mercredi 12 octobre 2011

Ainda que a figueira não floresça

mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador” (Habacuque 3.18).

Ele é o homem do abraço carinhoso, de coração generoso, que carrega quem sofre no colo. Esse Habacuque procura uma profecia de conforto, que dê ânimo ao povo, como se faz com uma criança que chora. Mas não é isso que acontece.

Habacuque reclama da decadência moral dos judeus e lamenta. E quando o Eterno informa que mobilizará os caldeus para exterminar a apostasia, estarrecido Habacuque diz ao Eterno que os caldeus são piores do que os judeus, que são traiçoeiros, e destroem tudo que encontram pela frente. Idolatram sua própria força e capacidade militar, ao invés de dar glória ao Eterno.

Habacuque, porém, sabe que o Eterno é puro de olhos e, por isso, espera a solução que virá dele. No entanto, está perplexo, a justiça do Eterno para com os inimigos caldeus e os judeus apóstatas não virá como fogo do céu, exclusivamente sobre os pecadores, mas como tsuname que avançará sobre inimigos e apóstatas e sobre todos. E o justo não surfará sobre essa maré de destruição -- deverá repousar apenas na sua fé.

Agradecimento, confiança e oração são as chaves espirituais para desvendar os mistérios do governo do Eterno sobre a terra. O espírito de Habacuaque e de seus irmãos vacilam entre o medo e a esperança, mas ao final os julgamentos do Eterno triunfarão alegremente.

Muitas vezes, quando falamos de crise entre as nações, ou de dor e sofrimento entre os cristãos, nos perguntamos se o Eterno está preocupado com essas coisas. A resposta para essas questões estão presentes no rolo de Habacuque. O profeta do primeiro testamento ensina que as nações e os povos são julgadas pelo bem e pelo mal que produzem no mundo. E que esses juízos muitas vezes atingem também os filhos de Deus.

Conhecedor da alienação de Judá e consciente de que os caldeus invadiriam seu país, Habacuque sofre diante do que acontecerá ao seu povo. O profeta ora ao Senhor (3.1-19) e pede que Ele tenha misericórdia no exercício da sua justiça.

E foi assim, num momento extremo de dor, que Habacuque compôs o final do seu livro, o capítulo três, que é um dos poemas mais lindos do primeiro testamento. Nele o profeta mostra que toda a glória e todo o louvor pertencem a Deus.

Glória pelo que Ele é: misericordioso. O Eterno não vem só para julgar, mas também para livrar. “Mesmo que estejas irado, tem compaixão de nós” (3.2).

Glória por sua majestade. Devemos aceitar a sua justiça, não porque entendemos ou deixamos de entender, mas porque Ele é o Eterno e nós somos pó. “Ele pára e a terra treme. Ele olha para as nações e elas ficam com medo” (3.6).

Glória por nos manter firmes na adversidade. Lembre-se: ainda que a figueira não floresça, que não haja uvas nas parreiras, que os campos não produzam alimentos e que o rebanho seja exterminado, Ele está ao seu lado. “O Deus Eterno é a minha força. Ele torna o meu andar firme”. (3.19).

Após as manifestações do Eterno no passado da história do povo, Habacuque canta, agora, a libertação antecipada contra o inimigo, através da interposição da majestade sublime do Eterno, de modo que aquele que crê pode regozijar-se no Eterno da sua salvação. Assim, o capítulo três, um salmo composto para ser cantado e acompanhado por instrumentos, fecha o livro com um lirismo cheio de esperança.

A violência aparentemente bem-sucedida dos caldeus, a apostasia dos judeus, e a maré da justiça de Deus, que varre a Palestina, é o pano de fundo para esse profeta de coração generoso falar de esperança e dizer que o justo viverá por sua fé, hn"Wma/ (emuná), por seu posicionamento consciente e fiel diante da vontade soberana do Eterno.

Por isso, querido irmão, querida irmã, como Habacuque não se esqueça: quando tudo parece perdido, com Deus ainda não está perdido. Quando chegamos ao final de nossos recursos, os recursos de Deus ainda estão disponíveis. E quando a crise, a dor e o sofrimento nos encurralam, precisamos olhar para o alto, porque é Ele quem torna o teu andar firme como o de uma corça e quem te leva para as montanhas, onde estarás seguro (3.19).

Que a fé de Habacuque sirva de exemplo para você e para mim. Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

 

Eu, você e o eterno

O humano herdou do Eterno nomeado sistemas que possibilitam o relacionamento com a transcendência e viver a presença dessa transcendência na existência material. A imagem do eterno tem um poder extraordinário. Ela afeta a psique do humano com tal força que, diante dela, nos perguntamos: esse imagem é real? E perguntamos isso porque está nomeado que só um é eterno, pai de todos, que está acima de todos e que atua através de todos e em todos (Ef 4.6). Donde, outra questão nos é colocada: somos ou não proprietários do poder? O humano tem o desafio de vencer obstáculos e construir a existência, herdou potencialidades. Não é proprietário do poder do Eterno nomeado, mas não nasceu tabula rasa, deve construir consciência. Trouxemos sistemas que nos possibilitam ser humanos. Somos imago Dei.

Quando olhamos para o humano percebemos que o transcendente é fundante, porque as imagens ancestrais estão relacionadas com a construção da consciência. Ou seja, devemos trabalhar pelo que permanece e que é entregue pelo eterno
(Jo 6.27). Temos, por isso, que descobrir as leis eternas, mas intuímos que, em última instância, brotam da união da transcendência presente nas bordas da existência com o Eterno nomeado. Ou seja, em relação ao Eterno, o humano tem a capacidade de integrar a eternidade no modelo da existência.

O Eterno se identifica com as imagens nomeadas, é espírito de conhecimento e sabedoria que atrai
(Ef 1.17), mas tais imgens nomeadas nem sempre estão conscientes e vivas na existência pessoal. Isto é um perigo, porque a identificação não consciente leva à idolatria, fica-se amarrado por dentro, sem usufruir da possibilidade de saltar do mundo interior em direção à transformação da realidade que alucina.

Quando o eterno não potencializa efetivamente a consciência humana, nem experimentamos o processo de individuação que faz de nós imago Dei, que nos leva ao confronto entre as realidades do que está dentro com o que está fora, não usufruimos do que está nomeado e deve ser construído. Embora a decisão da eternidade é que sejamos filhos, pois fomos gerados por ela em por issom devemos destuir o que é de barro
(Sl 2.7-9). Quando essa construção não se dá, somos sombra. Somos sem destino.
 
O desenvolvimento da consciência retoma as características do Eterno nomeado, pois a todos
foi dado as ferramentas necessárias (Ef 4.7) que possibilitam a construção da relação do que é pessoal com o que é eterno. Isso é desenvolvimento humano. Quando a transcendência brota nas vidas temos consciência dos perigos da existência. E o espírito humano parte para o desafio de criar estruturas para suportar tanto a realidade interna como a realidade externa, a fim de identificar os demônios que querem nos lançar nas profundezas do mar infinito.

O espírito humano deve construir estruturas de diálogo entre as alegrias e as angústias da existência, pois
não há nada melhor do que gozar o resultado daquilo que se faz. Essa é a recompensa (Ec 3.22). Céu e terra é correlação necessária, porque na presença do eterno que se faz consciente a liberdade humana é polaridade, é viver a vida diante da tirania do não-ser.

lundi 10 octobre 2011

Lendo Oséias com Calvino -- capítulo três

O capítulo três completa a metáfora da vida familiar de Oséias.
“Deveras, o Profeta quer dizer que Deus se antecipa a nós com sua mercê; caso contrário, temos o nosso acesso a ele tolhido. Então Deus, de sua boa vontade, adianta-se, estende-nos sua mão e, em seguida, vem o consentimento da nossa fé. Por essa razão Deus, primeiramente, fala aos israelitas, para que eles soubessem que eram agora reputados por povo dele: e então, após Deus haver testificado seu favor, eles respondem: ‘Tu começastes, de agora em diante, a ser nosso Deus’. Por isso, vemos que o princípio de todo bem vem de Deus, quando ele faz de estranhos, amigos, e adota como seus filhos aqueles que outrora eram seus inimigos”. (João Calvino, Comentário de Oseias, cap. 3).

“A essência desse capítulo é que era propósito de Deus guardar, em firme esperança, as mentes dos fiéis durante o exílio, para que não fossem engolfados com desespero que os desfalecesse de todo. O Profeta falara antes da reconciliação de Deus com o seu povo; e ele, esplendidamente, exaltara tal favor quando disse: ‘Vós sereis como no vale de Acor, eu restituirvos-ei a abundância de todas as bênçãos; em uma palavra, vós sereis, em todos os aspectos, felizes’. Mas, no meio-tempo, a miséria cotidiana do povo prosseguia. Deus, de fato, tinha determinado removê-los a Babilônia. Eles podiam, por conseguinte, ter se desesperado sob aquela calamidade, como se toda esperança de libertação lhes fosse inteiramente retirada. Por isso, o Profeta agora revela que Deus restauraria o povo à mercê, de modo que não apagaria imediatamente toda lembrança da ira dele Deus, mas que a intenção era continuar, por um tempo, com certa medida da severidade divina”. (João Calvino, idem, op, cit., cap. 3).

"O Senhor disse-me: ´Ama essa mulher, mesmo que seja amante de outro e viva em adultério. Faz como eu, o Senhor, que amo os israelitas, apesar de se voltarem para outros deuses, desejosos das tortas de uvas´." (v. 1)

Deus mandou que Oséias tomasse de volta a sua esposa, bhea' (aheb) porque Ele tem amor, carinho, amizade por seu povo, por isso  mesmo depois do pecado de idolatria, arrependimento, perdão e reconciliação são possíveis.

"Recuperei então a minha mulher por quinze moedas de prata e seiscentos litros de cevada". (v. 2).

Oséias obedeceu, comprando de volta a sua mulher. O valor pago equivale o valor de uma escrava.

"Mas se o boi matar um escravo ou uma escrava, o boi será apedrejado até morrer e o senhor do escravo ou da escrava, receberá do dono do boi trinta moedas de prata".  (Ex 21:32).

"Por isso lhe digo: ´Viverás comigo por muito tempo. Não pratiques a prostituição, nem te entregues a homem algum. E eu farei o mesmo para contigo´." (v. 3)

Oséias e Gômer não voltaram imediatamente a ter relações conjugais. Ele esperou para ver se ela ficaria longe dos amantes. Não cometeria mais hn"z" (zanah) adultério, fornicação, prostituição.

"Também o povo de Israel ficará por muito tempo sem rei e sem chefes, sem sacrifícios e sem monumentos religiosos, sem insígnias nem dados para oráculos". (v. 4).

Em relação à nação, Deus deixaria o povo sem liderança e sem as coisas necessárias para adorá-lo segundo a lei. Ao mesmo tempo, ficariam sem os ídolos.

"Mais tarde, o povo de Israel voltará a procurar o Senhor, seu Deus, e o descendente de David para seu rei. No futuro, procurarão com todo o respeito o Senhor e os seus favores". (v. 5)

No final, Israel seria reconciliado com Deus. Este versículo se refere à restauração espiritual do povo na nova Aliança. Davi simboliza o Cristo. Os últimos dias se referem à época do novo Testamento. Por meio do Senhor, Israel espiritual se aproxima do Senhor.

"Pois pela fé que vos une a Jesus Cristo säo todos filhos de Deus. Com efeito, todos os que foram batizados em Cristo revestiram-se das qualidades de Cristo. Näo há diferença entre judeus e näo-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homem e mulher. Agora constituem um todo em uniäo com Cristo Jesus. E se säo de Cristo, entäo säo descendência de Abraäo e herdeiros de acordo com a promessa". (Gl 3:26-29),

O povo retorna, mas ainda não está em plena comunhão com o Eterno. Assim o profeta indica um tempo entre a volta do cativeiro e a vinda de Davi (o Cristo) para fazer paz entre o povo e o Eterno.

NONA DISSERTAÇÃO

“Temos agora que considerar a segunda oração, acerca do Rei Davi. O Profeta nos diz que, quando os israelitas forem movidos pelo desejo de buscar a Deus, eles também buscarão a Davi, rei deles. Haviam se apartado, como é bem conhecido, da sua lealdade a ele; conquanto Deus houvesse posto Davi sobre todo o povo por este motivo — para que fossem todos felizes debaixo de seu poder e domínio, e permanecessem a salvo e seguros, como se contemplassem a Deus com seus próprios olhos; pois Davi era, por assim dizer, o anjo de Deus. Então, a revolta do povo, ou das dez tribos, era como uma renúncia ao Deus vivo. O Senhor disse a Samuel: ‘Não foi a ti que desprezaram, mas a mim’ (1Sm 8.7): caso pior ainda com respeito a Davi, a quem Samuel, a mando de Deus, ungira, e a quem o Senhor honrara com tantos elogios notáveis; eles não podiam ter repelido o jugo dele sem rejeitarem abertamente, por assim dizer, ao próprio Deus. Por essa razão, não é sem fundamentos que Oséias, falando da penitência do povo, menciona isto de maneira inequívoca — que eles retornarão a Davi, rei deles: pois não podiam buscar a Deus de coração sincero sem se sujeitarem àquela autoridade legal à qual estiveram presos, não por homens, nem por acaso, mas por ordem de Deus”.

“É absolutamente verdadeiro que Davi era então morto; porém, Oséias aqui expõe, na pessoa de um homem, aquele reino eterno que os judeus sabiam que duraria como o sol e a lua: pois bem conhecida lhes era esta indescritível promessa: ‘Enquanto o sol e a lua brilharem no céu, eles serme-ão fiéis testemunhas, para que o trono de Davi continue’ (Sl 72.5,18). Por isso, após a morte de Davi, o Profeta mostra aqui que seu reino seria para sempre, pois ele sobrevivia em seus filhos; e, como parece, inegavelmente, eles normalmente chamavam seu Messias o filho de Davi. Devemos agora, necessariamente, vir a Cristo: pois Israel não podia procurar seu rei, Davi, que estava morto há muito tempo; mas teriam de buscar aquele Rei que Deus prometera da posteridade de Davi. Tal profecia, então, sem dúvida se estende a Cristo: e fica manifesto que a única esperança de o povo ser reunido era esta, que Deus atestasse que daria um Redentor”.

“Percebemos agora, então, o que o Profeta tinha em vista: os israelitas se tornaram degenerados; e, pela perfídia, deixaram de ser o verdadeiro e genuíno povo de Deus, já que continuavam apartados da família de Davi. O Profeta, falando da plena restauração deles, agora associa Davi com Deus; pois eles não podiam ser restaurados ao corpo da Igreja sem se unirem com os judeus na glorificação da mesma cabeça única. Contudo, precisamos, ao mesmo tempo, lembrar que o rei, a quem o Profeta menciona, não é Davi, que há muito estava morto, mas seu filho, a quem a perpetuidade de seu reino fora prometida”.

“Tal doutrina é especificamente útil para nós; pois ela demonstra que Deus não é para ser procurado exceto em Cristo, o mediador. Qualquer um, então, que abandona a Cristo, abandona o próprio Deus; pois, como João diz: ‘Aquele que não tem o Filho, não tem o Pai’ (1Jo 2.23). E os fatos mesmos provam isso; pois Deus mora na luz inacessível; quão grande, então, é a distância entre nós e ele? A não ser que Cristo, então, apresente-se a si mesmo para nós como uma pessoa intermediária, como podemos nós ir a Deus? Mas então, somente começamos a realmente procurar Deus quando voltamos nossos olhos a Cristo, que voluntariamente oferece a si mesmo para nós. Esse é o único caminho para se buscar a Deus de maneira acertada”.

“Alguns, com mais refinamento, disputam que Cristo é Jeová, porque o Profeta diz que ele é para ser procurado de nenhum outro modo que Deus não o seja. Pela palavra, procurar, o Profeta deveras quer dizer que os israelitas não possuíam nenhum outro meio de estarem a salvo e seguros senão fugindo para debaixo da tutela e proteção do legítimo rei deles, a quem sabiam haver sido divinamente ordenado por eles. Isso, pois, não seria suficiente para confutar os judeus. Eu interpreto a passagem de uma maneira mais simples, como significando que eles buscariam o seu Deus na pessoa do rei, cuja mão e esforços esse tencionava empregar na preservação do povo”.

“Segue-se mais adiante: E eles temerão Jeová e sua bondade nos últimos dias. O verbo djp, pachad, algumas vezes significa: temer, ficar apavorado como aqueles que estão tão aterrados que perdem toda a coragem. Porém, aqui deve ser tomado em um bom sentido, recear, como se afigura evidente pelo contexto. Depois, ele diz: Eles temerão Deus e a sua bondade. Os israelitas antes sacudiram o jugo divino: pois foi uma prova do petulante menosprezo deles erigir um novo templo; inventar, de sua própria volição, uma religião nova; e, em uma palavra, permitirem a si próprios uma desenfreada licenciosidade. Por isso ele diz: Eles, a partir de agora, começarão a temer a Deus, e persistirão no serviço dele”.

“E ele acrescenta, e sua bondade; pela qual ele quer dizer que Deus não seria receado por eles, mas que esse docemente os atrairia para si mesmo, para que obedecessem espontânea, livre e, ainda, jubilosamente: e, indubitavelmente, Deus então nos faz sim realmente temê-lo, quando nos concede uma amostra de sua bondade. Pois a majestade divina infunde-nos terror; e nós, no meio tempo, buscamos lugares escondidos; e, caso nos fosse possível apartar dele, cada um de nós faria isso de forma contente; mas não é adorar a Deus com a devida glória quando fugimos para longe dele. É, então, um senso de sua bondade que nos leva a reverentemente temê-lo. ‘Contigo’, diz Davi, ‘está o perdão, para que possas ser temido’ (Sl 130.4): pois, a não ser que os homens saibam que Deus está pronto para ficar em paz com eles, e se sintam seguros de que ele lhes será propício, ninguém o procurará, ninguém o temerá, pois, sem conhecer isso, não poderíamos senão desejar que sua glória fosse abolida e extinta, e que ele ficasse destituído de autoridade, para que não se tornasse nosso juiz. Mas todo aquele que provou da bondade do Senhor, assim ordena a si próprio para obedecer a Deus. O que o Profeta, então, tem em vista quando diz, eles então temerão a Deus, é isto, que compreenderão que ficaram miseráveis enquanto estiveram alheados dele, e que a verdadeira felicidade é se submeter à sua autoridade”.

“Mas, ainda, tal bondade tem que ser alusiva a Cristo. Alguns tomam wbwf, thubu, por glória, como em Êxodo 33; mas o nexo dessa passagem exige que a palavra seja tomada em seu sentido próprio. E a bondade divina, sabemos, é para ser exibida em nós em Cristo, para que nenhuma partícula dela seja procurada em nenhum outro lugar: pois dessa fonte devemos extrair tudo o que se refira à nossa salvação e felicidade de vida. Que, então, saibamos que Deus não pode ser de coração adorado por nós, senão quando o contemplamos na pessoa de seu Filho, e sabemos que ele nos é um Pai amoroso: por essa razão, João diz: ‘Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai’ (Jo 5.23)”.

“Por fim, ele adiciona, no fim dos dias; pois o Profeta queria outra vez fazer lembrar aos israelitas do que ele dissera antes — que eles precisavam de longa aflição, pela qual Deus, gradativamente, reforma-los-ia. Ele então mostra que a perversidade deles era tal, que não seriam trazidos logo a uma mente direita: mas que isso seria no fim dos dias. Ao mesmo tempo, ele consola as mentes dos piedosos, para que eles, pelo cansaço, não ficassem desfalecidos: pois, conquanto não experimentassem de início a bondade divina, o Profeta os lembra de que não havia nenhuma razão para desespero, porque o Senhor manifestaria sua bondade no término dos dias”.

“Podemos acrescentar que tal término de dias teve seu início no retorno do povo. Quando a liberdade foi outorgada aos judeus, para retornarem ao seu país, foi o término ou plenitude de dias de que o Profeta fala. Mas uma série contínua do retorno do povo até à vinda de Cristo precisa, ao mesmo tempo, ser percebida; pois o Senhor, ali, executou mais completamente o que declara aqui por seu Profeta. Por isso, em toda parte na Escritura, em especial no Novo Testamento, a manifestação de Cristo é colocada nos últimos tempos. Esse capítulo está agora explicado” (João Calvino, op. cit., cap. 3)..

mardi 4 octobre 2011

Lendo Oséias com Calvino - capítulo dois

Oséias 2:2-23
Tão numeroso: a população dos filhos de Israel faz parte de uma das três promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó (ver Gn 12,2; 22,17; 26,4; 28,14). Porque chegou o dia de Jezrael: anuncia a dialética (v.1) do título Jezrael: o Eterno semeia versus o Eterno espalha. O dia de Jezrael é o dia da alegria ou dia de desespero.

O Eterno entrou em processo contra o  povo: Os 4,1; 12,3; Is 1,18; 3,13-15; Mq 6,1-2. Prostituição: a idolatria é prostituição e a infidelidade é adultério (Os 1,2; Jr 2,20; 3,1; 5,7; 13,27).

Oseias 2.2-8  2 Então Judá e Israel hão-de ficar de novo unidos; escolherão um único chefe e hão-de levantar-se do abismo, porque chegou o grande dia de Jezrael 3 Chamem aos vossos irmãos Meu-povo e às vossas irmãs Bem-amada." 4 "Acusem Israel, vossa mãe, acusem-na, pois ela já não é minha mulher e eu já não sou seu marido. Que ela retire do rosto as marcas da sua prostituição, e do peito, os sinais do seu adultério 5 De contrário, vou deixá-la completamente nua e mostrá-la como no dia em que nasceu. Transformarei a sua terra em deserto e terra seca, e farei com que morra de sede. 6 Não terei amor pelos seus filhos, porque são filhos duma prostituta, 7 uma vez que a sua mãe se prostitui e leva uma vida vergonhosa. Ela mesma dizia: "Vou ter com os meus amantes, aqueles que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e o meu vinho." 8 Por isso, vou tapar-lhe o caminho com uma sebe de espinhos, e cercá-la de um muro para não encontrar o caminho.

O Eterno tinha motivos para repudiar Israel: as prostituições e adultérios – idolatria. Ele, porém, gostaria de poupá-lo. Para fazer isso, teria que haver arrependimento. O Eterno está disposto a perdoar, mas a falta de arrependimento impede a comunhão.

Isaías 59.1-2  “Não pensem que o braço do Senhor é muito curto para vos salvar, e que o seu ouvido é surdo para vos escutar! 2 São as vossas faltas que cavam um abismo entre vós e o vosso Deus; são os vossos pecados que o levam a desviar o olhar, para não atender os vossos pedidos”.

Caso Israel não se arrependesse, o Eterno o deixaria sofrer as conseqüências da alienação. A terra secaria e os filhos sofreriam.

Quando Israel foi atrás de amantes (ídolos), achou que eles fossem a fonte das sua prosperidade. O inimigo e seus servos (o mundo, a carne e o diabo) oferecem atrações. Pessoas acham que os benefícios do erro justificam os riscos. Pode haver prazeres, lucros, mas o preço é mais alto do que os benefícios. "Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?" (Jr 5.31).

O Eterno, como marido, impediu o acesso de Israel aos seus amantes, dando-lhe motivo para voltar e buscá-lo. Felizes são os que enxergam a realidade e voltam! Não foram os amantes e sim o próprio Senhor que sustentava Israel, mas ele tomou as coisas que o Eterno lhe dera e as usou para servir baal.

“O Profeta, neste versículo (v. 2), parece se contradizer: pois ele prometeu reconciliação e, agora fala de um novo repúdio. Essas coisas, juntas, não parecem concordar bem com Deus abraçar novamente, ou estar desejoso de abraçar, em seu amor, aqueles a quem antes rejeitara — e que enviasse, ao mesmo tempo, uma carta de divórcio e renunciasse ao laço matrimonial. Mas, se ponderarmos o desígnio do Profeta, veremos que a passagem é muito coerente, e que não há contradição alguma nas palavras. Ele, de fato, prometeu que, em uma época futura, Deus seria propício aos israelitas: mas, como não haviam ainda se arrependido, era preciso lidar, outra vez, mais severamente com eles, para que retornassem a seu Deus real e cabalmente subjugados. Assim, vemos que, na Escritura, promessas e ameaças estão junta e retamente misturadas. Pois, caso o Senhor passe um mês inteiro vituperando pecadores, é capaz de eles, nesse período, rebelarem-se uma centena de vezes. Por isso Deus, depois de mostrar aos homens seus pecados, adiciona alguma consolação e modera a severidade, para que eles não se desanimem: em seguida, ele volta outra vez à ameaça, e assim o faz pela necessidade; pois, embora os homens fiquem terrificados com o temor da punição, todavia, não se arrependem. É necessário que eles, então, sejam repreendidos não apenas uma vez ou outra, mas com muita freqüência”. (João Calvino, Comentário sobre Oséias, pp 46-47)

Ezequiel 16 apresenta uma versão desta história, só que a esposa em Ezequiel é Judá e não Samaria.

Oseias 2:9-13   9 Procurará conquistar os seus amantes, mas não o vai conseguir, andará atrás deles e não os encontrará. Então dirá: "Vou regressar ao meu primeiro marido, porque eu era bem mais feliz então do que agora." 10 Ela não compreendia que era eu quem lhe dava o trigo, o vinho e o azeite, o ouro e a prata em abundância, de que se servia para o culto a baal. 11 Por isso, vou tirar-lhe o meu trigo, no tempo da ceifa e o meu vinho, no tempo das vindimas. Vou-lhe retirar a minha lã e o meu linho, para ela ficar completamente nua. 12 Vou deixá-la nua e envergonhada diante dos seus amantes, e ninguém mo impedirá de o fazer. 13 Vou pôr fim às suas alegrias, às suas festas, às celebrações da lua nova, aos seus sábados e a todas as outras solenidades.


Quando Israel insistiu em praticar a idolatria, o Eterno decidiu castigá-lo.
  • As bênçãos deixaram de ser derramadas (9).
  • Israel ficou exposto e os povos viram sua pobreza (10).
  • Perderam a alegria da comunhão, as festas e os sábados, devido à infidelidade.(11)
  • Israel perdeu tudo que ganhara antes (12).
  • O povo sofreu, conforme o tempo em que andou na idolatria (13).
  •  
As conseqüências trágicas da alienação são os resultados naturais do distanciamento. O Eterno  parou de cuidar da nação e Israel sofreu nas mãos dos amantes. O mundo ensina lições quando a pessoa escolhe a alienação (Lc 15.11-32).

Deus amava Israel, mas o deixou sofrer para chegar ao arrependimento necessário à reconciliação.

Oseias 2:14-25  14 Devastarei as suas vinhas e as suas figueiras, das quais ela dizia: "Esta é a paga que me deram os meus amantes." Farei delas um matagal que será devorado pelos animais do campo. 15 Vou pedir-lhe contas por ter prestado culto aos ídolos de baal, pelo fumo dos sacrifícios que lhes oferecia. Ataviada com anéis e colares corria atrás dos seus amantes, esquecendo-se que eu existia. Palavra do Senhor! 16 Mas, um dia, vou reconquistá-la, vou conduzi-la ao deserto, e falar-lhe ao coração. 17 Então lhe darei novamente as suas vinhas, e o desgraçado vale de Acor tornar-se-á para ela uma porta de esperança. E ela vai responder ao meu amor como quando era jovem, no tempo em que ela saiu do Egipto." 18 "Naquele dia, ela há-de chamar-me "meu marido" e não mais me tratará por meu senhor, baal. 19 Retirarei da sua língua o nome do deus baal, e nunca mais se lembrará dele. 20 Então concluirei a favor do meu povo uma aliança com os animais dos campos com as aves do céu e todos os bichos da terra. Farei desaparecer do país armas de guerra, arcos e espadas, de modo que o meu povo possa viver tranquilo. 21 Israel, o meu casamento contigo é eterno e este casamento terá, para sempre, lealdade e justiça, amor e ternura. 22 Vou-me casar contigo e serei fiel e tu hás-de reconhecer que eu sou o Senhor. 23 Naquele dia, responderei às necessidades do céu; este responderá às necessidades da terra Palavra do Senhor! 24 A terra, por sua vez, responderá com trigo, vinho novo e azeite, e todos estes produtos responderão à planície de Jezrael. 25 Então o país será para mim uma boa sementeira, amarei a que era chamada Mal-amada, e ao que era chamado Não-é-meu-povo hei-de dizer: Tu-és-o-meu-povo; e ele me responderá: Meu Deus!"

Depois do período de sofrimento, a mulher foi cativada pelo marido, voltaram ao tempo de namoro e reconciliação.

Deus cativou a mulher e a levou para o deserto para lhe falar ao coração. Agiu para possibilitar a volta. E a tratou com carinho, apaixonadamente.

O vale de Acor se torna porta de esperança (15). Vale de Acor: vale da desgraça. Segundo Js 7.26 encontrava-se na região de Jericó. É provável que o profeta se refira ao que é contado em Js 7. Por meio da desgraça da invasão dos assírios (11.5), um remanescente encontraria a esperança da nova vida. As correções de rumo, os desafios, são portas de esperança.

Hebreus 1.4-13  4 O Filho tornou-se superior aos anjos, porque herdou do Pai um nome que é superior ao deles. 5 Realmente, Deus nunca disse a nenhum anjo: Tu és meu filho, desde hoje sou teu pai. E mais: Eu serei seu pai e ele será meu filho. 6 E na altura de enviar o seu único Filho ao mundo, Deus disse: Todos os anjos de Deus o devem adorar. 7 Ora, a respeito dos anjos, também diz: Faz dos seus anjos ventos e dos seus servidores chamas de fogo. 8 Mas a respeito do Filho diz: Tu és Deus e o teu trono dura para sempre: Governas o teu reino com justiça, pois a justiça é o teu ceptro. 9 Amas o que é justo e detestas a maldade: Por isso Deus, o teu Deus, te ungiu e coroou festivamente colocando-te acima dos teus companheiros. 10 E ainda: Foste tu, Senhor, que no princípio criaste a Terra e os Céus säo obra das tuas mäos. 11 Eles häo-de acabar, mas tu permaneces. Eles häo-de envelhecer como o vestuário; 12 tu os dobrarás como uma capa e hás-de pô-los de lado como quem muda de roupa. Mas tu és sempre o mesmo: O passar dos anos näo te envelhece. 13 Deus nunca disse a nenhum anjo: Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés.

Israel chamaria Deus de "meu marido", não de "meu baal" ou "meu senhor" (16-17).

Baal significa senhor, mestre. AAo chamar Deus por este nome, num contexto de idolatria, estaria deixando-o no mesmo nível dos deuses cananeus. A chave aqui não é a falta de respeito, mas o fato de que o Eterno quer restabelecer uma intimidade de marido e mulher.

Deus daria de volta a terra perdida, o povo habitaria em segurança (18). O Eterno faria uma aliança com sua esposa arrependida (19-20). Depois do que Israel fez, Deus se dispôs a tomá-lo de volta e entrar em nova aliança. Ele seria um Deus bondoso, e ela um povo fiel e abençoado (21-23).
“O Profeta aqui aproveita a ocasião para falar do crescimento do povo. Ele prometera um frutífero e grande aumento de trigo, vinho e óleo; porém, para que finalidade seria isso, se a terra não possuísse numerosos habitantes? Por isso, foi preciso fazer essa adição. Além disso, o Profeta dissera antes: ‘Ainda que sejais vós imensos em número, todavia, somente um remanescente será preservado’. Ele agora coloca a nova mercê divina em oposição à sua vingança, e diz que Deus novamente semearia o povo. Por essa frase, descobrimos que a alusão à palavra Jizreel é impropriamente observada por alguns, ou seja, que eles, que dantes foram um povo degenerado e não verdadeiros israelitas, serão então a semente de Deus: todavia, as palavras admitem dois sentidos; pois urz, zara’, aplica-se tanto à terra quanto à semente. Os hebreus dizem: ‘A terra está semeada’, e também, ‘O trigo está semeado’, ou qualquer outro grão. Se pois o Profeta compara o povo à terra, o sentido será, eu semearei o povo como semeio a terra; isto é, eu os tornarei fecundos como a terra quando é produtiva. Deve ser então assim vertido: Eu semea-la-ei para mim como a terra, isto é, como se ela fosse a minha terra. Ou pode ser traduzido desta maneira, eu semea-la-ei para mim mesmo na terra, e para este fim, para que a terra, que esteve por um tempo abandonada e desolada, tenha muitos habitantes; e, como sabemos, foi o caso. Contudo, o pronome relativo no gênero feminino não nos deve desconcertar, pois o Profeta sempre fala como de uma mulher: o povo, sabemos, até agora nos foi descrito sob a pessoa de uma mulher. E ele, posteriormente, adiciona hmjwr-al, Lo-ruchamah. Ele fala aqui, ou de Laruchamae, uma filha adúltera, ou de uma mulher adúltera, a quem um marido tome para si. Quanto ao assunto em si, é fácil descobrir o que o Profeta quer dizer, que é que Deus difundiria uma descendência em toda parte, quando o povo tivesse sido reduzido não somente a um número pequeno, mas a quase nada: pois quão pouco faltou para ser ruína completa a desolação do povo, quando disperso no desterro? Ele era então, como foi afirmado antes, como um corpo despedaçado: a terra, no meio tempo, desfrutou de seus sábados; Deus a tinha aliviado de seus moradores Compreendemos então o que o Profeta quis dizer como sendo que Deus multiplicaria o povo, que o pequeno resto aumentaria para uma grande e quase inumerável descendência. Eu então a semearei na terra, ou seja, de um extremo a outro da terra toda; e eu terei misericórdia sobre Laruchamae, isto é, em misericórdia recebê-la-ei, a quem não obtivera misericórdia; e direi ao nãopovo: Vós sois agora meu povo. Vemos que o Profeta insiste nisto — que o povo não apenas buscaria as vantagens exteriores da vida presente, mas principiaria na própria fonte, voltando a alcançar o favor de Deus, e o conhecendo como Pai propício a eles: pois isso é o que o Profeta quer dizer, do que se dirá mais alguma coisa amanhã”. (João Calvino, idem, op. cit., p. 75)

lundi 3 octobre 2011

Seminário "Lendo Oseias com Calvino", programa

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO Credenciada pelo MEC Portaria 1719/05 (DOU 20/5/05) mantida pelo Conselho Batista de Administração Teológica e Ministerial. R. João Ramalho 466 Perdizes – São Paulo / CEP – 05008 001. Telefone – 3865-3255. www.teologica.br
PLANEJAMENTO DE DISCIPLINA CURSO DE TEOLOGIA. DISCIPLINA – TEOLOGIA DO AT -- OSEIAS. PROFESSOR – Dr. JORGE PINHEIRO. SEMESTRE 2o. ANO 2011.

1. EMENTA
Estudo do livro profético de Oseias, e as várias abordagens teológicas sobre as questões exegéticas, hermenêuticas e históricas que o relato levanta.

2. OBJETIVOS
A partir do livro de Oseias, estudar as relações de Deus e Israel como um casamento. Essa imagem que mais tarde será utilizada por Isaías, Jeremias, Ezequiel e pela comunidade cristã, na relação entre Cristo e sua igreja, [e fundante do texto profético de Oseias. . Podemos dizer que o tema de seu livro é o imutável amor de Deus. Foi cidadão de Israel. Analisaremos, assim, a infidelidade do povo de Israel que deposita confiança e esperança nos falsos deuses de outras nações.

3. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
História de Israel, reino do Norte, durante a época de Oseias. Suas relações internacionais e a situação econômica, social e religiosa do país. A profecia de Oseias, literatura e poesia. Aspectos da teologia de Oseias e como marcou a teologia posterior. Uso de conceitos teológicos de Oseias no Novo Testamento.

Fevereiro
História e religião no reino do Norte. As relações com os países vizinhos, dependência econômica e religião. Prosperidade momentânea e auto-suficiência. Crise política e violência. As ameaças externas.

Março 

A metáfora Gomer. O reformador João Calvino (1509-1564) no Comentário sobre Oseias considerou a história de Gômer e seu casamento com Oseias uma parábola, ou seja, uma ilustração do sermão que o profeta pregou aos israelitas. A importancia dessa exegese e o que significa para as leituras atuais do texto.

Abril - Maio – Junho

Conceitos teológicos. Estudo e exegese dos principais capítulos e dos conceitos apresentados por Oséias, que vão marcar a teologia de outros profetas e serão referência para os escritores do Novo Testamento.

4. METODOLOGIA

Optamos por uma abordagem temática dos assuntos, que permita estabelecer o fio condutor da exposição dos temas. As aulas serão expositivas, com seminários que levem ao debate dos temas tratados.

5. RECURSOS
 
Audiovisuais.

6. AVALIAÇÃO
Os alunos serão avaliados por sua participação em classe e por um trabalho final.

7. BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
CALVINO, João, Comentário sobre Oseias, tradução de Vanderson Moura da Silva - tradução do original em latim para o inglês por John Owen. Site: Monergismo - acesso 03.10.2011. WEB: www.monergismo.com/textos/livros/Oseias-Comentario-livro_Joao_Calvino.pdf
PINHEIRO, Jorge, História e Religião de Israel, origens e crise do pensamento judaico, São Paulo, Vida, 2007.
KIDNER, Derek, A mensagem de Oseias, São Paulo, Ed. Vida Nova, 1993.

8. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
LASOR, William Sanford, Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1998
PEDRO, Enilda de Paula, Como ler o livro de Oseias. São Paulo: Paulus, 1995.
SMITH, Ralph, L., Teologia do Antigo Testamento, História, Método e Mensagem, São Paulo, Vida Nova, 2001.



mercredi 28 septembre 2011

Lendo OSEIAS com Calvino -- Capítulo um


Como vimos, anteriormente (texto "A família de Oséias"), o reformador João Calvino (1509-1564) no Comentário sobre Oseias considerou a história de Gômer e seu casamento com Oseias uma parábola, ou seja, uma ilustração do sermão que o Profeta pregou aos israelitas. Agora, vamos estudar o capítulo um do texto de Oseias.

Chamamos de recurso etiológico o uso que escritores e profetas do Antigo Testamento fazem ao apresentar nomes ou títulos de personagens e regiões para orientar o leitor nas causas que norteiam o fato ou parábola descrita. Ou seja, para apontar o conjunto dos fatores que se farão presentes na ocorrência do relato. No texto de Oseias, o recurso etiológico está presente nos nomes dos personagens que ilustram o sermão.

Oseias 1:1 Esta é a mensagem que o Senhor dirigiu a Oseias -- [;veAh Howshea, Hosea, Joshua --, filho de Beri, no tempo em que Jeroboão, filho de Joás, era rei de Israel. Foi no tempo em que Uzias, Jotam, Acaz e Ezequias reinaram em Judá.

Israel, oposto aqui a Judá, designa o reino israelita do norte, fundado por Jeroboão I depois da morte de Salomão.

1Reis 12:16-20 Quando o povo de Israel viu que o rei não fazia caso dele, respondeu-lhe deste modo: "Não temos nada que ver com David! Não temos nada em comum com o filho de Jessé! Povo de Israel, voltemos para casa! David que cuide dos seus descendentes!" E todos os israelitas foram para suas casas, deixando Roboão como rei apenas do povo que vivia no território de Judá. Quando o rei Roboão enviou Adoniram encarregado do trabalho obrigatório, para ir ter com os israelitas do Norte, eles apedrejaram-no até morrer. Em face disto, o rei Roboão fugiu precipitadamente no seu carro para Jerusalém. Deste modo se revoltaram estas tribos israelitas contra a dinastia de David, até ao dia de hoje. Quando os israelitas do Norte souberam que Jeroboão tinha regressado do Egipto.

O rei Jeroboão é Jeroboão II, que reinou em Israel de 787 a 747 a.C.

2Reis 14:24-29 O seu procedimento desagradou ao Senhor; não se afastou dos maus exemplos do seu antecessor, Jeroboão, filho de Nebat, que levou Israel a pecar. Jeroboão reconquistou todo o território que tinha pertencido a Israel, desde o desvio para Hamat, a norte, até ao Mar Morto a sul, como o Senhor tinha anunciado por meio do seu servo, o profeta Jonas filho de Amitai, natural de Gat-Héfer. O Senhor tinha visto a desgraçada situação de todos os israelitas, escravos ou livres, sem ninguém que os socorresse. Mas não era intenção do Senhor destruir Israel completamente e para sempre, por isso o livrou por meio do rei Jeroboão, filho de Joás. O resto da história de Jeroboão, os seus actos, as suas façanhas guerreiras, o modo como reconquistou para Israel, Damasco e Hamat está tudo escrito no livro das Crónicas dos Reis de Israel. Quando Jeroboão morreu, foi sepultado com os reis de Israel. Por sua morte, sucedeu-lhe no trono o seu filho Zacarias.

Pelos reis citados podemos datar o livro de Oseias no oitavo século a.C., na última geração antes da destruição de Samaria e do cativeiro do povo de Israel.

Oseias 1:2-3 O Senhor começou a falar ao seu povo através de Oseias desta maneira: "Oseias, casa com uma mulher que pratica a prostituição e é desse tipo de mulher que nascerão os teus filhos. Pois também o povo desta terra se entregou à prostituição, afastando-se de mim, o Senhor." Oseias foi então casar com Gomer -- rm,GO completo --, filha de Diblaim -- ~yIl'b.DI doce de figos -- , que ficou grávida e lhe deu um filho.

Prostituição: o deus Baal e a deusa Astarté, adorados pelos cananeus e por israelitas, eram os deuses da fertilidade da terra, da fecundidade dos rebanhos e das famílias humanas (ver 2,6-7). O culto que se celebrava em sua honra era acompanhado da prostituição cultual (ver 4,12-14).

Segundo Calvino, não faz sentido sugerir que Deus mandou que Oseias se casasse com uma prostituta, porque Deus quer a pureza no casamento; o caso de Gômer é uma ilustração da situação de Israel, que se tornou idólatra apesar de ter feito uma aliança com Deus; o relato fala sobre filhos que nasceram do casamento, como então são de adultério a não ser como metáfora.

Oseias 1:3-5 Oseias foi então casar com Gomer, filha de Diblaim, que ficou grávida e lhe deu um filho. O Senhor disse a Oseias: "Põe-lhe o nome de Jezrael -- la[,r>z>yI Yizre`e'l, Jezreel --, porque dentro de pouco tempo castigarei os descendentes de Jeú, pelos crimes cometidos contra Jezrael e acabarei com o reino de Israel. Muito brevemente quebrarei a força militar de Israel na planície de Jezrael."

Jezrael: alusão ao extermínio da família de Acabe por Jeú. Leia abaixo a morte de Jezabel.

2Reis 9:31-37 Quando Jeú entrou na porta principal, ela disse-lhe: "Como vais, Zimeri, assassino do teu senhor ?" Jeú olhou para a janela e perguntou: "Quem está do meu lado?" Dois ou três oficiais do palácio olharam para ele da janela e Jeú ordenou-lhes: "Atirem-na daí abaixo!" Eles atiraram então Jezabel pela janela. Ela caiu e o seu sangue salpicou a muralha e os cavalos, e Jeú passou por cima do corpo dela. Jeú entrou no palácio, comeu e bebeu e disse aos seus companheiros: "Vão lá sepultar essa maldita mulher, porque é de sangue real."  Eles saíram para a ir enterrar, mas dela só encontraram o crânio, as mãos e os pés. Foram dar a notícia a Jeú e ele disse: "Já o Senhor tinha anunciado, por meio do seu servo Elias de Tisbé, que assim iria acontecer. Ele disse que no campo de Jezrael os cães devorariam a carne de Jezabel e o seu cadáver seria espalhado como esterco, de modo que ninguém conseguiria reconhecer os seus restos mortais."

Jeroboão II era um descendente de Jeú.

Jezreel, "Deus espalha", "Deus semeia". O título etiológico sugere que Israel será espalhado. Jezreel foi a cidade onde residiam os reis de Israel, e onde Jeú acabou com a família de Acabe. Deus prometeu trazer castigo sobre a casa de Jeú e fazer cessar o reino e o poder militar de Israel. Deus usou Jeú para destruir a casa de Acabe e lhe entregou o reino. Mas, Jeú não se dedicou ao Senhor. Ele imitou os pecados de Jeroboão, filho de Nebate – 2Reis 10:31 Apesar disso, Jeú não se preocupou em cumprir fielmente a lei do Senhor, Deus de Israel; pois não se afastou dos pecados com que Jeroboão fez pecar os israelitas. Jeroboão II, o rei de Israel quando Oseias escreveu, foi o penúltimo rei da linha de Jeú. Depois da morte dele, Zacarias, seu filho, reinou por seis meses e foi assassinado, terminando o domínio da dinastia de Jeú.

2Reis 15:8-10 No trigésimo oitavo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Zacarias, filho de Jeroboão tornou-se rei em Israel. Reinou durante seis meses, na Samaria. Tal como os seus antecessores, fez aquilo que desagrada ao Senhor, seguindo o mau exemplo do rei Jeroboão, filho de Nebat, que levou Israel a pecar. Um certo Salum, filho de Jabés, conspirou contra o rei Zacarias, assassinou-o diante do povo e sucedeu-lhe no trono.

O Vale de Jezreel ou Megido foi o lugar de algumas batalhas decisivas da história de Israel (Juízes 4-7; 2 Reis 23:28-30).

Oseias 1:6-7 Gomer ficou novamente grávida e deu à luz uma filha. E o Senhor disse a Oseias: "Põe-lhe o nome de Lo-Ruhamah -- m'x'ru al{ -- porque não voltarei a tratar Israel com amor, nem lhe perdoarei. Mas hei-de tratar com amor os da tribo de Judá; hei-de salvá-los, porque sou o Senhor, seu Deus. E não os salvarei pelo arco ou pela espada, pela guerra ou pelos cavalos e cavaleiros."

Gômer concebeu outra vez e teve uma filha. O título dela Lo-Ruhamah é traduzido em algumas versões como Desfavorecida e Não-amada, porque Deus não mostraria mais favor, graça, à casa de Israel, mas ainda teria compaixão de Judá, que seria salvo, não pela força militar, mas pelo poder de Deus (Isaías 37:36-38).

Oseias 1:8-9 Depois de ter desmamado Lo-Ruhamah, Gomer ficou novamente grávida e deu à luz um filho. O Senhor disse a Oseias: "Põe-lhe o nome de Lo-Ami -- yMi[;-al{ --, pois vocês já não são mais o meu povo, ó gente de Israel, e eu não estarei mais ao vosso lado."

O terceiro filho de Gômer recebeu de Oseias o título etiológico de Lo-Ami, Não-Meu-Povo. O título simbolizava a rejeição de Israel.

Oseias 1:9-2:1 O Senhor disse a Oseias: "Põe-lhe o nome de Lo-Ami, pois vocês já não são mais o meu povo, ó gente de Israel, e eu não estarei mais ao vosso lado." "Mas virá o dia em que o povo de Israel será tão numeroso como as areias da praia, que não se podem medir nem contar. E, em vez de Deus os chamar Lo-Ami, serão chamados filhos do Deus vivo.

A rejeição não seria total. Deus guardaria um remanescente.

  • (1) Deus disse "acabarei com o reino de Israel " (1:4), mas não exterminou todas as gentes, pois disse depois “virá o dia em que o povo de Israel será tão numeroso como as areias da praia” (1.10).
  • (2) Deus transformaria Lo-Ami em filhos do Deus vivo, e Lo-Ruhamah em agraciada.
  • (3) Por isso, Pedro (2.10) afirmaantes, nem eram um povo e agora säo povo de Deus. Antes, näo conheciam a misericórdia de Deus e agora alcançaram essa misericórdia”, recorrendo aos títulos etiológicos dos filhos de Gômer para ilustrar a graça derramada sobre a igreja de Cristo.