jeudi 23 août 2007

Breve leitura da formação da nacionalidade brasileira: Indígenas

Primeiros habitantes

A ocupação humana do território que depois se tornaria o Brasil começou numa data que os especialistas calculam atualmente entre 12 mil e 30 mil anos atrás. De acordo com as hipóteses mais aceitas sobre os caminhos de ocupação, duas rotas teriam sido usadas: ao norte, pela Amazônia, e a oeste pelo Pacífico. As controvérsias entre estudiosos, no entanto, não permitem traçar com segurança as formas de povoamento da região. O que se sabe com certeza é que todo ele estava ocupado havia mais de cinco milênios.
O emprego de uma única palavra, índios, para designar o enorme conjunto de habitantes do atual território brasileiro, na época da chagada dos portugueses, já é indicativo de quão pouco os recém-chegados aprenderam com os povos que aqui viviam. Só nas últimas décadas do século 20 é que se começou a ter uma idéia, ainda precária, da dimensão cultural, social, econômica e tecnológica dessas civilizações - de sua importância na formação do Brasil. Pesquisas científicas recentes revelam um universo muito mais complexo do que se pensava.
Um dos motivos desse desconhecimento foi a devastação ocasionada pelo contato entre europeus e índios. Segundo algumas estimativas, por volta de 1500, cerca de 8,5 milhões de pessoas viviam no atual território nacional, ao passo que na Independência, em 1822, a população brasileira não passava de 4 milhões de pessoas. Só na segunda metade do século 19, com a chegada de imigrantes, a população voltou aos níveis do século 16.
Nesse período de destruição, perdeu-se a dimensão do que estava desaparecendo. Os índios formavam um grande conjunto de nações, algumas com as dimensões e a população dos países europeus da época - e de costumes, línguas e hábitos tão variados como estes países. Só no fim do século 20, quando restam cerca de 500 mil índios sobreviventes do massacre, esta diversidade começa a ser estudada, demarcada e estabelecida. A dimensão original de variedade ainda não foi totalmente recuperada. Ainda se pensa no universo social e cultural pré-cabralino como um conjunto único, algo distante da realidade.
Tupis e guaranis
Os tupis acabaram sendo os índios brasileiros mais conhecidos, sobretudo porque, foram os primeiros a entrar em contato com os europeus. Por volta do ano de 1500, havia tribos tupi e guarani, que falavam línguas aparentadas, em praticamente todo o litoral brasileiro. A variedade era imensa. Ao todo, dez famílias lingüísticas e cerca de cinqüenta línguas diferentes.
Como o contato entre europeus e tupis foi maior, em torno destes construiu-se a imagem popular que se tem dos primeiros ocupantes do Brasil. Motivos não faltaram: descrições de padres e viajantes, apresentando seus costumes como sendo de todos os índios e o uso da língua tupi pelos europeus para compilação de uma gramática (depois ensinada até mesmo a outros povos). Entre as tribos tupi mais conhecidas estão os tupinambás, guaranis, apiacás, cintas-largas e gaviões. De todos os tupis existentes em 1500, restaram poucas tribos aqui e ali. Além deles, sobreviveram grupos guaranis na bacia do Paraná e em outros pontos isolados.
A grande população indígena original apresentava algumas características comuns. Em milhares de anos de contato com as florestas e os cerrados, os índios aprenderam a conviver com a natureza tropical. Domesticaram plantas e espécies animais. Descobriram um método para o preparo da mandioca. Praticaram a cultura do algodão, produziram pigmentos e usaram ervas medicinais. Cada grupo desenvolveu a seu modo técnicas de sobrevivência adaptadas à natureza comum que o cercava.
Técnicas nativas

No decorrer do tempo, a vida na floresta tropical acabou tendo, para os índios, um sentido diverso do que animava a vida dos europeus. Na Idade Média, a fome era uma constante na Europa, e a existência de seus habitantes organizava-se segundo um ritmo determinado pelas estações. Era preciso plantar e colher, guardando o máximo para enfrentar o duro inverno.
Na floresta tropical havia uma imensa variedade de espécies e dificuldade para cultivos uniformes e conservação da colheita. Observar a natureza, conhecer os hábitos dos animais e as características da plantas era mais importante que guardar comida por um longo tempo. Dessas observações saía o conhecimento para se obter o grosso dos alimentos. Somente algumas espécies eram cultivadas em maior escala. Mais que um estabelecimento sólido, era preciso seguir os ditames da natureza: mudar-se quando diminuía a fertilidade do solo (o que acontecia em poucos anos nas áreas cultiváveis abertas pro queimadas), buscar novos territórios de caça, colocar as armadilhas no lugar certo. Do cruzamento dessas informações vinham decisões que afetavam a tribo.
Nesse cenário de muita flexibilidade, pouco adiantava construir habitações permanentes. Melhor era fazer aquelas que se pudesse abandonar sem problemas. Também não havia porque se concentrar esforços acumulando bens. Quase todos os índios tinham muito tempo livre, que empregavam em seus ricos rituais. Um modo de usar o tempo adequado a uma região onde era mais prudente seguir o ritmo da natureza do que lutar contra ele.
O preparo da mandioca, ou Manihot utilíssima (pelo superlativo já se depreende sua importância), é uma grande conquista tecnológica. A raiz da planta, venenosa quando crua, tornou-se a base alimentar de todos os territórios na vertente oriental dos Andes, sobretudo pela facilidade de conservação. A raiz era utilizada entre seis e dezoito meses após o plantio e sua farinha também dura muito tempo.
Vários mitos explicam o cultivo da mandioca. Um deles, originário da América Central, dizia que Sumé ou Tumé, um homem branco e poderoso que andava sobre as águas e deixava rastros em pedras, certa vez partiu seu bastão e enterrou um pedaço dele, dando assim origem à planta - a mandioca não é semeada, e seu cultivo se faz enfiando na terra um pedaço de seu talo.
Um outro mito, da tradição tupi, diz que a filha de um chefe engravidou ainda virgem; nasceu uma menina, chamada Mani, que morreu após um ano; de seu túmulo surgiu um arbusto desconhecido e, um pouco depois a terra se abriu, deixando à mostra as raízes da mandioca, cujo nome viria de Manioca, a casa de Mani.
O principal produto da mandioca era a farinha seca, farinha de guerra, farinha de pau, “uí-atã”, para os tupis. Usado ainda hoje, o processo assemelha-se àquele referido pela tradição: a mandioca era descascada e ralada, com o auxílio de instrumentos feitos de espinhos, dentes de animais, cascas de ostras; a massa, ainda úmida, era espremida com o auxílio do tipiti (um tipo de prensa de palha), extraindo-se desse modo todo o caldo, o venenoso ácido cianídrico. A massa seca era em seguida levada ao fogo, em grandes vasilhas rasas e redondas. Depois disso, ficava pronta a farinha. Outros produtos feitos a partir da mandioca eram a tapioca, o beiju, a manipueira etc.
A base cultural

As técnicas comuns de sobrevivência forneceram uma base cultural similar a muitas tribos.A construção de casas e canoas, a fabricação de armas, de instrumentos de caça e pesca, e até mesmo os padrões usados nas pinturas corporais eram parecidas em muitos grupos.
O nível de conhecimento tecnológico também era similar: nenhuma tribo dominava a metalurgia e a maioria praticava regularmente a agricultura, ou seja, encontravam-se todas no estágio neolítico.
Embora os portugueses dissessem que os índios andavam nus, nada mais estranho para estes que tal idéia. Não sentiam necessidade de cobrir o corpo, mas as pinturas corporais funcionavam como um código social: casa uma delas indicava uma situação específica (guerra, nascimento de filhos, ritos, lutos etc.). Para os que conheciam o código, a pintura informava mais sobre seu estado e sua condição do que as roupas européias. Além disso, também facilitava a comunicação entre tribos que não falavam a mesma língua. Isso porque os índios não se pintavam aleatoriamente, mas sempre usavam motivos baseados na natureza. Padrões representando a espinha do peixe, a casca de jabuti, os rastros da cobra, do veado e da onça eram comuns a muitas tribos.
Medicina indígena

Nas Aldeias Indígenas, em geral, o tratamento e a cura das doenças é feita pelos médicos-pajés, através das práticas-mágicas. Esses poderes podem ser usados para curar doenças como também para provocá-las, razão pela qual é comum atribuir a causa de doenças a feitiço. Os processos de cura e de entrar em contato com o sobrenatural variam entre os grupos indígenas. Os Xamãs, por exemplo, são uma categoria especial de médico-pajé, que podem entrar em êxtase. Nesse estado, segundo os índios, a alma vai para longe do corpo, percorrendo lugares distantes ou encarnando um espírito estranho.
Muitos vegetais usados pelos indígenas como medicamentos, apresentam resultados surpreendentes, o que vem motivando a procura dessa matéria-prima por parte de estrangeiros. Os conhecimentos técnicos, muitas vezes complexos, dos índios brasileiros estão presentes tanto no combate às doenças, quanto na caça -(venenos de caça), na pesca - (venenos de pesca), na ecologia, na astronomia, na fabricação de sal, de objetos de borracha, de tecidos e na guerra (uso de gases asfixiantes).
Relação com o sagrado

Os índios viviam, de maneira geral, em grupos autônomos que migravam de tempos em tempos. Esses grupos tinham uma identidade própria, transmitida de geração a outra por meio de histórias sobre a origem do mundo, o cultivo das plantas e as regras sociais.
O momento em que se contavam essas histórias era uma ocasião especial, preparada com muito cuidado e na qual se reunia toda a tribo. Os relatos explicavam desde o surgimento das plantas até o motivo de o casco do jabuti parecer remendado. Essas histórias aproximavam os membros do grupo e consolidavam seu conhecimento do mundo.
As reuniões em que se relatavam os mitos aconteciam sobretudo em ocasiões determinadas pelos ciclos naturais: estação de chuvas ou de seca, tempo de plantio ou colheita, época de caça abundante ou ressaca. Eram momentos sagrados. Para se ouvir os mitos, era preciso que a audiência saísse do âmbito cotidiano. Usavam-se vestimentas especiais (mantos, penas coladas ao corpo, máscaras de madeira e palha), algumas restritas a determinados membros da tribo.
Também os alimentos eram outros: tomavam-se bebidas alcoólicas e infusões, e fumavam-se ervas. Suspensos os afazeres normais, o tempo era regulado pela música, invocações e danças coletivas. Assim agradecia-se pelas boas colheitas, pedia-se por melhoras no clima, espantavam-se maus espíritos, saudavam-se divindades e ancestrais - e todos contribuíam para a manutenção da cultura da tribo.

Fontes
Este material foi montado a partir de textos produzidos para o site Brasil 500 (www.internetional.com.br/brasil) e de textos de autores que têm seus artigos e livros citados no corpo do material.

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