Um
nazareno sob a ótica de David Flusser
Intelectuais e pensadores judeus nos
últimos decênios iniciaram um caminho de diálogo para entender o pensamento de
um judeu chamado Jesus. Aqui vamos examinar o trabalho de três deles.
Entre os acadêmicos temos David Flusser,
que foi professor de Novo Testamento e Cristandade antiga na Universidade
Hebraica de Jerusalém. Em 1968 publicou Jesus
em Auto-Testemunhos e Documentos de Imagens, onde disse ter Jesus nascido em
Nazaré, ser primogênito e ter quatro irmãos e irmãs. Que foi batizado nos anos
28/29 e morreu entre os anos de 30 e 33.
Em sua biografia do nazareno, relata sua
formação e a tensão na família, que só aceita sua pregação após a morte dele.
Flusser refere-se ao batismo e a dotação do Espírito como um evento histórico.
Considera João, o profeta que batizava, como o Elias escatológico. É interessante
ver que Flusser considera que a escatologia se realiza através de Jesus, pois a
questão do reino de Deus, ponto central da proclamação do nazareno, embutia uma
constelação de valores que transcendia a dimensão social de sua pregação. Assim,
para Flusser, o reino de Deus teria começado com Jesus.
Segundo o acadêmico, Jesus não foi um crítico
do judaísmo. Embora tenha se voltado contra a teimosia dos piedosos mais
radicais, enfatizou o lado moral dos mandamentos e não propôs a sua abolição. Segundo
Flusser, Jesus foi um judeu que se sentiu enviado aos judeus. Os fariseus
aparecem, então, como referência simbólica, não historicamente, e não são responsáveis
pela morte de Jesus. Flusser coloca a mensagem Jesus como produto periférico ao
pensamento dos essênios, mas não afirma que Jesus tenha sido essênio.
Em seu o livro A Cristandade, uma religião judaica, Flusser fala de Maria, das
raízes judaicas da Cristandade, da expectativa messiânica de Jesus, de Paulo e
da missão como chamado à fraternidade. Afirma que Jesus teria visto João como
Elias e que Jesus teria sido o único judeu antigo a pregar o início do reino de
Deus. Nos seus trabalhos, em hebraico e em
inglês, Flusser realça esta questão: Jesus se viu realmente como Messias, o
Filho de Homem por vir. Segundo o acadêmico judeu, Jesus mudou a escatologia
judaica, ao afirmar que primeiro se realiza o reino do Céu e só depois vem o
juízo final. Flusser enfatiza a importância da atividade de Jesus, faz a defesa
da messianidade dele como o Filho do Homem, mas descarta a morte expiatória.
Dois
títulos de Flusser que você deve ler
Jesus (São Paulo, Perspectiva, 2002), texto onde Flusser utiliza a análise arqueológica, documental,
filológica e textual, na qual a leitura dos Evangelhos se faz à luz dos manuscritos
do Mar Morto, da literatura pseudo-epigráfica e apocalíptica em conjunto com a
do primeiro testamento, da tradição oral judaica, da cristologia e das fontes
greco-latinas da historiografia clássica. O livro apresenta um painel da
reconstituição do semblante verossímil do judeu de Nazaré e da realidade que
lhe foi subjacente e o projetou na transcendência, aquela do judaísmo do primeiro
século com suas correntes conflitantes de pensamento religioso.
Judaísmo e as origens do
Cristianismo (São Paulo, Imago, 2001) onde, no primeiro volume,
Flusser procura eliminar preconceitos e promover uma melhor compreensão das
antigas fontes das duas religiões: judaísmo e cristianismo. Dentro desta
perspectiva, fixa como tarefa tratar de problemas relativos ao judaísmo antigo
e ao primeiro cristianismo. E no segundo volume mostra que o cristianismo surgiu
em meio judaico. Foi, portanto, parte do judaísmo. É esta busca por compreensão
das antigas fontes das duas religiões que encontramos no livro.
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