jeudi 12 janvier 2012

Amar e ser amado

Diferentes interpretações de um mesmo tema
Pinturas de Gustav Klimt, pintor simbolista austríaco (1862-1918)

Ai flores, ai, flores do verde pio,
se sabedes novas do meu amigo?
ai, Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
ai, Deus, e u é?
[Julião Bolseiro, Cantiga de amigo, do cancioneiro de Dom Diniz].

O Cântico dos Cânticos é o único livro da Bíblia que tem o amor como seu tema exclusivo. Seu título poderia ser traduzido como A mais bela das canções, o que faz juz a esta que é uma das mais bem escritas estórias de amor de toda a literatura universal. Ao traduzir a rica imaginação oriental, o texto fala de amada e amante, interligando os quadros com coros e falas de grupos de personagens, como as filhas de Jerusalém e os guardas.

O texto tem forte conteúdo erótico, parte da realidade vivida por uma jovem camponesa, mostrando que estamos diante de um exemplar da dramaturgia do período áureo da literatura poética hebraica. Várias interpretações têm sido apresentadas para O Cântico dos Cânticos.

Aqui, faremos a leitura do Cântico dos Cânticos partindo de um conselho do intelectual inglês Daniel de Morley em suas memórias de viagens, no século 12, conforme citado por Jacques Le Goff (Os intelectuais na idade média, Lisboa, Editorial Estúdios Cor, 1973, pp. 25-26).

Morley conta que seguiu “as Artes, que esclarecem as Escrituras, em vez de as saudar à passagem ou de as evitar, fazendo resumos. Então, como nos dias de hoje é em Toledo que o ensino dos Árabes, que consiste, quase exclusivamente nas artes do quadrivium, é dispensado às multidões, apressei-me a partir, para aí ouvir as lições dos mais sábios filósofos do mundo. Tendo alguns amigos pedido para eu voltar e tendo sido convidado a deixar a Espanha, vim para Inglaterra com uma preciosa quantidade de livros”.

Que ninguém se indigne se, tratando da criação do mundo, eu invoco o testemunho não dos Padres da Igreja, mas de filósofos pagãos, porque, ainda que estes não figurem entre os fiéis, algumas das suas palavras, desde que sejam cheias de fé, devem ser incorporadas no nosso ensino. Nós que também fomos misticamente libertados do Egito, o Senhor ordenou-nos que despojássemos os Egípcios dos seus tesouros, enriquecendo com eles os Hebreus. Despojemos, pois, conforme o desejo do Senhor, e com a sua ajuda, os filósofos da sua sabedoria e da sua eloqüência, despojemos esses infiéis de modo a enriquecermo-nos com os seus despojos na fidelidade”.

As cantigas de amigo

Queremos aprender com as cantigas de amigo, do medieval ibérico, por terem semelhanças que podem nos ajudar a entender a poesia de Cantares. As cantigas de amigo eram de autoria masculina, assim como, possivelmente, Cantares e, também, apresentavam um eu lírico feminino.

Para entender esta questão do eu lírico feminino, é bom ler Magadelene Luise Frettloeh, O amor é forte como a morte: uma leitura de Cânticos dos Cânticos com olhos de mulher (in: Fragmentos de Cultura, Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás, IFITEG, Goiânia, 2002, vol.12, no. 4, pp .633-642).

Ela explica que é necessário ler Cântico dos Cânticos em perspectiva de gênero, pois neste livro canta-se o amor espontâneo entre uma mulher e um homem, um amor que é forte como a morte. E que nos poemas do início e do final do livro há um protagonismo feminino: “no decorrer da história da interpretação tentou-se soterrar essa herança; hoje importa redescobri-la".

Encontramos tanto no Cântico dos Cânticos como nas Cantigas de Amigo a questão do amante ausente: a amada estava a espera dele ou tinha sido abandonada. Ambas poéticas traduzem a força do Eros humano. Outra característica marcada das cantigas de amigo era o fato de estar dirigida às amigas, a mãe ou irmãs, ou as forças da natureza e, em alguns casos, a Deus. A ambientação, rural ou urbana, estava sempre distante do castelo do senhor feudal.

Um dos maiores cancioneiros do medieval ibérico foi Julião Bolseiro e um de seus poemas, que intercala este artigo, expressa esse eu lírico feminino, que se lamenta porque o amante desapareceu e ela não sabe onde se encontra.

O amor entre os dois, diferentemente do amor cortês, vigiado, expressa a força do natural e espontâneo no amor humano, pois a cantiga parece insinuar que houve um relacionamento físico entre os amantes.

Nesta cantiga de amigo, a ambientação é rural, e não somente distante do castelo do senhor feudal, mas com presença marcante da natureza.

Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi á jurado?
ai, Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss' amigo?
E eu ben vos digo que é são e vivo:
ai, Deus, e u é?

Salomão, o herói

Uma interpretação, quase unânime entre antigos rabinos e os pais da Igreja, considera o rei Salomão o herói da estória. Dentro desta perspectiva, o roteiro seria mais ou menos assim: o rei possuía um vinhedo na região de Efraim, 80 quilômetros ao norte de Jerusalém (8:11). Essas terras estavam arrendadas (8:11) a uma viúva e seus quatro filhos (dois rapazes e duas moças, cf. 6:13, 1:5 e 6). A Sulamita, a mais bonita das filhas, era responsável pela casa e também cuidava dos rebanhos (1:8).

Certo dia, o rei, disfarçado para não ser reconhecido, visitou o vinhedo e ficou impressionado com a beleza da moça. Ela tomou Salomão por um pastor de ovelhas e este lhe dirigiu palavras de amor, prometendo voltar no futuro e lhe trazer presentes (1:8-11). À noite, a moça sonhava com a volta do amado, chegando mesmo, em determinado momento a pensar que ele estava chegando (3:1). Mais tarde, ele volta. Mas, agora, não como camponês e sim como rei de Israel (3:6 e 7). Segue-se, então, o casamento e seus desdobramentos.

Partindo desse roteiro temos cinco poemas

Título e prólogo - Cap. 1:1-4
1. O desejo e a satisfação da jovem camponesa - Caps. 1:5-2:7
2. A visita do amado e o sonho da moça - Caps. 2:8-3:5
3. A festa de casamento e as canções do rei - Caps. 3:6-5:1
4. A tardia recepção da amada e sua busca prolongada - Caps. 5:2-6:3
5. Sulamita e seu amado conversam - Caps. 6:4-8:4.
Epílogo e últimas adições - Cap. 8:5-8:14.

Para o teólogo chileno Samuel Fernández Eysaguirre. A manifestis, ad occulta, Las realidades visibles como único camino hacia las invisibles en el comentario al Cantar de los Cantares de Orígenes (in: Anales de la Facultad de Teología. Universidad Católica, Campus Oriente, Santiago, 2000, vol. 51, no. 2, pp.135-159) a leitura literalista levou os teólogos da Igreja antiga a um beco sem saída:

"Una lectura meramente literal del Cantar de los Cantares presentaba graves dificultades a la sensibilidad religiosa de la antigüedad. El libro exalta, al menos en su sentido inmediato, el amor humano y abunda, como pocos textos bíblicos, en descripciones de los miembros del cuerpo. Y por otra parte, el Cantar no menciona explícitamente a Dios. El sentido literal del texto no parecía edificar moralmente a sus lectores. Era posible preguntarse ¿qué hace en las Escrituras un libro que no habla de Dios? Las serias dificultades que presentaba su lectura literal, sumadas al carácter poético del Cantar, favorecían fuertemente una interpretación de tipo simbólica, interpretación que se impuso tanto en el ámbito judío como cristiano. Las dificultades recién descritas llevaron a algunos rabinos a dudar de la canonicidad del Cantar...".


Vós me preguntades polo voss' amado?
E eu ben vos digo que é viv' e são:
ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é são e vivo
e seerá vosc' ant' o prazo saido:
ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv' e são
e s[e]erá vosc' ant' o prazo passado:
ai, Deus, e u é?

Salomão, o vilão

Outra interpretação, formulada pelo teólogo Heinrich Ewald, no século XIX, vê no amante um pastor de quem a jovem estava noiva, antes de ser capturada e levada para o harém de Salomão, por um de seus servos. Depois de ter resistido com sucesso a todas as tentativas do rei para conquistar sua afeição, ela é libertada e se reúne a seu amado, com quem aparece na cena final.

A jovem relembra o amado (1:2-3). Pede que ele a leve de volta logo, pois o rei a introduziu nas seduções da corte (1:4). Suas recordações do amado a perturbam (1:7). O rei tenta seduzi-la com jóias (1:11) e perfumes (1:12), mas ela prefere o cheiro do campo que lembra o corpo do amado (1:13-14). A moça se recorda de uma visita feita por ele e de um sonho que se seguiu (2:8-3:5). Depois disso, ela é novamente visitada e louvada por Salomão (3:6-4:7). Diante da persistente ofensiva do rei, antecipa seu casamento com o jovem camponês (4:8-5:1). Sua vida e seus sonhos estão impregnados com as lembranças do amado (5:2-6:3). Salomão mais uma vez tenta conquistar Sulamita (6:4-7:9). Ela, no entanto, mantém sua fidelidade ao pastor e resiste às tentativas do rei (7:10-8:3). Diante disso, Salomão a liberta, verificando que é impossível conquistar a moça.

Dentro desta perspectiva, é interessante ler Cântico dos Cânticos, O fogo e a ternura de Ney Brasil Pereira e Pablo Andiñach, (Col. Comentário Bíblico, Petrópolis/São Leopoldo, Ed. Vozes/Ed. Sinodal, 1998, 128p., in: Estudos Bíblicos. Ed. Vozes, Petrópolis/RJ, Brasil, 2000. no. 65, p9.81-84).

Para os dois teólogos, os poemas do Cântico foram redigidos, em sua redação final, por uma mulher. Seria, portanto, o único livro bíblico de uma autora. Isso dá ao comentário um cunho especial, uma vez que se assume que ela, a autora, tenha deixado nos poemas sua marca feminina e seu modo peculiar de viver a sexualidade e a vida. Ao mesmo tempo, a autora teria feito uma crítica sutil, mas firme, ao modelo salomônico de sexualidade, marcado pela frivolidade e a poligamia.

A partir dessa interpretação temos outro roteiro

1. No palácio, a moça relembra o amado e é assediada por Salomão - Caps. 1:1-2:7
2. Lembra-se de uma visita do jovem e de um sonho - Caps. 2:8-3:5
3. Sulamita mais uma vez é visitada e elogiada por Salomão - Caps. 3:6-4:7
4. Resiste às investidas do rei e antecipa seu casamento - Caps. 4:8-5:1
5. A moça relata outro sonho e descreve seu amado - Caps. 5:2-6:3
6. Salomão mais uma vez tenta conquistar Sulamita - Caps. 6:4-7:9
7. Saudosa e fiel, a moça anseia a companhia do amado - Caps. 7:10-8:3
8. Enfim, recebe alforria, e retorna para casa com seu esposo - Cap. 8:4-8:14.

O amor é mais forte

Em meio às várias interpretações, é bom relembrar, como diz Isidoro Mazzarolo, Cântico dos Cânticos, Uma leitura política do amor (1a. ed., Mazzarolo Editor, Rio de Janeiro, 2002. 249 p.), que "o livro dos Cânticos está entre as grandes obras da sabedoria bíblica ao propor uma visão do ser humano, homem e mulher, como duas criaturas colocadas no universo e dotadas de liberdade e dignidade".

Assim, a mensagem de amor permanece. E talvez possamos dizer, como nos lembram as Cantigas de Amigo, que esta é a grande mensagem do livro.

mardi 10 janvier 2012

A democratização das nações árabes



A construção democrática do mundo árabe nos leva à discussão de questões imbricadas à teologia, como alienação e ética. Hoje, as nações se perguntam: quem deve dirigir o processo de democratização do mundo árabe? Alguns crêem que devem ser os Estados Unidos. Outros, a Europa. Mas há aqueles que apostam na presença do Brasil e do conjunto das nações reunidas em assembléia geral. Antes de responder quem, uma questão não pode ser colocada de lado: quais devem ser os critérios dessa democratização?

Vamos analisar tal questão a partir do conceito de estranhamento em Marx e da proposta de uma ética crítica de defesa da vida. Para tal partiremos de dois trabalhos acadêmicos, um de Maria Norma Alcântara Brandão de Holanda e outro de Tarcyane Cajueiro Santos, citados na bibliografia.

Então eu me arrependi de ter trabalhado tanto
e fiquei desesperado por causa disso.” Eclesiastes 2.20.

Karl Marx em Teorias sobre a mais valia, conforme expõe Maria Norma Alcântara Brandão de Holanda, considera que o desenvolvimento das forças produtivas enquanto "desenvolvimento da riqueza da natureza humana como fim em si" se efetiva mediante "um processo no qual os indivíduos são sacrificados".

O que está em questão aqui não é o desenvolvimento das forças produtivas, mas o reconhecimento de seus limites ontológicos, que se expressam no âmbito do desenvolvimento econômico-social.

O desenvolvimento das forças produtivas é também o desenvolvimento da capacidade humana, mas este não produz obrigatoriamente desenvolvimento da pessoalidade humana. Ao contrário, muitas vezes, potencializando capacidades singulares, pode desfigurar tal pessoalidade.

Estamos aí diante de um processo de alienação antropológica e existencial. Diante de um paradoxo, desenvolvimento das forças produtivas e desenvolvimento da pessoalidade humana. E, pelo que vemos hoje, mais desenvolvidas as forças produtivas mais evidentes tais contradições.

As exigências colocadas pelo desenvolvimento da economia globalizada, ao mesmo tempo em que apresenta possibilidades para o desenvolvimento humano, tem produzido um impressionante nível de desumanidade.

Marx, nos Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 escreveu: "quanto mais produz o operário com seu trabalho, mais o mundo objetivo, estranho que ele cria em torno de si, torna-se poderoso, mais ele empobrece, mais pobre torna-se seu mundo interior e menos ele possui de seu".

Ao partir de sua preocupação central, o estudo da economia política de seu tempo, Marx diz que "a miséria do operário está em razão inversa do poder e da grandeza de sua produção". Mais produz, maior é a sua miséria.

Assim, a produção não faz apenas da pessoa mercadoria, a mercadoria humana, gente sob forma de mercadoria, mas o faz também ser espiritual e fisicamente desumanizado....

Se o desenvolvimento das forças produtivas ao mesmo tempo em que desenvolve as possibilidades humanas cria a reprodução da desumanidade, evidenciam-se os limites antropológicos e existenciais de tal desenvolvimento, já que toda relação social não se dará apenas através de uma elevação espiritual, mas de movimentos que deixam em aberto as possibilidades para a própria destruição do humano.

Como a justiça encaminha para a vida,
quem insiste no mal caminha para a morte”. Provérbios 11.19

Se olharmos sob a perspectiva da ética, tal processo leva ao esgotamento da moral, que deveria ser presente na história ocidental cristã diante da emergência da amoralidade globalizada, mas se transformou em instância de definição da legitimidade do comportamento imperial hegemônico em detrimento das singularidades culturais e nacionais.

O choque entre projetos imperiais hegemônicos e diferenças culturais deve nos levar a uma consciência crítica de defesa das fronteiras éticas contra a destruição do humano, fruto, como vimos, tanto do desenvolvimento das forças produtivas, como do estranhamento humano presentes nesse mesmo desenvolvimento.

É nessa fronteira entre elevação espiritual e degradação, que culturas e globalidade devem negociar as margens do caos.

Aqui a ética nascerá da delimitação da violência capitaneada pelos impérios hegemônicos, já que a globalização se tornou personagem principal do processo de desenvolvimento das forças produtivas mundializadas.

Assim, a ética crítica, como meio e não como fim, “está baseada no livre exercício do corpo e da alma, no desejo e na afirmação da vida”, como afirma Tarcyane Cajueiro Santos.

Porém, a virtude esbarra na heteronomia, na contradição do estranhamento, conforme detectou Marx. Somos parte da natureza, vivemos circundados por número ilimitado de efeitos externos e poderosos. Somos seres cheios de paixão ou passivos, enquanto causa parcial, conduzidos e dominados por forças externas à nossa alma e ao nosso corpo.

E as paixões, como afirma Spinoza, não são em si nem boas nem más, pois fazem parte da natureza: a alegria, a tristeza e o desejo vibram em nosso ser. Assim, a alegria aumenta a capacidade de existir, enquanto o estranhamento degrada a existência.

Sem conselhos os planos fracassam,
mas com muitos conselheiros há sucesso”. Provérbios 15.22

O movimento da paixão à ação, da rebeldia à autonomia, ocorre na imanência do próprio desejo, a partir do instante que temos condições de controlar e submeter o estranhamento que degrada. Nesse momento, a liberdade torna-se “atividade que transcende o presente pela possibilidade do futuro como abertura no tempo”, conforme disse Marilena Chauí.

Assim no caminhar da globalização, a ética deixa de ser dever moral, imperativo categórico a priori, e passa a ser compreendida como balizadora daquilo que é humano.

Para construir tal ética crítica, que leve à práxis democrática, é necessária a existência a nível mundial de um sujeito ético moral, nas palavras de Chauí, “que sabe o que faz, que conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais”.

Acreditamos que hoje no planeta, com todas as dificuldades reais, a democratização das nações árabes deve ser obra dos povos árabes, apoiados pelo conjunto das nações reunidas em assembléia geral, crítica aos projetos hegemônicos, de supremacia de nações imperiais  sobre povos em construção de suas democracias.

Fontes

Karl Marx, Manuscritos Econômico-Filosóficos, Coleção Os Pensadores, São Paulo, Editora Abril, 1997.
Maria Norma Alcântara Brandão de Holanda, Lukács e o estranhamento em Marx, Unicamp, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Centro de Estudos Marxistas: www.unicamp.br/cemarx
Marilena Chauí, Convite à filosofia,  São Paulo, Ática, 1999.
Tarcyane Cajueiro Santos, O eticismo da sociedade tecnólogica e a ética em Espinosa, ECA-USP, Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação: www.eca.usp.br/nucleos/filocom

O Sermão do Fogo


O príncipe dos pregadores do século XIX, Charles Haddon Spurgeon, proferiu um sermão que ficou conhecido como Apressando a Ló, com base no texto de Gênesis 19.15. O centro dessa mensagem de Spurgeon é que diante de uma cidade que vai arder, justos e errantes devem ser apressados.

O justo deve ser apressado em relação ao que é melhor para sua família, a sair da loucura do século presente e buscar a solidariedade do Eterno. E o errante deve ouvir do perigo iminente e da necessidade de tomar uma decisão imediata.

O pano de fundo do sermão é a cidade que vai arder.

Décadas mais tarde, um poeta norte-americano, de ascendência inglesa, escreveu sobre um mundo que já ardeu. Seus poemas traduzem a angústia profética diante da guerra e do drama humano.
T. S. Eliot

Terra Desolada é um dos mais impressionantes poemas de Thomas Stearns Eliot. É um gemido diante de um mundo árido, onde sobreviventes se arrastam e agonizam. Escrito entre 1921 e 1922, é considerado o mais terrível poema da literatura ocidental no século XX.

Mas, em meio ao desespero, podemos ver o sentido de transcendência que brota na Terra Desolada desse cristão agoniado diante do destino humano. No final da terceira parte do poema, chamado O Sermão do Fogo, terror e êxtase se complementam:

A Cartago então eu vim
Ardendo ardendo ardendo ardendo
Ó Senhor Tu que me arrebatas
Ó Senhor tu que me arrebatas
ardendo

Eliot em suas notas conta que o primeiro verso acima foi tirado das Confissões de santo Agostinho, quando o teólogo diz: “A Cartago então eu vim, onde todos os amores ímpios, como num caldeirão, cantavam em meus ouvidos”.

E o verso seguinte faz parte do Sermão do Fogo, de Buda, que segundo Eliot é tão importante para o mundo oriental quanto o Sermão da Montanha para nós cristãos. E volta às Confissões de Agostinho, com o verso: “Ó Senhor Tu que me arrebatas”.

Eliot afirma que “a inserção destes dois representantes do ascetismo oriental e ocidental no ponto culminante desta parte do poema não é fortuita”, já que através de uma leitura cheia de ecumenicidade transmite ao leitor toda a angústia diante de um mundo que arde.

Três anos mais tarde, Eliot lançou Os Homens Ocos onde, ainda em meio ao mundo desolado, fala de homens vazios, empalhados. E é aqui, neste poema, que a transcendência transborda, apontando para o sentido profundo da mudança de rumo.

Entre o desejo 
E o espanto, 
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra 

Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o 

E numa estrofe sublime, genial, completa:

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro. 

Diante de uma cidade que vai arder, de um mundo que já ardeu, ficam a urgência e a esperança... “e como ele estava demorando, os anjos pegaram pela mão Ló, a sua mulher e as suas filhas e os levaram para fora da cidade...

Fontes
Spurgeon, Charles Haddon, Esboços Bíblicos de Gênesis a Apocalipse, aprendendo com o príncipe dos pregadores, São Paulo, Shedd Publicações, 2002.
Eliot, T. S., Poesia, 3a. edição, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1981.


lundi 9 janvier 2012

O corpo e o baile

"Ce qu'il y a de plus profond chez l'homme, c'est la peau". Paul Valéry

Há alguns anos, um outdoor estava presente na cidade de São Paulo nos dias de Carnevale. Nele uma jovem dizia: “Mostre que você já cresceu e sabe o que quer, use camisinha”. Tal slogan, me pareceu, poderia ter várias leituras. Uma delas seria: você que é mocinha, dona do seu próprio nariz, faça sexo.

E o slogan me remeteu a uma questão teológica, que envolve os conceitos carne e corpo. E vou começar a conversa a partir de um texto clássico da literatura brasileira:

Invadiu-a um desalento imenso, um nojo invencível de si própria. Robustecer o intelecto desde o desabrochar da razão, perscrutar com paciência, aturadamente, de dia, de noite, a todas as horas, quase todos departamentos do saber humano, habituar o cérebro a demorar-se sem fadiga na análise sutil dos mais abstrusos problemas da matemática transcendental, e cair de repente, com os arcanjos de Milton, do alto do céu no lodo da terra, sentir-se ferida pelo aguilhão da carne, espolinhar-se nas concupiscências do cio, como uma negra boçal, como uma cabra, como um animal qualquer... era a suprema humilhação.

A Carne de Júlio Ribeiro é um romance naturalista publicado em 1888, que fala de divórcio, sexo livre e aponta para a liberdade sócio-cultural feminina. Mas, apresenta também os preconceitos da sociedade escravocrata no Segundo Império. A Carne é a história de Lenita, uma jovem órfã de mãe, cujo pai lhe deu uma educação sofisticada e fora do comum para a época.

Aos 22 anos, após a morte do pai, Lenita teve a saúde abalada e foi viver no interior de São Paulo. Lá conheceu Manuel, um intelectual que vivia trancado com seus livros e que de vez em quando fazia longas caçadas. Lenita e Manuel tornam-se amantes e o romance de Júlio Ribeiro narra a trajetória desse amor, marcado por desejo e violência, por luta entre a razão e a carne.

“As pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a natureza humana, junto com todas as paixões e desejos dessa natureza”.

A carta do apóstolo Paulo aos Gálatas (5.24), escrita em grego, fala de paixões e desejos. Paixão, paté, aqui, indica deficiência que domina a natureza humana, sarks, carne. O texto discorre sobre a possibilidade de controle de uma disfunção quando afirma que aqueles que pertencem a Cristo crucificaram todas as paixões e desejos da natureza humana.

Durante a Idade Média, grupos de cristãos interpretaram a exortação à crucifixão da carne como apelo ao sofrimento e suplício, ao encarceramento e solidão, procurando causar dor e desprazer ao próprio corpo.

Mas o apóstolo faz diferença entre carne e corpo. Carne nos remete às disfunções que envolvem desejos e paixões como impureza, lascívia e prostituição. E corpo traduz a materialidade do ser, a base para a realização da existência.

O domínio e o exercício do corpo advêm como expressividade quando há integração lingüístico-cultural. No corpo residem os sentidos e a razão e, por isso, não é resto, não está despojado de vida, configura-se como totalidade. Seu equivalente na linguagem teológica das escrituras judaicas é a nefesh, singularidade no mundo, face ao outro, interpelado, atravessado por afeições e sentimentos. Orgânico, natural, o corpo alia indeterminação entre a dimensão lingüístico-cultural que o atravessa e constitui e a dimensão emotiva que o movimenta.

Por isso o corpo -- e com ele as emoções, sentimentos e a própria razão -- é dimensão profunda do ser. É o corpo que projeta as forças que vão moldar o ser aos desejos e paixões. Nesse sentido não há pecado da carne, sem que antes tenha passado pelo próprio corpo.

No romance A Carne, Lenita encontra cartas de outras mulheres guardadas por Manuel, sente-se traída e o abandona. Mesmo grávida, casa-se com outro homem. Diante da perda da amante, Manuel suicida-se.

“A placidez da morte sem dor, da morte pela paralisia dos nervos motores, converteu-se em um suplício atroz, pavoroso, para cuja descrição não tem palavras a linguagem humana.

Morto e vivo!

Tudo morrera: só vivia o cérebro, só vivia a consciência e vivia para a tortura... Por que não ter despedaçado o crânio com uma bala? A paralisia invadiu os últimos redutos do organismo, o coração, os pulmões, sístole e diástole cessaram, a hematose deixou de se fazer. Um como véu abafou, escureceu a inteligência de Barbosa, e ele caiu de vez no sono profundo de que ninguém acorda”.

Assim, Júlio Ribeiro finaliza o resultado da batalha perdida entre a razão e a carne. Para ele, os triunfos dos desejos e paixões da carne levam, ao final, à morte do corpo. É isso que o apóstolo Paulo nos fala. Por isso, no Carnevale, ou em qualquer outra atividade humana, a liberdade deve ser parceira da existência plena de alegria, justiça e paz, e não da alienação e morte, pois ser livre é realizar-se no tropismo do corpo à vida.
      

samedi 7 janvier 2012

As palavras da santidade


O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger (2006)

BOM NOME DO PRÓXIMO 
Dedico estas reflexões às minhas irmãs e irmãos, filhas e filhos, sobrinhas e sobrinhos,
primas e primos, à minha neta Mariana e, também, a todas as amigas e amigos

Não dê testemunho falso contra ninguém”. Êxodo 20.16

A expressão “próximo” inclui todos os humanos. A difamação do caráter de alguém foi proibida na lei mosaica, não apenas formalmente, no tribunal, mas por qualquer declaração falsa.

Em Deuteronômio 5.20 temos a repetição do mesmo ensino (“não levante falso testemunho contra ninguém“) na renovação da aliança do Eterno com o povo hebreu que deixava o Egito.

Este ensino mostra que a respeitabilidade do nome, ou seja, sua santidade, entendida santidade como aquilo que é separado para a uma função nobre, tem uma dimensão apofática, negação de todo afastamento daquilo que é humano e da vontade do Eterno, que é a de que não falseemos a verdade em nossas afirmações, conforme Deuteronômio 13.12-15.

“Quando vocês estiverem morando nas cidades da terra que o Eterno, nosso Deus, vai lhes dar, talvez vocês ouçam dizer que em certa cidade alguns homens perversos levaram os moradores a adorar deuses que vocês nunca adoraram. Aí vocês deverão examinar o caso com todo o cuidado. Se ficar provado que, de fato, foi cometido um crime tão grave no meio do povo de Israel, então vocês deverão matar à espada todos os moradores daquela cidade. Matem também os animais e arrasem a cidade”.

Sejamos justos nos nossos juízos, conforme Deuteronômio 17.8-11.

“Pode acontecer que numa cidade apareça um caso tão difícil, que o juiz do lugar não possa resolvê-lo. Pode ser um caso de assassinato, ou questão de propriedade, ou caso de violência, ou outra questão qualquer. Quando isso acontecer, vão até o lugar escolhido por Deus, o Eterno, para nele ser adorado e apresentem o caso aos sacerdotes levitas e ao juiz que estiver resolvendo as questões naquele tempo. Eles julgarão o caso e darão a sua decisão. Vocês farão tudo o que eles mandarem, obedecendo a todas as suas instruções. Aceitem a decisão deles, sigam as suas instruções e cumpram rigorosamente as ordens que eles derem”.

E o homem de Nazaré nos ensinou em Mateus 18.15-16 como devemos proceder diante de um pessoa que errou contra nós.

“Se o seu irmão errar contra você, vá e mostre-lhe a falha. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois. Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão. Mas, se não ouvir, leve com você uma ou duas testemunhas, para fazer o que mandam as Escrituras sagradas. Elas dizem: Qualquer acusação precisa ser confirmada pela palavra de pelo menos duas testemunhas”.

Assim, a dimensão catafática, positiva e simbólica, que possibilita o encontro com a vida, com o próximo e com o Eterno, é a verdade, conforme nos ensina o nazareno em seu diálogo com Pôncio Pilatos, relatado em João 18.37

“Então você é rei? - perguntou Pilatos. -- É o senhor quem está dizendo que eu sou rei! -- respondeu Jesus. -- Foi para falar da verdade que eu nasci e vim ao mundo. Quem está do lado da verdade ouve a minha voz.

Aqui está a chave para a compreensão do ensino do respeito ao nome do próximo. Quando temos compromisso com Aquele que encarnou a verdade, a respeitabilidade do nome do próximo faz parte da nossa vida.

Um ano de vitórias para todas e todos. Do pai, irmão, tio, primo, avô e amigo, Jorge Pinheiro.

vendredi 6 janvier 2012

21 gramas

Quanto pesa a sua alma?


"O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que eu vá, é ele quem me leva. O Teu dom inflama-nos e arrebata-nos para o alto. Andamos e partimos. Fazemos ascensões no coração e cantamos o cântico dos degraus”. [1]


Este texto de não é somente belo. Mil e trezentos anos antes de sir Isaac Newton, santo Agostinho intuía que há coisas tão leves, que sobem, ao invés de cair. E que todas as coisas só encontram o repouso quando estão no lugar que deveriam esta.


Para Alejandro González Iñárritu, que dirigiu o filme “Vinte e um gramas”, a vida é uma história de esperança: você pode ter medo da morte, mas ela virá e, nesse instante, seu corpo se tornará 21 gramas mais leve. E por isso coloca-nos a pergunta: será que é a alma que pesa esses 21 gramas?


Segundo Agostinho, teólogo da igreja cristã, "o corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não tende só para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim, o fogo encaminha-se para cima e a pedra para baixo. Movem-se segundo o seu peso. Dirigem-se para o lugar que lhes compete. O azeite derramado sobre a água aflora a superfície. A água vertida sobre o azeite submerge debaixo deste. Movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão em seu lugar próprio agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam".[2]
Ora, se tudo tem um peso, por que não a alma. E se a alma tem um peso, o que a leva para cima ou para baixo? Segundo Agostinho, repousamos no dom do Espírito, que é o nosso descanso, é o nosso lugar. É para lá que o amor nos arrebata e que o Espírito levanta o nosso abatimento desde as portas da morte.


O filme Vinte e um gramas explora a existência física e emocional de três casais. O professor universitário Paul Rivers e sua mulher Mary vêem o seu casamento oscilar entre a vida e a morte enquanto ele aguarda um transplante de coração. O ex-presidiário Jack Jordan e sua mulher Marianne lutam para criar os dois filhos, enquanto Jack reafirma seu compromisso com a igreja. Cristina perde o marido Michael Peck e suas duas meninas num acidente trágico que entrelaça destinos e os levará às profundezas da vingança, aos limites do amor e à promessa da redenção.


Assim, Paul, Cristina e Jack são colocados ante a realidade da morte. E ela pesa de maneiras diferentes na vida de cada um. Mas, diante da morte, para que a esperança se faça presente, a vida deve renascer.


Vinte e um gramas é o peso de cinco moedas de cinco centavos, de um beija-flor e, talvez, da alma humana.


O filme vale a pena, embora pese mais que 21 gramas. Mas, depois de ver o filme, não esqueça que o seu peso é o amor, que nos puxa para cima. Ou, como diz Agostinho:


"É o Teu fogo, o Teu fogo benfazejo que nos consome, enquanto vamos e subimos para a paz da Jerusalém celeste. Regozijei-me com aquilo que me disseram: iremos para a casa do Senhor. Lá nos colocará a boa vontade, para que nada mais desejemos senão permanecer ali eternamente".[3]


Ficha Técnica: Titulo Original: 21 Grams. Ano de Lançamento: 2003; Gênero: Drama Duração: 125 minutos.Direção: Alejandro González Iñárritu. Roteiro: Guillermo Arriaga, Alejandro González Iñárritu Elenco: Sean Penn, Naomi Watts, Benicio Del Toro, Charlotte Gainsbourg, Melissa Leo, Clea DuVall, Danny Huston, Carly Nahon, Claire Pakis, Nick Nichols, John Rubinstein, Eddie Marsan.


Notas
[1] Agostinho, Santo, Confissões, Livro XIII, cap. 9, Ed. Abril, São Paulo, 1973, p. 292.
[2] Idem, op. cit., pp. 291-292.
[3] Idem, op. cit., p. 292. 

Este texto faz parte do meu próximo livro, 
que estará nas bancas ainda em janeiro. Acho que você pode gostar




Compre, dè para os amigos e divulgue. 

Um escritor sempre necessita de solidariedade!




jeudi 5 janvier 2012

Depois de Mao Tsé-Tung...

A China moderna busca 
diretrizes morais no seu antigo passado
Craig Simons, de Yinchuan, China. WEB: Cox Newspapers


Uma pesquisa patrocinada pelo governo e cujos resultados foram divulgados
em fevereiro de 2008 revelou que até 300 milhões de chineses são religiosos, um número bem maior do que a antiga estimativa oficial de 100 milhões de pessoas.

Dentre os entrevistados pelos pesquisadores da Universidade Normal do Leste da China, em Xangai, 66% disseram que praticam religiões chinesas históricas, incluindo o taoísmo e o budismo, enquanto 12% - ou cerca de 40 milhões de pessoas - se identificaram como cristãos.
"A vida das pessoas se tornou materialmente mais rica na China, de forma que um número cada vez maior de gente está buscando uma espiritualidade mais intensa", explica Tong Shijun, professor de religião da Universidade Normal do Leste da China, em Xangai, e um dos que conduziu a pesquisa.
Com essa nova riqueza, muitos chineses se concentraram na compra de produtos com os quais sequer podiam sonhar sob o governo de Mao Tsé-Tung, o líder que dominou a China durante quase três décadas até a sua morte em 1976, e marcas como Gucci e Ferraris podem ser encontradas no mercado popular.
Segundo os especialistas, não se sabe ao certo se uma maior fundamentação espiritual e cultural implicará em valores morais comunitários mais profundos do que a atual preocupação com o status individual.


A busca por identidade
Seria difícil visualizar Zhang Xianliang, intelectual anticomunista, propondo que se lembrasse o passado. Rotulado de inimigo do Partido Comunista Chinês em 1958, ele foi internado em um campo de trabalhos forçados e lá permaneceu durante 22 anos, muitas vezes comendo pouco mais do que grama cozida para sobreviver.
Mas Zhang, que aos 70 anos de idade é um dos mais famosos escritores vivos da China, faz parte do número crescente de chineses proeminentes que pedem que a nação volte a se conectar com a sua história como forma de fortalecer um sistema de valores desvirtuado pelo Partido Comunista e pelo rápido deslocamento da China em direção ao capitalismo.
"Devido aos danos ao nosso legado cultural provocados pelo Partido Comunista e também à invasão da cultura ocidental nas duas últimas décadas, ficamos culturalmente à deriva", disse Zhang em uma recente entrevista em um estúdio cinematográfico e parque temático que ele administra na província de Ningxia, no norte da China. "Só agora estamos entendendo o quanto é importante cultivar um arcabouço moral comum".
Para Zhang e vários outros chineses, grande parte da intensificação dos problemas sociais em toda a China, incluindo o aumento da criminalidade e da corrupção, se deve ao enfraquecimento dos valores morais.
"Nos últimos anos houve um grande renascimento do interesse pela história e pelo pensamento da China", afirma Xia Xueluan, um sociólogo da Universidade de Pequim. "O nosso sistema de valores foi abalado pela modernização, de forma que as pessoas estão em busca de uma base moral".
Uma interpretação dos Analectos de Confúcio, os ensinamentos do monge chinês que viveu entre 551 e 779 A.C., vendeu 2,3 milhões de cópias entre novembro e fevereiro, e estabeleceu um recorde de 13,6 mil cópias vendidas em um único dia em uma livraria de Pequim.
Um programa de televisão chamado Sala de Leitura se tornou o de maior audiência de um canal da Televisão Central da China no ano passado, após passar a se concentrar em história e filosofia antigas, incluindo os ensinamentos de Zhuangzi e de Lao-Tsé, os mais importantes pensadores taoístas da China.
As universidades estão se beneficiando desse interesse crescente ao oferecerem mais matérias optativas e programas em filosofia tradicional. A Universidade de Pequim passou a oferecer programas em "cultura chinesa tradicional" em 2005, e faz propagandas desses cursos prometendo: "O conhecimento clássico abrirá novas estratégias para a sua vida".
Em abril, a universidade lançou a sua nova estratégia ao fazer uma parceria com uma companhia chinesa de telecomunicações para transmitir frases filosóficas tradicionais por telefones celulares mediante o pagamento de uma mensalidade de US$ 1,25. Um ensinamento confuciano enviado recentemente afirmava que "um cavalheiro deve lutar constantemente para atingir a auto-perfeição".
O Partido Comunista está também buscando os ensinamentos tradicionais para fortalecer o seu domínio. Desde 2005, o presidente chinês Hu Jintao clamou repetidamente pela construção de uma "sociedade harmoniosamente socialista" e em pelo menos um discurso enfatizou esta meta ao citar um ensinamento confuciano segundo o qual "a harmonia é algo de precioso". Mas a harmonia é uma coisa cada vez mais ausente em certos segmentos da sociedade.
O número de processos criminais na China mais do que dobrou entre 1999 e 2006, chegando a 4,65 milhões, enquanto o número de mortes causadas por acidentes de trabalho subiu para mais de 14 mil no ano passado, já que padrões inferiores de segurança acompanharam a rápida industrialização do país.
Ao mesmo tempo, a venda de produtos falsificados por vezes letais se tornou endêmica. No ano passado 11 pessoas morreram na província de Guangdong, no sul da China, após consumirem um remédio falsificado que, segundo o fabricante, combatia infecções da vesícula biliar.
Tais notícias não chegam a provocar escândalo na China. Entre uma série de casos recentemente expostos houve o da venda de ovos contaminados com um corante carcinogênico e o de um leite para recém-nascidos destituído da maioria dos nutrientes e que custou a vida de pelo menos 12 bebês em 2003 e 2004.
"Muita gente não se sente mais responsável pela sociedade, de forma que não pensa duas vezes na hora de vender produtos falsificados", afirma Zhang. "Temos milhares de leis, mas ninguém as obedece".
Assim como Confúcio, cujos Analectos enfatizam os valores da generosidade, da unidade e do respeito pela autoridade, o Partido Comunista publicou no ano passado uma lista de "oito virtudes e oito vícios" - incluindo lembretes para que os cidadãos trabalhem arduamente, amem o país e sirvam ao público - e encorajou os funcionários e cidadãos a aplicarem essas instruções às suas vidas diárias.
"Atualmente pouca gente enfatiza a importância dos ensinamentos morais nas nossas vidas, de forma que o governo está tentando ensinar um conjunto de valores comuns a todos", explica Xia. Ao mesmo tempo, os chineses estão em busca de mais diretrizes morais na religião.


Valores tradicionais
Na província de Ningxia, Zhang, que publicou vários livros sobre a sua experiência nos campos chineses de trabalhos forçados, argumenta que para voltar a se conectar com os valores tradicionais a China precisa entender a turbulência das décadas de 60 e 70.
Especialmente importante é compreender por que os chineses perderam o seu senso de valores comunitários durante a Revolução Cultural, que durou uma década, um período durante o qual incontáveis relíquias e templos foram destruídos como parte de uma iniciativa promovida pelo Partido Comunista no sentido de acabar com os remanescentes daquelas que Mao considerava filosofias atrasadas.
"A Revolução Cultural destruiu a nossa cultura e a substituiu pelo culto a Mao", afirma Zhang. "Quando Mao morreu, ficamos sem nada".
O Partido Comunista ainda proíbe a maioria das pesquisas sobre o governo de Mao por temer que discussões sobre traumas passados possam enfraquecer o controle partidário, e poucos chineses nascidos após 1976, quando Mao morreu, sabem muita coisa sobre a Revolução Cultural ou o Grande Salto Adiante, um movimento para coletivizar a agricultura no final da década de 50 que provocou uma onda de fome responsável pela morte de cerca de 20 milhões de pessoas.
No parque temático de Zhang, Wang Ying, de 23 anos, dá de ombros quando lhe perguntam o que aconteceu durante o Grande Salto Adiante.
"O meu livro escolar só traz meia página sobre isso, de forma que realmente não sei", diz ela.
Segundo Zhang, mais cedo ou mais tarde Pequim terá que permitir mais pesquisas sobre aquele período. Precisamos prestar atenção no nosso passado inteiro para entendermos o que perdemos nos anos 60 e 70", diz ele. "Somente dessa maneira poderemos saber que temos uma rica tradição cultural".


Fonte em português
Blog Controvérsia/Cox Newspapers. Tradução UOL. Esse post foi publicado no dia 25.07.2008. http://www.controversia.com.br/blog/?p=3018 (05.01.2012).

mercredi 4 janvier 2012

O caminho do sucesso


Moisés de Michelangelo

הצלחה
Hatslara
O caminho do sucesso


Salmo 90 – O desafio

(1) [Oração de Moisés, homem de Deus.] Senhor, tu tens sido o nosso refúgio. (2) Antes de formares os montes e de começares a criar a terra e o Universo, tu és Deus eternamente, no passado, no presente e no futuro. (3) Tu dizes aos seres humanos que voltem a ser o que eram antes; tu fazes com que novamente virem pó. (4) Diante de ti, mil anos são como um dia, como o dia de ontem, que já passou; são como uma hora noturna que passa depressa. (5) Tu acabas com a vida das pessoas; elas não duram mais do que um sonho. São como a erva que brota de manhã, (6) que cresce e abre em flor e de tarde seca e morre. (7) Nós somos destruídos pela tua ira, e o teu furor nos deixa apavorados. (8) Tu pões as nossas maldades diante de ti e, com a tua luz, examinas os nossos pecados secretos. (9) De repente, os nossos dias são cortados pela tua ira; a nossa vida termina como um sopro. (10) Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e nós desaparecemos. (11) Quem já sentiu o grande poder da tua ira? Quem conhece o medo que o teu furor produz? (12) Faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio. (13) Olha de novo para nós, ó SENHOR Deus! Até quando vai durar a tua ira? Tem compaixão dos teus servos. (14) Alimenta-nos de manhã com o teu amor, até ficarmos satisfeitos, para que cantemos e nos alegremos a vida inteira. (15) Dá-nos agora muita felicidade assim como nos deste muita tristeza no passado, naqueles anos em que tivemos aflições. (16) Que os teus servos vejam as grandes coisas que fazes! E que os nossos descendentes vejam o teu glorioso poder! (17) Derrama sobre nós as tuas bênçãos, ó Senhor, nosso Deus! Dá-nos sucesso em tudo o que fizermos; sim, dá-nos sucesso em tudo. (17)  Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos.

Vamos aprender com Moisés

1.                  A soberania de Deus

Moisés sabe que Deus é o Deus do passado, do presente e do futuro. Quem define o tempo de vida das pessoas. Mil anos para Ele é como se fosse um dia. Moisés deposita sua fé em Deus. E fé é fundamental -- sem ela não há sucesso. A partir de Deus, nossa mente descobre novas formas de fazer, de resolver problemas. Isso é sabedoria, que nasce do temor diante da autoridade e soberania de Deus. E sem sabedoria não há sucesso.

2.                 As limitações humanas

Moisés sabe que as pessoas são falhas. Somos dominados por desejos da carne, dos olhos e pela soberba que nos levam por caminhos errados, por ira e culpas. Devemos saber contar os dias para ter um coração sábio. Moisés diz que não há sucesso quando não encaramos da forma  certa o que pretendemos fazer. Devemos reconhecer nossa dependência de Deus para ir mais longe, para superar limitaçoes, medos, pois o sucesso não depende apenas da capacidade, mas da visão.

Michelangelo Buonarotti (1564)

3.                 Deus quer seu sucesso

הצלחה significa otimizar resultados. Se você descer ladeira abaixo você está em apuros, porque só existe uma maneira de ter sucesso nessa empreitada é fazendo skating. Você sabe qual é o caminho? Isso é importante, porque nenhuma estrada é um caminho fácil, mas pior ainda é quando se vai na direção contraria ao הצלחה.

Reflexões para 2012

Moisés clama por amor, alegria e felicidade. Sabe que essas bençãos pavimentam o caminho do sucesso. De forma prática, pede que Deus abençoe a obra de nossas mãos. O nosso fazer, os nossos modos de fazer, nossos planos e objetivos. Mas, lembre-se: saber fazer é importante, porém mais importante são os valores que movem você, se você acredita que Deus está nesse negócio. Se tem a certeza que está fazendo a coisa certa e de que Deus está com você, então você está na direção certa. Começou a trilhar o caminho do הצלחה.




lundi 2 janvier 2012

Um sermão para 6 de janeiro

Caminhando em direção ao caminhante 
O sermão pode ser acompanhado por solo do negro spiritual “Anunciais pelas montanhas”, de origem desconhecida, mas cuja letra encontramos no Folk Songs of the American Negro publicado em 1907 por John Wesley Work, Jr.

Peregrino a Santiago por Hieronymus Bosch

Introdução

Paulo foi um apóstolo missionário. Em sua terceira e última viagem missionária, passou pela Galácia, Frígia e visitou as igrejas em Derbe, Listra, Icônio e Antioquia. Trabalhou em Éfeso, a capital da província romana da Ásia. 

Depois de três invernos em Éfeso, Paulo passou o seguinte em Corinto. E ali fez preparativos para uma visita a Roma, e pensou antes passar por Jerusalém. 

Corajosamente Paulo arriscou. Deixou de lado os avisos sobre os perigos que pairavam sobre sua cabeça caso voltasse a Jerusalém. E seguiu em frente. Desejava ser o portador das ofertas levantadas para a grande igreja dos judeus. Lucas conta que “os irmãos nos receberam com alegria” (Atos 21.17), mas foi preso... 

"Falai pelas montanhas, nos montes e por todo lugar; falai pelas montanhas que Cristo já nasceu".

1 . O desejo de Paulo 

Romanos 1:11-13 Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios

Romanos 15:23-24 Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia.
A finalidade da carta de Paulo aos Romanos, assim como sua intenção de visitar Roma, era dar-lhes um fundamento seguro. E Paulo achava que isso seria um bem para ele também. Há aqui a idéia da reciprocidade na comunhão espiritual do Evangelho. 

Atos 23:11 Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma

Jesus aparece a Paulo e diz para ele ter coragem, porque ele vai para Roma. Mas devemos nos perguntar: na vida, o que deve vir primeiro? Nosso propósito, nosso bem ou a alegria de Deus? 

"Nasceu na estrebaria o grande Rei dos céus, o eterno prometido, Jesus, menino Deus".

2. Paulo vai para Roma 

Atos 26:30-32 A essa altura, levantou-se o rei, e também o governador, e Berenice, bem como os que estavam assentados com eles; e, havendo-se retirado, falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada tem feito passível de morte ou de prisão. Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César

Atos 27:1 Quando foi decidido que navegássemos para a Itália, entregaram Paulo e alguns outros presos a um centurião chamado Júlio, da Coorte Imperial

É verdade, Paulo vai para Roma. Mas não como missionário, e sim como prisioneiro. Enfrentou a prisão sob Felix, tempestade, naufrágio e depois se fez caminhante na estrada em direção a Roma. Mas na estrada, em Puzzuoli/Nápoles ... 

Atos 28:11-14 Ao cabo de três meses, embarcamos num navio alexandrino, que invernara na ilha e tinha por emblema Dióscuros. Tocando em Siracusa, ficamos ali três dias, donde, bordejando, chegamos a Régio. No dia seguinte, tendo soprado vento sul, em dois dias, chegamos a Putéoli, onde achamos alguns irmãos que nos rogaram ficássemos com eles sete dias; e foi assim que nos dirigimos a Roma.
... algo acontece...

3. Caminhando em direção ao caminhante 

Atos 28:15 Tendo ali os irmãos ouvido notícias nossas, vieram ao nosso encontro até à Praça de Ápio e às Três Vendas. Vendo-os Paulo e dando, por isso, graças a Deus, sentiu-se mais animado

Paulo escrevera a carta aos Romanos três anos antes. Os irmãos da capital romana sabiam do sofrimento do apóstolo e correram para a Praça de Apio, cerca de 70 quilômetros ao sul de Roma, e para Três Vendas, a 55 quilômetros de Roma. E aconteceu o encontro na estrada. E Lucas nos diz: "ao vê-los, dando graças a Deus, Paulo fica animado". 

"Nos campos os pastores ouviram com temor os anjos que cantavam em glória e resplendor".

Conclusão 

Deus, através de cada irmão e cada irmã, caminha em direção ao caminhante. Por isso, ao final da caminhada podemos ver que: 

1. A alegria de Deus é a nossa força 

2. Jesus sempre faz bem feito. 

3. O gesto, o encontro dos irmãos com aquele que caminha sempre traz alegria e conforto. Não por uma qualidade especial, não pela quantidade de pessoas, mas pela própria presença. 

Os irmãos e irmãs de Roma estavam lá, caminharam em direção a Paulo. 

"E nós, que o conhecemos, devemos proclamar que Cristo veio ao mundo e a todos quer salvar".

Do seu pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

samedi 31 décembre 2011

Em 2012

Ainda que a figueira não floresça 
Mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador
(Habacuque 3.18). 

Ele é o homem do abraço carinhoso, de coração generoso, que carrega quem sofre no colo. Esse Habacuque procura uma profecia de conforto, que dê ânimo ao povo, como se faz com uma criança que chora. Mas não é isso que acontece.

Habacuque reclama da decadência moral dos judeus e lamenta. E quando o Eterno informa que mobilizará os caldeus para exterminar a apostasia, estarrecido Habacuque diz ao Eterno que os caldeus são piores do que os judeus, que são traiçoeiros, e destroem tudo que encontram pela frente. Idolatram sua própria força e capacidade militar, ao invés de dar glória ao Eterno.

Habacuque, porém, sabe que o Eterno é puro de olhos e, por isso, espera a solução que virá dele. No entanto, está perplexo, a justiça do Eterno para com os inimigos caldeus e os judeus apóstatas não virá como fogo do céu, exclusivamente sobre os pecadores, mas como tsuname que avançará sobre inimigos e apóstatas e sobre todos. E o justo não surfará sobre essa maré de destruição -- deverá repousar apenas na sua fé.

Agradecimento, confiança e oração são as chaves espirituais para desvendar os mistérios do governo do Eterno sobre a terra. O espírito de Habacuque e de seus irmãos vacilam entre o medo e a esperança, mas ao final os julgamentos do Eterno triunfarão alegremente.

Muitas vezes, quando falamos de crise entre as nações, ou de dor e sofrimento entre os cristãos, nos perguntamos se o Eterno está preocupado com essas coisas. A resposta para essas questões estão presentes no rolo de Habacuque. O profeta do primeiro testamento ensina que as nações e os povos são julgadas pelo bem e pelo mal que produzem no mundo. E que esses juízos muitas vezes atingem também os filhos de Deus.

Conhecedor da alienação de Judá e consciente de que os caldeus invadiriam seu país, Habacuque sofre diante do que acontecerá ao seu povo. O profeta ora ao Senhor (3.1-19) e pede que Ele tenha misericórdia no exercício da sua justiça.

E foi assim, num momento extremo de dor, que Habacuque compôs o final do seu livro, o capítulo três, que é um dos poemas mais lindos do primeiro testamento. Nele o profeta mostra que toda a glória e todo o louvor pertencem a Deus.
  • Glória pelo que Ele é: misericordioso. O Eterno não vem só para julgar, mas também para livrar. “Mesmo que estejas irado, tem compaixão de nós” (3.2). 
  • Glória por sua majestade. Devemos aceitar a sua justiça, não porque entendemos ou deixamos de entender, mas porque Ele é o Eterno e nós somos pó. “Ele pára e a terra treme. Ele olha para as nações e elas ficam com medo” (3.6). 
  • Glória por nos manter firmes na adversidade. Lembre-se: ainda que a figueira não floresça, que não haja uvas nas parreiras, que os campos não produzam alimentos e que o rebanho seja exterminado, Ele está ao seu lado. “O Deus Eterno é a minha força. Ele torna o meu andar firme”. (3.19). 
Após as manifestações do Eterno no passado da história do povo, Habacuque canta, agora, a libertação antecipada contra o inimigo, através da interposição da majestade sublime do Eterno, de modo que aquele que crê pode regozijar-se no Eterno da sua salvação. Assim, o capítulo três, um salmo composto para ser cantado e acompanhado por instrumentos, fecha o livro com um lirismo cheio de esperança.

A violência aparentemente bem-sucedida dos caldeus, a apostasia dos judeus, e a maré da justiça de Deus, que varre a Palestina, é o pano de fundo para esse profeta de coração generoso falar de esperança e dizer que o justo viverá por sua
 hn"Wma (emuná) por seu posicionamento consciente e fiel diante da vontade soberana do Eterno.

Por isso, querido irmão, querida irmã, como Habacuque não se esqueça: quando tudo parece perdido, com Deus ainda não está perdido. Quando chegamos ao final de nossos recursos, os recursos de Deus ainda estão disponíveis. E quando a crise, a dor e o sofrimento nos encurralam, precisamos olhar para o alto, porque é Ele quem torna o seu andar firme como o de uma corça e quem leva você para as montanhas, onde estará seguro (3.19).

Que a fé de Habacuque sirva de exemplo para você e para mim neste ano de 2012. Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.