mercredi 24 juillet 2013

Só para lembrar: depoimento de Marcos Terena


Cidadania e Exclusão
A Luta das Minorias pela Representação e Participação Política

Marcos Terena - (Fala em idioma indígena) Se eu tivesse falado aqui em inglês ou em espanhol, vocês teriam entendido. O que disse é uma saudação pedindo ao Grande Criador, o nosso Ito Oviti, como nós o chamamos, que abra o nosso coração e a nossa cabeça para nos dar sabedoria. Eu disse: muito obrigado porque eu posso estar aqui com vocês.

Marcos Terena durante audiência pública sobre a implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Povos Indígenas

Eu queria me apresentar para vocês. Sou um índio, me chamam de índio, mas sou um índio da tribo Terena que vive na região do Pantanal, no Mato Grosso do Sul. Nasci numa aldeia chamada Taunay. Talvez seja uma homenagem ao visconde de Taunay. Estou morando em Brasília há mais de quinze anos, o único lugar fora de Mato Grosso em que vivi. Sinto-me bem aqui em Brasília, fazendo essa ponte entre duas civilizações, entre duas culturas que fazem parte de uma mesma terra, que é o nosso Brasil. Sempre tenho procurado mostrar para as pessoas que mais importante do que as palavras e do que os acordos é a possibilidade de conversarmos olhando um para o outro. Tenho duas filhas pequenas. Às vezes as vejo conversando pela Internet sem saber com quem elas estão falando, sem poder olhar para o olho das pessoas, para poder ver se está havendo uma relação realmente humana, o que é uma coisa que pouco a pouco está sendo deteriorada pelos mecanismos do chamado progresso, da chamada modernidade.

Exatamente com essas três palavras, essas três idéias, nós, os índios do Brasil, nos consideramos as grandes vítimas nesses quinhentos anos, inclusive os grandes mudos da história do nosso Brasil. Cheguei aqui mais cedo para poder olhar o lugar, saber dos critérios, porque aqui estamos numa terra, vamos dizer assim, movediça. Quando eu estava olhando a programação, constatei que cada momento dos debates era para um deputado de tal partido, para um deputado do outro partido, e na nossa mesa não havia isso. Aí até falei com um amigo meu: "Puxa vida, nós sempre estamos prontos para falar, para dialogar, e sempre falamos nesses 500 anos, mas ninguém nunca teve tempo para nos ouvir; ninguém nunca teve os ouvidos abertos a nossa voz". Durante esses cinco séculos falamos tantas verdades, as nossas verdades, mas todos pensaram: "Olha, a verdade do índio é uma verdade mentirosa; a verdade do índio está errada". Então chegaram os religiosos, os colonizadores, e pouco a pouco foram tentando anular os nossos valores.

Nesse grande encontro, quando Pedro Álvares Cabral chegou aqui, ele viu um monte de índios que falavam uma língua diferente, tinham costumes diferentes e não usavam roupa, mas nunca vi num livro de História como nós vimos a presença daquelas pessoas barbudas, cabeludas, com suas roupas encharcadas — vou usar essa palavra "encharcadas" — pelo suor, subseqüentemente secas, com um tipo de cheiro que não conhecíamos.

Quando os nossos antepassados deram um mergulho nas águas, começaram a nadar, as crianças a pular, mergulhando aqui e saindo no meio do rio, aqueles homens disseram: "Esses índios são selvagens e precisam ser catequizados, doutrinados; precisam conhecer a nova civilização". Quando viram aqueles homens e mulheres andando sem roupa de um lado para o outro, sorrindo, cantando quando tinha chuva, cantando quando tinha sol, cantando quando viam as estrelas, eles disseram: "Puxa vida, esse pessoal está vivendo em pecado. Vamos ensinar a religiosidade a esse pessoal. Vamos catequizar esse pessoal". Nunca tivemos oportunidade então de dizer: "Olha, o nosso Ito Oviti, o nosso criador, não precisa de grandes igrejas, de grandes forças religiosas; ele precisa do nosso espírito".

A minha tribo foi catequizada pelos evangélicos, e eu aprendi a ler a Bíblia. Eu já li a Bíblia três vezes e conheço a Bíblia bastante, porque eu me interesso pelos códigos do homem branco. O meu papel é decifrar esses códigos para ajudar o meu povo. Eu vi na Bíblia uma série de ensinamentos do homem branco — Moisés, Davi e Jesus Cristo, do nosso ponto de vista, eram homens brancos. O nosso pajé, o nosso líder espiritual, quando canta, está fazendo a sua oração, conversando com o criador para proteger a natureza e para fortalecer o nosso espírito. Nunca tivemos oportunidade de ensinar isso a padres ou pastores. Só agora, nesta década, estamos percebendo que, pouco a pouco, o mundo está buscando o seu próprio caminho.

Nas comemorações dos 500 anos do Brasil em Porto Seguro, no dia 22 de abril, vai ter um monte de gente querendo se manifestar. O governo brasileiro vai inaugurar salas de aula, um museu e até um shopping para os índios. Os religiosos vão também fazer suas orações, seus cultos. Disseram que eles querem pedir perdão para os índios. Eu disse que nós não podemos perdoar a história, porque foi feito um holocausto contra a nossa verdade, contra a nossa cultura e contra a presença física dos índios. Tiraram pedaços dos índios. Eu olho para vocês aqui e posso ver pedaços de índios no meio de muitos de vocês. Talvez o nome de vocês seja Maíra ou Tainá; talvez o bairro de vocês se chame Tibiriçá. O Joel Rufino já foi embora, mas perto da casa dele, por exemplo, tem um lugar chamado Anhangüera e outro chamado Anhangabaú. As pessoas falam esses nomes e não percebem que são pedaços dos povos indígenas. Meu papel é falar disso a vocês para que percebam que fazem parte da civilização indígena e sintam orgulho disso, não desprezo, vergonha.

Na minha formação de homem branco, quando fui treinado para ser homem branco, comecei a sentir vergonha da minha origem, da minha tradição, da minha língua. O chip que colocaram na minha cabeça foi nesse sentido. Um dia eu percebi que estava com o chip trocado. E aquele pajé falou comigo: "O que você está fazendo? Você nunca vai ser branco. Olha para a sua cara". Eu tinha percebido isso quando era guri, quando a minha professora de História me pôs de castigo e eu usava um calção de saco de trigo, costurado à mão. Descobri que o índio nunca vai ter lugar nesta sociedade.

Ouvi aqui a doutora Solange, que é mato-grossense, da minha terra, dizendo em sua palestra que o Mato Grosso tem poucos representantes na Câmara. Mas eu pergunto: e nós, que não temos nenhum? Não temos a solidariedade, pelo menos nesta reunião, de nenhum deputado ou senador. Nós nunca tivemos, a não ser o Mário Juruna, uma representação política nesta Casa. Por quê? Porque índio não dá voto. Para que os senhores tenham uma idéia, tomei conhecimento do projeto de um deputado sobre esse assunto, e ele me disse que o projeto mudaria essa situação, porque nos daria direito a indicar um deputado, ou seja, uma cadeira da Câmara seria destinada a nós. Então eu disse: "Nós somos 225 povos, deputado!". Essa figura do índio não existe para nós. Eu sou Terena; o Juruna é xavante; o Raoni é caiapó; o Ailton é krenak e assim sucessivamente. Nenhum povo representa o outro, não pode. Essa multiplicidade de etnias é que embeleza o nosso país.

Nas nossas terras estão a biodiversidade, os códigos da natureza, os recursos naturais etc. Essa água aqui, que está sendo agora industrializada, na nossa terra você pode tomar no mato. Um dia, se vocês não fizerem aliança conosco, aquilo lá vai se perder. A nossa água vai virar parte da chamada globalização: nós temos de repartir tudo, mas eles não repartem nada conosco. Nós lamentamos isso, porque os nossos antepassados protegeram esse patrimônio para o bem-estar das gerações futuras. A nossa filosofia de vida e o nosso compromisso é com a geração que ainda não nasceu. O que vamos deixar para ela?

Quando falamos de representação política, temos de pensar que durante esses 500 anos os índios foram tratados de diversas maneiras. A única constante nessa relação entre índios e brancos foi a mudança: ora o índio era selvagem, ora pecador, ora preguiçoso, ora inocente. Para cada momento desses nós fomos enquadrados. Até hoje, segundo a lei brasileira, somos considerados relativamente incapazes.

Eu sou piloto profissional de avião e não ganhei esse brevê de graça. Fiz um concurso na Força Aérea e fui treinado por aquela força. Conheço a linguagem militar e não sou um índio bobo nem turrão. Eu me considero, muitas vezes, bem preparado em relação ao meu povo, mas na minha aldeia, o meu chefe, o meu cacique é o meu comandante. Ele pode falar errado, pode não entender português, mas ele é o nosso chefe e tem de ser respeitado, porque ele é um chefe que cuida do nosso povo. Aqui na cidade, o homem branco não respeita o seu chefe. Por quê? Porque quando o chefe chega lá em cima, a pessoa descobre que ele não era um bom chefe, mas vendeu a idéia de que era um bom chefe. Ele usou a mídia, a informação. Na cidade, nesta Casa, por exemplo, há um artifício muito usado por políticos, a meia verdade. Você pega a verdade e corta ao meio.

Um dia, um pesquisador chegou à aldeia com seus apetrechos. O índio ficou olhando ele tomar banho no rio e gostou do seu sabonete — eu sempre conto essa história —, porque era cheiroso, e então disse: "Me dá esse sabonete?" Aí o pesquisador olhou para ele e disse: "Espera um pouco". Então ele saiu, cortou o sabonete ao meio e deu um pedaço ao guerreiro. O guerreiro foi embora e, passados alguns meses, quando o pesquisador terminou seu trabalho, a sua tese, e já ia embora, decidiu ir visitar o pessoal para agradecer. Quando chegou à casa desse guerreiro, ele viu uma flecha, então disse: "Guerreiro, eu estou indo embora. Eu podia levar uma lembrança de você? Me dá aquela flecha". E o guerreiro disse: "Ah, você quer a flecha?" E ele disse: "Sim, ela é bonita". Então o guerreiro disse: "Está bom. Espere um pouco". Aí o guerreiro quebrou a flecha ao meio e deu ao pesquisador. É claro que a flecha não teria valor nenhum, porque ele cortou ao meio, mas para aquele índio a verdade era aquela. O pesquisador não tinha dado um pedaço do sabonete? Ele deu um pedaço da flecha.

Aqui, além da meia verdade, os economistas usam outro argumento: os números, para dizer que não podem dar dinheiro à Funai porque os índios vão desperdiçar esse dinheiro; ele não tem retorno do ponto de vista econômico, numérico. Mas o investimento que se faz na Funai é para civilizações indígenas, para índios que sempre foram ricos. Nós sempre fomos ricos. E o que significa riqueza para nós? Significa capacidade de viver bem, de administrar os recursos naturais. Depois disseram: "Não, você vai ganhar um espelho, depois vou te dar uma lanterna e depois vou dar a sua terra". A terra era nossa, mas alguém disse: "Não, vocês vão ganhar a sua terra". Mas a terra era nossa! O Brasil era nosso! Hoje temos direito a apenas 11% do território nacional e, desses 11%, apenas 40% estão sendo demarcados.

Não conseguimos saber que compromisso o governo brasileiro vai assumir nessas comemorações dos 500 anos. Às 18 horas do dia 22 de abril, todo mundo vai sair de Porto Seguro satisfeito, contente por ter participado das comemorações dos 500 anos do Brasil. Fico admirado porque, nesses últimos dois anos, o único símbolo dos 500 anos do Brasil que o país conseguiu produzir foi um relógio. Toda noite: "Faltam tantos dias para os 500 anos do Brasil". E depois, pessoal, sabe o que eu descobri? Esse símbolo foi feito por um austríaco.

Então, faço a vocês, como brasileiros, as seguintes perguntas: qual o pedaço de índio que há em você? O que você está fazendo pelas terras brasileiras? Qual o compromisso que você tem assumido para legar aos seus filhos? Qual o compromisso que você tem com seus filhos, com seus netos, com o futuro das novas gerações? Porque nós, os índios, nos preocupamos com isso. Daqui a cinqüenta anos não vou estar mais aqui, mas o meu corpo vai adubar esta terra.

Cinco milhões de índios adubaram esta terra para gerar 160 milhões de brasileiros. Negros, árabes, japoneses, mas os índios serviram só para adubar? Queremos, daqui para frente, restabelecer uma aliança com a sociedade brasileira, em que o ponto principal não seja a pena de vocês pelos índios nem a nossa raiva do branco, mas uma relação de respeito mútuo: nós vamos respeitar vocês pela forma de vida que vocês têm, mas queremos também ser respeitados como somos.

Temos 350 mil índios no Brasil: alguns deles falam português; os do Oiapoque falam francês; os da fronteira com a Guiana Inglesa falam inglês; os da minha terra falam um pouco de espanhol, mas essa linguagem, esses costumes, esses códigos ficaram escondidos durante muito tempo. Quando trazemos isso para dentro, na representação política, qual o tipo de representação política que nós teremos? Nós não temos voto! Não temos dinheiro para fazer campanha, para dar sacolão para enganar o povo. Nós não queremos enganar o povo, enganar os eleitores. Queremos que até mesmo na hora do voto haja dignidade e respeito.

A Constituinte de 1988 estava capenga, porque tinha representante dos empresários, das mulheres, dos negros, dos deficientes, mas não tinha representantes dos índios. Nós não tivemos deputados constituintes índios, porque não tínhamos condições de eleger um.

Eu fui candidato pelo PDT, em 1986, em Brasília, por orientação do Darcy Ribeiro, que me disse que eu ganharia fácil em Brasília. A projeção feita pela UnB dizia que, sem fazer campanha, eu tinha a possibilidade de obter 14 mil votos. Eu não conheço essa técnica e fui com o coração aberto. E me lembro de que fizemos muita força para eleger em Brasília o Maurício Corrêa. Lembram-se dele? Fizemos força para ele ser eleito, e ele disse: "Quero ser aliado de vocês. Vamos ajudar vocês". Eu nunca tive dinheiro do fundo partidário nem de empresários. Eu tive em torno de 5 mil votos e fiquei feliz com isso. Foram 5 mil pessoas que tinham consciência de que estavam votando. Votando bem ou mal, elas tinham consciência, porque muita gente votou por conveniência. Nós, os índios, nunca vamos poder ter representação política no Congresso se a eleição for assim.

Viemos aqui conversar com Ulysses Guimarães sobre o capítulo dos índios. Então, pegamos um índio filiado ao PMDB, outro filiado ao PT, outro filiado ao PDT, enfim, viemos em sete. E para entrar aqui pusemos gravata e paletó. O deputado Ulysses Guimarães era o presidente da Câmara, então ficamos aguardando. Quando a secretária disse a ele que os índios haviam chegado, ele abriu a porta imediatamente e nos atendeu, mas ele levou um susto, porque não estávamos vestidos como índios, digamos assim; nós estávamos vestidos como eles. Ele pensou que poderia sair na primeira página dos jornais, de repente, abraçado com os índios, mas nós queríamos conversar com ele com seriedade, porque sabíamos o que queríamos. Dissemos a ele que queríamos isso, isso e isso. Então ele disse: "Eu assumo esse compromisso". Algum tempo depois, quando percebemos que íamos perder muita coisa nos direitos indígenas, porque muitos deputados estavam contra nós, fomos falar novamente com ele. Dessa vez esperamos umas duas horas, só que não estávamos mais de gravata e paletó, estávamos pintados como índios, e ele não sabia disso. Ficamos na ante-sala esperando. Toda hora entravam deputados e senadores para falar com ele, e a gente esperando. Aí os guerreiros disseram: "Marcos, o que a gente faz?". Então eu disse: "Vamos cantar". O canto do índio não é "Chega de Saudade"; é canto de guerra. E nós não temos instrumentos, somente o pé. Ao bater o pé ali o gabinete dele tremeu, porque são divisórias, então ele veio correndo atender a gente. Então ele viu que poderia — como realmente aconteceu no dia seguinte — sair na primeira página dos jornais.

Nós, os índios, somos inteligentes, somos muito felizes. Sofremos um grande massacre, mas não temos ódio do homem branco. A civilização do homem branco está totalmente errada. O homem branco não respeita o velho, não respeita as mulheres — nós ouvimos aqui —, não respeita o deficiente, não respeita as crianças. Que sociedade é essa que vamos construir? Na nossa aldeia, quando eu era criança, corria quando chovia chutando a grama com a água, descalço, mas na cidade não podemos deixar nossos filhos na rua. Se ele for andar de bicicleta, ele vai ser agredido. Vejo aqui os velhos nas esquinas pedindo dinheiro. Lá na aldeia, os nossos velhos dizem que não têm mais a força física, mas têm a força do espírito da sabedoria.

Por isso, pessoal, vim aqui com muita alegria, com muita felicidade. Aceitei o convite no primeiro momento e me preparei. Eu tinha preparado um texto, mas quando olhei para vocês desisti de ler o texto e resolvi conversar. O texto vocês podem ler depois. Eu queria falar essas coisas para vocês, falar que precisamos construir um Poder Legislativo forte, representativo. Nós, os índios, não temos poder dentro da Funai. A Funai é a única representação federal de defesa dos direitos indígenas, e nós sempre brigamos com ela, para ela andar direito. A Funai já teve como presidente de general a cabo. Estou vendo dois militares e eles sabem do que eu estou falando, o que significa isso na hierarquia. Começamos com general e até cabo tivemos como presidente da Funai, além dos grandes mitos do indigenismo, como os irmãos Villas Bôas e Apoena Meireles; grandes antropólogos já foram presidentes da Funai; a CNBB e gente ligada a ONGs já apoiaram presidentes da Funai, mas nós nunca fomos consultados, nem por uma questão de diplomacia, de elegância da parte do governo. Nunca nos perguntaram o que achávamos. Nunca!

Estão discutindo no Palácio do Planalto o Estatuto do Índio. Nós queríamos discuti-lo aqui, mas há quase nove anos o Estatuto do Índio está engavetado na Câmara. Está difícil tirá-lo da gaveta. Pensávamos que nessas comemorações dos 500 anos o Congresso Nacional aprovaria a lei indígena. Mas disseram que não, porque há um grupo de pensadores de elite debatendo como vão ficar os direitos indígenas. Eles estão discutindo isso do outro lado da rua, fechados em quatro paredes, e nós nunca fomos chamados, pelo menos para opinar. Como vamos ter representação política?

É por isso que estamos estudando, aprendendo essas regras. Quando nós dominarmos essas regras e tivermos credibilidade no meio do povo branco, vamos poder eleger vereadores, deputados estaduais, deputados federais. Vou falar mais uma vez: o voto do índio não consegue eleger esses representantes; precisamos ter aliados no meio do homem branco. O homem branco pode acreditar que, por mais errado que o Juruna tenha sido, ele foi a única voz que questionou aquilo que o poeta chama de podres poderes — foi o único, com seu gravador. E nós temos coragem para isso. Nós temos coragem para isso, não temos medo, porque estamos em cima da verdade.

Vim aqui para dizer a vocês que vamos caminhar em direção a esse futuro, que não é só do índio, mas do negro e do branco também. Estamos colocando índios no PMDB, no PFL do ACM, no PT, no PSDB. Os índios estão furando pouco a pouco a resistência. Acreditamos que, se errarmos, vamos aprender a errar e a nos recuperar.

Vamos trabalhar para que a Funai seja realmente autêntica, porque vocês têm o ministério do Esporte, o esporte brasileiro tem um ministério; a onça e o jacaré têm um ministério; o chamado sem-terra tem um ministério; nós não temos. O primeiro povo do Brasil não tem ministério, não tem uma secretaria especial, uma pequena fundação com orçamento para cuidar de 200 povos com 180 línguas. Muito mais importante do que o padrão Itamaraty, a Funai recebeu 40 milhões de reais para cuidar de tudo isso neste ano. O ministério da Saúde, para cuidar da saúde indígena, recebeu mais 60 milhões.

Essa relação precisa mudar. Nós vamos fazer força, mas se vocês não estiverem com a gente não teremos condições e vamos continuar como os grandes mudos da História. Espero que vocês saibam também construir a sua representação, o mínimo que seja, como mulheres, como adolescentes. Temos de construir um novo Brasil. Os nossos líderes espirituais estão orando pelo Brasil. Estamos vendo que o Brasil é o grande patrimônio mundial, mas o brasileiro não sabe disso, ele não é informado sobre isso. Por isso muita gente quer ir embora do Brasil. Eu não quero ir embora do Brasil. Vou morrer aqui. Quero fazer parte da construção de um novo Brasil.

Por último, espero que os partidos políticos que tenham índios em seus quadros saibam se relacionar com eles. Não queremos tomar o lugar do branco; não queremos tomar o lugar dos filhos dos políticos brancos. Queremos fazer justiça; queremos ter o nosso lugar assegurado, queremos conquistar esse lugar com dignidade e respeito. Assim, quando alguém falar: "Isso é programa de índio", vocês vão saber o verdadeiro sentido do "programa de índio". Espero que possamos realmente construir isso aqui dentro, lá fora, onde a gente estiver. O que está em jogo é o futuro do nosso país, da nossa terra e dos nossos filhos. Obrigado.

Faculdade Teológica Batista de São Paulo
Introdução ao Estudo da Realidade Brasileira
Prof. Dr. Jorge Pinheiro

Texto 1

CÂMARA NOS 500 ANOS
Parlamento Brasileiro – História e Perspectivas



samedi 20 juillet 2013

Hannah Arendt -- Seminário sobre a questão do Mal

Seminário de Filosofia II
para o segundo semestre de 2013: 
A questão do Mal na Filosofia e na Teologia,
leituras a partir da ontologia de Agostinho, de Kant e de Hannah Arendt
Aqueles que desejarem participar do seminário poderão fazer sua inscrição na Faculdade Teológica Batista de São Paulo.


lundi 15 juillet 2013

III Congresso de Eclesioogia

No princípio, criou Deus os céus e a terra.” Gn 1.1 

DOCUMENTO DO 
III CONGRESSO DE ECLESIOLOGIA 


A proposta do congresso foi oferecer a igreja subsídios para compreender os desafios enfrentados nos dias atuais, respondendo a eles de forma bíblica e teologicamente fundamentada e de modo que reflita o jeito Batista de ser: de livre consciência, respeitando as diferenças, inquiridor, não dogmático, reflexivo e cooperativo. 

As questões apresentadas pelos oradores foram de grande pertinência, pois refletem muitas das preocupações das igrejas em relação às tendências atuais e que afetam profundamente o seu modo de ser e agir. Dentre elas foram destacadas: Batismo de pessoas não casadas civilmente, batismo oficiado por membros da igreja (não pastores), prática da unção com óleo, governo da igreja por representação, presença de bispos e apóstolos, membros da igreja com orientação sexual homoafetiva, o fim do monopólio do ensino e a multipertença, casamento, divorcio e novo casamento. 

1. Reafirmamos que a Bíblia é a nossa regra de fé e prática, sempre partindo de uma hermenêutica saudável, reconhecendo os benefício e também as limitações das abordagens "Taborista" e "Ultraquista", posto que ambas se apresentam como bíblicas (e o são dentro de sua lógica), tendo porém, chaves hermenêuticas distintas. Por esta razão não haverá absoluto consenso devendo prevalecer uma postura respeitável evitando liberalismos e fundamentalismos. 

2. Destacamos o chamamento divino para que cada geração sirva à sua própria geração como base para que a igreja seja firme na Palavra e sensível ao contexto histórico e cultural (alerta para seus perigos e aberta para as oportunidades) no qual está inserida e deste modo exerça sua função evangelística, profética e também pastoral. 

3. Não somos igreja para ontem e por esta razão não podemos fechar as portas para nossa própria ação e presença no mundo de hoje. Neste sentido é preciso reforçar que, muito mais que uma instituição (necessidades legítimas para organização e reconhecimento civil) a igreja na Bíblia é sempre definida por metáforas em razão do seu caráter de organismo espiritual. 

4. Em razão do pecado e das limitações humanas as relações conflitivas sempre serão realidade presente nesta era. Cabe às igrejas exercerem o ministério de reconciliação, não entre luz e trevas, mas entre pessoas e tendências de cada momento histórico. A igreja representa o lócus onde a vontade de Deus é feita (embora ainda não plenamente, mas substancialmente) de modo que o corpo de Cristo é o meio através do qual Deus tem contato com mundo. 

5. Quanto às questões de ordem da prática eclesiástica, as posições do congresso se firmaram de modo bíblico e sensível à realidade: 

a. Batismo de pessoas não casadas civilmente - O batismo é uma ordenança bíblica que a igreja deve cumprir e todos aqueles que decidem se tornar discípulos de Cristo devem ser batizados (como ordenança não cumpri-la é pecado). O casamento é instituição divina antes do estabelecimento das culturas, da igreja e do Estado. Cada cultura e período da história (embora com suas próprias variações) demonstraram reconhecimento social do casamento formal, como compromisso de companheirismo para toda a vida. A igreja deve reafirmar o casamento e a família como instituição divina e como ideal divino para o bem estar da pessoa e da sociedade. Deve também ministrar o batismo para todo aquele que professa sua fé em Cristo e apresenta sinais de novo nascimento através de um novo modo de pensar e agir em conformidade com a vontade de Deus. Não deve, entretanto, descumprir esta ordenança, deixando de batizar aqueles que, não estando casados civilmente também estejam impossibilitados de resolver sua situação (como nos casos em que o cônjuge não crente resiste à formalização do compromisso). Neste sentido, cada caso deve ser avaliado com cuidado pela igreja. 

b. Unção com óleo - A unção com óleo tinha, nos tempos bíblicos o valor simbólico de separar (consagrar) uma pessoa ou objeto para serviço divino, entretanto o elemento material (óleo) não era decisivo no ato de consagrar e nem mesmo é utilizado em todas as consagrações não estando sempre acompanhado da palavra 'unção'. Assim, nem sempre que a Bíblia fala de unção há óleo, mas sim o ato de consagrar. Além disso, a unção com óleo sabidamente possuía um fim medicinal. Por esta razão, casos como o apresentado em Tiago 5 em que a prática é explicada no próprio contexto, utiliza-se o óleo com fins terapêuticos, não atribuindo valor espiritual à unção com óleo, mas sim à oração; além do mais deve ser levado em conta que as funções dos presbíteros abrangiam o cuidado dos enfermos. O que se requer é que haja consciência da importância de uma ação integral no cuidado do enfermo: remédio e oração. 

c. Governo da igreja por representação - Os batistas devem reafirmar o governo congregacional como bíblico e estabelecido por Deus, e como prática de bom senso e transparência. Ainda que os tempos sejam de pouco envolvimento e disposição comunitária para com o governo congregacional, devemos manter a liberdade e oportunidade de todos quanto ao direito de participar. Claramente o governo da igreja neotestamentária era congregacional e demonstraram, em relação ao judaísmo, o rompimento das centralizações étnico, administrativo e geográfico se tornando igreja para todos os povos. 

d. Presença de Apóstolos e Bispos no meio batista - Importante compreender que nas Escrituras Sagradas os títulos não representam status, mas ofício de trabalho. Mesmo no caso dos apóstolos, a Bíblia aponta outros além dos 12 aplicando ao termo apóstolo o sentido de missionário, enviado. Todavia, é clara e explícita a condição exclusiva dos 12, para os quais houve o chamamento por meio de revelação especial, pessoal e pós-ressurreição da parte de Jesus Cristo e, neste sentido, não há outros. Outro ponto a ser considerado é que não havia no NT uma hierarquização entre apóstolos, bispos e presbíteros, mas sim, uma referência a funções exercidas na igreja de Cristo. Do mesmo modo, não há, portanto, legitimidade em fazê-lo agora. 

e. Membros com orientação homoafetiva - A Bíblia afirma amplamente que a prática homossexual é pecaminosa e é o que a igreja de Cristo deve reafirmar. Entretanto, não estabelece hierarquização entre pecados. Mesmo nas chamadas 3 listas de pecados abomináveis (I Co 3; Gl 5; Ap 22) a prática homossexual aparece ao lado (e não acima) de outros pecados que devem ser abandonados. Lembrando ainda que Deus ama o pecador e sempre quer tratar o pecado na Cruz de Jesus Cristo para perdão e restabelecimento do homem por completo. 

f. Pós-denominacionalismo - Reafirmemos o princípio batista de cooperação, de modo a não considerarmos saudável o conceito de que cada igreja é uma denominação à parte. 

g. Fim do monopólio do ensino e a multipertença - É importante reforçarmos o nosso foco no que tange a Palavra de Deus como fundamento e base da fé e a vida comunitária, e como relação de compromisso do tipo dar-receber. O espírito de clientela não condiz com o espírito corporativo da igreja nem coopera com sua missão, do mesmo modo, não existe uma só pessoa que seja desnecessária para o corpo de Cristo, o indivíduo é importante. Comunhão não é só relação cordial, mas, conforme o modelo da igreja primitiva é partir o pão, é contato pessoal, é presença, é regularidade. 

h. Casamento, divórcio e novo casamento - Deus instituiu o casamento e este é o seu ideal desde a criação, de modo que Deus odeia o divórcio, no sentido de que sempre é o pecado que leva ao divórcio e também no que diz respeito às consequências que ele causa. No entanto, embora o divórcio seja uma inovação humana fruto da dureza do coração, Deus o regulamentou sobre certas circunstâncias, de modo que, esta regulamentação dentro das mesmas circunstâncias deva ser respeitada. É preciso, portanto, reforçar o ideal de Deus sem demonizar a regulamentação que Ele mesmo estabeleceu. 

Levando em consideração a amplitude e complexidade dos assuntos abordados, consideramos que o congresso cumpriu seu propósito na medida em que ofereceu princípios que nortearão o dialogo e a ação a partir de fundamentos bíblicos e teológicos e ao mesmo de uma leitura sensível dos tempos, não ficando aquém ou além da Escritura e nem se tornando irrelevante para esta geração a qual fomos chamados a servir. 

Por esta razão, como congressistas e membros desta comissão, valorizamos a iniciativa da CBESP e propomos que eventos desta natureza continuem a ser realizados, afim de que, a unidade e identidade dos batistas sejam cada vez mais fortalecidas. 

Comissão do III Congresso de Eclesiologia. São Paulo, 25 de Junho de 2013. 

Pr. Marcos Antonio Peres - relator 
Pr. Pérsio Luiz de Moraes Santos 
Pr. Neilson Xavier de Brito
Pr. Jair Joaquim Salgueiro 

“Servir as Igrejas viabilizando a cooperação entre elas no cumprimento integral da sua missão”.

O ensino da política e da cidadania entre os Batistas brasileiros


Centro de Altos Estudos 
de Política e Cidadania

O ciclo de estudos tem por objetivo imediato apreciar temas relevantes, relacionados com filosofia, ciência, praticas políticas, fundamentados nos princípios bíblicos, de modo a formar e informar pessoas para a ação política e o exercício de uma cidadania consciente e responsável.


Temas Abordados:
Elementos Básicos de Filosofia e Ciência Política Aspectos importantes da práxis política
Ética e Política
Realidade Brasileira
A Bíblia e a Política



Aula Inaugural: 27/08 às 19:00 Início das aulas:03/09
Dia: 3a feiras das 19:30 às 22:30 
Três Módulos de 60 horas cada


Local: Colégio Batista Brasileiro 
Endereço: Rua Dr Homem de Melo,537 Informações: Secretaria do Colégio Telefone: 11 3874-6363

samedi 13 juillet 2013

A arte do namoro -- o amor é forte como a morte

"O amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado". Cântico dos Cânticos, 8.6-7.

Por que o amor é forte como a morte? É uma expressão estranha. Mas esta frase nos fala da durabilidade do amor. A morte não abandona aquele que agarrou. Mas a ideia é estranha, pois para nós o amor é para a vida. Salomão era um poeta e falou sobre a natureza da morte. O amor é forte como a morte, porque não abandona, não muda de opinião.

Tudo depende da nossa definição de amor. Muitos olham o amor como uma questão de sorte. Não é uma questão de sorte, mas antes da graça de Deus. O amor não é uma coisa, é uma atitude. O amor não morre, nós o matamos. O amor necessita de pequenas ações diárias, como por exemplo dizer "eu te amo."


Salomão fala dos prazeres do sexo dentro do casamento e o apóstolo Paulo usa a união sexual de homem e mulher como a imagem da união de Cristo e sua igreja. Seja ciumento do nome de Cristo, tenham zelo de sua privacidade.

Mas fazer amor não significa, necessariamente, renovar seus votos nupciais, pois o amor vai muito além do relacionamento sexual. Há outras formas de amar. Não se precisa esperar pelo aniversário de casamento para renovar votos. Fazer amor é renovar a cada dia a aliança que fizemos. É dizer: Eu dou-me inteiramente, eu sou seu e apenas seu. Sejamos inspirados pela paixão deste Cântico dos Cânticos. Ele vai nos ajudar a viver a exclusividade do amor forte como a morte, do ciúme como o fogo do Senhor e essa experiência será como o amor de Cristo pela Igreja.

Salomão diz que as muitas águas não podem afogar o amor. O amor será testado. Ninguém sabe os testes que teremos pela frente! Sabemos que somos limitados – e que esses testes acontecem devido às nossas imperfeições.

Não vamos cair na armadilha de exigir coisas antes do amor. Não caiamos na armadilha de pensar que podemos comprar o amor com bens materiais. Quem faz isso corre o risco de ser desprezado, porque não entendeu o que é o amor. O valor do amor excede tudo, porque é o valor do outro, que não tem preço. O Senhor deu-nos um presente infinitamente precioso -- marido, esposa.

O amor é forte como a morte, como o fogo do Senhor, e esse é o amor que devemos viver. Amar com este amor, forte, com ciúmes de quem reconhece a exclusividade da aliança que fizemos. O Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo, abençoa e guarda. E este amor é para toda a vida. E este relacionamento deve abençoar a muitos. Esta é a aliança do amor forte como a morte. Vamos nos lembrar disso para viver a arte diária do namoro!!

samedi 6 juillet 2013

Política e protestantismo ocupam as ruas


Reflexões sobre as mobilizações populares de junho de 2013
Jorge Pinheiro

Link resumo
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/4194

link artigo pdf
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/4194/3633

Mensagem do Presidente aos Batistas Brasileiros

lundi 1 juillet 2013

Os batistas brasileiros e as manifestações de junho de 2013

Gritos em todo o Brasil!

Arina Paiva
Editora de O Jornal Batista

Começa na cabeça de uma pessoa, compartilha com um grupo de amigos, convoca sua cidade pelas redes sociais, outras cidades ficam sabendo e compram a ideia, outros estados ficam cientes e compram a briga por sentirem as mesmas dores. Os jornais impresso, de telejornalismo, e rádio e internet noticiam, e a nação inteira adere o ato. A reivindicação inicial é soluciona, mas o povo tem uma lista enorme de outros motivos para protestar: saúde, educação, moradia, salário, respeito, políticas públicas. Como um rastro de pólvora, tudo o que estava engasgado se explode com pés, mãos, cabeça, vozes na rua. São cartazes, camisas brancas, gritos de protesto. A juventude que nasceu no final ou depois da ditadura e nunca viveu um movimento como este sai às ruas, e juntos levam todas as outras gerações que tem experiência em usar a voz e a força do povo.

A juventude batista que só comemorava os feitos que originaram sua veia protestante agora vivem o protestantismo. É uma geração aprendendo na prática o que já sabia na teoria, que é direito do cidadão protestar, e é dever do cristão lutar. É a juventude que vivia longe do mundo da política entendendo o dever de estar dentro do cenário político. “Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva” (Isaías 1:17). Diante dos acontecimentos também é necessário aprender a lutar com sabedoria, com palavras coerentes, com justiça divina, respeitando a opinião do outro, assim como seu direito. Quem quer paz, primeiro tem que dar paz; quem quer justiça, primeiro tem que oferecer justiça. E isso não se refere apenas do governo para com a população, mas como do cristão para com as pessoas que o cercam. Partindo da ideia de que agressão não é só física, mas moral também.

A internet, em especial as redes sociais, estão sendo o palco das manifestações. Depois da rua é claro! É onde frases soltas são jogadas, frases que humilham o evangelho, e o que é pior, frases feitas por evangélicos. As agressões estão indo além do físico, estão invadindo a moral. A Bíblia é deixada de lado para aqueles que querem falar sem pensar. O povo cristão precisa protestar, mas também precisa orar como em Salmos 120.2: “Senhor, livra-me dos lábios mentirosos e da língua traiçoeira!” Protesto sem sabedoria é agressão física ou moral.

Que Deus abençoe os batistas brasileiros com coragem de lutar por justiça e sabedoria para lutar.

A Mudança da Águia

A águia nos ensina uma importante lição sobre mudança. Num determinado momento de sua vida ela precisa sair de cena para passar por um processo muito doloroso de mudança. Ela começa a arrancar suas penas lentamente até ficar totalmente sem. Depois, ela começa a bater seu bico nas pedras até quebrá-lo por inteiro. Ai você pode perguntar-se, qual a relação disso tudo?

Pois bem, todo esse processo de dor termina com o crescimento de novas penas e de um novo bico, pois dessa forma ela poderá alçar voos bem mais altos e também, caçar e se defender com mais precisão. Ou seja, todo processo de mudança exige um sacrifício. Não é fácil mudar, mas é necessário.

E ai, está disposto a arrancar as penas e quebrar o bico?

Danilo Barbosa
Membro da Igreja Batista Betel – Santana

Administrativo CBESP

Brasil 3 x 0 Espanha, melhores momentos - Copa das Confederações

samedi 29 juin 2013

Bom é o que dá prazer

Uma pequena provocação filosófica

Baruch Spinoza, ou para nós Bento de Espinosa, defendia que a teologia representava o pensamento primitivo dos nossos antepassados pré-científicos. A procura das "causas finais" não levou a nada na compreensão da Natureza. Apenas quando a humanidade desistiu da maneira antropomórfica de pensar a geologia, física, etc., em termos de propósitos divinos, pode progredir no conhecimento da Natureza. Penso que a história provou que Spinoza tinha razão. Teorias teológicas como o supernaturalismo são cientificamente supérfluas. Por outro lado, o ataque de Spinoza era completo: não acreditava que o comportamento humano fosse explicado de modo diferente a outros na natureza. Não há liberdade nem responsabilidade no comportamento humano, pensou. O comportamento humano deve ser descrito em termos de causas mecanicistas, como os restantes fenômenos naturais. Para um naturalista determinístico tais como Spinoza bom é apenas uma palavra para descrever coisas que nos dão prazer e mal coisas que nos causam dor. 

Ligado ao que foi dito antes, esta nova experiência é marcada pelo prazer. O prazer de viver. Parece que esta tendência tenta superar a acentuação de uma teologia do pecado, com a consequente culpa infindável, que perpassa a tradição cristã. Aliás, de um certo ponto de vista a tradição cristã sempre terá este tropeço, uma vez que no seu mito de origem pesa sobre ela a sombra de um instrumento de tortura - a cruz - do qual pende o seu fundador. Mesmo sem negar o pecado e a culpa, uma nova tendência recupera o prazer de viver e saborear todas as frutas que a vida oferece - cajus, mangas, goiabas... sem medo de ter prazer! 


Fontes:
Naturalismo / brazil.skepdic.com/naturalismo.htm
Philosophical Materialism por Richard C. Vitzthum
Science and Religion: Some Historical Perspectives, John Hedley Brooke, The Cambridge History of Science Series (Cambridge University Press, 1991).


"Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita."   ("O que é o que é" de Gonzaguinha).

jeudi 27 juin 2013

Como posso fazer Teologia?

Fonte: Jorge Pinheiro, Teologia bíblica e sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012, pp. 15-20.

A pergunta acima nos remete a outra: o que é teologia sistemática? Antes de tudo, podemos dizer que traduziu através dos séculos a tentativa de organizar de forma ordenada as doutrinas da igreja cristã. Ou seja, entender o que faz do cristianismo uma fé diferente das outras religiões. Essas doutrinas, expressões da fé cristã, foram entendidas como afirmações das Escrituras sagradas, reveladas pelo Eterno a profetas e apóstolos. Essa busca de formatar um sistema coerente do que as Escrituras sagradas dizem da fé cristã, apesar de ser uma busca antiga, só foi, de fato, realizada pela primeira vez no século VIII, quando João Damasceno escreveu a sua Exposição da Fé Ortodoxa, onde apresentou os textos clássicos dos pais orientais.

A igreja latina fez algo pelo estilo, quando, no século XII, Pedro Lombardo coletou citações dos pais no livro Sentenças. Esse texto – Sentenças de Pedro Lombardo -- tornou-se então a base dos estudos sistemáticos na igreja medieval até Tomás de Aquino publicar a sua Suma Teológica. Com a Reforma protestante, no século XVI, surgiu com Felipe Melanchton (Loci Communes) e João Calvino (As Institutas da Religião Cristã) um repensar da teologia cristã, que ficaria conhecida como ortodoxia protestante. Essa ortodoxia marcou a história e a produção da teologia sistemática nos séculos seguintes, que só foram rompidas e questionadas – essa história e produção – no século XIX, quando se afirmou que a teologia está baseada em algumas doutrinas fundamentais.

Surgiu então uma nova interpretação, ou seja, uma nova hermenêutica da fé cristã, que teve como fundador o pastor Friedrich Schleiermacher. Este teólogo luterano, nos anos de 1820, disse que o centro da fé é a presença universal do Cristo, às vezes explícita, às vezes oculta, na humanidade. Tal presença dá a fé cristã uma consciência de total dependência. E, por isso, todas as nossas doutrinas deveriam ser entendidas como traduções desse sentimento de dependência. E foi assim, nessas construções através dos séculos, que chegamos aos temas principais da teologia sistemática: Escrituras sagradas; revelação; Trindade – Pai, Filho, Espírito --, o que desemboca na Cristologia e Pneumatologia; anjos e demônios; criação, ser humano; alienação e pecado; salvação; igreja; e as últimas coisas. Logicamente, o ser humano nos leva à antropologia bíblica; e as últimas coisas, à escatologia e apocalíptica. 

Esse é o nosso caminho, porém, entendemos que sem uma teologia que parta das Escrituras sagradas como Palavra do Eterno, que procure caminhar colada às formulações bíblicas, dentro da herança protestante ortodoxa, corremos o risco de fazer uma teologia sistemática excessivamente filosófica. E essa não é nossa intenção. Por isso, apresentamos três métodos de interpretação presentes na tradição protestante contemporânea, o método histórico-gramatical, o método histórico-crítico, e o método latino-americano da missão integral.

O método histórico-gramatical trabalha com quatro princípios: contextual, gramatical-literário, histórico e teológico. Reconhece a progressiva revelação do Eterno aos seres humanos, e vê os textos do Antigo e Novo testamentos como fundadores da teologia protestante ortodoxa.

O método histórico crítico nasceu a partir da concepção dialética de Hegel, passando pelos teólogos do século XIX, em especial Schleiermacher, tendo hoje fortes afinidades com a sociologia histórico-cultural. A pesquisa bíblica é aqui entendida como ato de reconstruir, direta e intencionalmente, a história do texto, que é vista como revelação, mas também humana e, por isso, histórica ao traduzir a experiência de fé de comunidades do Antigo e do Novo testamentos. Podemos sintetizar o método em cinco abordagens críticas: a redacional, que procura pesquisar o trabalho que os autores bíblicos, como redatores e editores, fizeram com os materiais que tinham à disposição. A narrativa, que estuda a ênfase que os leitores na comunidade de fé dão a uma narrativa em particular. Procura, assim, determinar o significado do texto, de acordo com a reação que a pessoa de fé, dentro da comunidade, tem quando lê. A canônica, que examina como os textos considerados inspirados foram utilizados pelas comunidades cristãs. A literária, que analisa os recursos literários utilizados pelos autores do Antigo e do Novo testamentos. A da forma, que consiste no estudo da história bíblica, mediante a análise das formas estruturais originais presentes em determinado texto. 

No método histórico-crítico a interpretação é entendida como mediação no seio da prática comunitária. A prática comunitária pode ser olhada, então, como ponto de partida e ponto de chegada da pesquisa bíblica. Daí decorre um método de interpretação que parte da prática comunitária onde o teólogo, feito profeta, se encontra inserido em realidades onde é desafiado a julgar e transformar, condição que deve levar a uma relação da compreensão do texto bíblico com o encaminhamento da solução dos problemas colocados pela vida na comunidade. Assim, a partir do método histórico-crítico cabe ao teólogo utilizar a revelação para viabilizar transformações na vida de pessoas e comunidades.

O método da Missão Integral partiu da hermenêutica histórico-crítica, mas teve uma preocupação fundante: compreender, julgar e transformar a realidade latino-americana. Ao se debruçar sobre os problemas da América Latina, como injustiça social e miséria, promoveu uma reflexão teológica contextual. Estrategicamente, propõe uma ação missionária que parta do ser humano real, latino-americano. Para isso, dialoga com as ciências humanas, entendidas como instrumento de análise e compreensão da vida latino-americana, e também com teologia da libertação. Embora faça a crítica do capitalismo neoliberal, assim como da teoria desenvolvimentista, e defenda a construção de sociedades solidárias, tem uma preocupação marcada: a preservação do evangelho bíblico. Nos últimos anos, tornou-se uma referência acadêmica nos seminários e faculdades de teologia brasileiros, por trazer a realidade latino-americana para as reflexões sobre a teologia bíblica e sistemática. Dessa maneira, o método da Missão integral tem marcado presença nos estudos da Bíblia, na reflexão missiológica e, por extensão, na própria educação teológica. 

Ao invés de opor um método ao outro, creio que os três se correlacionam e possibilitam novas reflexões nos estudos da Bíblia, mas também responder aos desafios da vida real de nossas comunidades. E, dessa forma, o imbricamento entre teologia sistemática e teologia bíblica permite ao leitor um olhar dialético, porque se a teologia sistemática está relacionada à filosofia e faz um caminho dedutivo, indo do geral ao particular; a teologia bíblica é indutiva, caminha do particular em direção ao geral. Ao analisarmos uma doutrina temos sempre uma universalidade de leitura, mas também uma especificidade de leitura, o que nos possibilita pensar a teologia como balizamento para o viver diário. 

Dentro da herança cristã temos várias teologias bíblicas e mesmo sistemáticas, que traduziram maneiras confessionais de entender a fé cristã. Tomamos como ponto de partida a teologia da ortodoxia protestante, que parte dos pais reformadores, sem esquecer as leituras apresentadas pelos reformadores radicais do século XVI e, depois, no século XX, pelos teólogos dialéticos. 

E voltamos à pergunta do título do capítulo: como podemos fazer teologia? Quais princípios metodológicos norteiam nossa pesquisa teológica? Essas duas perguntas, que podem parecer difíceis, a partir do que vimos, podem ser respondidas assim:

Tomamos como princípio arquitetônico, fundante da teologia, a doutrina da revelação, ou seja, as Escrituras sagradas como base e eixo da fé cristã. E tomamos como princípio hermenêutico, os métodos acima descritos, entendendo, porém que as hermenêuticas são produtos da razão, que se expressam enquanto universalidade do senso comum; enquanto ordenação e sistematização do pensamento; e enquanto analise dos fenômenos da realidade que nos cerca.

Essas opções metodológicas norteiam nossas pesquisas teológicas, embora estejamos conscientes de que no correr da história da teologia foram construídas diferentes compreensões do fato teológico. E por que? Porque dependemos sempre do que colocamos como base da estruturação geral da revelação. Por exemplo, será a aliança, a justiça ou amor? E porque entendemos que partimos sempre de uma ou de múltiplas visões filosóficas que podem ser utilizadas como instrumentos de interpretação da essencialização da vida . É por isso que se diz: a ideologia define a hermenêutica. Aqui reside a dificuldade -- toda teologia é transitória, pois reflete um momento de compreensão da substância católica e da essencialização da vida. 

No Manual de Teologia Bíblica e Sistemática utilizamos o Cristo lido a partir dos Evangelhos como referencial hermenêutico para pensar o Deus da fé cristã, tendo consciência de que assim fazendo não teremos todas as respostas, mas aquelas centrais para a vida. E recorremos ao Cristo também para compreender o ser humano. E fazemos assim, porque Cristo está no centro da fé cristã. Ele é divino e humano, ele revela o Eterno e o ser humano. E se Cristo é esta palavra sobre o Eterno, que fala às pessoas, é a comunicação de um Deus que se fez humano porque ama a humanidade.




A igreja brasileira e os desafios contemporâneos

Como fazer a diferença no Brasil neste século 21

Vou sintetizar o que quero dizer e depois a gente desenvolve essas idéias. Diria que em relação ao passado devemos ser conservadores; em relação ao presente devemos ser criticamente contextuais, contemporâneos e conterrâneos; e em relação ao futuro, revolucionários.



Esses desafios de vida evangélica para a igreja brasileira nascem da própria experiência profética. Os profetas clássicos do Antigo Testamento eram ao mesmo tempo revolucionários voltados para o passado e conservadores impulsionados pela paixão do futuro. Nada faziam sem invocar a tradição. No entanto, suas mensagens apontavam para os tempos futuros. Os profetas sabiam servir-se do passado para a crítica do presente. Todos tinham uma coisa em comum: uma atitude realista. E ao contrário dos profetas falsos interessavam-se pelo concreto do presente: eram contextuais, contemporâneos e conterrâneos. Não viviam envoltos em véus de ilusões e, por isso, condenavam o palavreado inútil e a eloqüência abstrata. Mas, a pregação do futuro não constituía o essencial de seus ministérios, eram antes fruto e resultado do conhecimento do mundo, de suas contradições e possibilidades. 

Se partirmos dessa compreensão, podemos dizer que nosso compromisso com o passado é a manutenção de nossas heranças, da qual a Palavra de Deus é a principal delas. Guardamos, estudamos, refletimos sobre o que diz e transmitimos àqueles que não conhecem o rico passado que nos deu origem. Não negamos nossas origens, sabemos de onde viemos e devemos ser maduros para entender o que fizemos de certo e de errado na história. Ao compreender assim o passado, dizemos que no correr dos séculos existiram homens e mulheres que interpretaram a situação espiritual de suas épocas. Eis aqui o ponto de intersecção entre a manutenção do passado e o tempo presente: a inquietude e o descontentamento em relação aos acontecimentos sociais e religiosos concretos.

Nesse sentido, deveria existir busca semelhante de respostas àquelas dos antigos profetas e a ação consciente dos líderes evangélicos e da igreja. Como os profetas deveríamos concretamente representar nossas comunidades, nossa terra brasileira, nosso mundo. Mas, ao lado das organicidades contextual, contemporânea e conterrânea, precisamos exercer autonomia em relação às pressões sociais, já que é dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo presente.

E se compreendemos que não basta o exame da situação espiritual do presente como totalidade e permanência para fazermos diferença e transformarmos o mundo, é necessário entender as exigências lançadas adiante e, nesse sentido, ir além do próprio presente.

Ora, se o presente não pode ser apreendido apenas a partir do passado e de sua conservação, porque se procuramos a transformação do mundo, se estamos envolvidos com a construção do Reino de Deus, esse fazer não pode repousar exclusivamente na experiência da conservação. Porém, ser contextual, contemporâneo e conterrâneo não significa negar a existência de alternativas diferentes daquelas expressas pelo presente. Quando analisamos a ação dos profetas em relação ao presente, vamos constatar que eles não testemunhavam em benefício do presente. Eles diziam não ao presente. Mas esse não era um não abstrato, era um não concreto, que partia da militância contextual, contemporânea e conterrânea deles. Isto porque só através dessa condenação concreta e real do presente podemos, de fato, denunciar os símbolos das forças demoníacas no presente, que no caso do Brasil são as exclusões: social, racial, de gênero, entre outras.


E é a partir dessa compreensão do que significa estar envolvido com o presente para ir além dele, que podemos falar do futuro, não de um futuro vazio, mas de um futuro construído a partir de novos conteúdos.

Esse futuro deve ser momento concluído, tempo e lugar onde a própria eternidade se faz agora e aqui. Repare, o futuro construído pela manutenção do passado, pela crítica contextual, contemporânea e conterrânea do presente não é um futuro qualquer, mas momento novo e pleno: é um futuro onde se completa aquilo que é significativo.

Esses desafios, em especial o da relação da conterraneidade com o Reino de Deus, repousam sobre o principio protestante. Este princípio central do protestantismo é a doutrina da justificação pela graça apenas, significando que nenhuma pessoa ou comunidade humana pode reivindicar para si a dignidade divina em conseqüência de conquistas morais, de poder sacramental, de sua santidade ou de sua doutrina. Conseqüentemente, a liberdade profética precisa sempre criticar, condenar e transformar o status quo ou os sistemas morais, políticos e sociais que se consideram sagrados. Cada evangélico, e aqui prefiro usar a expressão protestante, tem que decidir por si próprio se determinada conjuntura, doutrina ou sistema social é verdadeiro ou falso, se os líderes existentes em seu meio são verdadeiros ou falsos e se o poder estabelecido é divino ou demoníaco. Para os protestantes tal decisão será sempre pessoal.

Esses são os desafios protestantes, entendidos como expressão crítica e livre, para a igreja brasileira e seus líderes. Nesse sentido, é bom lembrar que onde se proclama o poder do Cristo e onde se denuncia as situações-limite que ameacem o sentido da vida, aí está o protestantismo no seu sentido mais profundo e abrangente.

Do amigo e colega,
Jorge Pinheiro