O DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO HOJE NO BRASIL
Uma proposta
aos cristãos brasileiros
Por JORGE PINHEIRO*
Introdução
O
diálogo inter-religioso visa abrir a discussão entre os cristãos. É um
movimento que não objetiva proferir uma palavra de unificação para as
confissões denominacionais cristãs, mas objetivar um trabalho que hoje deve
estar voltado para a dignificação do excluído no Brasil
Dentro desse
espírito, a primeira entidade criada no Brasil foi a Coordenadoria Ecumênica de
Serviços (CESE) no ano de 1973. Teve como objetivo promover a justiça social
sem discriminação de qualquer tipo, inclusive religiosa. Apoiaram a CESE, as
confissões Metodista, Brasil para Cristo, Episcopal Anglicana, Presbiteriana
Unida, Católica Romana, Evangélica de Confissão Luterana e Siriana Ortodoxa.
Em 1982,
seguindo preocupação semelhante, mas procurando estabelecer um diálogo mais
teológico, foi criado o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) uma
associação de “igrejas fraternas que confessam o Senhor Jesus Cristo como
Senhor e Salvador, segundo as escrituras...”.
O estatuto do
CONIC declarava que "o amor de Deus, a confissão de fé comum e o
compromisso com a missão impulsionam as igrejas membros a uma comunhão mais
profunda e a um testemunho comum do Evangelho no Brasil, no exercício do amor e
do serviço ao povo. Respeitadas as diferenças eclesiológicas, as igrejas
membros se conhecem convocadas por Cristo à unidade de Sua Igreja, na certeza
da atuação do mesmo Cristo e de Seu espírito nelas e através delas".
Internacionalmente,
uma das entidades mais expressivas do diálogo inter-religioso é o Conselho
Mundial de Igrejas (CMI). No Brasil, estão filiadas ao CMI, a Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil, a Igreja Presbiteriana Unida, a Igreja Reformada na
América Latina, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e a Igreja
Metodista do Brasil.
Outras
entidades, em nosso país, buscam o diálogo inter-religioso, como o Centro
Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) fundado em 1974, que tem como
objetivo analisar a conjuntura brasileira, fundamentando-se na reflexão
teológica.
A Associação
dos Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), fundada em 1961, procura apoiar a
formação de pastores e ministros de forma contextualizada, buscando diminuir a
dependência das teologias estrangeiras. Temos ainda o Centro Ecumênico de
Estudos Bíblicos (CEBI) e outros centros e associações em caráter regional e
nacional que buscam trabalhar a questão pastoral, racismo, juventude, união de
mulheres, comunicação etc.
Numa perspectiva
prática, existem comissões bilaterais de diálogo. Em São Paulo a Arquidiocese
Católica criou em 1977 a Comissão de Diálogo Inter-religioso (CEDRA).
A aproximação entre igrejas protestantes, ao nível de
cooperação em atividades sócio-políticas, tem implicado em cooperação
interconfessional de igrejas e pastores, que se unem para patrocinar
conferências nacionais e internacionais.
O diálogo
inter-religioso no Brasil tem particularidades, por conta da exclusividade da
maioria das igrejas protestantes históricas e por conta das dificuldades
encontradas quando se trata do relacionamento com a Igreja Católica Romana,
especialmente nas categorias mais baixas do presbitério brasileiro,
agravando-se mais ainda quando se chega ao laicato.
Diante
desta realidade o diálogo inter-religioso no Brasil constitui um desafio para
os cristãos. Porém não podemos deixar de considerar que a igreja cristã no
Brasil nunca falou e agiu tanto em termos de busca do diálogo, quanto se faz no
momento.
Pão, terra e justiça social
Acreditamos que o diálogo inter-religioso no Brasil deve partir da
defesa da vida de deserdados e excluídos, por isso propomos, como ação conjunta
dos cristãos, a defesa de uma ética da responsabilidade social, que denuncie a
exclusão e se mobilize pela transformação das estruturas sociais e políticas da
sociedade brasileira que geram exclusão social.
Nossa análise parte de uma visão reformada e acreditamos que assim
fazendo oferecemos ao conjunto dos cristãos brasileiros uma perspectiva que
enriquece a discussão no que se refere a proposição de ações conjuntas para a
transformação solidária de nosso país.
Em
1974, quatro mil delegados, representando o cristianismo reformado de quase
todos os países do mundo, reuniram-se na cidade de Lausanne, na Suíça, no
Congresso Internacional de Evangelização Mundial. Desse conclave resultou uma
série de documentos sobre a evangelização do mundo no final de século, assim
como de temas intrinsecamente ligados a ela.
O
congresso desmembrou-se, anos mais tarde, em reuniões regionais, que analisaram
e desenvolveram temas não definidos no chamado Pacto de Lausanne. Para o
cristianismo reformado a reunião de Lausanne tem um significado normativo e
prático, já que a partir de definições teológicas abrangentes chegou-se a
propostas objetivas para a evangelização do mundo.
Passados
um quarto de século da reunião de Lausanne, consideramos que suas preocupações
continuam vigentes como reflexão para a práxis cristã neste início de século.
Assim, partindo de documentos elaborados em Lausanne e nas consultas regionais
posteriores, fizemos uma releitura dessas reflexões visando elaborar um chamado
à ética cristã da responsabilidade social no Brasil.
Partimos
então da atual realidade brasileira, numa rápida e abrangente análise de
conjuntura, detectando as três grandes calamidades sociais que nosso país
enfrenta: miséria e desemprego, estrutura agrária opressora e injustiça social
generalizada.
Sem
dúvida, estamos apenas arranhando problemas que necessitam um pensar mais
profundo e uma práxis transformadora permanente. Mas, achamos por bem
começar...
Pobres e miseráveis
Mais de
um bilhão de pessoas em todo o mundo vive abaixo do nível de pobreza. Ou seja,
fora do mercado de consumo, sem nenhuma forma de rendimento, desamparadas, sem
as condições básicas para sobreviver [Sete Milhões de Desempregados,
Luís Indriunas, revista Debate e Desenvolvimento, Ano Um, Número 1, maio de
1996, pp.5 e 6]. E todos os dias milhares delas morrem de fome. Cerca de um
quarto dos brasileiros, ou seja, 40 milhões de compatriotas estão nestas
condições.
É
importante aqui separar dois fenômenos: um é que existem aqueles que não
participam do mercado de consumo e que nunca tiveram um emprego na vida, fato
verificável principalmente nas áreas rurais dos terceiro e quarto mundos; o
outro, é o desemprego, que se refere à perda do trabalho para aqueles que
participavam do mercado de consumo. Em todo o mundo, segundo dados do Fórum
Econômico de Davos, na Suíça, 800 milhões de pessoas estão nessas condições. O
aumento da produtividade, o avanço tecnológico e a globalização da economia são
algumas das principais causas da redução do emprego no mundo. O Brasil, além de
enfrentar esse problema, precisa criar cerca de três milhões de empregos por
ano. [Idem, reportagem citada, p.5].
O
Brasil hoje tem uma população ativa de 70 milhões de pessoas. Deste total, mais
de 10%, ou seja, 7 milhões de trabalhadores estão desempregados. Entre outubro
de 1995 e março deste ano, o desemprego cresceu nas principais regiões metropolitanas
do país, conforme dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Sócio-Econômicos/Dieese.
Cerca
de 3,5 milhões de crianças trabalham hoje no Brasil. Os filhos e filhas da
exclusão e da miséria são obrigados a pegar desde cedo no batente. Os que
sobreviverem à guerra pelo pão-nosso-de-cada-dia engordarão amanhã a fila
infindável dos analfabetos, desnutridos, enfermos..., dos não cidadãos. [Filhos da Exclusão, João Hipper, revista
Sem Fronteiras, no 238, março de 1996, pp.13-18].
O
Brasil já ratificou a Convenção 138 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), que determina que a idade mínima para se entrar no mercado de trabalho é
de 15 anos. Mas infelizmente tal legislação não é cumprida nas zonas rurais e
até mesmo em determinadas áreas urbanas do país.
Falta trabalho, falta comida
O
crescimento do desemprego nos grandes centros urbanos, principalmente no
triângulo da produção brasileira, região dinamizadora do parque industrial do
país, formado pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, está
intimamente ligado à abertura indiscriminada às importações, e à inibição de
investimentos em setores estratégicos, como bens de capital, máquinas,
equipamentos e energia.
Acrescente-se
a esta situação uma política cambial kamicase aliada a altos juros, que,
conforme alerta Otávio Canuto, do Departamento de Economia da Unicamp, permite
importar mais do que devíamos e exportar menos do que poderíamos, e temos
como conclusão uma política neoliberal que esgota rapidamente as
potencialidades do país.
Logicamente,
tal situação produz concentração de poder e renda, pauperizando a classe média
e produzindo um nivelamento social por baixo. É verdade que a corrupção oficial
é uma das alavancas desse processo. Como exemplo de corrupção oficializada pelo
governo lembramos que em novembro de 1995, o governo federal criou através da
Medida Provisória 1179, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional / Proer, o que permitiu a injeção
de 12 bilhões de dólares nos bancos Nacional, Bamerindus, Econômico, Caixa
Econômica Federal e do Brasil. [De Olho no Porquinho, revista Veja, no
1418, 15 de novembro de 1995, pp. 32-37].
Enquanto
isso, as obrigações sociais do governo, como educação e saúde, para citar
apenas duas, são lançadas às calendas. Basta dizer que dos 30 milhões de
crianças e adolescentes entre sete e 14 anos, cinco milhões estão fora das
escolas, e 30 milhões de brasileiros não dispõem de nenhum tipo de assistência
médica.
Mas se
esta é a realidade dos grandes centros produtivos e das médias e pequenas
cidades brasileiras, não podemos nos esquecer de outra chaga social: a
lastimável situação do campo brasileiro. Apenas 1% dos proprietários de terras
no Brasil detém o domínio sobre 44% dos 371 milhões de hectares de terras
disponíveis para atividades agrícolas.
Desse
total de terras agriculturáveis, só 3% estão divididos entre os 3,1 milhões de
pequenos produtores rurais. Agora, mais uma informação chocante: 48% de toda a
terra disponível para a agricultura, ou seja, 178 milhões de hectares, não são
usadas para plantar, mas como pasto para gado. E do que sobra, 131 milhões de
hectares recebem a designação técnica de “terras ociosas”, nelas nada se
planta. [No palco da PA 150, a segunda morte de Zumbi, Moura Reis,
Debate e Desenvolvimento, Ano Um, No. 1, maio 1996, p. 11].
Onde há miseráveis e desempregados, há fome.
Um desafio ético para os cristãos brasileiros
Como
disse o teólogo Howard Snyder, não somos os primeiros cristãos a viver os
tempos apocalípticos [Tive Fome, Um Desafio a Servir a Deus no Mundo,
vários autores, Série Lausanne, ABU Editora, São Paulo, 1986, in Prefácio,
p.5]. A igreja primitiva viveu tempos terríveis. Mas agora, no início do
terceiro milênio da história cristã, somos mais uma vez desafiados. E tendemos
a oscilar entre dois perigos: perder a esperança e cruzar os braços ou
acreditar num clímax iminente da história humana. Em ambos os casos, caímos
numa cilada, que é virar às costas para a realidade social de milhões de
pessoas.
É
impressionante notar, conforme dados da Global Report (revista da Word
Evangelical Fellowship) de julho/agosto de 1981, que o Brasil é um dos três
maiores países em população protestante em todo o mundo. E se somamos a este
número a população católica, muito possivelmente o segundo maior país cristão
do mundo. O que pode ter um significado estratégico para a causa da justiça
social não somente em nosso país, mas em todo o continente. Mas para que isso
aconteça é necessário uma compreensão da ética cristã em relação próximo.
Apocalipticismo
ou acomodação, eis os dois inimigos que ameaçam o evangelho de Cristo no
Brasil. O primeiro deixa o amor ao próximo para depois, e o segundo está tão
desesperançado que nem o próximo consegue enxergar. Por isso, precisamos
desenvolver uma ética que norteie o diálogo inter-religioso, mostrando às
confissões no Brasil que não existe cristianismo sem compromisso social.
Evangelização
e responsabilidade social devem andar juntas. Na história do cristianismo
reformado isso aconteceu no grande despertamento na América do Norte, no
movimento pietista na Alemanha e no reavivamento na Inglaterra, durante o
século 18. Essas atividades geraram o surgimento de sociedades missionárias e
fortes mobilizações pela abolição da escravatura e por melhores condições de
trabalho nas fábricas.
Uma responsabilidade cristã
A base
dessa responsabilidade social cristã parte de nossa compreensão de Deus. Ele é
o Deus da justiça, é o Deus da misericórdia. Há quase três mil anos, o salmista
cantava: “Ele mantém para sempre a
verdade, fazendo justiça aos oprimidos, dando pão aos famintos; Iaveh liberta
os prisioneiros, Iaveh endireita os curvados, Iaveh protege o estrangeiro,
sustenta o órfão e a viúva; Iaveh ama os justos, mas transtorna o caminho dos
ímpios” (Salmo 146. 6-9).
Os
cristãos em comunidade formam a igreja, e ela é o corpo de Cristo na terra. É
através da comunidade cristã que se dá o exercício terreno da graça de Deus. As
oito frases de solidariedade dos versículos 7 a 9 do salmo citado são para
Jesus padrão da justiça divina, conforme explica em Mateus 25:31-46. E lidas a
partir do discurso de Tiago contra a riqueza corrupta e opressora (Tiago
5:1-5), transformam-se na carta magna da responsabilidade ética e social do
cristão.
A
seguir transcrevemos o parágrafo cinco do Pacto de Lausanne 1974 (Congresso
Internacional de Evangelização Mundial), sobre Responsabilidade Social Cristã.
Afirmamos que Deus é o Criador de todos os homens. Portanto, devemos
partilhar o seu interesse pela justiça e pela reconciliação em toda a sociedade
humana, e pela libertação dos homens de toda forma de opressão. Sendo o ser
humano feito à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião,
cor, cultura, classe social, sexo ou idade, possui uma dignidade intrínseca em
razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos
arrependemos de nossa negligência e de termos, às vezes, considerado a
evangelização e a ação social mutuamente incompatíveis. Embora a reconciliação
do homem com o homem não seja reconciliação com Deus, nem ação social
evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a
evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos partes do nosso dever
cristão. Ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e
do homem, do nosso amor para com o próximo e da nossa obediência a Jesus
Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda
forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de
denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando alguém recebe a
Cristo, nasce de novo no seu reino e, conseqüentemente, deve buscar não somente
manifestar como também divulgar a sua justiça em meio a um mundo ímpio. A
salvação que alegamos possuir deve transformar a totalidade de nossas
responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta. [Evangelização e Responsabilidade Social, op.
cit., p.16].
Definida
a necessidade de uma ética da responsabilidade social cristã, somos levados a
estudar a viabilidade da práxis dessa atividade sociopolítica. Partindo de
nossa experiência histórica podemos ver que ela se divide em dois grandes
grupos: serviço social e ação social.
Por
serviço social entendemos uma política para reparar situações: socorro do ser
humano em suas necessidades básicas e imediatas, atividades filantrópicas,
obras de caridade.
Já a
ação social nos leva a procurar eliminar as causas dessas necessidades humanas,
e traduz-se em atividades políticas e econômicas, buscando a transformação das
estruturas da sociedade e a construção da justiça.
Logicamente,
serviço e ação sociais não são excludentes. Ao contrário, são complementares.
Afinal, ao lado de uma estratégia política para acabar com a miséria numa
região de São Paulo, tenho que ter táticas imediatas para evitar que pessoas
moram de fome, hoje. Ninguém pode esperar, sem comer, por uma política cujos
frutos levam tempo para serem colhidos.
É
preciso, no entanto, esclarecer que mesmo o serviço social pode ser
desenvolvido sem um caráter paternalista. A formação de agências de assistência
social pode e deve ter base na própria comunidade, de forma que as pessoas
aprendam não somente a se ajudarem do ponto de vista econômico, mas em todo o
espectro da dignidade humana. Por isso, devem ter como meta a capacitação de
todos aqueles que buscam o auxílio dessas agências, fugindo do reforço à
dependência e à subserviência.
Já a
ação social cristã não está apenas preocupada com as pessoas, mas com as
estruturas de determinada sociedade. Procura a justiça social. Assim, não está
preocupada com a reabilitação dos presos (que é tarefa do serviço social), mas
com a reforma do sistema penitenciário. Não está preocupada com as melhorias
dos salários e condições de trabalho (que é uma atividade de serviço social ao
nível do sindicato e da fábrica), mas com a transformação do sistema econômico
e político, sejam eles quais forem.
Neste
campo há um desafio natural, necessário, para a prática do diálogo inter-religioso
no Brasil.
É
importante ficar claro que nossa responsabilidade social deve levar em conta
dois princípios: a justiça e a paz. Nos opomos de forma ativa à miséria e à
injustiça social, mas nossa atuação deve sempre se basear na obediência ativa,
que segundo Lourenço Stélio Rega [Avaliação Ética do Jeito Brasileiro. Capítulo:
Como viver no Brasil e ser cristão ao mesmo tempo. Parte 3: A ética individual
deve levar à ética social. FTBSP, São Paulo, 1992], é um sinônimo para
desobediência civil, sempre e quando tiver por base direitos de uma comunidade.
Essa
ação política foi defendida e utilizada por homens como Henry David Thoreau
(1817-1862), John Ruskin (1819-1900), León Tolstói (1828-1910), Mahatma Gandhi
(1869-1948) e pelo pastor batista Martin Luther King Jr. (1929-1968). Uma
característica da obediência ativa ou desobediência civil é realizar sua
oposição de uma maneira digna, afastando seus defensores da violência, através
da ação não violenta.
Está
claro que toda decisão a favor da justiça exige não somente uma decisiva
postura cristã, mas coragem. Falando do momento presente, a comissão que
redigiu o documento de Grand Rapids sobre responsabilidade social, dirigida por
John Stott, declarou: Há ocasiões em que a igreja precisa tomar posição
firme, em relação a um princípio moral, custe o que custar, pois ela é a
comunidade do Servo Sofredor, que é o Senhor, e é chamada a servir e sofrer com
ele. A marca autêntica da igreja não é a popularidade, mas o sofrimento
profético, e até mesmo o martírio. ‘Ora, todos quantos querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos’ (II Timóteo 3:12).
Eis o desafio: sem ética de compromisso social não há cristianismo e, no
Brasil, corta pela raiz qualquer possibilidade prática de diálogo inter-religioso.
Considerações finais
Posicionar-se
no Brasil de hoje, a partir de uma ética cristã de responsabilidade social, a
favor do diálogo inter-religioso implica em entender uma contradição essencial,
que muito possivelmente só poderá ser resolvida em longo prazo: vivemos num
país onde impera a não-ética da desonestidade e da prepotência (a ética da casa grande & senzala).
Como
cristãos, entendemos que o uso ególatra de bens e posses, a corrupção, a
discriminação social e a degradação humana só produzem miséria e sofrimentos.
Não dizemos que o brasileiro está impossibilitado de criar e produzir coisas
boas e belas, mas que sob tais condições, esta ação é efêmera.
Nossa
atuação no campo social, a partir do diálogo inter-religioso, implica em
entendermos esta realidade cultural brasileira e optarmos desde o primeiro
momento por duas ações evangelizadoras que nos é exigida por Jesus Cristo: a
educação solidária permanente e a formação de líderes conscientes de seu papel
cristão e histórico.
Só
assim, a construção de uma ética cristã de responsabilidade social no Brasil
produzirá frutos permanentes e eternos, que florescerão através dos anos para a
honra e a glória do nosso Senhor e Mestre. Por isso, não falamos de um momento,
mas de um processo, que crescerá conforme cresça também a consciência ética dos
cristãos brasileiros, de que fomos chamados pelo Senhor a desenvolver uma
tarefa histórica, enquanto igreja, que é a de juntos com os setores éticos da
sociedade transformarmos o Brasil num país onde todos tenham acesso a condições
dignas de vida, à justiça social e à paz.
Soli
Deo gloria!
Jorge
Pinheiro
São
Paulo, 21 de agosto de 2001.
* Jorge Pinheiro é Pós-Doutor, Doutor e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade
Metodista de São Paulo, professor de Teologia Contemporânea na Faculdade
Teológica Batista de São Paulo e pastor da Igreja Batista em Perdizes (SP).
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