Uma revelação radical
Por Jorge Pinheiro
A
revelação de nosso Jesus, o Cristo, oferece à humanidade tudo o que é
necessário para a salvação, não necessitando ser completada por qualquer outra
ação ou processo, que não seja o arrependimento e a obediência. O evento Jesus,
sem deixar de ser revelação universal da vontade de Deus, permanece particular
em razão de sua historicidade. Significa que tal evento não diminui a potência
salvífica de Deus, pois a ação universal do Cristo e do Espírito Santo não se
circunscreve à humanidade de Jesus. Por isso não se pode reduzir Jesus a uma
figura salvífica entre outras. A revelação operada em Jesus Cristo é definitiva
e insuperável.
Seria um erro entender a ação do Espírito deslocada da economia salvífica universal do Cristo encarnado. Na historicidade da igreja, é fundamental insistir na conjunção da cristologia com a pneumatologia, a fim de preservar a centralidade do evento Cristo. Irineu, pai da igreja, utiliza uma metáfora para nos explicar essa conjunção – que logicamente como qualquer metáfora tem suas limitações. Ele fala das duas mãos de Deus que operam juntas a economia da salvação: a mão do Cristo e a mão do Espírito Santo. Mãos que atuam unidas, mas são distintas e complementares. A presença do Espírito na obra do Cristo encarnado não põe um fim na atuação do Espírito Santo depois do evento-Cristo. O Espírito Santo estava presente e operante antes da glorificação do Cristo e continua presente hoje.
A revelação universal do Cristo não pode nos levar a considerar as religiões do mundo como caminhos complementares ao do corpo do Cristo. Quando muito a universalidade da revelação presente nessas religiões assumem um papel de preparação evangélica para a compreensão do evento Cristo, não podendo ser consideradas caminhos de salvação. Ao longo da história cristã foram comuns injustiças e perseguições aos grupos, denominações e religiões que discordavam do cristianismo hegemônico naquele momento. Ações essas que violentam a imago Dei, o livre-arbítrio e a compreensão da ação salvífica do Cristo.
Grupos,
denominações e mesmo religiões não-cristãs não se resumem à mera representação
de uma busca humana de Deus, mas traduzem a revelação universal de Deus,
através da qual Ele tem se automanifestado à humanidade. São parte do processo
de envolvimento pessoal de Deus com a humanidade, que atravessa a história,
tendo como centro salvífico o evento Cristo.
Jesus, o Cristo, é aquele que
revela o Pai. Quando Deus dá-se a conhecer, de forma direta e especial, o faz
através de seu Filho, em carne e osso. E é justamente essa verdade revelada em
Cristo, que deve dirigir toda a nossa compreensão do ser humano e da igreja do
Cristo.
Jesus Cristo é Deus e homem,
consubstancialmente perfeito e pleno. Nesse sentido, entendemos que o Cristo
encarnado possibilita uma compreensão do que é a humanidade, traduzindo numa
linguagem cheia de vida os conteúdos fundamentais daquilo que está dito em
Gênesis sobre o ser humano antes da alienação.
O
Cristo revelado é a dimensão mais profunda do humano, a dimensão que traduz
aquilo que o cristão é: filho adotado do amor e da graça de Deus, criado para o
louvor, honra e glória do Deus eterno.
Neste Natal, adore o Cristo!
Fonte
Jorge Pinheiro, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da práxis protestante, Fonte Editorial.
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