lundi 11 juin 2018

A existência e a justiça

Detalhe da Apresentação do meu livro Kadish, vida, morte e reino, na sua nova versão, revista e corrigida, a sair em breve.

A existência e a justiça

Moshe Pinheiro, rabino italiano, que viveu em Livorno, no século XVII, foi um dos discípulos mais influentes de Shabtai Zevi, com quem estudou literatura talmúdica e cabalística (1640-1650). Este querido ancestral não apoiou as reivindicações messiânicas de Shabtai Zevi, em 1648, embora fosse seu amigo. Por volta de 1650, deixou Izmir e se estabeleceu em Livorno, onde se tornou um mestre respeitado.

Aqui seguimos reflexões dos ancestrais que nos remetem à relação entre existência e justiça. Quando recorremos ao Sefer ha Neshamá, um tratado sobre a alma humana, vemos que a palavra hebraica para vida é חַיִּים. E se lê raiim, escrita no plural, porque somos pluralidade. Ou seja, uma unidade complexa, que acontece enquanto construção, mas também porque a vida não pode ser solitária, mas solidária, comunitária. Assim, tal complexidade precisa de equilíbrio e só pode ser plenamente construída associada à justiça, que é a qualidade de ser justo, mas também preciso.

Há outra simbologia, muito interessante, que parte da compreensão do Sefer Yetzirah, o livro da criação, um dos mais velhos tratados de cosmogonia judaica, que os primeiros ancestrais atribuíram a Abraham, mas que a partir da Idade Média passou a ser visto como obra do rabino Akiva. Nessa imagem, a primeira letra da palavra em hebraico חַיִּים, lê-se da direita para a esquerda, corresponde a uma mulher sentada num trono, com uma espada na mão direita e uma balança na esquerda. Ela tem os olhos bem abertos. Seu olhar encontra o nosso como espelho. A espada voltada para cima é a espada do espírito, a palavra de Adonai, porque não temos que lutar apenas na materialidade, mas também contra as hostes espirituais da maldade. A balança representa o equilíbrio necessário entre polos opostos, e está ligeiramente desequilibrada, porque a perfeição não existe no mundo manifesto, no qual tudo oscila em maior ou menor grau. A justiça, ou seja, o equilíbrio, não é permanecer estático, mas evitar a queda para um dos lados. A mão com a qual ela segura a balança destaca quatro dedos, a diversidade de nossa humanidade: espiritual, mental, física e emocional, que se encontram com o polegar. Tal simbologia traduz uma mensagem de diversidade na unidade. 

Assim, se no corpo existissem apenas fenômenos sucessivos, sem laço que ligasse passado e presente, como explicar a associação de idéias, o hábito e a memória? Ora, é necessário admitir que existe em nós uma realidade que vai além do cérebro, mental, e se liga aos atos que praticamos. Esta realidade é a própria identidade que expressa a existência de cada um de nós. E se existe a existência, tenho que perguntar o que ela é.

Tomando como modelo a complexidade do mundo, e partindo da piedade e da sabedoria de Moshe Pinheiro, ancestral amado, prefiro dizer que devemos trabalhar algumas hipóteses -- a primeira é: só existe o corpo e o resto é extensão dele; e a segunda hipótese é: a existência vai além do corpo. E fica a questão: como combinar o arrependimento com uma indigestão?

Seguindo os ancestrais desse povo da estrela, digo que somos substância extensa, diversa, mas una, seguimos e vamos além da materialidade. A existência é essa extensão e cada pessoa tem identidade na existência. Não é uma unidade numérica, mas una apesar de complexa. Quando envelhecemos, o corpo muda, mas a identidade, em expansão permanente, permanece. Nos tornamos um ao longo do espaço e do tempo e tal construção na existência me confere identidade. Mas continue a ler ... vamos ver isso melhor no correr destas reflexões.



A nossa fraqueza é a nossa força

Quando dizemos que Yeshua é a palavra de haShem, estamos dizendo que Ele tem o poder de revelar o mistério insondável de haShem e mostrar como Ele é. Yeshua é a comunhão de haShem conosco e nos revelou que Adonai é amor, justiça e poder. É por isso que o apóstolo diz: Ninguém nunca viu Adonai. Somente o filho único, que é Yeshua e está ao lado do pai, foi quem nos mostrou quem é Adonai.

Essa é a verdade maior: Yeshua tornou-se gente para que Adonai pudesse ter comunhão conosco e assim comunicar à humanidade o seu grande amor.

A palavra continua entre nós e, na sua comunhão conosco, tem o poder de plantar a fé, converter os corações e criar um novo mundo de paz. É a palavra que nos revela os propósitos, a vontade e o amor de haShem pela humanidade.

Os três curtos diálogos de Yeshua, presentes em Lucas 9.57-62,nos falam de três candidatos a discípulos. Originalmente são três estrofes onde o texto trabalha com imagens da natureza e costumes agrícolas da época de Yeshua. Falam do reino de haShem e todos os três diálogos apresentam sempre três temas: seguir + ir + preço. 

O primeiro candidato estava disposto a seguir e ir, mas não estava disposto a pagar o preço.

E nós, aceitamos pagar o preço? Caso queiramos poder e influência, talvez seja melhor seguir as águias, que têm segurança nos cumes das montanhas, ou quem sabe seguir as raposas, que dirigem seus negócios com astúcia. O filho do homem nos oferece um ministério sofredor, é isso mesmo que desejamos? 

O segundo candidato recebe o convite para seguir. Mas quer ir para casa. Yeshua diz que ele deve ir e proclamar o reino. 

Aquele que Yeshua chama às vezes está à margem da estrada pensando: O meu pessoal faz certas exigências, e a força dessas exigências é muito grande. Yeshua não espera que eu frustre as expectativas do meu pessoal, não é? Mas é exatamente isso que Yeshua quer  que nós façamos. A proclamação do reino de haShem só tem significado quando apresenta o reino como uma realidade presente. Quem está espiritualmente morto pode cuidar de responsabilidades tradicionais, mas não tem condições de proclamar a chegada do reino. 

O terceiro candidato quer seguir e como o segundo quer ir primeiro para casa. E como o primeiro é desafiado a pagar o preço.

Aquele que não pode resolver a tensão das lealdades em conflito e vive olhando para trás para ver o que os outros estão ordenando que faça, segundo Yeshua, não está apto para o reino de haShem. O camponês distraído pode dar com o arado numa pedra, pode quebrá-lo ou cansar o boi inutilmente. O camponês distraído por lealdades divididas não será capaz de manter a harmonia, não será apenas improdutivo, mas também destruidor.

E você querido brother, quer seguir, mas primeiro ir realizar tarefas que não podem ser adiadas? Ou até aceita ir, mas acha que o preço é alto demais?  Lembre-se, nessas três curtas histórias, Yeshua está nos ensinando que quando somos pressionados por alternativas definidas, mesmo dolorosas, precisamos decidir. Eis o desafio que o Mestre nos coloca".

Trecho de Jorge Pinheiro, Kadish, vida, morte e reino, São Paulo, Fonte Editorial, 2018, pp. 56-58. 
Leia, compre e divulgue.




samedi 9 juin 2018

O amor do Deus único

O amor do Deus único foi revelado no messias através dos seus ensinos e das suas obras, da sua morte na cruz. Quando crescemos na graça e no conhecimento de Yeshua hamashiah, nos revestimos do caráter dele e nos parecemos mais com ele. O caráter de Yeshua se revela em nós através das virtudes que dão o tom da nossa comunhão com os irmãos na comunidade de fé.

Nossa comunhão com as pessoas, na comunidade de fé, se faz através da misericórdia, que é um relacionamento afetivo e cuidadoso com irmãos e pessoas machucadas e abatidas. Quando Yeshua viu a multidão, ficou com muita pena daquela gente porque eles estavam aflitos e abandonados, como ovelhas sem pastor. Por isso, somos chamados à bondade, prontos para fazer o bem sem olhar a quem; à humildade, numa atitude prestativa; à mansidão, numa relação sem coerção para mudança das pessoas; à longanimidade, com boa vontade para ser tolerante diante da fraqueza das pessoas; ao perdão, já que somos perdoados por haShem caso perdoemos; e à paz, já que como resultado da prática do amor, do perdão e da bondade, a comunidade de fé mostra ao mundo que a reconciliação e a paz podem ser alcançadas em Yeshua. As decisões feitas em justiça e amor constroem a paz que excede a compreensão humana, mesmo nas situações de conflito.

Nós, criados à imagem e à semelhança do Deus único, somos chamados a viver a experiência cristã como comunidade de fé. Podemos usufruir, como iguais que somos, as bênçãos dessa comunidade nas celebrações de nossa igreja. Somos convocados a conviver no corpo de Yeshua que alcança o mundo, na comunidade de fé da nossa igreja local.

Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Jesus. A lei da ruach da vida em Yeshua te libertou da alienação e da extinção. Coisa impossível ao esforço humano, porque enfraquecido pelo distanciamento, o Deus único enviando o seu filho numa humanidade semelhante à nossa, condenou a alienação, o distanciamento e os alvos errados, a fim de que sua justiça se cumprisse em nós que vivemos segundo o espírito. Com efeito, os que vivem segundo o  espírito, as desejam as coisas que são do espírito.

Na carta do apóstolo Paulo -- que passaremos a chamar de rabino Shaul por ter sido fariseu filho de fariseus --, aos judeus romanos temos dois blocos de textos: um maior, que é o capítulo oito inteiro, e cuja temática é a vida sob a lei do espírito; e um bloco menor (1-5) que trata especificamente da vida emancipada por esta lei do espírito. Esses dois blocos nos dão a linha de pensamento de Shaul: a vida emancipada; a vida exaltada; a vida esperançosa; e a vida exultante. Dessa maneira, o rabino traça o curso da vida, na qual a graça triunfa sobre o esforço humano, e os justos experimentam o livramento da alienação.

A epístola de Shaul, como um todo, enfoca três blocos temáticos: um que fala da justificação através da emunah; outro que discute a exclusão temporal do povo da estrela, e a inclusão daqueles que não têm o berit milah; e por fim exortações práticas.

Ao analisar a justificação, mostra que a libertação do ser humano repousa fundamentalmente sobre a emunah, que é fé-posicionamento, proveniente da graça de Yeshua. Essa misericórdia de haShem não depende da lei, porque o homem, em sua natureza pecaminosa, não tem como responder efetivamente às exigências da lei, que expressa a santidade de haShem. Assim, a graça provem do messias, que no seu amor e sacrifício, perdoa os pecados dos humanos. A liberdade da vida cristã, liberdade diante da lei, não depende da própria pessoa, nem do que ela possa fazer, mas daquilo que haShem já fez por ela.

Há outra carta do rabino Shaul, que também trata dessa relação esforços humanos versus graça, que é a carta escrita aos gálatas. Ali, o rabino escreve sobre a justificação através da emunah, falando da liberdade.

Sem dúvida, a análise de Shaul parte da Torá e ele escreve aos judeus romanos, e explica que a promessa feita a Abraham teve por base a emunah, já que ainda não tinha realizado o berit milah. 

O texto está inserido numa epístola, forma literária específica, amplamente utilizada pelos apóstolos e pela comunidade de fé primitiva. No capítulo que segue, analisaremos com mais detalhes esta forma literária, inserindo-a no contexto histórico de gregos e romanos durante o primeiro século da Era Comum. A epístola aos Romanos é uma carta de construção sofisticada, porque o rabino Shaul, o apóstolo Paulo cristão, intercala um pensamento central com várias digressões, tornando complexa a conexão das idéias. E o tema que o rabino trata é um assunto eletrizante para a época, mas hoje aceito pela totalidade dos seguidores de Yeshua: povos e raças de todo o mundo podem se tornar seguidores de Yeshua e não somente o povo da estrela. 

Em Romanos 8:1-5, encontramos no grego cinco verbos fundamentais para a compreensão do que o autor estava expondo. São eles: (1) receber alforria, o oposto ao estado de escravidão, não estar sujeito a uma obrigação, livrar, libertar. Te libertou e variantes: me libertou, nos libertou. É um aoristo passado, isto significa que a ação foi plenamente realizada, mas segue vigente no presente. (2) penalidade imposta por condenação judicial, servidão penal, condenar. Também é um aoristo passado. (3) encho, aterro, encho a ponto de transbordar, dou plenitude, cumpro. (4) ando, vivo, dirijo minha vida. (5) penso, ter a mente controlada por, ter como hábito de pensamento, inclinar-se.

Desses verbos, dois são antônimos, receber alforria versus condenado judicialmente, e levam à oposição que o rabino quer mostrar entre a lei da ruach da vida e a lei da alienação e do extermínio. Assim, ao regime da alienação, o rabino Shaul opõe o novo regime da ruach hakadosh  e diz que em nós transborda o que é justo e bom. Esse transbordar o que é justo, o que é bom, só é possível pela união com o messias através da emunah e tem sua tradução no mandamento do amor. Isto porque, não vivemos segundo a materialidade da vida, mas andamos no espírito, ou seja, temos a mente controlada pela ruach.

A palavra lei aparece setenta vezes no texto de Romanos e sempre tem uma das três conotações: (a) revelação de haShem e de sua santidade, (b) foi dada para esclarecer o que é a alienação, e (c) existe para orientar a vida dos justos. Da mesma maneira, a palavra carne é sempre utilizada com o sentido de natureza humana enfraquecida e natureza humana não regenerada.

O rabino nos apresenta a operação da ruach hakadosh, entendida como aquela que comunica a vida, aquela que dá liberdade e que intercede junto a Adonai.

É interessante notar que o texto original de Romanos 8, em grego, começa com dois advérbios intercalados por uma partícula ilativa, que poderíamos traduzir assim: Atualmente, por isso, nada em absoluto pode condenar aqueles que estão em Yeshua. 

Essa partícula ilativa, que é um conectivo, nos leva ao capítulo 7, onde o rabino Shaul mostra que esforços humanos e alienação não são sinônimos. E que há uma grande diferença entre a esforços humanos e a natureza humana. Entre o que é espírito e o que é material. O corpo, com os membros que o compõem interessa a Shaul enquanto instrumento da vida moral. Submetido à tirania da materialidade, à alienação e à destruição, Shaul clama: quem me livrará? E dá "graças a haShem, por Yeshua, nosso senhor". É a partir desse clímax, que dá sequência ao texto, informando que por isso, hoje, nada em absoluto pode condenar os que estão no messias. 

No mundo de gregos e romanos, as cartas particulares tinham em média, cerca de noventa palavras. Já os textos literários, como os de Sêneca, por exemplo, tinham em média duzentas palavras. As epístolas de Shaul, no entanto, eram bem maiores. A menor delas, dirigida a Filemon, tem 335 palavras, e a maior, enviada a igreja de Roma, 7.101 palavras. Assim, podemos dizer que este Paulo, rabino e apóstolo, criou um novo gênero literário, a epístola, maior que as cartas e os textos literários comuns à época, de conteúdo teológico explícito, e dirigida a comunidade específica.

Quase sempre, as cartas eram ditadas a um escriba profissional, chamado amanuense, que usava uma espécie de taquigrafia durante o ditado rápido. Depois, o amanuense burilava o texto, e o autor, finalmente, editava a carta. Na carta de Shaul aos judeus romanos seu amanuense foi Tércio.

Quando escreveu sua epístola aos romanos, o rabino Shaul tinha mais de cinquenta anos e vinte e cinco de encontro com o mashiah. Estava ansioso para ministrar nessa comunidade romana, que já era conhecida no mundo, e por isso escreveu a carta que deveria preparar sua futura visita. Foi escrita em Corinto, quando estava levantando uma coleta para as comunidades da Palestina. Partiu, então, para Jerusalém para entregar o dinheiro. Lá foi preso, e acabou sendo levado à Roma, mas como prisioneiro. 

Teólogos como Orígenes e Barth consideram que a carta do rabino aos judeus romanos é o ponto alto dos textos neotestamentários. Ela sedimentou a compreensão de Agostinho e a reforma de Lutero. Calvino considerava que quem entendesse esta epístola estaria com a porta aberta para a compreensão de toda as escrituras judaico-cristãs. E Tyndale disse algo parecido, ao afirmar que a carta é "a parte principal e mais excelente do Novo Testamento, e o mais puro evangelion, isto é, as boas novas a que chamamos Evangelho, e também uma luz e um caminho para penetrar em toda a Escritura".

Em termos de ensino, Shaul mostrou que a Torá, boa e santa, faz as pessoas conhecerem a vontade de haShem, mas não lhes transmitiu a força para cumpri-la. Deu-lhes consciência de sua alienação e da necessidade que têm de socorro. Esse socorro, inteiramente gratuito, chegou através de Yeshua. E a humanidade, ferida pela alienação, é recriada em Yeshua, podendo agora viver em liberdade e justiça, segundo a vontade de haShem.

Romanos tem como tema central a revelação da justiça de haShem e a universalidade da obra de Yeshua. E, se Romanos é o centro nevrálgico das Escrituras, o capítulo 8 é o coração da carta. 

O capítulo 8 de Romanos mostra que a lei foi, através do sacrifício de Yeshua, dominada pela graça. E a epístola de Romanos foi fundamental no processo vivenciado pela Reforma. A igreja que rompeu com o catolicismo romano, quer a reformada de Lutero, Calvino e Zwinglio, quer a revolucionária de anabatistas e inspiracionistas, entendeu que o apóstolo Paulo traçou na epístola aos judeus romanos o curso da vida cristã, mostrando que através da graça há vitória plena sobre a alienação.

Shaul queria deixar claro que as propostas anteriores não tinham razão de ser, pois a obediência à lei nunca logrou êxito. Através de Yeshua, unido a Yeshua pela ruach hakadosh, aquele que crê está livre de sua alienação e pode iniciar uma vida de liberdade, dentro de uma nova lei, a lei da ruach hakadosh da vida no messias Yeshua.

Os reformados radicais do século dezesseis, contextualizando os ensinamentos de Shaul, entenderam que não havia mais necessidades de obras para se alcançar a liberdade. O que a igreja católica romana proclamava, tanto no que concerne às indulgências, como às obrigações de caridade, estava fora do ensino do rabino nas epístolas aos romanos e aos gálatas, assim como no restante das Escrituras.

Ainda hoje Romanos apresenta ensinamentos fundamentais para a comunidade de Yeshua: a alienação humana; sua luta interior, a gratuidade da liberdade, a eficácia da vida além da vida e o ser levantado de Yeshua. Mas também fala da justificação através da emunah e a adoção dos justos filhos. É a partir desta hermenêutica que Romanos pode ser interpretado. Teremos, então, uma melhor compreensão daquilo que o rabino Shaul chama da lei da ruach da vida no messias Yeshua e de sua importância no caminhar do cristão. Ah! Se você ainda não leu a carta do rabino Shaul/Paulo aos romanos, não perca tempo. Vale a pena.

Texto de
Jorge Pinheiro, Kadish, vida, morte e reino
Fonte Editorial, São Paulo, 2018, pp. 38-45.




mercredi 18 avril 2018

A existência a partir da leitura

A existência a partir da leitura
Jorge Pinheiro, PhD


Ou, “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”.

O fazer da existência vale a pena. A eternidade aprecia esse bem-fazer humano, que tem seu próprio tempo, que integra a existência de cada ser na história dos fazeres humanos. É por isso que Bereshit, o primeiro texto na Torá, apresenta um ponto zero. O tempo zero vai do entardecer à meia-noite. É quando o sol desilumina o nosso espaço de forma gradual. O tempo do não-ser não é uma fratura do tempo, é tempo da história. Qoh não contempla a passagem do tempo, mas a vinda do tempo. O tempo significa nada ou pouco para o eterno, mas há um sentido de tempo para o humano. A conclusão de Qoh é que temos de ser no tempo para dar valor à eternidade que brota do nada do não-ser. E a partir de Qoh vamos a Paulo de Tarso.

Pede-se ser levantado

 “Você está falando de bens materiais, de coisa frágil. Se você tem certeza de que esses bens ficarão sempre com você, fique com eles sem partilhar com ninguém. Mas se você não é o senhor absoluto deles, se tudo que você tem depende mais da sorte do que de você mesmo, por que este apego a eles?”.[1]

Fuks conta que Freud, um dia depois do sepultamento do pai, sonhou com um cartaz onde estava escrito: “Pede-se fechar os olhos”. Mais tarde, em carta a Fliess, o pai da psicanálise falou dos sentidos subjetivos da frase: “era parte da minha auto-análise, minha reação diante da morte de meu pai, vale dizer, diante da perda mais terrível na vida de um homem”.[2]

Não vou entrar nos detalhes das leituras que o próprio Freud fez da frase que apareceu em seu sonho. Diria ao leitor que vale a pena ler Freud e a Judeidade. Pretendo aqui levantar uma proposta de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”. É a partir dessa hermenêutica, que vamos ler trechos do final da primeira carta de Paulo aos Coríntios. 

“... Foi sepultado e foi despertado do sono no terceiro dia, de acordo com o escrito”. 

A frase acima, e a continuação do texto, é uma das mais importantes sobre a egeiro e anástasis, duas expressões gregas não substancialmente diferentes, que sintetizam a teologia da anástase dos cristãos do primeiro século. As traduções posteriores, e creio que dificilmente poderiam ser diferentes, criaram um padrão de imagem que dificultam a experiência do ir além. Por isso, fomos obrigados antes da tradução transversa fazer a desconstrução histórico-filosófica da anástase.

As leituras da anástasise egeiró remontam a Homero e ao grego antigo e com seus sentidos correlatos axanástasisanhistémi anazaó, que podem ser traduzidas por “ficar de pé”, “ser levantado” e “voltar à vida”, foram fundamentais para a construção do conceito anástase, amplamente utilizado pelas ciências do espírito. Mas é com Platão, na literatura filosófica, que vamos encontrar um debate fundamental para a teologia da anástase, quando apresenta a alma enquanto semelhança do divino e o corpo enquanto semelhança do que é físico e temporário. 

Platão, em Fédon[3], num diálogo entre Sócrates e seus amigos defendeu a idéia da imortalidade da alma. Sócrates foi condenado à morte por envenenamento, mas não teve medo, por crer ser a alma imortal. Para Platão, as almas possuem semelhanças com as formas, que são realidades eternas por trás do mundo físico, natural. Nesse sentido, para Platão, o corpo morre, mas a alma não. Ele parte do padrão cíclico da natureza, frio/ quente/ frio, noite/ dia/ noite. Assim, os mortos despertam numa nova vida depois da morte: caso contrário, a vida desapareceria.

E dirá através de Sócrates em Fédon: “(...) perguntemos a nós mesmos se acreditamos que a morte seja alguma coisa? (...) Que não será senão a separação entre a alma e o corpo? Morrer, então, consistirá em apartar-se da alma o corpo, ficando este reduzido a si mesmo e, por outro lado, em libertar-se do corpo a alma e isolar-se em si mesma? Ou será a morte outra coisa? (...) Considera agora, meu caro, se pensas como eu. Estou certo de que desse modo ficaremos conhecendo melhor o que nos propomos investigar. És de opinião que seja próprio do filósofo esforçar-se para a aquisição dos pretensos prazeres, tal como comer e beber?” 

Paulo conhecia a discussão filosófica grega acerca da anástase, já que isso se evidencia em seus escritos, principalmente no trecho que estamos analisando, mas é certo que construiu seu conceito também levando em conta a tradição judaica, acrescentando novidades ao debate teológico. Existem referências ao ser trazido de volta à vida nas escrituras hebraico-judaicas. Mas a preocupação judaica era existencial, como vimos em Qohélet. Mais do que remeter a um futuro distante, embora tais leituras estejam presentes na teologia de alguns profetas, as histórias de anástase relacionadas aos profetas Elias e Eliseu falam do aqui e agora. Aliás, este último, mesmo de depois de morto, trouxe à vida um defunto que foi jogado sobre sua ossada. Ao tocar os ossos de Eliseu, o morto ficou vivo de novo e se levantou. Esse caminho será a novidade da compreensão cristã/ helênica da anástase.

“Somos arautos de que o ungido foi levantado do meio dos mortos: como alguns podem dizer que não há o ser erguido dos mortos? E, se não há o despertar do sono da morte, também o ungido não foi levantado. E se o ungido não foi levantado, é inútil o que falamos e também inútil a nossa crença. Somos então testemunhas falsas, porque anunciamos que Deus ergueu o ungido. Mas se ele não foi levantado, os mortos também não são erguidos. E se os mortos não são erguidos, o ungido também não o foi. E, se o ungido não foi erguido, a nossa crença é inútil e vocês continuam a vagar sem destino. E os que foram colocados para dormir no ungido estão destruídos”. 

Outras fontes de Paulo foram o profeta Daniel e outras literaturas intertestamentárias, que trabalharam com a idéia de “despertar subitamente do sono”. Chifflot e De Vaux[4]situam o livro de Daniel no período helênico por entender que é uma edição de antigos fragmentos do período babilônico, compilados, organizados e contextualizados ao momento histórico descrito no capítulo onze. Nesse capítulo, as guerras entre lágidas e selêucidas, assim como as investidas de Antíoco IV Epífanes contra Jerusalém e o templo são narradas com riquezas de detalhes. Ao contrário do que acontece nos livros proféticos anteriores, aqui o autor cita fatos aparentemente insignificantes, querendo demonstrar que é uma testemunha ocular da história. Dessa maneira, a edição que conhecemos do livro de Daniel deve ser situada no período da grande perseguição de Antíoco IV Epífanes, possivelmente entre os anos de 167 e 164 a.C., segundo Chifflot e De Vaux, já citados. A partir desse enquadramento, os capítulos 7 a 12 de Daniel, enquanto edição são chamados de “vaticinia ex eventu”, dado que o texto é contemporâneo aos acontecimentos descritos. Esses capítulos expressam a reação contra a helenização da Judéia e das perseguições em curso, mas, paradoxalmente, uma forma de pensamento afetado pela civilização helênica.

A partir da segunda metade do livro, o autor trabalha sobre dois temas registrados na primeira metade: que o judeu deve ser fiel a Deus em meio à tentação e à provação; e que Deus defende o servo leal que prefere morrer a violar os mandamentos. Nos seis capítulos finais, o sábio (ou grupo de sábios, cujos escritos foram compilados por um redator) retoma o conteúdo das visões que teve em relação à profanação do templo, em 167 a.C., e o erguimento da “abominação desoladora”. 

Durante o período helênico idéias novas afloraram em meio à vida judaica, entre elas a esperança da recompensa escatolõgica apresentada pelas profecias apocalípticas, como em 2Macabeus 7, Daniel 12:2-3 e o Escrito de Damasco 4:4, que se traduzem concretamente na anástase.

Assim, os elementos novos da compreensão paulina da anástase já aparecem delineados no profeta Daniel: “Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente”. Paulo, porém, somará um componente existencial à compreensão de Daniel, dirá que a morte, o maior de todos os odiados pela espécie humana, será privada de força.

“Caso o ungido só sirva para esta vida, somos as pessoas mais dignas de lástima. Mas o ungido foi levantado dentre os mortos e foi o primeiro fruto dos que foram colocados para dormir. Porque se a morte chegou pela humanidade, também o ungido dará à luz nova vida. Como morre a espécie, no ungido ela recebe vida. E isso acontece numa ordem: o ungido é o primeiro fruto, depois os que pertencem ao ungido, quando ele aparecer. E veremos o limite, quando o ungido entregar o reino a Deus e Pai, e tornar inoperante o império, os poderes e os exércitos. Convém que seja rei até derrubar os odiados por terra. O último odiado a ser privado de força é a morte, porque o resto já foi colocado debaixo de seus pés”. 

É interessante que Paulo em seu texto sobre a anástase cita o dramaturgo, filósofo e poeta grego Menandro (342-291 a.C.), que num verso disse: “as más companhias corrompem os bons costumes”. E voltando ao Misantropo: “insisto que, enquanto você é dono deles, você deve usá-los como um homem de bem, ajudando os outros, fazendo felizes tantas pessoas quantas você puder! Isto é que não morre, e se um dia você for golpeado pela má sorte você receberá de volta o mesmo que tiver dado. Um amigo certo é muito melhor que riquezas incertas, que você mantém enterradas”. Tudo indica que Paulo gostava de teatro e de comédias.

Que Paulo recorreu à tradição profética fica claro quando cita o profeta Oséias literalmente: “eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte? Onde estão ó morte as tuas pragas? Onde está ó morte a tua destruição?”. Mas há uma correlação entre Platão e a tradição hebraico-judaica, que pode ser lida nesta carta de Paulo. Isto porque, como afirma Fuks, o leitor desconstrói, pois ler não é repetir o texto: é um modo de criação e de transformação. Por isso, digo que ler é um ato de anástase. E Paulo trabalhou de forma brilhante o termo, tanto nas suas leituras e estudos, como na reconstrução do próprio conceito.

“Que farão os que se batizam pelos mortos, se os mortos não são chamados de volta à vida? Por que se batizam então pelos mortos? Por que estamos a cada hora em perigo? Protesto contra a morte de cada dia. Eu me glorio por vocês, no ungido Iesous a quem pertencemos. Combati em Éfeso contra animais ferozes, mas o que significa isso, se os mortos não podem ressurgir? Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos. Mas não vamos nos enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”.

Na sequência da tradição hebraico-judaica, ou como diz Fuks, “os antigos hebreus não estavam trabalhados, como nós, pela necessidade de abstração, de síntese e de precisão na análise conceitual do real, herança dos gregos”, Paulo está preocupado com o corpo, com a vida.

“Mas alguém pode perguntar: como os mortos são trazidos à vida? E com que corpo? Estúpido! O que se semeia não tem vida, está morto. E, quando se semeia, não é semeado o corpo que há de nascer, mas o grão, como de trigo ou qualquer outra semente. Deus dá o corpo como quiser, e a cada semente o corpo que deve ter. Nem toda a carne é uma mesma carne, há carne humana, de animais terrestres, de peixes, de aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, uma é a dignidade dos celestes e outra a dos terrestres. Diferente é o esplendor do sol do esplendor da lua e das estrelas. Porque uma estrela difere em brilho de outra estrela. Assim também o ser levantado dentre os mortos. Semeia-se o corpo perecível; levantará sem corrupção. Semeia-se na desgraça, será levantado em excelência. Semeia-se em debilidade, será erguido vigoroso. Semeia-se corpo controlado pela psiquê, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo controlado pela psiquê , também há corpo espiritual”. 

Para Paulo, anástase leva à uma teologia da vida que nasce do corpo. Mas, não é simplesmente ter de volta a vida do corpo material, tanto que em certo momento Paulus diz que “deveremos ser a imagem do homem do céu”.

“Assim também está escrito: o primeiro ser humano, terrestre, foi feito ser-que-deseja, o futuro humano será um espírito-cheio-de-vida. Mas o que não é espiritual vem primeiro, é o natural, depois vem o espiritual. O primeiro ser humano, da terra, é terreno; o segundo humano, a quem pertencemos, é celestial. Como é o da terra, assim são os terrestres. E como é o celeste, assim são os celestiais. E, como somos a imagem do terreno, assim seremos também a imagem do celestial”. 

O pensamento grego, platônico, está presente na anástase paulina, já que a eternidade não é construída em cima da carne e do sangue. Vemos aqui a dualidade entre a realidade física e o mundo das formas. O dualismo metafísico de Paulo admite aqui duas substâncias que regem o ser humano, no mundo natural, a psiquê, e no mundo pós-anástase, o pneuma. E dois princípios, nesse sentido bem próximo a Platão, o bem e o mal. 

“E agora digo que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a eternidade. Digo um mistério: nem todos vamos adormecer, mas seremos transformados. Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta, porque a trombeta soará, os mortos serão levantados incorruptíveis, e seremos transformados. Convém que o corrompido seja tornado eterno, e o que é mortal seja tornado imortal. E, quando o que é corruptível se vestir de eternidade, e o que é mortal for transformado em imortal, então será cumprida a palavra que está escrita: a morte foi conquistada definitivamente. Onde está, ó morte, a tua picada? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, a picada da morte é o desviar-se do caminho da honra e da justiça, e a força do erro é a lei. Mas a alegria que Deus dá é a vitória por Iesous, o ungido, a quem pertencemos. Sejam firmes e persistentes, abundantes no serviço daquele a quem pertencemos, conscientes de que o trabalho árduo e duro não é desprezado por aquele a quem pertencemos”. [Ver texto na Vulgata].

Caso voltemos à análise do conceito anástase no capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, tomando como ponto de partida o desafio de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”, vemos que Paulo traduziu para as novas gerações o desejo judaico-helênico, humano, da anástase: “Pede-se ser levantado”.

Vulgata -- 1Coríntios 15
[50]Hoc autem dico, fratres: quia caro et sanguis regnum Dei possidere non possunt: neque corruptio incorruptelam possidebit.

[51]Ecce mysterium vobis dico: omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur. [52]In momento, in ictu oculi, in novissima tuba: canet enim tuba, et mortui resurgent incorrupti: et nos immutabimur. [53]Oportet enim corruptibile hoc induere incorruptionem: et mortale hoc induere immortalitatem. [54]Cum autem mortale hoc induerit immortalitatem, tunc fiet sermo, qui scriptus est: Absorpta est mors in victoria. [55]Ubi est mors victoria tua? ubi est mors stimulus tuus?

[56]Stimulus autem mortis peccatum est: virtus vero peccati lex. [57]Deo autem gratias, qui dedit nobis victoriam per Dominum nostrum Jesum Christum. [58]Itaque fratres mei dilecti, stabiles estote, et immobiles: abundantes in opere Domini semper, scientes quod labor vester non est inanis in Domino.

Bibliografia recomendada

Andrés Torres Queiruga,Repensar a ressurreição, São Paulo, Paulinas 2010.
Jonas Machado, Morte e ressurreição de Jesus, São Paulo, Paulinas, 2009.
Marko Ivan Rupnik, Ainda que Tenha Morrido, Viverá/Ensaio Sobre a Ressurreição dos Corpos, São Paulo, Paulinas, 2010. 




[1]Menandro, O Misantropo. Site: Oficina de teatro. WEB: www.oficinadeteatro.com
[2]Betty Fuks, Freud e a Judeidade, a vocação do exílio,Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000, pp. 127-133.
[3]Platão, Fédon, Coleção Os Pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1987.
[4]Th.-G Chifflot e R. De Vaux, La Sainte Bible,Les Editions Du Cerf, Paris, 1973. Tradução: A Bíblia de Jerusalém, Ed. Paulinas, São Paulo, 1985, p. 1347.

jeudi 12 avril 2018

Le chemin de la spiritualité

Y a-t-il un chemin humain?
Si oui, quelles sont les caractéristiques de ce chemin?
Si oui, quels sont les défis de ce chemin?


« C’est par la foi qu’Abraham, lors de sa vocation, obéit et partit pour un lieu qu’il devait recevoir en héritage, et qu’il partit sans savoir où il allait.» Hébreux 11.8


Le chemin de la spiritualité et de la liberté
Jorge Pinheiro, PhD


Maintenant, nous allons réfléchir sur le chemin humain, à partir d’un concept de l’Ancien testament « la halakha ». La halakha est la notion de la loi de Dieu comme le chemin de la vie. Et cette notion est une des plus essentielles de l’Ancien Testament. On pourrait même la nommer la notion centrale. Donc, nous partirons de la pensée de l’Ancien testament, mais aussi de la construction millénaire chrétienne.

Il y a trois questions qui brûlent l'esprit de ceux qui se concentrent sur les choses de Dieu: pourquoi dois-je exister? Qui suis-je? Ai-je un destin? Nous passons à une réflexion de ces questions à partir de ce concept de l’Ancien testament, la halakha, mais aussi le concept de chemin dans la révélation chrétienne. 


À cause d'introduction


L'être humain est apprécié dans l’Ancien testament parce qu'il ne vient pas par hasard, il a l'universalité, il a liberté de construire son propre chemin. Et les textes du Pentateuque ne prétendent pas que l'être humain est bon ou mauvais, mais agit de dans polarité. 

Il semble clair dans le dialogue de Dieu avec Caïn, quand il dit qu'il est enclin au mal, que ce mal est devant lui comme un animal sauvage, mais Caïn doit le maîtriser. Cette conversation présente d’une façon humaine, la tendance au mal. On peut donc comprendre l’affirmation de la Genèse 6.5 : « L’Eternel vit que la méchanceté des hommes était grande sur la terre, et que toutes les pensées de leur cœur se portaient chaque jour uniquement vers le mal.»

Et Genèse 8.21, « L’Eternel sentit une odeur agréable, et l’Eternel dit en son cœur : Je ne maudirai plus la terre, à cause de l’homme, parce que les pensées du cœur de l’homme sont mauvaises dès sa jeunesse ; et je ne frapperai plus tout ce qui est vivant, comme je l’ai fait

Fait intéressant, aucun de ces textes ne parle pas de l'être humain comme essentiellement corrompu, mais enclin au mal. Le mot yetzer, qui vient de la racine yzr utilisée lorsque les textes parlent de mauvais penchant, signifie la mise en forme, de proposer. L'idée est que nous sommes guidés par nos penchants, notre imagination, que ce soit bon ou mauvais. En ce sens, nous sommes des animaux totalement différents. Et c'est exactement yetzer qui combinée à la liberté humaine rend la repentance possible. 

Où comme au Deutéronome 11.26 à 28b : " Vois, je mets aujourd’hui devant vous la bénédiction et la malédiction:la bénédiction, si vous obéissez aux commandements de l’Eternel, votre Dieu, que je vous prescris en ce jour ;la malédiction, si vous n’obéissez pas aux commandements de l’Eternel, votre Dieu, et si vous vous détournez de la voie que je vous prescris en ce jour, pour aller après d’autres dieux que vous ne connaissez point."

Étant donné que ces lignes sont étroitement liées et forment une toile, l'idée de l'histoire est présente dans les Écritures quand il voit la vie humaine et la réalité actuelle et future en tant que structures ouvertes, qui sont nés de cette relation et le dialogue entre le Seigneur et l'être humain. Il est la dichotomie existentielle, entre la nature et la transcendance, il faut que l'être humain ait la possibilité de la révolution, à savoir la construction de l'histoire. Cela peut être mieux comprise dans les histoires de libération de l'esclavage en Egypte. Mais ce communiqué ne constitue pas une libération nationale, qui ne comprend qu'un seul groupe ethnique, mais la révolution sociale. 

C'est là que commence de l'histoire d'Israël, comme la liberté d'action, comme la révolution et comme l'histoire de sa construction. Autrement dit, le Seigneur a entendu les gémissements et les cris du peuple juif sous l'esclavage et a vu leur situation (Exode 2.23-25), leurs souffrances, et a décidé de les aider. Bibliquement, la construction de l'histoire humaine est toujours une corrélation entre la souffrance et le courage d'opter pour la liberté. Et ce fut le défi présenté à l'esclave hébreux, l'histoire et la construction de choisir le chemin de la liberté, ce qui signifie prendre des risques, car il y a souvent la sécurité dans l'esclavage. Et bien, quel est le rôle du Seigneur dans cette construction proposée dans l'histoire d'Israël?

Montrer à l'hébreu que l'objectif de l'être humain est d’avoir des options, c’est se montrer entièrement humains dans les choix humains. Dieu est en désaccord aussi quand l'hébreu prend le mauvais chemin, mais il ne l'abandonne pas, parce que sa préoccupation est la liberté individuelle et collective de l'hébreu, et par extension de l'être humain, la construction d'une communauté régie par l'amour, la justice et la joie.

L’une de ces lignes force d'idées théologiques présentes dans les Écritures hébraïques est le chemin dans la loi de l’Eternel. Il traite avec les obligations religieuses qui doivent soumettre les Juifs dans leurs relations avec les autres et avec le Seigneur. Elle parle de mode de vie. Mais dans cette réflexion, nous utiliserons halakha, ou le chemin dans la loi de Dieu, dans son sens le plus large, comme le chemin de la vie. 

Ainsi, à partir du chemin, plutôt que de proposer un culte statique de Dieu, les Écritures nous disent de marcher avec lui. D'où l'idée de chemin. Ainsi, l'être humain est placé à chaque instant et chaque jour sur l'obligation d'exercer sa liberté et de choisir entre le bien et le mal, ou comme le Deutéronome 30.15 dit : « Vois : je mets aujourd’hui devant toi la vie et le bonheur, la mort et le malheur ". 

La vie est le don le plus précieux, le modèle du choix, car Dieu est vivant et nous sommes également en vie. Le bon choix est alors ceci: choisir la vie, ce chemin est entre croissance et décroissance. La façon dont la ligne-force de loi ou halakha est vaste et profonde dans l'Écriture, et sans elle serait incomplète. Et il est de cette structure théologique de la pensée hébraïque que nous voulons étudier la théologie du chemin. 


1. Y a-t-il un chemin humain?

« Car mes pensées ne sont pas vos pensées, vos voies ne sont pas mes voies, dit Seigneur ». (Isaïe 55.8)

Nous ne sommes pas un, mais multiples. Nous ne sommes pas gris, mais de toutes les couleurs. En fait, le Seigneur a construis l'être humain avec la liberté et le cadeau de choix. Ainsi, l'être humain est potentiellement autonome dans les limites de l'existence, construit le libre arbitre et donc la responsabilité. 

« Tu diras à ce peuple : Ainsi parle l’Eternel : Voici, je mets devant vous le chemin de la vie et le chemin de la mort.». (Jeremiah 21.8)

C’est pour ça que nous devons comprendre l'engagement de l’Eternel à la construction permanente de l'être humain. La création, vue de cette façon, n'est pas complète. L'être humain, en tant que personne et communauté, continue à créer. Par conséquent, la construction de la spiritualité est la clé de l'avenir humain. C'est ce qui conduit à la création permanente. Et les anciens maitres de la loi nous posent une question : « Deviens-tu ce que tu es?» 

L'être humain, en tant que personne et communauté, est le créateur de lui-même. Sa vie est un voyage dans le but de devenir. Il devrait rebondir de « connais-toi toi-même » à « devenir qui il est » et « de trouver qu’il est serviteur. » Il est le voyage de l'existence humaine et la liberté est un voyage en soi, une communion qui embrasse le cosmos, et doit être réalisé en taillant la pierre, symbole de l'être humain, où matériel devient le spirituel. 

Mais ce chemin dans la vie, met sa propre vie comme la raison de notre existence. Nous existons dans la vie et cette vie doit être vécue avec une intensité et une direction. Ou bien une expression humoristique du rabbin Baal Shem Tov : « Crainte de Dieu sans joie n’est pas peur, mais dépression. »


2. Quelles sont les caractéristiques du chemin?


Le récit de l'histoire de Caïn et Hebbel montre que la théologie du chemin est présente dans les Écritures depuis le début. C'est, depuis l'aube du défi humain d’halakha est placé devant lui. Ainsi, la lutte entre les deux frères traduit deux modes de vie et incarnent la fracture de l’image de Dieu et par conséquent l’aliénation humaine dans leur diversité, à savoir la distance de l'Eternel, et les domaines psychologiques, sociologiques et même écologiques.

" Adam connut Eve, sa femme ; elle conçut, et enfanta Caïn et elle dit : J’ai formé un homme avec l’aide de l’Eternel.Elle enfanta encore son frère Abel. Abel fut berger, et Caïn fut laboureur.Au bout de quelque temps, Caïn fit à l’Eternel une offrande des fruits de la terre ;et Abel, de son côté, en fit une des premiers–nés de son troupeau et de leur graisse. L’Eternel porta un regard favorable sur Abel et sur son offrande ;mais il ne porta pas un regard favorable sur Caïn et sur son offrande. Caïn fut très irrité, et son visage fut abattu.Et l’Eternel dit à Caïn : Pourquoi es–tu irrité, et pourquoi ton visage est–il abattu ?Certainement, si tu agis bien, tu relèveras ton visage, et si tu agis mal, le péché se couche à la porte, et ses désirs se portent vers toi : mais toi, domine sur lui.Cependant, Caïn adressa la parole à son frère Abel ; mais, comme ils étaient dans les champs, Caïn se jeta sur son frère Abel, et le tua.» (Genèse 4: 1-8)

Quand Caïn est né, Eve - l'hébreu חַוָּה, Hava, la vie - la Mère, heureux dit l’Seigneur a atteint un homme. Ce qui est un jeu de mots sur le mot qanah, l’achat, qui donnera mot Caïn, mais fait également référence à la virilité, c’est un mâle. En ce qui concerne Hebbel son nom Havel en hébreu signifie souffle, soupir, une brise légère, en ce sens que la vie était courte et sans laisser d'enfants.

C’est l'histoire de l'affrontement entre les deux frères, entre deux spiritualités. L'Éternel reçu volontairement l’offrant de Havel parce qu'il « a offert les meilleures parties à Seigneur.» Alors que Caïn « a pris des produits de la terre», peut être, les a offert négligemment. 

L'Éternel apprécie la sincérité des sentiments qui génère l'offre et non l'inverse, alors il a dit:  « Je déteste, je déteste vos fêtes religieuses, je ne peux pas supporter vos réunions solennelles ne pas accepter les animaux qui sont brûlés en sacrifice ou des offrandes. … les céréales ou les animaux gras que vous offrez comme offrandes de paix. Arrêtez le bruit de leurs chants religieux, ne veulent pas entendre la musique au lieu de harpes, veulent qu'il y ait autant de justice que les eaux d'une inondation et que l’honnêteté est comme un fleuve qui ne cesse de courir ». (Amos 5: 21-24).

Ainsi, l'histoire des deux frères présente la métaphore de la fracture psychologique, sociale, écologique et spirituelle de l’humanité.


3. Quels sont les défis du chemin?


Jésus tentait de faire comprendre à ses disciples, qui étaient aussi obtus que nous autres, que ni le pouvoir ni l’absence de pouvoir ne sont pas un chemin vers Dieu, ni ma richesse ni ma pauvreté, ni ma piété ni mon impiété, ni ce que je fais ni ce que je ne fais pas. Je puis toujours me chercher moi-même ici-bas, je ne me trouverai pas, parce que ma demeure n’est pas ici : elle est auprès du Père, et je n’en connais pas le chemin. Je suis « pauvre et malheureux » comme dit le Psaume 86.1. Mais justement, me dit Jésus, je ne suis pas livré à moi-même ! Il y a un chemin vers le Père, là où se tient ma maison, mon identité. Ce chemin ne m’est pas accessible par moi-même, mais il m’est ouvert, découvert, gratuitement, par le Père lui-même, par son amour pour moi. Ce chemin, c’est Jésus. Ce chemin s’emprunte par la foi. La foi, l’adhérence c’est de « coller » à Jésus, tout comme lui « colle » au Père et ne fait qu’un avec lui à nos yeux. Ça n’est pas de savoir des choses sur lui, mais de prendre ce chemin-là. C’est le seul chemin.

La marche avec Jésus doit être guidé par l'Esprit, parce que la construction de la liberté humaine est née de l'Esprit et la révolution spirituelle confronte la solitude de mes propres moyens. 

Deux notions fondamentales, l'être et le devenir, sont étroitement liés aux idées du chemin en Christ et la révolution permanente de l'Esprit. Seul Dieu est un. Quand nous parlons « être », nous parlons de l'Éternel. Mais les êtres humains, en Christ, marchent en vue de devenir l’être. Nous avons besoin de marcher notre voyage, symbolique du matériel vers le spirituel, afin d'intégrer, intérioriser la simplicité sublime de l'Eternel. Il est en ce sens que la marche devrait générer l’harmonie, la paix qui mène à la coexistence de notre communauté chrétienne. 

Ainsi, l'histoire des deux frères est la métaphore de la fracture psychologique, sociale, écologique et spirituelle humaine.

1. Au niveau psychologique, le point Caïn et Hebbel au conflit entre le bien et le mal, entre répondre aux désirs de la nature humaine et de vivre la construction de la liberté humaine dans la marche avec l’Seigneur. Et dans ce conflit, quand la nature humaine est en train de gagner les résultats de clash dans le fractionnement, à split humain que nous sommes.

En tuant Hebbel, Caïn devient un paria lui-même, un nomade marqué par l'absence de ce qui constitue une vie pleine de personnalité libre de culpabilité. Devient une personne sans nord loin de son intégralité en tant qu'être humain. Il doit être divisé, fracturé.

2. Sur le plan social, Caïn et Hebbel symbolisent deux chemins, divisés, confrontés au cours de l'histoire.

Il est un conflit permanent entre l'humanité, symbolisée par Caïn, marchant dans le sens contraire à la vie, en tue frère et par la violence il assemble la nature, ce qui conduit au déséquilibre et la destruction. Mais il y a une autre humanité, symbolisée par Hebbel, qui cherche la communion avec le Créateur, avec son frère, et avec la nature elle-même.

3. Au niveau spirituel, qui est le principal centre de l'histoire, le point Caïn et Hebbel à une fracture dans l'âme humaine sur son chemin de relier avec l'Eternel. Une dualité qui a défini deux types de recherche - un formel, stéréotypé dans leurs propres valeurs, et une autre à mettre en mission à la volonté éternelle.

Spirituellement, il y a une scission au cœur de l'âme humaine dans l'histoire du conflit entre Caïn et Hebbel. Il est une parabole de l'être humain qui sacrifie une partie de son être. Le Caïn fermier passe de nomade à constructeur de villes. Et le pasteur Hebbel devient un symbole de la foi en mission et dans un contexte spirituel, il devient le premier martyr de l’Eternel.

Caïn est la métaphore d'une humanité qui tue en lui-même la liberté d’Hebbel, de la vie pleine en harmonie avec la volonté de l'Eternel. Et de vivre comme un vagabond, dans la solitude. Caïn fonda une ville. C’est sa façon de dire non à la volonté éternelle, qu’il considère injuste.


4. La liberté de la fraction du pain


La communauté de la foi en tant que communion, ne devrait pas être un obstacle à la marche spirituelle. Au contraire, comprendre le concept de communauté, vivre ensemble pour rompre le pain, cette communion ne doit pas développer l'ambition, l'orgueil ou le réflexe xénophobe, mais l'ouverture à l'être humain. Son sens n’exclut pas la fraternité, mais l'étend de la communauté envers tous les êtres humains. L'objectif est difficile, mais il n'y a pas d'espoir à moins que nous ne persévérions vers le succès.

Apprendre la liberté est la première fois ce bâtiment, célébrée à Pâques, en marchant dans l'espoir. Nous avons marché vers le côté et vers le haut. Cette tradition a été transmise aux Juifs par la Torah, et est présent dans les commandements sur lesquels ils ont fondé la cohésion de la communauté juive. 

Le chemin associé à la révolution permanente de l'Esprit doit conduire à une spiritualité qui vole au-dessus des dogmes et de la formalisation. Il se trouve sur la base de la fraternité universelle. Lorsque, le progrès et la tradition peuvent donner un sens à l'existence des droits humains, tout maillon de la chaîne de la vie. 

Dans ce chemin nous avons trouvé, comme cela a été révélé que l'Eternel est impensable, inconnaissable et impénétrable, mais présent dans l'univers dans tous ses plans. L'Éternel ne peut pas être nommé. La seule désignation authentique est précisément le rejet de toute définition, est « ein Sof» celui qui n'a pas de fin, l’Eternel. Ein Sof dans la spiritualité juive, on entend Dieu avant son automanifestation dans la production de tout royaume spirituel, probablement dérivé de terme ibn gabirol« le seul infini ». Esprit absolu est essentiellement seul. L'Éternel est la seule, la seule manifestation visible de l'invisible. Mais l'harmonie universelle se traduit par la complémentarité des contraires. La vie est un point dans l’éternité. 

Nous devrions nous tous des êtres humains, ceux qui attendent le monde de l'Esprit. Et marcher dans la liberté de l'Esprit nous conduit à l'amour, qui est la clé de la communion. Par conséquent, l'amour de l'autre est de reconnaître qu'il a également été créé pour la liberté de l'Esprit. Et il marche vers la pleine signification de la vie. 

«Ne devez rien à personne, si ce n’est de vous aimer les uns les autres ; car celui qui aime les autres a accompli la loi.En effet, les commandements : Tu ne commettras point d’adultère, tu ne tueras point, tu ne déroberas point, tu ne convoiteras point, et ceux qu’il peut encore y avoir, se résument dans cette parole : Tu aimeras ton prochain comme toi–même.L’amour ne fait point de mal au prochain : l’amour est donc l’accomplissement de la loi.» (Romains 13: 8-10)

L'amour donne dignité à l’acte de marcher. Semez les graines de la révolte contre l'injustice et l'oppression, y compris religieuse. Il reconnaît le fait que la souffrance est un déséquilibre dans le monde. Mais la liberté de l'Esprit nous donne conscience que l'amour ne peut pas être rétrogradé à des conceptions qui dégradent la dignité humaine. À-dire l'amour de l'autre n'est pas la foi, n'est pas destinée, il est l'acte de construire l'esprit et la liberté avec tout et tous.


À propos de conclusion

Voilà pourquoi nous disons, Hebel, un être humain en mission a été le premier martyr de l’humanité spirituelle. Mais Jésus, le Christ, el est le vrai martyr, le Seigneur réel, nous sommes caché en lui.

Là–dessus, Jésus alla avec eux dans un lieu appelé Gethsémané, et il dit aux disciples : Asseyez–vous ici, pendant que je m’éloignerai pour prier.Il prit avec lui Pierre et les deux fils de Zébédée, et il commença à éprouver de la tristesse et des angoisses.Il leur dit alors : Mon âme est triste jusqu’à la mort ; restez ici, et veillez avec moi.Puis, ayant fait quelques pas en avant, il se jeta sur sa face, et pria ainsi : Mon Père, s’il est possible, que cette coupe s’éloigne de moi ! Toutefois, non pas ce que je veux, mais ce que tu veux." (Matthieu 26.36 à 39)

« Lequel, existant en forme de Dieu, n’a point regardé comme une proie à arracher d’être égal avec Dieu,mais s’est dépouillé lui–même, en prenant une forme de serviteur, en devenant semblable aux hommes ;et ayant paru comme un simple homme, (2–8)il s’est humilié lui–même, se rendant obéissant jusqu’à la mort, même jusqu’à la mort de la croix.» (Philippiens 2.6-8)

Tel est le défi du chemin en Christ, suivant le chemin ouvert par Hebel - de l’humanité en mission vers l'Éternel. 

Tel est le défi du chemin, marcher avec Jésus, le Christ - qui en renonçant à la détérioration apparente, nous a appris à construire la spiritualité et la liberté qui rend chaque humain en vrai human. Et ce chemin qui nous amène à dire: ne pas faire ce que je veux, mais ce que vous voulez. 

On peut dire, alors, que j'existe parce que je mis au défi de marcher le chemin de la vie. Je ne me connais pas, je construis ce que je suis déjà. Et que seulement en me faisant découvrir mon destin, ma mission. Et donc nous sommes allés sur le chemin : marcher dans le chemin. Et lui, le Christ, le Messie est le chemin de la foi, de l’espérance et de l’amour. 

Et nous pouvons terminé cette réflexion avec les mots de Jude : « Rendrons gloire au Dieu unique qui nous sauve par Jésus-Christ, notre Seigneur ! Il peut vous empêcher de tomber dans le mal, il peut vous faire paraître sans défaut et pleins de joie devant lui dans sa gloire. À lui soient la gloire, la grandeur, la puissance et l’autorité depuis toujours, maintenant et pour toujours ! Amen. » (Jude 1.24-25)

Allez, marchons sur le chemin de la spiritualité et de la liberté !
















lundi 9 avril 2018

A correr com o vento

A correr com a ruach
Pr. Jorge Pinheiro


À guisa de introdução

רוּח

No testamento hebraico a palavra mais usada para espírito, sopro, vento é רוּחַ (ruach), conforme Bereshit 3.8 e Shemot 10.13 e 14.6, entre outros textos. No cristianismo, a ruach, pneuma em grego, vem geralmente acompanhado do adjetivo santo, hakadosh, e é a terceira prosopon da Trindade, juntamente com o Pai e o Filho. É Deus todo poderoso, entendido como uma das pessoas do Deus Triuno, que revelou seu Santo Nome YHWH ao seu povo em Israel, enviou seu Filho, eternamente gerado, Jesus para salvar o mundo do pecado e da morte … e a ruach hakadosh para santificar e dar vida à sua comunidade. O Deus Triuno se manifesta como três hypostasis de uma única ousia, que chamamos Deus.

Elias corre mais que cavalos

Elias estava correndo na chuva enquanto a noite caía. Ele tinha um longo caminho a percorrer até Jezreel, e não era mais jovem. Mesmo assim, correu sem parar, porque “a própria mão do Deus eterno” estava sobre ele. A energia que fluía pelo seu corpo sem dúvida era diferente de tudo o que já tinha sentido na vida. Afinal, ele havia acabado de ultrapassar os cavalos que puxavam a carruagem do Rei Acabe. — 1 Reis 18:46.

Uma chuva de fogo

“E, ao cumprir-se o dia de Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. Então surgiu do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa, onde se encontravam assentados. E apareceram-lhes línguas dispersas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. E todos ficaram cheios da ruach hakadosh, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espirito lhes concedia que falassem. Já em Jerusalém habitavam judeus, homens piedosos e todos os povos debaixo do céu. Quando, então, surgiu aquele ruído, acorreu a multidão e ficou perplexa, pois cada qual os ouvia falando em seu próprio idioma. Ficaram, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são galileus todos estes, que estão falando? E como ouvimos nós, cada qual em seu próprio idioma materno: partos, medos, elamitas, os que moram na Mesopotâmia, na Judia, na Capadócia, em Ponto, na Ásia, na Frigia, na Panfília, no Egito, e nas regiões da Líbia perto de Cirene, e os romanos, que aqui residem, judeus e prosélitos, cretenses e árabes - como ouvimo-los falando em nossos idiomas os grandes feitos de Deus? Todos, porém, ficaram atônitos e desconcertados, dizendo uns aos outros: Que quer dizer isto? Outros, contudo, zombando, diziam: Estão embriagados!” Atos 2.1-13.

A ruach é paradoxal

Quando falamos que a ruach hakadosh é a espontaneidade da realidade, estamos dizendo que a ruach é paradoxal. Exemplo disso foi o derramamento da ruach no dia de Pentecostes, que se apresentou como fim e princípio. Foi o fim da aliança anterior e o surgimento de uma nova. É o fim de uma era e o início de uma nova. O que era escrito nas pedras da lei agora seria, pela ruach, escrito nos corações. As comunidades de fé deixavam de estar restritas a uma raça.

No Pentecostes, ao citar o profeta Joel (2.28-32), Pedro deixa claro: o fim começou. A compreensão de que o Pentecostes marca o tempo do fim traz para nós duas lições: a primeira, é que somos chamados à vigilância, pois o fim se abrevia. A segunda, é que devemos fazer a crítica daqueles que pensam poder apresentar os tempos e as épocas que Deus reservou para si. 

É interessante observar que Lucas (Atos 1.4) diz que os discípulos deveriam esperar o tempo da promessa em Jerusalém. Depois (Atos 2.2) fala que de repente a ruach se fez presente. Eles esperavam, mas não sabiam quando. Eles tinham certeza, mas não sabiam a hora. A ruach é a espontaneidade da realidade. Ele vem quando e da forma que não esperamos. Quem anda com a ruach aprende a estar preparado para surpresas. É certo que Ele não falha nas promessas, mas não faz como e quando esperamos.

Quando a ruach vem Ele controla a todos. Aquela hora do Pentecostes ninguém escolheu. Mas ninguém estava sem controle, porque a ruach controlava a todos. Era conforme a ruach queria. Ser cheio da ruach não é ser avião sem piloto. Ser cheio da ruach é ser conduzido por sua soberania. Eis o paradoxo de Espírito.

“Mas quem não tem a ruach de Deus não pode receber os dons que vêm da ruach e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucura para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual”. 1Coríntios 2.14.

A ruach é missionária

A ruach é missionária. Vejam as palavras de Lucas: “Essas notícias chegaram à igreja de Jerusalém, que resolveu mandar Barnabé para Antioquia. (...) Barnabé era um homem bom, cheio da ruach e de fé. E muitos se converteram ao Senhor”. Atos 11.22 e 24.

Atos dos Apóstolos é um livro sobre a prática de missões sob o comando da ruach. Por isso, o livro de Atos é único em seu estilo no Novo Testamento, porque revela a ruach como missionária. E se a ruach é missionária, o que lemos em Atos é a consequência natural da história de uma comunidade que é formada como igreja missionária. A relação ruach/ comunidade é a chave do sucesso em Atos. 

Lucas deixa claro que a ruach é quem comanda a igreja em sua missão. A ruach é Deus soberano. Ele conduziu em triunfo a jovem comunidade cristã em sua missão de comunicar. E o mesma ruach quer hoje conduzir nossas comunidades na tarefa missionária. Afinal, é a ruach quem vocaciona, capacita e dirige os chamados para a missão.

“Naquele tempo alguns profetas foram de Jerusalém para Antioquia. Um deles, chamado Ágabo, levantou-se e, pelo poder da ruach hakadosh, anunciou: Haverá uma grande falta de alimentos no universo inteiro. Isso aconteceu quando Cláudio era o Imperador romano”. Atos 11.27-28.

Mas qual a relação entre Espírito cósmico e missão? Seguindo Irineu, um dos pais da Igreja, podemos dizer que Deus pela Palavra deu existência ao universo, e a ruach transformou o existente em cosmo, todo ordenado, com vida e sentido.

A ruach dá sentido à vida

Esse Espírito vivo deu sentido ao universo. Ele tem como propósito dar sentido à vida humana, por isso é Ele quem vai adiante: abre as portas e prepara o caminho para o sucesso da comunicação das boas novas da salvação. E o mesma ruach, além de preparar cada região, cada pedaço deste planeta, é quem transforma pessoas e povos para que se dê a expansão do Evangelho. A visão da expansão da comunicação é uma dádiva da ruach para as comunidades de fé do Senhor Jesus. Praticar esta visão, como o fez as comunidades de Atos, é entender o propósito para o qual a própria comunidade de Jesus existe.

Comunicar é semear. Por isso, Jesus disse: “Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador, a ruach da verdade, para ficar com vocês para sempre. O mundo não pode receber esse Espírito porque não o pode ver, nem conhecer. Mas vocês o conhecem porque ele está com vocês e viverá em vocês”. João 14.16-17.

Para a comunidade de fé, a unidade só é válida na variedade: nunca na uniformidade. A aceitação das pessoas com suas diferenças e particularidades é uma condição indispensável para a saúde da comunidade cristã.