que vai além da visão do rosto, porque o fogo que arde no arbusto não o consome, porque é um sinal da presença do outro. É um rosto. E todos os dias vemos rostos de pessoas, mas o rosto que vemos não é. Por isso, devemos nos abrir a ele como mistério da liberdade. Vemos cada um dos que nos rodeiam e também os grupos sociais que estão entre nós, mas o que vemos não é o outro como ser livre.3 

Por isso, para que a teologia direcione é necessário descobrir o sentido do presente histórico. E esse desvelar o sentido do presente histórico chama-se profecia, que significa falar diante. Mas falar diante de quem? Diante diante da assembléia de cidadãos. Profecia é isso: falar ao povo do sentido dos acontecimentos presentes.4 Esta compreensão, a partir da leitura de Paul Tillich e Enrique Dussel, mostra a importância da Teologia no debate interdisciplinar sobre a experiência brasileira da presença cristã e socialista na política recente do Brasil. 

Desde a primeira República com a chegada dos imigrantes europeus, em especial espanhóis e italianos, surgiram tentativas de construção de um partido operário que tivesse condições de ação político-eleitoral. Mas todas essas tentativas fracassaram. Até mesmo o Partido Comunista, fundado em 1922, por seu posicionamento ambíguo em relação à democracia e por traduzir, durante a longa presença de Josef Stálin na liderança da União Soviética, uma 

(Notas -- 3 Enrique Dussel, “Interpretação histórico-teológica”, in Caminhos da libertação latino-americana, vol. I, São Paulo, Paulinas, 1985, p. 13. 4 Enrique Dussel, Caminhos da libertação latino-americana, op. cit., p. 15). 

política ditada por interesses externos, mais precisamente do Cominter, não conseguiu ser este partido. Com o final do Estado Novo surgiu o Partido Trabalhista Brasileiro como organização populista, que combinava uma liderança burguesa e pelego-sindical com base eleitoral popular e de trabalhadores urbanos. Mas também não foi o partido operário sonhado pelos militantes socialistas da primeira República. Outra experiência que vale a pena ressaltar foi a do Partido Socialista Brasileiro, fundado por intelectuais e políticos socialistas- democráticos em 1947. Tendo que enfrentar, à esquerda, o PCB, marxista-leninista, e à direita o PTB, burguês, o PSB também não conseguiu construir o sonhado partido operário de massas, com inserção sindical e expressão político-eleitoral. 

Por esses motivos, quando no final dos anos 1970 surgiu o Partido dos Trabalhadores, que nucleou amplos setores sindicais e de trabalhadores fabris em todo o país, a esquerda brasileira, com raras exceções, começou a olhar tal fenômeno como algo novo na história brasileira. O sonho tornava-se realidade. Passados mais de duas décadas da fundação do PT, algumas questões são levantadas, todas girando ao redor da pergunta: que partido é esse? É marxista- leninista? É social-democrata? E se é socialista, que socialismo é esse? 

Trabalhos acadêmicos foram produzidos com a intenção de responder às questões, mas ao se olhar com atenção para o fenômeno ficou claro que ele rompia os padrões de um partido operário. Afinal, desde seu início teve uma forte presença cristã, que atuou nele através de organismos populares criados pela própria Igreja, como as Comunidades Eclesiais de Base. Mas não ficou aí a ruptura com o esquema clássico. Praticamente todas as correntes ideológicas do socialismo se fizeram presentes na formação do PT, indo do stalinismo, expresso nas correntes ligadas ao Partido Comunista do Brasil, PC do B, passando por seus opositores históricos, os trotskistas, até chegar aos social-democratas e socialistas lights, como foram chamados aqueles aparentemente não muito comprometidos com a idéia de revolução, conceito que pode ser entendido como momento onde a possibilidade humana se torna plena e, por ter a esperança por fundamento, aponta para a irrupção do novo, daquilo que é essencial. 

É interessante notar que no correr dos primeiros vinte anos do PT as correntes do marxismo- leninismo foram deglutidas e expurgadas. Prevaleceu um núcleo sindical, sem definição ideológica, e uma ampla base sentimentalmente socialista que, no entanto, nunca definiu claramente que socialismo era esse. Pretendemos aqui voltar à discussão sobre os socialismos petistas, mas a partir das ciências da religião, pois vemos na construção do PT a presença, tanto direta, como invisível, do cristianismo. Nesse sentido, não negamos a existência de um pensamento socialista no PT, mas entendemos esse socialismo enquanto fenômeno que traduzia realidades plasmadas na sociedade brasileira e que afloraram enquanto mitos de origem da política. 

Este é um livro sobre os componentes teológicos encontrados no pensamento socialista do Partido dos Trabalhadores. O trabalho cobre a história do PT, mas não pretende analisar o Governo Lula, embora acreditemos que a abordagem realizada forneça elementos que permitem entender o processo vivido pelo PT enquanto governo. Nossa análise toma como ponto-de-partida os documentos e as resoluções de encontros e congressos acontecidos entre os anos de 1979 e 1999, assim como matérias jornalísticas, artigos, editoriais e entrevistas, publicadas pela imprensa do PT e pela imprensa não partidária, mas recorremos também a documentos da esquerda anteriores a esse período e também a documentos posteriores. Isto porque nossa intenção não é somente a análise histórica, mas também uma leitura sistemática do socialismo no PT. 

Nosso projeto de pesquisa foi buscar as origens do socialismo do Partido dos Trabalhadores, a partir de abordagens comuns às ciências da religião e, por extensão, da teologia. Embora o pensamento socialista no Partido dos Trabalhadores não possa ser compreendido apenas a partir da leitura teológica das resoluções oficiais de encontros e congressos, por maior que seja sua importância, entendemos que seria de relevância fazer a releitura desses documentos como ponto-de-partida para a compreensão do papel do cristianismo na construção do Partido dos Trabalhadores. 

Dessa maneira, as apreciações e comentários sobre o Partido dos Trabalhadores, sua história e formação baseiam-se em documentação bibliográfica. Foi, ainda, nossa intenção apresentar memórias e testemunhos que completassem a documentação bibliográfica, já que fizemos parte da direção de um grupo político, a Convergência Socialista, que teve participação na formação do Partido dos Trabalhadores. Tal realidade foi a razão que nos levou a escrever o livro: e por mostrar-se necessário à pesquisa foram citados artigos assinados pelo mim, enquanto textos que traduzem o pensamento de uma das correntes socialistas presentes no Partido dos Trabalhadores à época de sua construção. 

O tema central de interesse é o socialismo em seus diversos matizes em sua correlação com o cristianismo e como ambas correntes de pensamento se aninharam no partido em formação, indo desde o socialismo de intelectuais que atuavam junto ao Movimento Democrático Brasileiro, aos agrupamentos da nova esquerda como Ação Popular, Convergência Socialista, Liberdade e Luta, Movimento pela Emancipação do Proletariado, Política Operária até as correntes representadas por lideranças religiosas de expressão nacional, como aquelas dos bispos católicos e outros que, diretamente ou indiretamente, influenciaram na construção do novo partido. 

Logicamente, tal questão nos leva a uma outra: como, a partir da luta entre as diversas correntes -- Democracia Radical, Articulação, Democracia Socialista, A Hora da Verdade, Vertente Socialista, Força Socialista, Brasil Socialista, O Trabalho, Movimento Tendência Marxista, e independentes -- deu-se um caldeamento que possibilitou a consolidação de uma corrente sindical. Ou, como afirmou Lince: [O PT] “teve que aprender, na prática e aceleradamente, o exercício da transposição de suas grandes bandeiras gerais em projetos políticos concretos, capazes de afirmar a sua vocação de instrumento de luta por uma nova hegemonia na sociedade brasileira”.5 

A inclusão da teologia na análise crítica da construção do pensamento socialista no Partido dos Trabalhadores, sem negar a importância de diálogos interdisciplinares, amplia o horizonte de compreensão dos estudos sobre política, cristianismo e socialismo no Brasil. Assim o livro pretende mostrar, também, a importância da abordagem comparativa6 representada pela presença da Teologia na discussão da política e do socialismo. Desta maneira, o debate acadêmico ampliará suas perspectivas de discussão interdisciplinar. Esta maneira de fazer teologia norteia o trabalho a ser desenvolvido. 

Quando pensamos nos componentes religiosos presentes no socialismo do Partido dos Trabalhadores, três questões exigiram de nós uma reflexão mais profunda. A primeira delas foi: podemos dizer com base no estudo das ciências da religião que existe, de fato, uma relação histórica e convergente entre cristianismo e socialismo? E, se existe, como essa relação se deu na formação e desenvolvimento do pensamento socialista no Partido dos 

(Notas -- 5 Leo Lince, “O modo petista de lutar no Parlamento”, in Emir Sader, 1994: Idéias para uma alternativa de esquerda à crise brasileira, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1993, p.98. 6 Peter Berger, “A secularização e o problema da plausibilidade” in O dossel sagrado, Elementos para uma teoria sociológica da religião, São Paulo, Paulus, 1985, pp. 139-164). 

Trabalhadores? E a terceira questão que nos desafiou foi saber se este pensamento socialista, onde estão presentes componentes religiosos, e mais precisamente cristãos, leva a um tipo de socialismo diferente daquele proposto pelos partidos comunistas no século vinte. Essas três questões delimitaram o trabalho de pesquisa e a construção do livro.

Leia

Jorge Pinheiro, Teologia e Política, Paul Tillich, Enrique Dussel e a Experiência Brasileira, São Paulo, Fonte Editorial, 2006.


Walter Thalhammer

Walter Thalhammen, natural da Austria. Nascido a 1o. de julho de 1911, filho de Walter Thalhammer e Ina Thalhammer.

DOU 08/09/1952 - Pg. 3 - Seção 1 | Diário Oficial da União ...
www.jusbrasil.com.br/.../ pg-3- seção-1-Diario-Oficial-...

Walter Thalhammen natural da Áustria, nascido a 1o. de julho de 1911, filho de Walter Thalhammer e de Ina Thalhammer:

Remador

Ano 1933 \ Edição 11915 - Pag: 11
memoria.bn.br/docreader/WebIndex/...04/18638

"Canguru" — Clube de Natação e Regata. Remadores: Walter Thalhamem, Adelino Baptista Lopes "Schneeweiaa"

lundi 14 mars 2016

Religions sans église, Paul Tillich

Article de Paul Tillich :

RELIGIONS SANS ÉGLISE

(1929)

Conférence donnée à l’Association allemande pour le développement des sciences politiques à la session d’automne 1928, sous le titre : Nichtkirchliche Religionen.Publiée pour la première fois à Berlin en 1929, dans le premier tome d’un volume édité par Bernhard Harms sous le titre : Volk und Reich der Deutschen, p. 456-475. L’éditeur allemand nous avertit que la sténographie n’en a été que peu modifiée et il espère que l’impression d’avoir affaire à un discours parlé suppléera au manque de forme et de style. Article publié intégralement dans les Gesammelte Werke, V, p. 13-31.  Article repris intégralement aussi dans les Main Works/Hauptwerke, 5, p. 125-140. Nous suivons ici le texte et la pagination de cette dernière édition. La traduction que nous proposons constitue une version révisée de la traduction française effectuée par Fernand Chapey dans Aux frontières de la religion et de la science, p. 73-96.

[125] Ce titre – « Religions sans Églises » – est formulé de façon négative et les thèmes négatifs ont l’inconvénient d’être intrinsèquement infinis. Car ce que l’on dit à leur sujet est toujours orienté d’après ce qui est pensé de façon positive à l’arrière-plan, c’est-à-dire en l’occurrence de ce que l’on entend par « Église ». Cette difficulté se fera sentir tout au long de cet exposé en ceci que nous devrons effleurer au vol un nombre extraordinaire de sujets qui relèvent de notre concept général. Aussi bien les réflexions que nous avons échangées que les miennes propres révèlent que deux orientations de pensée sont requises pour cet exposé. Selon la première, on comprend l’Église comme une espèce déterminée de réalité religieuse et on se propose d’étudier des objets qui appartiennent bien à la réalité religieuse, non pas cependant à la façon de l’Église. Cela donne lieu à une opposition que l’on pourrait désigner approximativement comme celle de la grande Église et de la secte. L’autre opposition est celle où l’on voit dans l’Église l’incarnation (Inbegriff) de cette vie religieuse qui se veut expressément religieuse, pour présenter à l’encontre une vie religieuse qui ne se veut pas expressément religieuse, mais qui l’est dans son être le plus intime. Si nous regardons dans cette direction, nous voyons une attitude religieuse qui dans la forme de ses manifestations extérieures ne se donne pas comme religieuse, mais qu’une analyse minutieuse se doit de qualifier de religieuse. Conformément à mes désirs et conformément à la réalité, j’aimerais dans mon exposé suivre à la fois ces deux orientations et, pour dire vrai, mettre l’accent principal sur celle qui me paraît décisive, c’est-à-dire la seconde. En effet, si l’immense majorité des hommes de notre époque sont relativement peu concernés par la première orientation, les problèmes que soulève la seconde sont ceux au milieu desquels ils vivent. Nous pourrions encore concevoir notre sujet d’une autre façon. De l’Église on pourrait ne prendre en considération que le côté sociologique et dire que l’ Église est cette forme de religion qui s’accomplit dans une communauté. À l’opposé, [126] les religions sans Église seraient celles qu’il faudrait désigner comme subjectives, celles qui restent dans l’intériorité de l’individu. Mais cette opposition n’est pas possible : il n’y a rien de tel dans la réalité. On ne trouve aucun saisissement religieux qui ne soit pas toujours en même temps relatif à un objet religieux. Cet objet religieux peut bien être exprimé comme l’« ineffable », mais il est exprimé et le fait d’être exprimé implique une communauté, une audition, une perception et une transmission de ce qui est exprimé. C’est se faire illusion que de penser que, dans n’importe quel élan religieux, dans un « être saisi », on ne vibre qu’en soi-même. Il n’y a pas de saisissement ne s’agite qu’en soi, mais tout saisissement se rapporte à un contenu de réalité (Sachgehalt) par lequel on est saisi. Beaucoup de discours sur la religion subjective, sur la religion de la pure intériorité, ne révèlent pas autre chose qu’un manque de courage pour soumettre ce que l’on possède effectivement de religion objective au feu de la critique et au jugement qui est porté quand ce qui est objectif est exprimé de façon objective. C’est pourquoi cette opposition qui est très moderne – l’opposition entre religion et religiosité, entre religion objective et religion subjective – doit rester complètement en dehors de notre discussion. Il ne peut en être question parce qu’elle ne se trouve pas dans la réalité, parce qu’elle est une illusion qu’on se fait à soi-même.2

1. Les mouvements sans Église expressément religieux. Prenons maintenant la première orientation qui s’offre à notre considération, l’orientation qui demeure dans la sphère religieuse, qui se tient sur ce terrain où il est question de religion de façon expresse. Même ici il est possible de distinguer deux groupes : le premier, qui est né sur un terrain d’Église, comprend les sectes ecclésiales au sens propre ; l’autre, qui a pris naissance en dehors de l’Église, comprend les mouvements religieux qui se donnent expressément comme tels, mais qui n’ont pas grandi sur le terrain de l’Église. Ce sont ces deux groupes que nous examinerons successivement.  À vrai dire, je ne voudrais pas entreprendre cet examen d’une façon qui aboutirait à vous présenter en quelque sorte tous les aspects grotesques de notre conscience religieuse moderne ; j’essaierai plutôt de présenter clairement la structure, la figure vivante de ces groupes sans entrer dans le détail des cas particuliers plus qu’il n’est nécessaire pour avoir un exemple vivant et concret. Ce serait, en effet, une entreprise périlleuse et vide de sens que de se poster en spectateur en face de ces réalités pour se dire intérieurement en conclusion : au fond, tout cela ne me concerne pas. Ce qui a du sens, au plan de la réalité religieuse, c’est de parler de choses à l’unisson desquelles vibre la conscience secrète : tua res agitur, cela te regarde ! Ce sera peut-être bien difficile pour la plupart d’entre nous à propos de ce qu’on appelle les sectes – les sectes qui ont grandi sur le terrain de l’Église. Cependant, j’espère pouvoir vous montrer qu’il n’en est rien.


[127] a) Le principe religieux de l’Église et de la secte. Si j’avais à parler des sectes en tant que théologien catholique, ma tâche serait relativement simple dans la mesure où du point de vue de la conscience ecclésiale catholique les sectes devraient être essentiellement caractérisées comme des hérésies ou des déviations de la vérité, vérité qui s’identifie avec l’Église. Comme représentant d’une Église qui se soumet elle-même en tant qu’Église au jugement, je ne peux parler ainsi. Je ne saurais prendre la responsabilité de concevoir – déjà à travers la notion d’hérésie – ces mouvements comme se trouvant dans l’erreur en face d’une Église qui se tiendrait dans la vérité. Le chemin doit être autre, le chemin doit être tel que, à partir de l’essence du religieux, nous cherchions à comprendre de quoi il s’agit, dans le phénomène grande Église d’une part, dans le phénomène sectaire d’autre part, afin d’appliquer, le cas échéant, le principe ainsi acquis à la critique de l’Église elle-même. Le principe à partir duquel il est possible de comprendre cette opposition me semble être le suivant : dans toute conscience religieuse, la chose première et fondamentale, la base qui porte tout, c’est une conscience du caractère inconditionné, inéluctable, de ce qui est donné dans la réalité religieuse, une conscience de « ce-qui-me-concerne-concrètement-et-inconditionnellement », de la décision sur la vie et la mort, en un sens qui va bien au-delà de notre être ou non-être physique. Là où le caractère inconditionné du religieux est vécu de cette manière, là cet inconditionné fait irruption3 dans toutes les relations conditionnées de notre vie et il tend à nous en libérer pour nous placer seulement devant cet inconditionné, dévaluant ainsi toute chose devant cette réalité dernière. Tel est le premier aspect. Mais de là en découle nécessairement un autre. Si tout homme, si tous les aspects de notre vie doivent être touchés par ce qu’on entend par le religieux, de ce fait le religieux avec son caractère inconditionné devient de lui- même universel, il devient ce qui touche tous les aspects de la réalité et tous les hommes dans la réalité. Le caractère inconditionné et le caractère universel, telle est la tension dont il s’agit ici. Et l’Église est le lieu où sur le terrain de l’annonce prophétique et inconditionnée, l’universalité doit atteindre sa réalisation dans tous les moments et dans toutes les directions de la vie. Par contre, la secte est le lieu où l’on voit le danger qui naît sur le terrain de l’Église – danger que l’inconditionné soit trahi au profit de l’universalité – et où l’on proteste là contre. C’est en particulier l’idéal de l’Église catholique et la conscience qu’elle a d’être la complexio opositorum, l’intégration des opposés, la conscience de comprendre en elle- même, de la façon la plus universelle, tous les éléments de la culture et de l’existence humaine, de la réalité psychologique et de la réalité sociologique. Précisément le rapport qui en est donné 1 constitue déjà une preuve et il doit être la preuve d’un tel état de fait. C’est en fait une tâche de la conscience que l’Église a d’elle-même. Mais là où cela se produit, un autre danger se présente, celui que se perde le caractère inconditionné qui est donné dans le fondement prophétique du religieux, qu’il [128] s’affaiblisse au profit de l’universalité, au profit du nivellement et de l’égalisation, au profit du classement et de l’intégration, au profit de l’accommodation et de l’adaptation à la relativité et au caractère conditionné de l’homme, aux structures nationales et sociales. Contre cette éventualité se dresse la conscience religieuse avec son caractère inconditionné.

Et cela peut se produire d’une double manière. Si cela arrive par le phénomène prophétique, le droit est toujours de ce côté contre la grande Église. Mais si cela provient de ce que nous appelons typiquement la secte, le tort est toujours de ce côté face à l’Église. Pourquoi ? Ce qui caractérise les sectes, c’est l’essai de représenter l’inconditionné à l’aide de quelque chose de spécial, de séparé. Dans les sectes, le séparé et l’inconditionné sont liés l’un à l’autre ; dans l’annonce prophétique, au contraire, l’inconditionné fait irruption à travers toutes les séparations. b) Formes de sectes. Un examen plus attentif nous montrera une quantité de faits dans lesquels s’exprime cette attitude propre aux sectes, « la séparation unie au pathétique de l’inconditionné ». Il peut y avoir une secte dans laquelle la pensée prophétique est utilisée en vue d’attribuer l’Esprit à un groupe limité dont il devient la propriété spéciale en opposition à l’Église. Il peut y avoir une secte dans laquelle les particularités qui sont liées à la possession de l’Esprit sont posées comme l’inconditionné : ainsi, par exemple, la puissance de la prière, ou la faculté de guérir ou de faire des miracles ; de même que beaucoup d’autres particularités, comme c’est le cas dans de nombreuses sectes. Ou bien c’est une secte qui attend la fin des temps et qui dans cette espérance de la fin donne à un certain groupe1 L’édition originale (A) comporte la note suivante : Cf. Carl SONNENSCHEIN, Der Katholizismus, pages 407 et suivantes. 4 d’hommes la conscience de savoir la fin, alors que dans la grande Église dégénérée cette attente impatiente de la fin s’est perdue. Ou bien encore ce sont des détails du culte ou de la tradition dont on affirme qu’ils auraient été perdus par la grande Église et qui sont maintenant repris avec ferveur par la secte ; ce sont même parfois des détails cultuels incompréhensibles pour nous comme on en trouve dans la secte russe. Par rapport à ce domaine qui nous est peut-être plus familier, on peut encore trouver des parallèles où cet esprit typique de séparation se conjugue toujours avec la prétention à l’inconditionné. Pensons au mouvement végétarien, dans la mesure où il a le caractère d’une secte et où, à partir d’un point, il cherche à englober la totalité de la vie et la totalité de la réalité ; ou encore à certains groupes de danse, dans le mouvement de la danse moderne, qui se comprennent comme une réalité cultuelle et qui à partir de ce point unique, à partir de la formation corporelle, veulent changer toute la réalité jusqu’à l’inconditionné ; ou encore au mouvement de l’a psychologie individuelle (Individualpsychologie), qui par certaines méthodes d’influence psychique pense pouvoir guérir l’ensemble de la réalité. Dans tous les mouvements de ce genre, on trouve des analogies de structure, des ressemblances de construction organique (Gestaltenaufbaues) qui les rapprochent des sectes ecclésiales : la séparation va de pair avec le caractère inconditionné et elle se substitue elle-même à l’inconditionné.

[129] c) L’homme dans la secte. Il en résulte naturellement que les hommes aussi qui représentent cette réalité auront une structure tout à fait particulière. L’intensité de l’individu sera extrêmement élevée et le sentiment d’être élu sera stimulé chez ceux qui font partie de ces groupes étroits, par opposition à la masse indifférente de l’Église. Il y aura une activité propre qui se tourne contre la hiérarchie et le sacerdoce et qui met tout dans l’individu. Qu’est-ce que cela signifie du point de vue psychosociologique ? Cela signifie une extraordinaire intensification de la conscience de sa valeur chez l’individu, une surcompensation religieuse d’un certain complexe d’infériorité. Cela signifie par conséquent que de tels mouvements seront particulièrement vigoureux dans la conscience des classes moyennes où de quelque façon les complexes d’infériorité sont surcompensés au plan religieux. Il y a quelque chose de caractéristique : pour l’homme de la grande Église et en particulier pour l’homme de la grande Église d’État, la secte a quelque chose d’inquiétant. Il sent dans la secte quelque chose qui le menace. Et ce sentiment est fondé, car ce qui est menacé ici, c’est cela même que menaçait déjà le prophétique, c’est-à-dire la pondération, l’équilibre de toute l’existence. En même temps ce sentiment d’inquiétude à l’égard des sectes se justifie en cela qu’il y a toujours du démonique en jeu lorsqu’une particularité de la vie prétend à l’inconditionné, s’érige elle-même en absolu. Je voudrais maintenant ajouter que lorsque nous parlons ainsi des sectes en général nous ne voulons pas nous dissimuler que toute notre époque et nous tous courons le danger de devenir nousmêmes une secte dès que l’esprit du religieux nous atteint au coeur de notre être, dès que nous voulons réaliser l’inconditionné face au caractère relatif de tous les domaines de la vie. Il naît encore facilement5 aujourd’hui sur le terrain de la culture autonome un ésotérisme, un repli sur soi, une conscience d’être entouré de frontières et une surestimation de la conscience à l’intérieur de cette limitation. Nous avons [par exemple ] le cercle George, un cercle d’hommes qui s’est rassemblé autour de ce grand poète et qui comporte cette singularité, cet ésotérisme qui confine à la secte par sa fermeture et par sa volonté de réaliser l’esprit. Lorsque nous luttions, il y a des années, pour le fondement religieux du socialisme, il nous a fallu continuellement écarter le danger de devenir nous- mêmes une secte, parce que la volonté de réalisation à l’instant où elle s’empare de l’homme apporte avec elle le danger de l’ésotérisme et que, en l’occurrence, le risque était de poser le socialisme de façon inconditionnée et par là de porter atteinte à la puissance de l’inconditionné. Pour toucher une dernière fois à cette question, je dirai que ce qui différencie les sectes de l’Église est une conception différente de la réalisation de l’inconditionné. Dans la secte on trouve avec toute son intensité, avec toute sa volonté passionnée de réalisation, ce que la théologie appelle la « Loi », tandis que l’Église, elle, sait que l’inconditionné justement ne se présente pas d’abord comme exigence mais avant tout comme grâce, que la participation à la grâce ne peut jamais être que relative et que [130] l’inconditionnalité ne peut en aucun cas être attribuée à quelque chose de conditionné, à un niveau de réalité, à une attitude d’âme.

Ainsi l’Église, en dépit de toutes ses déficiences, se tient à bon droit sur le terrain de l’universalité, parce qu’elle conçoit l’inconditionné comme grâce et non comme loi. Telle est la critique la plus profonde que l’on peut opposer à la secte. d) Les mouvements religieux en dehors de l’Église. Avec cela je quitte ce domaine et j’en viens maintenant au second groupe de mouvements religieux, à ces mouvements qui ont grandi en dehors de l’Église, et certes sur un autre terrain, sur un terrain que de façon tout à fait générale je qualifierais de philosophique. Commençons par ces mouvements qui sont nés sur le terrain d’une pure vision philosophique du monde. On devrait mentionner d’abord ici l’Union moniste (Monistenbund). On devrait la mentionner si elle existait encore, c’est-à-dire si elle avait encore une existence spirituelle. Mais elle l’a perdue. Déjà, lorsque son guide inaugurait le siècle moniste, il ne lui restait plus rien de réalité spirituelle au fond d’elle-même. Elle s’était efforcée de surmonter le dualisme logique, cette fausse conception que l’on avait reprochée à la théologie et qui consistait à avoir un Dieu et, à côté, un monde avec un abîme infranchissable entre les deux, de sorte que Dieu lui-même devenait un monde et un objet ; mais ce problème a disparu depuis longtemps. En revanche, un autre problème de la dualité est apparu et il s’ancre au plus profond de la conscience de l’homme moderne : c’est l’opposition entre le divin et le démonique. De la réalité du démonique dans le monde peut parler tout homme qui a participé spirituellement et psychiquement aux dernières décennies, et en face de ce dualisme l’optimisme de l’Union moniste est depuis longtemps brisé.6 Un autre mouvement est celui de la libre-pensée (Freidenkerbewegung), qui s’est construit sur la philosophie de l’Aufklärung et sur une opposition purement négative contre le dogme ecclésial. Ce mouvement aussi est pour l’essentiel terminé, car nous savons qu’il n’y a pas que des dogmes ecclésiaux, il y a aussi des dogmes rationnels et ces dogmes rationnels, les dernières hypothèses de la science, les derniers postulats d’une philosophie basée sur les mathématiques et les sciences de la nature, sont devenus pour nous tous, en particulier pour nos grands physiciens eux- mêmes, ce qui est proprement en question. Il n’y a nulle part de dogme à partir duquel on pourrait critiquer le dogme de l’Église. Certes, il me faut faire ici une remarque : le mouvement de la libre-pensée est venu sur le terrain du prolétariat et là il a pris en fait une importance nouvelle et très grande avec l’aide d’un enthousiasme religieux tout autre dont je parlerai dans la suite. Ce que nous venons de dire nous amène à faire une remarque sur la vision du monde. L’homme moderne se caractérise en ce qu’il est sans vision du monde et qu’ il refuse d’en avoir une, tout au moins en ce sens où il s’agirait de la vision d’une maison dont on connaîtrait les pièces et les aménagements, les fondations et le toit, et où l’on habiterait.

[131] C’est que l’homme moderne ne se tient plus en face des choses ; elles sont au contraire pour lui l’énigme contre laquelle il lance çà et là une attaque, sur laquelle çà et là il remporte quelque victoire, qui laisse découvrir quelque chose de son impénétrable mystère. Mais il n’y a pas de maison de l’esprit dans laquelle l’homme peut vivre confortablement. C’est pourquoi tous les mouvements religieux qui procèdent d’une vision philosophique du monde sont en fin de compte jugés négativement au tribunal de l’homme moderne. Au lieu de cela, un autre genre de philosophie s’est fait jour ces derniers temps dans les cercles les plus étendus, une philosophie que, en me servant d’un mot nouveau, je désignerais comme philosophie physiognomique ; c’est une philosophie qui s’intéresse à contempler la forme (Gestalt) de l’être, et en particulier, de l’être psychique, chez autrui et en soi-même, de le tirer de toutes les connexions possibles de la réalité, comme d’un livre où se trouve écrit ce que je suis et, éventuellement aussi, ce que je puis devenir. C’est là qu’il faut situer l’astrologie, qui a pris une énorme importance, la chiromancie, la graphologie, qui demandent : que disent les étoiles sur ce que je suis, qu’en dit mon écriture ? Nous ne devons pas sous-estimer ce mouvement, car en lui resurgissent des instincts religieux primitifs qui dans le paganisme tardif et de nouveau encore au temps de la Renaissance, ont pris une énorme importance. Il en résulte une vision organique (gestaltliches) du monde et la conscience d’une insertion de l’individu et de son destin personnel dans cet enchaînement. Un troisième terrain où se manifestent des mouvements religieux du même genre est la philosophie occulte, le mouvement de la théosophie et celui de l’anthroposophie, qui ont pris une importance considérable. Ils appartiennent sous un certain rapport à la même ligne que les mouvements que l’on vient de nommer ; eux aussi ont leur racine dans l’antiquité tardive. À propos de cette philosophie occulte, telle qu’elle est représentée par l’anthroposophie de Steiner et telle qu’elle a reçu sa forme (Gestalt) religieuse dans la dénommée « communauté chrétienne » dirigée par Rittelmeyer, je ne voudrais avancer que deux idées. La tendance est la suivante : il s’agit de surmonter 7 la réfutation que l’objectivisme des sciences de la nature oppose au spirituel et au religieux en formant une conception de l’esprit qui entre dans le cadre de cet objectivisme des sciences de la nature ; c’est donc la tentative d’une approche de l’esprit sur le terrain de la pensée objective des sciences de la nature. Ces mondes de l’esprit dont parle l’ainsi dite « science de l’esprit » ne sont pas esprit mais nature supérieure : on contemple une nature supérieure. Telle est la première et fondamentale confusion. C’était bien là une brèche dans le matérialisme de cette science qui se voulait purement mathématique et physique, mais cela ne signifie encore rien pour la religion. Car ce que l’on entend par le religieux s’élève aussi bien au-dessus des mondes naturels que des mondes spirituels. Le monde de degrés que l’on doit parcourir pour venir à Dieu dans l’anthroposophie est brisé par la proclamation de l’Évangile qui dit que le Verbe s’est fait chair. C’est ce combat pour l’Incarnation qu’a mené l’Église ancienne et il nous faut le mener à nouveau en utilisant de nouveaux moyens conceptuels.

[132] Cela m’amènerait encore à parler d’un quatrième groupe, celui qui cherche son accomplissement religieux sur le terrain de religions étrangères. Mais ce dernier groupe, il me semble, peut être considéré comme relativement sans importance. L’« asiatisme » qui actuellement chez nous étend largement son influence présente deux aspects. Le premier consiste à vibrer à l’unisson de la mystique asiatique sur le fond de la vieille mystique que nous portons en nous-mêmes. L’autre est la tentation de comprendre l’attitude d’âme asiatique en face de la réalité. Et mon avis est que cette volonté de comprendre l’attitude d’âme asiatique par la voie de la littérature – il n’y a pour ainsi dire pas d’autre chemin pour le moment – comporte une illusion. Il n’est pas possible de comprendre une réalité spirituelle avec laquelle on n’a pas une communauté de sang (Blutszusammenhang). Quand le christianisme a accueilli en lui des éléments religieux en provenance de toute l’Antiquité, il existait là une relation sociologique avec tout le monde antique. Une telle relation est peut-être en train de se frayer un chemin, peut-être arrivons-nous à une relation vivante, à une communauté de sang avec l’Asie. Alors pourra exister la possibilité d’une jonction avec ces traditions. Mais tant qu’une telle relation ne s’est pas présentée, tenter l’approche de cette énorme réalité qu’est la religion asiatique par la qualité de nos éditions, de notre philosophie et de notre histoire, par des traductions du sanscrit et choses du même genre, me paraît une illusion de littérateur et un jeu esthétique qui ne respecte pas le sérieux de la religion asiatique, son imposante grandeur et son importance. J’arrête ici tout cet aspect de l’examen. Comme vous voyez, c’est un riche domaine où l’on pourrait aller infiniment dans le détail. Mais je tenais seulement à vous faire voir ce qui se présente ici et quelle importance ont tous ces mouvements, d’une façon ou d’une autre, pour chacun d’entre nous. 2. La religion autonome sans Église Venons-en maintenant à l’autre côté, plus important, plus décisif pour le temps présent, pour l’homme d’aujourd’hui. La réalité de l’homme moderne qui se tient comme étranger aussi bien vis-àvis des Églises que des sectes et des autres mouveme nts de nature religieuse, est largement représenté 8 aussi bien dans les masses du prolétariat que dans la classe cultivée et dans les classes spirituellement dirigeantes. Et parce qu’il en est ainsi notre préoccupation la plus pressante sera d’appliquer la question religieuse à ces hommes, c’est-à-dire, dans un sens tout particulier, de comprendre la question religieuse comme ce qui nous concerne inconditionnellement. L’alternative, en effet, est bien la suivante. Ou bien nous disons que la religion est affaire de don personnel, de penchant particulier et choses analogues, qu’il est possible d’avoir mais qu’on n’a pas nécessairement. Alors elle est sans importance. Car si ce qui prétend à l’inconditionnalité, ce qui prétend décider de l’être ou du non-être de l’homme, est une affaire de don ou même de génie, alors on doit le laisser à ceux qui sont doués pour cela et se soustraire à cet inconditionné. Ou bien c’est en vérité ce qui [133] concerne chacun inconditionnellement.

Alors il ne peut y avoir personne chez qui la question religieuse ne soit pas vivante et chez qui une réponse, positive ou négative, n’ait pas été donnée. Mais alors il ne peut y avoir personne chez qui ne se fasse sentir soit une trace de la brûlure d’un feu que l’on étouffait en vain, soit une trace d’un feu qu’on a laissé entrer dans des choses où l’on croyait qu’il n’avait pas sa place. Et parce que je ne peux penser que de la sorte et que pour moi la religion serait d’une inutilité totale dans la culture si elle n’avait pas ce caractère inconditionné qui concerne tout homme, je pose donc la question de la religion sans Église face à l’homme d’aujourd’hui. a) La question du sens de la vie Quelle est la question de l’homme moderne ? Ce n’est pas la question de l’homme antique, qui était aussi celle de l’antiquité tardive de l’époque chrétienne, la question de la Rédemption. Ce n’est pas la question de l’homme grec ou russe, la question de la vie qui vainc la mort. Ce n’est pas la question posée par le Moyen Âge d’une nature plus haute dans laquelle la nature présente est surélevée et accomplie. Ce n’est pas non plus la question du Dieu de clémence (gnädigen) qu’a posée le protestantisme. La question de l’homme moderne, c’est la question du sens.  Mais cela ne veut pas dire que toutes ces questions s’opposeraient aux autres. Dans la question du sens de l’être que pose l’homme moderne, les autres questions sont contenues de quelque façon, comme inversement en chacune des autres questions la question du sens est contenue d’une certaine façon. En chaque homme on peut observer une profonde angoisse de la vie (Lebensangst), une angoisse qui ne repose pas sur le fait que l’on peut perdre la vie, ce que l’on pourrait traduire comme l’angoisse de la mort. Mais précisément elle n’est pas cela ; elle est l’angoisse de la vie, c’est-à-dire angoisse de perdre le sens de sa vie. Cette question se fonde sur ce qui fait de l’homme un homme, à savoir qu’il peut questionner, qu’il peut exiger, qu’il n’est pas seulement là comme la nature, par exemple, mais qu’il est là aussi comme quelqu’un qui face à son existence pose des questions et des exigences, comme quelqu’un qui peut vivre dans le sens. La vie humaine, c’est la vie dans le sens.  L’homme a son être seulement par le fait qu’il façonne selon le sens, par le fait qu’il vit dans le sens : dans le sens pratique du droit, de la moralité, de l’État ; dans le sens théorique de l’intuition, de la 9 science, de l’art. Mais cette vie dans le sens se fonde sur la liberté, sur la possibilité d’atteindre le sens ou de le perdre. Cette possibilité est la double possibilité dans laquelle se trouve chaque homme. Et cette possibilité de perdre son être, de manquer le sens qu’a l’être, c’est ce qui crée au plus profond l’angoisse de la vie. Cette possibilité s’exprime dans l’ultime question sur le sens en général, question qui se met en question elle-même avec tout le reste. Le regard jeté dans l’abîme fascinant et démonique de l’absolu non-sens de la vie, telle est la situation de l’homme et par conséquent aussi la situation de l’homme moderne. Que fait l’homme dans cette situation ? Il fait la chose suivante : il transforme l’angoisse en peur. L’angoisse est indéterminée. L’angoisse n’a pas d’objet ;

[134] il n’est pas possible d’en venir à bout. La peur, elle, a un objet ; l’homme courageux peut venir à bout de n’importe quelle peur. L’homme devient courageux, il transforme son angoisse en peur. Il se donne un objet dont il a peur : la nature ou la société, un autre homme ou tout autre chose, et il en vient à bout ; et en venant à bout de l’objet de sa peur, il perd ou il croit perdre l’angoisse cachée dont il ne peut venir à bout. Cela peut se produire de différentes façons. Cela peut arriver par l’étourdissement que donne éventuellement le plaisir ; cela peut arriver et arrive le plus souvent par l’abandon aux choses. Dans l’abandon aux choses, se manifeste largement à notre époque la tentative de se soustraire à l’angoisse de la vie par le courage qui maîtrise les choses. Aucune époque n’a peut-être autant maîtrisé les choses que la nôtre ; aucune peut-être n’a eu autant d’angoisse de vie irrésolue, angoisse qu’elle a transformée en peur afin de surmonter la peur à l’aide du courage. Ou bien encore l’angoisse est surmontée par le réalisme de la vie, le réalisme de l’existence. Il est particulièrement intéressant de remarquer cela dans la plus jeune génération, qui ne veut rien savoir d’autre, qui écarte d’elle tous les problèmes auxquels a conduit l’angoisse des temps passés. On peut observer cela de bien des façons chez nos jeunes de 20 à 25 ans qui cherchent et ont effectivement une forme de vie en apparence tout à fait matérielle (sachliche), livrée aux choses. C’est si surprenant que des hommes de notre génération se trouvent comme devant une énigme. Là encore, un extraordinaire courage est présent, mais un courage qui cache l’angoisse en prenant la vie à pleines mains, ou encore, et c’en est là peut-être la forme la plus haute, en faisant oeuvre créatrice. Telle est la première réponse, la réponse dans laquelle les blessures deviennent visibles, cette insécurité secrète qui fait appel à un courage toujours nouveau, souvent admirable, mais qui ne peut jamais donner le calme sentiment d’avoir vaincu et qui, en conséquence, pousse continuellement à saisir de nouveau à pleines mains les choses de la vie. b)           L’ambiguïté de la religion et de la culture Et voici maintenant la seconde réponse. On a la vision d’un sens inconditionné, d’un sens éternel, d’un sens au-delà de tout sens particulier, d’un au-delà de l’être et du sens, de l’être et de la liberté. On a la vision de cela, mais on le voit comme situé au milieu de l’être. Telle est l’ambiguïté propre à l’homme religieux d’aujourd’hui. Dans sa vie juridique, dans sa vie de communauté, dans sa 10 vie de citoyen, dans sa vie artistique, dans sa vie scientifique, il a la vision, dans tous ces domaines précisément, de ce qui doit libérer de la menace de l’échec. Il cherche à vaincre, dans les domaines qui se trouvent eux-mêmes menacés, ce sentiment d’être menacé lui-même qu’il éprouve dans son angoisse de la vie. Il cherche, au milieu même des chemins de la liberté, ce qui se situe au-delà de la liberté et qui doit le délivrer de la menace de la liberté. La religion autonome, si nous voulons bien lui donner ce nom, est une religion qui comporte cette ambiguïté.

[135] La question pourrais se poser maintenant : comment, en fin de compte, cette ambiguïté peut-elle surgir ? Pourquoi le passage de la religion d’Église à une religion sans Église ? Pourquoi ce passage a-t-il lieu, alors que dans la religion d’Église ce sens de l’être, cet au-delà de l’être et de la liberté est expressément posé comme l’au-delà de la culture ? Mais c’est peut-être ici que l’on touche du doigt le point le plus profond de ce qui fait le conflit de notre culture occidentale. C’est la question : comment a-t-il été intrinsèquement possible que la culture autonome se soit dressée contre la culture d’Église à une époque du développement de l’Occident sur le terrain de la culture chrétienne ? On ne peut répondre que ceci : la forme ecclésiale [de la culture] comporte elle aussi une amb iguïté. La forme ecclésiale veut réaliser l’au-delà de l’être et de la liberté. Mais si elle veut le réaliser, elle ne peut le faire que dans les formes de la vie, dans le sens, donc par des formes qui sont posées par la liberté, dans la connaissance, dans des formes sociales, dans la vie de la communauté, dans des formes d’expression. Mais au moment où elle fait cela et où elle attribue à ces formes le caractère inconditionné de l’au-delà de l’être, elle se trouve devant cette question : est-ce que ces formes ne sont pas aussi menacées peut-être par la possibilité de tout ce qui est humain, celle de manquer de sens ? Ici la réponse de protestantisme est qu’elles le sont, tandis que celle du catholicisme est qu’elles ne le sont pas. C’est la différence décisive. Et c’est parce que cette équivoque subsiste que la culture autonome s’est élevée au nom de la vérité contre une vérité « sacralisée » où l’on manquait la vérité. La culture autonome s’est dressée contre une justice, contre une justice sacralisée où l’on manquait à la justice. Et c’est ce qu’il y a de plus profond dans l’homme religieux autonome, ce qu’il y a de plus intime dans son exigence de justice, qui se dresse dans cette protestation. Mais son tort, sa limite, sa propre ambiguïté sont qu’il pense pouvoir trouver maintenant sur ce terrain, sur ce terrain où le manquement est possible, où le sens de la vie est menacé, une rédemption qui le sauve de cette menace, une réponse à la question du sens de la vie. C’est pourquoi toutes deux, l’Église et la non-Église, la religion intérieure et autonome, se tiennent dans une ambiguïté. De cette ambiguïté surgit l’exigence d’une troisième voie, non pas cependant une troisième voie que nous posséderions, que nous pourrions nommer, dont nous pourrions dire que c’est la troisième religion. Il s’agit plutôt de quelque chose qui nous possède peut-être, s’Il veut nous avoir. C’est ce que j’ai appelé plus haut le prophétique, qui nous délivre non seulement de l’ambiguïté des réalités d’Église parce qu’Il place l’Église sous le « non », mais encore de l’ambiguïté de la culture parce qu’Il montre à la culture que ce n’est pas en elle-même, dans la vie et dans le sens, qu’elle pourra retrouver cet au-delà de sa vie dans le sens. 11 c) La religion du père, la religion de la mère et la religion de l’enfant Si on veut bien me permettre de décrire cette opposition avec des concepts psychologiques – et nous le pouvons depuis que la psychologie a pris une toute nouvelle orientation –, je dirais que [136] nous trouvons exprimés dans la religion de l’Église le type paternel et le type maternel du religieux.

Ou bien on a l’abandon du mystique à l’être éternel comme à un sein maternel, ou bien on a la formation de soi par l’exigence éternelle au sens de l’image du père. La religion autonome, par contre, rompt avec le type paternel et le type maternel du religieux, pour aller vers le type de l’enfant qui se libère, qui se révolte contre l’image du père et l’image de la mère afin de pouvoir parvenir à lui-même. C’est l’expérience vécue par tous ceux qui ont eu à rompre avec une situation d’Église pour accéder à une situation d’autonomie : ils ont éprouvé combien cela ressemblait à l’expérience de la formation de soi par soi-même en opposition à la formation donnée par l’image du père et l’image de la mère. Il est important de voir de ce point de vue non seulement l’histoire de l’individu mais celle de toute l’humanité. Cela ne veut pas dire que le type de l’enfant aurait purement et simplement raison devant les deux autres. Dans l’essence éternelle de l’être sont aussi bien préfigurées la relation du père et de la mère d’une part, que la relation de l’enfant d’autre part, de l’enfant qui veut être libre. Et cette éternelle réalité garde son pouvoir sur chacune des structures de l’âme et, parce qu’il en est ainsi, il devient à la longue impossible à l’homme autonome d’échapper à l’image du père et à l’image de la mère, d’éviter aussi bien l’abandon à l’au-delà de l’être que la liberté, comme il a été à la longue impossible à l’image du père et à l’image de la mère de tenir l’humanité dans ses liens exclusifs et de lui interdire de se prendre dans ses propres mains et de former la réalité. d) L’essence de la religion autonome Lorsque le religieux se réalise sur le terrain de la culture autonome, la culture prend une qualité supérieure. Lorsque nous agissons seulement en tant que juge, savant, fonctionnaire, homme politique, nous sommes orientés vers le sens de l’affaire qui nous occupe. Mais lorsque nous sommes religieux dans ces choses, alors il y a pour nous quelque chose de plus dans ces choses, et ce plus, c’est l’élément d’inconditionnalité. Pensez à la sainteté (Heiligkeit) du droit : qu’est-ce que cela veut dire ? Le droit a en lui sa légalité. Mais si nous le disons sacré (heilig), nous signifions par là qu’il a en lui une inconditionnalité, qui est indépendante de toute interprétation, qui se dresse avec une majesté à laquelle personne ne peut porter atteinte, quand bien même le droit aurait été en fait mille fois transgressé. Considérée sous son aspect subjectif, la religion est un saisissement qui dans les cas extrêmes peut aller jusqu’à l’extase, jusqu’à franchir la pure objectivité des choses pour accéder là où le fondement ultime, la racine de l’être empoigne l’homme, lui parle, le saisit. Aussi lorsqu’un homme sur le terrain de sa vie culturelle autonome, dans sa connaissance, dans son action ou dans quoi que ce soit, fait l’expérience de ce moment du sacré auquel revient l’inconditionnalité, de ce saisissement 12 jusqu’au point où il ne peut plus lui- même s’esquiver, là où il y va pour lui de son être et de son nonêtre, alors il se tient dans le religieux sur le terrain de la culture autonome. De cette définition générale découlent maintenant diverses caractéristiques. Je voudrais mentionner surtout l’une de ces caractéristiques. L’homme autonome

[137] ne va pas au-delà de l’être et du sens jusqu’à cet au-delà du sens, jusqu’à ce sens inconditionné qui n’est plus créé par lui au moyen de sa liberté. Et précisément, parce que cela lui manque, il ne connaît pas le monde de l’objet religieux, il ne connaît pas un monde des dieux, il ne connaît pas de Dieu objectif. Tout cet ensemble de réalité se tient à l’arrière-plan. Elle est là au plus profond, à l’instant où l’expérience de l’inconditionné est là. Mais elle n’est pas développée, elle n’est pas devenue un objet. Et c’est la raison pour laquelle la religion autonome moderne ne peut pas parler à cet objet, elle ne peut pas prier. La religion autonome moderne est essentiellement sans prière. Mais ce serait tout à fait une erreur que de lui reprocher, comme il arrive souvent, d’être athée parce qu’elle est sans Dieu objectif, ou d’être impie parce qu’elle est sans prière. Car l’objectivation de Dieu par l’Église est bien elle-même quelque chose qui se tient dans l’ambiguïté. On vous a dit2 que Luther avait ressenti cette ambiguïté qu’il y a à vouloir faire de Dieu un objet. La mystique a de tout temps essayé d’aller au-delà de cette objectivation. D’autre part, c’est seulement sous cette forme, dans cette intuition, qu’est donnée la puissante force de pénétration, l’immédiateté de l’intuition religieuse. Ainsi, nous rencontrons encore ici une fois de plus cette ambiguïté des deux attitudes : l’ambiguïté du langage et de la prière ecclésiale qui s’adressent à un Dieu objectivé ; et l’ambiguïté de l’autonomie qui se contente de se tenir dans le recueillement devant un sens ultime de la vie. L’une et l’autre sont ambiguës, l’une et l’autre sont un effort pour sortir de soi en se dépassant. Et, une fois de plus, je dois dire que cela ne va pas dans le sens d’une troisième possibilité, que nous aurions à notre disposition, dont nous pourrions dire qu’elle est ici ou là ; cela va plutôt vers quelque chose qui nous est donné au moment où nous nous élevons effectivement au niveau du sens de la vie, au moment où nous entendrons effectivement la parole prophétique et la réponse que lui donne notre être le plus intime. e) Les formes typiques de la religion autonome Maintenant j’aurais encore quelque chose à dire sur les formes particulières que la religion autonome a revêtues de nos jours et qui seules lui ont permis de se concrétiser. Il n’est plus nécessaire de parler au sens propre de ce type qu’on pourrait appeler l’humanisme classique. C’est le type qui fut réalisé chez Goethe, qui fut continuellement rabaissé dans la culture du dix-neuvième siècle jusqu’au niveau de l’« homme cultivé ». Ce type est devenu en partie un instrument de pouvoir dans la vie sociale, en partie un hyper-intellectualisme chez les hommes de formation supérieure, en partie une honnête moyenne bien éloignée de la sainteté de cette conscience originelle qu’on trouve réalisée chez Goethe. Puisque nous parlons du présent, je laisserai ce type de 2 La version originale (A) comporte la remarque suivante : Cf. Erich SEEBERG, Das Problem des Protestantismus, p. 389 et suivantes. 13 côté. Par contre, nous avons à mentionner quatre types qui sont importants aujourd’hui : 1. Le sacré est contemplé dans ce qui est. C’est là le type romantique-conservateur. 2. Le sacré est vu dans ce qui est exigé, dans ce qui n’est pas mais [138] doit être réalisé.

Nous avons là le type utopique révolutionnaire. 3. Le sacré reste tout à fait à l’arrière-plan et toutes les réalités particulières sont dépouillées de leur caractère sacré. Nous avons le type critique-sceptique. 4. Enfin, et ce n’est plus là un type mais plutôt un idéal que je voudrais indiquer, une forme de réalisme croyant, une façon de contempler la réalité dans laquelle les négativités de ces différents aspects sont surmontées. Le type romantique-conservateur s’enracine comme tous ces types dans une attitude religieuseecclésiale déterminée, à savoir l’attitude sacramentelle. Le sacrement signifie, en effet, l’intuition d’un donné, d’un présent, d’un tangible, d’une réalité qui peut être ici ou là-bas, d’un sacré. Dès lors, si ce sacramentalisme répand sa lumière pour ainsi dire du tabernacle de l’Église sur toute réalité, s’il sacralise toute réalité et quitte son lieu d’origine, alors se produit ce qui est la consécration romantique de l’être (Seienden). Celle-ci portera tout spécialement sur la nature, parce que la nature constitue l’élément relativement conservateur au regard de l’histoire. C’est la raison pour laquelle le mouvement romantique de la jeunesse était complètement tourné vers la nature et vers la religion de la nature. Mais cette consécration peut aussi, par delà la nature, se porter sur les relations communautaires, sur les liens du sang. La sainteté des liens du sang, qui autrefois avaient une signification sacramentelle, trouve encore un écho dans l’affirmation conservatrice de ces liens. Mais il y a aussi des conceptions de l’histoire issues de l’attitude romantique-conservatrice. C’est la vue selon laquelle tout ce qui a été produit par le devenir historique revêt un caractère sacré, est consacré ; encore cette façon de voir qui considère comme sacrés l’ensemble donné de la culture et du pouvoir à l’intérieur de la nation. On voit apparaître ici un des types les plus importants de l’attitude religieuse à notre époque : l’attitude nationale-religieuse, dont la position consiste à voir dans la nation l’inconditionné comme tel et à être saisi par lui jusque dans cette région de l’être qui est plus profonde que l’être purement physique. Là où cela se présente, nous avons devant nous la forme nationaliste du religieux telle que nous la rencontrons de nos jours. On peut certes voir en elle avec une netteté particulière l’ambiguïté de la religion autonome : un être fini, limité, un être posé par la liberté, mais qui aussi peut se perdre par la liberté, reçoit cette consécration qui ne revient qu’à l’au-delà de l’être. Vous savez que sur ce terrain on s’est mis à la recherche d’un « Dieu allemand », c’est-à-dire, en vérité, d’un démon. Car seul le Dieu qui se tient dans l’inconditionnalité de l’au-delà et qui en toute action se comporte de la même façon, aussi bien en jugeant et en exauçant, celui- là seul est le Dieu qui n’est pas un démon. C’est le seul Dieu, non pas le Dieu des juifs, mais le Dieu qui écrase le peuple juif comme on peut le relire chez tous les prophètes, et aussi le Dieu qui peut écraser n’importe quel peuples, qui n’est lié à aucun peuple particulier. Il y a encore de nombreuses formes de la religion romantique que je ne veux pas mentionner ici. Là où cette forme du religieux se présente et conduit à des déceptions, mais sans être brisée intérieurement, un contrecoup se produit facilement, c’est-à-dire un mouvement consciemment 14 démonique, une conception consciente de l’existant comme quelque chose de définitivement mauvais, de définitivement divisé, de définitivement absurde et promis à la ruine.

[139] D’une certaine façon, nous trouvons cela chez Schopenhauer. Nietzsche a mené un puissant combat contre cette attitude, qui est la sienne propre, et elle est présente sous une forme beaucoup plus ouverte, bien que demeurant à l’arrière-plan, chez Spengler avec sa conception d’une croissance et d’une décadence absurdes des civilisations, hors de tout accomplissement transcendant de la vie. J’en viens au deuxième type, au type utopique-révolutionnaire. Pour lui le sacré est ce qui doit devenir, ce qui doit être créé, ce qui n’est pas, ce qui doit venir. Nous pensons là tout de suite au socialisme révolutionnaire, au communisme et à semblables choses. C’est dans ce qui doit venir qu’est mis tout l’accent, toute la puissance de saisissement qui accomplit le sens de telle sorte qu’on est ici saisi absolument jusque dans les dernières couches de l’être. Mais il suffit de prononcer le terme « utopie » pour formuler la critique : une fois de plus c’est la tentative de réaliser l’inconditionné quelque part sur le terrain de l’ordre social, de réaliser ce qui donne un sens avec l’aide de la liberté, avec l’aide de l’action. La réaction contre l’utopie est la déception. Chez tous les hommes que l’utopie a enthousiasmés, après que l’utopie semble s’être réalisée, on voit, apparaître, en effet, un grand sentiment de désillusion qui se dissimule à grande peine, en partie par l’indifférence, en partie par un fanatisme artificiellement provoqué. Cela ne peut mener qu’à des déceptions, parce que l’on fait de l’ordre social fini le fondement de l’inconditionné. Le socialisme religieux ne veut pas sacraliser ce mouvement tel qu’il est ; il veut plutôt lui montrer que s’il affirme son but avec toute l’ardeur de la passion, il ne peut le faire qu’en tenant compte de cet au-delà de l’être devant lequel toute réalisation, y compris la réalisation socialiste qui vient, se trouve encore une fois soumise au jugement. Le troisième type est le type critique-sceptique. Il ne veut accorder la qualité de sacré à aucune réalité, quelle qu’elle soit. Il dirige sa critique contre le type romantique et contre le type utopique. Pour lui, le terme approprié est celui de « réalisme » (Sachlichkeit), réalisme au sens d’abandon à la nécessité. À l’arrière-plan une secrète conscience du sens de la vie vibre bien là aussi et se réalise tacitement lorsque des tâches réelles (sachlichen) sont accomplies. Ce type est particulièrement représenté dans les cercles responsables de notre vie technique et économique. Son origine remonte à la forme calviniste du protestantisme, au fait de s’en remettre à un décret caché de Dieu pour ce qui concerne le sens ultime de la vie : c’est ce que le calvinisme appelait « prédestination ». Ce décret demeure caché, mais par la force de la conscience qu’il en a, l’homme agit et façonne les choses conformément à la volonté de Dieu. Mais la volonté de Dieu, c’est ce qui est concrètement (sachlich) exigé dans la vie morale, dans la vie politique, dans la vie économique. Mais que veut dire réalisme ? Que veut dire s’abandonner au réel (Sachliche) ? Dans la mesure où son objet est l’économie autonome et où il culmine dans le capitalisme, le réalisme devient un service des démons. C’est le propre de cette attitude critique-sceptique de ne vouloir admettre la religion qu’à l’arrière-plan et par là, du fait qu’elle n’a pas conscience de la possession démonique du réel, non seulement perd-elle cet arrière-plan, mais elle tombe sous la domination de cette réalité démonique. 15


[140] Face à cela s’élève maintenant l’exigence d’un réalisme croyant, qui évite l’ambiguïté de l’attitude romantique-utopique et de l’attitude critique-sceptique, et qui nous conduit au-delà de l’ambiguïté de la culture autonome. Ce n’est pas dans l’ambiguïté de l’Église qu’il nous conduit, mais ce vers quoi nous ne pouvons à la vérité nous conduire nous-mêmes, ce vers quoi pourtant nous pouvons tourner notre regard comme vers ce qui peut seul nous délivrer de l’ambiguïté. « Réalisme croyant », cela veut dire un sens de la réalité qui dit « non » au romantisme aussi bien qu’à l’utopie, qui est critique à l’égard de toutes les formes de la réalité, qui met en question aussi bien l’idée socialiste que l’idée nationaliste, qui n’est pas pour autant sceptique, qui ne situe pas le religieux purement et simplement à l’arrière-plan – ce qui le condamne à disparaître puisqu’il demeure seulement à l’arrière-plan – mais qui veut l’avoir au premier plan et le contempler dans la réalité. Il ne s’agit pas, de faire d’une réalité finie, quelle qu’elle soit, un fondement pour l’inconditionné et le sacré, et par conséquent pour le démonique, mais d’associer la critique anti-démonique à la conscience de la présence du sacré. On indique déjà par là le point où la religion autonome doit nécessairement se transcender. Car où se trouve la réalité anti-démonique ? Dans l’apparaître de ce qui est au-delà de l’être et de la liberté. Et où est cet apparaître ? Non pas là où je le vois, ou n’importe qui le voit en ce moment, mais là où il se montre dans la pleine puissance de l’esprit prophétique. Et en tant que théologien chrétien, il me faut dire : dans l’être nouveau contemplé en Jésus-Christ, qui n’est pas à vrai dire lié à un fait historique quelconque, qui est réellement dans toutes les réalités, mais qui trouve sa mesure en ce lieu où le démonique est vaincu par le divin.