samedi 16 avril 2016

Política e protestantismo

Política e protestantismo
Primeira parte


Por que setores do protestantismo são arredios à participação política partidária e à ação junto ao Estado? Resolvi, então, tecer algumas considerações sobre o problema, tomando como referencial, um protestante luterano chamado Karl Barth, que foi um homem ligado, durante toda a vida, ao Partido Social-Democrata Alemão: começou sua militância nos anos 1920 e mesmo depois da segunda guerra mundial se manteve fiel ao partido, até morrer. E nem por isso deixou de ser um teólogo que marcou o pensamento cristão no século XX. Barth escreveu um livro, Comunidade Civil e Comunidade Cristã, que ainda hoje é uma referência quando se deseja pensar a correlação entre fé cristã e política.

Diz Barth que “a orientação da ação política cristã, de uma ação que se compõe de discernimento, juízo e eleição de uma vontade e de um compromisso, está relacionada com o caráter duplo do Estado: possui ao mesmo tempo a possibilidade de oferecer e a necessidade de receber a imagem analógica do Reino de Deus que a igreja anuncia”.

Ora, e por que Barth faz esta referência ao caráter duplo do Estado, vendo nele a imagem analógica do Reino de Deus? Porque sabemos que a autonomia protestante surgiu em oposição à cultura autoritária da Idade Média. A organização econômica e espiritual da Idade Média estava fundada sobre um sistema centralizado da autoridade que, ancorado numa fé sobrenaturalista, sujeitou pessoas e povos.

A Reforma, que partiu do humanismo renascentista, golpeou o sistema de autoridade, trouxe a fé para o mundo cá de baixo, e valorizou a subjetividade da consciência pessoal. A partir de então a autonomia se tornou palavra-de-ordem política, religiosa e teológica. Se a Reforma magisterial levantou a bandeira da liberdade moral e intelectual do indivíduo, os anabatistas e todos os outros irmãos da Reforma radical viram a igreja como organismo autônomo, que deveria ter autodeterminação administrativa, político, e religiosa diante de qualquer instituição civil e, principalmente, do Estado. 

Anulado o sistema centralizado de autoridade, coube ao crente protestante decidir a que comunidade de fé ele queria ligar-se e se desejasse virar às costas a tudo que fosse Estado.

Isso significa que em relação à cidadania representativa, traduzida nas eleições, a cada dois anos protestantes e evangélicos devem se posicionar e escolher o melhor para o país. E é nesse momento que são bajulados e envolvidos com promessas nem sempre sérias ou reais. Mas, eu diria que o que desejamos não deve ser menos do que a rainha mãe do príncipe Lemuel propôs a ele.

sf (gr demokratía) 1 Governo do povo, sistema em que cada cidadão participa do governo; democratismo. 2 A influência do povo no governo de um Estado. 3 A política ou a doutrina democrática. 4 O povo, as classes populares.

Muitos políticos, enganados por maqueteiros e pelos exageros da mídia, pensam que o voto protestante e evangélico é voto de cabresto, dirigido e manipulado por pastores. Estão equivocados. As estatísticas mostram que até mesmo nos agrupamentos evangélicos mais tradicionais, o momento do eleitor diante da urna é pessoal e intransferível.

“O Estado não pode ser uma réplica da Igreja, nem uma antecipação do Reino de Deus. Em sua relação com a Igreja tem realidade própria e necessária e em sua relação com Deus representa – da mesma maneira que a Igreja – um fenômeno puramente humano, acompanhado de todas as características deste mundo temporal. Não se pode pensar em identificá-lo nem com a Igreja, nem com o Reino de Deus. Mas, por outra parte, desde o momento em que está fundado sobre uma disposição particular da vontade divina, e porque pertence na realidade ao Reino de Cristo, não se pode dizer que seja autônomo. Não poderia existir independentemente da Igreja e do Reino de Deus”.

A pessoalização do fenômeno protestante na política é a resposta dos cristãos não-católicos para os problemas terrenos que todos vivemos. Há um deslocamento do plano transcendental e tal postura cumpre um papel político: cada protestante ou evangélico mostra-se auto-suficiente de pastor ou doutrinas no momento da urna. Essa pessoalização frente à sua fé religiosa, às suas lideranças questiona a realidade social desigual e desumana, e possibilita uma resposta representativa e indireta frente aos problemas da nação.

É claro que a posição dos protestantes e evangélicos nem sempre caminha no sentido das sábias palavras da rainha-mãe de Lemuel. Entram aí, a pressão massificadora da mídia e vários outros fatores, alguns, sem dúvida, pessoais e de amizades. 

sf (in+dependência) 1 Estado ou qualidade de independente. 2 Libertação, restituição ao estado livre; autonomia. 3 Caráter independente. 4 Meios de fortuna bastantes que permitem a uma pessoa viver independentemente. I. de plataforma, Inform: capacidade de um programa ou rede de poder funcionar ou conectar-se com tipos incompatíveis de hardware.

Muita gente acha que ser protestante e ação política não se discutem. É o outro lado da moeda. Se por um lado, há gente que pensa, como dissemos acima, que ação protestante é voto de cabresto, há outros que acham que esse tema nem deve fazer parte da pauta protestante de vida. Ledo engano. Precisamos refletir sobre a relação entre violência e democracia e, por outro lado, entre estas e o protestantismo. Um simples olhar sobre a história do Ocidente mostra os imbricamentos existentes entre democracia, cristianismo e violência. Como podemos esquecer, por exemplo, a Inquisição? Ou a noite de São Bartolomeu? Ou mesmo a violência dos invasores europeus na América conquistada? A democracia, e os protestantes brasileiros compreendem essa realidade, conquistada a duras lutas, é o caminho que pavimentamos para colocar de lado a violência que se fez como razão de estado ou em nome de Deus. Nesse sentido, o primeiro sentido da ação protestante traduz o sentido da defesa da democracia e da liberdade.

“Por esta razão não se poderia falar de uma diferença absoluta entre a Cidade e a Igreja por um lado, e a Cidade e o Reino, por outro. Logo, fica uma possibilidade: desde o ponto de vista cristão, o Estado e sua justiça são uma parábola, uma analogia, uma correspondência do Reino de Deus que é o objeto da fé e da prédica da Igreja. Como a comunidade civil constitui o círculo exterior em cujo interior se inscreve a comunidade cristã, com o mistério da fé que ela confessa e proclama. As duas, tanto uma como outra, têm o mesmo centro do qual resulta a primeira, distinta pelo princípio no qual está fundada e pela tarefa que lhe corresponde, se encontra forçosamente na relação analógica com a verdade e realidade da segunda. Analogia no sentido de que a Cidade é capaz de refletir indiretamente, como por um espelho, a verdade e a realidade do Reino que a Igreja anuncia”.

Por isso, talvez, a ação protestante na política deve levar em conta os conselhos da rainha-mãe do príncipe Lemuel e a pergunta do profeta Miquéias (6.7-8), aos israelitas: 

“Será que o SENHOR ficará contente se eu oferecer milhares de carneiros ou milhares e milhares de rios de azeite? Será que deverei oferecer o meu filho mais velho como sacrifício para pagar os meus pecados e as minhas maldades? O SENHOR já nos mostrou o que é bom, ele já disse o que exige de nós. O que ele quer é que façamos o que é direito, que amemos uns aos outros com dedicação e que vivamos em humilde obediência ao nosso Deus”. 

Os protestantes devem se mobilizar por respostas políticas que dirigem à justiça, paz e alegria. E essas coisas, mas do que discursos são ações, que mudam corações e mentes.

sf (solidário+e+dade) 1 Qualidade de solidário. 2 Estado ou condição de duas ou mais pessoas que repartem entre si igualmente as responsabilidades de uma ação, empresa ou de um negócio, respondendo todas por uma e cada uma por todas. 3 Mutualidade de interesses e deveres. 4 Laço ou ligação mútua entre duas ou muitas coisas dependentes umas das outras. 5 Dir Compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras e cada uma delas por todas. 6 Sociol Condição grupal resultante da comunhão de atitudes e sentimentos, de modo a constituir o grupo unidade sólida, capaz de resistir às forças exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face da oposição vinda de fora. S. ativa, Dir: solidariedade em que cada um dos credores da mesma obrigação pode exigir do devedor não somente a sua parte da dívida, mas também a dos demais. S. orgânica, Fisiol: relação necessária que se estabelece entre um ato da economia e outro diferente que se produz em ponto muito afastado. S. passiva, Dir: aquela em que cada um dos devedores de um mesmo título responde pela soma total da dívida. S. social: consistência interna de um agregado social; coesão social.

sf (cooperar+ção) 1 Ato de cooperar; colaboração; prestação de auxílio para um fim comum; solidariedade. 2 Organização da vida econômica, baseada no princípio de "fazer retornar o lucro" ao consumidor.

sf (lat foederatione) 1 Polít Associação de Estados num Estado coletivo, conservando cada um a autonomia nos assuntos locais: Federação das duas Rodésias e da Niassalândia. 2 União política de nações; liga. 3 Associação de entidades para um fim comum: Federação das Indústrias.

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