jeudi 4 septembre 2014

Inventário do Antigo Testamento

Uma breve introdução à formação do inventário do AT

A partir de uma apostila do prof. Dr. L. Byron Harbin, PhD
Edição de Jorge Pinheiro

O cânone bíblico designa o inventário, lista de escritos, ou livros considerados pela Igreja cristã, de conjunto, como tendo evidências de inspiração divina. Cânone, em hebraico qenéh e no grego kanóni, tem o significado de "régua" ou "cana [de medir]", no sentido de um catálogo. A formação do cânone bíblico se deu gradualmente. Foi formado num período aproximado de 1500 anos.

Os livros do Antigo Testamento que compõe o cânone foram editados em dois períodos da história de Israel, durante a Monarquia e durante o Exílio babilônico. Segundo a tradição judaica, Esdras, enquanto escriba e sacerdote, presidiu um conselho formado por 120 membros – a grande sinagoga -- que selecionou e preservou os rolos sagrados. Naquela época o inventário das escrituras do antigo testamento teve sua primeira definição. Veja Esdras 7:10,14. Esta compreensão atualmente não é bem aceita pela moderna crítica textual, já que saduceus e samaritanos só aceitavam como canônicos os primeiros cinco livros. Por isso, alguns especialistas consideram que Esdras reuniu apenas o Pentateuco. Mas há praticamente unanimidade de que foi a grande sinagoga que organizou a nova vida religiosa nacional, o que mais tarde deu origem ao supremo concílio judaico, o sinédrio.

Sobre a iluminação e inspiração dos textos do Antigo Testamento, veja João 7:17 e I Coríntios 2:12-13. Portanto, “se reconhece o papel da providência do Eterno à origem, seleção e coleção destes escritos. É por esta razão que os livros do Antigo Testamento existem em número de trinta e nove, conforme o e judaico. Esta tem sido a convicção dos protestantes de modo geral, embora haja dúvidas levantadas a respeito de alguns livros, como, por exemplo, Cantares de Salomão e Eclesiastes. A providência do Eterno operante na vida da igreja, entretanto, tem feito com que todos os trinta e nove fossem aceitos [1].



a)  O texto hebraico, -- a Bíblia Hebraica, ou seja, o Texto Massorético -- não contém os chamados livros apócrifos. É basicamente o mesmo cânone reconhecido pelos rabinos em Jamnia, em 90 d. C.

b)  O mais antigo manuscrito completo da Septuaginta (LXX) é de proveniência cristã no quarto século depois de Cristo e contém textos considerados não-canônicos pelos judeus, são os apócrifos presentes na Bíblia Católica Romana.

c)  As listas cristãs do cânone, que são mais anteriores, seguem o cânone judaico da Palestina, por exemplo, a lista de Melito de Sardo, de cerca de 160 d.C. A LXX teve origem em Alexandria, no Egito, cerca de 275 a 100 anos antes de Cristo. Os cristãos usavam a LXX, embora não haja evidências de que nem os cristãos, nem os judeus da Palestina consideravam seriamente a inclusão no cânone de quaisquer dos livros que hoje chamamos de apócrifos e pseudo-epígrafos, que são outra coleção de livros judaicos relacionados ao Antigo Testamento, e assim denominados porque os seus autores empregaram nomes de homens notáveis do Antigo Testamento como sendo os autores, dependendo do livro em questão, a fim de evitar perseguições, por exemplo, dos selêucidas.

d)  Embora a LXX contenha os apócrifos, não se pode provar que a mesma autoridade fosse atribuída a todos os livros. O fato da sua inclusão, entretanto, parece uma tendência da parte dos judeus de traduzir, preservar e circular os livros incluídos sem valorizar todos do mesmo modo.

e)  A lista da LXX conseguiu aprovação da maioria nos sínodos de 393 d.C e seguintes embora contra o voto de certos líderes como Jerônimo. Agostinho estava a favor, mas seus escritos mostram uma ambigüidade a respeito.

f)   Os reformadores do século dezesseis voltaram ao cânone judaico. Calvino, por exemplo, aponta o fato de não existir tradição unânime a respeito dos apócrifos como livros que devem ser considerados como inspirados.

g)  O Concílio de Trento, em 1546 d.C., aceitou como canônicos treze apócrifos: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, I e II Macabeus, as adições dos livros de Ester, Baruque (anexo a carta de Jeremias) e acréscimos a Daniel (o cântico dos três mancebos, a história de Susana, Bel e o Dragão, e a Oração de Azarias). A Vulgata, edição publicada em 1592 d.C., autorizada pelo Concílio de Trento em 1546 d. C., incluiu também I e II Esdras e A Oração de Manassés.

O arranjo canônico na Septuaginta

a)  Livros da Lei -- o nome Pentateuco é de origem grega e sabemos do seu uso desde o primeiro século de nossa era. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

b)  Livros de História -- Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, que cobrem os períodos de Samuel e Reis como I, II, III e IV reinados, I e II Crônicas , I e II Esdras, sendo o primeiro apócrifo e o segundo o canônico, Neemias, Tobias, Judite e Ester (com as adições).

c)  Livros de Poesia e Sabedoria -- Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, ou Sabedoria de Siraque.

d)  Livros Proféticos -- Profetas Menores, em termos de tamanho e não de importância: Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Baruque, Lamentações, A Carta de Jeremias, Ezequiel, e Daniel, incluindo Susana, Bel e o Dragão e O Cântico dos Três Varões.

e)  Livros suplementares de História -- I e II Macabeus.

f)   A tradução do Pentateuco foi completada cerca de 250 a.C., a dos Profetas cerca de 200 a.C. e a dos Escritos cerca de 100 a.C.

O arranjo da Bíblia Hebraica -- Cânone Judaico ou TM

a)  A Torá -- A Lei -- Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio .

b)  Os Profetas -- Anteriores: Josué, Juízes, Samuel, I e II considerados em conjunto, Reis, I e II em conjunto. Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, e o rolo dos Doze -- Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

c)  Os Escritos --  Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios, Jó. Os Rolos (Megilot) eram usados cada um na ocasião de uma festa específica: Cantares na Páscoa; Rute no Pentecostes; Lamentações no dia 9 do mês Abibe; Eclesiastes na Festa dos Tabernáculos; Ester na Festa de Purim. História: Daniel, Esdras, Neemias, Crônicas, I e II em conjunto.

Observações: são 24 livros, sendo tomados como um só livro os seguintes conjuntos: Samuel, Crônicas, Reis, Os Doze, Esdras e Neemias. Flávio Josefo, por combinar Juízes e Rute, Jeremias e Lamentações, falou em 22 livros.

O Novo Testamento menciona uma divisão tripla do Antigo Testamento: “A Lei, os Profetas e os Salmos” (Lucas 24:44). O livro de Eclesiástico, escrito cerca de 130 antes de Cristo fala de “a lei, os profetas e os outros escritos”. Veja Mateus 23:35 e Lucas 11:51 que refletem o arranjo da Bíblia judaica.

O arranjo da Vulgata, versão latina oficial da Igreja católica romana, foi completada em 450 depois de Cristo, mas aceita plenamente cerca de 650 depois de Cristo. Em geral, segue a LXX, só que I e II Esdras são iguais a Esdras e Neemias, e as partes apócrifas, III e IV Esdras, tanto como a Oração de Manassés, são colocados no fim do Novo Testamento. Os Profetas Maiores são colocados antes dos Profetas Menores. “Desta lista percebe-se que a Bíblia protestante segue a mesma ordem tópica do arranjo da Vulgata, só que omite todas as partes apócrifas. Na ordem, a Bíblia protestante segue a Vulgata, no conteúdo, segue a Hebraica” [2]. Uma avaliação do livros apócrifos indica que eles têm valor histórico e religioso. Confira Judas 14-15 que cita I Enoque 1:9, e Atos 17:28; I Coríntios 15:33 que cita o drama grego Taís de Alexandre.

Atenção: Sobre a questão da presença da cultura grega no pensamento judaico e neotestamentário, agrego um texto: Jorge Pinheiro, Teologia Bíblica e Sistemática, o últimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012, pp. 365-372.


Notas de rodapé


[1] HARBIN, Lonnie Byron. “O Cânone do Antigo Testamento” texto não publicado, p.1.
[2] ARCHER, Gleason, Merece confiança o Antigo Testamento?, São Paulo, Ed. Vida Nova, 1974, p.70

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