mercredi 17 août 2016

O período pré-socrático ou cosmológico

O pensamento helênico procurou resolver uma questão metafísica-teológica fundante, buscou compreender as relações entre a realidade empírica e o Absoluto, entre o mundo e Deus. Esse dualismo gerou uma espécie de fatalismo que caracterizou o pensamento helênico sobre a vida.

O mundo real e o vir-a-ser dependem do princípio eterno da matéria obscura, que tende para Deus como aquilo que é imperfeito remete ao que é perfeito. O mundo apreende em parte a racionalidade de Deus, mas chega até Deus, porque não deriva dele. Essa leitura da realidade, que se opõe à racionalidade divina, leva ao pessimismo. O homem helênico reconhecia o absoluto racional de Deus, mas considerava que não fazia parte do mundo, porque Deus não criou este mundo, nem o governa. Na verdade, a humanidade seria governada pelo Destino, considerado uma necessidade irracional.

A importância do pensamento helênico na construção do pensamento ocidental repousa sobre a busca do racional, que não é um abstrato absoluto, mas repousa sobre a experiência, sobre o conhecimento sensível. Assim,  o conhecimento não estaria fechado, mas aberto para a apreensão. Chamamos essa postura filosófica de realismo, que não se limita à experiência, mas a transcende em diração ao Absoluto. Ou seja: do mundo para Deus.

Para os helênicos, o conhecimento vinha em primeiro lugar. Depois a prática, o fazer. Mas o fazer, e aí se inclue a vontade, não é anulado pelo conhecimento, mas está subordinado a ele. Se por um lado, a busca do racional levava a uma postura otimista diante da possibilidade do conhecimento, a irracionalidade do mundo arrastava para o pessimismo.

Essa dualidade entre conhecimento e realidade contrária à felicidade da vida, atravessa todo o pensamento helênico. E a busca do conhecimento se transformou na busca do conhecimento do mundo, do Absoluto e do ser humano.

Quem mais trabalhou essas questões foram os jônios, e dentre os jônios, os atenienses.

Períodos do Pensamento Helênico

Consoante a ordem cronológica e a marcha evolutiva das idéias pode dividir-se a história da filosofia grega em três períodos:

I. Período pré-socrático ou cosmológico (séc. VII-V a.C.), em que o interesse filosófico está voltado para a natureza.

II. Período socrático ou ontológico (séc. IV a.C. -- Sócrates, Platão, Aristóteles), em que o interesse pela natureza é integrado com o interesse pelo espírito e são construídos grandes sistemas filosóficos, culminando com Aristóteles.

III. Período pós-socrático ou antropológico (séc. IV a.C. - VI p.C.), em que o interesse está voltado para a busca da felicidade imediata e, como consequência, para as questões morais.

IV. Período religioso ou místico, que diferente da fase mitológica, mergulha nas religiões de mistério, na busca de soluções imediatas para os problemas da vida, que a razão não resolvera. Aí entrou o cristianismo.

O período cosmológico ou pré-socrático

O primeiro período do pensamento helênico toma a denominação substancial de período naturalista, porque a nascente especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior, julgando-se encontrar aí também o princípio unitário de todas as coisas; e toma, outrossim, a denominação cronológica de período pré-socrático, porque precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e, por conseguinte, o começo de um novo período na história do pensamento helênico.

Esse primeiro período tem início no alvor do VI século a.C., e termina dois séculos depois, mais ou menos, nos fins do século V. Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favorecido sem dúvida na sua obra crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar econômico. Os filósofos deste período preocuparam-se quase exclusivamente com os problemas cosmológicos.

Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Pelo modo de a encarar e resolver, classificam-se os filósofos que nele floresceram em quatro escolas: Escola Jônica; Escola Itálica; Escola Eleática; Escola Atomística.

Escola Jônica

A Escola Jônica, assim chamada por ter florescido nas colônias jônicas da Ásia Menor, compreende os jônios antigos e os jônios posteriores ou juniores. A escola jônica, é também a primeira do período naturalista, preocupando-se os seus expoentes com achar a substância única, a causa, o princípio do mundo natural vário, múltiplo e mutável.

Essa escola floresceu precisamente em Mileto, colônia grega do litoral da Ásia Menor, durante todo o VI século, até a destruição da cidade pelos persas no ano de 494 a.C., prolongando-se porém ainda pelo V século. Os jônicos julgaram encontrar a substância última das coisas em uma matéria única; e pensaram que nessa matéria fosse imanente uma força ativa, de cuja ação derivariam precisamente a variedade, a multiplicidade, a sucessão dos fenômenos na matéria una. Daí ser chamada esta doutrina hilozoísmo (matéria animada). Os jônios antigos consideram o Universo do ponto de vista estático, procurando determinar o elemento primordial, a matéria primitiva de que são compostos todos os seres.

Os mais conhecidos são: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto. Os jônios posteriores distinguem-se dos antigos não só por virem cronologicamente depois, senão principalmente por imprimirem outra orientação aos estudos cosmológicos, encarando o Universo no seu aspecto dinâmico, e procurando resolver o problema do movimento e da transformação dos corpos. Os mais conhecidos são: Heráclito de Éfeso, Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômenas. Tales de Mileto (624-548 A.C.)

“Água”

Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo helênico. Tales não deixou nada escrito mas sabemos que ele ensinava ser a água a substância única de todas as coisas.

A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os helênicos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou o movimento dos astros para orientar a navegação. Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água.

Para Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem à terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formas de vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes proposições: A terra flutua sobre a água; A água é a causa material de todas as coisas. Todas as coisas estão cheias de deuses. O imã possui vida, pois atrai o ferro.

Aristóteles fala sobre a teoria de Tales: elemento estático e elemento dinâmico. Elemento Estático - a flutuação sobre a água. Elemento Dinâmico - a geração e nutrição de todas as coisas pela água. Tales acreditava em uma “alma do mundo”, havia um espírito divino que formava todas as coisas da água. Tales sustentava ser a água a substância de todas as coisas.

Anaximandro de Mileto (611-547 A.C.) “Ápeiron” Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e autor de um tratado Da Natureza, põe como princípio universal uma substância indefinida, o ápeiron (ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualitativamente indeterminada. Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e imortalidade, por um processo de separação ou “segregação” derivam os diferentes corpos. Supõe também a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens.

Anaximandro imagina a terra como um disco suspenso no ar. Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos - água e fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. O ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza.

Com essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma via de Tales, porém dando um passo a mais na direção da independência do “princípio” em relação às coisas particulares. Para ele, o princípio da “physis” (natureza) é o ápeiron (ilimitado). Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do gnômon (relógio de sol) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão de Tales, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terremoto. Anaximandro julga que o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em movimento perpétuo.

Fragmentos

“Imortal...e imperecível (o ilimitado enquanto o divino) - Aristóteles, Física”. Esta (a natureza do ilimitado, ele diz que) é sem idade e sem velhice”. Hipólito, Refutação.

Anaxímenes de Mileto (588-524 A.C.)

“Ar”

Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar.

As diversas coisas que existem, mesmo apresentando qualidades diferentes entre si, reduzem-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento. Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, os antigos jônios professavam o hilozoísmo e o panteísmo naturalista. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol.

Anaxímenes julga que o elemento primordial das coisas é o ar.

Fragmentos
“O contraído e condensado da matéria ele diz que é frio, e o ralo e o frouxo (é assim que ele expressa) é quente. (Plutarco). “Com nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantém”. (Aécio).

Fontes on-line

O mundo dos filósofos
http://www.mundodosfilosofos.com.br/presocratico.htm
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/presocraticos.htm
Wikipedia -- http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9-socr%C3%A1ticos

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