mardi 23 juin 2009

A identidade batista

Nestes 400 anos de aniversário da origem do movimento batista na Inglaterra, muita gente nos pergunta o que é um batista, qual é sua origem e o que caracteriza seu pensamento teológico. Então, resolvi falar sobre nossa identidade, origem e teologia. (JP).

A identidade batista

1. Tem por base a reivindicação de uma história de séculos, de cristãos que serviram a Cristo com autonomia diante dos poderes dos reinos do mundo romano, oriental e europeu e das expressões religiosas cristianizadas que se atrelaram aos Estados e governos de cada época.
2. Tem por base a compreensão de que durante toda a sua história, homens e mulheres de fé deram suas vidas para viver segundo aquilo que a Bíblia apresenta como regra de fé e conduta.
3. Tem por base a compreensão de que, historicamente, os batistas se organizaram pela primeira vez, como igreja pública e instituída, em 1609. E que esses primeiros batistas denominados, entre os quais John Smyth e Thomas Helwys na Inglaterra e Holanda, sem serem os fundadores de nossa fé, nos mostraram o padrão batista: a autonomia em relação aos poderes do mundo e a Bíblia como regra de fé e conduta, ainda que isso signifique prisão ou morte por Cristo e pela doutrina dos apóstolos.
4. Tem por base a liberdade de pensamento e de expressão religiosa que os batistas ingleses e norte-americanos defenderam para as suas sociedades, ajudando a construir nações que foram impactadas pela fé cristã.
5. Tem por base a unidade eclesiológica e a unidade ao redor da doutrina dos apóstolos, sem impor uniformidade litúrgica ou cúltica. Tem por base a diversidade que nasce da pluralidade cultural.
6. Tem por base a origem missionária da fé batista no Brasil, através do trabalho de missionários norte-americanos que deram suas vidas pela evangelização desse país.
7. Tem por base o desafio que temos para, a partir de nossa história, reconhecendo nossa tradição, apresentar uma igreja batista que sem deixar de ser conservadora e histórica, apresentar o Cristo vivo e salvador aos brasileiros do século 21.

O que é ser batista?
1. É ter a Bíblia como única regra de fé e conduta. E entender que foi escrita por homens movidos pelo Espírito Santo, e que sua autoridade está acima da tradição, dos concílios e do magistério de qualquer igreja.
2. É professar Jesus Cristo como Salvador pessoal e dar testemunho dessa fé através do batismo bíblico em nome da Trindade de Deus.
3. É fazer parte de uma igreja local, autônoma em relação aos poderes desse mundo, religiosos e do Estado. É entender que a igreja local é assembléia que se reúne para adoração, proclamação, edificação, comunhão e serviço.

Os batistas ingleses
As comunidades cristãs traduzem formas específicas e históricas da igreja cristã no mundo. Por isso, no cristianismo, as denominações podem ser vistas como comunidades que integram conjuntos de tradições. E os batistas se apresentam no mundo através de suas diferentes igrejas locais. Mas, apesar das diferenças culturais e de tradições, há, como vimos acima, elementos nucleadores que formam a identidade batista.
As bases do pensamento teológico batista na modernidade devem ser compreendidas à luz do Iluminismo e das revoluções político-sociais do século XVII. A maneira de pensar formadora do movimento batista moderno teve por base um sistema de pensamento que priorizou a liberdade de expressão e o exercício dessa liberdade ao nível prático, tanto da pessoa como da sociedade.
Esse pensamento moderno bifurcou-se em diferentes caminhos, mas em especial no liberalismo político e econômico, e no liberalismo teológico, submetido à crítica da razão e da experiência.
Essa cosmovisão deu centralidade à razão e considerou-a capaz de compreender e desvendar todos os mistérios do cosmo. Portanto, os batistas ingleses organizaram-se como comunidade cristã diferenciada e plantada nos princípios democráticos e liberais do século XVII. O resultado dessa reflexão se traduziu num slogan: igrejas livres em sociedades livres.

A busca pela liberdade religiosa
A partir de 1603, a Inglaterra viveu momentos de transformação social e política, que levaram à troca de dinastias (Tudors por Stuarts), por mudanças de pensamento geradas pelo Renascimento, pela leitura das Escrituras Sagradas, pelo crescimento comercial e pela ação puritana contra a igreja oficial. Tais transformações levaram ao repúdio da submissão do clero à autoridade monárquica e à oposição ao totalitarismo oligárquico da igreja oficial.
Assim a igreja anglicana se dividiu. Em 1604, o rei James I começou a perseguir as igrejas protestantes e exigiu a uniformidade religiosa em nome da ordem social. E afirmou que ele era a autoridade máxima na igreja e no Estado.
Em 1625 deu-se a sucessão imperial e com Charles I uma nova esperança surgiu para os puritanos e dissidentes. Mas, em 1633, William Laud assumiu como arcebispo da Cantuária e se tornou a maior autoridade eclesiástica inglesa. Laud foi nomeado primeiro-ministro e apoiou a supremacia do rei sobre a igreja. Teve início, então, perseguições contra os puritanos. Em 1640, cresceram as tensões entre o Parlamento e o rei
A discórdia entre o rei e o Parlamento resultou numa revolução armada (1642). O rei teve o apoio do Exército Modelo, que se colocou contra o partido puritano. Mas, o partido puritano, com o apoio das comunidades separatistas, conquistou a vitória. Pouco tempo depois, porém, as igrejas separatistas decepcionaram-se, já que os princípios de liberdade religiosa não foram adotados. Em 1648, como a formação do protetorado de Oliver Cromwell, as igrejas batistas deram início às ações e manifestações a favor da liberdade religiosa.

Os princípios da igreja batista inglesa
A luta pela liberdade como bem humano teve início com as perseguições e injustiças cometidas pelo rei inglês contra as igrejas dissidentes. Isso porque o poder do Estado centralizado no rei e apoiado pela igreja oficial procuravam uniformizar a religião, com o objetivo de fortalecer a supremacia da autoridade.
As chamadas igrejas dissidentes opunham-se a esse intento, buscando o contrário: a liberdade religiosa. Por motivos político-econômicos -- detenção e monopolização dos meios de produção e organismos sociais -- tanto o rei quanto a igreja oficial não desejavam a alteração da ordem vigente.
Por essa época (1609-1612), John Smyth, primeiro pastor batista na Inglaterra, levantou a bandeira da liberdade de consciência absoluta. Era o início da trajetória batista de ação política engajada na busca pela liberdade religiosa. Assim, o princípio da liberdade religiosa foi parte integrante da vida e fé dos primeiros batistas ingleses.

O pensamento batista moderno
John Smyth, Thomas Helwys e Guilherme Dell lançaram na Inglaterra as bases históricas da reflexão teológica batista. Mas as dissidências no correr da Idade Média contra a igreja católica centralizada em Roma deixaram marcas que por fazer parte da tradição neotestamentária, como as bandeiras da autonomia da igreja diante dos poderes e da Bíblia como única base de regra de fé e conduta, foram reivindicadas como batistas. Depois da Reforma, compreensões teológicas expostas por Lutero, Calvino e Zwinglio, mas também pelos movimentos anabatistas, puritanos e metodistas foram tomados pelos batistas como corretos.
Tendo por base os princípios políticos da liberdade de pensamento e de expressão, que vão se refletir numa eclesiologia predominantemente congregacional, de autonomia da igreja local, e os princípios teológicos da salvação pela graça redentora de Cristo através da obediência na fé, e da Bíblia como normativa em questões de regra e fé, o pensamento batista se consolidou, apesar das diferenças culturais e históricas.
Assim, os batistas ingleses herdaram ênfases teológicas, que depois foram levadas às colônias norte-americanas. Entre elas podemos citar:
1. Dos anabatistas, a Palavra de Deus como fonte experimentada pela iluminação do Espírito Santo; a regeneração necessária para a vida nova; a igreja como associação voluntária de santos; e a completa separação entre a igreja e o estado.
2. De Lutero, a teologia cristológica; a predestinação dos eleitos; a igreja como comunidade dos santos em Cristo.
3. De Calvino, a Bíblia como suprema autoridade e a doutrina da predestinação dupla e incondicional -- embora os batistas gerais não a aceitem.
4. De Zwinglio, a interpretação normativa da Bíblia; o pecado como doença moral perdoável a qualquer tempo; e a salvação pela razão.

Origem histórica dos batistas ingleses
Na Inglaterra, a origem histórica dos batistas foram as tradições anabatistas/ menonitas holandesas e a ação opositora dos congregacionais à igreja anglicana oficial. Com a perseguição na Inglaterra, em 1609, um grupo separatista fugiu para a Holanda. Mais tarde, esses batistas voltaram para a Inglaterra acompanhados pelo pastor Thomas Helwys e assumiram uma abordagem teológica calvinista.
Se Thomas Helwys foi o primeiro teólogo e escritor batista inglês, que publicou A Short Declaration of the Mystery of Iniquity, Guilherme Dell foi o primeiro intelectual batista.
Dell, conhecido por suas fortes convicções teológicas a respeito da livre expressão do ser humano e defensor dos princípios batistas, apesar de não ter ligação com nenhuma congregação, em 1646, destacou-se por sua luta a favor da liberdade religiosa na Inglaterra.
Escreveu o livro intitulado Uniformidade Examinada onde defendia a tese de que a unidade deve existir sem uniformidade, uma vez que a última é má e intolerável, já que exclui a liberdade concedida por Deus. Essa era uma argumentação favorável a liberdade religiosa.
Outra questão estava no fato de que a uniformidade contraria a mensagem de Cristo e força a igreja, que é o corpo de Cristo, a portar-se de maneira externa aos seus princípios. Ou seja, adapta-se a um poder humano e, sem o aval de Deus, acaba por configurar-se num movimento anticristão, considerado por Dell, pior que o paganismo.

1 commentaire:

Unknown a dit…

Esse artigo é relevante e traz uma reflexão para nós batistas e para muitos que tem perdido essa identidade.
Eu sou Paulo Soares, sou seminarista do STBNe, Feira de Santana BA, estou fazendo uma pesquisa sobre as origens dos batsitas, gostoria de pedir referências de livros sobre o assunto. meu email: prms.2000@hotmail.com
Obrigado